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DIREITO PENAL: PARTE ESPECIAL →Vida Humana → direito fundamental do ser humano. →Direito formal e materialmente constitucional. → Obviamente que pode sofrer limitações: Exs: Legítima defesa, possibilidade de pena de morte em caso de guerra declarada; aborto em determinadas hipóteses. Antes da Lei 14.994/2024, o feminicídio era uma qualificadora do crime de homicídio. Todavia, com esta lei, o feminicídio tornou-se crime autônomo. homicídio →Supressão da vida extrauterina praticada por outra pessoa (MASSON, p. 637). →É indiferente a viabilidade do ser nascente, bastando o nascimento com vida (MASSON, p. 637) →QUESTÃO: - Se Marcos, portador de HIV, se relaciona sexualmente com Bruna, com o fim de transmitir a doença em questão e possibilitar sua morte, há homicídio? De acordo com Cleber Masson, sim. Neste caso, há intenção direcionada à morte da vítima, o que configura o homicídio doloso. O que diferencia do crime de “perigo de contágio venéreo” (art. 130, CP) é o dolo direcionado especificamente à morte da pessoa. Características do crime de homicídio → Admite-se modalidade culposa (será explicada mais adiante) → Admite tentativa → Se a lei nada menciona, é Ação penal pública incondicionada. → Objeto jurídico: Vida humana → Núcleo do tipo: “Matar” → crime de forma livre. → Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum) → Sujeito passivo: Qualquer pessoa (desde que esteja viva). → Elemento subjetivo: dolo, direto ou eventual. → Consumação: Com a morte. Cessação da atividade encefálica. → Competência: Se não for culposo, é do TRIBUNAL DO JÚRI → O crime de genocídio é crime contra a vida? Os crimes de homicídio simples é hediondo? O que é um crime hediondo? → E a eutanásia? É crime? → Indivíduo que, após se perder em uma região com neve e, após ser resgatado, se depara com seu pé necrosado. Pode optar pela morte ao invés da cirurgia de retirada do membro? HOMICÍDIO PRIVILEGIADO → Em regra, NÃO é hediondo. → É causa de DIMINUIÇÃO DE PENA (3ª fase). → Circunstâncias que ensejam o reconhecimento da minorante: - MOTIVO DE RELEVANTE VALOR SOCIAL: é direcionado ao interesse da coletividade. - MOTIVO DE RELEVANTE VALOR MORAL: se refere ao âmbito particular do autor. Ex: eutanásia. - OU DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, LOGO EM SEGUIDA A INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA. (provocação por ser dirigida até mesmo a terceira pessoa ou animal). ATENÇÃO: o que diferencia a última hipótese da legítima defesa (Causa excludente de ilicitude)? Legítima defesa CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. HOMICÍDIO QUALIFICADO § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: IX - contra menor de 14 (quatorze) anos: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. → MOTIVO TORPE: repugnante, moralmente reprovável, vil. Atenção: vingança e ciúmes não necessariamente configuram motivo torpe. Ex: assassinar alguém para receber a herança. Ou matar o filho para se vingar da esposa. → MOTIVO FÚTIL: insignificante, desproporcional, de pouca importância. Atenção: a ausência de motivo não deve ser equiparada a motivo fútil. Ex: Matar alguém por uma discussão trivial em uma briga de trânsito. → ASFIXIA: envolve esganadura, estrangulamento, afogamento, soterramento e etc. → TORTURA: o agente utiliza a tortura como meio para obter a morte de alguém. →TRAIÇÃO: O agente se vale da confiança que o ofendido nele previamente depositava para o fim de matá-lo em momento em que ele se encontrava desprevenido. - Homicídio Procustiano (Mitologia grega - Procusto – hóspedes – partes sobressalentes – traição). - Homicídio Teseuniano (vingança) → Cometido contra agentes integrantes dos órgãos da segurança pública e familiares: é qualificadora de natureza subjetiva. Não alcança o parentesco por afinidade. → Alcança: - Autoridades dos arts. 142 e 144, CF - Integrantes do sistema prisional - Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública. Atenção: o homicídio precisa ser praticado em decorrência da função da vítima. → QUALIFICADORA DE