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Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 1. INTRODUÇÃO 1.1. Direito de Propriedade Absoluto 1.2. Estado Social de Direito 1.3. Fundamentos da Intervenção do Estado no Direito de Propriedade 1.4. Espécies de Intervenção 2. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA 2.1. Instituição: Autoexecutoriedade 2.2. Extinção 2.3. Objeto 2.4. Características 2.5. Questões 3. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA 3.1. Instituição: Autoexecutoriedade + Decreto 3.2. Extinção 3.3. Objeto 3.4. Características 3.5. Questões 4. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA 4.1. Instituição: Decreto + Anuência 4.2. Extinção 4.3. Objeto 4.4. Características 4.5. Questões 5. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA 5.1. Instituição: Lei 5.2. Extinção 5.3. Objeto 5.4. Características 5.5. Questões 6. TOMBAMENTO 6.1. Espécies 6.2. Instituição 6.3. Extinção 6.4. Objeto 6.5. Características 6.6. Questões 7. DESAPROPRIAÇÃO ou EXPROPRIAÇÃO 7.1. Pressupostos Página 1 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 7.2. Bens Desapropriáveis 7.3. Processo Administrativo 7.4. Fase declaratória 7.5. Fase executória 7.6. Processo Judicial 7.7. Indenização 7.8. Desapropriação Indireta 7.9. Tredestinação 7.10. Retrocessão 7.11. Direito de Extensão 7.12. Questões 1. INTRODUÇÃO 1.1. Direito de Propriedade Absoluto No período do Estado Liberal de Direito (sécs. XVIII e XIX) pregava-se a ampla liberdade privada e a ausência de intervenção do Estado na economia e na sociedade, motivo pelo qual o direito de propriedade era quase absoluto – nem mesmo o Estado podia gerar limitações à propriedade dos cidadãos. 1.2. Estado Social de Direito No início do séc. XX (sobretudo depois da 2ª Guerra Mundial), as teorias do Estado do Bem-Estar Social – Welfare State – fazem com que a propriedade perca sua aura de intangibilidade e passe a ceder espaço ao interesse social: função social da propriedade. 1.3. Fundamentos da Intervenção do Estado no Direito de Propriedade São dois os fundamentos da intervenção do Estado na propriedade. a) Função social da propriedade: segundo ensinamento do doutrinador José dos Santos Carvalho Filho, “[…] a função social pretende erradicar algumas deformidades existentes na sociedade, nas quais o interesse egoístico do indivíduo põe em risco os interesses coletivos”. A função social da propriedade foi reconhecida como um direito fundamental pela CRFB/1988, estando consagrada no inc. XXIII do art. 5º. b) Supremacia do interesse público: os interesses coletivos representam o direito do maior número de pessoas e, assim, quando estiverem em conflito com os interesses egoísticos individuais, devem sobrepor-se a estes. A supremacia do interesse público sobre o privado no tocante ao direito de propriedade é extraída da leitura conjunta dos incs. XXII e XXIII do art. 5º da CRFB/1988: enquanto o inc. XXII garante o direito de propriedade (interesse privado), o inc. XXIII diz que esse direito deve atender a sua função social (interesse público). Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Página 2 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; 1.4. Espécies de Intervenção Há duas espécies de intervenção do Estado na propriedade: intervenção restritiva e intervenção supressiva. a) Intervenção restritiva (= limitação): a intervenção restritiva ocorre quando o Estado impõe ao particular apenas uma limitação (restrição) ao exercício dos poderes inerentes à propriedade/domínio. Os poderes inerentes à propriedade são aqueles previstos no art. 1.228, CC: usar, gozar, dispor e reaver. Mas aqui, na intervenção restritiva, não ocorre a perda da propriedade; o particular apenas tem afetados os poderes inerentes ao domínio. São cinco as intervenções nas quais ocorre apenas restrição (limitação) ao direito de propriedade/domínio: - Requisição administrativa; - Ocupação temporária; - Servidão administrativa; - Limitação administrativa; e - Tombamento. Código Civil Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. b) Intervenção supressiva (= perda): aqui o Estado impõe ao particular a própria perda da propriedade/domínio, e não somente uma restrição. Ou seja, o particular perderá o bem, que passará a ser de propriedade do Estado. Somente há uma espécie de intervenção na qual ocorre a perda do domínio: - Desapropriação. Página 3 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 2. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA A requisição administrativa encontra previsão no inc. XXV do art. 5º da CRFB/1988: Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; a) Perigo público iminente: na requisição administrativa a Administração Pública necessita utilizar um bem móvel, imóvel ou um serviço particular para afastar um perigo público iminente, sendo que o particular apenas será indenizado pela utilização do seu bem e/ou seus serviços em momento posterior e se tiver suportado algum prejuízo (indenização posterior e condicionada). Ex1: policial que requisita o veículo de um particular para fazer uma perseguição a um criminoso – trata-se da presença de um perigo público iminente, sendo que o bem requisitado é móvel (carro). Ex2: a Administração requisita o hospital da Unimed (que é particular), os equipamentos e medicamentos, bem como os médicos e demais funcionários, para tratar pacientes da Covid-19 em virtude do esgotamento de leitos na rede pública. Aqui novamente estamos diante de um perigo público iminente, decorrente de uma pandemia global, tendo a requisição abarcado bens imóveis (o prédio do hospital), bens móveis (equipamentos e medicamentos) e inclusive serviços (que são prestados pelos médicos e demais funcionários). b) Indenização posterior e condicionada: na requisição administrativa o particular somente será indenizado após a utilização dos seus bens e/ou serviços pelo Poder Público e apenas se suportou algum prejuízo. A indenização é apenas posterior porque a requisição administrativa ocorre em casos de iminente perigo público e, obviamente, não há tempo hábil para primeiro discutir-se uma indenização. Quanto ao prejuízo, no exemplo da requisição do veículo, se o policial devolvê-lo intacto, a princípio não há prejuízo a ser indenizado e o particular nada receberá (claro, no caso terá direito a ser ressarcido do gasto de combustível, por exemplo). Mas no exemplo de requisição administrativa do hospital da Unimed, não há dúvida de que haverá prejuízo a ser indenizado, já que serão utilizados equipamentos e medicamentos, haverá gasto com energia elétrica, água potável, os salários dos médicos e demais funcionários… 2.1. Instituição: Autoexecutoriedade A requisição é instituída de imediato, através do poder de império do Estado, mediante autoexecutoriedade e sem necessidade de edição de algum ato formal. Ter autoexecutoriedade significa que o Poder Executivo tem a possibilidade de executar suas decisões por seus própriosb) Sujeito passivo (expropriado): o sujeito passivo da ação judicial de desapropriação será o proprietário do bem objeto da desapropriação, obviamente. c) Pedido: o pedido é a transferência do bem para o patrimônio do expropriante. d) Ministério Público: o MP sempre deve intervir em processos judiciais de desapropriação. e) Imissão provisória na posse: o expropriante (sujeito ativo) possui direito subjetivo à imissão provisória na posse, ou seja, o Poder Judiciário é obrigado a concedê-la. Mas, para que isso ocorra, devem ser cumpridos os seguintes requisitos (art. 15, Decreto-lei n.º 3.365/1941): - 120 dias: a ação judicial deve ser proposta em até 120 dias da data da publicação do Decreto de expropriação, ou seja, ainda muito antes da perfectibilização dos prazos de caducidade. - Declaração de urgência: no Decreto expropriatório emitido pelo Chefe do Executivo (Presidente, governadores ou prefeitos) ou na petição inicial do processo judicial proposto pelo expropriante (Administração direta, Administração indireta ou delegatários) deve ser declarada a urgência na expropriação. Basta que a urgência seja declarada em um deles: ou no Decreto; ou na petição inicial. - Depósito prévio: por fim, o último requisito para que a imissão provisória na posse seja deferida pelo Poder Judiciário em favor do expropriante, é que este deposite o valor da indenização, o qual é fixado conforme os critérios constantes no § 1º do art. 15 do Decreto-lei n.º 3.365/1941. Decreto-lei n.º 3.365/1941 Art. 15. Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará imití-lo provisoriamente na posse dos bens; § 1º A imissão provisória poderá ser feita, independente da citação do réu, mediante o depósito: [...] § 2º A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão provisória dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias. § 3º Excedido o prazo fixado no parágrafo anterior não será concedida a imissão provisória. § 4º A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente. Página 30 de 40 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del1608.htm#art685 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist f) Contestação: conforme já visto alhures, na contestação o expropriado (proprietário do bem) somente poderá alegar duas matérias (art. 20, Decreto-lei n.º 3.365/1941): - Valor da indenização: insurgir-se contra o valor da indenização ofertado pelo expropriante; - Vício do próprio processo judicial: alegar vícios do próprio processo judicial. g) Efeitos da sentença: a sentença que julgar a ação procedente gerará três efeitos: - Fixa o valor da indenização devida; - Efetuado o pagamento da indenização, o Expropriante é imitido na posse do bem de forma definitiva; - Gera o título para a transcrição da propriedade junto ao registro do bem. 7.7. Indenização A indenização – seja aquela acordada na desapropriação amigável (administrativa), seja aquela fixada na desapropriação litigiosa (judicial) – deve ser prévia, justa e em dinheiro (essa é a regra). a) Indenização prévia: significa que o Poder Público somente tomará posse do bem depois de efetuar o pagamento da indenização. Isso vale para a desapropriação amigável, para a imissão provisória concedida no processo judicial (depósito prévio) ou para a imissão definitiva concedida depois da sentença. Ou seja, primeiro o expropriante (Administração direta, Administração indireta ou delegatários) deve pagar a indenização; depois terá direito à posse do bem. b) Indenização justa: o montante da indenização deve ser justo, o que significa que deve abarcar: - Valor atual do bem; - Danos emergentes; - Lucros cessantes; - Atualização monetária; - Juros; - Despesas processuais; - Honorários advocatícios; e - Abatimento das dívidas fiscais que o proprietário do bem eventualmente possua. c) Indenização em dinheiro (regra): a regra é que a indenização seja paga em dinheiro. Mas temos as seguintes exceções: - Desapropriação para reforma agrária (interesse social: art. 184, CRFB/1988): na desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, o pagamento da indenização ocorre mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária (não em dinheiro), resgatáveis no prazo de até 20 anos, a partir do segundo ano de sua emissão. Ou seja, o expropriado somente começará a receber o valor da indenização 2 anos depois da desapropriação ser efetivada (há uma moratória) e ainda de maneira parcelada, que pode ser de até 20 anos; - Exceção (art. 184, § 1º, CRFB/1988): as benfeitorias úteis e necessárias constantes do imóvel rural deverão ser indenizadas em dinheiro; somente a terra nua é que será indenizada em títulos da dívida agrária. Página 31 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist - Desapropriação para fins urbanísticos (interesse social: art. 182, § 4º, III, CRFB/1988): já na desapropriação por interesse social para fins urbanísticos, o pagamento será com títulos da dívida pública, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas. Ou seja, aqui não há moratória e o expropriado receberá num prazo de até 10 anos. - Desapropriação confisco (art. 243, CRFB/1988): por fim, propriedades rurais e urbanas nas quais sejam cultivadas plantas psicotrópicas (de maneira ilegal, ou seja, sem autorização do Poder Público) ou onde ocorra a exploração de trabalho escravo serão expropriadas sem qualquer direito de indenização ao proprietário. Constituição Federal Art. 182. [...] § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. [...] Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. [...] Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) 7.8. Desapropriação Indireta A desapropriação indireta ocorre quando o Poder Público se apropria de um bem particular sem observar o procedimento da desapropriação, vale dizer, sem observar as fases declaratória e executória que vimos acima.Dito de outra forma: a Administração não emite o decreto expropriatório em que deve declarar a presença dos pressupostos da desapropriação – utilidade pública, necessidade pública ou interesse social – nem paga a indenização ao proprietário do bem; ela simplesmente toma posse do bem e o incorpora ao seu patrimônio. Página 32 de 40 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm#art1 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist O que acontece é que o Poder Público simplesmente toma posse de um bem e passa a utilizá-lo – no âmbito privado isso se chama esbulho; aqui, desapropriação indireta. Diferentemente do que acontece no âmbito das relações privadas, onde o proprietário tem a seu dispor os interditos proibitórios e a ação possessória, se o bem já foi incorporado ao patrimônio do Poder Público, somente lhe remanesce exigir perdas e danos (o proprietário somente terá proteção possessória contra a Administração Pública se ele agir tão logo ela inicie o “esbulho”; mas se demorar e o bem já houver se incorporado ao patrimônio público, somente lhe caberá a ação de perdas e danos). Portanto, depois de o bem incorporar-se ao patrimônio do Poder Público, o proprietário não poderá ajuizar demanda judicial requerendo alguma proteção possessória. Isso ocorre em virtude da supremacia do interesse público sobre o interesse privado. Ademais, se fosse concedida proteção possessória nessa situação, bastaria que a Administração, então, iniciasse o procedimento formal (correto) de desapropriação que ela igual continuaria na posse desse bem. Na desapropriação indireta devem ser observadas as duas peculiaridades abaixo. a) Perdas e danos (art. 35, Decreto-lei n.º 3.365/1941): estando o bem incorporado ao patrimônio público, o proprietário não pode alegar a nulidade da desapropriação nem requerer alguma proteção possessória, restando-lhe unicamente propor ação judicial de perdas e danos. Decreto-lei n.º 3.365/1941 Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos. b) Prescrição: a ação de perdas e danos deve ser proposta antes da consumação do prazo de prescrição, cuja contagem inicia da data em que a Administração tomou posse do bem (da data do “esbulho”). Ocorre que a doutrina se divide quanto ao prazo prescricional que deve ser aplicado, se de 5 anos ou de 15 anos: - 5 anos: analogia com o art. 1º, Decreto Federal n.º 20.910/1932; ou - 15 anos: art. 1.238, caput, CC (mesmo prazo da usucapião extraordinária). Decreto Federal n.º 20.910/1932 Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem. Código Civil Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. 7.9. Tredestinação Página 33 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist Tredestinação é a mudança de destinação. A tredestinação ocorre quando o Poder Público dá ao bem expropriado (já desapropriado conforme os requisitos legais) uma destinação diversa daquela que motivou a desapropriação – conforme visto, a motivação sempre consta do Decreto expropriatório, editado pelo Chefe do Poder Executivo na fase declaratória. Existem duas espécies de tredestinação e o resultado será diverso conforme a ocorrência de cada uma delas. a) Tredestinação ilícita: aqui a Administração, depois de ter realizado a desapropriação, destina o bem expropriado para ser utilizado por um terceiro ou, até mesmo, o vende. - Desapropriação nula: a tredestinação ilícita sempre gera a nulidade da desapropriação, sendo que o antigo proprietário poderá requerer a sua reintegração na posse do bem mediante a devolução da indenização recebida. Como se trata de situação de nulidade, basta devolver a indenização recebida (com atualização monetária, mas sem juros), pois a nulidade tem efeitos ex tunc, retornando as partes ao status quo ante, ou seja, à situação anterior à prática do ato declarado nulo. Portanto, o antigo proprietário não precisa pagar o preço atual do bem para que ele retorne ao seu patrimônio. b) Tredestinação lícita: na tredestinação lícita a Administração também dá ao bem uma destinação diversa daquela declarada no Decreto expropriatório, mas a finalidade pública da desapropriação continua presente. Ex.: no Decreto de desapropriação emitido pelo Chefe do Executivo o bem foi declarado como de utilidade pública para a construção de um hospital, mas, depois da desapropriação, a Administração Pública acabou construindo uma escola. - Desapropriação hígida: como não houve desvio de finalidade no ato administrativo de desapropriação (continua presente a utilidade pública, necessidade pública ou interesse social), na tredestinação lícita não ocorre a nulidade da expropriação, que continua hígida, ou seja, o antigo proprietário nada poderá fazer. 7.10. Retrocessão Na retrocessão, o motivo que justificou a desapropriação não existe mais e a Administração não dá qualquer destinação ao bem (art. 519, CC). Código Civil Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa. Ex.: no Decreto expropriatório emitido pelo Chefe do Executivo foi declarada a utilidade pública do bem para a construção de uma escola, mas, depois de realizada a desapropriação, novos estudos demonstram sua desnecessidade em virtude de realocação dos alunos e professores, ficando o bem desapropriado sem qualquer utilização. Perceba-se o seguinte: se o Poder Público desistir da construção da escola, mas utilizar o bem para outra finalidade pública (construir um hospital, uma praça, um prédio público), Página 34 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist teremos o instituto da tredestinação lícita; ou da tredestinação ilícita se destinar o bem para terceiro ou aliená-lo. Na retrocessão o Poder Público não dá qualquer destinação ao bem, deixando o mesmo “parado”. a) Direito de preferência (preço atual): a retrocessão gera um efeito para o ex-proprietário do bem, qual seja, o direito de preferência na aquisição do mesmo. - Preço atual: mas para adquirir o bem de volta, o ex-proprietário terá de pagar o preço atual do bem, que pode ter se valorizado ou desvalorizado. Ou seja, diferente do que ocorre na tredestinação ilícita, onde o proprietário apenas devolve a indenização recebida (atualizada), na retrocessão ele tem de pagar o valor atual do bem: isso ocorre porque na retrocessão não há ilegalidade (via de consequência, não há nulidade a ser declarada) e, portanto, deve ser pago o valor de mercado atual do bem. 7.11. Direito de Extensão POr fim, direito de extensão é o direito do expropriado de exigir que a desapropriação e a indenização alcancem a totalidade do bem quando o remanescente (não desapropriado) restar esvaziado de conteúdo econômico – o remanescente do bem se torna inútil, de difícil utilização ou sem valor econômico. Ex.: o Poder Públicodesapropria 90% de um imóvel; ocorre que os 10% remanescentes serão inutilizáveis para o proprietário, restarão esvaziados de valor econômico. O proprietário, então, tem direito de solicitar a extensão da desapropriação a esses 10% do bem, de modo que alcance a totalidade do imóvel, o que também repercutirá, obviamente, no valor total da indenização a ser paga pela Administração Pública. 7.12. Questões Q1003645 Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX - Primeira Fase O poder público, com fundamento na Lei nº 8.987/1995, pretende conceder à iniciativa privada uma rodovia que liga dois grandes centros urbanos. O edital, publicado em maio de 2018, previu a duplicação das pistas e a obrigação de o futuro concessionário desapropriar os terrenos necessários à ampliação. Por se tratar de projeto antigo, o poder concedente já havia declarado, em janeiro de 2011, a utilidade pública das áreas a serem desapropriadas no âmbito do futuro contrato de concessão. Com base na hipótese apresentada, assinale a afirmativa correta. ( ) A) O ônus das desapropriações necessárias à duplicação da rodovia não pode ser do futuro concessionário, mas sim do poder concedente. ( ) B) O poder concedente e o concessionário só poderão adentrar os terrenos necessários à ampliação da rodovia após a conclusão do processo de desapropriação. *( ) C) O decreto que reconheceu a utilidade pública dos terrenos caducou, sendo necessária a expedição de nova declaração. ( ) D) A declaração de utilidade pública pode ser emitida tanto pelo poder concedente quanto pelo concessionário. Q973366 Página 35 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXVIII - Primeira Fase Determinado Município fez publicar decreto de desapropriação por utilidade pública de determinada área, com o objetivo de construir um hospital, o que incluiu o imóvel de Ana. A proprietária aceitou o valor oferecido pelo ente federativo, de modo que a desapropriação se consumou na via administrativa. Após o início das obras, foi constatada a necessidade, de maior urgência, da instalação de uma creche na mesma localidade, de modo que o Município alterou a destinação a ser conferida à edificação que estava sendo erigida. Ana se arrependeu do acordo firmado com o poder público. Diante dessa situação hipotética, na qualidade de advogado(a) de Ana, assinale a afirmativa correta. ( ) A) Ana deverá ajuizar ação de retrocessão do imóvel, considerando que o Município não possui competência para atuar na educação infantil, de modo que não poderia alterar a destinação do bem expropriado para esta finalidade. ( ) B) Cabe a Ana buscar a anulação do acordo firmado com o Município, que deveria ter ajuizado a indispensável ação de desapropriação para consumar tal modalidade de intervenção do estado na propriedade. *( ) C) O ordenamento jurídico não autoriza que Ana impugne a desapropriação amigável acordada com o Município, porque a nova destinação conferida ao imóvel atende ao interesse público, a caracterizar a chamada tredestinação lícita. ( ) D) Ana deverá ajuizar ação indenizatória em face do ente federativo, com base na desapropriação indireta, considerando que o Município não pode conferir finalidade diversa da constante no decreto expropriatório. Q881099 Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2018 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXV - Primeira Fase Josué decidiu gozar um período sabático e passou um tempo viajando pelo mundo. Ao retornar ao Brasil, foi surpreendido pelo fato de que um terreno de sua propriedade havia sido invadido, quatro anos antes, pelo Município Beta, que nele construiu uma estação de tratamento de água e esgoto. Em razão disso, Josué procurou você para, na qualidade de advogado(a), traçar a orientação jurídica adequada, em consonância com o ordenamento vigente. ( ) A) Deve ser ajuizada uma ação possessória, diante do esbulho cometido pelo Poder Público municipal. ( ) B) Não cabe qualquer providência em Juízo, considerando que a pretensão de Josué está prescrita. ( ) C) Impõe-se que Josué aguarde que o bem venha a ser destinado pelo Município a uma finalidade alheia ao interesse público, para que, somente então, possa pleitear uma indenização em Juízo. *( ) D) É pertinente o ajuizamento de uma ação indenizatória, com base na desapropriação indireta, diante da incorporação do bem ao patrimônio público pela afetação. Q829489 Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXIII - Primeira Fase O Estado “X” pretende fazer uma reforma administrativa para cortar gastos. Com esse intuito, espera concentrar diversas secretarias estaduais em um mesmo prédio, mas não dispõe de um imóvel com a área necessária. Após várias reuniões com a equipe de governo, o governador decidiu desapropriar, por utilidade pública, um enorme terreno de propriedade da União para construir o edifício desejado. Sobre a questão apresentada, assinale a afirmativa correta. *( ) A) A União pode desapropriar imóveis dos Estados, atendidos os requisitos previstos em lei, mas os Estados não podem desapropriar imóveis da União. ( ) B) Para que haja a desapropriação pelo Estado “X”, é imprescindível que este ente federado demonstre, em ação judicial, estar presente o interesse público. Página 36 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist ( ) C) A desapropriação é possível, mas deve ser precedida de autorização legislativa dada pela Assembleia Legislativa. ( ) D) A desapropriação é possível, mas deve ser precedida de autorização legislativa dada pelo Congresso Nacional. Q692563 Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XX - Primeira Fase (Reaplicação Salvador/BA) O Estado Beta pretende estabelecer ligação viária entre dois municípios contíguos em seu território. Para tanto, mostra-se necessária a desapropriação, por utilidade pública, de bem de propriedade de um dos municípios beneficiários da obra. Quanto à competência do Estado Beta para desapropriar bem público, assinale a afirmativa correta. ( ) A) O Estado Beta não tem competência para desapropriar, por utilidade pública, bem municipal. ( ) B) O Estado Beta não tem competência para desapropriar bens públicos. ( ) C) O Estado Beta poderá desapropriar sem qualquer providência preliminar. *( ) D) O Estado Beta poderá desapropriar mediante a respectiva autorização legislativa. Q530759 Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVII - Primeira Fase O Município W, durante a construção de avenida importante, ligando a região residencial ao centro comercial da cidade, verifica a necessidade de ampliação da área a ser construída, mediante a incorporação de terrenos contíguos à área já desapropriada, a fim de permitir o prosseguimento das obras. Assim, expede novo decreto de desapropriação, declarando a utilidade pública dos imóveis indicados, adjacentes ao plano da pista. Diante deste caso, assinale a opção correta. ( ) A) É válida a desapropriação, pelo Município W, de imóveis a serem demolidos para a construção da obra pública, mas não a dos terrenos contíguos à obra. ( ) B) Não é válida a desapropriação, durante a realização da obra, pelo Município W, de novos imóveis, qualquer que seja a finalidade. *( ) C) É válida, no curso da obra, a desapropriação, pelo Município W, de novos imóveis em área contígua necessária ao desenvolvimento da obra. ( ) D) Em relação às áreas contíguas à obra, a única forma de intervenção estatal da qual pode se valer o Município W é a ocupação temporária. Q369645 Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2014 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIII - Primeira Fase Acerca da desapropriação, assinale a afirmativacorreta. ( ) A) Na desapropriação por interesse social, o expropriante tem o prazo de cinco anos, contados da edição do decreto, para iniciar as providências de aproveitamento do bem expropriado. ( ) B) Na desapropriação por interesse social, em regra, não se exige o requisito da indenização prévia, justa e em dinheiro. *( ) C) O município pode desapropriar um imóvel por interesse social, mediante indenização prévia, justa e em dinheiro ( ) D) A desapropriação para fins de reforma agrária da propriedade que não esteja cumprindo a sua função social não será indenizada. Q349730 Ano: 2013 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2013 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XII - Primeira Fase Página 37 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist O Município de Barra Alta realizou a desapropriação de grande parcela do imóvel de Manoel Silva e deixou uma parcela inaproveitável para o proprietário. No caso descrito, o proprietário obterá êxito se pleitear ( ) A) a reintegração de posse de todo o imóvel em função da má-fé do Município. *( ) B) o direito de extensão da desapropriação em relação à área inaproveitável. ( ) C) a anulação da desapropriação em relação à parcela do imóvel suficiente para tornar a área restante economicamente aproveitável. ( ) D) a anulação integral da desapropriação, pois a mesma foi ilegal. Q304855 Ano: 2012 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2012 - OAB - Exame de Ordem Unificado - IX - Primeira Fase A desapropriação é um procedimento administrativo que possui duas fases: a primeira, denominada declaratória e a segunda, denominada executória. Quanto à fase declaratória, assinale a afirmativa correta. ( ) A) Acarreta a aquisição da propriedade pela Administração, gerando o dever de justa indenização ao expropriado. *( ) B) Importa no início do prazo para a ocorrência da caducidade do ato declaratório e gera, para a Administração, o direito de penetrar no bem objeto da desapropriação. ( ) C) Implica a geração de efeitos, com o titular mantendo o direito de propriedade plena, não tendo a Administração direitos ou deveres. ( ) D) Gera o direito à imissão provisória na posse e o impedimento à desistência da desapropriação. Q261975 Ano: 2012 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2012 - OAB - Exame de Ordem Unificado - VII - Primeira Fase A empresa pública federal X, que atua no setor de pesquisas petroquímicas, necessita ampliar sua estrutura, para a construção de dois galpões industriais. Para tanto, decide incorporar terrenos contíguos a sua atual unidade de processamento, mediante regular processo de desapropriação. A própria empresa pública declara aqueles terrenos como de utilidade pública e inicia as tratativas com os proprietários dos terrenos – que, entretanto, não aceitam o preço oferecido por aquela entidade. Nesse caso, ( ) A) se o expropriante alegar urgência e depositar a quantia arbitrada de conformidade com a lei, terá direito a imitir- se provisoriamente na posse dos terrenos. ( ) B) a desapropriação não poderá consumar-se, tendo em vista que não houve concordância dos titulares dos terrenos. ( ) C) a desapropriação demandará a propositura de uma ação judicial e, por não haver concordância dos proprietários, a contestação poderá versar sobre qualquer matéria. *( ) D) os proprietários poderão opor-se à desapropriação, ao fundamento de que a empresa pública não é competente para declarar um bem como de utilidade pública. Q129219 Ano: 2010 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2010 - OAB - Exame de Ordem Unificado - II - Primeira Fase Nas hipóteses de desapropriação, em regra geral, os requisitos constitucionais a serem observados pela Administração Pública são os seguintes: ( ) A) comprovação da necessidade ou utilidade pública ou de interesse social; pagamento de indenização prévia ao ato de imissão na posse pelo Poder Público, e que seja justa e em dinheiro; e observância de ato administrativo, sem contraditório por parte do proprietário. *( ) B) comprovação da necessidade ou utilidade pública ou de interesse social; pagamento de indenização prévia ao ato de imissão na posse pelo Poder Público, e que seja justa e em dinheiro; e observância de procedimento administrativo, com respeito ao contraditório e ampla defesa por parte do proprietário. Página 38 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist ( ) C) comprovação da necessidade ou utilidade pública ou de interesse social; pagamento de indenização prévia ao ato de imissão na posse pelo Poder Público, e que seja justa e em títulos da dívida pública ou quaisquer outros títulos públicos, negociáveis no mercado financeiro; e observância de procedimento administrativo, com respeito ao contraditório e ampla defesa por parte do proprietário. ( ) D) comprovação da necessidade ou utilidade pública ou de interesse social; pagamento de indenização, posteriormente ao ato de imissão na posse pelo Poder Público, e que seja justa e em dinheiro; e observância de procedimento administrativo, com respeito ao contraditório e ampla defesa por parte do proprietário. Q196983 Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase Assinale a opção correta acerca de desapropriação. ( ) A) A desapropriação indireta, forma legítima de intervenção na propriedade, é realizada por entidade da administração indireta. ( ) B) Os bens públicos não podem ser desapropriados. *( ) C) Em caso de desapropriação por interesse social para fim de reforma agrária, deve haver indenização, necessariamente em dinheiro, das benfeitorias úteis e das necessárias. ( ) D) A desapropriação de imóveis urbanos pode ser feita mediante prévia e justa indenização, permitindo-se à administração, caso haja autorização legislativa do Senado Federal, pagá-la com títulos da dívida pública. Q171780 Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase Acerca da intervenção do Estado na propriedade privada, assinale a opção correta. ( ) A) A limitação administrativa consiste na instituição de ônus real de uso pelo poder público sobre a propriedade privada. *( ) B) A desapropriação, que consiste na transferência de propriedade de terceiro ao poder público, tem por objeto bens móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos, públicos ou privados. ( ) C) A desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, é de competência da União e dos estados, devendo ser realizada sobre imóvel rural que não esteja cumprindo a sua função social, mediante prévia indenização em títulos da dívida agrária. ( ) D) Ocorre a desapropriação indireta quando a entidade da administração direta decreta a desapropriação, sendo o processo expropriatório desenvolvido por pessoa jurídica integrante da administração descentralizada. Q197085 Ano: 2008 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2008 - OAB - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase A modalidade de intervenção estatal que gera a transferência da propriedade de seu dono para o Estado é *( ) A) a desapropriação. ( ) B) a servidão administrativa. ( ) C) a requisição. ( ) D) o tombamento. Q299413 Ano: 2007 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2007 - OAB - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase Acerca da desapropriação, assinale a opção correta. ( ) A) Os bens públicos não podem ser desapropriados. Página 39 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist ( ) B) Na desapropriação por zona, devem ser incluídos os imóveis contíguos ao imóvel desapropriado, necessários ao desenvolvimento da obra a que se destina. *( ) C) Desapropriação indireta é o fato administrativo por meio do qual o Estado se apropria de bem particular, sem a observância dos requisitos da declaração e da indenização prévia. ( ) D) Na desapropriação por interesse social para fins de reformaagrária, serão indenizadas por título da dívida pública não apenas a terra nua, mas também as benfeitorias úteis e necessárias, sendo que as voluptuosas não serão indenizadas. Q212819 Ano: 2007 Banca: ND Órgão: OAB-SC Prova: ND - 2007 - OAB-SC - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase Assinale a alternativa totalmente correta: ( ) A) Pertencem ao pequeno proprietário rural, beneficiado pela reforma agrária, os potenciais de energia hidráulica dos córregos que atravessem suas terras. ( ) B) Todos os entes competentes para desapropriar são competentes para legislar sobre desapropriação. *( ) C) A desapropriação, por utilidade pública, de imóvel urbano contendo fábrica em plena atividade deve ser feita com prévia indenização em dinheiro. ( ) D) As praças, o oceano e os edifícios das Secretarias de Estado constituem bens de uso comum do povo. Q207085 Ano: 2007 Banca: VUNESP Órgão: OAB-SP Prova: VUNESP - 2007 - OAB-SP - Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase Considere-se que, para a construção de uma estrada, um estado membro tenha editado decreto declarando de utilidade pública um imóvel privado, situado no traçado da pretendida estrada. Nessa situação, havendo urgência na desapropriação do bem, poderá o ente público imitir-se imediatamente na posse do imóvel, ainda que o proprietário não concorde com o valor da indenização que lhe foi oferecido? ( ) A) Não, porque o interesse público não pode se sobressair ao direito de propriedade, constitucionalmente assegurado. ( ) B) Não, a não ser que seja editado novo decreto, de necessidade pública, declarando a urgência e estabelecendo o valor venal do imóvel para pagamento do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) como o valor da indenização. ( ) C) Sim, pelo poder de auto-executoriedade que tem o poder expropriante, combinado com a comprovação da urgência. *( ) D) Sim, desde que obtenha uma liminar em juízo, depositando um valor que se entenda justo para a devida indenização. Q299623 Ano: 2006 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2006 - OAB - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase Desapropriação ou expropriação é a transferência obrigatória da propriedade particular para o poder público, devidamente motivada. Assinale a opção que não apresenta motivação constitucional para desapropriação. *( ) A) clamor social. ( ) B) necessidade pública. ( ) C) utilidade pública. ( ) D) interesse social. Página 40 de 40meios, sem a necessidade de anuência do particular nem participação dos demais Poderes; ou seja, não precisa de autorização prévia do particular, do Poder Judiciário ou do Poder Legislativo. Página 4 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist Por isso se diz que a autoexecutoriedade decorre do poder de império da Administração Pública. Para melhor compreender, não se teria autoexecutoriedade se a requisição administrativa dependesse da aquiescência do particular (acordo), do Poder Judiciário (decisão judicial) ou do Poder Legislativo (edição de uma lei). E, além da requisição administrativa ser autoexecutória, ela também independe de algum ato formal: a Administração Pública não precisa editar um decreto nem formalizar um acordo ou contrato prévio com o particular. 2.2. Extinção A requisição administrativa extingue-se tão logo desapareça o perigo ou a necessidade de utilizar o bem. Ex.: a requisição do automóvel pelo policial extinguir-se-á quando ele finalizar a perseguição ao criminoso ou se ele, v. g., bater o veículo, tornando-o imprestável para o prosseguimento da perseguição (aqui obviamente haverá dever do Estado em indenizar o particular), dentre várias outras situações que podem ocorrer em cada caso concreto e que determinarão a extinção automática da requisição administrativa. 2.3. Objeto Conforme visto, o objeto da requisição administrativa pode ser: - Bem móvel; - Bem imóvel; e/ou - Serviço. 2.4. Características A requisição administrativa possui as peculiaridades que abaixo seguem. a) Direito pessoal: a requisição administrativa é um direito pessoal; isso significa que não se trata de direito real e, portanto, não se fala em averbação do ato junto ao registro do bem. Para relembrar: - Direito real: refere-se à relação do homem com o objeto (pessoa objeto), sendo o poder da pessoa sobre uma coisa, sem intermediários; e - Direito pessoal: já o direito pessoal se refere à relação entre pessoas (pessoa pessoa), com direitos e obrigações recíprocos. b) Pressuposto: afastar um perigo público iminente. Ex.: conflito armado, inundação, epidemia, catástrofe, sonegação de bens de primeira necessidade… c) Indenização: a indenização ao particular em virtude da utilização do seu bem e/ou serviço é sempre posterior à utilização e condicionada à ocorrência de prejuízo. Página 5 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist d) Transitoriedade: significa dizer que a requisição administrativa perdurará apenas pelo tempo necessário, ou seja, possui caráter temporário e não perpétuo (não possui caráter de definitividade). e) Autoexecutoriedade: como vimos, a requisição administrativa decorre do poder de império do Estado, que irá impor sua vontade independentemente da anuência do particular ou participação dos demais Poderes (Judiciário ou Legislativo). Ainda, ela também independe da edição de um ato formal. 2.5. Questões Q1082485 Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: MPE-RJ Prova: FGV - 2019 - MPE-RJ - Analista do Ministério Público - Processual O Prefeito do Município Alfa editou decreto no qual informava que o Poder Público utilizaria, por seis meses, os serviços e as instalações do único hospital privado da região. A decisão decorreu do fato de o nosocômio ter informado que cessaria o atendimento dos pacientes do Sistema Único de Saúde, o que comprometeria o serviço de saúde no Município. À luz da sistemática legal, a situação narrada caracteriza: *( ) A) requisição administrativa, que não exige autorização do Poder Judiciário e acarreta o dever de indenização posterior; ( ) B) ocupação temporária, que exige prévia autorização do Poder Judiciário e não demanda indenização; ( ) C) desapropriação, devendo ser antecedida de prévia e justa indenização; ( ) D) servidão administrativa ao direito de propriedade, que exige autorização do Poder Judiciário e reembolso dos gastos; ( ) E) ilegalidade, pois é típica situação de intervenção no domínio econômico, caracterizando desapropriação indireta. Q1028646 Ano: 2019 Banca: Quadrix Órgão: CREA-GO Prova: Quadrix - 2019 - CREA-GO - Analista Com relação à legislação, julgue o item. No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, estando assegurada ao proprietário indenização ulterior se houver prejuízo. *( ) Certo ( ) Errado Q798366 Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXII - Primeira Fase O Município Beta foi assolado por chuvas que provocaram o desabamento de várias encostas, que abalaram a estrutura de diversos imóveis, os quais ameaçam ruir, especialmente se não houver imediata limpeza dos terrenos comprometidos. Diante do iminente perigo público a residências e à vida de pessoas, o Poder Público deve, prontamente, utilizar maquinário, que não consta de seu patrimônio, para realizar as medidas de contenção pertinentes. Assinale a opção que indica a adequada modalidade de intervenção na propriedade privada para a utilização do maquinário necessário. *( ) A) Requisição administrativa. ( ) B) Tombamento. ( ) C) Desapropriação. ( ) D) Servidão administrativa. Página 6 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 3. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA Na ocupação temporária a Administração Pública precisa utilizar um bem imóvel como apoio para a execução de obras, serviços ou atividades públicas. Ex.: a utilização de escolas particulares como zona eleitoral na época das eleições; utilização de um terreno como depósito de materiais e máquinas durante o período em que se executa o recapeamento asfáltico de uma rua… 3.1. Instituição: Autoexecutoriedade + Decreto Assim como ocorre na requisição administrativa, a ocupação temporária também é autoexecutória, mas com uma diferença: enquanto a requisição é autoexecutável, sem necessidade da edição de algum ato formal (não é necessário algum documento), na ocupação temporária será preciso emitir um Decreto. a) Decreto ≠ Lei: para conhecimento, Decreto é uma ordem emitida pelo Chefe do Poder Executivo, quem seja, Presidente da República (União), governadores (estados e DF) ou prefeitos (municípios). O que é importante saber é o fato de ele ser muito diferente de uma lei: o Decreto é emitido pelo Chefe do Executivo sem qualquer participação do Poder Legislativo; já a lei é um ato jurídico que depende da anuência tanto do Poder Legislativo (que irá debater e votar) quanto do Poder Executivo (que irá sancionar ou vetar a lei). Dessa forma, conclui-se que o Decreto é um ato de edição muito mais simples e rápida, pois o Chefe do Executivo não precisará da anuência do Poder Legislativo para a sua aprovação (basta a vontade do Chefe do Executivo: PR, governadores ou prefeitos). Nesse Decreto, o Chefe do Poder Executivo irá declarar a necessidade de ocupar aquele imóvel como apoio para a execução de obras, serviços ou atividades públicas. b) Publicação do Decreto: para que o Decreto tenha validade, ele deve ser publicado, ou seja, somente a partir da publicação do Decreto é que o Poder Público poderá realizar a ocupação temporária. - Princípio da publicidade (art. 37, caput, CRFB/1988): relembre-se que a regra é que todos os atos administrativos são públicos, com exceção das informações imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado e relativas à intimidade das pessoas. É daí que decorre a necessidade de publicação do Decreto de ocupação temporária para que ele seja válido e produza efeitos. - Diários oficiais: atualmente as publicações dos órgãos públicos ocorrem nos respectivos diários oficiais, sem necessidade de publicação em jornais impressos (essa é a regra). Para conhecimento, atualmente temos o Diário Oficial da União (DOU), cada estado tem o seu próprio Diário Oficialdo Estado (DOE) e os municípios que integram um mesmo estado publicam seus atos no Diário Oficial dos Municípios (DOM) daquele estado – todos esses diários podem ser acessados pela internet por qualquer interessado. Constituição Federal Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Página 7 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist [...] c) Autoexecutoriedade: por fim, deve ficar claro que a necessidade de emissão e publicação de um Decreto não retira a qualidade de autoexecutoriedade da ocupação temporária – como já vimos, autoexecutoriedade significa que o Poder Executivo tem a possibilidade de executar suas decisões por seus próprios meios, sem a necessidade de anuência do particular nem dos demais Poderes (Poder Judiciário ou Poder Legislativo). A autoexecutoriedade decorre do poder de império da Administração Pública. Após emitir e publicar o Decreto, o Poder Público imporá sua vontade ao particular mesmo que ele discorde, e isso sem necessidade de autorização judicial (Poder Judiciário) ou participação do parlamento (Poder Legislativo). 3.2. Extinção Concluída a obra, serviço ou atividade desempenhada pelo Poder Público, a ocupação temporária extingue-se automaticamente e os poderes inerentes ao domínio são integralmente restituídos ao proprietário. 3.3. Objeto A ocupação temporária recai sobre bens imóveis, apenas (não incide sobre bens móveis nem sobre serviços). 3.4. Características A ocupação temporária possui as peculiaridades que abaixo seguem. a) Direito pessoal: assim como a requisição administrativa, a ocupação temporária também é um direito pessoal. Como não se trata de um direito real, não se fala em averbação da ocupação temporária junto à matrícula do bem no registro de imóveis. b) Pressuposto: apoio a obras, serviços ou atividades públicas. c) Indenização: em regra não há indenização; mas se o proprietário demonstrar que suportou algum prejuízo, será indenizado. Apenas para conhecimento, no exemplo da ocupação de um terreno para funcionar como depósito de máquinas e materiais para o asfaltamento de uma rua, se o Poder Público ocupar um terreno baldio nas imediações da obra para realizar a ocupação temporária, muito provavelmente não haverá prejuízo a indenizar, visto que o proprietário sequer estava dando alguma destinação ao imóvel; no exemplo da utilização da escola particular como zona eleitoral, a ocupação ocorre no fim de semana da votação, quando geralmente não há atividades na escola, que a princípio não suportaria prejuízos. Mas, claro, em ambos os exemplos, se os proprietários comprovarem algum prejuízo, serão indenizados. Página 8 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist d) Transitoriedade: do mesmo modo que a requisição administrativa, a ocupação temporária também é transitória, perdurando apenas pelo tempo necessário. Ou seja, possui caráter temporário e não de definitividade. e) Autoexecutoriedade: como vimos, em que pese depender da edição de um ato formal (Decreto), a requisição administrativa decorre do poder de império da Administração Pública, qualificando-se como autoexecutória. 