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Autora: Profa. Wanda Schumann Racanicchi Colaboradores: Prof. Roni Muraoka Profa. Christiane Mazur Doi Produção Jornalística em Rádio Professora conteudista: Wanda Schumann Racanicchi Mestre em Ecologia com ênfase em Jornalismo Ambiental, pós‑graduada em Metodologia da Pesquisa Científica. Ministra aulas de História do Jornalismo e da Comunicação, Radiojornalismo, Mídia Digital, Produção em Áudio, Jornalismo Ambiental, Técnicas de Entrevista, Pesquisa e Reportagem. É autora de vários artigos sobre meio ambiente e pesquisa temas relacionados a sustentabilidade. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R118p Racanicchi, Wanda Schumann. Produção Jornalística em Rádio / Wanda Schumann Racanicchi. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 136 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230. 1. Rádio. 2. Jornalismo. 3. Programas. I. Título. CDU 070.489.1 U517.40 – 23 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Andressa Picosque Leonardo do Carmo Sumário Produção Jornalística em Rádio APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 RÁDIO É EMOÇÃO E INFORMAÇÃO .............................................................................................................9 1.1 O crescimento dos conteúdos de áudio na forma de podcasts ........................................ 12 1.2 Análise do podcast O assunto ......................................................................................................... 17 2 PRODUÇÃO EM ÁUDIO ................................................................................................................................. 21 2.1 O segredo do texto radiofônico ...................................................................................................... 22 2.2 Edição com ética................................................................................................................................... 28 2.3 Manual de radiojornalismo .............................................................................................................. 28 2.4 A importância de uma boa locução.............................................................................................. 29 3 DEFINIÇÃO DE PAUTAS ................................................................................................................................. 35 3.1 A notícia ................................................................................................................................................... 37 3.2 Triagem com critérios ......................................................................................................................... 39 3.3 Tipos de entrevista ............................................................................................................................... 41 3.4 O povo fala .............................................................................................................................................. 52 4 JORNALISTA MULTIFUNCIONAL ................................................................................................................. 54 4.1 A entrevista ............................................................................................................................................. 57 4.2 O entrevistado ....................................................................................................................................... 58 4.3 A reportagem ......................................................................................................................................... 59 4.4 Tipos de programas .............................................................................................................................. 61 4.5 Jornalismo investigativo no rádio ................................................................................................. 66 Unidade II 5 JORNALISMO ESPECIALIZADO EM MEIO AMBIENTE ......................................................................... 72 5.1 Jornalismo científico ........................................................................................................................... 83 5.2 Radiojornalismo ético ......................................................................................................................... 85 5.3 Emissoras jornalísticas e musicais ................................................................................................. 91 6 EMISSORAS DIGITAIS ..................................................................................................................................... 95 6.1 Formatos de programas: o radiojornal ........................................................................................ 96 6.2 O programa de rádio que virou livro ............................................................................................ 99 6.3 A paixão pelo futebol no rádio .....................................................................................................100 6.4 Esportes alternativos.........................................................................................................................104 Unidade III 7 HUMOR E HISTÓRIA .....................................................................................................................................109 7.1 Humor no rádio ...................................................................................................................................109 7.2 Mais histórias do rádio .....................................................................................................................110 7.3 O padre e o italiano ...........................................................................................................................112 7.4 Testemunha ocular da história .....................................................................................................113 8 POLÍTICA NO RÁDIO .....................................................................................................................................114 8.1 A mulher da casa abandonada .....................................................................................................121 7 APRESENTAÇÃO O objetivo desta disciplina é preparar o futuro jornalista para ingressaramenizar a situação que o país está vivendo em relação à pandemia? 4) Quais reflexos o senhor acredita que esta pandemia pode trazer para a área da saúde no futuro? 5) Com a pandemia, o número de pedidos através de aplicativos de entregas aumentou mais de 94%, de acordo com um estudo realizado pela empresa Mobills. Um alimento produzido por um indivíduo infectado pelo vírus Sars‑CoV‑2 pode ser contaminado e transmitir a doença para o consumidor? 6) A covid‑19 pode ser transmitida para os animais? 7) O doutor acredita que reduzir o horário de funcionamento dos comércios é realmente uma boa ideia, tendo em vista que, com menos tempo, mais pessoas vão circular no mesmo horário? 8) Desde o começo da pandemia, este é o momento em que o Brasil está encarando o pior cenário no aumento do número de casos e mortes – inclusive recentemente foi publicada a notícia de que um jovem de 22 anos morreu na fila de espera da UTI em São Paulo. Qual seria o melhor método que os hospitais deveriam seguir para evitar que cenas como essa se tornem comuns? 49 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO 9) Onde foi que o governo brasileiro errou, já que temos quase 3 mil mortes diariamente? 10) Em quanto tempo o senhor estima que o Brasil conseguirá lidar com a situação? 11) Fornecimento de vacinas para clínicas particulares: o senhor é a favor ou contra? 12) Hoje, nosso país tem uma contagem de cerca de 3 mil mortes por dia. O que pode ser feito para que o número diminua, levando em conta todas as medidas de prevenção e tentativas dos governadores? 13) Nós já estamos no período de vacinação e eu gostaria de saber se daqui a um ano, por exemplo, poderemos voltar à nossa vida normal. 14) Eu queria fazer um paralelo entre as vacinações contra a gripe suína, em 2009, e contra a covid‑19, atualmente. Quando enfrentávamos a epidemia de gripe suína, em três meses vacinamos 92 milhões de pessoas. Por que agora, com quase o mesmo tempo, só vacinamos aproximadamente 12 milhões? 15) O uso de máscaras e o distanciamento social ainda são as formas mais efetivas de se prevenir contra o vírus. Recentemente foi noticiado, mais uma vez, sobre as máscaras de pano não serem tão eficientes quanto imaginávamos. Isto é verdade? Se sim, qual máscara devemos utilizar? 16) No começo da quarentena, o medo era uma sensação constante para todos nós. Sendo assim, algumas medidas de proteção eram utilizadas, tais como a troca de roupa ao chegar em casa e a higienização dos produtos trazidos da rua. Estas práticas são realmente efetivas e necessárias? 17) A Baixada Santista vai entrar em lockdown inteligente na terça‑feira. Muitos comércios e comerciantes serão seriamente afetados. O senhor acha que essa é a saída para o momento que vivemos? 18) Pelo andar da carruagem, o senhor acha que é possível uma terceira onda no Brasil? Ou as vacinas vão impedir isso? 19) Desde que começaram a surgir as vacinas, a OMS e diversos especialistas da saúde orientam que os países vacinem primeiro os idosos e pessoas na linha de frente da área da saúde. A Indonésia, que hoje tem pouco menos de 40 mil mortes, optou por vacinar primeiro pessoas de 18 a 59 anos. De acordo com o presidente e a liderança da saúde no país, a prioridade são as pessoas que movem a economia e que saem de casa e se espalham por todo lugar e voltam à noite para casa, para suas famílias. Seria mesmo uma melhor opção vacinar os mais jovens primeiro? 50 Unidade I 20) Além dos hospitais, as funerárias também estão em colapso. Vivemos um período muito crítico. Hospitais de campanha são a solução? 21) Só as vacinas resolvem ou é preciso vacinas e isolamento? 22) Quais são as diferenças entre as várias vacinas que estão sendo aplicadas em todos os países? Todas são eficientes? 23) A Coronavac, por usar vírus inativado, é mais segura? 24) E a vacina da AstraZeneca? A Europa a proibiu e depois voltou atrás. Ficam dúvidas? 25) O vírus fica por quanto tempo nos objetos? Já temos estudos? 26) Como fazer as pessoas entenderem que temos que parar de aglomerar? Faltam campanhas governamentais para sensibilizar a população sobre os cuidados que devemos ter? 27) Como podemos acelerar a nossa vacinação, que está muito lenta? 28) Em 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) relacionou o desmatamento, a perda de biodiversidade, a invasão do homem em áreas de florestas nativas e o desequilíbrio que lamentavelmente deu espaço para a pandemia. O que é preciso fazer rapidamente para reverter essa situação? 29) E os outros países? Qual país o senhor acredita que teve mais sucesso no combate à pandemia? 30) O que é preciso fazer rapidamente para reverter essa situação em geral, Dr. Vecina? A entrevista concedida pelo Dr. Vecina teve três horas de duração e trouxe importantes ensinamentos aos alunos. Depois, os estudantes editaram várias sonoras e produziram podcasts sobre o assunto. Hoje, além de serem transmitidas nas emissoras tradicionais, as entrevistas são também publicadas na internet, e a chamada da matéria conta pontos para a audiência. Você pode preparar uma arte com o conteúdo. Neste caso, é importante que o painel de divulgação seja objetivo, com um título informativo, chamativo e que resuma a importância da temática, como foi feito no painel para a entrevista com o Dr. Gonzalo Vecina. 51 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Lembrete É importante que o jornalista de rádio pense na foto que vai selecionar para a matéria, já que o material produzido também será publicado nos sites da emissora. Figura 20 52 Unidade I Saiba mais Você pode acompanhar as informações que o Dr. Gonzalo Vecina traz sobre a pandemia no YouTube. Deixamos como exemplo a entrevista concedida por ele ao jornal da TV Cultura: QUANDO a pandemia de covid‑19 terminará no Brasil? Médico Gonzalo Vecina opina. 31 dez. 2021. 1 vídeo (7 min). Publicado pelo canal Jornalismo TV Cultura. Disponível em: https://bit.ly/3X4Blvo. Acesso em: 18 jan. 2023. Observação Observem que as técnicas e o processo de entrevista radiofônica são praticamente os mesmos da entrevista para TV. Algumas falas, no entanto, devem ser introduzidas na apresentação da matéria de rádio para descrever o ambiente dos fatos, já que a transmissão não acompanha imagens. 3.4 O povo fala A entrevista com populares é essencial para democratizar a matéria, ilustrar as informações e traçar o quadro do acontecimento que se pretende divulgar. Há várias maneiras de divulgar entrevistas com a população no rádio, TV ou internet: podem ser ao vivo ou gravadas, editadas com várias sonoras em sequência, sem identificar nomes ou funções, ou podem identificar determinada classe. Se os depoimentos forem editados, é preciso selecionar as sonoras mais audíveis e impactantes, mas que permitam que o tema seja apresentado com transparência e a maior imparcialidade possível. A expressão popular aprofunda o assunto. A maneira mais objetiva e simples de demonstrar o resultado das entrevistas realizadas sobre determinado tema é editar uma sonora de entrevistado na sequência da outra. O ideal é que as declarações sejam rápidas, para que se possa ouvir muitas opiniões sem se tornar cansativo. O repórter precisa fazer a mesma pergunta para todos os entrevistados para que o resultado fique mais claro. Observação Um segmento do tipo “o povo fala” não é pesquisa de opinião. 