HOMICÍDIO CONTRA MENOR DE 14 ANOS: IX - contra menor de 14 (quatorze) anos: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de: I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o aumento de sua vulnerabilidade; II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela. III - 2/3 (dois terços) se o crime for praticado em instituição de educação básica pública ou privada Trata-se da Lei Henry Borel (Lei 14.344/22), que tornou qualificado homicídio contra menor de 14 anos e consequentemente o tornou hediondo. Também criou mecanismos para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente. QUESTÃO: Mas e se há a incidência de duas qualificadoras? Exemplo: crime cometido por motivo fútil e mediante o uso de veneno. Como aplicar as qualificadoras na dosimetria da pena? Para o stj, reconhecidas duas ou mais qualificadoras, uma delas poderá ser utilizada para qualificar o delito, as demais, na segunda fase da dosimetria, caso correspondam a uma das agravantes, ou em caso negativo, como circunstância judicial. CAUSA DE AUMENTO DE PENA: → ATENÇÃO: HÁ causas de aumento de pena tanto para o homicídio culposo, como para o homicídio doloso: art. 121, § 4º, 5º e 6º do CP. → Também há aumento de pena para a qualificadora de homicídio contra menor de 14 anos. Art. 121, inciso IX, § 2-B, incisos I, II e III. → CAUSA DE AUMENTO DE PENA PARA HOMICÍDIO DOLOSO: § 6 o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Milícia privada: grupo armado que atua ilegalmente, paralelamente às forças de segurança do Estado. → O conceito de milícia reflete a ideia de um grupamento armado e estruturado, com integrantes civis e militares das forças de segurança pública e das forças armadas, que detinham como o principal objetivo de sua criação a restauração da segurança em locais dominados por traficantes, em virtude da ausência do Poder Público (Masson, 2023). HOMICÍDIO CULPOSO § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4 o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo,o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. →Não há dolo. Trata-se de realização de uma conduta voluntária, com violação do dever de cuidado a todos imposto. Há imprudência, negligência ou imperícia. →Há resultado morte, o qual não foi desejado. →Imprudência: prática de ato perigoso. →Negligência: deixar de fazer aquilo que a cautela recomenda →Imperícia: Culpa profissional. Falta de aptidão para o exercício de arte, profissão ou ofício para a qual o agente, em que pese autorizado a exercê-la, não possui conhecimento teóricos ou práticos para tanto. →ATENÇÃO: NÃO CABE TENTATIVA EM CRIME CULPOSO. →ATENÇÃO: Homicídio culposo NÃO é julgado pelo Tribunal do Júri. É ação penal pública incondicionada. →ATENÇÃO: Crime de homicídio culposo no trânsito possui tipificação própria na Lei de Trânsito. LEI Nº 9.503/1997 Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor QUESTÃO: Rubens está voltando do trabalho em seu veículo quando, inesperadamente, um homem se joga em frente ao seu veículo, e é jogado na calçada em virtude do impacto. Desesperado, Rubens empreende fuga e fica sabendo, horas depois, que o homem faleceu. Há crime? → Pelo caso descrito, aparentemente não houve culpa por parte de Rubens. Por isso, não recai no crime de homicídio culposo no trânsito. → Todavia, houve crime de omissão de socorro, com a consequente morte do indivíduo: PERDÃO JUDICIAL Art. 121 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. CÓDIGO PENAL Relação de causalidade Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Lembrando que, se a causa superveniente "por si só" produzisse o resultado, o autor só responderia pelos atos anteriores (CP, art. 13, § 1º). Exemplo clássico trazido pela doutrina: se, na mesma situação, o falecimento da vítima tivesse ocorrido em razão de batida da ambulância. Homicídio qualificado. § 2° Se o homicídio é cometido: (...) