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ECA E ESTATUTO DO IDOSOUNIDADE 1 Noções Históricas e Doutrinárias Contextualizando "A criança e o adolescente são o alicerce da sociedade dos anos vindouros, necessitando estes de especial atenção para que bem se desenvolvam." Lei 8.069/90, Artigo 4º. Vamos começar refletindo? Tendo em vista os direitos da criança e do adolescente, reflita sobre esses problemas reais que envolvem os menores: · filas em hospitais; · falta de atendimento médico pediátrico especializado; · falta de escolas de ensinos infantil e fundamental em várias localidades do país; · falta de transporte especializado no deslocamento para as escolas; · ausência de formação acadêmica de qualidade, em especial, de formação profissionalizante. Tente responder às questões: como está a proteção de tais direitos? Como está a legislação específica no que tange a tais problemas? Ficou em dúvida? Não se preocupe! Você terá condições de responder a todas essas questões através do estudo desta primeira unidade da nossa disciplina, em especial, com a análise dos direitos assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como direitos fundamentais. Selecione cada um dos cards abaixo para entender alguns conceitos importantes que vamos falar ao longo de toda a Unidade. É importante que você esteja em sintonia com essas definições, porque também vamos tratar delas em nossa disciplina. Quem é criança? São consideradas crianças as pessoas com idade até 12 anos incompletos. Quem é adolescente? São considerados adolescentes aqueles com idade de 12 anos completos até 18 anos incompletos. O que é o direito da criança e do adolescente? É o ramo do Direito integrado por um conjunto de leis gerais e específicas que dispõe sobre os direitos das crianças e dos adolescentes, entendendo-os como cidadãos, sujeitos de direitos e de deveres, e não como meros objetos de proteção ou regulação jurídica, como ocorria no passado. “Aqui, refletimos alguns conceitos iniciais, como a definição de criança e adolescente. A seguir, teremos algumas noções históricas e doutrinárias.” Um pouco de história: como surgiram as leis de proteção da criança e do adolescente. Você sabia que a proteção da criança e do adolescente pelo Direito é de origem recente? · Sim! Correto Você está certo! As legislações mais antigas não apresentavam qualquer traço de proteção da infância ou da juventude. · Direito do menor x direito da criança e do adolescente: diferença ente o direito do menor e o direito da criança e do adolescente. · ECA: o inicio do Estatuto da Criança e do Adolescente. · E como esta questão evoluiu ao longo dos anos na legislação brasileira? 1824, 1830, 1890 e 1891 · No Brasil, a Constituição Política do Império de 1824 não fazia qualquer menção à proteção de direitos das crianças e dos adolescentes. · A visão dos menores como infratores de leis penais, em uma forma de direito penal juvenil, apareceu no Código Criminal de 1830 e no Código Penal de 1890, com os primeiros traços de responsabilização dos menores por infrações de natureza penal cometidas. · A Constituição da República de 1891 também não fazia qualquer menção aos direitos das crianças ou dos adolescentes. 1927 No ano de 1927, foi promulgado o Código de Menores, que ficou popularmente conhecido como Código Mello Mattos, primeiro diploma legal direcionado aos menores de 18 anos. Entretanto o Código não protegia os menores de forma ampla. Em seu art. 1º, apenas demonstrava uma preocupação. “com o menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e proteção contidas neste Código”. O Código significou, em especial, uma evolução das medidas aplicadas aos adolescentes delinquentes, afastando a ideia da simples punição e substituindo-a pela ideia de sanção-educação. 1934 A Constituição de 1934, no seu art. 138, incluiu, no âmbito da proteção constitucional, a proteção à criança e ao adolescente, fixando como dever do Estado: · amparar a maternidade e a infância; · socorrer as famílias de prole numerosa; · proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra os abandonos físico, moral e intelectual; · adotar medidas legislativas e administrativas (tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis) e de higiene social (que impeçam a propagação das doenças transmissíveis). 1937 No Estado Novo, com a Constituição de 1937, os direitos da criança e do adolescente ganharam uma previsão mais ampla. O art. 16, XXVII, trata da competência da União para legislar sobre as normas concernentes da defesa e proteção da saúde e da criança. Já o art. 127 dispõe que a infância e a juventude merecem cuidado e garantias especiais por parte do Estado e dos municípios, incluindo garantia de acesso ao ensino público e gratuito. 1940 O Código Penal de 1940 fixou a inimputabilidade penal aos 18 anos, determinando a aplicação da legislação especial aos menores infratores . 