53 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Veja a matéria publicada pela BBC sobre o retrato da fome no Brasil: Figura 21 Fonte: Consumo… (2021). Saiba mais Veja a reportagem completa: CONSUMO de pé de galinha em alta e outros 5 dados que revelam retrato da fome no Brasil. BBC News Brasil, 5 out. 2021. Disponível em: https://bbc.in/3iqQJ6A. Acesso em: 12 jan. 2023. 54 Unidade I Exemplo de aplicação Depois de ler essa matéria, como você gravaria com os populares? Fica a seu encargo sugerir a pergunta que deve ser feita a todos os populares e que resulte no detalhamento do tema. Saiba mais Veja, como exemplo, o programa Opinião,da TV Cultura, que fez um povo fala com a seguinte questão sobre a fome na pandemia: “O que é preciso para garantir a segurança alimentar e não voltarmos a fazer parte do mapa da fome da ONU?”. Repare que, neste vídeo, todos responderam à mesma pergunta. OPINIÃO: a pandemia e a fome no Brasil: 18/2/2021. 18 fev. 2021. 1 vídeo (26 min). Publicado pelo canal Jornalismo TV Cultura. Disponível em: https://bit.ly/3X5D5ES. Acesso em: 2 dez. 2022. Lembrete Entrevistas com a população no rádio seguem a mesma técnica da TV. Não é preciso identificar os entrevistados. 4 JORNALISTA MULTIFUNCIONAL Os jornalistas de rádio e internet atualmente têm várias funções, e muitas vezes fazem todo o trabalho para produzir uma matéria. Eles pesquisam, criam a pauta, entrevistam, redigem o texto, elaboram a reportagem, editam, produzem, fotografam, apresentam. Como exemplo, veja o trabalho de conclusão de curso do aluno de Jornalismo da UNIP, Nicolas Pedrosa, que idealizou o blog Correio continental e inseriu podcast e videocast. Para desenvolver esse projeto, ele entrevistou várias pessoas, pesquisou, preparou as pautas, estudou o perfil dos entrevistados, investigou, detectou os problemas da cidade, contatou as fontes, fotografou, apresentou – enfim, apenas Pedrosa fez todo este trabalho. 55 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais Acesse o blog e observe o trabalho realizado: Disponível em: https://bit.ly/3keVCQI. Acesso em: 21 nov. 2022. Figura 22 Disponível em: https://spoti.fi/3Iqp0NL. Acesso em: 5 jan. 2023. O podcast Da ponte pra cá, parte desse trabalho de conclusão de curso, aborda os problemas de São Vicente e aponta possíveis soluções na entrevista com Sandra Conti, vice‑prefeita da cidade. 56 Unidade I Figura 23 Fonte: Pedrosa (2021a). 57 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais O podcast Da ponte pra cá pode ser ouvido no Spotify: Disponível em: https://spoti.fi/3Iqp0NL. Acesso em: 21 nov. 2022. Para descobrir e divulgar a história, o desenvolvimento e os problemas da cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo, Nicolas Pedrosa extrapolou as funções e até criou a arte e comerciais – também apresentados por ele – para o blog. Observação Para editar os trabalhos do Correio continental, Pedrosa usou os programas Audacity, para áudio, e Movie Maker Editor, para vídeo. 4.1 A entrevista Preparar uma entrevista significa pesquisar com antecedência o assunto que será abordado, analisar o perfil de cada fonte de informação e verificar o local dos acontecimentos. Contudo, muitas vezes o repórter não tem o tempo necessário para estudar o tema ou contatar a fonte principal, pois vários acontecimentos são imprevisíveis e o rádio pede agilidade e rapidez na divulgação. Algumas entrevistas são realizadas a distância, embora o repórter prefira o contato com os entrevistados. Durante a pandemia, por exemplo, devido ao distanciamento social, muitas tiveram que ser gravadas remotamente. Vários aplicativos viabilizam essa modalidade, como Skype, Zoom e Anchor. Saiba mais Esses e outros aplicativos são apresentados numa matéria publicada no site da Rede de Jornalistas Internacionais: RADCLIFFE, D. 12 aplicativos para gravar entrevistas remotas. Ijnet, 5 ago. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3w0vXhg. Acesso em: 12 jan. 2023. 58 Unidade I Entrevistas muito longas são cansativas. Se for preciso alongar o assunto, insira outros entrevistados para diversificar. Se a entrevista não for ao vivo, você pode cortar alguns pontos na edição. Você deve também determinar a duração da entrevista e selecionar a pauta de acordo com o tempo disponível para que o resultado da produção seja claro e objetivo. Muitas vezes, a conversa vai em outra direção, e você tem que conduzir o diálogo para não sair do tema central. Não interrompa o entrevistado, para que ele complete o raciocínio, mas também não o deixe sair do contexto. É possível ainda que a ideia original da entrevista seja alterada, porque depende das respostas do entrevistado. Insista em abordar a fonte que melhor pode informar e que tenha mais credibilidade. Faça perguntas curtas e uma de cada vez, para que o entrevistado não se perca ao responder. Além disso, antes da entrevista, pergunte a pronúncia correta do nome do entrevistado, e, no decorrer da conversa, repita mais vezes a função e o nome dele para que o ouvinte assimile. 4.2 O entrevistado A Rádio Eldorado de São Paulo apresentou o podcast Som a Pino Entrevista, comandado por Roberta Martinelli, produzido por Julia Corá e montado por Moacir Biazzy. A cada programa, a jornalista musical conduz uma entrevista diferente, abordando as novidades da música brasileira. Saiba mais Você pode ouvir no link a seguir a entrevista que Caetano Veloso concedeu a esse podcast em 2021. Ele comenta sobre seu novo álbum e também sobre o então atual momento do Brasil: CAETANO Veloso: “não consigo crer que uma situação ruim torne as pessoas mais inventivas”. Entrevistadora: Roberta Martinelli. Entrevistado: Caetano Veloso. Som a Pino Entrevista, nov. 2021. Podcast. Disponível em: https://spoti.fi/3X4ZQs7. Acesso em: 8 dez. 2022. Para produzir a entrevista com Caetano Veloso, por exemplo, foi preciso pesquisar a vida dele e suas músicas, traduzir resumidamente gostos e preferências, além de selecionar efeitos sonoros e ilustrações musicais de outros compositores ou atores que ele mencionou. Caetano Veloso foi informado com antecedência sobre o objetivo do programa, o tempo estimado de duração e a temática a ser abordada. 59 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Figura 24 Disponível em: https://spoti.fi/3X4ZQs7. Acesso em: 5 jan. 2023. Você ouviu Roberta Martinelli conversar com Caetano sobre a música “Hey Jude”, dos Beatles. Foi por isso que a produção selecionou essa composição para inserir no podcast. Ilustrações e efeitos musicais enriquecem e destacam a matéria para prender a atenção do ouvinte. 4.3 A reportagem A dúvida é o princípio da sabedoria. Aristóteles A reportagem tem como conteúdo o testemunho direto dos fatos atuais ou histórias vividas por pessoas relacionadas. O jornalista estuda o desdobramento dos fatos com pesquisas e entrevistas e apura com rigor todas as informações. A vida de repórter não é fácil, mas é bem dinâmica e movimentada. Todos os dias surge uma novidade, uma matéria nova a ser explorada, seja no sol, na chuva ou na tempestade, em festas ou desmoronamentos. O repórter precisa adotar critérios para avaliar o que é notícia importante e o que deve ser divulgado com mais urgência, e deve saber interpretar os fatos e convencer as pessoas da necessidade de entrevistas, sempre também as avisando sobre o seu objetivo. A reportagem depende do poder de observação do profissional. 60 Unidade I O jornalista deve se empenhar em cada matéria que produz e trabalhar com imparcialidade e sabedoria para checar os fatos com várias fontes e desenvolver um bom material. Hoje, o bom profissional fica conectado a todo momento para atualizar as informações. Nas reportagens, o jornalista só deve narrar os fatos checados e comprovados. Deve questionar, ouvir várias fontes, avaliar todos os lados da questão, enfatizar a parte contrária, apurar as informações e descobrir a notícia como ela realmente é. No Manual de radiojornalismo: produção, ética e internet, Barbeiro e Lima (2003) sintetizam de maneira bem objetiva as principais técnicas para a produção da reportagem. A seguir, relacionamos algumas delas, mas sugerimos que você depois leia as demais presentes no livro: • a reportagem deve ser completa, com começo, meio e fim – nunca presuma que o ouvinte já conhece os antecedentes do fato; • a reportagem deve ser iniciada com um fato novo, mesmo que o assunto seja conhecido; • detalhes desnecessários para o entendimento do fato devem ser dispensados; • a narração precisa ser direta, para que o ouvinte não se perca; • o repórter deve conferir os números que usa na reportagem; • é preciso ter cuidadocom o uso de adjetivos; • não é função do repórter querer mudar comportamentos; • para fazer uma reportagem, não é preciso arriscar a vida; • a liberdade de imprensa não autoriza o repórter a cometer qualquer deslize e não lhe dá imunidade contra toda a sociedade; • repórter desinformado dificilmente escapa de ser manipulado pela fonte. Muitas reportagens são feitas ao vivo, uma vez que o radiojornalismo exige imediatismo, e por isso o profissional deve dominar uma boa técnica de improviso. Nem sempre o jornalista tem tempo para se preparar, portanto, é preciso ficar alerta e se comunicar constantemente com a redação, já que o trabalho é em equipe. Antes de apresentar a matéria nas emissoras ou em sites, é necessário apurar rigorosamente os fatos e selecionar as fontes principais. Na reportagem expositiva, os fatos são apresentados de modo imparcial. Na opinativa já existe o parecer do jornalista, e na interpretativa os fatos são analisados por profissionais especializados para chegar a uma conclusão sobre o assunto. O texto da reportagem é 61 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO informativo, mas muitas vezes o jornalista expõe alguns comentários com base nas informações dos seus entrevistados. Como disse Gilbert Keith Chesterton, “não foi o mundo que piorou; as coberturas jornalísticas é que melhoraram muito”. No dia a dia, o jornalista cobre várias matérias, e em algumas ele se aprofunda e elabora um trabalho com mais destaque. A característica da reportagem é uma maior e mais detalhada estrutura textual, com várias informações apuradas em pesquisas e um número mais diversificado de entrevistas. Uma reportagem pode ter caráter opinativo para desenvolver determinada temática. Na reportagem especial, o volume de informações cresce, e aumenta também o tempo de produção. Ferraretto (2014, p. 167) alerta em Rádio: teoria e prática que a grande reportagem é um meio termo entre a reportagem comum, do dia a dia, e o documentário: aparece como ampliação quantitativa e, muito mais profundamente, qualitativa do trabalho usual e cotidiano corporificado nos boletins dos repórteres de uma emissora de rádio. Não chegando a ter a abrangência de uma documentário, adentra o terreno do jornalismo interpretativo. Saiba mais A Rádio TST, do Tribunal Superior do Trabalho, publicou uma reportagem especial com o título “Discriminação racial no ambiente de trabalho”. É interessante acompanhar todos os detalhes, inclusive as perguntas elaboradas ao entrevistado para conseguir o objetivo central. A matéria foi produzida e apresentada por Rafael Silva: SILVA, R. Reportagem especial: discriminação racial no ambiente de trabalho. Justiça do Trabalho, 21 nov. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3Zup84X. Acesso em: 12 jan. 2023. 4.4 Tipos de programas Existem vários tipos de programas: radiojornal, síntese noticiosa, boletim informativo, edição extra, toque informativo, programa de entrevistas, informativo especializado, programa de opinião, jornada esportiva, programa humorístico, documentário, programa de variedades, mesa‑redonda etc. No radiojornal, na síntese noticiosa, no boletim e no toque informativo as técnicas são praticamente as mesmas, o que muda é o tempo de transmissão. O jornal radiofônico pode ter duração de 30 minutos a 4 horas, dependendo da programação da emissora. Uma síntese noticiosa pode se estender por 5 minutos, e o toque informativo e o boletim radiofônico variam entre 2 e 3 minutos, com os principais fatos do momento. Em todos estes programas as notícias seguem uma hierarquia, sendo apresentadas na ordem de importância para o ouvinte. 62 Unidade I Os noticiários precisam prender a atenção até o final, com a sequência das notas e os principais fatos. Sua estrutura segue sempre a linha editorial, e as notícias são agrupadas por similaridade de assuntos. Apesar de o modelo variar, deixamos um exemplo de roteiro de síntese noticiosa: • abertura; • notícias por editorias; • comercial; • notícia final; • encerramento. Nos noticiários, a entrada ao vivo da reportagem é opcional e depende da demanda. No radiojornal, por exemplo, pelo tempo de duração, geralmente é acionada toda a equipe de reportagem disponível com as matérias atualizadas. A edição extra ou plantão divulga um fato importante que não pode esperar o noticiário geral para ser transmitido. Geralmente, a notícia entra após uma vinheta criada especialmente para chamar a atenção. Saiba mais Observe nesta indicação um exemplo de vinheta: VINHETA do Plantão CBN. 29 jan. 2017. 