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CARDIOVASCULAR SOI III S6P1 FEBRE REUMÁTICA Enzo Francisco, 07 anos, nasceu de parto normal, sem intercorrências, gestação a termo e todas as vacinas para a idade foram administradas no prazo. Paciente apresenta febre intermitente, dor articular intensa e edema em joelhos e tornozelos há cerca de duas semanas, conforme relata a mãe. Início dos sintomas há aproximadamente 15 dias, com febre baixa a moderada, acompanhada de poliartralgia migratória acometendo inicialmente joelhos e tornozelos, posteriormente cotovelos e punhos. Refere fadiga e dispneia leve aos esforços. Relata infecção de garganta recente, tratada sintomaticamente sem uso de antibóticos. A mãe relata também que o paciente tem infecções de garganta corriqueiramente. Ao exame físico apresenta-se: REG, Corado, Hidratado, Febril (38,5°C), FC de 110 bpm, PA 111/70 mmHg, FR 20 Irpm, SatO2 98% em ar ambiente. Ausculta cardíaca revela sopro holossistólico em foco mitral. Aparelho respiratório: Murmúrio vesicular preservado, sem ruídos adventícios. Aparelho locomotor: Edema e hiperemia em joelhos e tornozelos, dor à mobilização passiva. Pele: Presença de lesões eritematosas em tronco (Eritemamarginado). FAÇA SUAS CONSIDERAÇÕES APRESENTAÇÃO DO CASO PERGUNTAS NORTEADORAS: •Qual a relação entre infecções de garganta prévias e o desenvolvimento da febre reumática? •Como a febre reumática pode afetar diferentes sistemas do organismo, além das articulações e do coração? •Quais são os principais critérios diagnósticos da febre reumática e como eles se aplicam a este caso? •Por que o sopro holossistólico em foco mitral é um achado relevante na febre reumática? •Quais as implicações da cardite reumática a longo prazo e quais medidas podem ser tomadas para preveni-las? •Como o tratamento precoce da faringoamigdalite estreptocócica pode impactar a incidência da febre reumática? •Qual a importância da profilaxia secundária e por quanto tempo ela deve ser mantida em pacientes com febre reumática? •Como os exames complementares ajudam a confirmar o diagnóstico e monitorar a evolução da doença? • ELUCIDAR OS ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS AGENTES ETIOLÓGICOS DA FEBRE REUMÁTICA OBJETIVO A classificação de bactérias a partir da coloração, como gram-positiva, gram-negativa ou álcool-ácido resistente indica a base para as diferenças nos meios de transmissão, apresentação da doença e sensibilidade aos antibacterianos. As estruturas externas das bactérias fornecem as funções de estrutura e de transporte, os meios para interação entre si e o hospedeiro, como os fatores de virulência, e abrangem os padrões moleculares associados a patógenos (PAMP) que desencadeiam respostas inatas e imunes. CLASSIFICAÇÃO DAS BACTÉRIAS FEBRE REUMÁTICA As bactérias podem ser classificadas por seu aspecto macroscópico e microscópico, pelo crescimento característico e pelas propriedades metabólicas, por sua antigenicidade e, finalmente, por seu genótipo. A diferenciação inicial entre bactérias pode ser realizada pelas características de crescimento em diferentes nutrientes e meios seletivos. As bactérias crescem em colônias; cada colônia é como uma cidade de até 1 milhão ou mais de organismos. A soma de suas características confere à colônia aspectos diferenciais, tais como cor, tamanho, forma e odor. A capacidade da bactéria de resistir a certos antibacterianos, fermentar açúcares específicos (p. ex., lactose, para diferenciar E. coli de Salmonella), lisar eritrócitos (propriedades hemolíticas estreptocócicas) ou hidrolisar lipídios (p. ex., lipase de Clostridium) pode ser determinada usando os meios de crescimento apropriados. O aspecto microscópico, incluindo tamanho, forma e configuração dos organismos (cocos, bastonetes, curvos ou espiralados) e sua capacidade de reter a coloração de Gram (gram-positiva ou gram-negativa) são os principais meios para diferenciar as bactérias. A coloração de Gram é um teste rápido, poderoso e fácil que possibilita aos médicos diferenciar entre as duas classes principais de bactérias, desenvolver um diagnóstico inicial e começar a terapia com base nas diferenças inerentes às