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Sistemas de 
governo
 
SST
Oliveira, Julio
Sistemas de governo / Julio Oliveira 
Ano: 2020
nº de p.: 11
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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Sistemas de governo
APRESENTAÇÃO
Nesse momento, estudaremos a organização do Estado Brasileiro a partir da análise 
do modelo federativo adotado. Assim, destacaremos a opção pelo modelo de Estado 
Democrático de Direito centrado em uma Constituição Federal enquanto a norma 
principal e que disciplina as questões que fundamental o Estado. Na sequência, 
veremos que o Texto Constitucional confere autonomia aos entes e, salvo exceções, 
veda o processo de intervenção. Veremos que a Constituição reserva matérias 
específicas e sobre as quais cada ente tem o poder de legislar. Por fim, verificaremos 
que a opção do Legislador Constituinte foi estabelecer construir um modelo estatal que 
se estabeleça na observação doprincípio da predominância do interesse.
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 
BRASILEIRO
O Estado brasileiro é organizado sob a forma de Federação, construído por meio de 
repartição. Esse modelo é decorrente do processo de desfragmentação do Império, 
que era o Estado unitário, que deu origem a unidades federadas autônomas. 
Assim, compõem a federação brasileira a União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios (BULOS,2015).
A Constituição Federal da República Brasileira (CFRB/88) estabeleceu a repartição 
de poder entre os entes federais. Todavia, esses são unidos por paracteristicas que 
lhes são comuns. Dentres essas, Bulos (2015) destaca:
• Pacto entre unidades autônomas – a federação é uma aliança ou associação de
Estados-membros autônomos, os quais integram o Estado Federal soberano;
• impossibilidade de secessão – uma vez criada a federação não pode ser des-
feita, mediante a retirada das unidades autônomas de poder que a integram,
em virtude da indissolubilidade do vínculo federativo;
• extrai sua força da constituição – o todo, o Estado Fede- ral, e as suas partes
indissociáveis, os Estados, retiram sua força da constituição, fonte primária
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de todas as competências administrativas, legislativas e tributárias, exerci-
das pelos governos locais;
• descentralização político-administrativa – na federação encontramos a pri-
mazia da descentralização político-administrativa, pois o poder central do 
Estado Federal é compartilhado com as entidades federadas, que exercem 
poderes autônomos;
• participação dos Estados no Poder Legislativo Federal – isto se dá por meio 
de deputados eleitos para elaborar leis de interesse nacional;
• órgão representativo dos Estados-membros – previsão, na Carta Magna do 
Senado Federal, para representar as ordens jurídicas parciais, ou seja, o Es-
tados federados;
• repartição de competências entre os entes federados – as entidades fede-
rativas podem gerenciar negócios (competências administrativas), ter renda 
própria (competência tributária) e criar comandos gerais e abstratos para 
reger suas relações (competência legislativa);
• possibilidade de intervenção federal – o objetivo dessa faculdade é preservar 
o equilíbrio federativo, nas hipóteses rigorosamente previstas na constituição;
• formação de Estados-membros – no modelo federativo existe a possibilidade 
de criação de novos Estados ou modificação dos já existentes, à luz das 
regras estabelecidas na constituição;
• previsão de um órgão de cúpula do Poder Judiciário – é o caso do nosso Su-
premo Tribunal Federal, cuja tarefa precípua é guardar o texto de1988.
As características acima citadas se fazem presente desde a divisão de poder 
a execução das atividades estatais. Ademais, é preciso lembrar que, apesar do 
Constituinte ter optado por uma divisão, esses devem em conjunto observar a 
finalidade da função estatal que é a consecução do bem comum.
Documentário: 30 anos da Constituição
Sinopse: A produção faz um resgate do movimento popular que 
resultou na Carta de 1988.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hv7U_yNZoGg
Saiba mais
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Os entes que formam a Federação Brasileira podem se organizar por meio de 
Constituição ou Lei Orgânica (municípios), e devem observar os princípios da 
Constituição Federal. Também podem eleger seus próprios representantes. Além 
disso, têm a prerrogativa de legislar e organizar-se administrativamente.
Apesar da repartição da divisão de poder, todos devem observar o princípio da 
indissolubilidade da Federação do Brasil que já consta desde o caput do seu 
art. 1, que assim informa: “A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito (...)” (BRASIL, 1988, grifo nosso).
A República Federativa do Brasil
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
A República Federativa do Brasil é composta por entes dotados de autonomia, 
conhecidos por entidades federativas, unidades federadas, Estados-membros-
todas denominações para os comumente chamados de estados brasileiros.
