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As instituições políticas SST Melo, D. S. da S,; As instituições políticas / Débora Sinflório da Silva Melo Ano: 2020 nº de p.: 12 páginas Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. As instituições políticas 3 Apresentação Uma noção muito difundida no estudo da política é a noção aristotélica de que os seres humanos são animais ou seres políticos. Ao analisara história da humanidade, podemos facilmente verificar que a vida em comunidade acompanha essa história, assim como acompanha a de outras populações animais. A vida em comunidade traz desafios próprios. As sociedades contemporâneas são consideradas complexas, sendo possível observar nelas diversas instituições políticas com o fim último de promover uma forma de organização para que a vida comunitária seja viável. Agora, você irá conhecer diversos âmbitos de organização estatal, que inclui o estudo sobre as instituições políticas, a divisão de poderes e o que são os regimes políticos. As instituições políticas Você sabe o que é uma instituição política? Conhece a fundo o papel dessa organização? Segundo o professor Leonardo Secchi (2013, p. 82), as instituições são: As regras constitucionais, os estatutos e códigos legais, as políticas públicas passadas e os regimentos internos das arenas onde as políticas públicas são construídas. Instituições nessa acepção são: jurisdições (leis), competências (funções) e as delimitações territoriais. Considerando o exposto, é possível afirmar que as instituições políticas influenciam e moldam o comportamento de cada indivíduo. De antemão, convém destacar que diversas são as instituições políticas e que compete à comunidade respeitá-las para que possam, cada uma à sua maneira, contribuir para o desenvolvimento e implementação das políticas públicas em um país. Vamos analisar as implicações de algumas delas para a implementação das políticas públicas? 4 Estado O Estado é considerado uma das principais instituições políticas existentes. Ele é encarregado de, por exemplo, criar mecanismos para analisar as discussões sociais e manter a ordem por meio da elaboração de normas que estabeleçam a vivência harmônica em uma sociedade. Com relação às políticas públicas, o papel do Estado é deliberar sobre temas importantes– aborto, por exemplo. No Brasil, assim como em outros países, o aborto é considerado um crime contra a vida e um exemplo de instituição restritiva, pois existe no país uma norma, presente no Código Penal, que o tipifica como ação criminosa:“Art.124.Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: Pena-detenção,de um a tres anos”(BRASIL,1940). Todos os anos, diversas manifestações tomam as ruas do país, a favor e contra o aborto, pedindo que o governo adote novas políticas públicas sobre o tema. Saiba mais Sistema eleitoral O Brasil é uma nação de dimensões continentais, não é mesmo? A cada quatro anos, os cidadãos do país têm que escolher, por meio do voto, seus representantes políticos, e isso demanda trabalho e bastante empenho. O sistema eleitoral brasileiro compreende um complexo de normas e passos para a escolha dos representantes políticos do país. Para a justiça do processo, existe mas regras eleitorais, que têm por finalidade a captação de votos de maneira honesta. 5 Você sabia que, atualmente, além dos sistemas proporcional e majoritário, vigoram diversas novas regras eleitorais? Você conhece algumas delas? No primeiro turno, as propagandas eleitorais em cadeia de rádio e televisão têm a duração de 35 dias. No segundo turno, o período é de 15 dias. Curiosidade A Constituição Federal brasileira de 1988 prevê dois sistemas, o proporcional e o majoritário, com regras que repercutem na formação das bancadas políticas. Vejamos a explicação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): Sistema proporcional: Nas eleições pelo sistema proporcional, ou seja, de deputado federal, deputado estadual/distrital e vereador, é o partido/coligação que recebe as vagas, e não o candidato. No caso, o eleitor escolhe seu candidato entre aqueles apresentados por um partido político ou coligação. Com relação às coligações, elas apresentam lista única com o nome de todos os candidatos dos vários partidos que a compõem. Porém, quando diversos partidos formam uma coligação (que passa a ser tratada legalmente como se fosse um partido único), não é criada uma legenda própria (ou um número que represente a coligação inteira). Nela, os partidos conservam a sua nomenclatura e seus números próprios. No entanto, os eleitores que votam no número de seu partido em eleição pelo sistema proporcional emprestam seus votos para a coligação a que a legenda pertencer. Isso porque o cálculo do quociente eleitoral é feito com base em todos os votos recebidos pelos candidatos e pelos partidos que compõem a coligação. (TSE, 2018, on-line) Sistema majoritário: Nos pleitos pelo sistema majoritário, é eleito o candidato que obtém o maior número de votos válidos, ou seja, aqueles dados aos concorrentes ao cargo, excluídos os votos em branco e os nulos. No caso das eleições para a Presidência da República