bactérias. O citoplasma da bactéria é envolto por uma membrana citoplasmática, que é circundada por uma parede celular constituída de peptidoglicano que é espesso para bactérias gram-positivas e fino para as gram- negativas. Um espaço periplasmático e uma membrana externa circundam o peptidoglicano das bactérias gram-negativas. Algumas bactérias são envolvidas completamente por uma cápsula. BACTÉRIAS GRAM POSITIVAS Uma bactéria gram-positiva tem um envoltório celular espesso, com várias camadas, composto principalmente de peptidoglicano (150 a 500 Å), circundando a membrana citoplasmática. O peptidoglicano é um exoesqueleto semelhante a uma malha, análogo em função ao exoesqueleto de um inseto. Ao contrário do exoesqueleto do inseto, no entanto, o peptidoglicano da célula é suficientemente poroso a fim de propiciar a difusão de metabólitos para a membrana plasmática. As cadeias de glicano se estendem da membrana plasmática como cerdas que formam ligações cruzadas com cadeias peptídicas curtas. O peptidoglicano é essencial para a estrutura, replicação e sobrevivência nas condições normalmente hostis em que as bactérias crescem. FEBRE REUMÁTICA Os envoltórios celulares gram-negativos são mais complexos do que os envoltórios celulares gram-positivos, tanto estrutural quanto quimicamente. Imediatamente externa à membrana citoplasmática, está localizada uma fina camada de peptidoglicano que é constituída por apenas 5 a 10% do peso do envoltório celular gram- negativo. Não existem ácidos teicoicos ou lipoteicoicos no envoltório celular gram-negativo. A camada externa em relação ao peptidoglicano é a membrana externa, exclusiva para bactérias gram-negativas. A área entre a superfície externa da membrana citoplasmática e a superfície interna da membrana externa é conhecida como espaço periplasmático. Esse espaço é na verdade um compartimento que contém componentes dos sistemas de transporte de ferro, proteínas, açúcares e outros metabólitos, além de uma variedade de enzimas hidrolíticas importantes para a célula para a extensa quebra de macromoléculas para o metabolismo. Essas enzimas normalmente incluem proteases, fosfatases, lipases, nucleases e enzimas que degradam carboidratos. No caso de espécies gram-negativas patogênicas, muitos dos fatores de virulência, como colagenases, hialuronidases, proteases e a betalactamase, estão no espaço periplasmático. A classificação de mais de 100 espécies dentro do gênero Streptococcus é complicada porque três diferentes esquemas sobrepostos são utilizados: (1) propriedades sorológicas: Grupos de Lancefield (originalmente de A a W); (2) padrões hemolíticos: hemólise completa (beta [β]), hemólise incompleta (alfa [α]) e nenhuma hemólise (gama [γ]); e (3) propriedades bioquímicas (fisiológicas). Embora seja uma simplificação excessiva, é prático pensar que os estreptococos são divididos em dois grupos: (1) os estreptococos beta-hemolíticos, que são classificados pelo grupo de Lancefield e (2) os estreptococos alfa-hemolíticos e gama-hemolíticos, que são classificados por testes bioquímicos. Este último grupo é referido coletivamente como estreptococos viridans, no qual o nome é derivado de viridis (do latim, verde), referindo-se ao pigmento verde formado pela hemólise parcial do ágar-sangue. BACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS O GÊNERO STREPTOCOCCUS SP. Os gêneros Streptococcus e Enterococcus são uma coleção diversificada de cocos gram-positivos normalmente dispostos em pares ou cadeias (em contraste com os agregados formados por Staphylococcus). A maioria das espécies é constituída de anaeróbios facultativos e alguns crescem apenas em uma atmosfera enriquecida com dióxido de carbono (crescimento capnofílico). Suas necessidades nutricionais são complexas, exigindo o uso de meios enriquecidos com sangue ou soro para o isolamento. Os carboidratos são fermentados,resultando na produção de ácido láctico e, ao contrário das espécies de Staphylococcus, os estreptococos e enterococos são catalasenegativos. O número de gêneros de cocos gram- positivos, catalase-negativos, que são reconhecidos como patógenos humanos continua a aumentar; entretanto, Streptococcus