ENTES DA FEDERAÇÃO
A CFRB/88 é o elemento jurídico que une todos os entes da Federação. Tal 
característica pode ser observada quando da análise do art. 60, do §4º, inciso III, 
que estabelece que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente 
a abolir a separação de poderes (BRASIL, 1988). 
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Você já parou para pensar a razão de existir na constituição norma 
que explicitamente impeça a abolição do princípio federativo?
Reflita
Consciente que as modificações sociais podem exigir reformas no Texto 
Constitucional, o Constituinte Originário reconhece o poder reformador, mas veda a 
essa a reformulação de algumas matérias. As chamadas cláusulas pétreas 
que não poderão ser objetos de eventuais Emendas Constitucionais (EC). Dentre 
essas destaca-se o disposto no já mencionado art. 60, do §4º, inciso I que veda a 
apreciação Emendas que versem sobre a forma federativa de Estado.
A União é pessoa jurídica de Direito Público interno, sem personalidade 
internacional. Isso quer dizer que os atos de direito internacional são praticados 
pela República Federativa do Brasil. A União apenas a representa (TAVARES, 2017).
É a União que confere o aspecto unitário à organização federal brasileira. Por sua vez, 
os Estados federados conferem a tendência disjuntiva do Estado. Todo Estado Federal 
pressupõe a existência de elementos unitários e federativos (disjuntivos). É a síntese 
jurídica de um processo político-social, caracterizado pelo embate entre os elementos 
unitários e disjuntivos, que dá atônica da forma de Esta- do federal (SILVA, 2013).
Os Estados federados, por sua vez, são um conjunto de ordenações jurídicas 
parciais e que, de forma autônoma, apresentamlegislação, governo e jurisdição 
próprios. De igual forma que a União, possuem personalidade jurídica de Direito 
Público Interno e participam de forma ativa na Federação, exercendo capacidade de 
ação e vontades que lhes são próprias (BULOS, 2015).
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John Dickinson escreveu o texto que serviu de base para 
o documento que ficou conhecido como os “Artigos da
Confederação”, aprovado em 1.777. Conservador e moderado, tal
documento estabelecia um elo muito fraco entre as 13 colônias
britânicas norte-americanas. Uma união com poderes centra- 
lizados era muito difícil de consolidar, uma vez que a luta
pela independência foi justamente para se libertar de uma
opressão exercida pelo poder centralizado da Grã Bretanha
(DRIVER, 2006)
Curiosidade
Novidade, porém, inaugurada pelo texto de 1988 sem qualquer precedente, foi a 
inclusão dos municípios no enlace federativo. Para Bulos (2015), alçar o município à 
categoria de ente federativo afigura-se um traçado anômalo e peculiar, estabelecido 
pela Constituição de 1988.
Diz-se anômalo porque os municípios não estão representados no Poder Central. 
O sistema brasileiro é bicameralista (Câmara dos Deputados e Senado). Peculiar 
porque não há qualquer precedente jurídico-positivo na história nesse sentido.
Silva (2013) é ainda mais duro nas suas críticas. Afirma, de formacategórica, que 
o Município é de todo irrelevante no conceito de Federação brasileira. Prossegue 
aduzindo que não há uma Federação de municípios no Brasil e que eles na verdade 
são uma divisão política do território dos Estados; não da União.
São técnicas tradicionais de repartição de competência previstas nas constituições, 
segundo Silva (2013): enumeração dos poderes da União, reservando-se aos Estados 
os poderes remanescentes Já o Distrito Federal, com a Constituição de 1988, passou 
de mera autarquia territorial para se tornar ente federativo. Tal como os municípios, é 
regido por lei orgânica. Brasília, capital da República brasileira e sede do Governo do 
Distrito Federal, acumula as prerrogativas dos Estados-membros e dos municípios, 
razão pela qual dispõe de tributos estaduais e municipais (AGRA,2014).
