Prévia do material em texto
1 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica 2 3 Sumário Bioética Conceito de bioética Os princípios da bioética O principialismo e o cuidado na enfermagem Política nacional de atenção oncológica Conhecendo a política nacional de atenção oncológica Relatório de Auditoria Operacional – PNAO Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON), Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) e os Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) UNACON sem radioterapia UNACOM com radioterapia Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia Ações de prevenção no controle de câncer Fatores de risco para o câncer Fatores protetores para o câncer de mama CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO 6 7 11 15 20 21 26 28 28 29 30 30 31 35 38 41 4 Sumário As formas terapêuticas prestadas pela enfermagem a mulheres com câncer de mama Fisiopatologia do câncer O que é o câncer? O número de casos novos de câncer no Brasil Referências CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO 44 48 49 54 58 5 Objetivos Definição Explicando Melhor Você Sabia? Acesse Resumindo Nota Importante Saiba Mais Reflita Atividades Testando Para o início do desenvolvimento de uma nova competência; Se houver necessidade de se apresentar um novo conceito; Algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; Curiosidades indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forma necessárias; Se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; Quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; Quando forem necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; As observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; Textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; Se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; Quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; Quando o desenvolvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas. 6 @faculdadelibano_ 1 Bioética 7 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 1 Bioética Conceito de bioética A bioética iniciou-se como um movimento social que buscava ética nas ciências biológicas e áreas afins, mas hoje adquiriu dimensão mais ampla e tornou-se uma disciplina norteadora para o biodireito e para a legislação, a fim de assegurar mais humanismo no cotidiano das práticas médicas e nas experimentações científicas que utilizam seres humanos. Dessa forma, a bioética é, ao mesmo tempo, a reflexão sobre as questões sociais e ação para estabelecer acordos entre sociedade, cientistas, profissionais de saúde e governo sobre assuntos atuais e perspectivas do futuro. Objetivos Ao término deste capítulo você será capaz de entender aspectos da bioética na área clínica, o que aborda a Política Nacional de Atenção Oncológica e a prevenção ao câncer. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá! Avante! 8 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 Quando se refere ao exercício profissional – pesquisas e práticas ligadas à saúde humana esperam-se princípios éticos baseados na ideia de boa prática ou boa ciência, que regulem comportamentos e ações e protejam contra abusos, iatrogenias, erros etc., isto é, contra a má prática. Outro polo da bioética relaciona-se à constituição da identidade do profissional da saúde. Mais do que qualificação dos profissionais, a bioética pode fornecer condições para que um trabalhador da saúde se reconheça qualificado de forma diferenciada. FIGURA 1 Conceito de bioética FONTE Freepik Definição Bioética significa “ética da vida”. Origem grega – bios (vida) e ética (costumes, valores de uma determinada sociedade, em algum momento histórico). Objetivo geral da bioética: alcançar benefícios e assegurar a integridade dos seres humanos, defendendo o princípio da dignidade humana. 9 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 SASS (1990) refere-se à bioética como algo mais amplo, não ficando restrita apenas à relação médico - enfermeiro - paciente, incluindo também a responsabilidade dos profissionais por todas as formas de vida, dentro de uma medicina organizada e institucionalizada. Mostra-se de extrema relevância suas considerações sobre sempre ter-se em vista, ao cuidar-se de um paciente, o valor tanto dele como do profissional e da sociedade, tentando, dessa forma, atingir o “que é melhor para o paciente”. Lembramos que, na relação enfermeiro-paciente, apesar de acharmos que é uma relação “a dois”, sempre estará presente um terceiro fator, a justiça (sociedade), norteando essa relação. Devemos ter em mente, nessa relação, que o profissional não é mais o sujeito mandante e o paciente, o objeto obediente, mas sim, ambos sujeitos; o primeiro para ajudar, com seu conhecimento técnico e moral; o segundo para receber ajuda técnica e ética. Essa relação profissional não é exclusiva com o paciente, pois, em maior ou menor grau, poderão estar envolvidos família e amigos, especialmente em casos de crianças ou pacientes inconscientes. Para planejarmos os cuidados de higiene, alimentação, administração de medicamentos, entre outros, deveríamos levar em consideração os hábitos, costumes e valores do paciente, o que frequentemente não acontece. Sempre nos perguntamos: Por que o paciente deve ser acordado às 6 horas para tomar banho? Seria essa a melhor hora para ele? Gostaria ele de dormir até mais tarde? Infelizmente, normas preestabelecidas nas instituições muitas vezes não nos permitem essas indagações. Simplesmente, acordamos o paciente para o banho às 6 horas porque é “rotina” da instituição. Importante A bioética abarca a ética médica, porém, não se limita a ela. A ética médica, em sentido tradicional, trata dos problemas relacionados a valores que surgem da relação entre médico e paciente. A bioética constitui um conceito mais amplo, com quatro aspectos importantes: • Compreende os problemas relacionados a valores que surgem em todas as profissões de saúde, inclusive nas profissões “afins” e nas 10 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 Vamos em frente... Os horários para visita, geralmente, são naquelas horas do dia que “menos atrapalham o serviço”, não levando em consideração que são em horário normal de trabalho, dificultando assim, que os familiares possam estar com seu enfermo. Além disso, frequentemente, esse período destinado à visita é muito curto, com limitação do número de pessoas que podem entrar ao mesmo tempo, gerando angústia e insatisfação para o paciente que deseja estar com seus familiares, o que, muitas vezes, poderia contribuir para uma recuperação mais rápida. vinculadas à saúde mental. • Aplica-se às investigações biomédicas e às do comportamento, independentemente de influírem ou não de forma direta na terapêutica. • Aborda uma ampla gama de questões sociais, como as que se relacionam com a saúde ocupacional e internacional e com a ética do controle da natalidade, entre outras. • Vai além da vida e da saúde humana, enquanto compreende questões relativas à vida dos animais e das plantas, por exemplo, no que concerne às experimentações com animais e às demandas ambientais conflitivas. Reflita Outra situação com que nos deparamos refere-se aos pacientes muito graves que frequentemente são “isolados” dentro de centro de cuidados de alta tecnologia e acabam por falecer longe de seus familiares. Acreditamos ser necessário refletirmos profundamente sobre esse fato. Se fôssemos nós, gostaríamos de morrer assim? 