e Enterococcus são os gêneros mais frequentemente isolados e mais comumente responsáveis por doenças humanas. CLASSIFICAÇÕES A febre reumática aguda (FRA) é uma doença multissistêmica resultante de uma reação autoimune à infecção por estreptococos do grupo A. Embora muitas partes do corpo possam ser afetadas, quase todas as manifestações regridem completamente. Uma importante exceção é a lesão valvar cardíaca (doença cardíaca reumática [DCR]), que pode persistir após o desaparecimento dos outros achados. • ESTUDAR A EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA FEBRE REUMÁTICA. • CORRELACIONAR A MORFOFISIOLOGIA DAS VALVAS CARDÍACAS COM AS COMPLICAÇÕES CARDÍACAS DA FEBRE REUMÁTICA FEBRE REUMÁTICA Rebecca Lancefield desenvolveu o esquema de classificação sorológica em 1933. As cepas beta-hemolíticas apresentam antígenos de envoltório celular grupo-específicos, a maioria dos quais são carboidratos. Esses antígenos podem ser prontamente detectados por ensaios imunológicos e têm sido úteis para a rápida identificação de alguns patógenos estreptocócicos importantes. Por exemplo, uma doença causada por Streptococcus pyogenes (classificado como Streptococcus do grupo A no esquema de tipagem de Lancefield) é a faringite estreptocócica (“dor de garganta estreptocócica”). O antígeno do grupo para esse organismo pode ser detectado diretamente de amostras de swab de garganta por meio de uma variedade de imunoensaios rápidos point-of-care (à beira do leito), que são testes diagnósticos comumente utilizados em laboratórios de consultórios médicos. O esquema de tipagem de Lancefield é usado hoje em dia principalmente para algumas espécies de estreptococos Streptococcus pyogenes causa uma variedade de doenças supurativas (caracterizadas por formação de pus) e doenças não supurativas. Apesar de esse organismo ser a causa mais comum de faringite bacteriana, a notoriedade de S. pyogenes, popularmente denominada bactéria “comedora de carne”, resulta da mionecrose que ameaça à vida, causada por esse organismo. STREPTOCOCCUS PYOGENES A FRA e a DCR são doenças relacionadas à pobreza. Essas condições eram comuns em todos os países até o início do século XX, quando sua incidência começou a declinar nas nações industrializadas. Esse declínio foi atribuído à melhora das condições de vida – em particular habitações com menos aglomeração e melhores condições de higiene –, que resultou na redução da transmissão dos estreptococos do grupo A. A introdução de antibióticos e a melhora dos sistemas de assistência médica tiveram um efeito suplementar. O quase desaparecimento da FRA e a redução na incidência da DCR nos países industrializados durante a primeira metade do século XX infelizmente não ocorreram nos países em desenvolvimento, onde essas doenças continuam presentes. A DCR é a causa mais comum de doença cardíaca adquirida em crianças nos países em desenvolvimento, sendo também uma causa importante de mortalidade e morbidade em adultos. A FRA acomete principalmente crianças entre 5 e 14 anos de idade. Os episódios iniciais tornam-se menos comuns em adolescentes mais velhos e adultos jovens, sendo raros em indivíduos > 30 anos de idade. Em contrapartida, os episódios recorrentes de FRA permanecem relativamente comuns em adolescentes e adultos jovens. Esse padrão difere da prevalência de DCR, cujo pico fica entre os 25 e os 40 anos de idade. Não há uma associação clara entre o sexo e a FRA, porém a DCR afeta mais comumente o sexo feminino, às vezes com uma frequência duas vezes maior que a masculina. EPIDEMIOLOGIA OBJETIVO APRESENTAÇÃO A via patogênica, desde a exposição aos estreptococos do grupo A, seguida por infecção faríngea ou infecção cutânea superficial e desenvolvimento subsequente de FRA, recorrências de FRA e desenvolvimento de DCR e suas complicações, está associada a uma variedade de fatores de risco e, portanto, a intervenções potenciais em cada ponto. FEBRE REUMÁTICA FATORES DE RISCO Infelizmente, o maior ônus da doença é encontrado em países em desenvolvimento, a maioria dos quais não tem os recursos, a capacidade e/ou o interesse para enfrentar essa doença multifacetada. FATORES DO MICRORGANISMOS: O ensinamento convencional é de que a FRA é causada exclusivamente por infecção do trato respiratório superior por estreptococos do grupo A. Embora classicamente determinados sorotipos M (particularmente os tipos 1, 3, 5, 6, 14, 18, 19, 24, 27 e 29) estivessem associados à FRA, evidências recentes demonstram que muitos outros sorotipos M são reumatogênicos e que os chamados “motivos reumatogênicos” são encontrados apenas em uma minoria dos sorotipos associados à febre reumática. Essa evidência epidemiológica também aponta para um papel claro das infecções cutâneas na patogênese da FRA. O possível papel dos estreptococos dos grupos C e G não está claro atualmente. PATOGÊNESE FATORES DO HOSPEDEIRO: Com base em evidências epidemiológicas, cerca de 3-6% de qualquer população pode ser suscetível à FRA, proporção que não varia de maneira significativa entre as populações. Achados de aglomeração familiar de casos e concordância em gêmeos monozigóticos – em particular para coreia – confirmam que a suscetibilidade à FRA é uma característica herdada, com 44% de concordância entre gêmeos monozigóticos em comparação com 12% entre gêmeos dizigóticos e uma hereditariedade estimada mais recentemente em 60%. A maioria das evidências para fatores do hospedeiro enfoca determinantes imunológicos. Alguns alelos de classe II do antígeno leucocitário humano (HLA, de human leukocyte antigen), em particular HLA-DR7 e HLA- DR4, parecem estar associados a suscetibilidade, ao passo que outros alelos de classe II têm sido associados a proteção (HLA-DR5, HLA-DR6, HLA-DR51, HLA-DR52 e HLA-DQ). Associações também têm sido descritas com polimorfismos no locus do fator de necrose tumoral α (TNF-α-308 e TNF-α-238 [de tumor necrosis fator]), altos níveis circulantes de lectina ligadora de manose e receptores semelhantes ao Toll. Estudos recentes de associação genômica ampla em diferentes populações identificaram conexões na região HLA, particularmente HLA-DQA1 a HLA-DQB1, e o locus da cadeia pesada de imunoglobulina. A teoria mais amplamente aceita da patogênese da febre reumática baseia-se no conceito de mimetismo molecular, pelo qual uma resposta imune dirigida contra antígenos estreptocócicos (que se acredita que estejam principalmente na proteína M e na N-acetilglicosamina do carboidrato estreptocócico do grupo A) também reconhece tecidos humanos. Nesse modelo, anticorpos que apresentam reatividade cruzada se ligam a células endoteliais na valva cardíaca, levando à ativação da molécula de adesão VCAM-1 (molécula 1 de adesão celular vascular [de vascular cell adhesion molecule 1], com consequente recrutamento de linfócitos ativados e lise de células endoteliais na presença de complemento. Essa última leva à liberação de peptídeos, incluindo laminina, queratina e tropomiosina, o que, então, ativa células T com reatividade cruzada, as quais invadem o coração, ampliando a lesão e causando espalhamento de epítopos. Uma hipótese alternativa propõe que a lesão inicial se deve à invasão estreptocócica de superfícies epiteliais, com ligação da proteína M ao colágeno tipo IV, permitindo que este se torne imunogênico, mas não pelo mecanismo de mimetismo molecular. FEBRE REUMÁTICA RESPOSTA IMUNE Há um período latente de cerca de 3 semanas (1-5 semanas) entre a infecção por estreptococos do grupo A precipitante e o aparecimento das manifestações clínicas de FRA. As exceções são a coreia e a cardite indolente,que podem ser precedidas por longos períodos de latência, com duração de até 6 meses. Embora muitos pacientes relatem dor de garganta prévia, a infecção por estreptococos do grupo A precedente costuma ser subclínica; nesses casos, a sua confirmação somente pode ser dada por testes de anticorpos antiestreptococos. Os aspectos clínicos mais comuns são poliartrite (presente em 60-75% dos casos) e cardite (50-75%). A prevalência da coreia na FRA varia substancialmente entre as populações, oscilando entresomente ao exame cuidadoso, ao passo que, nos casos mais graves, os indivíduos são incapazes de realizar as atividades da vida cotidiana. Com frequência, há labilidade emocional associada ou traços obsessivo-compulsivos que podem perdurar por