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE → BOATE KISS → Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta para realizar um determinado evento, mas assumindo o risco de provocar outro. Exemplo: quero ferir, mas aceito matar. - O agente não quer o resultado mais grave, mas assume o risco de produzi-lo. - Indiferença em relação ao resultado possível. → Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, supondo poder evitá- lo com a sua habilidade (CUNHA, Rogerio Sanches, p. 314). Exemplo: atirador de elite que prevê a possibilidade de atingir a vítima de sequestro, mas afasta a mesma por conta de sua técnica apurada. FEMINICÍDIO Art. 121-A. Matar mulher por razões da condição do sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) Pena – reclusão, de 20 (vinte) a 40 (quarenta) anos. (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) § 1º Considera-se que há razões da condição do sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) I – violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) § 2º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime é praticado: (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) I – durante a gestação, nos 3 (três) meses posteriores ao parto ou se a vítima é a mãe ou a responsável por criança, adolescente ou pessoa com deficiência de qualquer idade; (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) III – na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) IV – em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha); (Incluído pela Lei nº 14.994, de 2024) V – nas circunstâncias previstas nos incisos III, IV e VIII do § 2º do art. 121 deste Código. Matar mulher transsexual é crime de feminicídio? Admite-se a como sujeito passivo de feminicídio a mulher transgênero, quando demonstrado que o crime foi motivado pelo menosprezo ou discriminação à condição de gênero da vítima. O réu, pronunciado pela tentativa de feminicídio e corrupção de menor (artigos 121, § 2º, VI, § 2º-A, II, do CP c/c artigo 244-B da Lei 8.069/1990), interpôs recurso em sentido estrito a fim de excluir referida qualificadora, sob a alegação de a vítima ser mulher transgênero e, biologicamente, portanto, não pertencer ao sexo feminino, condição objetiva do tipo penal. Ao analisar o recurso. →Lei bastante recente (14994/2024) que tornou o crime de feminicídio como crime autônomo. →Maior pena de todo o ordenamento jurídico brasileiro →No caso do feminicídio, as qualificadoras dos inc. III e IV e VIII passaram a ser causas de aumento: III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: Nova lei trouxe conceito legal de violência de gênero, a qual pode ser utilizada também para auxiliar para outras legislações: Considera-se que há razões da condição do sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO OU AUTOMUTILAÇÃO Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. → O crime de induzimento a automutilação foi incluído em 2019, na Lei 13968/2019 → ANOMALIA JURÍDICA: Tipo questionável, pois induzimento à automutilação não ofende a vida humana, mas, sim, a integridade física corporal. → SUICÍDIO é a “destruição deliberada da própria vida”. “Automutilação é qualquer tipo de comportamento voluntário envolvendo agressão direta ao próprio corpo, sem a intenção de suicídio”. (MASSON, p. 660) → ATENÇÃO: O consentimento da vítima é irrelevante, em virtude da indisponibilidade do bem jurídico tutelado. → Se o agente tanto instiga, como também auxilia no suicídio há UM ou MAIS DE UM crime? →Por ser tipo misto alternativo, estará caracterizado somente um único delito quando o agente realiza mais de uma das condutas do tipo penal. → Não se admite-se modalidade culposa → Admite tentativa na modalidade simples → Se a lei nada menciona, éAção penal pública incondicionada. → Objeto jurídico: Vida humana/ Integridade física → Núcleos do tipo: Induzir, Instigar ou auxiliar. Exige-se seriedade por parte do autor do crime. → Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum). → Sujeito passivo: Qualquer pessoa (desde que esteja viva). A vítima deve ter mínima capacidade de discernimento. → Elemento subjetivo: dolo. → Consumação: Com o mero induzimento, instigação ou auxílio. CRIME FORMAL. → Competência: TRIBUNAL DO JÚRI. Todavia, entende-se que, se se tratar de automutilação, é