11 Ações de Prevenção e AtençãoOncológica Bioética Capitulo 1 Comentários a respeito de pacientes também não são incomuns, ferindo nosso próprio juramento. É nossa obrigação estarmos alertas, evitando que isso aconteça, pois, o que para nós parece ter pouca ou nenhuma importância, para o paciente pode ser crucial. Os princípios da bioética Com o surgimento da bioética, na década de 70, era necessário estabelecer uma metodologia para analisar os casos concretos e os problemas éticos que emergiam da prática da assistência à saúde. Em 1979, os norte-americanos Tom L. Beauchamp e James F. Childress publicaram um livro chamado Principles of Biomedical Ethics, em que expuseram uma teoria fundamentada em quatro princípios básicos: não maleficência, beneficência, autonomia e justiça, que, a partir de então, tornaram-se fundamentais para o desenvolvimento da bioética e ditaram uma forma peculiar de definir e manejar os valores envolvidos nas relações dos profissionais de saúde e seus pacientes. Estes quatro princípios receberam na bioética a denominação de principialismo. O principialismo surgiu em função da necessidade dos profissionais da área da saúde de possuírem um eixo de regras morais capazes de ajudá-los a enfrentar as novas situações criadas com o avanço dos direitos do paciente. Até o surgimento do principialismo, a doutrina ética utilizada pelos profissionais da área da saúde era a ética das virtudes. Explicando Melhor A ética das virtudes, de Aristóteles, supõe que o agente seja capaz de estabelecer o bem do paciente e, com isso, possa ter uma conduta moralmente correta para com ele. No entanto, atualmente, a ética das virtudes não corresponde às demandas modernas por novas posturas nas relações de médico - paciente. 12 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 Um exemplo: o médico era considerado como alguém que possuía uma situação de autoridade e que poderia decidir pelo paciente, sendo que, com o desenvolvimento do princípio de autonomia, o paciente passou a ter um novo status na sua relação com o médico. Protegidos pelo sistema jurídico, ele pode estabelecer uma relação menos desigual com o profissional da saúde, agora, só com seu consentimento o médico terá autorização para decidir sobre seu bem-estar. Continuando a destacar esses princípios, a Autonomia significa a capacidade da pessoa humana de estabelecer os fins para sua conduta em função de seus valores e de escolher os meios adequados para atingi-los. Abrange uma série de dimensões da existência humana, sendo que duas delas se destacam: a MORAL e a JURÍDICA. • MORAL: ausência de limites para decidir sobre si mesmo, respeitando a liberdade do ser humano, lembrando que a autogovernabilidade só deve ser respeitada quando a decisão de uma pessoa não resulte em danos para outro ser humano. A violação da autonomia só é aceita quando o bem público se sobrepõe ao bem individual. • JURÍDICA: denominada também de princípio da intimidade, tem a função de garantir a liberdade individual, que nos dias de hoje, tem um vasto espaço a ser exercida, direito esse reconhecido e garantido judicialmente. O princípio moral da autonomia e o princípio jurídico da intimidade introduziram na área da saúde o conceito de consentimento livre e esclarecido, que garante ao paciente o direito de contar com informações suficientes que o tornem livre de qualquer forma de coerção ou engano por parte da equipe de saúde, bem como lhe dá condições para fazer uma escolha racional de aceitar ou não a realização de um diagnóstico ou procedimento e fazer ou recusar um tratamento. Este princípio obriga o profissional de saúde a dar ao paciente a mais completa informação possível, com o intuito de promover uma compreensão adequada do problema, condição essencial para que o paciente possa tomar uma decisão. 13 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 O princípio da beneficência é que estabelece esta obrigação moral de agir em benefício dos outros. Beneficência quer dizer fazer o bem. Isto significa que temos a obrigação moral de agir para o benefício do outro. Este conceito, quando é utilizado na área de cuidados com a saúde, engloba todas as profissões das ciências da vida e da saúde e significa fazer o que é melhor para o paciente, não só do ponto de vista técnico- assistencial, mas também do ponto de vista ético. É usar todos os conhecimentos e habilidades profissionais a serviço do paciente, considerando, na tomada de decisão, a minimização dos riscos e a maximização dos benefícios do procedimento a realizar. Para utilizarmos este princípio, é necessário o desenvolvimento de competências profissionais, pois, só assim, podemos decidir quais são os riscos e benefícios que estaremos expondo nossos clientes, quando nós decidimos por determinadas atitudes, práticas ou procedimentos. Explicando Melhor O consentimento livre e informado deve ser entendido como um processo de relacionamento em que o papel do profissional de saúde é o de indicar as opções, seus benefícios, seus riscos e custos, discuti-las com o paciente, ajudá-lo a escolher aquela que lhe é mais benéfica. Porém, existem algumas circunstâncias especiais em que limitam a obtenção do consentimento informado, como: a. A incapacidade: tanto a das crianças e adolescentes como aquela causada, em adultos, por diminuição do sensório ou da consciência e nas patologias neurológicas e psiquiátricas severas. b. As situações de urgência, quando se necessita agir e não se pode. c. A obrigação legal de declaração das doenças de notificação compulsória. d. Um risco grave para a saúde de outras pessoas, cuja identidade é conhecida, obriga o médico a informá-las mesmo que o paciente não autorize. e. Quando o paciente se recusa a ser informado e participar das decisões. 14 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 A não-maleficência é considerada por muitos como o princípio fundamental da tradição hipocrática da ética médica. Tem suas raízes em uma máxima que preconiza: “criar o hábito de duas coisas: socorrer (ajudar) ou, ao menos, não causar danos”. A não-maleficência tem importância porque, muitas vezes, o risco de causar danos é inseparável de uma ação ou procedimento que está moralmente indicado. Exemplo: Uma simples retirada de sangue para realizar um teste diagnóstico tem um risco de causar hemorragia no local puncionado. Do ponto de vista ético, este dano pode estar justificado se o benefício esperado com o resultado deste exame for maior que o risco de hemorragia. A intenção do procedimento é beneficiar o paciente e não lhe causar o sangramento. Neste exemplo, as consequências do dano são pequenas e, certamente, não há risco de vida. Porém, se o paciente tiver problemas de hemostasia, este risco ficará aumentado. O princípio da justiça está relacionado à distribuição correta e adequada de deveres e benefícios sociais. Entende-se, dessa forma, que os seres humanos são iguais desde seu nascimento, não lhes podendo ser negado qualquer tratamento ou assistência em função de nenhum tipo de discriminação, seja social, racial ou outro fator, preocupando- se com a equidade na distribuição de bens e recursos considerados comuns, em uma tentativa de igualar as oportunidades de acesso a estes bens. Com a crescente socialização dos cuidados com a saúde, as dificuldades de acesso e o alto custo destes serviços, as questões relativas à justiça social são cada dia mais prementes e necessitam ser consideradas quando se analisam os conflitos éticos que emergem da necessidade de uma distribuição justa de assistência à saúde das populações. Importante A ética, em seu nível público, além de proteger a vida e a integridade das pessoas, objetiva evitar a discriminação, a marginalização e a segregação social. 