3.5. Questões Q866697 Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-MA Prova: CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil A seguir são apresentadas ações realizadas pelo Estado. I - Alocação provisória de determinadas máquinas e equipamentos utilizados em execução de obra pública em propriedade privada desocupada. II - Instalação de redes elétricas em determinada propriedade privada para fins de execução de serviço público. III - Determinação de ordem urbanística de proibição de construção além de determinada altura em região do município. As hipóteses apresentadas correspondem, respectivamente, às seguintes modalidades de intervenção do Estado na propriedade *( ) A) ocupação temporária, servidão administrativa e limitação administrativa. ( ) B) requisição administrativa, servidão administrativa e ocupação temporária. ( ) C) requisição administrativa, ocupação temporária e limitação administrativa. ( ) D) servidão administrativa, requisição administrativa e limitação administrativa. ( ) E) ocupação temporária, limitação administrativa e servidão administrativa. Q852718 Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: DPE-AL Prova: CESPE - 2017 - DPE-AL - Defensor Público Com o intuito de dar apoio logístico à obra de construção de um hospital municipal, o prefeito de determinada cidade exarou ato declaratório informando a necessidade de utilização, por tempo determinado, de um imóvel particular vizinho à obra, o qual serviria como estacionamento para as máquinas e como local de armazenamento de materiais. Nessa situação hipotética, a modalidade de intervenção do ente público na propriedade denomina-se *( ) A) ocupação temporária. ( ) B) desapropriação. ( ) C) requisição administrativa. ( ) D) servidão administrativa. ( ) E) limitação administrativa. Q844935 Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: PJC-MT Prova: CESPE - 2017 - PJC-MT - Delegado de Polícia Substituto Enquanto uma rodovia municipal era reformada, o município responsável utilizou, como meio de apoio à execução das obras, parte de um terreno de particular. Nessa hipótese, houve o que se denomina Página 9 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist ( ) A) servidão administrativa. ( ) B) limitação administrativa. ( ) C) intervenção administrativa supressiva. *( ) D) ocupação temporária. ( ) E) requisição administrativa. Página 10 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 4. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA A servidão administrativa encontra guarida no art. 40 do Decreto-lei n.º 3.365/1941: Decreto-lei n.º 3.365/1941 Art. 40. O expropriante poderá constituir servidões, mediante indenização na forma desta lei. Na servidão administrativa o Poder Público precisa utilizar um bem imóvel de forma definitiva para obras e/ou serviços públicos; mas o proprietário não perde a propriedade do bem e será indenizado acaso suporte algum dano ou prejuízo. Ex.: instalação de redes de transmissão de energia elétrica, de tubulações de gás, de placas de trânsito… em propriedades privadas. 4.1. Instituição: Decreto + Anuência a) Decreto: na servidão administrativa não há autoexecutoriedade. Aqui funciona da seguinte maneira: a Administração Pública, através do chefe do Poder Executivo – Presidente da República (União), governadores (estados e DF) e prefeitos (municípios) –, emite e publica um Decreto no qual declara a necessidade de instituir a servidão administrativa em determinado imóvel, mas não poderá impor sua vontade ao proprietário do bem através do seu poder de império (ausência de autoexecutoriedade). Isso significa que, depois de publicado o Decreto (princípio da publicidade), é necessário que haja anuência do proprietário do imóvel (acordo administrativo) ou do Poder Judiciário (sentença judicial). b) Anuência (ausência de autoexecutoriedade): uma vez emitido e publicado o Decreto no qual a Administração Pública declara a necessidade de instituir determinada servidão administrativa em determinado imóvel, ainda deverá haver: - Acordo administrativo: o particular deve concordar com a instituição da servidão administrativa em seu imóvel, hipótese em que ele e a Administração Pública irão formalizar uma escritura pública, que será levada à averbação junto à matrícula do bem no Registro de Imóveis. - Sentença judicial: se o proprietário não concordar com a instituição da servidãoadministrativa sobre o seu imóvel, a Administração terá de propor uma ação judicial perante o Poder Judiciário para que possa instituir a servidão. Se a ação for procedente para a Administração, a sentença valerá como escritura pública para fins de averbação da servidão administrativa junto à matrícula do bem no Registro de Imóveis. Para conhecimento: a regra é que, havendo um Decreto publicado declarando a necessidade de utilizar aquele imóvel para instituir uma servidão administrativa, a ação judicial seja julgada procedente. 4.2. Extinção Considerando que a servidão administrativa possui caráter de definitividade, em regra não há que se falar em sua extinção. Página 11 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist Mas claro que, por uma questão de lógica, nas situações abaixo ocorrerá a extinção da servidão administrativa: - Desaparecimento do bem: como no caso de ser demolido o prédio particular onde estava afixada uma placa com o nome da rua; - Incorporação do imóvel ao patrimônio da Administração: como no caso de o Poder Público comprar o imóvel particular pelo qual passa uma tubulação de gás; - Desinteresse do Poder Público em manter a servidão: como no caso de desativação de torres de telefonia fixa instaladas numa propriedade particular. 4.3. Objeto Assim como a ocupação temporária, a servidão administrativa recai apenas sobre bens imóveis. 4.4. Características A servidão administrativa possui as peculiaridades que abaixo seguem. a) Direito real: diferente do que foi estudado até agora (requisição administrativa e ocupação temporária), a servidão administrativa é um direito real (não pessoal). Como visto, ela é formalizada por meio de um acordo com o particular (escritura pública) ou em decorrência de uma decisão judicial (sentença), que serão levados ao Registro de Imóveis para serem averbados junto à matrícula do imóvel, produzindo efeitos erga omnes: tem eficácia contra tudo e contra todos. - Pessoa Objeto: relembrando, o direito real refere-se à relação da pessoa com o objeto. É o poder que a pessoa (no caso, o Poder Público) possui sobre uma coisa (no caso, o imóvel sobre o qual recairá a servidão administrativa), sem intermediários. - Manutenção da propriedade: mas o proprietário não perde a propriedade do imóvel (a servidão administrativa é uma espécie de intervenção apenas restritiva, não supressiva), tanto que pode vendê-lo a terceiro. O que ocorre é que, aquele que adquirir o imóvel, adquire-o com a servidão administrativa, não podendo opor-se a ela, pois terá conhecimento da mesma em virtude de estar averbada junto à matrícula do imóvel (efeito erga omnes). b) Pressuposto: é a necessidade de o Poder Público utilizar um imóvel para atender a uma finalidade pública, a um interesse da coletividade. Imagine-se como seria difícil atender à necessidade pública de acesso à energia elétrica, saneamento básico (água e esgoto), telefonia, informação através de placas de trânsito, dentre várias outras situações, se o Poder Público não tivesse a prerrogativa de passar linhas de transmissão, encanamentos e tubulações, de afixar placas de trânsito, entre outras coisas, em propriedades privadas. c) Indenização: na servidão administrativa a indenização é condicionada e prévia. Via de regra, não há indenização na servidão administrativa, pois o proprietário não perde o domínio sobre o bem (não perde a propriedade do imóvel); mas se ele demonstrar que suportará algum prejuízo (como a redução do aproveitamento econômico do imóvel), será indenizado previamente, ou seja, antes mesmo da instituição da servidão – a indenização Página 12 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist prévia é uma grande diferença da servidão em relação aos institutos já estudados (requisição administrativa e ocupação temporária). Ex.: se o Poder Público instituir uma servidão para a passagem de tubulação de água pluvial em um imóvel particular, em regra não caberá indenização, até porque a tubulação ficará enterrada e não prejudicará a utilização do imóvel pelo proprietário (claro que o Poder Público deve arcar com todos os custos de instalação e de retorno da propriedade ao status quo ante depois de enterrada a tubulação, como a arrumação de calçadas e jardins). d) Definitividade: diferente da requisição administrativa e da ocupação temporária, que possuem caráter de transitoriedade, a servidão administrativa possui caráter de definitividade, ou seja, a regra é que ela seja instituída com caráter perpétuo. Mas não nos esqueçamos das possibilidades de extinção aventadas no tópico “4.2. Extinção”, visto acima, as quais configuram-se como exceções. O que deve ficar claro é que, em questões da OAB ou de concursos, se for mencionado que a servidão possui caráter de definitividade, estará correto. e) Ausência de autoexecutoriedade: como visto, aqui não há autoexecutoriedade , pois o Poder Público – após editar e publicar o Decreto declarando a necessidade de instituição da servidão administrativa – deverá obter a anuência do proprietário (acordo administrativo) ou do Poder Judiciário (sentença favorável) para que possa instituir a servidão administrativa. 4.5. Questões Q998883 Ano: 2019 Banca: IESES Órgão: TJ-SC Prova: IESES - 2019 - TJ-SC - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Provimento - Prova Anulada A passagem de redes transmissão elétrica ou implantação de oleodutos em pequena parcela de propriedade privada, encerra a intervenção do Estado na propriedade na seguinte modalidade: ( ) A) Limitação Administrativa. *( ) B) Servidão Administrativa. ( ) C) Requisição. ( ) D) Desapropriação. Q879795 Ano: 2018 Banca: CS-UFG Órgão: SANEAGO - GO Prova: CS-UFG - 2018 - SANEAGO - GO - Advogado O instituto da intervenção do Estado na propriedade privada serve para diminuir os problemas sociais existentes no Brasil, além de dar acesso a melhor qualidade de vida aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País. “É ônus real de uso imposto pela Administração à propriedade particular para assegurar a realização e conservação de obras e serviços públicos ou de utilidade pública, mediante indenização dos prejuízos efetivamente suportados pelo proprietário, incide sobre bens imóveis e tem caráter de definitividade” (Maria S. Di Pietro, 2016). Neste sentido, que modalidade de intervenção é abordada no texto? *( ) A) Servidão administrativa. ( ) B) Desapropriação. ( ) C) Requisição. ( ) D) Ocupação temporária. Q155414 Página 13 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist Ano: 2011 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado - III - Primeira Fase Com relação à intervenção do Estado na propriedade, assinale a alternativa correta. ( ) A) A requisição administrativa é uma forma de intervenção supressiva do Estado na propriedade que somente recai em bens imóveis, sendo o Estado obrigado a indenizar eventuais prejuízos, se houver dano. ( ) B) A limitação administrativa é uma forma de intervenção restritiva do Estado na propriedade que consubstancia obrigações de caráter específico e individualizados a proprietários determinados, sem afetar o caráter absoluto do direito de propriedade. *( ) C) A servidão administrativa é uma forma de intervenção restritiva do Estado na propriedade que afeta as faculdades de uso e gozo sobre o bem objeto da intervenção, em razão de um interesse público. ( ) D) O tombamento é uma forma de intervenção do Estado na propriedade privada que possui como característica a conservação dos aspectos históricos, artísticos, paisagísticos e culturais dos bens imóveis, excepcionando-se os bens móveis. Página 14 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 5. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVANa limitação administrativa o Poder Público impõe obrigações de fazer, não fazer e permitir que se faça para proprietários indeterminados (caráter geral) e de modo gratuito. Ex.: construir passeio público (fazer); manter a limpeza de terrenos urbanos (fazer); não construir prédios além de uma determinada altura (não fazer); proibição de desmatamento de um percentual de floresta em imóveis rurais (não fazer); permitir que a vigilância sanitária vistorie imóveis para verificar a existência de focos do mosquito da dengue (permitir que se faça); usar cinto de segurança e capacete (fazer)… 5.1. Instituição: Lei Como se trata de uma intervenção de caráter geral, dirigida a proprietários indeterminados, a limitação administrativa sempre deve ser instituída através de uma lei – relembre-se que uma das características das leis é a generalidade (ou impessoalidade), o que significa que elas se dirigem abstratamente a todos (a lei é um ato normativo de caráter geral e abstrato). a) Anuência do Poder Legislativo: como é necessária uma lei, isso significa que o Poder Executivo vai necessitar da concordância do Poder Legislativo para que possa instituir limitações administrativas. Aqui o Executivo – Presidente da República (União), governadores (estados e DF) ou prefeitos (municípios) – formula um projeto de lei com a limitação administrativa que pretende impor e o envia para o Poder Legislativo correspondente – Congresso Nacional (União), assembleias legislativas (estados), Câmara Legislativa (DF) ou câmaras de vereadores (municípios) –, que irá deliberar e votar. Disso já se conclui que a limitação administrativa não é autoexecutória, pois não pode ser imposta pela Administração Pública (Poder Executivo) sem a anuência do Poder Legislativo. - Desnecessidade de anuência do particular: mas jamais será necessária a anuência do particular afetado pela limitação administrativa. Estando vigente a lei, a limitação administrativa deve ser cumprida pelo proprietário do bem, sob pena de sofrer sanções. 5.2. Extinção A limitação, via de regra, possui caráter de definitividade e, por isso, a princípio não se fala em sua extinção. Mas a extinção pode ocorrer; para tanto, deve ser editada outra lei alterando ou revogando a lei anterior que impôs a limitação administrativa, conforme disposto no art. 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Página 15 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 5.3. Objeto A limitação administrativa pode recair sobre bens móveis e imóveis. Exemplo de limitação administrativa imposta em bens imóveis: a legislação de Jaraguá do Sul/SC determina que os imóveis comerciais tenham acessibilidade para cadeirantes, ou seja, os imóveis destinados ao comércio devem possuir rampas de acesso e elevadores. Exemplo de limitação administrativa imposta em bens móveis: a legislação federal determina que veículos automotores devem trafegar nas rodovias de pista simples com os faróis acesos (art. 40, § 2º, CTB). Código de Trânsito Brasileiro Art. 40. […] § 2º Os veículos que não dispuserem de luzes de rodagem diurna deverão manter acesos os faróis nas rodovias de pista simples situadas fora dos perímetros urbanos, mesmo durante o dia. (Incluído pela Lei nº 14.071, de 2020) 5.4. Características A limitação administrativa possui as peculiaridades que abaixo seguem. a) Caráter geral: como visto, a limitação administrativa é uma intervenção de caráter geral, ou seja, ela é dirigida a proprietários indeterminados. Dito de outro modo, todos aqueles que sejam proprietários de bens móveis ou imóveis que se enquadrem na lei que impõe a limitação administrativa, devem cumprir a norma. b) Pressuposto: interesses públicos abstratos, como saúde pública, meio ambiente, poluição ambiental, poluição visual, segurança pública, saneamento básico… c) Indenização: a limitação administrativa possui caráter de gratuidade, ou seja, não cabe indenização. - Exceção: de forma excepcional, a doutrina e a jurisprudência têm admitido a indenização nos casos em que a limitação administrativa esvazia o conteúdo econômico do bem. Ex1: imagine-se que, numa determinada rua, haja um posto de combustíveis, sendo que uma lei municipal transforma essa rua em um calçadão, proibindo a passagem de veículos automotores. Nesse caso, o proprietário do posto de combustíveis terá direito a ser indenizado, pois a transformação da rua num calçadão acaba retirando a possibilidade de manutenção da atividade econômica naquele local, pois os veículos sequer terão como acessar o posto de combustíveis para abastecer; contudo, os proprietários dos outros tipos de comércios também existentes nessa rua (que agora virou um calçadão), a princípio não têm direito à indenização. Ex2: uma limitação administrativa que aumente a área de preservação permanente de imóveis situados nas margens dos rios, fazendo com que alguns deles tenham proibida qualquer atividade/construção no local, retirando totalmente o conteúdo econômico dos mesmos – os proprietários que se enquadrem nessa situação também terão direito a serem indenizados. Página 16 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist d) Definitividade: conforme mencionado no tópico “5.2. Extinção” (acima), a limitação administrativa possui caráter de definitividade e, por isso, a princípio não se fala em sua extinção (não se trata de uma limitação apenas transitória ao direito de propriedade). A limitação administrativa possui caráter de definitividade, de perpetuidade. e) Ausência de autoexecutoriedade: por fim, a limitação administrativa não é autoexecutória porque, como visto, decorre da lei, que é um ato normativo que necessita de anuência entre os Poderes Executivo e Legislativo. 5.5. Questões Q1013828 Ano: 2019 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: CAU-MG Prova: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - CAU-MG - Advogado Denomina-se coeficiente de aproveitamento básico a relação entre a área edificável e a do terreno, para evitar edificações muito altas, trazendo superpopulação da área com consequente desgaste e insuficiência dos bens e serviços públicos para a região. O coeficiente de aproveitamento básico é um exemplo de ( ) A) servidão de uso. *( ) B) limitação administrativa. ( ) C) requisição urbanística. ( ) D) intervenção supressiva. Q963225 Ano: 2019 Banca: IADES Órgão: AL-GO Prova: IADES - 2019 - AL-GO - Procurador De maneira instrumental, o Estado possui uma variedade de meios jurídicos para que possa atuar na relação dominial privada, de modo a restringi-la, podendo, no limite, inclusive, extingui-la, visando ao interesse público. Quanto a esses instrumentos estatais, assinale a alternativa correta. ( ) A) Uma das diferenças gerais entre os institutos da ocupação temporária e da requisição é que, naquele, o caráter é de onerosidade, enquanto, neste, de regra, impõe-se a gratuidade. ( ) B) As servidões administrativas e o tombamento são permanentes, ao passo que as limitações administrativas são temporárias. *( ) C) As limitações administrativas, com assento somente em lei, por imporem limitações gerais e, também, trazerem benefícios a todos por igual, apresentam-se com caráter gratuito. ( ) D) Em casos de obras públicas demoradas,a Administração, para garantir o interesse público, pode dispor discricionariamente dos instrumentos da ocupação temporária e da servidão administrativa. ( ) E) As servidões administrativas, por apresentarem características de parcial expropriação, ao serem instituídas, assim também instituem um direito de preferência à aquisição do bem em favor do Poder instituidor. Q197186 Ano: 2008 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2008 - OAB - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase No que concerne à intervenção do Estado sobre a propriedade privada, é correto afirmar que ( ) A) a requisição de bens móveis e fungíveis impõe obrigações de caráter geral a proprietários indeterminados, em benefício do interesse geral, não afetando o caráter perpétuo e irrevogável do direito de propriedade. Página 17 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist ( ) B) o tombamento implica a instituição de direito real de natureza pública, impondo ao proprietário a obrigação de suportar um ônus parcial sobre o imóvel de sua propriedade, em benefício de serviços de interesse coletivo. ( ) C) a servidão administrativa afeta o caráter absoluto do direito de propriedade, implicando limitação perpétua do mesmo em benefício do interesse coletivo. *( ) D) as limitações administrativas constituem medidas previstas em lei com fundamento no poder de polícia do Estado, gerando para os proprietários obrigações positivas ou negativas, com o fim de condicionar o exercício do direito de propriedade ao bem-estar social. Q299414 Ano: 2007 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2007 - OAB - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase Acerca da intervenção do Estado na propriedade, assinale a opção correta. ( ) A) A servidão administrativa não precisa ser registrada no registro de imóveis. ( ) B) O ato administrativo que formaliza a requisição não é auto- executório, dependendo de prévia apreciação judicial ou administrativa, assegurando-se ampla defesa e contraditório. ( ) C) O tombamento só pode recair sobre bens imóveis. *( ) D) A vedação de desmatamento de parte da área de floresta em cada propriedade rural é exemplo de limitação administrativa. Página 18 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 6. TOMBAMENTO No tombamento a Administração Pública intervém na propriedade privada para preservar a memória nacional (patrimônio cultural brasileiro), protegendo bens de ordem histórica, artística, arqueológica, cultural, científica, turística e paisagística – art. 216, § 1º, CRFB/1988, e Decreto-lei n.º 25/1937. Constituição Federal Art. 216. […] § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. Decreto-lei n.º 25/1937 Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. CAPÍTULO I DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. § 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta lei. § 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pelo natureza ou agenciados pelo indústria humana. Ex1: o centro histórico de Salvador/BH, na região do Bairro Pelourinho, é tombado. O local possui mais de 800 casarões antigos e ruas estreitas revestidas de paralelepípedo, com diversas ladeiras. Ex2: o Elevador Lacerda, também em Salvador/BH. Ex3: a cidade histórica de Outro Preto/MG foi tombada em 1938 em virtude do seu conjunto arquitetônico e urbanístico. Ex4: a parte central do Bairro Rio da Luz, em Jaraguá do Sul/SC, também é tombada. 6.1. Espécies O tombamento divide-se em quatro espécies. a) Voluntário ou Compulsório - Voluntário: o tombamento voluntário ocorre quando o proprietário do bem consente com a intervenção que o Poder Público impõe a sua propriedade ou quando o próprio proprietário procura o Poder Público requerendo o tombamento do seu bem. - Compulsório: aqui o proprietário não concorda com a intervenção em sua propriedade, opondo-se ao tombamento que lhe é imposto pelo Poder Público. b) Provisório ou Definitivo - Provisório: o tombamento é provisório enquanto ainda está em curso o processo administrativo para a sua instituição. Página 19 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist - Definitivo: finalizado o processo administrativo e aprovado o tombamento, ele é inscrito junto ao registro do bem (móvel ou imóvel) e também no Livro do Tombo, tornando o ato definitivo. 