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4 ■ As vAriedAdes linguísticAs 1. Você está andando na rua e um desconhecido lhe pergunta: “Você conhece a rua Castro Alves por aqui?”. a) Se você conhecer, a resposta mais lógica a essa pergunta será: • Sim, conheço. • Conheço; até logo. X • Conheço, é a primeira à direita. b) Por que as outras duas respostas seriam inadequadas? Porque estariam desprezando a intenção do falante, isto é, ele quer saber onde fica a rua, e não apenas saber se o interlocutor a conhece. 2. Leia esta tira e observe o tipo de linguagem que as personagens utilizam: (Folha de S.Paulo, 4/12/96.) a) Retire do 1º quadrinho duas palavras que sejam típicas do uso da língua informal. pô, tá b) Quando empregamos a expressão levar um coice, queremos dizer que levamos uma bronca ou recebemos uma ofensa. No 3º quadrinho, a expressão foi empregada de forma ambígua, isto é, apresenta dois sentidos. Quais são esses sentidos? Como se trata de cavalos, o primeiro sentido é o de repreen- der o filho, por ter sido mal-educado com a mãe, correspondendo seu emprego a “levar uma palmada”; também é possível que a palavra coice tenha sido empregada no seu sentido comum. 3. O texto abaixo é parte da carta de uma leitora que elogia a matéria publicada sobre gírias numa revista. Leia o texto e, em seguida, reescreva-o, substituindo as gírias por palavras e expressões da norma culta. É massa! Dessa vez a Atrevida “arrepiou”. Foi “da hora” a ma- téria NA PONTA DA LÍNGUA, com as gírias “maneiras” de todos os lugares. É por isso que me “amarro” cada vez mais nesta revista: descolada, divertida, diferente e “trilegal”. (Mariana Alves Manso. Atrevida, set. 1996. p. 18.) “arrepiou”: caprichou; “da hora”: ótima; “maneiras”: interessantes; “me amarro”: gosto; “descolada”, “trilegal”: muito interessante, muito boa 4. Faça agora o contrário: reescreva as frases abaixo, escritas de acordo com a norma-padrão, empre- gando uma variedade popular. Você poderá usar termos e expressões regionais, populares ou gírias. a) Fiquei muito emocionado com sua declaração. b) Essa moça é lindíssima. c) Diga aos nossos companheiros que mais tarde nos encontraremos. d) Aquele foi um gol muito especial, feito com muita técnica. Respostas pessoais. (Professor: O objetivo deste exercício é fazer com que o aluno exercite a transposição de um nível de linguagem para outro; por isso, é normal que surjam, aqui, diferentes respostas, algumas com gírias.) Book 1.indb 4 05/06/12 08:34 5 Você se lembra desta música do grupo Mamonas Assassinas? Leia o texto e responda às questões de 5 a 8. Chopis Centis Eu “di” um beijo nela E chamei pra passear. A gente fomos no shopping Pra “mode” a gente lanchar. Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim. Até que “tava” gostoso, mas eu prefiro aipim. Quanta gente, Quanta alegria, A minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia. Esse tal Chopis Centis é muito legalzinho. Pra levar a namorada e dar uns “rolezinho”, Quando eu estou no trabalho, Não vejo a hora de descer dos andaime. Pra pegar um cinema, ver Schwarzneger E também o Van Damme. (Dinho e Júlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassinas, 1995.) 5. Nessa música, o grupo intencionalmente explora uma variedade linguística. Para isso, cria uma personagem que teria determinadas características de fala. a) No primeiro verso (linha) da canção, foi empregado “di”, em lugar de dei. Esse erro é muito comum entre crianças que estão aprendendo a falar, porque há outros verbos na língua com som parecido. Cite dois outros casos de verbos que terminam em i quando queremos indicar um fato passado. Vi, li, dormi, caí, etc. b) No terceiro verso, temos uma construção que está em desacordo com a norma-padrão. Identifique-a e reescreva-a em língua culta. A gente foi ou Nós fomos ao shopping. (Professor, é mais importante aqui ressaltar a falta de concordância; se, contudo, achar conveniente, é possível lembrar também a impropriedade de regência: ir a algum lugar, e não: ir em algum lugar.) 