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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – CCHL
CURSO: DIREITO DIURNO
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
PROFESSOR: JOAQUIM
NIETZSCHE, FRIEDRICH WILHELM.
 OBRAS INCOMPLETAS
 
 Fiama Nadine Ramalho de Sá
Teresina, 2012
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Obras Incompletas. Seleção de textos de Gérard Lebrun. Tradução e notas de Rubens Rodrigues. Posfácio de Antônio Cândido. 3. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
PARA ALÉM DO BEM E DO MAL – Prelúdio de uma filosofia do porvir.
Capítulo I – Dos preconceitos dos filósofos
Para Nietzsche, é impossível algo nascer do seu oposto, pelo contrário, é no seio do ser, do imperecível, no Deus escondido, na “coisa em si”, é ali que tem de estar seu fundamento, ou em nenhuma parte! Já os metafísicos que buscam “a verdade” creem na oposição de valores. Admitir a inverdade como condição de vida: isto significa, sem dúvida, opor resistência, de uma maneira perigosa, aos sentimentos de valor habituais; e uma filosofia que se atreve a fazê-lo se coloca, simplesmente com isso, para além do bem e do mal. Diz ainda que é tempo, afinal, de substituir a pergunta kantiana “Como são possíveis juízos sintéticos a priori?” por outra pergunta: “Porque a crença em tais juízos é necessária?”, ou para dizê-lo mais claramente, e de um modo mais grosseiro e radical: juízos sintéticos a priori não deveriam de modo algum “ser possíveis”. 
Há ainda inofensivos observadores de si, que acreditam que há certas “certezas imediatas”, por exemplo, “eu penso”, se decompondo o processo que está expresso na proposição “eu tenho”, o autor acredita que pode obter uma série de afirmações temerárias, cuja fundamentação é difícil, talvez impossível. Basta dizer que aquele “eu penso” pressupõe que eu compare meu estado no instante com outros estados que conhecemos em nós, para assim estabelecer o que ele é: dada essa remetência a um saber, de outra procedência, ele não tem para Nietzsche, em todo caso, nenhuma certeza imediata. 
Capitulo II – O espírito livre
Em outro parágrafo, Nietzsche nos lembra que encontramos fundamentos e mais fundamentos, em compensação, que poderiam induzir-nos a suposições de que há um principio enganoso na “essência das coisas”. A crença em “certezas imediatas” é uma ingenuidade moral, que nos honra, a nós filósofos: mas por uma vez não devemos ser homens somente morais. O filosofo adquiriu aos poucos um direito ao mau caráter, como o ser que até agora sobre a terra foi sempre o melhor ludibriado. Confesse-se pelo menos isto: nenhuma vida teria subsistido, se não fosse sobre o fundamento de estimativas perspectivas e aparências; e, se quisesse, com a virtuosa inspiração e rudeza de tantos filósofos, abolir inteiramente o mundo aparente, então, suposto que vós pudésseis, pelo menos, com isso, nada mais restaria também de vossa verdade. 
Para ele, temos de fazer um ensaio de pôr hipoteticamente a causalidade da vontade como a única. Vontade, naturalmente, só pode fazer efeito sobre vontade e não sobre matéria. Supõe ainda que desse certo explicar toda a nossa vida de impulsos como a conformação e ramificação de uma forma fundamental da vontade. Toda forma eficiente univocamente como: vontade de potência. Sobre os filósofos do futuro, ele diz que serão espíritos livres, muito livres. Já a sua corrente, os inversos, abrimos um olho e uma consciência para a pergunta: onde e como até agora a planta homem cresceu mais vigorosamente em altura, isso aconteceu, toda vez, sob as condições inversas, que, para isso, a periculosidade de uma situação tinha antes de crescer até o descomunal, sua força de invenção e de disfarce, serve tão bem à elevação da espécie humana quanto seu oposto. 
Capitulo III – A religiosidade 
Em relação a este termo, o autor nos diz que quem olhou em profundidade para dentro do mundo, advinha bem que sabedoria há em que s homens sejam superficiais. É seu instinto de conservação que nos ensina a serem fugazes, leves e falsos. Encontra-se aqui e ali, uma apaixonada e exagerada adoração das formas puras, em artistas: que ninguém duvide que necessite dessa forma do culto da superfície fez alguma vez uma incursão infeliz por baixo dela. Talvez, para essas crianças escaldadas, os artistas natos que só encontram ainda a fruição da vida no propósito de falsear sua imagem, haja até mesmo uma ordenação hierárquica: poder-se-ia calcular o grau de seu desgosto pela vida considerando até que ponto deseja ver a imagem falsificada, rarefeita, alienada no além, divinizada. O medo daquele instinto que presente que se poderia chegar à posse da verdade cedo demais, antes que o homem se tenha tornado forte o bastante, duro o bastante, artista o bastante. A devoção, a vida em Deus, considerada com este olhar, apareceria como o mais refinado e ultimo rebento do medo da verdade, como adoração e embriaguez de artista diante da mais consequente de todas as falsificações, como a vontade de inversão da verdade, de inverdade a todo preço. Talvez, até agora, não houve nenhum meio mais forte para embelezar o próprio homem do que justamente a devoção. 