Juízo comum → Em sua modalidade simples, é crime de menor potencial ofensivo, sendo cabível a transação penal e a aplicação da Lei 9099/95 INFANTICÍDIO Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. Infanticídio é uma forma de homicídio em que o “legislador previu uma pena menor pelo fato de ser praticado pela mãe contra seu próprio filho, durante o parto ou logo após, influenciada pelo estado puerperal” (MASSON, p. 664) ATENÇÃO: o parto tem início com a dilatação, seguida da expulsão e terminando com a expulsão da placenta. Segundo MASSON, a morte em qualquer dessas fases configura o crime de infanticídio, caso esteja em estado puerperal. →Não se admite modalidade culposa →Admite tentativa. →O crime é praticado durante ou logo após o parto. →Se a lei nada menciona, é Ação penal pública incondicionada. →Objeto jurídico: Vida humana →Núcleo do tipo: MATAR →Sujeito ativo: A mãe (crime próprio) →Sujeito passivo: A nascente ou recém-nascido. →Elemento subjetivo: dolo. Direto ou eventual →Consumação: Com a morte da nascente ou neonato. →Competência: TRIBUNAL DO JÚRI. →Estado puerperal: “Conjunto de alterações físicas e psíquicas que acometem a mulher em decorrência das circunstâncias relacionadas ao parto que afetam sua saúde mental” (MASSON, p.) →Segundo entendimento majoritário, não se trata de situação de inimputabilidade ou semi- imputabilidade penal, vez que a mãe continua imputável. Neste caso, se matar um adulto, sob o estado puerperal, responderá por homicídio. Se, sob estado puerperal, a mãe mata outro bebê, imaginando-se ser o seu, qual crime se configura? CP, Art. 20 § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. 1. Trata-se de homicídio culposo praticado pela genitora praticado no decorrer do parto realizado em sua residência, com posterior ocultação de cadáver. Preenchidos os requisitos do perdão judicial. 2. DELITO DE HOMICÍDIO. MATERIAIDADE E AUTORIA VERIFICADOS. A materialidade do fato está comprovada pelas fotografias do local e da recém-nascida, pela certidão de nascimento, pela certidão de óbito e pelo laudo de necropsia, que atestou ter nascido a vítima com vida, bem como ser asfixia mecânica o motivo do seu óbito. Na mesma toada, os indícios de autoria estão verificados nos autos, tendo em vista que a própria acusada teria informado o ocorrido para o médico obstetra no hospital, bem como em seu depoimento na delegacia. 3. (...) 4. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE INFANTICÍDIO. DESCABIMENTO. ESTADO PUERPERAL NÃO VERIFICADO. Conforme se depreende dos autos, especificamente em observância ao laudo da periciada nos autos do Incidente de Sanidade Mental, a possibilidade de acometimento do estado puerperal foi afastada pela junta médica, de modo que, existindo dúvida acerca da condição psicológica da ré na época dos fatos, esta variável deve passar pela apreciação do Tribunal do Júri, não havendo falar em desclassificação do delito de homicídio qualificado neste momento processual. Ainda que se mencione que o laudo técnico foi realizado mais de 3 anos após o fato, é infundado desconsiderar a prova técnica e todos os conhecimentos extraídos dela, em razão da data da sua feitura. Das provas carreadas aos autos, especialmente do relato da acusada e das fotografias do local e da recém-nascida, após a realização do parto no banheiro, a ré colocou a vítima em uma sacola plástica e a guardou atrás de um móvel da casa de sogra, que fica aos fundos da sua casa. A conduta da acusada foi noticiada ao médico ginecologista e obstetra que a atendeu no Hospital e, posteriormente, foi confirmada pela acusada aos policiais responsáveis pela descoberta do corpo da vítima, de modo que há indícios de autoria e materialidade, no caso em tela, que autorizam a pronúncia da acusada O CONCURSO DE PESSOAS NO CRIME DE INFANTICÍDIO 1ª SITUAÇÃO: Genitora e terceiro matam o filho. A mãe pode responder por infanticídio, mas e quanto ao terceiro? → A posição majoritária tem sido no sentido de que o terceiro também responderá por infanticídio, em virtude do artigo 30 do CP, de modo que o estado puerperal se