15 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 Neste contexto, o conceito de justiça deve fundamentar-se na premissa que as pessoas têm direito a um mínimo decente decuidados com sua saúde. Isto inclui garantias de igualdade de direitos, equidade na distribuição de bens, riscos e benefícios, respeito às diferenças individuais e a busca de alternativas para atendê-las, liberdade de expressão e igual consideração dos interesses envolvidos nas relações do sistema de saúde, dos profissionais e dos usuários. QUADRO 1 Exigência ética fundamental FONTE Elaborado pela autora (2022). O principialismo e o cuidado na enfermagem No século XIX, emergiu na Inglaterra, Florence Nightingale, a grande personagem que treinava pessoas para cuidar de pessoas e transformou o cuidado em um campo de conhecimento singular, com métodos e técnicas específicas, diferentes das anteriormente executadas. Na sua origem, a enfermagem era exclusivamente desenvolvida por mulheres e voltada mais para a maternidade. Florence Nightingale estruturou seu modelo de assistência depois de ter trabalhado no cuidado de soldados 16 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 durante a guerra da Crimeia. Com seu embasamento técnico e científico, Florence deu origem e implantou o que hoje conhecemos como processo de enfermagem, em que se aplica uma sequência de atividades com o intuito de agilizar o cuidado e obter uma melhor eficácia no atendimento. No decorrer dos anos, a imagem vocacional ou religiosa da enfermagem foi cedendo espaço à profissional, o que levou a uma exigência cada vez maior de competência e qualificação técnica dos profissionais enfermeiros, agregando-se a reflexões éticas. Se dermos ênfase somente aos aspectos técnicos, corremos o risco dos procedimentos se tornarem rotina, prejudicando o processo de cuidado do paciente como um todo. Mas, se o desequilíbrio tender para o outro lado, a rigidez na observação dos códigos morais e éticos poderá dificultar o desenvolvimento dos procedimentos científicos que norteiam e fundamentam a assistência de enfermagem. No entanto, a bioética abrange além das ciências da vida e da saúde, outras áreas do conhecimento que tenham a ver com a vida. Sendo assim, destacam-se os quatros princípios da bioética, que contribuem para a prática dos cuidados de enfermagem, baseando suas ações no que será melhor para o paciente. Saiba Mais Para aprender um pouco mais sobre Processo de Enfermagem, assista ao vídeo “Processo de Enfermagem (SAE)”, com a Prof. Dra. Consuelo Corrêa. Clique aqui. https://www.youtube.com/supported_browsers?next_url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DgBjqALRN9-Y&t=1s 17 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 A enfermagem é uma das profissões da área da saúde, cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, individualmente, na família ou na comunidade, desenvolvendo atividades de promoção, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação da saúde, atuando em equipes. Se responsabiliza por meio do cuidado, pelo: • Conforto, acolhimento e bem-estar dos pacientes, seja prestando o cuidado, seja coordenando outros setores para a prestação da assistência e promovendo a autonomia dos pacientes por meio da educação em saúde. • Estudo e aprimoramento das relações interpessoais e, sendo assim, os profissionais da enfermagem podem contribuir com a bioética na busca do outro, o olhar o outro como um ser integral, o preocupar-se com as necessidades do outro. A enfermagem aplica os princípios da bioética no seu cotidiano quando respeita a individualidade do paciente, atende as necessidades de cada paciente direcionando o cuidado a essas necessidades, presta uma assistência isenta de riscos e danos físicos ou morais ou sempre quando informa a ação a ser executada ao sujeito, dando-lhe o direito de aceitá-la ou recusá- la. O que se quer é que o profissional da saúde oriente sua prática pelo “‘compromisso ético do cuidado” e guie seu agir por uma atitude que ultrapasse os limites da consciência Saiba Mais Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o artigo: “O cuidado de si como condição para o cuidado dos outros na prática de saúde”, acesse aqui. https://bit.ly/2HfIT9O 18 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 profissional, traçando a ponte para a “conviviabilidade””, do cuidado técnico e o cuidado- ético. FIGURA 2 Bioética e suas múltiplas aplicações na saúde FONTE Pixabay Acesse Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o artigo: “Bioética e a questão da assistência oncológica” - página 148. Clique aqui. 19 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Bioética Capitulo 1 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a bioética foi iniciada como um movimento social que buscava ética nas ciências biológicas e áreas afins, mas hoje, adquiriu dimensão mais ampla e tornou-se uma disciplina norteadora para o biodireito e para a legislação. Deve ter compreendido que os princípios éticos, baseados na ideia de boa prática ou boa ciência, regulam comportamentos e ações e protejam contra abusos, iatrogenias e erros. Deve ainda ter aprendido que existem princípios que devem ser seguidos para que a ética e a bioética sejam desenvolvidas nos setores de saúde.. 20 @faculdadelibano_ 2 Política nacional de atenção oncológica 21 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 2 Política nacional de atenção oncológica Conhecendo a política nacional de atenção oncológica No Brasil, a abordagem do câncer como problema sanitário a ser enfrentado pelo Estado se deu somente a partir da década de 30, no século XX, pela atuação de pesquisadores da área como Mario Kroeff, Eduardo Rabello e Sérgio Barros de Azevedo. O caráter nacional do controle do câncer viria sob a forma de criação do Serviço Nacional de Câncer (SNC), em 1941, destinado a orientar e controlar a campanha de câncer em todo o país. Objetivos Ao término deste capítulo, você será capaz de entender em que consiste a ciência do Direito e como ela está relacionada com a moral e com a justiça. Certamente isto será fundamental para a compreensão dos capítulos a seguir. Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! 22 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 Em 1954, o Brasil sediou o VI Congresso Internacional de Câncer, em São Paulo, organizado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC). Neste evento, foram destacados o câncer como problema de saúde pública e o conceito de controle como “meios práticos aplicados às coletividades ou aos indivíduos, capazes de influenciar a mortalidade por câncer” construído por meio da prevenção, educação, diagnóstico e tratamento. Em 1957 foi inaugurado o hospital-instituto (atual INCA), no Rio de Janeiro, que passou a ser sede do SNC. A partir de então, esforços de unificação das ações de controle do câncer resultaram, em 1967, na institucionalização da Campanha Nacional de Combate ao Câncer. Após um período de retrocesso nas políticas de controle do câncer na década de 70, foi criado, nos anos 80, o Programa de Oncologia (Pro-Onco), com o objetivo de retomar o controle da doença. FIGURA 3 Política Nacional de Atenção Oncológica FONTE Elaborado pela autora (2022). 23 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 Este esforço para consolidar ações nacionais de controle do câncer culminou, no final de 2005, com o lançamento da Portaria nº 2439/GM (BRASIL, 2005b) que estabeleceu a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO). De forma inovadora, na abordagem integrada de tratar a questão do câncer, esta política estabeleceu diretrizes para o controle do câncer no Brasil, desde a promoção da saúde até os cuidados paliativos. A Portaria nº 2439 do Ministério da Saúde propõe e orienta a organização da Rede de Atenção Oncológica nos Estados, uma estratégia de articulaçãoinstitucional voltada para superar a fragmentação das ações e garantir maior efetividade e eficiência no controle do câncer. Ela prevê o conjunto de ações necessárias para a atenção integral ao câncer: “promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão”. Importante A partir da década de 90, com o processo de estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), coube ao INCA o papel de agente diretivo das políticas de controle do câncer no país. Em 1998, surgiu o Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero (Viva Mulher) e, em 2000, as primeiras iniciativas para o controle do câncer de mama, consolidadas com as diretrizes técnicas nesta área. Outras ações, como a