1 vídeo (12 s). Publicado pelo canal Televinhetas. Disponível em: https://bit.ly/3CIajSy. Acesso em: 17 jan. 2022. Os informativos especializados abordam os mais variados assuntos, que podem ser política, economia, variedades, polícia, trânsito, medicina, entre outros. Trata‑se de um pequeno noticiário temático, desenvolvido com entrevistas para aprofundar a questão. Alguns são patrocinados. Nos programas de entrevistas, de opinião e na jornada esportiva geralmente são convidados especialistas em determinados assuntos para discutir a questão. A conclusão fica por conta dos ouvintes. Os jornalistas fazem um trabalho de pesquisa e contatam os entrevistados mais importantes e capacitados para desenvolver cada assunto. 63 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais Confira um exemplo de jornada esportiva: JORNADA esportiva. 6 jun. 2021. 1 vídeo (274 min). Publicado pelo canal Itatiaia. Disponível em: https://bit.ly/3ZwQgjJ. Acesso em: 17 jan. 2023. A produção do documentário demanda mais tempo, porque o repórter precisa levantar tanto os fatos atuais como os que já aconteceram e merecem retrospectiva. Geralmente, o jornalista escolhe assuntos importantes e impactantes para narrar a história. As grandes reportagens inseridas são diversificadas e apresentam vários depoimentos de pessoas envolvidas no presente ou no passado para reconstruir os fatos ou aprofundar o tema. Por serem mais longos, documentários pedem uma ilustração mais detalhada, com músicas de passagem para engrandecer o conteúdo e despertar a atenção do ouvinte ou efeitos sonoros que alertam ou separam a temática desenvolvida. Deixamos como exemplo a série Praia dos Ossos, documentário publicado na internet como podcast, em que a repórter relembra a morte da socialite Ângela Diniz. O crime, cometido pelo empresário Raul Street, conhecido como Doca Street, aconteceu em dezembro de 1976 e foi muito divulgado. Doca era companheiro de Ângela e, numa discussão na praia dos Ossos, em Búzios, Rio de Janeiro, a matou com quatro tiros no rosto. Trata‑se de uma minissérie produzida e apresentada por Branca Vianna, que começou o trabalho em 2019 com o objetivo de questionar a popularidade e o respaldo dado a Doca Street, abordando a questão do feminicídio. Perceba alguns dos recursos utilizados pela apresentadora nesta grande produção: • suspense, para envolver o ouvinte no assunto; • detalhamento dos fatos; • diversos percursos para contar a história; • cinquenta entrevistas para reforçar os acontecimentos; • entrevista concedida por Doca Street; • sequenciamento do assunto; • leitura de livros, jornais e revistas; • riqueza narrativa; • efeitos sonoros. 64 Unidade I Figura 25 Disponível em: https://spoti.fi/3VHPUUt. Acesso em: 17 jan. 2023. Saiba mais A Rádio Novelo, que publica Praia dos Ossos, é uma produtora de podcasts criada em 2019, no Rio de Janeiro, e desenvolve projetos próprios ou em parceria. Você pode ouvir outros projetos interessantes e instrutivos no seu site: Disponível em: https://www.radionovelo.com.br. Acesso em: 13 jan. 2023. Praia dos Ossos faz grande sucesso e estreou já nos Top Podcasts da Apple Podcasts em setembro de 2020. Atingiu o topo das paradas e continua a figurar entre os 10 primeiros lugares com frequência: Disponível em: https://spoti.fi/3VHPUUt. Acesso em: 11 dez. 2021. 65 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Outro exemplo de documentário, agora em vídeo, foi realizadopor Richard Roger, aluno da UNIP, no trabalho de conclusão de curso Desenganados. De acordo com o idealizador, a produção traz o depoimento de familiares que tiveram o quadro clínico de parentes revertido por meio de suas crenças. Richard Roger complementa o estudo entrevistando profissionais de saúde e especialistas, como médicos, enfermeiros e físicos. O intuito do trabalho, segundo ele, é evidenciar com os depoimentos que a fé, aliada à medicina, pode trazer resultados surpreendentes e reverter casos desenganados ou em cuidados paliativos. A ideia não é confrontar a ciência, mas apresentar uma alternativa na busca da cura e do melhor tratamento. Figura 26 Disponível em: https://bit.ly/3CpuJQ6. Acesso em: 18 dez. 2022. Todo jornalista deve ficar atento para selecionar os entrevistados que mais acrescentam novidades às notícias, já que o trabalho do repórter é buscar informações, checá‑las, repercuti‑las e transmiti‑las para as pessoas entenderem o assunto. No rádio, as matérias devem ser praticamente simplificadas, facilitadas, porque a pessoa ouve a informação e precisa compreendê‑la imediatamente. No caso do podcast, por ser gravado, o ouvinte pode voltar ao ponto que não conseguiu entender, mas mesmo assim é preferível que a linguagem seja clara, já que muitas pessoas preferem ouvir sem interrupção. É essencial que o repórter procure fontes boas e atuais, e que as informações sejam precisas e demonstrem a credibilidade do jornalismo praticado. 66 Unidade I 4.5 Jornalismo investigativo no rádio O bem mais precioso de um jornalista é a sua reputação. Israel Dideoli O jornalismo investigativo pede tempo e astúcia do profissional, que faz um trabalho de detetive com postura midiática. O repórter precisa cruzar informações, buscar fatos escondidos, pesquisar leis, checar e rechecar várias vezes. No rádio, o trabalho investigativo é igual ao de profissionais das várias mídias; a diferença é a narração, que precisa ser mais detalhada para colocar o ouvinte a par dos acontecimentos. Ser investigativo é trabalhar com toda vivacidade e capacidade criativa, mergulhando nos acontecimentos para detectar os pontos verdadeiros de um fato, repercutir as fontes exatas e desvendar o que existe por trás da notícia. Nem sempre o jornalista investigativo tem sucesso, porque muitas das pessoas envolvidas temem retaliação e se negam a conceder entrevistas. Entra aí um trabalho de persuasão do profissional, que às vezes tem que trabalhar com o sigilo da fonte. Se o jornalista tiver credibilidade, o fato de não revelar a fonte pouco impacta a qualidade da reportagem. Para McLeish (2001), o repórter precisa ser sincero, cordial, atencioso, prestativo e competente. O autor enumera ainda as informações que o entrevistado precisa saber no momento da entrevista: • Sobre o que será? Não exatamente as perguntas, mas o tema, de modo geral, e os limites do assunto. • Vai ser ao vivo ou gravado? • Quanto tempo vai durar? Trata‑se de todo um programa ou é uma matéria curta? Isto estabelece a profundidade com que o assunto pode ser tratado e ajuda a evitar que o entrevistado grave uma entrevista longa sem saber que será editada para uma outra duração. • Qual é o contexto? A entrevista faz parte de uma abordagem mais ampla sobre o assunto, com contribuições de outras pessoas, ou é uma simples matéria de noticiário ou de programa de variedades? • Qual é o público? É para uma emissora local, uma rede, uma agência de notícias? • Onde? É no estúdio ou em algum outro lugar? • Quando? Quanto tempo o entrevistado tem para se preparar? Crime organizado, tráfico de pessoas, tráfico de drogas, assédio, corrupção, contrabando. Denúncias relacionadas a estes e outros assuntos interessantes muitas vezes chegam ao repórter investigativo, que vai à luta para descobrir ponto a ponto a verdadeira notícia e suas repercussões. Muitas vezes, o resultado é gratificante para o jornalista, que pôde contribuir para o fim de tristes histórias de abuso, entre outros crimes. 67 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Para entender o trabalho de um repórter investigativo, indicamos a entrevista concedida por um profissional bem famoso e competente: Agostinho Teixeira. De forma divertida, explicativa e curiosa, o jornalista conversou com os apresentadores do programa #Sem Pauta, da Rádio Bandeirantes, em 2019. Saiba mais A entrevista está publicada no YouTube: SEM PAUTA — 19/9/2019 — convidado de hoje: Agostinho Teixeira. 19 set. 2019. 1 vídeo (60 min). Publicado pelo canal Rádio Bandeirantes. Disponível em: https://bit.ly/3ZsnaCd. Acesso em: 13 jan. 2023. Teixeira atualmente trabalha na rádio e TV Bandeirantes. Ele foi convidado para a entrevista no estúdio da emissora e contou detalhes de sua profissão. Alertou que o jornalista precisa de sorte para conseguir um bom entrevistado disposto a denunciar, sendo papel do repórter investigativo ser insistente e perseverante, como, aliás, é função de todo profissional da mídia. Nesta entrevista, Teixeira conta ainda que recebe ameaças, com mensagens e ligações intimidando inclusive seus familiares, e que ele precisa do respaldo da polícia. Saiba mais A Pública é uma agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos. Você pode acessar seu site para obter informações e ouvir podcasts: Disponível em: https://apublica.org. Acesso em: 13 jan. 2023. Indicamos neste portal especificamente o sexto episódio do podcast Até que se prove o contrário, “O que vem depois da injustiça”, que investiga os danos financeiros e emocionais da injustiça: O QUE VEM DEPOIS da injustiça. Produção: Ciro Barros, José Cícero e Ricardo Terto. Até que se prove o contrário, [s.d.]. Podcast. Disponível em: https://bit.ly/3vYXHm6. Acesso em: 13 jan. 2023. 68 Unidade I Resumo A unidade I aborda a importância e as transformações do rádio, apresentando conceitos e exemplos de novos modelos de negócios e apontando a produção de programas e entrevistas em vários formatos, como os podcasts, que viraram febre e um empreendimento de sucesso. Foi também discutido o surgimento do videocast, do rádio na internet e das plataformas de streaming. O conteúdo foi exemplificado com textos e podcasts elaborados por alunos da UNIP. Por meio da análise de sites, blogs, portais e programas jornalísticos, teve o intuito de viabilizar a produção de novas matérias. Fazem parte do conteúdo as técnicas de redação, locução e desenvolvimento dos vários tipos de entrevistas e reportagens do dia a dia, especiais e investigativas, além de documentários radiofônicos, painéis e debates, com destaque para a triagem de notícias e a seleção de pautas. A triagem das notícias é criteriosa, para que as principais sejam divulgadas a determinado público e de acordo com o perfil de emissoras e sites. Foi ainda mostrado o desenvolvimento detalhado das pautas e os imprevistos que podem ocorrer nas redações, como a queda do material apurado. Na linha de produção radiofônica, foi destacada a importância do texto bem redigido, com técnicas e análises para que se transmita matérias claras, objetivas e diretas, que possam ser captadas rapidamente pelos ouvintes. 69 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Exercícios Questão 1. (Enade 2018, adaptada) Leia o texto a seguir: Multimídia e multitarefa tornaram‑se termos importantes para se entender o mercado de trabalho dos jornalistas. O primeiro indica que o profissional deverá ser capaz de fazer trabalhos para mais de um veículo midiático, como jornal, rádio e TV, ao mesmo tempo. O segundo estabelece que o jornalista deverá fazer múltiplas tarefas, como redigir textos e captar imagens, funções que até bem pouco tempo atrás competiam a profissionais distintos. O novo perfil dos profissionais de jornalismo se deve à reconfiguração do mercado de trabalho provocada pelas tecnologias digitais, sentida no Brasil a partir dos anos 2000, e à reordenação dos negócios das grandes empresas de mídia, que precisaram se diversificar para superar crises,invadindo setores como o cinema, a indústria musical e o entretenimento. Adaptado de: BERTOLINI, J. Jornalista multimídia e multitarefa: o perfil contemporâneo do trabalho precário no jornalismo. Animus: Revista Interamericana de Comunicação Midiática, v. 16, n. 31, p. 213‑228, 2017. Com base na leitura e considerando o trabalho exercido pelos jornalistas de rádio, avalie as afirmativas: I – Os repórteres têm a função de apurar com rigor as informações e, se houver necessidade, exercem outras atividades, realizando entradas ao vivo e gravando passagens e sonoras com celulares. II – As demandas de consumo, a reconfiguração do mercado de trabalho e o acesso a novas tecnologias, como a captação audiovisual por meio de aparelho celular, exigem que os jornalistas acumulem múltiplas funções dentro das emissoras de rádio. III – Os repórteres podem assumir, também, a função de editor de áudio, reorganizando o material jornalístico e produzindo subprodutos para outras plataformas. É correto o que se afirma em: A) II, apenas. B) III, apenas. C) I e II, apenas. D) I e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa E. 70 Unidade I Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: os dispositivos móveis ampliaram as atuações do repórter, que pode gravar e editar depoimentos. II – Afirmativa correta. Justificativa: trata‑se da multitarefa que atinge várias áreas profissionais. O jornalista, no atual contexto, exerce várias funções. III – Afirmativa correta. Justificativa: o repórter, com as novas tecnologias, pode editar o áudio a distância, e o material pode ser disponibilizado em outras plataformas. Questão 2. (Enade 2006, adaptada) Há correntes do pensamento comunicacional que discorrem sobre a falta de imagem no rádio. Alguns teóricos consideram que essa falta de imagem seria compensada pela imaginação visual do ouvinte. Para outros, a falta de imagem no rádio não é uma deficiência e, sim, uma vantagem em relação a outros meios, pois a “cegueira” o transforma em um meio poderoso de expressão intelectual. Com relação a esse assunto, avalie os itens a seguir: I – O recurso de adjetivação é imprescindível para a compreensão da mensagem no texto radiofônico. II – A linguagem radiofônica é constituída de quatro elementos: a palavra, a música, os efeitos sonoros e o silêncio. III – A “cegueira” a que o texto se refere é própria do rádio e constitui a chave da estética de uma narrativa sonora invisível. IV – A ausência de imagens no rádio é a chave de acesso ao mundo interior do ouvinte, que conecta os sons com sua experiência, podendo colocar em movimento seus devaneios. V – A falta da imagem e da escrita, que compromete o entendimento da mensagem no texto radiofônico, deve ser compensada por elementos sonoros para a compreensão da referida mensagem. 