Capitulo V – Para a história natural da moral
Segundo Nietzsche, em toda a ciência da moral, até agora, faltou, por estranho que isso possa soar, o próprio problema da moral. O que os filósofos denominam fundamentação da moral e exigem de si era, visto à luz correta, somente uma forma erudita da boa-fé na moral dominante, um novo meio de sua expressão, portanto um estado de coisas no interior de uma determinada moralidade e até mesmo, no último fundamento, uma espécie de negação de que essa moral possa ser captada como problema. 
Toda moral é, uma parte de tirania contra a natureza e também contra a razão, o essencial e inestimável de toda moral é que ela é uma longa coação. Só se desenvolveu em virtude da tirania de tais leis arbitrárias. Mas uma coisa para o autor é certa, somos mais artistas do que sabemos. 
O autor ressalta ainda que moral na sua época é na Europa, moral de rebanho, aliás com o auxilio de uma religião que fazia a vontade dos mais sublimes apetites de animal de rebanho, e os adulava, chegou o ponto em que, mesmo nas instituições políticas e sociais, encontramos uma expressão cada vez mais visível dessa moral: o movimento democrático é o herdeiro do cristão. Já aqueles que seguem outra crença (como Nietzsche) o movimento democrático não é meramente uma forma de degradação da organização política, mas uma forma de degradação, ou seja, de apequenamento do homem, sua mediocrização e rebaixamento de valor. A degeneração geral do homem , até chegar àquilo eu hoje aparece aos broncos e cabeças rasas da socialismo homem do futuro, como seu ideal. 
Capitulo VI – Nós, eruditos
Insiste ainda que se deixe, afinal, de confundir os trabalhadores filosóficos e em geral os homens científicos com os filósofos. Pode ser necessário para a educação do filosofo efetivo que ele próprio tenha também estado em todos esses graus, nos quais seus servidores, os trabalhadores científicos da filosofia se detêm. Mas isto tudo são somente condições prévias de sua tarefa: essa tarefa mesma quer algo outro, reclama que se crie valores. 
Capitulo VII – Nossas virtudes
Nas palavras do autor, a sua compaixão é uma compaixão superior, que enxerga mais longe. Enxergam que no homem, criatura e criador estão unificados: no homem há matéria, fragmento, excedente, argila, lodo, insensatez, caos: mas no homem há também criador, formador, dureza de martelo, divindade de espectador e sétimo dia.
Ao explicar vontade fundamental de espírito, ele diz que a serviço dessa vontade está o impulso de espírito, aparentemente oposto, uma decisão, que irrompe subitamente, de ignorância, de exclusão arbitrária, um fechar suas janelas, um intimo dizer não a esta ou aquela coisa um não deixar aproximar, uma espécie de estado de defesa contra muito do que se poderia saber. Do mesmo modo entra aqui, a ocasional vontade do espírito dedeixar-se enganar, talvez com um malicioso pressentimento de que não é assim e assim, de que justamente só se faz de conta que é assim e assim, um gosto por toda insegurança e plurivocidade. Contra essa vontade de aparência, de simplificação, de mascara, de manto, em suma de superfície é que atua aquela sublime propensão do conhecedor, que toma e quer o manto. 
Capitulo IX – O que é nobre?
Antes de tudo Nietzsche nós lembra que há a moral de senhores e moral de escravos, no primeiro caso, quando são os dominantes que determinam o conceito “bom”, são os estados de alma elevados, orgulhosos, que são sentidos como o distintivo e determinante da hierarquia. Tudo o que ele conhece em si, ele honra: tal moral é glorificação de si. São os poderosos que entendem de honrar, esse é a sua arte, seu reino de invenção. A profunda veneração pela idade e pela tradição, a crença e o preconceito em favor dos antepassados e em desfavor dos vindouros são típicos da moral dos poderosos.