ampliação dos registros de câncer e a expansão da assistência oncológica por meio dos centros de alta complexidade foram implementadas nos últimos 10 anos. 24 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 As proposições desta política estão em consonância com o ideário do SUS de constituição de um modelo assistencial voltado para a melhoria da qualidade de vida, por meio do investimento na promoção, proteção e recuperação da saúde. A organização do rastreamento dos cânceres do colo do útero e mama têm sido a linha de frente do processo de estruturação da rede assistencial. Importante Dentre seus componentes, destacam-se: vigilância em saúde (ênfase no controle do tabagismo, promoção da alimentação saudável e da atividade física, preservação do meio ambiente e segurança ocupacional), em articulação com a política nacional de promoção da saúde; ampliação da cobertura com assistência qualificada conforme os princípios de universalidade, integralidade e humanização; definição de parâmetros técnicos para avaliação, controle e regulação dos serviços; educação permanente dos profissionais; fortalecimento dos sistemas de informação; avaliação tecnológica e incentivo à pesquisa. Saiba Mais Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos leitura do artigo “Política de Atenção ao Câncer no Brasil após a Criação do Sistema Único de Saúde”. Clique aqui. https://bit.ly/33M6SqG 25 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 No Brasil, a preocupação com prevenção e controle do câncer iniciou na década de 1930. Daquela época, até os dias atuais, todo o sistema de saúde brasileiro passou por uma série de transformações, até a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), até chegar em 1998, quando o Ministério da Saúde passou a coordenar a política de saúde no país. O programa de controle do câncer do colo de útero e mama foi implementado pelo Ministério da Saúde dentro das concepções do SUS, de forma descentralizada, integral e equânime, com ações desenvolvidas em diferentes serviços e níveis de atenção. A organização da prestação da assistência no SUS é baseada em dois princípios fundamentais: a regionalização e a hierarquização. O câncer é responsável por mais de 12% de todas as causas de óbito no mundo: mais de 7 milhões de pessoas morrem da doença anualmente. Como a esperança de vida tem melhorado gradativamente, a incidência de câncer, estimada em 2002 em 11 milhões de casos novos alcançará quase 20 milhões em 2020, segundo a União Internacional Contra o Câncer (UICC). A explicação para este crescimento está na maior exposição dos indivíduos a fatores de risco cancerígenos. Com o recente e exponencial envelhecimento da população, é possível identificar um aumento expressivo na prevalência do câncer, que demanda dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) a atenção adequada aos doentes (DECIT, 2007). Este cenário ilustra a necessidade de grande investimento no desenvolvimento de ações amplas e abrangentes para melhoria do controle do câncer em todos os níveis: Importante Desde então, o Instituto Nacional de Câncer - INCA é o órgão responsável pela formulação da Política Nacional do Câncer. 26 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 promoção da saúde, detecção precoce, assistência aos pacientes, vigilância do câncer e dos seus fatores de risco, formação de recursos humanos, comunicação e mobilização social, pesquisa e gestão do SUS (DECIT, 2007). Relatório de Auditoria Operacional – PNAO Considerando o aumento da incidência de câncer no Brasil e dos gastos federais com tratamentos oncológicos, que ultrapassaram R$1,9 bilhões em 2010 e, ainda, as deficiências na estrutura da rede de atenção em oncologia apuradas em levantamento realizado na Função Saúde foi aprovada a proposta de realização de auditoria operacional no Ministério da Saúde, na Secretaria de Atenção à Saúde e no Instituto Nacional de Câncer com o objetivo de avaliar a PNAO. O referido relatório aponta que a PNAO foi concebida de forma a permitir as seguintes ações: a. O desenvolvimento de estratégias coerentes com a política nacional de promoção da saúde voltadas para a identificação dos fatores determinantes e condicionantes das neoplasias malignas mais prevalentes e orientadas para o desenvolvimento de ações que promovam a redução de danos e a proteção da vida, de forma a assegurar a equidade e a autonomia de indivíduos e coletividades. b. A organização de uma linha de cuidados que perpasse todos os níveis de atenção, desde a atenção básica até a atenção especializada de média e alta complexidade e de atendimento contemplados pela política (promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos). c. A constituição de Redes Estaduais ou Regionais de Atenção Oncológica, formalizadas nos Planos Estaduais de Saúde, com estabelecimento de fluxos de referência e contra Você Sabia? Foi realizado, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2011, uma auditoria, que resultou na publicação de um Relatório de Auditoria Operacional – PNAO (BRASIL, 2011). 27 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 referência, de forma a garantir o acesso e atendimento integrais. d. A definição de critérios técnicos adequados para o funcionamento e para a avaliação dos serviços públicos e privados que atuam na atenção oncológica, assim como sistemática para sua monitoração. e. A ampliação da cobertura do atendimento aos doentes de câncer, de forma a assegurar a universalidade, a equidade, a integralidade, o controle social e o acesso à assistência oncológica. f. O fomento, a coordenação e a execução de projetos de incorporação tecnológica, por meio de estudos de custo-efetividade, eficácia e qualidade da atenção oncológica no Brasil. g. O auxílio ao desenvolvimento de processos e métodos de coleta, análise e organização dos resultados das ações decorrentes da política, de forma a permitir o aprimoramento da gestão e a disseminação das informações. h. A promoção do intercâmbio com outros subsistemas de informações setoriais, de forma a aperfeiçoar a produção de dados e a democratização das informações. i. A qualificação da assistência e a promoção da educação permanente dos profissionais de saúde envolvidos com a implantação da política, de acordo com os princípios da integralidade e da humanização. j. O fomento à formação e à especialização dos recursos humanos para atuação na rede de atenção oncológica. k. O incentivo à pesquisa sobre a atenção oncológica, de acordo com os objetivos da Política Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde. Você Sabia? O mesmo relatório concluiu que a PNAO definiu, ainda, os componentes fundamentais da política, dentre os quais, destacam-se: a. A promoção e a vigilância em saúde, que devem utilizar, entre outras, ações que proporcionem a redução de fatores de risco para as neoplasias. b. A atenção básica, com previsão de ações voltadas para a promoção da saúde, a prevenção do câncer, o diagnóstico precoce,o apoio à terapêutica, aos cuidados paliativos e ao seguimento dos doentes. 28 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 c. Média complexidade, assistência que deve ser garantida por meio do processo de referência e contra referência dos pacientes. d. Alta complexidade, organizada de forma a assegurar o acesso dos doentes com diagnóstico definitivo, deverá determinar o estadiamento da doença, tratar os pacientes com qualidade e de acordo com as condutas estabelecidas em unidades e centros de alta complexidade em oncologia. e. Sistema de informação, que deve possibilitar aos gestores subsídios para a tomada de decisões e promover a disseminação de informações. f. Diretrizes nacionais para a atenção oncológica, envolvendo todos os níveis de atenção que possibilitem o aprimoramento da atenção, da regulação, da avaliação e dos controles. g. Avaliação tecnológica, que deve oferecer subsídios para a tomada de decisões no processo de incorporação de novas tecnologias. h. A educação permanente e capacitação das equipes em todos os níveis de atenção Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON), Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) e os Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) Por meio da Portaria nº 2.439/05, publicada em 19 de dezembro de 2005, e da Portaria nº 741, da Secretaria de Atenção à Saúde, foram definidas as características das Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON): 29 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 UNACON sem radioterapia Nas UNACON sem radioterapia (a radioterapia deve ser referenciada), os serviços específicos obrigatórios são: Cirurgia: 1. Cancerologia cirúrgica. 