71 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO São corretos apenas os itens: A) I, II e IV. B) I, II e V. C) I, III e V. D) II, III e IV. E) III, IV e V. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: o uso excessivo de adjetivos deixa o texto mais subjetivo e, muitas vezes, mais prolixo, o que não contribui para os atributos de simplicidade e clareza. II – Afirmativa correta. Justificativa: palavra, música, efeitos sonoros e silêncio são os elementos básicos da linguagem do rádio. III – Afirmativa correta. Justificativa: a palavra “cegueira” foi usada para referir‑se ao fato de que, no rádio, não é possível utilizar recursos visuais. A linguagem radiofônica desenvolveu‑se, assim, em função dessa limitação, resgatando expedientes da oralidade (o ritmo, por exemplo), adicionados aos demais recursos de som, como músicas, efeitos sonoros e silêncios. IV – Afirmativa correta. Justificativa: a falta de imagens, segundo alguns autores, abre o campo interpretativo do ouvinte, que pode, então, projetar imagens mentais e ativar sua memória sonora, dotando a escuta do rádio de mais subjetividade. V – Afirmativa incorreta. Justificativa: a ausência de recursos visuais e escritos não compromete o entendimento do texto radiofônico.no mercado de trabalho com bons conhecimentos teóricos e práticos sobre o rádio e habilitá‑lo a adequá‑los ao radiojornalismo atual. Este conteúdo aponta os formatos para uma produção completa e detalhada de materiais que podem ser tanto transmitidos em veículos tradicionais como publicados na internet. O curso pretende traçar as técnicas de produção com as principais diretrizes para o aprendizado de locução, edição e apresentação de programas, noticiários, reportagens e redação radiofônica para resultar no radiojornal, com ênfase na interatividade deste veículo de comunicação de massa e no acompanhamento em tempo real. No ano em que a primeira transmissão de rádio no Brasil completava um século, o consumo desse meio de comunicação aumentou, segundo o Inside Radio 2022, estudo da Kantar Ibope Media (2022) realizado em 13 regiões metropolitanas brasileiras. De acordo com este levantamento, 83% da população dessas regiões ouvem rádio, e o grande detalhe é que, apesar da audiência pelo celular, o método surpreende: as pessoas preferem o aparelho tradicional, já que o escutam em casa. O radioentretenimento inova‑se a cada dia, assim como o radiojornalismo, e o papel do jornalista radiofônico ganha importância neste contexto. INTRODUÇÃO Este livro‑texto pretende informar o aluno das várias perspectivas do rádio como agente de comunicação, e divide‑se em três unidades. A primeira aborda as transformações desse veículo, com conceitos e exemplos dos novos modelos de negócios, e aponta para a produção de programas e entrevistas em vários formatos, como os podcasts, que viraram febre e um empreendimento de sucesso. Por meio da análise de sites, blogs e programas jornalísticos, apresenta, por exemplo, técnicas de redação e locução para o desenvolvimento dos vários tipos de entrevistas e reportagens do dia a dia, especiais e investigativas, além de documentários radiofônicos, painéis e debates, buscando diversificar as pautas. A segunda unidade traz conceitos e exemplos do jornalismo especializado em meio ambiente e do jornalismo científico, além de mostrar formatos de programas esportivos, com foco nas informações dos meios tradicionais ou conectados em rede, que compartilham informações e utilizam linguagens específicas nesta diversidade de formas. Outro objetivo é a produção aprofundada do jornal radiofônico, e para isso é preciso entender checagem e triagem das informações, repercutir as fontes certas e derrubar as fake news para fechar as matérias. No radiojornalismo, com a interatividade das multiplataformas, o grande desafio está na produção em tempo real com participação do repórter ao vivo. Neste contexto, está inserida no curso a ideia de que se deve levar em conta principalmente o trabalho ético. A terceira unidade mostra o humor no rádio, com outras histórias deste veículo, desde a sua invenção até o Repórter Esso, um dos modelos de radiojornalismo, e acrescenta a política no rádio com exercício e artigo para análise. No final, apresenta a série famosa do podcast A mulher da casa abandonada, que criou polêmica. 9 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Unidade I 1 RÁDIO É EMOÇÃO E INFORMAÇÃO O rádio começa de um sonho, vira uma paixão e termina numa eterna conquista. Cyro César Nos últimos anos, o profissional do rádio precisou se reinventar e se adequar ao ambiente multiplataforma, pois, além do som e da locução, ele precisa agora inserir fotos e vídeos para publicar as informações também nos sites. Trabalhar em rádio exige doses de boa vontade e amor à profissão. Os fatos diários são ilimitados e imprevisíveis e muitas vezes as notícias merecem detalhamento e dedicação. O que sempre fazemos questão de lembrar – mas não com um pensamento crítico ou de contrariedade – é que o jornalista de rádio fica de plantão 24 horas por dia, sete dias por semana. O fato de ter que divulgar informações ao vivo faz o profissional ficar alerta o tempo todo. Luiz Artur Ferraretto (2014) aponta que, no desempenho da profissão, nem sempre é possível estabelecer o primeiro contato com a fonte principal, que vai destacar a notícia correta. Para que a investigação dos fatos seja verdadeira e completa, é preciso que o jornalista se dedique ao trabalho com empenho e competência e insista nas apurações exatas durante a transmissão em tempo real. Boas matérias são feitas com ótimas fontes, com riqueza de detalhes e edição dos principais conteúdos captados pelo jornalista na checagem dos fatos. Quem se atreve a contradizer uma informação que repercutiu com pessoas de notório saber ou mesmo com a população que presenciou ou viveu o fato em si? Isto é bem diferente da divulgação de fake news, que serão discutidas mais adiante, dada a gravidade do que ocorre atualmente. Como disse Francisco Djacyr S. de Souza (2010), “amor ao rádio é amor a uma causa que busque antes de tudo um mundo melhor para todos indistintamente”. O bom jornalista não se prende a partidos ou lucros. Ele trabalha com determinação, ética e convicção de que fará o melhor para informar os ouvintes e internautas da maneira mais correta. Seguindo o raciocínio da dedicação ao trabalho radiofônico, destacamos que o bom jornalista raramente deixa as produções incompletas, e se sente realizado ao concluir uma tarefa que informa, presta serviços, ajuda as pessoas incondicionalmente com esclarecimentos importantes ou entretém, já que essas são as principais funções também do profissional de rádio. Para contribuir com a formação de uma sociedade construtiva e altruísta, é necessário ser um bom profissional, com ética e imparcialidade. A notícia no rádio é divulgada imediatamente após a checagem. É assim que podemos afirmar que, se houver neste sentido uma competição com outros veículos de comunicação, o rádio ganha. Isso 10 Unidade I porque, em um primeiro momento, nos meios tradicionais, esse veículo não precisa de foto, imagem ou qualquer outro complemento para transmitir um acontecimento. Além disso, o rádio nos permite, como nenhum outro meio, ouvi‑lo ao mesmo tempo que realizamos outra tarefa, seja no trabalho, no carro, em casa etc. Essa constatação é confirmada por Ferraretto (2014), para quem essa é a chave do futuro do rádio. Ferraretto (2001) aponta ainda que, quando surgem, as tecnologias costumam ser caras e dirigidas às classes sociais mais abastadas, mas isso muda quando são massificadas, tornando‑se acessíveis às populações mais pobres. Por isso, a linguagem radiofônica é coloquial e precisa ser democrática. Falamos para um público universal e não sabemos quem no momento está do outro lado, ouvindo a informação. Determinadas emissoras ou sites pesquisam o perfil dos seus ouvintes, mas muitas vezes não se consegue entender quem realmente assimila as mensagens do momento. Portanto, é preciso divulgar matérias relevantes e de utilidade pública, que ajudem as pessoas com informações corretas. O rádio se adequa às plataformas e não perde importância diante de outros veículos de comunicação. Ele se adaptou à TV e à internet (nesta última, o rádio também prima pelo imediatismo, mas já pede a arte, a imagem ou o podcast). Considerado o meio de entretenimento e prestação de serviços e informação mais acessível, ganha audiência e interage com a população, sempre inovando e demonstrando sua força e agilidade. Vale observar que, em termos de audiência, o rádio cresceu na web, mas no interior do Brasil – por exemplo, nas cidades mais afastadas –, muitas vezes o único meio de comunicação é ainda o rádio tradicional. Saiba mais Luiz Artur Ferraretto ministra aulas de Rádio no curso de Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e é autor de vários livros de jornalismo, como o indicado a seguir: FERRARETTO, L. A. Rádio: o veículo, a história e a técnica. 2. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001. Paul Chantler e Sim Harris já afirmavam em 1992 que, quando a televisão se popularizou, na década de 1950, surgiram previsõesanunciando a morte do rádio. Contudo, o rádio continua empolgante e diversificado, e milhões de pessoas buscam notícias de interesse através dele. Como já disse Billy Collins, “o rádio é um meio perfeito para transmitir poesia, sobretudo porque há somente a voz, não há distrações visuais” (tradução nossa). Hoje, com suas múltiplas funções, esse meio de comunicação atinge cada vez mais ouvintes, e na pandemia foi de grande importância, salvando vidas com a prestação de serviços essenciais à sociedade. 11 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Atualmente, a internet também dá suporte à transmissão radiofônica e viabiliza a interação entre ouvintes e produtores para a divulgação imediata de muitas notícias. A rádio tradicional funciona por meio de amplitude modulada (AM) ou frequência modulada (FM), enquanto uma rádio on‑line está conectada a plataformas digitais, mas a principal diferença entre elas é o alcance dos ouvintes. Com a internet e o novo jeito de fazer e ouvir rádio, o ouvinte pode acessar a programação jornalística e as músicas, escutando‑as de onde estiver. São necessários um computador, notebook ou smartphone, e o sinal transmitido é completamente digital, sem mais depender de antenas de transmissão para certo alcance territorial, diferentemente das emissoras tradicionais. A rádio on‑line usa plataformas de streaming para transmitir conteúdos ao vivo e gravados. Graças aos podcasts, que podem ser ouvidos a qualquer hora e em qualquer lugar, as pessoas consomem cada vez mais conteúdos via streaming. Saiba mais Hoje é possível ouvir rádios do mundo inteiro ao vivo. Basta um clique: ‘RADIO Garden’: ouça rádios do mundo inteiro ao vivo em mapa interativo. Hypeness, 23 dez. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3vyFyeL. Acesso em: 20 out. 2022. Mesmo com o surgimento de outras mídias, o rádio continua o mais popular: apesar de todas as facilidades da web rádio, uma pesquisa de 2022 da Kantar Ibope Media, realizada em 13 regiões metropolitanas do Brasil, mostra que 80% das pessoas preferem escutar rádio no aparelho tradicional, e mais de 60% o escutam em casa. A pandemia, o isolamento social e o home office contribuíram para o aumento do consumo nas residências. Aliás, na pandemia, muitos jornalistas não puderam trabalhar em home office, mas tomaram todo o cuidado ao realizar seu trabalho presencialmente, sem deixar de transmitir informações. Equipes foram reforçadas para informar a população, e o jornalismo tomou a frente com notícias de utilidade pública. Algumas emissoras veiculam jornais com imagens pela internet, e não apenas áudio, pois a tecnologia de streaming permite a transmissão desses dados sem a necessidade de o usuário baixar o conteúdo, acessando‑o de maneira on‑line. Um exemplo de plataforma que permite essa transmissão é o YouTube. 