comunica ao terceiro. AFINAL, estado puerperal é elementar do tipo: Circunstâncias incomunicáveis Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime 2ª SITUAÇÃO: terceira mata o filho, com a participação da mãe. Como devem ser responsabilizados? →Nesta segunda situação, o terceiro é quem efetivamente executa o crime e a mãe apenas auxilia. →Há diversas posições sobre o tema, mas prevalece a posição majoritária de que ambos responderão também por infanticídio, vez que a presença da mãe, ainda que de forma participativa, faz com quem ambos respondam pelo crime de infanticídio. É a posição de Damásio e Greco. ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: (Vide ADPF 54) Pena - detenção, de um a três anos. →Trata-se da “interrupção da gravidez, da qual resulta a morte do produto da concepção”. (MASSON, p. 666). →De acordo com o ordenamento brasileiro, há aborto criminalizado em qualquer momento da evolução fetal. →Trata-se de crime de mão própria, porque exige atuação pessoal do agente. → Não se admite modalidade culposa → Admite tentativa. → O crime é praticado durante ou logo após o parto. → Se a lei nada menciona, é Ação penal pública incondicionada. → Objeto jurídico: Vida humana → Núcleo do tipo: PROVOCAR ABORTO → Meio de execução: forma livre → Sujeito ativo: A mãe (crime próprio) → Sujeito passivo: O feto. → Elemento subjetivo: dolo. Direto ou eventual → Consumação: Com a morte do feto, no útero materno ou depois da expulsão provada pela agente. → Competência: TRIBUNAL DO JÚRI. 1º CASO: E se a gestante praticar conduta abortiva e o feto for expulso com vida, morrendo posteriormente em virtude do ato realizado? ABORTO CONSUMADO 2º CASO: E se for realizado procedimento abortivo e isso acarretar na expulsão do feto com vida, e, em seguida, a genitora realizar nova conduta contra o recém-nascido, para matá-lo? CONCURSO MATERIAL ENTRE TENTATIVA DE ABORTO E HOMICÍDIO/OU INFANTICÍDIO. → E pílula anticoncepcional? E pílula do dia seguinte? Segundo entendimento majoritário, a pílula anticoncepcional visa impedir a ovulação feminina. Portanto, se não há ovulação, não há fecundação e, portanto, nidação. No caso da pílula do dia seguinte também não há nidação Nidação: implantação do embrião no útero, que representa o início da gravidez. CRIME DE ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54) Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Aborto provocado SEM o consentimento da gestante → Trata-se de crime de dupla subjetividade: ou seja, há duas vítimas,o feto e a gestante. Aborto provocado COM o consentimento da gestante (art. 126) → exceção à teoria monista no concurso de pessoas (Art. 29, caput, do CP). Isto porque: - Mãe responde pelo art. 124, 2ª parte - Terceiro responde pelo art. 126. ATENÇÃO: O consentimento da gestante deve existir até a consumação do delito de aborto. E se a mulher estiver grávida de gêmeos? → Se o autor tiver conhecimento de tal fato, há 2 crimes de aborto, em concurso formal impróprio (art. 70, caput, parte final). → Se não souber de tal fato, responde por um único crime, pois não se aplica a responsabilidade penal objetiva. → PORTANTO, voltando ao assunto anterior, frise-se: Em regra, no ordenamento jurídico penal, aplica- se a teoria monista em relação ao concurso de pessoas: CP, Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Todavia, no crime de aborto, aplica-se a teoria pluralista, em que os envolvidos respondem cada qual, pelo crime respectivo e específico. Forma qualificada Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. → Em relação ao art. 127: - O art. 127, em realidade, trata sobre causas de aumento aplicáveis somente ao aborto provocado por terceiro, sem ou com o consentimento à gestante. → NÃO se aplica ao aborto provocado PELA gestante. → São crimes preterdolosos. → Em relação ao art. 128: - De acordo com grande parte da doutrina, são causas especiais de exclusão de ilicitude (estado de necessidade) - Deve ser praticado por médico → Aborto necessário ou terapêutico: De acordo com Masson (p. 670), possui 3 requisitos: - ser praticado por médico - que