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REPARTIÇÃO DA COMPETÊNCIA
Agra (2014) atribui à repartição de competência a principal característica da forma 
federativa de Estado, pois desempenha missão sensível para o federalismo, que é 
evitar atritos entre os entes federados.Definir quais matérias devem ficar a cargo da 
competência dos entes federativos não é trabalho fácil. Segundo Silva (2013),
Os limites da repartição regional e local de poderes dependem da 
natureza e do tipo histórico de federação. Numas a descentralização é 
mais acentuada, dando-se aos Estados federados competências 
amplas, como nos Estados Unidos. Noutras área de competência da 
União é mais dilatada, restando limitado campo de atuação aos 
Estados-membros, como tem sido no Brasil, onde a existência de 
competências exclusivas dos Municípios comprime ainda mais a área 
estadual. A Constituição de 1988 estruturou um sistema que combina 
competências exclusivas, privativas e principiológicas com 
competências comuns e concorrentes, buscando reconstruir o sistema 
federativo segundo critérios de equilíbrio ditados pela experiência 
histórica (SILVA, 2013, p. 481).
O modelo de repartição de competência, que teve origem na Constituição dos 
Estados Unidos da América de 1787, consistia na enumeração de poderes na figura 
do Governo Central, reservando-se aos Estados parciais poderes não enumerados 
(TAVARES, 2017).
Na atualidade, a repartição de competência é um verdadeiro desafio, pois é 
tarefa árdua equacionar a distribuição de competências federativas nos Estados 
contemporâneos, marcados por uma sociedade plural.
Observe-se que, por mais minuciosa que tenha sido a Carta de 1988, ainda existem 
conflitos entre os componentes da Federação, surgidos em função da defesa de 
suas autonomias.
O PRINCÍPIO DA PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE
Como já mencionado, a repartição de poderes foi estabelecido para Carta de 1988. 
Ainda assim, em vários momentos do Texto Constitucional, a constituinte disciplina 
matérias em que os entes devem agir em conjunto ou de forma solidária.
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A divisão de poder é fundamental para que cada ente desenvolva ações mais 
focalizadas dentro da sua delimitação geográfica. Tais atos devem estar norteados 
pelo princípio do interesse público que para Silva (2013) é:
O princípio geral que norteia a repartição de competência entre as 
entidades componentes do Estado federal é o da predominância do 
interesse, segundo o qual à União caberão aquelas matérias e 
questões de predominante interesse geral, nacional, ao passo que 
aos Estados tocarão as matérias e assuntos de predominante 
interesse regional, e aos Municípios concernem os assuntos de 
interesse local, tendo a Constituição vigente desprezado o velho 
conceito do peculiar interesse local que não lograra conceituação 
satisfatória em um século de vigência (SILVA, 2013, p. 482)
Acrescenta-se ao magistério de Silva a competência do Distrito Federal, que é de 
interesse geral e local. Esse ente da federação ocupa características consideradas 
“sui generis”, ou seja, que lhes são próprias e o distingue dos demais. De forma 
prática, além de se sede do governo federal, ainda dispõe de atribuições que são 
específicas dos municípios e estados.
A repartição de competências e o dilema do interesse predominante
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
 Retomando análise do princípio, observa Bulos (2015) que esse não resolve 
todas as situações que lhe são colocadas, em razão da dificuldade ou mesmo 
da impossibilidade de se determinar, em algumas hipóteses, qual é o interesse 
predominante, como os problemas relacionas à Amazônia, ao polígono da seca e ao 
Vale do São Francisco.
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FECHAMENTO
Nessa Unidade estudamos verificamos que a Constituição Federal de 1988 optou 
por um sistema federativo. Assim, o poder estatal foi dividido entre os três entes da 
federação: união. Estados e municípios. Esses estão ligados por um conjunto de 
características em comum e devem observar o princípio da predominância do 
interesse público. 
Foi possível perceber que esse modelo é classificado pela doutrina 
constitucionalista como anômalo, uma vez que, os municípios não estão 
representados no Poder Central. O sistema brasileiro é bicameralista (Câmara dos 
Deputados e Senado). O legislativo desse ente é direcionado apenas a decidir sobre 
matérias municipais
Por fim, vimos que a repartição de competência buscou a divisão de tarefas 
como forma de focalizar na resolução de questões específicas e locais. Tal como, 
o Distrito Federal possui deve ser examinado como um ente de características
singulares, visto que, contempla funções dos estados e municípios.
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REFERÊNCIAS
AGRA, W. de M. Curso de direito constitucional. 8. ed. Rio de Janeiro:Forense, 2014.
ARAÚJO, L. A. D.; NUNES JUNIOR, V. S. Curso de direito constitucional. 22. ed. São 
Paulo: Verbatim, 2017.
BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em.
BULOS, U. L. Curso de direito constitucional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
DRIVER, S. S. A. Declaração da Independência dos Estados Unidos. Tradução de 
Mariluce Pessoa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de direito constitucional. 12. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017.
SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 37. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.
TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 15.ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

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