É diferente com o segundo tipo de moral, a moral de escravos. O olhar do escravo é desfavorável às virtudes do poderoso: ele tem skepsis e desconfiança, tem refinamento desconfiança, tem refinamento de desconfiança contra todo o com que é honrado ali. Aqui fica em lugar de honra a compaixão, a complacente mão pronta para ajudar, o coração caloroso, a paciência, a diligência, a humildade, a amabilidade. A moral de escravos é essencialmente moral utilitária. Segundo a moral de escravos, portanto, o mal desperta o medo; segundo a moral de senhores, é precisamente o “bom” que desperta o medo e quer despertá-lo, enquanto o homem “ruim” é sentido como o desprezível. A oposição chega a seu auge, quando, de acordo com a consequência da moral de escravos, também aos “bons” dessa moral acaba por prender-se um bafejo de menosprezo, porque o bom, dentro da maneira de pensar dos escravos, tem de ser, em todo caso, o homem não perigoso: ele é bondoso, fácil de enganar. Uma ultima diferenciação: o anseio por liberdade, o instinto para a felicidade e os refinamentos do sentimento de liberdade fazem parte da moral e moralidade de escravos, tão necessariamente quanto a arte e delírio na veneração, no abandono, é o sintoma regular de um modo aristocrático de pensar e valorar. 
Em conclusão diz que, cada filosofia é uma filosofia de fachada, há também desconfiança nisso. Cada filosofia esconde também uma filosofia; cada opinião é também um esconderijo, cada palavra também uma máscara. 
PARA A GENEALOGIA DA MORAL
Primeira dissertação – “Bom e Mau”, “bom e Ruim”
Para Nietzsche, a incompetência de sua genealogia da moral, vem à luz logo no inicio, quando se trata de averiguar a proveniência do conceito e juízo “bom”. Vê-se logo que nessa primeira derivação contém já todos os traços típicos da idiossincrasia inglesa de psicólogos. Assim todos que tomaram para si o direito de criar valores, de cunhar nomes dos valores: que lhes importava a utilidade. Como foi dito, o duradouro e dominante sentimento global e fundamental de uma espécie superior de senhores, posta em proporção com uma espécie inferior, com um abaixo, essa é a origem da oposição “bom” e “mau”. Deve-se a essa origem que a palavra “bom” de antemão, não se prende necessariamente a ações “não egoístas”: como é a supertição daqueles genealogistas da moral. Em vez disso, somente com um declínio de juízos de valor aristocráticos acontece que essa oposição “egoísta”-“não egoísta” se imponha mais e mais à consciência humana. 
Voltando à moral nobre, vimos que ela nasce de um triunfante dizer-sim a si próprio, a moral de escravos diz não, logo de inicio, a um fora, a um outro, a um não mesmo, é esse seu ato criador. A moral de escravos precisa sempre surgir de um mundo oposto e exterior, precisa, dito fisiologicamente, de estímulos externos para em geral agir. O inverso é o caso da maneira nobre de valoração: ela age e cresce espontânea, procura por seu oposto somente para, ainda com mais gratidão, ainda com mais júbilo dizer sim a si própria. Os bem-nascidos sentiam-se, justamente, como os felizes, não precisavam construir sua felicidade artificialmente por um olhar. Enquanto o homem nobre vive e diante de si mesmo com confiança e abertura, o homem do ressentimento não é nem franco nem ingênuo, nem mesmo honesto e direto consigo mesmo. Uma raça de homens de ressentimento se torna necessariamente, por fim, mais esperta do que qualquer raça nobre. 
Nietzsche diz que o apequenamento e igualamento do homem europeu aninha nosso maior perigo, pois essa visão cansa. Aqui está a fatalidade da Europa, estamos cansados do homem. 
Segundo dissertação – “Culpa”, “Má Consciência” & Companhia
A busca pelo conceito de consciência é uma longa história e transmutação de forma atrás de si. Não foi precisamente com repostas e meios delicados que esse antiquíssimo problema foi solucionado; talvez mesmo não haja nada mais terrível e monstruoso em toda a pré-história do homem. Imprime-se algo a fogo, para que permaneça na memória: somente o que não cessa de fazer o mal permanece na memória.
O sentimento de culpa, da obrigação pessoal, para retornar a marcha de nossa investigação, teve sua origem, como vimos, na mais antiga e mais originaria relação pessoal que há, na relação entre o comprador e vendedor, credor e devedor: aqui entrou pela primeira vez pessoa contra pessoa, aqui se mediu pela primeira vez pessoa a pessoa. Compra e venda, com todo o seu aparato psicológico, são mais antigos do que os próprios inícios de quaisquer formas de organização e ligas sociais. Logo se chegou, com grande generalização ao cada coisa tem seu preço; tudo pode ser pago, o mais antigo e ingênuo cânon moral da justiça, o inicio de toda bondade, de toda equidade, de toda boa vontade, de toda objetividade sobre a terra. Justiça nesse primeiro grau, é a boa vontade, entre os que têm potencia mais ou menos igual, de se acomodarem uns aos outros, de, por meio de um igualamento, voltarem a se entender. 