e para governador de Estado, se nenhum dos candidatos alcançar metade mais um 6 (maioria absoluta) dos votos válidos em primeiro turno, a legislação determina que os dois mais votados disputem um segundo turno, sendo eleito o que obtiver, nessa nova etapa, a preferência do eleitorado. Ou seja, o maior número de votos válidos. No pleito majoritário para o Senado Federal, é eleito o candidato que recebe o maior número de votos válidos. (TSE, 2018, on-line Divisão do Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário A Constituição Federal brasileira, documento de 1988, adotou a separação de poderes de que trata Montesquieu em seu livro O espírito da leis, de 1748. Para o político e filósofo francês, em cada Estado deve existir três classes de poder, o Legislativo,o Executivo e o Judiciário, para que não haja centralização do controle. A divisão do Estado em três poderes já havia sido teorizada pelo filósofo John Locke (1632-1704, que, contudo, não tratou do Judiciário. O Brasil assegura que os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário sejam harmônicos e independentes. Você conhece as características de cada um deles? Poder Legislativo O Poder Legislativo tem a finalidade de criar as leis. No Brasil, ele é dividido em Câmara dos Deputados e Senado Federal. Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. [...] Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal. [...] Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. (BRASIL, 1988, on-line) Considerando que são atribuições do Poder Legislativo representar o povo e legislar, ele desempenha papel singular na condução de algumas políticas públicas, 7 pois configura a legitimação, o controle político, a fiscalização e a vigilância sobre a atividade governamental. Segundo os professores Figueiredo e Limongi (2002, p. 315), “a capacidade de os parlamentares aprovarem políticas depende da organização ou estrutura do processo decisório, mas especificadamente, da distribuição dos direitos dos parlamentares”. A observação dos docentes é relevante, pois o sistema político brasileiro se move por meio da troca de benesses. Na imagem abaixo, o aperto de mão e a troca de dinheiro simbolizam a propina, que na política brasileira representa a prática ilegal de obter ganhos financeiros por meio de atos ilícitos. Aperto de mão e troca de dinheiro Fonte: Plataforma Deduca (2018). Infelizmente, muitas políticas públicas têm por trás essa conduta desleal com a sociedade. Em diversos casos, projetos considerados prioritários deixam de ser apreciados e aprovados pelos governantespara que interesses pessoais ou partidários sejam priorizados. Nesse sentido, cabe aos demais atores políticos – como a mídia e os sindicatos – fiscalizar possíveis irregularidades políticas partidárias em desprezo do povo. Poder Executivo O Poder Executivo tem por competência garantir a segurança, dispor do dinheiro público etc. No Brasil, ele é exercido pelo presidente da República, que, entre diversas contribuições privativas, deve: “Art. 84. [...]: IV - sancionar, promulgar e 8 fazer publicar as leis, bem com o expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; V-vetar projetos de lei, total ou parcialmente”(BRASIL,1988, on-line). Ainda que o presidente tenha o poder de requerer urgência sobre assuntos de seu interesse, o Brasil adota o sistema de presidencialismo de coalizão, segundo o qual, para que o presidente alcance os seus objetivos, é preciso que se tenha no Congresso Nacional uma base aliada superior em números, pois, do contrário, ficará à mercê do poder de agenda dos líderes. O presidencialismo de coalizão brasileiro é uma competição de poder e, em diversos casos, tem impedido que leis sejam aprovadas em benefício da população e do próprio Estado. Poder Judiciário O Poder Judiciário, o último da tríade, tem o papel de julgar. No Brasil, ele é formado por uma série de órgãos, entre os quais se destacam o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho. Caso sejam contestadas irregularidades na implementação de políticas públicas – desvio de verbas, por exemplo –, caberá a órgãos específicos do Poder Judiciário investigar, julgar e penalizar os responsáveis pelo delito de fraude ao erário público. Regime político A expressão “regime político” é comumente associada pela doutrina às expressões“ regime governamental” e “forma/modelo de governo”. Em suma, regime político diz respeito ao grupo de instituições e leis que permitem ao Estado exercer o seu poder e se organizar. Diversos são os regimes políticos adotados pelos Estados mundo afora, mas, para fins de estudo e comparação, aqui serão apresentadas a autocracia e a democracia, grandes influenciadoras na execução de uma política pública. Segundo Dias e Matos (2013, p. 170-171), O Estado autocrático é aquele em que o poder político é concentrado em uma pessoa, em um grupo social determinado, em um grupo étnico ou religioso, ou em um partido político, e ao mesmo tempo ocorre diminuição ou anulação da liberdade dos governados. Embora sejam englobados, neste tipo de Estado, regimes de diversos tipos, todos têm em comum 9 a