12 Unidade I Saiba mais Ouça no link a seguir o jornal Primeira hora, da Rádio Bandeirantes, transmitido pela internet: Disponível em: https://bit.ly/3GeMxhZ. Acesso em: 25 out. 2022. 1.1 O crescimento dos conteúdos de áudio na forma de podcasts O sucesso do Spotify explica o boom do mercado de podcasts. Matheus Riga Figura 1 Adaptado de: https://bit.ly/40Eq1bL. Acesso em: 3 jan. 2023. Durante a pandemia e com as medidas de isolamento, constatou‑se a necessidade de as pessoas usarem muito a tela do computador, permanecendo várias horas em plataformas para reuniões, aulas ou entrevistas, o que ocasionava um cansaço visual. Especialmente nesse período, cresceu muito o consumo de podcasts. Os brasileiros hoje se interessam pelos conteúdos digitais em áudio, e a diversidade dos assuntos atrai diferentes públicos, que buscam entretenimento e informação. 13 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO A internet surgiu no final dos anos 1960, e com a rede surgiram novas maneiras de se comunicar. Em 2004, o jornal inglês The Guardian publicou um artigo em que se cunhava o termo podcast (HAMMERSLEY, 2004). A palavra é uma junção de pod (personal on demand – numa tradução literal, pessoal sob demanda), retirada de iPod, e broadcast (transmissão de rádio ou televisão). Videocast é o podcast em vídeo, frequentemente distribuído em formato MP4 ou disponibilizado em sites de streaming, como o YouTube, que usa essa tecnologia para transmitir vídeos em tempo real. Em inglês, a palavra stream significa córrego ou riacho, e por isso a palavra streaming remete ao fluxo – na tecnologia, indica um fluxo de dados ou conteúdo multimídia. Um podcast não tem hora certa para ir ao ar, e, em vez de sintonizar numa emissora de rádio, podemos ouvi‑lo pela internet. Alunos da Universidade Paulista (UNIP) criam todos os anos vários podcasts no decorrer desta disciplina, concebidos como avaliações semestrais e trabalhos de conclusão de curso. O resultado tem sido muito positivo, e as produções são publicadas na internet. Assim, os alunos aprendem procedimentos de triagem para definir a temática, criar a pauta e aprofundar a matéria, além de critérios de produção, edição, sonoplastia e técnicas de reportagem, apresentação e redação de texto. Veja a seguir alguns exemplos de podcasts elaborados por alunos da UNIP. Ao acessar os links, você pode ouvir as produções. Figura 2 Disponível em: https://spoti.fi/3WI2KmU. Acesso em: 22 nov. 2022. 14 Unidade I Figura 3 Disponível em: https://spoti.fi/3QePPqe. Acesso em: 22 nov. 2022. A produção apresentada na figura 3 faz parte do Parabólica, um podcast realizado em três episódios: Figura 4 Disponível em: https://spoti.fi/3ibvoh5. Acesso em: 22 nov. 2022. 15 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Figura 5 Disponível em: https://spoti.fi/3vAAre2. Acesso em: 22 nov. 2022. Figura 6 Disponível em: https://bit.ly/3G6sMJo. Acesso em: 19 jun. 2022. 16 Unidade I Figura 7 Disponível em: https://bit.ly/3vDuOM9. Acesso em: 21 dez. 2022. O Spotify, conhecido serviço de streaming de música, lançou sua própria plataforma de podcasting, chamada Anchor. Nela, você pode criar seu podcast em formato de áudio ou vídeo e distribuí‑lo para ser assistido nos aplicativos para celulares Android e iPhone e para os sistemas Windows e MacOS. Com isso, pode ser acessado em todos os países que utilizam Spotify. Saiba mais O Anchor traz informações sobre a gravação e distribuição de podcasts em seu site: Disponível em: https://bit.ly/3WZ2DmA. Acesso em: 12 out. 2022. Você ainda pode compartilhar podcasts do Spotify no Instagram Stories. É só entrar no app para iOS ou Android, visitar a aba, navegar e encontrar o podcast que deseja. 17 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Observação Diversos editores de áudio e vídeo podem ser usados na criação do seu podcast. Para a edição de vídeos, uma opção mais simples e fácil de usar é o VideoPad, e para o trabalho com áudio há o Audacity. Com a crescente popularidade do formato, foi estabelecido o Dia Nacional do Podcast, celebrado em 21 de outubro. A Rádio Primeira, de São Vicente, na Baixada Santista, uma emissora on‑line, produziu um programa especial para comemorar a data: Figura 8 Disponível em: https://spoti.fi/3G8QViB. Acesso em: 21 out. 2022. 1.2 Análise do podcast O assunto A multiplicidade e a pluralidade de vozes são sempre recomendáveis no jornalismo, mas tornam‑se imperativas quando a sociedade está tão polarizada, tão avessa ao contraditório. Renata Lo Prete O podcast diário O assunto, criado em 26 de agosto de 2019, discute temas brasileiros e internacionais. Um dos principais podcasts do Brasil, já no seu primeiro semestre superou a marca de 7 milhões de downloads. Esse sucesso traz junto grandes patrocinadores. O assunto virou referência e, segundo a 18 Unidade I jornalista Renata Lo Prete, consolidou a liderança no segmento justamente sem renunciar à sobriedade e ao compromisso com a notícia. Foi o primeiro de uma série de podcasts da equipe jornalística do Grupo Globo, e logo se tornou o programa de áudio brasileiro mais baixado na América Latina (O ASSUNTO…, 2020). Figura 9 Fonte: Lo Prete(2021). 19 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais Ouça o podcast sobre a manifestação dos jovens contra o aquecimento global na reunião do clima em 2021, na Escócia: LO PRETE, R. O Assunto #570: clima – jovens à frente do movimento. G1, 1º nov. 2021. Disponível em: http://glo.bo/3GxQgsm. Acesso em: 3 jan. 2023. Ao analisar o formato e conteúdo desse episódio, observamos que no início foi inserida uma ilustração sonora para transportar o internauta ao local e explicar a temática. Em seguida, repórteres e comentaristas apresentaram manchetes curtas para expor o assunto. Após a apresentação do tema, com detalhes e dados, foram selecionadas opiniões sobre o acontecimento para também reforçar a veracidade das informações. Em seguida, a apresentadora entra com as entrevistas contextualizadas para aprofundar a temática e introduzir convidados e repórteres. Os vários apresentadores e os muitos repórteres que formam essa equipe comprometida com a divulgação da matéria usam casualmente na edição os sons ambientes e mais ilustrações sonoras com passagens musicais para chamar a atenção do internauta e servir de complemento. As repercussões e a diversidade de vozes para abranger o tema, sem posicionamentos e com muita objetividade, fazem de O assunto, com duração de cerca de 30 minutos, uma rica e atraente produção. Para publicar um podcast, os entrevistados devem autorizar o uso de sua imagem e voz, tanto para fins acadêmicos quanto, dependendo do caso, para fins profissionais. Se foi produzido por um profissional que trabalha em um veículo de comunicação do mercado e os entrevistados já estão cientes que a matéria vai ao ar e concordam com a divulgação, o termo de autorização não se faz necessário. As músicas que serão inseridas em um podcast, tanto para vinhetas quanto para ilustrações, também precisam de autorização. Muitos alunos perguntam: ao produzir uma matéria jornalística para rádio ou internet, com trechos de apenas 10 segundos de músicas, é preciso pagar direito autoral? A resposta é sim, mesmo que a matéria não tenha fins lucrativos e os trechos musicais sejam curtos ou apenas para ilustração. Quando você tiver que escolher uma música para seu próximo vídeo ou áudio, para evitar problemas, opte por faixas disponíveis em bancos de áudio gratuitos, como a biblioteca de áudio do YouTube, em que sempre há novas músicas. Além disso, tome cuidado ao ilustrar o seu trabalho jornalístico com músicas, porque às vezes elas fazem o efeito contrário. Se a música selecionada não for condizente com a matéria ou se perturbar o ouvinte com a pouca qualidade, a produção fica prejudicada. A música tem que complementar ideias e emoções. Quem fiscaliza publicações com músicas, tanto na internet quanto em transmissões das emissoras de rádio e TV, é o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), entidade privada brasileira 20 Unidade I responsável por arrecadar e distribuir os direitos autorais das músicas aos seus autores. Hoje, para fazer valer a legislação, existem algoritmos que logo identificam irregularidades, e muitas empresas de comunicação já pagam com antecedência as taxas ao Ecad. Trabalhar com ética ainda é a melhor maneira. Atualmente, o campo audiovisual cresceu bastante, e a produção em vídeo atrai muito os internautas. Se a mensagem do seu podcast for em vídeo, pode ser chamada de videocast. Outra modalidade é o Vodcast, abreviação de vídeo podcast, desenvolvida pela Jet‑Stream, uma empresa holandesa que descobriu uma maneira de indicar a direção de arquivos que redirecionam o usuário para um streaming de vídeo. Webcast, por sua vez, é a transmissão de áudio e vídeo ao vivo pela internet, utilizando a tecnologia de streaming. Esse tipo de conteúdo pode ser distribuído por meio da internet ou de redes corporativas e intranet. Lembrete O podcast é um arquivo de áudio transmitido pela internet em plataformas de streaming que pode ser acessado a qualquer momento. É parecido com programas de rádio, e a diferença está no seu formato digital, disponível apenas na internet. Saiba mais O Flow Podcast e o Podpah são exemplos de podcast em que os apresentadores e convidados têm mais liberdade, sem conversa prévia e sem pauta, com uma linguagem bem coloquial: Disponível em: https://bit.ly/3jY0FEE. Acesso em: 5 jan. 2023. Disponível em: https://bit.ly/3igWcwt. Acesso em: 5 jan. 2023. Para produzir um podcast, é preciso conhecer o público‑alvo, entender para quem você vai contar o assunto. É preciso saber ainda em quais regiões e classes sociais o seu produto vai ser consumido. A Globo realizou uma pesquisa em parceria com o Ibope em julho de 2020 e constatou que 57% dos ouvintes brasileiros de podcasts começaram a ouvi‑los na pandemia, e entre os que já os consumiam o aumento na audiência foi de 31%. Foram entrevistadas mil pessoas em todo o país (PODCASTS…, 2021). Ao analisar as classes sociais, a mesma pesquisa apurou que a classe C (51%) é a que mais escuta podcasts, seguida pelas classes A/B (35%) e D (14%). Os brasileiros com idade entre 25 e 34 anos são os que mais consomem esse formato, mas as outras faixas etárias não ficam muito atrás, confirmando o caráter multigeracional do podcast. As regiões brasileiras que mais os consomem são Sudeste (46%) e Nordeste (26%), seguidas de Norte/Centro‑Oeste (15%) e Sul (13%), e as plataformas mais acessadas são YouTube (56%) e Spotify (40%), de acordo com a pesquisa. 21 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais Você pode acessar essa pesquisa pelo link: PODCASTS e a crescente presença entre os brasileiros. Gente, 17 jul. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3jH2cPn. Acesso em: 21 nov. 2022. O que diferencia o podcast de um programa de rádio é seu formato digital, disponível somente na internet, e o seu crescimento se justifica pelo fato de poder ser acessado a qualquer momento e onde você quiser. Pelo smartphone, por exemplo, você pode ouvi‑lo tanto on‑line como off‑line: é só baixar o áudio e salvá‑lo na plataforma de streaming. Com a internet, o radiojornalismo também mudou. As emissoras podem adotar a programação no formato podcast, que pode ser inserida na íntegra ou em trechos. Além disso, atualmente o profissional de rádio é multiplataforma: ele trabalha com texto, som, foto e vídeo para publicar as informações também nos sites. Saiba mais Um levantamento de 2021 apontou que o Brasil é o terceiro país que mais ouve podcasts. Veja a notícia: ÁUDIO digital em alta: Brasil está entre os países que mais consomem podcasts. SindiRádio, 6 out. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3VIRWUh. Acesso em: 22 nov. 2022. 2 PRODUÇÃO EM ÁUDIO Uma boa produção radiofônica pode causar impacto social quando divulgada na mídia. Para isso, deve ser completa, com detalhes que enriqueçam o programa na edição, na sonoplastia, nas passagens musicais e nas chamadas. Cabe aqui observar a importância da repetição das chamadas na programação, já que esta é rotativa e não se sabe em qual momento o ouvinte vai sintonizar determinado programa. Hoje, com o rádio na internet, já é possível explicar o conteúdo na manchete e na foto, para o internauta clicar no assunto de sua preferência. Nas emissoras tradicionais, no entanto, a chamada deve ser especial, informativa e repetitiva, para que o tema e o conteúdo fiquem claros para o ouvinte e não haja dupla interpretação ou desentendimento. 22 Unidade I Saiba mais Sugerimos que você assista ao documentário Orson Welles: la historia detrás de “War of the worlds”, sobre a transmissão de rádio de A guerra dos mundos, dirigida por Orson Welles, e seu impacto social e midiático. O documentário está no YouTube, com legendas em espanhol, mas a plataforma disponibiliza o recurso de legendas automáticas em português: ORSON Welles: la historia detrás de “War of the Worlds”. 2 mar. 2012. 1 vídeo (11 min). Publicado pelo canal Ricardo Peri. Disponível em: https://bit.ly/3IlbFGD. Acesso em: 15 out. 2022. Também há resenhas dolivro publicadas na internet, como a recomendada a seguir: VINÍCIUS, P. Resenha: “A guerra dos mundos” de H. G. Wells. Ficções Humanas, 4 jun. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3WZZjrt. Acesso em: 15 out. 2021. Ao produzir um programa especial ou documentário, é essencial que o jornalista se aprofunde nas histórias que serão divulgadas, seja lendo livros, ouvindo podcasts ou assistindo a programas de TV ou vídeos na internet. O jornalista radiofônico pode ainda analisar filmes, shows, peças teatrais, obras publicadas ou programas em destaque nas diversas mídias. Observação Você pode criar um teaser, destacando uma declaração importante do entrevistado para chamar atenção ao tema e o que será abordado a seguir. Em geral, o teaser é usado na abertura ou no encerramento dos programas. 2.1 O segredo do texto radiofônico O profissional de rádio se destaca pela facilidade de transmitir informações em tempo real. Para que isso aconteça da maneira mais coloquial e objetiva possível, é necessário observar, treinar e se empenhar na redação de bons textos. No início, é preciso redigir e ler, mas depois de algum tempo o profissional se acostuma ao improviso da entrada ao vivo, pois, ao entender e praticar as técnicas de redação, a matéria fica mais fácil de ser expressa. 23 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO O texto começa com o lead, a informação principal, e aborda as seguintes questões: o que, quem, como, quando, onde e por quê. O lead precisa estar sempre atualizado, com frases curtas e pontuação adequada para que o locutor não perca o fôlego, e depois se detalha a notícia. O ponto mais importante deve estar sempre no início, e a retrospectiva dos acontecimentos, para não deixar o texto velho, pode entrar em seguida. Sempre recomendamos aos alunos que redijam o texto e o leiam em voz alta para saber se está fácil de ser entendido, se há redundância na informação ou se alguma palavra poderia ser eliminada ou substituída por outra mais simples, para que todos compreendam sem esforço. Um texto objetivo, conciso, coloquial, claro e informativo ajuda o apresentador e facilita o entendimento do ouvinte, que assimila melhor um texto atraente, sensacional. Observe, contudo, que sensacional é diferente de sensacionalista: o ideal é um texto com informações interessantes e com repercussões que tenham credibilidade. Saiba mais Diversos livros de radiojornalismo publicados no Brasil trazem técnicas de redação, como os indicados a seguir: BARBEIRO, H.; LIMA, P. R. Manual de radiojornalismo: produção, ética e internet. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Campus, 2003. FERRARETTO, L. A. Rádio: teoria e prática. São Paulo: Summus, 2014. MCLEISH, R. Produção de rádio: um guia abrangente de produção radiofônica. 4. ed. São Paulo: Summus, 2001. A repetição de palavras e as gírias, por exemplo, enfraquecem o texto, e só são usadas quando não houver alternativa para a compreensão do tema. O redator deve ser exato ao descrever com detalhes a notícia, de modo a fazer com que o ouvinte assimile rapidamente a informação. As regras gramaticais são essenciais, e é importante escrever na ordem direta, com sujeito, depois verbo e em seguida o predicado, pois isso facilita a assimilação do conteúdo. Tente evitar muitas vírgulas, quês e apostos para simplificar ao máximo a narrativa. O texto radiofônico precisa ser acessível. No Manual de jornalismo para rádio, TV e novas mídias, Barbeiro e Lima (2013) apontam técnicas que podem ser usadas para redigir o texto considerando a instantaneidade do meio. Veja algumas das suas colocações: 24 Unidade I • o ouvinte só tem uma chance para entender, e quer ouvir rapidamente e assimilar o assunto; • a mensagem se dissolve quando levada ao ar; • o rádio exige agilidade do jornalista; • a mensagem deve contar uma história, mas sem apelar a uma linguagem vulgar; • o texto deve respeitar as regras do idioma; • a pressa não é desculpa para textos mal redigidos; • a concentração é fundamental para elaborar textos em tempo hábil e sem erros; • o uso do ontem no lead envelhece a notícia no rádio; • os artigos não devem ser suprimidos, especialmente nas manchetes; • as siglas mais conhecidas e de partidos políticos não precisam ser desdobradas; • a adjetivação excessiva ou inadequada enfraquece a qualidade do texto. Saiba mais Sugerimos a leitura do livro de Barbeiro e Lima (2013), porque essas técnicas e informações são utilizadas até hoje: BARBEIRO, H.; LIMA, P. R. Manual de jornalismo para rádio, TV e novas mídias. Rio de Janeiro: Campus, 2013. Algumas redações têm manuais específicos. O jornalista e escritor Thiago Uberreich (2017) publicou um manual de redação para uso interno da rádio Jovem Pan, apontando que não teve a pretensão de mostrar regras absolutas para o texto jornalístico de rádio: Existem opiniões, estilos e formatos diferentes, dependendo da emissora e da corrente editorial. Mas o que ninguém discute é a clareza que o texto de rádio deve ter. Quanto mais cuidadoso for o texto, mais chamativo será para o ouvinte. Não devemos nos esquecer que o rádio não pode ser improvisado a todo o momento. O texto tem de ser o guia para quem trabalha no rádio. Quanto mais enxuto e conciso, mais direto o repórter, o editor e até o apresentador serão. 25 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Chantler e Harris (1992) dão algumas dicas de redação do texto. Sobre o modo coloquial de se expressar no rádio, eles têm a seguinte opinião: Quando você escreve para ser ouvido, o que você faz é simplesmente armazenar palavras no papel para depois dizê‑las às pessoas, na linguagem oral. No entanto, escrever para rádio nem sempre segue as normas dos livros de gramática, porque muitas vezes é necessário escrever como se fala (CHANTLER; HARRIS, 1992, p. 54) É importante que cada trecho contenha informação, apresentada com palavras e frases curtas, pois é preciso escrever de modo simples para atingir um público heterogêneo. Além disso, confira sempre se o texto que você redigiu não está tendencioso ou parcial, com excesso de adjetivos ou informações supérfluas. Para escrever para rádio, é preciso saber cortar palavras desnecessárias ou que poderiam comprometer pessoas. Vale repetir que nada é melhor para o jornalista do que ter uma postura ética. Muitas são as opiniões hoje sobre qual seria o melhor formato, se texto corrido ou manchetado. Uberreich (2017) explica o porquê de se fazer um texto em manchete: A manchete no rádio é uma frase com, no máximo, duas linhas, usando uma fonte 14. As manchetes são intercaladas por um espaço em branco para facilitar a leitura e detectar as palavras repetidas. Algumas emissoras de rádio aboliram o texto manchetado por não trabalharem mais com locutores. O texto começou a ser feito no formato de manchete pelos redatores justamente para facilitar a leitura dos locutores. Os textos são feitos em manchete par, já que normalmente são dois presentes no estúdio. Outras rádios pararam de usar a manchete por acreditar que, abolindo o formato, o texto seria mais moderno, menos formal. Discordo dessa tese. O texto pode ser moderno, independente ou não de estar manchetado. O fato é: escrever no formato de manchete, independente de quem vai ler, um locutor ou você mesmo, o texto fica mais claro. Você consegue observar melhor o texto, ao contrário das sentenças agrupadas. Devemos lembrar que o texto será ouvido por alguém. Com o texto manchetado, você detecta, por exemplo, as palavras repetidas com mais facilidade. E outra: com a manchete tendo, no máximo, duas linhas, quem estiver lendo não vai perder o fôlego. O jornalista de rádio, como todo jornalista, precisa estar bem informado para saber contar a história e se aprofundar na notícia. A redação de um texto exige conhecimento e pesquisa, e para relatar um acontecimento podemos imaginar um quadro: tente descrever as cores, a paisagem, os personagens, a riqueza de detalhes e até a moldura; tente passar ao ouvinte a emoção,o que esse cenário transmite e com o que nos permite sonhar. 26 Unidade I Nem todas as imagens, no entanto, nos permitem sonhar com bons momentos. Veja as imagens utilizadas em matérias sobre a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26): Figura 10 Fonte: Jatobá (2021). 27 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Figura 11 Fonte: Passarinho (2021). Trata‑se de um cenário de poluição na figura 10 e desmatamento na figura 11. Você está vendo essas fotos, mas o ouvinte não as vê: ele vai entender o contexto com as suas palavras. O que essas fotos transmitem? O que pode estar relacionado a este assunto para você descrever no seu texto e informar o conteúdo da matéria? Se você entrar ao vivo em uma emissora de rádio ou produzir um podcast sobre isso, terá que detalhar a imagem, transmitir seu significado e alertar sobre os acontecimentos atuais relacionados a esta temática. 28 Unidade I Hoje, vivemos em sério atrito com o meio ambiente, e isso causa desgastes e pandemias. Muitas pessoas não reconhecem que os recursos da natureza são finitos e que temos a obrigação de preservar o meio em que vivemos para não faltarem recursos às futuras gerações. É uma questão de solidariedade tornar o mundo mais sustentável e cuidar das árvores, dos pássaros, da natureza. Muitos profissionais do rádio se especializam em jornalismo ambiental, e várias emissoras há tempos dão grande destaque ao tema para levar informações e alertar as pessoas. Na unidade II, vamos estudar mais detalhadamente o jornalismo ambiental no rádio e explicar como a mídia pode abordar e esclarecer essa temática para ajudar as pessoas a viver melhor. 2.2 Edição com ética Editar é selecionar as várias sonoras de uma entrevista realizada para transmitir um acontecimento. A edição resumida, mas que não perde os principais detalhes, torna o relato explicativo e atraente. O editor precisa conhecer o assunto e escolher e organizar as entrevistas e matérias para transmitir informações claras e objetivas num tempo adequado, de maneira que o ouvinte entenda a sequência. A tarefa do editor é revisar o material e simplificar e destacar os principais trechos para que tudo fique informativo e interessante. Editar é eliminar trechos desnecessários das entrevistas, mas sem dar a impressão de artificialidade, já que é preciso preservar o ritmo das falas de maneira natural. As primeiras frases fazem a diferença, pois devem cativar a audiência para que o ouvinte não mude de emissora ou clique em outro site. Além disso, corrigir os erros das sonoras é essencial, como eliminar tosses e silêncio em demasia – mas fique atento à respiração do entrevistado, para que o corte de edição não fique muito brusco. Preservar o verdadeiro sentido do assunto é primordial. O jornalista pode até ser processado caso inverta a ordem das informações gravadas em determinada entrevista. A sonoras precisam ser significativas e verdadeiras. Também tenha cuidado ao editar a matéria para não a deixar redundante e, quando escrever o texto do locutor, observe se não está apenas repetindo as palavras ditas pelo entrevistado. O importante é que a sonora do entrevistado complemente o texto do locutor. 2.3 Manual de radiojornalismo Barbeiro e Lima (2003) esclarecem no Manual de radiojornalismo: produção, ética e internet a maneira mais simples e os cortes ideais para uma boa edição. Além de sugerir a leitura desse livro, deixamos aqui algumas de suas orientações: • As sonoras devem ser as mais opinativas possíveis. O contexto e o enredo devem estar no texto redigido pelo editor. 29 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO • O editor não opina no texto, quem opina é o entrevistado. Sonoras opinativas são sempre mais contundentes e chamam mais a atenção do ouvinte. • Não se pode mudar o sentido da entrevista ou se posicionar a favor ou contra uma ideia, já que o bom editor deve ser imparcial e mostrar sempre a realidade dos fatos. • Sonoras que contenham emoção também rendem boas edições. Um choro, uma gargalhada ou uma frase em tom de desabafo às vezes dizem mais que uma declaração de 50 segundos. Mas é preciso cuidado: a emoção pode ser tanto um instrumento enriquecedor quanto o caminho para desinformação. • Grandes acontecimentos, como um julgamento de grande impacto na opinião pública, sessões de uma comissão parlamentar de inquérito ou outro grande assunto, merecem tratamento de edição especial. • O editor‑chefe tem a função de coordenar o trabalho de outros editores e fica encarregado da avaliação editorial, que, dependendo de cada veículo de comunicação, pode ter uma linha a ser seguida. Muitos entrevistados fazem cursos para falar um tempo a mais sobre o assunto e ficar em evidência. No livro Mídia training: como usar a mídia a seu favor, Barbeiro (2015, p. 13) explica: a imprensa pode contribuir para que sua organização obtenha o atributo de credibilidade. Não o único caminho, mas é um dos mais percebidos pela sociedade. Ela ajuda a construir a admirabilidade da marca, porque tem grande influência na opinião pública. A habilidade e eficácia do editor entram em ação quando não existe um trecho certo para edição, ou seja, quando o entrevistado não encerra o raciocínio de modo objetivo e a fala permanece sem ponto. Muitas vezes essa postura é proposital, mas às vezes pode ser falta de clareza do entrevistado. Observação Existem programas gratuitos e simples para editar arquivos MP3, como o já mencionado Audacity, o Cakewalk by BandLab ou o mpTrim. 