1946 e 1967 A Constituição de 1946, no art. 164, dispôs a obrigatoriedade, em todo o território nacional, da assistência à maternidade, à infância e à adolescência. A lei instituiu o amparo de famílias de prole numerosa. No art. 157, IX, proibiu o trabalho em indústrias insalubres aos menores de 14 anos e às mulheres e de trabalho noturno aos menores de 18 anos, respeitadas, em qualquer caso, as condições estabelecidas em lei e as exceções admitidas pelo juiz competente. O mesmo modelo foi adotado pela Constituição de 1967 e pela Emenda 1, de 1969. 1979 O Código de Menores, Lei nº 6.679/79, surgiu objetivando a proteção e a assistência da criança e do adolescente. Inspirado pela ideologia da Doutrina da Situação Irregular, surgiu a concepção de menor em situação irregular, considerando os menores praticantes de atos infracionais como objeto de regulação pela norma jurídica, e não como sujeitos de direitos. A constituição de 1988 e o ECA são dois marcos nas legislações e nas questões relativas ao menor. Vamos entender o porquê? CONSTITUIÇÃO DE 1988 ECA É um marco de transição entre a visão dos menores · como objeto de atuação do direito para a visão do menor como sujeito de direitos. · Adotou a Doutrina da Proteção Integral e do atendimento prioritário a crianças e adolescentes, · Destina o Capítulo VII ao tratamento constitucional da família, da criança, do adolescente, do jovem e do idoso. Substituiu o Código de Menores e ampliou a proteção e a regulação legal dos assuntos inerentes à infância e à juventude. E você sabe como isso aconteceu? O Estatuto adotou expressamente a Doutrina da Proteção Integral e o Princípio do Melhor Interesse, enxergando crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, devendo ser protegidos pelo Estado, pela sociedade e pela família. Crianças em situação de abandono ou conflito também têm seus direitos garantidos. O Estatuto da Criança e do Adolescente garantiu os direitos fundamentais até mesmo aos menores em situação de abandono ou de conflito com a lei, que antes eram meros objetos de tutela do Estado por meio da legislação menorista anterior. Teste agora seus conhecimentos sobre as diferenças entre o direito do menor e o direito da criança e e do adolescente, arrastando as definições do primeiro quadro para o lugar correto. DIREITO DO MENOR DIREITO DA CRIANÇA E ADOLECENTE O menor era objeto de proteção, visto como menor abandonado ou delinquente. Constituição Federal de 1988 e ECA- Lei nº 8.069Q/1990. Adota a Doutrina da Situação Irregular. Adota a Doutrina da Proteção Irregular e o Princípio do Melhor Interesse. Código de Menores de 1979. A criança e o adolescente têm seus direitos reconhecidos e protegidos. A criança e o adolescente são sujeitos de direitos. A LEI MENORISTA NO BRASIL Mudança de ótica sobre o direito da criança e do adolescente. Com a entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente, passou-se a enxergar a criança e o adolescente como: Ideologia atual Sujeito de direito Ideologiaanterior: Objetos do direito O direito da criança e do adolescente configura um novo ramo do direito. Mas o que isso significa? Significa que sua formação se deve, em especial, a entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente, que, rompendo com a ideologia anterior, passou a enxergar a criança e o adolescente como sujeitos de direito, e não simplesmente como objetos de direitos. É superimportante que você entenda que, a partir dessa mudança de ótica, formou-se, com autonomia sobre os direitos civil, penal e processual, um ramo autônomo que engloba a proteção da criança e do adolescente com aspectos civis, penais e processuais específicos. O objeto de regulação do direito da criança e do adolescente envolve inúmeros aspectos, em diferentes momentos, referentes a estes sujeitos de direito. Início: Definição A regulação inicia a proteção definindo quem é criança ou adolescente e estabelecendo os direitos de ambos. Ainda regula a família, tratando de suas espécies e da possibilidade de colocação em famílias substitutas, por meio da guarda, tutela e adoção. Meio: Estabelece os critérios Em seguida, estabelece os critérios de prevenção na proteção da criança e do adolescente, regulando a educação, o trabalho, as viagens, entre outros. Ainda prevê as medidas de proteção aplicáveis a crianças e adolescentes em situação de risco e pela prática de atos infracionais, inclusive prevendo as entidades de atendimento e as suas atribuições e funções e regulando as consequências. Também estabelece os mecanismos policiais e processuais de atuação nessas situações. Fim: Protege O direito da criança e do adolescente também traz um regramento processual, dispondo sobre a competência da Justiça da Infância e da Juventude e estabelecendo procedimentos processuais para as demandas envolvendo os interesses dos menores de 18 anos. Por fim, o direito da criança e do adolescente os protege penal e administrativamente, prevendo