mais tempo que os movimentos coreiformes (que, em geral, regridem dentro de 6 semanas; às vezes, porém, podem levar até 6 meses). Mais de 50% dos pacientes que apresentam coreia sofrerão cardite, razão pela qual a ecocardiografia deve fazer parte da avaliação. MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS: O exantema clássico da FRA é o eritema marginado, que começa como máculas róseas, exibindo clareamento no centro, deixando uma borda serpiginosa que se espalha. A erupção é evanescente, aparecendo e desaparecendo ante os olhos do médico. Costuma ocorrer no tronco, às vezes nos membros, mas quase nunca na face. Os nódulos subcutâneos ocorrem como caroços móveis, pequenos (0,5-2 cm) e indolores, localizados sob a pele e sobrejacentes a proeminências ósseas, em particular nas mãos, nos pés, nos cotovelos, na região occipital e, ocasionalmente, sobre as vértebras. Constituem uma manifestação tardia, aparecendo em 2-3 semanas após o início da doença, duram de apenas poucos dias até 3 semanas e estão geralmente associados à cardite. Com exceção da coreia e da cardite de baixo grau, as quais podem se manifestar muitos meses depois, a evidência de infecção estreptocócica do grupo A prévia é essencial para estabelecer o diagnóstico de FRA. Como a maioria dos casos não tem um resultado positivo na cultura da orofaringe ou no teste de detecção rápida de antígeno, a evidência sorológica costuma ser necessária. EVIDÊNCIA DE INFECÇÃO PRÉVIA POR ESTREPTOCOCOS DO GRUPO A FEBRE REUMÁTICA Os testes sorológicos mais comuns são os títulos de antiestreptolisina O (ASLO) e de anti-DNase B (ADB). Quando possível, os limites de referência específicos por faixa etária devem ser determinados em uma população local de pessoas sadias sem infecção recente por estreptococos do grupo A. Como não há nenhum teste definitivo, o diagnóstico de FRA baseia-se na presença de uma combinação de achados clínicos típicos com evidência de infecção precipitante por estreptococos do grupo A e exclusão de outros diagnósticos. Essa incerteza levou o Dr. T. Duckett Jones, em 1944, a desenvolver uma série de critérios (subsequentemente conhecidos como os critérios de Jones) para ajudar no diagnóstico. A revisão mais recente dos critérios de Jones exige que o clínico determine se o paciente advém de um contexto ou de uma população que comprovadamente apresenta baixas taxas de FRA. Para esse grupo, há um conjunto de critérios para “baixo risco”; e, para todos os demais, existe um conjunto de critérios mais sensíveis. CONFIRMAÇÃO DO DIAGNÓSTICO QUER VER COMO É FEITO UM TESTE DE ASLO? CLICA AQUI! Os pacientes com possível FRA devem ser acompanhados de perto para garantir que (1) o diagnóstico seja confirmado, (2) o tratamento da insuficiência cardíaca e de outros sintomas seja efetuado e (3) as medidas preventivas sejam iniciadas, incluindo o começo da profilaxia secundária, a inclusão no registro de FRA e a educação relativa à saúde. Em todos os casos possíveis, uma ecocardiografia deve ser obtida para auxiliar na elucidação do diagnóstico e na determinação da gravidade basal de qualquer cardite. Não há tratamento para a FRA que comprovadamente altere a probabilidade do desenvolvimento ou a gravidade da DCR. Com exceção do tratamento da insuficiência cardíaca, que pode salvar vidas em casos de cardite grave, a terapia da FRA é sintomática. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ANTIBIÓTICOS: Todos os pacientes com FRA devem receber antibióticos suficientes para tratar a infecção estreptocócica do grupo A precipitante. A penicilina é o fármaco de escolha, podendo ser administrada por via oral (VO) (como fenoximetilpenicilina, 500 mg [250 mg para crianças com ≤ 27 kg], VO, 2 vezes ao dia; ou amoxicilina, 50 mg/kg/dia [máximo 1 g], durante 10 dias) ou como dose única de 1,2 milhão de unidades (600 mil unidades para crianças com ≤ 27 kg) de penicilina G benzatina intramuscular. MECANISMO DE AÇÃO DAS PENICILINAS: As penicilinas estão entre os fármacos mais amplamente eficazes e também entre os menos tóxicos conhecidos, mas o aumento da resistência limitou o seu uso. As penicilinas interferem na ultima etapa da síntese da parede