2.4 A importância de uma boa locução Antes de adentrar o assunto desta seção, cabe apontar a diferença entre o trabalho do locutor e o do apresentador, conforme Ferraretto (2014, p. 83): 30 Unidade I Se o locutor tem a leitura como base do seu trabalho, o apresentador fundamenta a sua atividade em uma espécie de improviso estruturado, embora essa expressão pareça contraditória. Cada vocábulo dito por ele não corresponde necessariamente a uma palavra previamente escrita – daí o improviso –, mas a condução do programa orienta‑se por um roteiro ou espelho elaborado antes da transmissão, de onde se explica o estruturado. Os apresentadores de uma emissora all news precisam ser bem informados, conhecer os temas que serão repercutidos e saber interpretar os fatos, principalmente ao entrevistar pessoas ao vivo. No caso de uma rádio musical, além de anunciar com clareza e interpretar bem, o apresentador precisa também conhecer os fatos, porque mesmo em emissoras musicais há alguns noticiários. É bom enfatizar que o jornalista, independentemente da função desempenhada – se a de locutor, apresentador ou outra –, tem que estar sempre atualizado, ler bastante, ouvir noticiários de rádio e TV, acessar sites oficiais ou mesmo alternativos, ler jornais, livros e revistas para poder complementar seu conhecimento. Falar no rádio exige interpretação de texto e, para isso, você deve se concentrar ao máximo, principalmente se a entrada for ao vivo. Além disso, o bom locutor sabe pronunciar as palavras corretamente, valoriza os pontos e as vírgulas, dá ênfase ao assunto que está sendo divulgado e transmite o fato de maneira clara e precisa. Para se tornar um bom locutor, é preciso treino, e para isso existem vários livros e cursos sobre a prática de locução. Figura 12 Fonte: César (2010). 31 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais Indicamos a leitura da obra de Cyro César, pois traz apontamentos essenciais para a aprendizagem: CÉSAR, C. Como falar no rádio: prática de locução AM e FM. São Paulo: Summus, 2010. Além de publicar livros sobre locução, o radialista Cyro César gravou também vários vídeos no YouTube, que podem ser acessados para treinamento: Disponível em: https://bit.ly/3GQg42U. Acesso em: 18 jan. 2022. O Senac disponibiliza cursos de locução para rádio tradicional e podcast. No trecho “O que vou aprender?” do site do curso para podcast, o Senac indica as várias técnicas e estilos de locução que pretende abordar: —Conhecer os tipos de plataformas e transmissões de podcast — Usar técnicas e estilos de locução como comercial, entrevista, musical, variedades, publicitário e documental — Interpretar peças em áudio — Fazer entrevistas em áudio para diversas mídias — Improvisar em situações inesperadas — Diferenciar textos informativos e opinativos — Usar a voz com precisão e clareza — Utilizar equipamentos de captação e gravação de áudio como microfones, gravadores, fones de ouvido e softwares — Fazer a projeção vocal usando os equipamentos (LOCUÇÃO…, [s.d.]). 32 Unidade I Saiba mais Para saber mais sobre esses cursos, aqui indicados porque são muito práticos e interessantes para complementar os estudos, você pode acessar o site do Senac. LOCUÇÃO para podcast. Senac, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3X5dYRY. Acesso em: 28 nov. 2022. Muitos alunos, no início de cada ano letivo, contam em segredo que não querem falar no rádio, pois não gostam da própria voz. Em resposta, sempre observamos que existem vozes diferentes, diversificadas, e que seria muito triste e até bem chato se todas as vozes fossem iguais, pois é essa diversidade que forma a riqueza de uma equipe. É o timbre que permite diferenciar as vozes em uma conversa, e isso se torna essencial no rádio, já que não podemos ver as imagens. O mesmo acontece no podcast. Ao fazer entrevistas, você percebe como a voz reflete o estado emocional das pessoas. Usamos a nossa voz para expressar sentimentos, e existem maneiras diferentes de transmitir uma informação; contudo, em todas podemos falar numa linguagem mais coloquial, da maneira como conversamos, para poder interagir com o ouvinte e transmitir as informações com clareza. Quando falamos da alegria das pessoas em um desfile de uma escola de samba no carnaval, por exemplo, nossa euforia se manifesta de uma maneira, e ao divulgar a tristeza com o número de pessoas que morreram em consequência da covid‑19, a interpretação é outra. É claro que o repórter tenta ser imparcial, mas esses casos pedem uma interpretação diferenciada, e o repórter geralmente está incluído no meio dos acontecimentos. No caso do apresentador de um radiojornal, que deve informar tanto as notícias alegres como as tristes, a fala deve seguir firme e objetiva, com uma leve mudança na entonação. Preste atenção no modo como um noticiário em emissoras de rádio tradicionais ou na internet é apresentado. Se a entrada do repórter na emissora for ao vivo e de improviso, é importante deixar a emoção de lado em algumas coberturas e transmitir os acontecimentos objetivamente, para que o ouvinte compreenda a informação sem vieses. O locutor deve transmitir a notícia de maneira clara, sem pular ou atropelar palavras, para que o ouvinte entenda perfeitamente o conteúdo. A apresentação de um comercial, por sua vez, é mais teatral, diferente da jornalística, que tem ritmo e objetividade. É necessário ser expressivo sem ser emotivo. O importante é comunicar o fato, mudar o tom, fazer algumas pausas e usar certa expressividade para conquistar o ouvinte. O locutor deve ler o texto antes da apresentação sempre que o tempo permitir. Há, no entanto, fatos que acontecem quando o profissional já se encontra no estúdio, apresentando o noticiário, e a leitura não pode ser feita com antecipação; neste caso, a boa leitura depende da prática do profissional. 33 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO A linguagem para o podcast também é a radiofônica, e a locução segue métodos tradicionais que já foram testados e aprovados. Várias técnicas podem ser exploradas para melhorar a pronúncia e divulgar a informação de maneira mais atraente, convidativa. Além dos recursos e técnicas usados na apresentação de uma matéria, alguns profissionais, como fonoaudiólogos, nos auxiliam a melhorar a dicção e interpretação. Lembrete O modo como o apresentador conversa com o ouvinte faz toda a diferença. Você sabe que o texto deve ser objetivo, simples e claro, e a interpretação precisa ser a mais coloquial possível para que haja interação. Veja algumas técnicas para exercitar a locução: • inspirar antes do início da frase; • pontuar corretamente para não perder o sentido; • falar de maneira segura; • manter a tranquilidade; • não se exaltar nem exagerar no tom; • falar com naturalidade, pois ajuda na interpretação; • alterar a altura de voz quando o som ambiente estiver elevado; • usar o silêncio para significar distância e reflexão; • não ignorar os detalhes do final da frase. Muitas pessoas gesticulam bastante, e os gestos podem ajudar a apresentar um fato, a enfatizar palavras. Contudo, você só pode abusar da gesticulação se a emissora não estiver ao vivo, pois, da mesma maneira que as mãos podem auxiliar, também podem tornar o visual cansativo. Observação Os italianos, conhecidos pela personalidade extrovertida, têm o hábito de falar com as mãos, e algumas pontuações da história indicam que esses gestos foram sendo criados pelos oradores da Roma Antiga e imitados pelo povo. 34 Unidade I Existem vários exercícios de relaxamento indicados para a voz, como vibrar os lábios, emitindo o som “brrrrrr”, e bocejar várias vezes para relaxar articulações e musculatura. Um bom fonoaudiólogo pode sugerir os melhores exercícios em cada caso e trabalhar a musculatura da face para melhorar a voz. Saiba mais Além de se consultar com fonoaudiólogos, você pode assistir a alguns vídeos sobre o assunto na internet: EXERCITE os músculos da face e melhore sua voz! (com dicas): #Comunica. 14 maio 2018. 1 vídeo (8 min). Publicado pelo canal Cá me disse. Disponível em: https://bit.ly/3WYgx8A. Acesso em: 29 nov. 2022. O filme O discurso do rei (2010), que em 2011 ganhou o Oscar de Melhor Filme e outras três estatuetas, é indicado para motivar estudantes que iniciam a trajetória no mundo comunicacional e que pretendem gravar podcasts ou fazer reportagens radiofônicas. Figura 13 Fonte: O discurso… (2010). 35 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Nesta história, o príncipe Albert da Inglaterra é o próximo a ascender ao trono como rei George VI, mas ele se sente inferiorizado e incapaz porque tem um problema de fala. A mulher do príncipe, então, contrata um fonoaudiólogo para ajudá‑lo a superar a gagueira. No decorrer do tratamento, surge uma grande amizade entre o príncipe e o fonoaudiólogo, que usa meios não convencionais para ensinar o futuro monarca a falar com segurança. O filme dá exemplos de superação e mostra todo o empenho necessário para vencer o medo de falar em público. Observação Para manter uma boa voz é preciso cuidar da saúde, se alimentar de maneira saudável, ter disciplina, não tomar muito gelado, evitar o fumo e dormir pelo tempo apropriado. 3 DEFINIÇÃO DE PAUTAS Notícia: aquilo que é novo, interessante e verdadeiro. Robert McLeish Em uma entrevista com um ministro da Saúde sobre a eficácia da dose de reforço da vacina contra a covid‑19, quais seriam as perguntas essenciais a fazer ao entrevistado para permitir que o ouvinte ou internauta entenda claramente o porquê dessa vacina? Primeiramente, é preciso pesquisar o assunto para desenvolver a pauta. Se for um acontecimento inesperado e imediato e você não tiver tempo para pesquisar, saiba fazer as perguntas principais, começando com as do lead. As perguntas a seguir, por exemplo, podem ser inseridas na pauta para desenvolver a reportagem: • Ministro, quais vacinas pedem dose de reforço nesse esquema vacinal? • Repetir as doses da vacina mantém a proteção contra os casos graves? • Quais são as vacinas liberadas pelo governo para a próxima dose? • E quem tomou a vacina Janssen, que, segundo os cientistas, seria em dose única, tem que tomar reforço? • Quem não tomar a dose de reforço fica desprotegido? • O governo vai disponibilizar vacinas suficientes? 36 Unidade I • O anúncio feito pelo governo causou dúvidas sobre o intervalo ideal entre as doses, principalmente da Janssen. Como vai funcionar esse reforço? • Qual é ointervalo ideal para cada dose das vacinas? Varia de acordo com cada estado? • Hoje, quais são os dados sobre a eficácia das vacinas aplicadas no Brasil, como as da AstraZeneca, Pfizer, Coronavac e Janssen? • Quais são os índices esperados para alcançar a imunidade coletiva? Às vezes, você precisa fazer perguntas básicas mesmo que saiba as respostas, pois é importante que elas surjam das palavras do entrevistado para que a população assimile o fato. Observação O pauteiro deve seguir a linha editorial da empresa e considerar seu público‑alvo. E agora, a pauta caiu? Esta é uma questão que frequentemente ouvimos nas redações. Algumas perguntas da pauta podem ser derrubadas ou dependem da resposta de cada entrevistado. Às vezes, as informações disponíveis sobre os fatos mudam, e a pauta precisa ser refeita ou perde totalmente a validade. Ocasionalmente, os redatores e repórteres se empenham na produção de determinada matéria, mas as informações mudam ou a chefia de redação pede para abrir espaço a outros acontecimentos mais importantes, que precisam ser transmitidos com maior urgência. Dificilmente os profissionais gostam de cancelar a própria reportagem, pois foi trabalhada com empenho e dedicação para ser transmitida em determinado momento. Há ainda casos em que o repórter grava o áudio e não percebe que a qualidade sonora ficou ruim. Esse é outro motivo para descartar o próprio trabalho, já que rádio é som e precisa estar bem audível. Tudo precisa ser bem checado para que a notícia em tempo real seja divulgada sem erro e não fique desatualizada. 37 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO 3.1 A notícia A primeira essência do jornalismo é saber o que se quer saber, a segunda é descobrir quem o vai dizer. John Gunther A notícia é o mais comum dos gêneros jornalísticos: um texto informativo curto, claro, direto, objetivo. Toda notícia deve ser atual e verdadeira para interessar aos ouvintes, e o conteúdo deve ser preciso e importante para a vida política, econômica e cotidiana. Existem as hard news, que são as notícias mais pesadas, mais importantes, e as soft news, mais leves, envolvendo assuntos menos tensos, como cultura, esporte e entretenimento. Independentemente da categoria, a informação precisa ser interessante, sempre com algum dado novo. Para fazer a triagem dos fatos e filtrar as informações, é necessário adotar alguns critérios e valores, descobrindo o que o público gostaria de saber, qual informação agradaria mais, qual notícia seria urgente de acordo com o perfil do ouvinte. Escolha os acontecimentos mais divulgados nas várias mídias, considerando a proximidade geográfica, fatos de interesse nacional ou internacional, pessoal ou econômico, notícias que causam surpresa e impacto ou que provocam indignação. Divulgue os fatos com as devidas repercussões – por exemplo, se a notícia afeta o seu bolso, se causa injustiça, se aconteceram catástrofes com grandes perdas de vida ou bens. Observação O bom humor também é importante para a seleção do noticiário, assim como a originalidade, com descobertas e invenções. O lead, a primeira parte da notícia, é essencial para o texto jornalístico. Trata‑se, na realidade, de um resumo das principais informações atualizadas. Lembrete No lead, é preciso desenvolver o assunto respondendo seis perguntas básicas: o que, quem, como, quando, onde, por quê. A ordem pode variar, mas, para que o texto fique bem informativo, é importante que se responda a estas questões. 