crimes e infrações administrativas praticados contra os menores de 18 anos. Percebe-se, portanto, que o direito da criança e do adolescente traduz uma ampla gama de regras jurídicas, envolvendo os mais diversos aspectos inerentes a esses entes, representando importante ramo do direito na colaboração com o desenvolvimento social do Brasil. A forma como o ordenamento jurídico trata as crianças e os adolescentes de um determinado país representa sua maior ou menor preocupação com o futuro da sociedade e do próprio país. O conceito de criança e de adolescente foi dado pelo ECA levando em consideração um critério etário. Entretanto, o ECA pode ser aplicado excepcionalmente às pessoas que tenham entre 18 e 21 anos de idade, como ocorre em situações de adoção e de cumprimento de medidas socioeducativas. Como vimos anteriormente, o art. 2º do ECA define quem é criança e quem é adolescente, dispondo que “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade”. O âmbito de aplicação do direito da criança e do adolescente está caracterizado por seu objeto de proteção – os menores de 18 anos. Você pode estar se perguntando: existe alguma exceção? A resposta é sim! · As regras do ECA podem ser aplicadas aos maiores de 18 anos, especificamente para aqueles que têm entre 18 e 21, em situações excepcionais, desde que previstas expressamente pela legislação menorista. É o que ocorre, por exemplo, na aplicação de medidas socioeducativas aos maiores de 18 anos que praticaram os atos infracionais ainda quando menores, mas somente estão sofrendo a aplicação das medidas após terem completado 18 anos. Estas medidas podem perdurar até os 21 anos, quando então devem cessar compulsoriamente. A gestante e o nascituro também estão protegidos. O ECA também estende sua proteção à gestante e ao nascituro (arts. 8º, 9º e 10, do ECA). A Constituição Federal de 1988 também confere a absoluta prioridade ao jovem e, no ano de 2013, foi aprovado o Estatuto da Juventude, Lei nº 12.852/2013. Por definição, jovem é a pessoa que tem entre 15 e 29 anos de idade. Portanto, temos o jovem adolescente (dos 15 aos 18 anos incompletos) e o jovem adulto (dos 18 aos 29 anos) O DIREITO DO MENOR E OUTROS DIREITOS O direito da criança e do adolescente guarda relação intrínseca com outros ramos do Direito. Ele está relacionado diretamente ao Direito Internacional Público e Privado, por meio de convenções internacionais, como: 1. Convenções da OIT de 1919 que dispõem sobre os direitos trabalhistas das crianças. 2. Convenção sobre a idade mínima para trabalho e convenção sobre o horário de trabalho e proibição de exercício de algumas atividades por crianças. Por outro lado, a Declaração dos Direitos da Criança (1959) conferiu maior previsão e proteção dos direitos , permitindo o reconhecimento da vulnerabilidade e da posição da criança como sujeito de direitos que precisa ser protegido. Mais tarde, surgiu a Convenção sobre Direitos da Criança de 1989, que classifica como criança os menores de 18 anos, sem qualquer distinção entre crianças e adolescentes, mantendo a posição de sujeitos de direitos e conferindo maior coercibilidade das suas regras. Crianças são sujeitos de direito. Direito Constitucional: Há afinidade com o Direito Constitucional, que assegura uma série de direitos específicos a crianças e adolescentes no âmbito da proteção constitucional. Direito Civil: Há reflexos no Direito Civil, como regras inerentes à adoção, à maioridade, ao poder familiar, à capacidade, entre outras. Direito Penal: No âmbito do Direito Penal, há reflexos não somente na definição da imputabilidade, mas também na proteção de direitos da criança e do adolescente por meio de crimes específicos. Direito Trabalhista: No Direito Trabalhista, também encontramos reflexos, por exemplo: o trabalho do menor, a aprendizagem, os requisitos dos contratos de trabalho e direitos trabalhistas, entre outros. DOUTRINAS JURÍDICAS DE PROTEÇÃO O ECA é a Doutrina da Proteção Integral das crianças e dos adolescentes. Esta doutrina baseia-se em orientação prevista e também em convenções internacionais sobre o tema, em especial, a Declaração dos Direitos da Criança, fruto da Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela ONU no fim da década de 1980. A adoção dessa Convenção, pelos países que a ratificam, traz uma série de medidas coercitivas que devem ser observadas na proteção dos menores de 18 anos. A base da doutrina está no reconhecimento de que é impossível proteger as crianças e os adolescentes, sem reconhecer-lhes os direitos mais abrangentes, sem entendê-los como cidadãos e sem garantir-lhes uma proteção mais ampla. A Convenção Internacional dos Direitos da Criança foi ratificada pelo Decreto nº 28/1990. A partir da Emenda Constitucional nº 45/2004, deve ser reconhecida como "Normas Supralegais", prevalecendo sobre a legislação ordinária brasileira. Na doutrina, encontram-se arrolados outros princípios presentes no ECA. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO: Este princípio divide-se em prevenção estatal ou geral e prevenção especial. · Prevenção estatal ou geral: necessidade de o Estado e a sociedade proverem as crianças e os adolescentes de tudo o que for necessário para os seus desenvolvimentos intelectual, físico, moral etc. · Prevenção especial: está relacionada à necessidade de controle e fiscalização do acesso das crianças e dos adolescentes a eventos, produtos e serviços que possam prejudicar sua formação e desenvolvimento de valores morais. Exemplo: o controle por faixas etárias da programação televisiva ou de espetáculos, bem como a proibição do fornecimento de bebidas alcoólicas, armas, fogos de artifício, entre outros produtos ou serviços que se mostrem perigosos ou ofensivos. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE: Previsto pelo ECA em seu art. 6º, quando dispõe que “na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e doadolescente como pessoas em desenvolvimento”. Assim, havendo mais de uma interpretação possível para as regras contidas na legislação, devem prevalecer sempre as mais protetivas aos direitos da criança e do adolescente. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO LEGAL: Disposto no art. 3º do ECA, quando reconhece que “a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. PRINCÍPIO DA PRIORIDADE: Previsto no art. 4º: "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. DIREITOS FUNDAMENTAIS · Proteção Integral; · Direito à vida e a saúde; · Direito à educação; · Direito à profissionalização; · Direito a lazer e à cultura. O Estatuto assegura uma série de direitos fundamentais às crianças e aos adolescentes que está relacionada à condição de pessoa em desenvolvimento e necessária para a proteção integral. Proteção integral O Princípio da Proteção Legal está disposto no art. 3º do ECA, quando reconhece que “a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar os desenvolvimentos físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. Direto à vida e à saúde O art. 7º do ECA assegura que a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Direito da criança e do adolescente à saúde. Para a efetivação desses direitos, o ECA assegura uma série de direitos e garantias aplicáveis desde a gestação até a proteção da criança após o nascimento. Tais direitos se estendem às gestantes, conforme previsto nos seguintes artigos: Art. 8º Garante o devido acompanhamento pré e perinatal por profissionais qualificados. Art. 9º Garante o direito ao aleitamento, seja no local de trabalho, seja nos casos de privação de liberdade. Art. 10 São previstos os deveres dos estabelecimentos de saúde responsáveis pelo atendimento das gestantes e pela execução dos partos. Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: I – manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de 18 anos; II – identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; III – proceder a exames visando ao diagnóstico e à terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais; IV – fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; V – manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe. Ainda quanto à defesa do direito à vida e à saúde, o ECA protege as crianças e os adolescentes de eventuais maus-tratos, determinando que estes casos devem ser imediatamente comunicados ao Conselho Tutelar, conforme o art. 13. O mesmo artigo também dispõe que as gestantes que manifestarem a vontade de entregar seus filhos devem ser encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude. As medidas de cuidados médicos e odontológicos são asseguradas pelo art. 14, bem como o dever de vacinação, todos creditados ao Sistema Único de Saúde (SUS). A Lei da Primeira Infância, Lei nº 13.257/16, também dispõe sobre a proteção da saúde de gestantes, mães e crianças, durante a primeira infância, prevendo uma série de medidas assecuratórias do direito à saúde. O ECA também protege o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Mas de que maneira esse direito é garantido? Siga em frente e descubra! O art. 15 dispõe que todas as crianças e os adolescentes têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. O direito á liberdade compreende: I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – brincar, praticar esportes e se divertir; V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI – participar da vida política, na forma da lei; VII – buscar refúgio, auxílio e orientação. No tocante ao direito à liberdade, os tribunais superiores se depararam com julgamentos sobre leis locais ou portarias do Poder Judiciário sobre o denominado “toque de recolher”, estabelecendo horários limites para crianças e adolescentes transitarem ou permanecerem em logradouros públicos. Os tribunais entenderam que tais leis violam o direito à liberdade assegurado pela Constituição