6.2. Instituição A instituição do tombamento se dá através de um processo administrativo (é semelhante a um processo judicial, mas ele tramita unicamente no âmbito do Poder Executivo, da Administração Pública), nos autos do qual será apurado se o bem se enquadra nos requisitos técnicos do tombamento. O processo administrativo de tombamento possui as peculiaridades abaixo. a) Parecer do órgão técnico cultural: esse órgão é composto por técnicos, que definem se há relação entre o bem que se pretende tombar e a memória nacional (patrimônio cultural brasileiro). b) Devido processo legal (art. 5º, LV, CRFB/1988): iniciado o processo administrativo de tombamento, o proprietário do bem é notificado (contraditório) e pode manifestar-se (ampla defesa), concordando ou discordando com o tombamento. Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; c) Decisão do Conselho Consultivo: ao fim da instrução do processo administrativo, quem profere a decisão é um Conselho Consultivo, que pode: - Anular o processo administrativo se constatar alguma ilegalidade; - Impor o tombamento; ou - Rejeitar o tombamento. d) Recurso: imposto o tombamento pelo Conselho Consultivo, se o proprietário não concordar com a decisão, poderá recorrer da decisão para o órgão administrativo superior. 6.3. Extinção O tombamento é uma intervenção do Estado na propriedade de forma definitiva, não comportando extinção. 6.4. Objeto O tombamento pode recair sobre bens móveis e imóveis – caput do art. 1º do Decreto-lei n.º 25/1937. Página 20 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist Exemplos de bens móveis que podem ser tombados: coleções e acervos, louças, imagens, pinturas, esculturas, pratos típicos (culinária)… Decreto-lei n.º 25/1937 Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. § 1º […] 6.5. Características O tombamento possui as peculiaridades que abaixo seguem. a) Direitoreal: o tombamento é um direito real porque segue a coisa, vale dizer, ele é inscrito junto ao registro do bem – móvel ou imóvel – e, mesmo que esse bem seja alienado pelo seu proprietário (não há vedação à venda do bem tombado), o tombamento permanece (o registro produz efeitos erga omnes). Ou seja, em caso de alienação do bem, o novo proprietário adquire-o com o tombamento (do mesmo modo que ocorre na servidão administrativa). b) Pressuposto: proteger e resguardar a nossa história. c) Ausência de indenização: a regra é que o tombamento não gera direito de indenização ao proprietário do bem tombado; - Exceção: mas, como exceção, o proprietário do bem tombado poderá ter direito à indenização se comprovar prejuízo com o tombamento (como despesas extraordinárias para a conservação e manutenção do bem) ou o esvaziamento do conteúdo econômico do bem (a exemplo do que pode ocorrer na limitação administrativa). d) Definitividade: o tombamento é definitivo (não possui caráter transitório). Trata-se de intervenção na propriedade que possui caráter de perpetuidade. e) Conservação do bem: a conservação do bem tombado é dever do seu proprietário, que deve manter as suas características físicas; perceba-se que, caso o bem não fosse tombado, a sua conservação igualmente caberia ao seu proprietário. Mas, se tratando de bem tombado, antes de realizar qualquer manutenção ou reforma no bem (inclusive uma simples pintura), o proprietário deve obter autorização do Poder Público que impôs o tombamento, que examinará se o que ele pretende fazer respeitará as características originais do bem tombado. Ademais, é expressamente proibido praticar qualquer ato que importe em mutilação ou destruição do bem. - Ausência de recursos (exceção): se não possuir recursos financeiros para realizar a manutenção, o proprietário deve comunicar o fato ao Poder Público para este faça os reparos necessários à conservação do bem tombado. Página 21 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist e) Restrições ao direito de vizinhança (art. 18, Decreto-lei n.º 25/1937): o tombamento gera restrições ao direito de vizinhança. Ou seja, mesmo os vizinhos do bem tombado são afetados. Os vizinhos do bem tombado não podem, sem autorização do Poder Público que impôs o tombamento, edificar construções ou afixar anúncios ou cartazes que impeçam ou reduzam a visibilidade da coisa tombada, sob pena de demolição/retirada e multa. Decreto-lei n.º 25/1937 Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibílidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objéto, impondo-se nêste caso a multa de cincoenta por cento do valor do mesmo objéto. f) Ausência do direito de preferência: o proprietário possui total liberdade para alienar o bem móvel ou imóvel tombado, mas o comprador irá adquiri-lo com essa limitação – lembre-se que o tombamento é um direito real e, portanto, segue a coisa, pois a inscrição do tombamento é feita junto ao registro do bem, o que produz efeito erga omnes. O cuidado que se deve ter é que, antes do atual CPC (vide art. 22 do Decreto-lei n.º 25/1937), ao vender o bem, o proprietário tinha de garantir ao Poder Público o direito de preferência na compra do mesmo, o que foi revogado pelo inc. I do art. 1.072 do CPC. Código de Processo Civil Art. 1.072. Revogam-se: I - o art. 22 do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937; Decreto-lei n.º 25/1937 Art. 22. Em face da alienação onerosa de bens tombados, pertencentes a pessôas naturais ou a pessôas jurídicas de direito privado, a União, os Estados e os municípios terão, nesta ordem, o direito de preferência. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) 6.6. Questões Q1003648 Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX - Primeira Fase Virgílio é proprietário de um imóvel cuja fachada foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, autarquia federal, após o devido processo administrativo, diante de seu relevante valor histórico e cultural. O logradouro em que o imóvel está localizado foi assolado por fortes chuvas, que comprometeram a estrutura da edificação, a qual passou a apresentar riscos de desabamento. Em razão disso, Virgílio notificou o Poder Público e comprovou não ter condições financeiras para arcar com os custos da respectiva obra de recuperação. Certo de que a comunicação foi recebida pela autoridade competente, que atestou a efetiva necessidade da realização de obras emergenciais, Virgílio procurou você, como advogado(a), para, mediante orientação jurídica adequada, evitar a imposição de sanção pelo Poder Público. Sobre a hipótese apresentada, assinale a opção que apresenta a orientação correta. ( ) A) Virgílio poderá demolir o imóvel. *( ) B) A autoridade competente deve mandar executar a recuperação da fachada tombada, às expensas da União. ( ) C) Somente Virgílio é obrigado a arcar com os custos de recuperação do imóvel. Página 22 de 40 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0025.htm#art22 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1072 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist ( ) D) As obras necessárias deverão ser realizadas por Virgílio, independentemente de autorização especial da autoridade competente. Q261976 Ano: 2012 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2012 - OAB - Exame de Ordem Unificado - VII - Primeira Fase O Município Y promove o tombamento de um antigo bonde, já desativado, pertencente a um colecionador particular. Nesse caso, ( ) A) o proprietário pode insurgir-se contra o ato do tombamento, uma vez que se trata de um bem móvel. ( ) B) o proprietário fica impedido de alienar o bem, mas pode propor ação visando a compelir o Município a desapropriar o bem, mediante remuneração. *( ) C) o proprietário poderá alienar livremente o bem tombado, desde que o adquirente se comprometa a conservá-lo, de conformidade com o ato de tombamento. ( ) D) o proprietário do bem, diante do tombamento promovido pelo Município, não poderá gravá-lo com o penhor. Q196991 Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase O proprietário do imóvel tombado: ( ) A) pode alienar o bem, desde que o ofereça, pelo mesmo preço, ao Ente público que instituiu o tombamento, a fim de que possam exercer o direito de preferência da compra do bem. ( ) B) não pode alienar o bem, visto que, a partir do tombamento, tornou-se bem inalienável. *( ) C) pode alienar o bem livremente, sem qualquer comunicação prévia ao poder público. ( ) D) somente pode alienar o bem para a União, instituidora do tombamento. Q171340 Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase Acerca da intervenção do Estado na propriedade, assinale a opção correta. *( ) A) No tombamento, modalidade de intervenção restritiva da propriedade, não há mudança de propriedade. ( ) B) O direito de preempção municipal, por meio do qual se assegura ao município preferência para aquisição do imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares, não é exemplo de limitação administrativa. ( ) C) A ocupação temporária não pode incidir sobre bens imóveis. ( ) D) A servidão administrativa é um direito pessoal. Q205204 Ano: 2008 Banca: CESPE Órgão: OAB-SP Prova: CESPE - 2008 - OAB-SP - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase Assinale a opção correta a respeito do instituto do tombamento. ( ) A) O tombamento é um ato administrativo compulsório. ( ) B) O tombamento é ato administrativo que se destina à proteção de bens imóveis, sendo inadequado para a proteção de bens móveis.( ) C) O tombamento impede a transmissão da propriedade do bem sobre o qual recaia. *( ) D) Caso o tombamento importe em esvaziamento econômico do bem tombado, cria-se a obrigação de indenizar por parte do Estado. Q209102 Página 23 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist Ano: 2006 Banca: ND Órgão: OAB-DF Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase Qual a forma de intervenção do Estado na propriedade privada, gerando uma restrição parcial sem impedimento do exercício dos direitos próprios do domínio, voltada para a proteção do patrimônio histórico e artístico? ( ) A) desapropriação; ( ) B) servidão administrativa; *( ) C) tombamento; ( ) D) requisição. Página 24 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 7. DESAPROPRIAÇÃO ou EXPROPRIAÇÃO Desapropriação ou expropriação é a transferência compulsória da propriedade particular ou pública (aqui de grau inferior para superior) para o Poder Público ou seus delegados, em decorrência de utilidade pública, necessidade pública ou interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro (ressalvados os casos de pagamento em títulos da dívida pública ou da dívida agrária). a) Previsões legislativas: - Constituição Federal: inc. XXIV do art. 5º, inc. III do § 4º do art. 182, art. 184 e art. 243; - Decreto-lei n.º 3.365/1941; - Lei Federal n.º 4.132/1962; - Lei Federal n.º 8.629/1993. b) Perda da propriedade: a expropriação ou desapropriação é a única forma supressiva de intervenção do Estado na propriedade, ou seja, aqui o proprietário irá perder o domínio (a propriedade da coisa), que passará a pertencer à Administração Pública. Todas as demais formas de intervenção (que já estudamos) são apenas restritivas, ou seja, somente limitam o exercício do direito de propriedade/domínio. c) Forma originária: o imóvel desapropriado ingressa no patrimônio do Ente Público livre de quaisquer ônus; - Credores sub-rogam-se: o credor de eventual oneração que recaia sobre o bem sub-rogar-se-á no preço pago pelo Poder Público para indenizar o proprietário expropriado. Ex.: se determinado credor possuir uma penhora sobre um imóvel do devedor, sendo este imóvel desapropriado pela Administração Pública, o credor automaticamente se sub-roga no preço, ou seja, recebe o pagamento (claro, o pagamento que esse credor receberá é limitado ao valor do seu crédito e também ao próprio valor pago pelo imóvel). 