38 Unidade I Observe o lead da notícia divulgada no site da Jovem Pan: Figura 14 Fonte: Protesto… (2021). Como podemos ver, o lead responde às seis perguntas básicas: • o que: uma manifestação; • quem: ativistas; • como: policiais disparando tiros para o ar e realizando prisões; • quando: sexta‑feira, 19 de novembro de 2021; • onde: Roterdã, Holanda; • por que: endurecimento das restrições da covid‑19. Para publicar a notícia no site, é preciso selecionar uma foto e uma chamada que prendam a atenção do internauta para que clique na matéria. Se esta notícia for publicada como podcast, também é preciso escolher uma boa imagem. 39 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO 3.2 Triagem com critérios É um erro terrível teorizar antes de termos informação. Arthur Conan Doyle As notícias selecionadas para um noticiário devem atender a alguns critérios de importância e busca da verdade. A informação precisa ser clara e objetiva para que o ouvinte não entenda o acontecimento de maneira equivocada. Detalhar a informação e acrescentar novas fontes enriquece o assunto. Cada tema exige uma técnica até para fazer a triagem, porque não se pode misturar, por exemplo, festas e acidentes ou catástrofes, e não se deve ser parcial na escolha. É preciso saber apurar, averiguar, indagar, conhecer a fundo o que se pretende noticiar. É importante saber perguntar para oferecer ao ouvinte as respostas mais adequadas. Buscar evidências e o maior número possível de ângulos para contar uma história é regra do jornalismo. O jornalista seleciona as informações que chegam na redação e vai atrás das melhores fontes para checar e confirmar as evidências, sem fazer pré‑julgamentos e sem pressupor, para não influenciar o ouvinte. Lembrete Não é função do jornalista acusar, defender ou julgar. Pessoas, instituições, documentos, e‑mails, polícia, bombeiros, hospitais e outras organizações são fontes de informação, assim como os comunicados enviados por diversas entidades e assessorias de imprensa, além de informações prestadas por funcionários públicos, especialistas, livros, relatórios. Várias pesquisas são feitas pela internet, mas é preciso consultar sites seguros e sempre checar as fontes. O objetivo é informar fatos importantes para a sociedade, acompanhar o dia a dia e transmitir ocorrências reais, sem interferências ou fake news. É importante estar atento aos acontecimentos e acompanhar a repercussão de uma notícia para que o ouvinte fique atualizado. Muitas vezes, o repórter testemunha o fato ou coleta testemunhos, reconstituindo os acontecimentos com o depoimento das pessoas. Algumas fontes são anônimas, porque quem presta informações pede que sua identidade seja preservada, pois vive situação de risco. Fontes oficiais são autorizadas a falar em nome de instituições, partidos ou grupos, empresas ou organizações. Fontes oficiosas, por sua vez, entendem do tema, mas não são autorizadas a falar em nome do segmento ou área do conhecimento, pois são independentes e testemunhais. 40 Unidade I Observação Compare os fatos mais relevantes e aprofunde‑se nos fatos mais importantes. Como já disse Heródoto Barbeiro (2015), “a mídia sabe que não consegue vender notícia velha, por isso não tente dar notícia ultrapassada ao jornalista”. As emissoras de rádio têm sempre o noticiário atualizado e buscam em tempo integral novas informações. Deixamos como exemplo a CBN, que também publica as últimas notícias no seu site. Figura 15 Disponível em: http://glo.bo/3X1Y2jw. Acesso em: 10 jan. 2023. 41 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais A Rede CBN está presente em diversas cidades. A CBN São Paulo, por exemplo, está ao vivo nas frequências 90.5 FM e 780 AM. As diversas programações da rede podem ser ouvidas também on‑line: Disponível em: https://bit.ly/3XgY1Ze. Acesso em: 10 jan. 2023. 3.3 Tipos de entrevista Para produzir uma reportagem, é essencial conversar com a pessoa certa ou com várias fontes que possam conceder informações mais detalhadas sobre determinado assunto. Notícias que repercutem merecem ser aprofundadas, e ganha quem tem mais dados para complementar o tema. Há vários tipos de entrevistas: informal, noticiosa, interpretativa, emocional, coletiva, exclusiva, ao vivo etc. Chantler e Harris (1992) definem a entrevista informal como aquela que revela fatos ou informações, e apontam para a aplicação do lead no desenvolvimento do assunto. Analise no exemplo a seguir a notícia publicada em 29 de novembro de 2021, nosite do Terra: Figura 16 Fonte: Ferrari (2021). 42 Unidade I Veja como o lead da entrevista responde às perguntas básicas: • o que: o risco global da variante Ômicron é muito alto; • quem: Organização Mundial da Saúde; • como: documento enviado aos governos; • quando: 29 de novembro de 2021; • onde: África do Sul; • por que: pode haver outro pico da covid‑19 com consequências graves. Saiba mais Você pode ouvir esta matéria gravada no site do Terra: FERRARI, L. Risco global da ômicron é “muito alto”, diz OMS; G7 se reúne. Terra, 29 nov. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3IpMPFo. Acesso em: 29 nov. 2022. Na entrevista interpretativa, o entrevistado comenta fatos já divulgados. Por exemplo: o preço da gasolina subiu novamente. Que tipo de impacto isso vai ter na inflação? No caso, seria necessário que um especialista analisasse o assunto. Veja a matéria a seguir, publicada no site da revista digital Auto Esporte. Observe também a foto que ilustra o conteúdo. 43 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Figura 17 Fonte: Albuquerque (2021). 44 Unidade I Inicialmente são apresentadas as informações do tema, seguidas da entrevista com o especialista André Braz, coordenador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, que interpreta o impacto do aumento na inflação. Exemplo de aplicação Você poderia gravar um boletim radiofônico – bem objetivo e simples, com duração máxima de 5 minutos – para uma emissora tradicional ou um podcast para um site sobre o impacto do preço dos combustíveis na inflação. Como seria essa produção? Você poderia, por exemplo, inserir no texto de abertura as informações sobre o aumento do preço dos combustíveis. Em seguida, entraria a sonora gravada de André Braz, que você entrevistaria, editando o trecho principal. Na sequência teria o pé da matéria e o seu encerramento como repórter. Depois do texto redigido e da sonora editada, é só gravar. Você poderia também salvar esse mesmo boletim em MP3 no formato podcast e publicar no site da emissora com a foto e a chamada. A entrevista emocional é a mais complicada, porque o profissional precisa cobrir as várias manifestações emocionais, como a euforia em um jogo de futebol ou no carnaval e a tristeza em acidentes, desastres e mortes. Às vezes, o próprio profissional se envolve com a alegria de um evento esportivo ou as consequências de uma pandemia. Um exemplo disso foi a entrada ao vivo do jornalista Kleber Teixeira, da Inter TV Cabugi, ao noticiar que Natal estava há 30 dias sem mortes por covid‑19. Figura 18 Fonte: Carvalho (2021). 45 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais Você pode ver mais detalhes da notícia e a reação emocionada do repórter no link a seguir: CARVALHO, M. Repórter chora ao vivo ao noticiar que hospital em Natal está há 30 dias sem mortes por covid‑19. O Povo, 7 out. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3ImoDnp. Acesso em: 29 nov. 2022. A entrevista exclusiva, por sua vez, é concedida a um profissional, órgão de imprensa ou grupo restrito, com exclusividade. A importância desta entrevista está também no fato de que outros meios de comunicação solicitarão ao repórter ou grupo que lhes permita divulgar o conteúdo antes de outros meios. Saiba mais Veja, como exemplo, a entrevista exclusiva concedida por Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, por telefone ao Jornal da Manhã da rádio Jovem Pan: MINISTRO do STF, Alexandre de Moraes concede entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã. 18 abr. 2018. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal Jovem Pan News. Disponível em: https://bit.ly/3CCyOkc. Acesso em: 2 dez. 2022. Já a entrevista ao vivo pede muita atenção, tanto do repórter como do apresentador, porque as informações são divulgadas em tempo real e podem conter erros ou exageros. O que os profissionais de rádio podem fazer, neste caso, é mudar de assunto ou encerrar o mais rapidamente a entrevista, mas para isso é preciso ter agilidade e prática. Muitos entrevistados aproveitam ainda a entrevista ao vivo para fazer campanhas eleitorais e não deixam um ponto de edição para que a entrevista seja encerrada. Às vezes, a entrevista ao vivo é motivo de grande emoção, como no caso da âncora do Jornal da Band, que teve que entrevistar o pai, vítima da tragédia do desabamento em Miami. 46 Unidade I Figura 19 Fonte: Pai… (2021). Por fim, a entrevista coletiva é diferente. Às vezes, ela pode ser improvisada, mas geralmente é agendada pela assessoria de imprensa quando se pretende fazer pronunciamentos oficiais ou transmitir novas informações para várias mídias, e o(s) entrevistado(s) responde(m) a jornalistas de vários veículos de comunicação. Esta entrevista é organizada, e normalmente cada órgão de imprensa tem tempo e número limitado de perguntas. É relevante, portanto, considerar os objetivos da pauta que vai ser explorada. 47 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO Saiba mais Na CPI da Pandemia, por exemplo, senadores e epidemiologista concederam entrevistas coletivas à imprensa após sessão do Senado: CPI da Pandemia: senadores e epidemiologista concedem entrevista coletiva: 24/6/2021. 24 jun. 2021. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal TV Senado. Disponível em: https://bit.ly/3IlsGQN. Acesso em: 11 jan. 2023. Em 2021, alunos do curso de Jornalismo da UNIP Santos produziram uma entrevista coletiva remota com o médico sanitarista e professor Dr. Gonzalo Vecina Neto. A pauta foi preparada em detalhes com antecedência, e após a entrevista os alunos gravaram podcasts sobre o assunto. O importante é entender que, para qualquer entrevista – ao vivo, gravada ou remota –, se os jornalistas tiverem oportunidade, o ideal é que pesquisem e desenvolvam a pauta antecipadamente, porque ajuda no momento da transmissão. Deixamos a seguir o conteúdo da pauta produzida pelos alunos da UNIP, já que, por problemas técnicos, a entrevista não pôde ser gravada. Destaque Boa noite. Hoje, nós vamos falar sobre as medidas de combate à covid‑19. Agradecemos ao médico sanitarista Dr. Gonzalo Vecina Neto, que concordou em nos conceder esta entrevista coletiva. O Dr. Vecina é professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), ex‑presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ex‑secretário municipal de Saúde de São Paulo e ex‑CEO do Hospital Sírio Libanês. Esta entrevista faz parte da nossa aula de Produção Jornalística em Rádio, ministrada pela professora Wanda Schumann, e participam os alunos do quarto e quinto semestre de Jornalismo da Universidade Paulista (UNIP). Eu sou Richard Roger, representante da turma, e vou dar início à coletiva. Em pouco mais de um ano de pandemia, foram registrados cerca de 2 milhões e 700 mil mortes e 122 milhões e 700 mil casos da doença. Pesquisadores afirmam que o Brasil vive hoje o maior colapso sanitário de sua história. 48 Unidade I Mas quais são as medidas mais urgentes e importantes para combater esse inimigo invisível? A primeira pergunta que eu gostaria de fazer ao Dr. Gonzalo é: 1) Em meados de janeiro de 2021 houve notícias em torno do tratamento precoce. Muitos médicos e cientistas afirmam que não há tratamento precoce para covid‑19. O então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se contradisse algumas vezes ao defender o tratamento precoce e depois negar que o havia defendido. Quais são suas expectativas para o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o senhor acredita que desta vez o Ministério da Saúde defenderá as questões técnicas e científicas ao invés de políticas? 2) O que a gente pode notar é a descentralização de ordens vindas do Ministério da Saúde, dando aos governadores o direito de conduzir o combate à pandemia. O senhor acredita que, se as ordens e condutas fossem centralizadas, vindas diretamente do Ministério aos estados e municípios, isso teria evitado tantos conflitos políticos em torno de um assunto tão sério? 3) Quais medidas o senhor acha que poderiam ser tomadas para ajudar a