6. Pouco sabemos sobre a pessoa que fala nessa música, mas, por algumas pistas do texto, podemos imaginar. Na sua opinião, qual deve ser: a) o grau de escolaridade dela? É uma pessoa de pouca ou nenhuma escolaridade. b) a profissão? É um pedreiro da construção civil; são citados os “andaimes”. c) a classe social a que ela pertence? Provavelmente a uma classe social pobre. d) os filmes a que normalmente ela assiste? Pelo nome dos atores citados, supõe-se que goste de filmes de violência. Book 1.indb 5 05/06/12 08:34 6 7. No 3º verso da 3ª estrofe, é empregada uma gíria: “uns rolezinho”. Imagine o sentido dessa expres- são, a partir do contexto. Provavelmente, dar umas voltas. 8. Existem alguns termos na letra da música que também podem nos dar pistas sobre a origem da pessoa que fala na música: “mode” e “aipim”. Em que região do país esses termos são popularmente empregados? São empregados popularmente na região Nordeste do país, onde “aipim” é o mesmo que mandioca. Leia esta tira e responda às questões de 9 a 12. (Angeli. Luke & Tantra — Sangue bom. São Paulo: Devir/Jacaranda, 2000. p. 17.) 9. Tantra e Luke são duas adolescentes que estão vindo da escola. Observe a forma como Tantra cum- primenta o seu amigo Orelha. a) O que quer dizer a expressão “— Aí, Orelha?”? É o mesmo que dizer “Oi, Orelha?” ou algo semelhante. b) E a expressão “Beleza, mano?!”? Equivale a dizer “Tudo bem com você?” ou “Como vai?”. 10. Ao todo, Orelha diz apenas três palavras. O que isso significa em relação ao uso da língua por- tuguesa? Significa que ele fala muito pouco, quase só diz monossílabos. Professor: Aproveite para comentar com os alunos que Angeli está ironizando a linguagem truncada de alguns jovens. 11. O humor da tira está principalmente no último quadrinho. Explique por quê. É difícil entender por que Luke achou que Orelha tem boas ideias (é “cabeça”), pois ele quase não disse nada. 12. Considere o contexto dessa interação verbal, isto é, quem são os interlocutores, o que cada um deve pensar a respeito do outro, o local em que se encontram, etc. a) Você acha adequada a variedade linguística utilizada por Tantra e Orelha nessa situação? Por quê? b) Imagine, nesse contexto, Tantra utilizando a expressão “Como tem passado, amigo?”. O que Orelha poderia pensar a respeito dela? 13. Geralmente os livros de literatura são escritos em norma culta. Algumas publicações destinadas ao público jovem, entretanto, procuram empregar uma linguagem mais próxima daquela falada pelos jovens. Leia este texto, de Fanny Abramovich: Putz, estou exausta. Caindo de canseira. Das brabas. Andei a tarde toda, por todo o shopping, procurando uma roupinha legal, simples, na moda. Ter, tinha, de montão. Experimentei umas su- pertransadas, caindo tipo gracinha. Só que na hora de pagar, cadê o dinheiro? Necas. Vexame total! (Quem manda em mim sou eu. São Paulo: Atual, 1989. p. 1.) a) Identifique no texto as palavras e expressões próprias da língua oral dos jovens. Putz; caindo de canseira; das brabas, roupinha legal; Ter, tinha, de montão; supertransadas; caindo tipo gracinha; cadê; necas Espera-se que o aluno responda sim, pois os interlocutores pertencem a um grupo de jovens que costumam utilizar uma linguagem descontraída e com gírias. Talvez Orelha estranhasse a linguagem de Tantra e já não a visse como uma pessoa de seu grupo. Professor: Sugerimos aproveitar a oportunidade para discutir com os alunos os preconceitos que envolvem a linguagem, levando a julgamentos discriminatórios, capazes de aproximar e de afastar as pessoas. Book 1.indb 6 05/06/12 08:34 7 b) Na sua opinião, esse tipo de linguagem aproxima o leitor da obra? Por quê? Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que, sendo obra voltada para o público adolescente, esse tipo de linguagem resulta em maior facilidade na leitura. Leia este outro texto e responda à questão 14: Você está louca para ter um cachorrinho, mas não sabe qual combina com o seu ritmo devida? Ou aca- bou de ganhar um filhote de labrador e quer educá- lo? O Kennel Club (http://www.kennelclub.com.br) é um site muito legal que ajuda você a conhecer o mundo canino. Tem várias dicas de veterinários e de treinadores e fala de todas as raças de cachorros para você saber tudo bem antes de comprar ou pedir um. De quebra, você pode mandar cartões com cãezinhos. Uma fofura! (Site da revista Atrevida, nov. 2001.) 14. Pelas características da variedade linguística utilizada no texto, para que tipo de pessoa você acha que esse texto foi escrito? Foi escrito para meninas adolescentes, conforme demonstra o uso da palavra louca e da expressão uma fofura. 15. Suponha que queira chamar uma pessoa até o local onde você está. Como faria para chamá-la, se ela fosse: a) um idoso, com mais de 70 anos? Por favor, dá para o senhor vir aqui um pouquinho? b) um colega da sua classe, alguém com quem você tem muita amizade? c) um rapaz jovem que você não conhece? Por favor, dá para você vir/tu vires aqui um pouquinho? 16. Você está em pé, num ônibus lotado, e de repente alguém pisa no seu pé. Você sente uma dor horrível, mas o passageiro que pisou no seu pé pede desculpas. Existem as seguintes possibilidades de resposta: • Não foi nada. • Fazer o quê, né? • Tudo bem! • Veja se toma mais cuidado! Qual delas lhe parece ser: a) a mais formal e tradicional? b) mais informal e simpática? c) mais grosseira e direta? A primeira, que é uma frase feita. A terceira, que indica maior A última, pois a pessoa jovialidade e simpatia. despreza o pedido de desculpas. Leia este poema, de Sérgio Capparelli: Drome, minininha! Ti m D av is /T on y St on e Professor: As respostas são pessoais. Seguem algumas sugestões. Nestes exercícios, cabe observar com os alunos a conveniência do emprego de maior ou menor grau de polidez na fala, de acordo com o interlocutor. Alguns aspectos modalizadores da fala, tais como por favor, o senhor, ou ainda o senhor poderia, são sinais de educação e respeito e, por isso, têm grande valor social. Podem, tam- bém, garantir a aceitação do falante no grupo com o qual ele se comunica. Fulano, vem cá. Yu m ik o K in os hi ta /A ny on e/ G et ty I m ag es Drome, minininha. Que logo vem o dia, Cachorro tá latindo No sonho da cotia. Fecha os zóio e drome, Minina, minininha, A noite assa bolo No forno da cozinha. Drome, minininha, Papai num tá aqui, Enfeita a noite preta Com zóio de rubi. Drome, minininha, Mamãe foi trabaiá, Lavá a noite suja Com as água do luá. Fecha os zóio e drome, Minina, minininha, Que noite mais escura! Que noite mais daninha! Sossega, minininha, Sossega, tá na hora, Logo vão se abri Os zóio da Orora. (111 poemas para crianças. Porto Alegre: L&PM, 2003. p. 49.) Professor: Sugerimos desenvolver esta atividade oralmente, a fim de conseguir maior troca entre os alunos. Com relação à acentuação da palavra zóio, o Acordo Ortográfico determina que os ditongos abertos em ói, quando em sílaba paroxítona, não são acentuados. Apesar disso, excepcionalmente neste caso, optamos por manter o acento para preservar a intenção do autor de aproximar a escrita da fala regional. Book 1.indb 7 05/06/12 08:34 8 17. O poema lembra uma conhecida canção de ninar. a) Qual é essa canção? Se você a conhece, cante um trecho dela para a classe. b) As cantigas de ninar fazem parte das lembranças de infância de muitas pessoas. Geralmente, com que finalidade essas cantigas são cantadas? Para embalar crianças, ou seja, fazê-las dormir. 