7.1. Pressupostos A desapropriação/expropriação pode ocorrer por três fundamentos ou pressupostos diversos. a) Utilidade Pública: aqui a desapropriação é conveniente/útil, mas não imprescindível (necessária). Ex.: desapropriação de imóvel para construir escola, hospital, ponte, para abrir uma rua… b) Necessidade Pública: na necessidade pública a transferência da propriedade do bem ao Poder Público é imprescindível/necessária em virtude de situações de emergência, como segurança nacional, defesa do Estado, socorro público em caso de calamidade e salubridade pública… Ex.: desapropriação de uma casa para construir um muro de contenção em área de risco. c) Interesse social: é quando a expropriação ocorre para atender à função social da propriedade, ou seja, em benefício da coletividade. Ex.: desapropriação de terras rurais para reforma agrária. Página 25 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist 7.2. Bens Desapropriáveis Todos as classes de bens são passíveis de desapropriação. a) Bens móveis e imóveis: - Móveis: nos termos do art. 82 do CC, “São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.” - Imóveis: conforme art. 79 do CC, “São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.” b) Bens corpóreos e incorpóreos: - Corpóreos: são os bens que têm existência material, perceptível pelos nossos sentidos. Ex.: livros, joias, terrenos, solo… - Incorpóreos: são os bens abstratos, de visualização ideal, não tangível. Ex.: espaço aéreo, ações de empresas… c) Bens públicos (art. 2º, § 2º, Decreto-lei n.º 3.365/1941): é possível um Ente Público desapropriar bens de outro; mas, para que isso aconteça, é necessário observar os dois requisitos abaixo. - Linha descendente: a desapropriação deve ocorrer na linha descendente, ou seja, a União pode desapropriar bens dos estados, dos municípios ou do DF, ao passo que os estados podem desapropriar bens dos municípios situados em seu território (os estados não podem desapropriar bens públicos de outros estados; nem de municípios situados em outros estados; nem, muito menos, da União). Por sua vez, em virtude do respeito a esta linha descendente, conclui-se que os municípios jamais poderão desapropriar bens públicos (nem da União, nem dos estados nem de outros municípios porque o bem estará fora do seu território). Essa desapropriação não fere a autonomia que todos os Entes Federados possuem (art. 18, CRFB/1988), pois, conforme ensinamentos da doutrina, aqui predomina a tese do melhor interesse: o interesse geral (União) se sobrepõe ao regional (estados), que se sobrepõe ao interesse local (municípios). - Autorização legislativa: o segundo requisito para que um Ente Federado possa desapropriar um bem público de outro é a autorização legislativa, que precisa ser dada pelo Poder Legislativo do Ente expropriante. Cuidado: a autorização legislativa deve ser dada pelo parlamento do Ente que pretende realizar a desapropriação (expropriante), e não do Ente que sofrerá a mesma (expropriado). Ou seja, se um estado-membro quiser desapropriar algum bem de um município situado em seu território, quem deve autorizar é a assembleia legislativa estadual, e não a câmara de vereadores do município. Decreto-lei n.º 3.365/1941 Art. 2º [...] § 2º Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização legislativa. Constituição Federal Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. Página 26 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist § 1º […] 7.3. Processo Administrativo Para instituir uma desapropriação, deve ser instaurado um processo administrativo, que tramitará no âmbito do Ente Federado expropriante (não perante o Poder Judiciário, pois não se trata de um processo judicial). Como não poderia deixar de ser, o proprietário do bem que se pretende desapropriar deverá participar do processo administrativo – devido processo legal –, com direito ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º, LV, CRFB/1988). Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Esse processo administrativo possui duas fases – declaratória e executória –, que estudaremos a seguir. 7.4. Fase declaratória A fase declaratória possui as peculiaridades que seguem. a) Decreto expropriatório (art. 6º, Decreto-lei n.º 3.365/1941): na fase declaratória, o Poder Público que pretende realizar a desapropriação (Ente expropriante) deve emitir e publicar um Decreto de desapropriação, no qual declarará a existência da utilidade pública, da necessidadepública ou do interesse social na expropriação pretendida, apresentando os motivos pelos quais pretende desapropriar aquele bem. Esse decreto, como todo ato administrativo do Poder Público, deve ser publicado (princípio da publicidade) para ter validade. - Chefe do Executivo: é oportuno relembrar que o Decreto é um ato normativo de competência privativa do Chefe do Executivo – Presidente (União), governadores (estados e CF) ou prefeitos (municípios) –, ou seja, sem participação do Poder Legislativo – Congresso Nacional (União), assembleia legislativa (estados), Câmara Legislativa (DF) ou câmara de vereadores (municípios) – nem do Poder Judiciário. Dito de outro modo, é o Chefe do Executivo, sozinho, quem emite o Decreto expropriatório. Decreto-lei n.º 3.365/1941 Art. 6º A declaração de utilidade pública far-se-á por decreto do Presidente da República, Governador, Interventor ou Prefeito. b) Competência: apenas os Entes Federados (U+E+DF+M) possuem competência para emitir o Decreto expropriatório (quem irá emitir é sempre o Chefe do Poder Executivo: Presidente, governador ou prefeito), observando-se o seguinte: - Desapropriação comum (utilidade e necessidade públicas): U+E+DF+M; - Desapropriação por interesse social (para fins urbanísticos): DF+M; Página 27 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist - Desapropriação por interesse social (para reforma agrária): apenas União; - Desapropriação confisco: apenas União. c) Efeitos do Decreto: a publicação do Decreto de desapropriação/expropriação produz os seguintes efeitos: - Indicação do estado do bem: a publicação do Decreto “fixa” o estado do bem, o que se destina para calcular o valor da indenização. Dessa forma, se o proprietário fizer alterações no bem em momento posterior à publicação do Decreto, mesmo que o valorizem, não terá direito a ser indenizado por essas benfeitorias. - Permissão para o Poder Público ingressar no bem (art. 7º, Decreto-lei n.º 3.365/1941): com a publicação do Decreto, o Ente expropriante também está autorizado a ingressar no bem com vistas a fazer medições, vistorias e afins, as quais se destinam a verificar se o bem atende aos objetivos da desapropriação, apurar seu valor de mercado, dentre outros. - Início do prazo de caducidade: por fim, a publicação do Decreto expropriatório também fixa a data de início da contagem do prazo de caducidade, que possui os seguintes períodos: - 2 anos: nas desapropriações por interesse social (IS=2a); - 5 anos: nas desapropriações por utilidade pública ou necessidade pública (UP+NP=5a). Decreto-lei n.º 3.365/1941 Art. 7º Declarada a utilidade pública, ficam as autoridades administrativas autorizadas a penetrar nos prédios compreendidos na declaração, podendo recorrer, em caso de oposição, ao auxílio de força policial. Àquele que for molestado por excesso ou abuso de poder, cabe indenização por perdas e danos, sem prejuizo da ação penal. d) Caducidade: a caducidade, vista acima, é o prazo que, se não for observado, impossibilita o prosseguimento da desapropriação. - Contagem: como visto antes, a contagem do prazo de caducidade inicia na dia em que o Decreto de desapropriação é publicado. - Prazos: também já foram vistos (IS=2a) (UP+NP=5a). - Interrupção do prazo: para que a caducidade não ocorra, antes da perfectibilização do prazo (2a ou 5a) deverá estar presente uma das seguintes situações (estudaremos ambas abaixo, na fase executória): - O Poder Público deverá ter conseguido transferir o bem para a sua propriedade: desapropriação amigável; ou - O Poder Público deverá ter proposto uma ação judicial para transferir o bem para a sua propriedade: desapropriação litigiosa. 7.5. Fase executória Na fase executória ocorrem as providências para transferir o bem objeto da desapropriação ao patrimônio do Poder Público expropriante e para assegurar o pagamento da indenização ao expropriado (antigo proprietário do bem). Página 28 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist a) Competência: para ultimar os atos expropriatórios, realizando um acordo com o proprietário ou propondo uma ação judicial, bem como efetuando o pagamento da indenização, a competência é mais elástica do que aquela da fase declaratória: - Administração direta: U+E+DF+M (aqui são os mesmos da fase declaratória); - Administração indireta: A+FP+EP+SEM; - Delegatários: são os permissionários e concessionários de serviços públicos. Ex.: empresa concessionária que explora o pedágio de uma rodovia, empresa concessionária que explora o transporte urbano de passageiros, empresa concessionária de energia elétrica ou telefonia… b) Desapropriação amigável: aqui, antes da fluência dos prazos de caducidade (UP+NP=5a e IS=2a), o expropriante (Administração direta, Administração indireta ou delegatários) e o expropriado (proprietário do bem) entram num acordo sobre a desapropriação e, portanto, não será necessário judicializar (propor ação judicial) a situação. - Escritura e indenização: ocorrendo a desapropriação amigável (acordo entre as partes), bastará, então, lavrar a escritura pública de transferência da propriedade do bem ao Poder Público, que deverá efetuar o pagamento da indenização acordada ao proprietário do bem. c) Desapropriação litigiosa: quando o acordo não acontece (desapropriação amigável), resta ao Poder Público propor uma ação judicial de desapropriação litigiosa, coisa que também deve ser feita antes da perfectibilização dos prazos de caducidade (UP+NP=5a e IS=2a). Aqui a grande peculiaridade é que neste processo judicial o expropriado somente poderá discutir duas situações (art. 20, Decreto-lei n.º 3.365/1941): - Valor da indenização: geralmente é o valor da indenização que impede a realização de um acordo administrativo entre as partes (desapropriação amigável), o que acaba levando ao ajuizamento do processo judicial de expropriação; - Vício do próprio processo judicial: como falta de citação ou ausência de pressupostos legais do próprio processo judicial. Atente-se que no processo judicial não se podem discutir os fundamentos da desapropriação. Isso significa que o expropriado não pode alegar ausência de utilidade pública, necessidade pública ou interesse social (art. 9º, Decreto-lei n.º 3.365/1941). Isso ocorre porque tais circunstâncias configuram mérito administrativo – oportunidade e conveniência do Poder Público em realizar a desapropriação –, sendo que o Poder Judiciário não pode analisar o mérito dos atos administrativos do Poder Executivo. Decreto-lei n.º 3.365/1941 Art. 9º Ao Poder Judiciário é vedado, no processo de desapropriação, decidir se se verificam ou não os casos de utilidade pública. Art. 20. A contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta. 7.6. Processo Judicial Como visto, não ocorrendo um acordo administrativo com o proprietário, com a transferência do bem para o patrimônio do Ente Público e o pagamento da indenização (desapropriação amigável), o expropriante (Administração direta, Administração indireta ou delegatários) deverá propor uma ação judicial (desapropriação litigiosa) antes da perfectibilização do prazo de caducidade (UP+NP=5a e IS=2a), que é contado da data da publicação do Decreto de expropriação. O processo judicial de desapropriação possui as peculiaridades abaixo. Página 29 de 40 Direito Administrativo II: Processo Administrativo Professor Rafael Kist a) Sujeito ativo (expropriante): o Autor da ação judicial será o Expropriante, que é o agente competente para promover a fase executória da desapropriação, ou seja (já vimos acima): - Administração direta: U+E+DF+M; - Administração indireta: A+FP+EP+SEM; ou - Delegados: permissionários e concessionários de serviços públicos.