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A importância da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares para a fitoterapia Josiane Ribeiro Ferreira A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), instituída no Brasil pela Portaria nº 971, de 2006, representa um marco significativo na área da saúde pública, principalmente ao promover o uso de tratamentos alternativos ou complementares ao modelo tradicional da medicina. Entre essas práticas, a fitoterapia se destaca como uma ferramenta fundamental, cujos benefícios são cada vez mais reconhecidos no cuidado à saúde. Neste artigo, argumentarei sobre a importância dessa política para a promoção da fitoterapia, destacando seus aspectos sociais, econômicos e de saúde pública. A fitoterapia, prática que utiliza plantas medicinais para tratar diversas condições de saúde, tem sido usada por milênios em diversas culturas. No entanto, no contexto ocidental, durante muito tempo, foi marginalizada em favor de medicamentos sintéticos. Com a criação da PNPIC, o Brasil deu um passo importante para integrar práticas alternativas e complementares no sistema público de saúde, oferecendo a fitoterapia como uma opção viável e segura para os cidadãos.O reconhecimento oficial da fitoterapia, como parte integrante da atenção primária à saúde, proporciona aos pacientes acesso a tratamentos baseados no uso de plantas medicinais de forma segura e regulada. Esse reconhecimento, além de ampliar o leque de opções terapêuticas, reforça o princípio da medicina integrativa, que busca tratar a pessoa como um todo, respeitando sua individualidade e história de vida. A implementação da PNPIC no Sistema Único de Saúde (SUS) teve um impacto direto na inclusão de terapias naturais, como a fitoterapia, nas unidades de saúde pública. Ao oferecer fitoterápicos, o SUS amplia as opções de tratamento, especialmente para as populações que têm dificuldades de acesso a medicamentos de alto custo. Isso é particularmente relevante em um país como o Brasil, onde as desigualdades sociais e regionais impactam diretamente o acesso à saúde de qualidade.Além disso, a utilização de fitoterápicos é uma estratégia eficaz no manejo de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e doenças respiratórias, que afetam uma grande parte da população brasileira. A fitoterapia oferece uma alternativa terapêutica que pode ser combinada com outros tratamentos, reduzindo a necessidade de medicamentos sintéticos e, consequentemente, o risco de efeitos colaterais. Outro ponto importante da PNPIC é seu potencial de fomentar a economia local, especialmente nas regiões onde as plantas medicinais são abundantes. O cultivo e o processamento de plantas para a produção de fitoterápicos podem gerar empregos e desenvolver economias regionais, além de promover a sustentabilidade. Ao incentivar a produção local, a política contribui para o fortalecimento da agricultura familiar e do comércio de produtos naturais, proporcionando uma alternativa viável para pequenos produtores e cooperativas.A adoção de fitoterápicos também pode representar uma estratégia de contenção de custos para o sistema público de saúde, pois esses produtos, em muitos casos, apresentam preços mais acessíveis que os medicamentos sintéticos. Ao incluir práticas como a fitoterapia nas políticas públicas de saúde, o Brasil pode reduzir a pressão sobre os custos com medicamentos e tratamentos convencionais, ao mesmo tempo em que incentiva a preservação de saberes tradicionais e o respeito à biodiversidade. Apesar dos avanços significativos, a implementação plena da PNPIC ainda enfrenta desafios. A formação de profissionais de saúde, que precisam ser capacitados no uso de fitoterápicos, é um passo fundamental. Para que a fitoterapia seja eficaz e segura, é necessário que médicos, farmacêuticos e outros profissionais de saúde estejam bem informados sobre as plantas medicinais, suas indicações, dosagens e possíveis interações com outros medicamentos. Além disso, é importante que haja uma maior regulamentação e controle da qualidade dos fitoterápicos disponíveis no mercado. A conscientização sobre o uso correto dessas terapias é essencial para evitar abusos e garantir a segurança dos pacientes. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares representa uma conquista significativa para a saúde pública no Brasil, especialmente ao reconhecer a fitoterapia como uma prática legítima e eficaz dentro do SUS. Ao integrar a fitoterapia ao sistema de saúde, o Brasil não apenas amplia as opções terapêuticas para a população, mas também fomenta a sustentabilidade econômica, o fortalecimento das economias locais e a valorização dos saberes tradicionais. Para que essa política seja plenamente eficaz, no entanto, é fundamental o investimento na formação de profissionais e na regulamentação dos produtos, garantindo a segurança e a qualidade dos tratamentos fitoterápicos. Assim, a PNPIC pode se tornar um pilar importante para a promoção de uma saúde mais integrada, acessível e sustentável para todos. REFERÊNCIA Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria nº 702, de 21 de março de 2018. Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC. Diário Oficial da União 2018; 23 mar. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Relatório de Gestão 2006/2010 Práticas Integrativas e Complementares no SUS Brasília: MS; 2011. Habimorad PHL, Catarucci FM, Bruno VHT, Silva IBD, Fernandes VC, Demarzo MMP, et al. 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