18. Tomando como base a linguagem do texto “Drome, minininha!”, responda: É empregada no poema a norma-padrão da língua ou uma variedade popular? É empregada uma varie- dade não padrão. 19. Há, no poema, várias palavras que não estão de acordo com a norma-padrão. Identifique essas formas e indique quais seriam as formas correspondentes a elas na variedade padrão escrita. drome/ dorme, minininha/menininha, tá/está, zóio/olho(s), num/não, trabaiá/trabalhar, lavá/lavar, luá/luar, abri/abrir, Orora/Aurora 20. Alguns desvios da variedade padrão têm base numa certa lógica. Coloque-se no papel de um linguista (profissional especializado em linguagem) e tente explicar os desvios que seguem. Primeiramente, observe e compare estes casos: lavá trabaiá os zóio abri zóio as água Ju pi te r U nl im it ed /O th er I m ag es Resposta pessoal. Sugestão: Elas foram substituídas por i, talvez porque seja mais fácil pronunciar esse som do que o som de lh. Professor: Outra possibilidade é a proximidade do ponto de articulação dos dois fonemas. Dorme nenê / Que a cuca vem pegar, / Papai foi na roça / Mamãe já vai chegar. Professor: Existem variações dessa canção, dependendo da região do país. 20. c) Resposta pessoal. Sugestão: Além de ser mais econômico pronunciar zóio e água, as palavras os e as já indicam que se trata de olhos e águas. O plural, portanto, é redun- dante. Professor: Lembre aos alunos que, apesar de redundante, na variedade padrão a concordância é obrigatória. a) Em algumas variedades populares, a letra -r do final de algumas palavras terminadas em -ar, -er e -ir desaparece, como ocorreu em lavá, trabaiá, luá e abri. Na sua opinião, por que isso acontece? Resposta pessoal. Sugestão: Talvez por ser mais econômico pronunciar as palavras sem a letra -r final. b) O que ocorreu com as letras lh das palavras trabalhar e olhos? Por que, na sua opinião, isso acontece? c) As formas “os zóio” e “as água” não apresentam concordância. Na variedade padrão, as formas correspondentes seriam os olhos e as águas. Por que, na sua opinião, as palavras “zóio” e água não vão para o plural na variedade não padrão? d) Leia em voz alta a expressão os olhos. Levante hipóteses: Por que, na expressão “os zóio”, em- pregada no poema, aparece a letra z? Porque a soma de s (de os) com a vogal o (de olhos) gera o som /z/. Professor: Comente com os alunos que esse fenômeno é comum e acontece também em as águas, os homens, etc. 21. Sérgio Capparelli, o autor do texto, é, além de poeta, professor universitário no Rio Grande do Sul. Evidentemente, ele conhece e domina a variedade padrão. Apesar disso, preferiu redigir o texto numa variedade não padrão. Considerando que se trata de um poema, por que, na sua opinião, ele preferiu essa variedade linguística? Professor: Sugerimos que abra a discussão com a classe. Sugestão: Talvez porque o poeta considere a língua nessa variedade mais sonora, mais bonita ou mais poética (professor, chame a atenção dos alunos para a sonoridade de palavras terminadas em á, como trabaiá, lavá, luá); além disso, é uma forma de valorizar a língua e a cultura populares. Book 1.indb 8 05/06/12 08:34