2. Cirurgia geral /coloproctologia. 3. Ginecologia /mastologia. 4. Urologia. Oncologia clínica: Quimioterapia para adultos: serviços específicos facultativos que dependem de decisão do gestor, com base em parâmetros de necessidade e no planejamento da rede. Na UNACON sem radioterapia ainda foi criada uma nova estrutura especializada: a Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia exclusiva de hematologia (UNACON Hematológica), com os seguintes serviços específicos obrigatórios: • Cirurgia geral. • Cirurgia pediátrica. Serviço de hematologia: 1. Quimioterapia para adultos. 2. Quimioterapia para crianças. Definição Entende-se por UNACON, o hospital que possui condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico definitivo e tratamento dos cânceres mais prevalentes no Brasil (colo do útero, mama, próstata, estômago, cólon e reto). 30 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 Na UNACON modalidade pediátrica, conta-se com os seguintes serviços específicos obrigatórios: Cirurgia: 1. Cirurgia pediátrica. 2. Serviço de pediatria: quimioterapia para crianças (incluindo hematologia). UNACOM com radioterapia Nas UNACON com radioterapia, os serviços específicos obrigatórios são os descritos para a UNACON sem radioterapia, acrescidos do Serviço de Radioterapia. O serviço deverá possuir, no mínimo, um equipamento de teleterapia profunda. Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) Definição Entende-se por CACON, o hospital que possui condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico definitivo e tratamento de todos os tipos de câncer. Nos CACON, os serviços específicos obrigatórios são: • Cirurgia (profissionais com habilitação em cancerologia cirúrgica): 1. Cancerologia cirúrgica. 2. Cirurgia geral/coloproctologia. 3. Ginecologia/ mastologia. 4. Urologia. 5. Cabeça e pescoço. 6. Torácica. 31 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 7. Plástica. 8. Oncologia clínica. 9. Quimioterapia para adultos. • Serviço de hematologia radioterapia: • Própria para procedimento de teleterapia superficial e profunda. • Sistema de planejamento computadorizado tridimensional. • Braquiterapia de baixa, média ou alta taxa de dose. Serviços específicos facultativos (dependem de decisão do gestor, com base em parâmetros de necessidade e no planejamento da rede): • Cirurgia: • Cirurgia pediátrica. 10. Oftalmologia, ortopedia e neurocirurgia (articulados de maneira formal na rede de alta complexidade). Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia Definição Entende-se por Centro de Referência, o CACON que exerça o papel auxiliar, de caráter técnico, ao gestor do SUS, nas políticas de atenção oncológica. Exigências específicas: 1. Credenciamento como CACON. 2. Hospital de ensino. 3. Residência e/ou curso de especialização médica em radioterapia e cancerologia cirúrgica e clínica. 4. Residência e/ou curso de especialização em enfermagem oncológica. 32 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 5. Outra figura acrescentada a essa rede é a autorização para cobrança de cirurgias oncológicas em hospitais gerais pelo prazo de 12 meses. A seguir estão elencados alguns dos critérios para essa autorização: a. Atuar de maneira complementar às UNACON e aos CACON. b. A produção das UNACON e CACON não seja suficiente nesta área. Quanto às unidades isoladas de radioterapia e/ou quimioterapia já credenciadas anteriormente, poderão ser mantidas na rede pelo prazo de 12 meses, desde que: a. Sejam julgadas necessárias pelo respectivo gestor do SUS. b. Atuem de forma complementar, atendendo exclusivamente pacientes encaminhados sob autorização e regulação. c. A produção das UNACON e dos CACON não sejam suficientes. d. Cumpram os requisitos das normas de credenciamento. e. Estejam vinculadas à rede planejada pelo gestor a uma UNACON ou CACON para cooperação técnica e planejamento terapêutico global conjunto dos casos. f. A autorização poderá ser renovada, pelo mesmo prazo, desde que os pré-requisitos se mantenham. Importante Essa portaria caracterizou a infraestrutura mínima necessária para cada tipo de estabelecimento hospitalar, com o intuito de credenciar e habilitar as UNACON ou CACON, de acordo com sua capacidade. Outro destaque é quanto à importância da informação por meio do prontuário único e do Registro Hospitalar de Câncer (RHC). Ressalta-se, também, a equipe de apoio multidisciplinar, com atividades na área ambulatorial e de internação nas áreas: • Psicologia clínica. • Serviço social. • Nutrição. • Cuidados de ostomizados. 33 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 • Fisioterapia. • Reabilitação. • Odontologia, psiquiatria e terapia renal substitutiva (opcional). No Serviço de Oncologia Clínica é necessário a apresentação de rotina de funcionamento escrita com, no mínimo, os procedimentos médicos, farmacêuticos e de enfermagem, o que ressalta a atuação do profissional dedicado à administração de quimioterápicos. No Serviço de radioterapia, o enfermeiro e o técnico de enfermagem são integrantes da equipe do serviço. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece a necessidade de médico especialista em radioterapia, físico médico e técnico de radioterapia. O artigo 7º estabelece que, na definição dos quantitativos e da distribuição geográfica das UNACON e CACON e centros de referência, os gestores do SUS devem utilizar os critérios e parâmetros definidos pela SAS, por meio do Anexo III: 1. População a ser atendida. 2. Necessidade de cobertura assistencial. 3. Mecanismos de acesso com os fluxos de referência e contra referência. 4. Capacidade técnica e operacional dos serviços. 5. Série histórica de atendimentos realizados.6. Integração com os mecanismos de regulação e com os demais serviços assistenciais – ambulatoriais e hospitalares – que compõem a rede de atenção oncológica no estado. O parâmetro que está sendo utilizado para o planejamento da sub-rede de alta complexidade em oncologia é o seguinte: número de casos novos de câncer por estado, a partir das taxas brutas de incidência de câncer. 34 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Política nacional de atenção oncológica Capitulo 2 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a abordagem do câncer como problema sanitário a ser enfrentado pelo Estado se deu somente a partir da década de 30 do século XX, pela atuação de pesquisadores da área como Mario Kroeff, Eduardo Rabello e Sérgio Barros de Azevedo e, que no Brasil, a preocupação com prevenção e controle do câncer, iniciou na década de 1930. Deve ter compreendido que por meio do UNACON, o hospital que possui condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade participa do diagnóstico definitivo e tratamento dos cânceres mais prevalentes no Brasil. 35 @faculdadelibano_ 3 Ações de prevenção no controle de câncer 36 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3 Ações de prevenção no controle de câncer A prevenção sempre é a melhor alternativa para qualquer tipo de doença. Com o câncer não é diferente. A incidência da doença e o número de óbitos vêm em consequência ao estilo de vida que a população está vivenciando. Objetivos Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer os fatores de risco do câncer, visando à promoção da saúde. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Você Sabia? A necessidade de se trabalhar com a promoção a saúde é premente. Prevenção ainda é o melhor tratamento e pode significar uma significativa redução da mortalidade. Estudos tentam minimizar o aparecimento da doença por meio de pesquisas com a quimio-prevenção, certos medicamentos, vacinas entre outros. Testes genéticos para pessoas de alto risco também estão disponíveis. São medidas de esforço internacionais que visam à geração de medidas que possam prever o risco, permitir o diagnóstico precoce e promover estratégias mais específicas em relação aos tratamentos já empregados. Vários estudos têm demonstrado que numerosos fatores como raça, influência cultural, nível educacional, renda e idade influenciam o grau de conhecimento que as pessoas 37 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Ações de prevenção no controle de câncer Capitulo 3 têm acerca dos fatores de risco para o câncer e tipos de comportamentos saudáveis que precisam praticar. A conscientização do público acerca da promoção da saúde pode ser aumentada de várias formas. Programas de educação e manutenção da saúde são patrocinados por organizações comunitárias, como igrejas, grupos comunitários e associações de pais e mestres. Os programas de prevenção primária podem focalizar os riscos de fumo ou a importância da alimentação. Os programas de prevenção secundária podem incluir o autoexame de mama, próstata e o teste de Papanicolau. A seguir veja um esquema para que você possa identificar os tipos de prevenção: FIGURA 4 Tipos de prevenção FONTE Elaborado pela autora (2022). 38 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3 O câncer é uma doença genética, cujo processo tem início com um dano a um ou a um grupo de genes de uma célula e progride quando todos os mecanismos do complexo sistema imunológico de reparação ou destruição celular falham. Podemos classificar os fatores de risco em: intrínsecos ou extrínsecos. • FATORES DE RISCO INTRÍNSECOS: a idade, o gênero, a etnia ou raça e a herança genética. • FATORES DE RISCO EXTRÍNSECOS: uso de tabaco e álcool, hábitos alimentares inadequados, inatividade física, agentes infecciosos, radiação ultravioleta, exposições ocupacionais, poluição ambiental, radiação ionizante, alimentos contaminados, obesidade e situação socioeconômica, uso de drogas hormonais, fatores reprodutivos e a imunossupressão. Fatores de risco para o câncer Definição Chamamos de Fatores de risco qualquer coisa que aumenta o risco de um indivíduo desenvolver uma determinada doença ou sofrer um determinado agravo. Explicando Melhor Essa exposição é cumulativa no tempo e, portanto, o risco de câncer aumenta com a idade. Mas, é a interação entre os fatores intrínsecos e extrínsecos que vai determinar o risco individual de câncer. Parte dos fatores ambientais depende do comportamento do indivíduo, que pode ser modificado, reduzindo o risco de desenvolver um câncer. A partir da premissa de que é possível modificar o risco de desenvolvimento do câncer, estima-se hoje que cerca de 30% de todas as neoplasias podem ser prevenidas. Ações de prevenção no controle de câncer 39 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer Nos Estados Unidos, estima-se que pelo menos dois terços das mortes por câncer estão relacionadas com apenas quatro fatores: uso do tabaco, alimentação, obesidade e inatividade física e todos eles podem ser modificados. As modificações dependem, portanto, de mudanças no estilo de vida individual, do desenvolvimento de ações e regulamentações governamentais, de mudanças culturais na sociedade e dos resultados de novas pesquisas. Sob essa perspectiva, os fatores de risco para o câncer são hoje classificados segundo a possibilidade de modificação. 40 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer 41 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer Fatores protetores para o câncer de mama O INCA (2013) dá ênfase sobre a importância de uma alimentação saudável, porém, ela só funcionará como fator protetor quando adotada constantemente durante toda a vida, devendo ser incentivados e valorizados os bons hábitos alimentares, citando como exemplo o brasileiro no ato do uso contínuo do arroz com feijão, ações de prevenção primária e secundária do câncer de mama. QUADRO 2 Fatores de risco para o câncer segundo a possibilidade de modificação FONTE American Cancer Society (2006). Acesse Quer se aprofundar neste tema? Acesse o vídeo Cuidados com a alimentação para se proteger do câncer de mama. 42 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer De acordo com INCA (2013), a dieta tem se constituído um fator de proteção para vários tipos de câncer. Frutas, verduras, legumes e cereais integrais, vitaminas e fibras contém nutrientes capazes de auxiliar nas defesas naturais do nosso organismo, sendo que esses alimentos podem bloquear ou reverter estágios iniciais do processo de mutação que as células cancerígenas desenvolvem, porém, esses alimentos devem ser consumidos com frequência. FIGURA 4 Óbitos por câncer de mama em 2018 por gênero FONTE Gauthier (2018) 43 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer A prevenção do câncer de mama de nível primário consiste em um conjunto de ações que objetivam reduzir o risco de câncer por meio da eliminação ou limite da exposição aos fatores casuais e promoção dos fatores de proteção, incluindo atividades de promoção à saúde. No tocante às ações de prevenção primária, pode-se afirmar que estão relacionadas à alteração de inúmeros hábitos, como: alimentação, sobrepeso e obesidade, atividade física, exposição solar, tabagismo, álcool, ou seja, as situações apontadas como risco modificáveis. O Inca (2008) destaca, dentro das ações de prevenção primárias, que uma alimentação variada tem relação direta sobre a possibilidade de desenvolvercâncer, uma vez que a alimentação composta pelos mais variados alimentos, nutrientes e substâncias químicas interferem no risco de câncer, destacando que as evidências científicas têm demonstrado que um consumo maior de frutas, legumes e verduras contribui para FIGURA 5 Fatores relacionados ao câncer de mama FONTE TUA Seguros (2019). 44 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer a redução de câncer, também a manutenção do peso corporal, considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a segunda causa evitável de câncer. A atividade física regular constitui-se em uma ação de prevenção primária, bem como fator protetor, pois está relacionada com a regulação dos hormônios femininos durante sua prática, além de manter o equilíbrio entre a ingestão calórica e gasto energético. Considerada uma forma de prevenção primária, a mastectomia profilática, a qual consiste na retirada total da mama, seguida por reconstrução imediata da mama, pode reduzir o risco de câncer de mama em 90%, as possíveis candidatas incluem mulheres com forte história familiar de câncer de mama, diagnóstico de carcinoma lobular in situ (CLIS), ou hiperplasia atípica, mutação do gene BRCA, que são genes de supressão tumoral e normalmente funcionam para identificar o DNA danificado, restringindo o crescimento celular anormal, medo extremo de câncer ou câncer prévio em uma das mamas. Em relação à prevenção secundária está pautada na identificação de grupos de riscos e na definição de ações específicas para detecção precoce, o autoexame das mamas, o exame clínico anual e a mamografia compõem o tripé da prevenção secundária. A vigilância em longo prazo é recomendada a mulheres consideradas de alto risco, que podem começar mais cedo os exames clínicos das mamas em relação às outras mulheres, podendo ser realizados duas vezes por ano, dando início aos 25 anos de idade. As formas terapêuticas prestadas pela enfermagem a mulheres com câncer de mama Nota A capacidade de avaliar os pacientes é uma das habilidades da enfermagem, seja qual for o ambiente de atuação. 