bacteriana (transpeptidação ou ligações cruzadas), resultando em exposição da membrana osmoticamente menos estável. Então pode ocorrer lise celular, seja pela pressão osmótica, seja pela ativação de autolisinas. Esses antibacterianos são bactericidas e atuam de modo tempo-dependente. As penicilinas são eficazes somente contra microrganismos em crescimento rápido, que sintetizem a parede celular de peptidoglicano. Consequentemente, elas são inativas contra microrganismos sem essa estrutura, como micobactérias, protozoários, fungos e vi ́rus https://www.youtube.com/watch?v=pN4zAtre0hk&ab_channel=MicrohubPlus FEBRE REUMÁTICA SALICILATOS E AINEs: Podem ser usados para o tratamento da artrite, da artralgia e da febre, uma vez confirmado o diagnóstico. Eles não têm valor comprovado no tratamento de cardite ou coreia. O ácido acetilsalicílico é uma primeira opção comum, sendo administrado em uma dose de 50-60 mg/kg por dia, até o máximo de 80-100 mg/kg por dia (4-8 g/dia em adultos), em 4-5 doses fracionadas. PRIMÁRIA: De forma ideal, a prevenção primária deveria envolver a eliminação dos principais fatores de risco para infecções estreptocócicas, em particular a aglomeração domiciliar, no entanto isso é difícil de conseguir na maioria dos lugares onde a FRA é comum. Estão sendo realizados esforços conjuntos para o desenvolvimento de uma vacina contra estreptococos do grupo A, que preveniria a infecção da garganta ou da pele e, consequentemente, a FRA; porém, a base da prevenção primária da FRA ainda é a profilaxia primária (i.e., o tratamento oportuno e completo da faringite por estreptococos do grupo A com antibióticos). Se a penicilina for iniciada dentro de 9 dias do início da faringite (conforme descrito anteriormente para o tratamento da FRA), ela prevenirá quase todos os casos de FRA que, caso contrário, se desenvolveriam. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: O principal controle da FRA e da DCR é a prevenção secundária. Como os pacientes com FRA têm um risco significativamente mais alto do que a população geral de desenvolver um novo episódio após uma infecção estreptocócica do grupo A, eles devem receber profilaxia com penicilina em longo prazo para prevenir recorrências. O melhor antibiótico para a profilaxia secundária é a penicilina G benzatina (1,2 milhão de unidades, ou 600 mil unidades para o paciente com peso ≤ 27 kg), administrada a cada 4 semanas. Esse antibiótico pode ser fornecido a cada 3 semanas (ou até mesmo a cada 2 semanas) a indivíduos considerados em risco particularmente elevado, embora uma dose mais frequente raramente seja necessária nas situações em que é possível alcançar uma boa adesão ao esquema de dose a cada 4 semanas. Em vez disso, a penicilina V oral (250 mg) pode ser administrada 2 vezes por dia, porém é menos efetiva do que a penicilina G benzatina. Pacientes alérgicos à penicilina podem receber eritromicina (250 mg), 2 vezes ao dia. A duração da profilaxia secundária é determinada por muitos fatores, em particular o tempo decorrido desde o último episódio de FRA (as recorrências tornam-se menos prováveis quanto maior for esse tempo), a idade (as recorrências são menos prováveis com o aumento da idade) e a gravidade da DCR (se grave, pode ser prudente evitar até mesmo um risco muito pequeno de recorrência em virtude das consequências potencialmente sérias). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPÍTULO 359 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Páginas: 2765 - 2770 DIAGNÓSTICO, MANEJO E PREVENÇÃO (2022) ARTIGOS ÚTEIS PARA SUA APG FEBRE REUMÁTICA E ACOMETIMENTO CARDÍACO (2022) CAPÍTULO 5 Páginas: 558 - 607 CAPÍTULO 12 Páginas:577 -579 CAPÍTULO 38 Páginas: 483 -498 INOVAÇÕES E ATUALIZAÇÕES EM DIAGNÓSTICO (2025) ESCARLATINA E IMPACTOS NA SAÚDE PÚBLICA (2025) ESTUDO DE CASO SOBRE MIOCARDITE PÓS-ESTREPTOCÓCCICA (2025) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35421873/ https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35631018/ https://revista.cpaqv.org/index.php/CPAQV/article/view/2615 https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/77532 https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/48089