e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, como se depreende do julgamento do habeas corpus coletivo, HC 207.720 julgado pelo STJ. No mesmo sentido, o STJ, no julgamento do HC 320.938, entendeu que a portaria do juiz da infância e da juventude que proibia a frequência de adolescentes desacompanhados em shopping centers, com a finalidade de impedir os chamados “rolezinhos”, consistia em violação do direito de ir e vir, sendo concedido habeas corpus para afastar a medida. No que tange ao direito ao respeito e à dignidade, fruto da Doutrina da Proteção Integral, as crianças e os adolescentes têm direito à inviolabilidade das suas integridades física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, das ideias, das crenças, dos espaços e dos objetos pessoais, conforme disposto no art. 17. Crianças têm direito à inviolabilidade de sua integridade física. Ainda neste contexto, é possível falar em proteção do direito à imagem, sendo vedada a veiculação de imagem e nome em meio de comunicação, até mesmo a veiculação de iniciais dos adolescentes que possivelmente cometeram atos infracionais. Também está vedada a exposição de imagens de crianças e adolescentes que são vítimas de atos de violência. Outro ponto relevante é a proteção contra o bullying, instituída pela Lei nº 13.185/2015, que determina o programa de combate à intimidação sistemática. As características da prática do bullying são, nos termos do art. 2º, a intimidação sistemática quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda: I – ataques físicos; II – insultos pessoais; III – comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; IV – ameaças por quaisquer meios; V – grafites depreciativos; VI – expressões preconceituosas; VII – isolamento social consciente e premeditado; VIII – pilhérias. Além dessas situações, o parágrafo único prevê que há intimidação sistemática na rede mundial de computadores (cyberbullying) quando são usados os instrumentos que são próprios para depreciar, incitar a violência, e adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial. Quanto às ações práticas do bullying, o art. 3º, da Lei nº 13.185/2015, prevê que a intimidação sistemática pode ser classificada, conforme as ações praticadas, como: I – verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente; II – moral: difamar, caluniar e disseminar rumores; III – sexual: assediar, induzir e/ou abusar; IV – social: ignorar, isolar e excluir;V – psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar; VI – físico: socar, chutar e bater; VII – material: furtar, roubar e destruir pertences de outrem; VIII – virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, e enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social. A recente alteração no ECA, introduzida pela denominada Lei da Palmada, proibiu que sejam utilizados castigos físicos ou tratamentos cruéis ou degradantes no tratamento com crianças ou adolescentes. O art. 18 assegura à criança o direito de ser educada e cuidada sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidá-la, tratá-la, educá-la ou protegê-la. O parágrafo único, do mesmo dispositivo, considera castigo físico a ''ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em: sofrimento físico; ou lesão, independentemente da gravidade; e como tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: humilhe; ameace gravemente; ou ridicularize.'' As pessoas envolvidas nos atos de violência física ou de tratamento degradante contra crianças ou adolescentes, na forma do art. 18-B, ficam sujeitas, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas que serão aplicadas pelo Conselho Tutelar de acordo com a gravidade do caso: encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família; encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; encaminhamento a cursos ou programas de orientação; obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; advertência. Segundo o art. 18, a proteção desses direitos (em especial, o da dignidade) é dever de todos, pondo as crianças e os adolescentes a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Direito à educação O desenvolvimento da pessoa humana dentro de valores de cidadania e de trabalho depende, sem dúvida, de esforços na sua educação. O ECA, no art. 53, assegura o direito à educação, fixando uma série de direitos inerentes a ele: · I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; · II – direito de ser respeitado por seus educadores; · III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; · IV – direito de organização e participação em entidades estudantis; · V – acesso à escola pública e gratuita perto de sua residência. O ECA também assegura aos pais o acesso a informações sobre a educação dos seus filhos. A educação pode ser dividida em etapas. EDUCAÇÃO BÁSICA: A educação é subdividida em: · Educação infantil, em creches e pré-escolas, às crianças de zero a cinco