inexistência delimitação ao exercício do poder político, concentrado em um órgão, e o não reconhecimento dos direitos fundamentais dos cidadãos, impedindo-se qualquer manifestação políticalivre. No Estado autocrático, o povo não participa da cena política. É o que acontece nas monarquias absolutistas e nos Estados totalitários e fundamentalistas. O totalitarismo e o fundamentalismo não se preocupam com a criação de políticas públicas em benefício da população (para incentivar o estudo ou garantir direitos à mulher, por exemplo); na contramão, eles criam medidas que favorecem os gestores do Estado. A figura a seguir representa o totalitarismo, em que não existe personalidade –todos têm que seguir o modelo imposto pelo líder. Totalitarismol Fonte: Plataforma Deduca (2020). Atualmente, diversos países, principalmente no Oriente Médio e África, adotam o totalitarismo ou o fundamentalismo como regime político e, em geral, nesses territórios as mulheres não dispõem de igualdade de direitos em comparação com os homens. Ao longo dos anos, atores políticos, em especial algumas entidades governamentais, têm atuado massivamente na criação e implementação de políticas públicas que se voltam para os direitos básicos da sociedade feminina de alguns locais. Um dos principais desafios para a execução de políticas públicas em países totalitários é o bloqueio ao acesso às notícias veiculadas pela mídia. 10 Na Coreia do Norte, por exemplo, a navegação na internet é controlada pelo governo, o que impede que a população conheça seus direitos, acompanhe a evolução social e crie uma percepção crítica a respeito da sociedade em que vive. Saiba mais Nos Estados em que a democracia vigora, o povo participa da administração do país, pois escolheu seus representantes por meio de um processo democrático e seu voto garante o direito de acompanhar seus políticos e questionar possíveis irregularidades na condução da administração. A democracia, ao contrário da autocracia e do totalitarismo, é uma forma de governo em que todos os cidadãos elegíveis têm igual peso nas decisões que afetam suas vidas. As mãos de diferentes cores erguidas da figura a seguir exemplificam a democracia, sistema em que todos têm voz e podem exercer o direito de opinar. Democracia Fonte: Plataforma Deduca (2018). Em um regime democrático, os partidos políticos conseguem de maneira mais coordenada manter a linha da comunicação entre o governo central, o parlamento e a população, o que possibilita a criação de mecanismos de controle recíproco que asseguram a estabilidade e a democracia no Estado. Além disso, é garantido ao povo o acesso à informação e, consequentemente, o direito às reivindicações – por 11 meio de manifestações públicas, por exemplo, os cidadãos brasileiros podem exigir o cumprimento das normas legais previstas na Constituição Federal de 1988, bem como a execução de leis esparsas. Fechamento Nesta unidade, você pôde conhecer diversos conceitos relacionados à organização política das sociedades contemporâneas. Em um primeiro momento, estudamos o que é instituição política, com enfoque na organização do Estado. Depois,compreendemos a divisão dos poderes políticos entre Legislativo, Executivo e Judiciário, bem como o papel de cada um. Por último, foi abordado o que se entende por regimes políticos, que são as formas de organização e exercícios dos poderes políticos. A partir dos conceitos e temáticas apresentadas, é possível a visualização das principais formas de organização do Estado e os vários âmbitos que compõem a organização política das sociedades contemporâneas. 12 Referências BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/ atos/?tipo=DEL&numero=2848&ano=1940&ato=1bb0za61ENNRkTf8b. Acesso em: 21 nov. 2018. ______. Constituição Federal. Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: . Acesso em: 21 nov. 2018. FALTAM11 dias: confira as diferentes notícias entre os sistemas majoritário e proporcional.Tribunal Superior Eleitoral, set. 2018. Disponível em: http://www. tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Setembro/faltam-11-dias-confira-as- diferencas-entre--os-sistemas-majoritario-e-proporcional. Acesso em: 21 nov. 2018. FIGUEIREDO, A.; LIMONGI, F. Incentivos eleitorais, partidos e política orçamentária. In: Dados: Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 45, n. 2, 2002, p. 303-344. SECCHI, L. Políticas públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. São Paulo: Cengage Learning, 2010. https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEL&numero=2848&ano=1940&ato=1bb0za61ENNRkTf8b. https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEL&numero=2848&ano=1940&ato=1bb0za61ENNRkTf8b. http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Setembro/faltam-11-dias-confira-as-diferencas-entre--os-sistemas-majoritario-e-proporcional http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Setembro/faltam-11-dias-confira-as-diferencas-entre--os-sistemas-majoritario-e-proporcional http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Setembro/faltam-11-dias-confira-as-diferencas-entre--os-sistemas-majoritario-e-proporcional