A ira do credor lesado, da comunidade, o devolve ao estado selvagem e fora da lei. O castigo, nesse grau de aquisição de costumes, é simplesmente a imagem, o procedimento normal que se tem contra o inimigo odiado. E então dizem os genealogistas da moral, quando descobrem alguma “finalidade” no castigo, em seguida, sem suspeitar de nada, põem essa finalidade no inicio. A “finalidade no direito”, porém é a ultima coisa a ser empregada na história genética do direito. Temos, na verdade, que distinguir no castigo duas coisas: primeiro, o que é relativamente duradouro nele, o uso, o ato, o “drama”, uma certa sequência rigorosa de proceduras, por outro lado, o que é fluido nele, o sentido, o fim, a expectativa que se vincula à exceção de tais proceduras. Não é como admitiram até agora nossos ingênuos genealogistas da moral e do direito, que pensavam todos eles, a procedura inventada para fins de castigo, o conceito castigo nem sequer representa mais um único sentido, mas toda uma série de sentidos. Os castigos fazem parte, antes de tudo, dos baluartes que acarretam em todos aqueles instintos do homem selvagem, livre, errante, contra o homem mesmo. A hostilidade, a crueldade, o gosto pela perseguição, pelo assalto, pela mudança, pela destruição – tudo isso se voltando contra os possuidores de tais instintos: essa é a origem da “má consciência”. 
Terceira Dissertação – O que significam ideais ascéticos? 
Para Nietzsche, o asceta trata a vida como um caminho errado, que por fim é preciso desandar, voltando para onde ele começa; ou como o erro, que se refuta pelo ato; pois ele exige que se vá com ele, ele impõe onde pode sua valoração da existência. Eles não pertencem a nenhuma raça singular, prospera por toda a parte, cresce em todas as classes. O ideal ascético, segundo Nietzsche, o ideal ascético é um tal meio: é, pois, precisamente o inverso do que pensam os que veneram esse ideal – a vida luta nele e por ele com a morte e contra a morte, o ideal ascético é um artifício da conservação da vida. O padre ascético é o desejo encarnado de um ser de outro modo,estar em outra parte, e aliás o grau mais alto desse desejo, seu próprio ardor e paixão: mas justamente a potência de seu desejar é a cadeia que o prende; justamente co isso ele se torna instrumento, que tem de trabalhar para criar condições mais favoráveis para o estar aqui e o ser homem. Esse padre ascético, esse aparente inimigo da vida, esse negador – faz parte, precisamente, das grandíssimas forças conservadoras e criadoras de sim da vida. O padre ascético, no pensamento de Nietzsche, tem de valer para nós como o predestinado salvador, pastor, advogado do rebanho doente: somente assim entendemos sua descomunal missão histórica. Tem de defender o seu rebanho contra os sadios e também contra a inveja dos sábios. Ele traz unguento e balsamo consigo, não há duvida nenhuma; mas primeiro necessita ferir para depois ser médico; quando, em seguida, aquieta a dor que a ferida causa, ele envenena ao mesmo tempo a ferida. O ideal ascético tem um alvo, ele interpreta tempos, povos, homens, inexoravelmente em direção a esse alvo único, não deixa valer nenhuma outra interpretação, nenhum outro alvo, reprova, renega, afirma, confirma somente no sentido de sua interpretação. 
Por outro lado, Nietzsche diz que a ciência não tem hoje simplesmente nenhuma crença em si, sem falar de um ideal sobre si. A ciência é hoje um esconderijo para toda a espécie de desanimo, descrença, má consciência. Ela está longe de repousar o bastante sobre si mesma, precisa antes, sob todos os aspectos de um ideal de valor, de uma potência criadora de valores, a serviço da qual ela pode acreditar em si própria. Sua relação com o ideal ascético, em si, não é ainda, de modo algum, antagonística; ela chega a representar ainda, no principal, a força propulsora de sua configuração interna. Ambos ciência e ideal ascético, pisam no mesmo chão, justamente por isso são necessariamente aliados. Uma avaliação do ideal ascético traz inevitavelmente uma avaliação da ciência. Essa ciência moderna é por enquanto a melhor aliada do ideal ascético, e precisamente por ser a mais inconsciente, a mais voluntária, a mais secreta e subterrânea. O ideal ascético de modo nenhum foi vencido nelas, antes se tornou mais forte, ou seja, mais impalpável, mais espiritual, mais cativante. O ideal ascético, mesmo na esfera mais espiritual, continua tendo, por enquanto, apenas uma única espécie de efetivos inimigos e danificadores: são os comediantes desse ideal.

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