a vida da gestante corra perigo em razão da gravidez. - que não exista outro meio de salvá-la ATENÇÃO: NÃO SE EXIGE O CONSENTIMENTO DA GESTANTE PARA O ABORTO. Pode ser contra a vontade da gestante. Segundo MASSON, se o aborto é realizado por enfermeira ou outra pessoa diferente de médico, em caso de risco de vida da gestante, o fato é lícito, como “corolário do estado de necessidade” → Aborto humanitário ou sentimental: Exige-se o consentimento da gestante ou de seu responsável legal, caso seja incapaz. → A gravidez deve ser consequência de ato de estupro → Também deve ser praticado por médico MAS E SE A MULHER REALIZA, POR CONTA PRÓPRIA, O ABORTO? Há punição? Segundo MASSON, caso a mulher realize o aborto, o fato será típico e ilícito, mas pode-se reconhecer a incidência da inexigibilidade de conduta diversa (causa supralegal de exclusão da culpabilidade). → ATENÇÃO: É prescindível a condenação ou mesmo o transcorrer de uma ação penal por estupro para a permissão do aborto humanitário, bastando a existência de provas seguras sobre o crime. ABORTO EM CASO DE ANENCEFALIA → Anencefalia: “(...) má-formação rara do tubo neural, caracterizada pela ausência total ou parcial do encéfalo e da calota craniana, proveniente de defeito de fechamento do tubo neural durante a formação embrionária”. (MASSON, p. 670) → CFM considera o anencéfalo um natimorto cerebral. → ADPF 54/DF → Plenário do STF declarou a inconstitucionalidade da interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo seria conduta considerada tipificada nos art. 124, 126 e 128 do CP. → A autorização, pelo STF, de aborto de feto anencéfalo NÃO exige autorização judicial, se estiver devidamente comprovada por laudo médico. → ATENÇÃO: Por não existir possibilidade de vida após o parto, se a gestante realizar aborto sozinha, considera-se como CRIME IMPOSSÍVEL. MICROCEFALIA → “Microcefalia é a condição neurológica rara na qual a cabeça do feto ou da criança apresenta dimensões significativamente inferiores às de outros fetos ou crianças de igual estágio de desenvolvimento (...). Em síntese, o cérebro não cresce da forma adequada durante a gestação ou após o nascimento.”. → Causas: rubéola, cigarro e álcool durante a gravidez, toxoplasmose, ZIKA vírus e etc; → Consequências: possíveis convulsões, paralisia, atraso mental, epilepsia e etc →Seria lícito o aborto em caso de microcefalia? 1º posicionamento: SIM. - O CP foi criado em 1940, o que impedia de imaginar as futuras doenças que apareceriam no decorrer evolutivo. - A mulher não pode ser prejudicada e punida por conta da ineficiência do Estado em erradicar a proliferação do mosquito Aedes Aerypti; - Dignidade da pessoa humana também abarca a mulher gestante. 2º posicionamento: NÃO. - As hipóteses de permissão de aborto estão previstas taxativamente no CP. - Microcefalia não é anencefalia. Na anencefalia não há vida humana. Já na microcefalia há vida humana intrauterina, de modo que a criança provavelmente viverá, mas sofrerá, sim, com diversos obstáculos e graves problemas de saúde. DAS LESÕES CORPORAIS Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Lesão corporal seguida de morte § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Substituição da pena § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Lesão corporal culposa § 6° Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano LESÃO CORPORAL → É a (...) “ofensa humana direcionada à integridade corporal ou à saúde de outra pessoa. Depende da produção de algum dano no corpo da vítima, interno ou externo, englobando qualquer alteração prejudicial à sua saúde, inclusive problemas psíquicos”. (MASSON, p. 676) → Não se exige a irradiação de sangue → Ex: fraturas, fissuras, luxações, equimoses, hematomas e etc. → ATENÇÃO: A depender do contexto, o corte de cabelo pode configurar lesão corporal, se, por exemplo, tiver a intenção de humilhar a vítima. → A pluralidade de lesões contra a mesma vítima na mesma ocasião configura um único crime. →A integridade física é bem disponível? →Há posicionamentos que compreendem que apenas em caso de lesão leve (ROGÉRIO