45 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer A educação em saúde pode ocorrer no momento da consulta de enfermagem ginecológica, em que exames são realizados pelo enfermeiro, devendo este proceder a anamnese e exame físico cauteloso e detalhado, na busca de qualquer alteração fisiológica presente. Nesse momento ocorre a comunicação terapêutica, o enfermeiro orienta, esclarece dúvidas e conforta o paciente, se necessário. A atuação do profissional enfermeiro nas formas terapêuticas prestadas a mulheres com câncer de mama, ao enfatizar que esse profissional pode atuar nas diversas estratégias como no desenvolvimento de ações educativas junto à comunidade, independentemente de sua atuação profissional, citando que um momento oportuno para essa prática deve ser durante a consulta de enfermagem, sendo que nenhum profissional de saúde tem um contato tão prolongado com o paciente como o enfermeiro. Importante O profissional de enfermagem possui um papel fundamental no diagnóstico precoce, ele pode aplicar, em sua prática assistencial, seus conhecimentos sobre fatores de riscos para o câncer, bem como sobre medidas de prevenção. Deve ainda informar sobre os sinais e sintomas de alerta para o câncer, assim, pode obter suspeitas diagnósticas, orientando e encaminhado os pacientes ao serviço de saúde. O profissional enfermeiro deve: • Aplicar em sua prática assistencial seus conhecimentos sobre os fatores de risco para o câncer, bem como sobre as medidas de prevenção. • Saber alertar para os sinais e sintomas evidenciados para a doença, dos quais se destacam sinais de alerta como nódulos, febre contínua, feridas que não cicatrizam, indigestão constante, rouquidão crônica, sangramento vaginal e dor durante a relação sexual. • A atuação do enfermeiro é iniciada desde a prevenção primária e secundária e se 46 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer estende após o diagnóstico, por meio da consulta de enfermagem, a ser realizada por ocasião da internação e antes de cada modalidade terapêutica. • No pós-operatório, deve se avaliar a ferida operatória e orientar para alta, direcionado a mulher para o autocuidado com o sítio cirúrgico e dreno, além do membro homolateral. Cuidar de paciente com câncer é um desafio de ensinar, pois é um indivíduo que se encontra em uma situação ultra especial, uma vez que a disseminação da doença pode ser inevitável e a sobrevida desse paciente passa a ser reduzida. Tal situação exige que o cuidado e o conforto prestado pela enfermagem sejam realizados no tempo presente, no tempo do paciente, que pode ser infinitamente longo ou curto. Os desejos desse paciente devem ser realizados, se possível, sendo que o desafio de cuidar desses pacientes está nas mãos da enfermagem, que deve criar estratégias para colocá-los na melhor condição possível. Importante O câncer de mama é, provavelmente, o tipo de câncer mais temido pelas mulheres, pelo impacto psicológico que ele provoca, afetando negativamente e diretamente a percepção da sexualidade e sua imagem corporal, devendo o enfermeiro perceber imediatamente qualquer alteração psicológica para uma atuação efetiva no sentido de proceder com o devido encaminhando dessa mulher para o profissional habilitado. O profissional enfermeiro que presta assistência as mulheres que estão recebendo tratamento quimioterápico deve encorajá-las no sentido do uso de medicamentos que previnam e controlam as náuseas, vômitos e estomatite, bem como o uso correto dos medicamentos de uso contínuo. Esse profissional deve colocar-se à disposição para qualquer esclarecimento mediante a paciente ou familiar. Outra forma terapêutica que deve ser utilizada pelo profissional 47 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Capitulo 3Ações de prevenção no controle de câncer enfermeiro é a orientação e esclarecimentos sobre a importância da mulher realizar o autoexame das mamas mensalmente, pois ainda existe resistência por parte das mulheres a essa prática, associada a vergonha de se tocar, desconhecimento da técnica e medo de detectar algum nódulo. Os cuidados psicossociais que devem ser disponibilizados durante o tratamento de câncer, pois o sofrimento emocional durante este período é comum nas pacientes, seja por motivos financeiros, pelo comprometimento das atividades cotidiana em função do momento, bem como pela ausência nesse tempo, sendo fundamental que o profissional enfermeiro apoie no ensino de algumas habilidades, utilizando como instrumento a comunicação, o encorajamento, o estímulo e o incentivo para a continuidade do tratamento. Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a prevenção sempre é a melhor alternativa para qualquer tipo de doença e com o câncer não é diferente. Deve ter compreendido que os fatores genéticos para pessoas de alto risco também estão disponíveis. Deve ter aprendido que existem esforços internacionais que visam à geração de medidas que possam prever o risco, permitir o diagnóstico precoce e promover estratégias mais específicas em relação aos tratamentos já empregados. Deve ainda ter aprendido que cuidar de paciente com câncer é um desafio, pois é um indivíduo que se encontra em uma situação ultra especial, uma vez que a disseminação da doença pode ser inevitável e a sobrevida desse paciente passa a ser reduzida. Tal situação exige que o cuidado e conforto prestados pela enfermagem sejam realizados no tempo presente ou no tempo do paciente, que pode ser infinitamente longo ou curto. 48 @faculdadelibano_ 4 Fisiopatologia do câncer 49 Ações de Prevençãoe Atenção Oncológica Capitulo 4 Fisiopatologia do câncer O que é o câncer? O câncer é uma patologia que tem início causando danos ao DNA celular. Quando ocorre a danificação, existem três processos que podem possivelmente acontecer com as células: • Morte celular: a morte celular pode acontecer pelos erros próprios ou por meio da ativação do apoptose realizada pelos genes de suspensão tumoral. • Reconhecimento e reparo do agravo causado por genes de reparo do DNA. • Transmissão de dados para as células originais pelas falhas causadas em outros mecanismos, quando há transmissão dos danos às células descendentes, ou seja, em células-filhas, em que acontece o processo das neoplasias. Objetivos Ao término deste capítulo você será capaz de apontar uma série de dados que traduzem a magnitude do câncer no Brasil. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Definição Câncer: grego karkínos -> “caranguejo”. A palavra câncer foi utilizada pela primeira vez por Hipócrates, o pai da medicina (460 e 377 a.C.). Conjunto de mais de 100 doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos. 50 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 A oncogênese e carcinogênese são classificações para determinar o processo de desenvolvimento da neoplasia, as quais se dão desde as modificações primárias na célula de DNA até a constituição do câncer (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2016). O processo de desenvolvimento do câncer agrega três fases: • Iniciação. • Promoção. • Progressão. A iniciação se dá como um processo rápido. Quando ocorre, as células podem se manter por um período de tempo considerável. Diversas células modificadas não evoluirão, ou ainda, evoluem de maneira lenta. Essas células passam por, pelo menos, um ciclo de divisão celular para que aconteça a fixação do DNA (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2016). A exposição a carcinógenos, a predisposição genética e os múltiplos aspectos associados ao ambiente definem a formação de clones celulares atípicos com a ampliação da fração e crescimento celular (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2016). Importante O corpo humano é exposto constantemente a diversos agentes que podem induzir o