anos de idade, com a atuação dos municípios. · Ensino fundamental, da 1º a 9º série com atuação dos municípios e dos estados. · Ensino médio, com três anos de duração, em regra, indo até os 17 anos, com atuação dos estados. EDUCAÇÃO SUPERIOR: A educação superior subdivide-se em: · Cursos superiores de graduação e tecnólogos. · Pós-graduação, com atuação de estados e da União. Quanto ao papel do Estado como provedor da educação formal, o ECA prevê, no art. 54, uma série de obrigações estatais que devem ser fiscalizadas pelo Conselho Tutelar e pelo Ministério Público, além do controle judicial. Já com relação ao pais, é obrigação deles matricularem seus filhos menores na rede regular de ensino (art. 55). A inobservância desta pode caracterizar crime de abandono intelectual previsto no art. 246, do Código Penal. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: · I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; · II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; · III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; · IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; · V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; · VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; · VII – atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. O processo educacional voltado ao desenvolvimento da criança e do adolescente, a partir do reconhecimento de sua condição de pessoa em desenvolvimento, deve respeitar valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo a eles a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. (art. 58) Direito à profissionalização Dispõe o art. 60: “É proibido qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade, salvo na condição de aprendiz”. Entretanto, a Constituição Federal dispõe no art. 7: “XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos". Ou seja, a regra estabelecida pelo ECA não foi recepcionada pela Constituição após as alterações introduzidas pela Emenda nº 20/1998. Menores de 16 anos só podem trabalhar como aprendizes. Assim, o trabalho dos menores pode ocorrer entre 16 e 18 anos em qualquer atividade laborativa, desde que não seja insalubre, perigosa ou noturna. Entre os 14 e 16 anos, somente na qualidade de aprendiz. Antes de 14 anos, qualquer tipo de trabalho é proibido pela Constituição. Para que fique bem claro para você quais as permissões e proibições de trabalho para cada idade, arraste os cards com as informações para a idade correta. Menor de 18 anos Proibido trabalho insalubre e noturno. Menor de 16 anos, a partir de 14 anos Não pode trabalhar, salvo como aprediz. Menor de 14 anos Não pode trabalhar em hipótese alguma. ARTIGO 62: O art. 62 dispõe que se considera aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor. A aprendizagem pode ser desenvolvida diretamente por instituições de ensino, mas também pode ser ofertada por empresas. ARTIGO 63: Quanto à formação técnico-profissional, o art. 63 dispõe que obedecerá aos seguintes princípios: I – garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; II – atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; III – horário especial para o exercício das atividades. ARTIGO 64: Já os aspectos trabalhistas do trabalho dos menores estão regulados pelo art. 64, dispondo que, ao adolescente até 14 anos de idade, é assegurada bolsa de aprendizagem. ARTIGO 65: Já o art. 65 assegura, ao adolescente aprendiz, maior de 14 anos, os direitos trabalhistas e previdenciários. ARTIGO 66: O art. 66 protege o adolescente com deficiência, assegurando trabalho protegido, ou seja, condizente com sua condição. ARTIGO 67: O ECA, no art. 67, veda ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não governamental, o trabalho: I – noturno, realizado entre das 22h de um dia às 5h do dia seguinte; II – perigoso, insalubre ou penoso; III – realizado em locais prejudiciais à sua formação e aosseus desenvolvimentos físico, psíquico, moral e social; IV – realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola. ARTIGO 68: O trabalho educativo consiste na atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas aos desenvolvimentos pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo. Está regulado pelos art. 68 e tem por objetivo a capacitação, dispondo que o programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou não governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada. O § 2º prevê que a remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo. ARTIGO 69: Por fim, o art. 69 dispõe que o adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observados, dentre outros, os seguintes aspectos: I – respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; II – capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. Direito ao lazer e à cultura O Estatuto da Criança e do Adolescente assegura, no art. 59, que os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. image1.jpeg