GRECO, por exemplo) →Todavia, há uma segunda corrente que entende que sim (posição majoritária). Ex: Tatuagens, piercings, clube de luta livre. Ex: possibilidade de doação de órgãos e tecidos. A posição majoritária entende que o consentimento do ofendido funcionará como causa supralegal de exclusão da ilicitude. → Admite modalidade culposa → Admite tentativa. → O crime é praticado durante ou logo após o parto. → AÇÃO PENAL: varia conforme o tipo de lesão: - Lesões leves e culposas: CONDICIONADA - Lesões graves, gravíssimas e seguidas de mortes: INCONDICIONADA → Objeto jurídico: Incolumidade física → Núcleo do tipo: OFENDER → Meio de execução: forma livre → Sujeito ativo:Qualquer pessoa → Sujeito passivo: Qualquer pessoa → Elemento subjetivo: dolo. Direto ou eventual. Bem como culpa ou preterdolo. → Consumação: Consuma-se com a efetiva lesão (crime de dano). → Competência: Juízo comum → E quanto à hipótese de lesão corporal no esporte? Há crime? Em regra, não há crime em virtude da exclusão de ilicitude pelo exercício regular do direito. Exercício regular do direito: É o desempenho de uma atividade ou a prática de uma conduta autorizada por lei, que torna lícito um fato típico. Se alguém exercita um direito, previsto e autorizado de algum modo pelo ordenamento jurídico, não pode ser punido, como se praticasse um delito” (NUCCI, 2016, p. 268) → E a cirurgia de mudança de sexo? Poderia configurar lesão corporal? Não. Não há dolo direcionado à lesão. O médico é ancorado pela excludente de exercício regular de direito → LESÃO LEVE: Trata-se de toda lesão dolosa que não se enquadre nas hipóteses elencadas como grave, gravíssima ou em caso de morte. E não se enquadra em caso de violência doméstica. - Prova de materialidade: exame de corpo de delito: CPP, Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: (...) III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: (...) b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167; CPP, Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta → LESÃO CORPORAL GRAVE: Figura qualificada -I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias: - Ocupação habitual: qualquer atividade física ou mental do dia a dia. Não precisa ser lucrativa (MASSON, p. 678). Exige exame complementar para verificar a incapacidade a partir do 30º dia. -II - Perigo de vida: Ex: quando há perfuração de órgão como o abdômen; fratura de crânio; e etc. -III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função: é a DIMINUIÇÃO da capacidade funcional. Atenção: Membro: ex: amputação de uma perna ou perda de mobilidade do braço; Sentido: cegueira ou surdez total; Função: perda dos dentes, impedindo a função mastigatória; Perda da função reprodutora e etc. Importante: DEBILIDADE não se confunde com a perda. A perda está prevista como espécie de lesão gravíssima. - IV - aceleração de parto: ATENÇÃO: É DIFERENTE da lesão com resultado ABORTO. - Na aceleração de parto, a criança nasce com vida, mas nasce antes do tempo previsto. - Se o agente não sabia que a mulher estava grávida, a qualificadora não incide, respondendo ele apenas por lesão corporal leve → LESÃO CORPORTAL GRAVÍSSIMA: segunda forma qualificada do crime de lesão. - Incapacidade permanente para o trabalho: Se direciona ao sustento da vítima. Prevalece que a qualificadora vai incidir se a vítima ficar impedida para exercer qualquer trabalho, e não somente aquele específico que ela exercia. - Enfermidade incurável: doença com séria probabilidade de incurabilidade, ou seja, é uma doença que dificilmente pode ser curada, de acordo com o estágio atual da medicina. Caso haja tratamento ou cirurgia simples para a cura, não cabe a qualificadora. - Perda ou inutilização do membro, sentido ou função: Perda: cessação do sentido ou da função, mutilação ou amputação de membro. - Deformidade permanente: Trata-se de deformidade FÍSICA que altera a forma original do corpo humano. - Segundo a jurisprudência, a qualificadora NÃO é afastada por cirurgia plástica reparadora. O agente, portanto, responde pelo crime na forma qualificada (Informativo 562 do STJ);