surgimento do câncer, estes são denominados de carcinógenos. Independente da exposição, as células são capazes de passar por alterações de modo espontâneo. A promoção acontece por meio de atuação contínua de substâncias fomentadoras, nas quais os efeitos independem da dose ou domínio, e sim, do período de atuação e intensidade das reações que o definem. A maioria das substâncias atreladas são iniciadoras, mas também, promotoras, mesmo que não desenvolvam este papel de modo simultâneo (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2016). Este é um processo lento, estendido, determinado por reação inflamatória. Necessita ser contínuo e empregar repetições, apontando o aumento das modificações 51 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 cromossômicas, expansão do nível mitótico e ampliação das possibilidades de alterações. A etapa de promoção pode levar ao surgimento de neoplasias. Enquanto na fase de progressão, as células são indiferenciadas. Logo em seguida existe a secreção do fator de angiogênese tumoral. Esta, causa aumento da vascularização no interior da estrutura neoplásica, elevando de modo drástico o crescimento e grau de invasividade (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2016). As células normais que formam os tecidos do corpo humano são capazes de se multiplicar por meio de um processo contínuo que é natural. A maioria das células normais cresce, multiplica-se e morre de maneira ordenada. Nem todas as células normais são iguais, algumas nunca se dividem (neurônios) e outras dividem-se de forma rápida e contínua (células do tecido epitelial). A proliferação celular não implica necessariamente presença de malignidade, podendo simplesmente responder às necessidades específicas do corpo. No câncer, as células cancerosas continuam crescendo incontrolavelmente, formando outras novas células anormais. Diversos organismos vivos podem apresentar, em algum momento da vida, anormalidade no crescimento celular – as células se dividem de forma rápida, agressiva e incontrolável, espalhando-se para outras regiões do corpo – acarretando transtornos funcionais. Importante Características do câncer: perda do controle da divisão celular e capacidade de invadir outras estruturas orgânicas. A predisposição hereditária possui grande impacto quando falamos no processo de mutação celular. Os cânceres hereditários normalmente são: • Tumores múltiplos de órgãos (múltiplos órgãos e/ou o mesmo). • Tumores bilaterais em órgãos pares. • Múltiplos focos tumorais no mesmo órgão. 52 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 • Idade inicial precoce. • Tumores histológicos raros. • Tumores de gênero não usual. • Tumores ligados a disfunções congênitas. • Tumores ligados a patologias raras. As neoplasias (câncer in situ e câncer invasivo) correspondem a forma não controlada de crescimento celular e, na prática, são denominados tumores. Saiba Mais Esse fenômeno é chamado de transição epidemiológica ou mudança do perfil epidemiológico. Esse processo engloba, basicamente, três mudanças: • Aumento da morbimortalidade pelas doenças e agravos não transmissíveis e pelas causas externas. • Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens para grupos mais idosos. • Transformação de uma situação em que predomina a mortalidade, para outra na qual a morbidade é dominante, com grande impacto para o sistema de saúde. O câncer está entre as doenças não transmissíveis responsáveis pela mudança do perfil de adoecimento da população brasileira. Vários fatores explicam a participação do câncer na mudança do perfil de adoecimento da população brasileira. Entre eles, podemos citar: • A maior exposição a agentes cancerígenos: os atuais padrões de vida adotados em relação ao trabalho, à alimentação e ao consumo de álcool, de modo geral, expõem os indivíduos a fatores ambientais (agentes químicos, físicos e biológicos), resultantes de mudanças no estilo de vida das pessoas e do processo de industrialização cada vez mais intenso. 53 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 • O prolongamento da expectativa de vida e o envelhecimento populacional estão relacionados com: • A redução do número médio de filhos (nascidos vivos) por mulher em idade reprodutiva. • A melhoria das condições econômicas e sociais, refletindo também na melhoria de saneamento das cidades. • A evolução da medicina e o uso de antibióticos e vacinas. FIGURA 7 Atualmente, países como o Brasil apresentam aumento na expectativa de vida FONTE Freepik • O aprimoramento dos métodos para se diagnosticar o câncer. • O aumento no número de óbitos pela doença. • A melhoria da qualidade e do registro da informação. Atualmente, registra-se o aumento da incidência de cânceres associados ao melhor nível socioeconômico: • Mama, próstata e cólon e reto. • Ao mesmo tempo em que se observam taxas de incidência elevadas - abordagens básicas para o controle do câncer de tumores geralmente associados a condições sociais menos favorecidas. • Colo do útero, estômago, cabeça e pescoço. 54 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 O número de casos novos de câncer no Brasil Nos anos de 2018 estima-se, no Brasil, a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer. Os mais incidentes são os cânceres de próstata, pulmão, mama feminina e cólon e reto. Os tipos de câncer mais incidentes em homens serão próstata (31,7%), pulmão (8,7%), intestino (8,1%), estômago (6,3%) e cavidade oral (5,2%). Já nas mulheres, os cânceres de mama (29,5%), intestino (9,4%), colo do útero (8,1%), pulmão (6,2%) e tireoide (4,0%). As Regiões Sul e Sudeste mostram 70% dos casos novos. Nas RegiõesSul e Sudeste, predominam os cânceres de próstata e de mama feminina, bem como os cânceres de pulmão e de intestino. A Região Centro-Oeste apresenta maior incidência dos cânceres do colo do útero e de estômago. Nas Regiões Norte e Nordeste, a incidência dos cânceres do colo do útero e estômago têm impacto importante nessa população. Na Região Norte, as taxas dos cânceres de mama e do colo do útero se equivalem entre as mulheres. Importante O acometimento desses cânceres pode se dar por vários fatores. O Brasil conta com políticas públicas para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do câncer, realiza campanhas em prol da saúde da mulher (outubro rosa) e do homem (novembro azul). 55 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 56 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 FIGURA 8 Percentagem de novos casos e mortes de câncer no mundo FONTE Nações Unidas (2018). 57 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Fisiopatologia do câncer Capitulo 4 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que na nossa prática clínica, frequentemente nos deparamos com problemas éticos e devemos resolvê-los, apoiados nos três critérios da bioética: beneficência, autonomia e justiça. Na relação enfermeiro- paciente, apesar de acharmos que é uma relação “a dois”, sempre estará presente um terceiro fator, a justiça (sociedade), norteando essa relação. A Portaria nº 2439/GM estabeleceu a Política Nacional de Atenção Oncológica, que estabeleceu diretrizes para o controle do câncer no Brasil, desde a promoção da saúde até os cuidados paliativos. E por fim, a incidência do câncer e o número de óbitos vêm em consequência ao estilo de vida que a população está vivenciando. A necessidade de se trabalhar com a promoção a saúde é premente. Prevenção ainda é o melhor tratamento e pode significar uma significativa redução da mortalidade, já que os dados apontam o crescimento do número de pacientes oncológicos em nosso país. 58 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Referências BRASIL. A situação do câncer no Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro: INCA, 2006. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/ files// media/document//situacao-cancer-brasil.pdf. Acesso em: 19 out. 2022. BRASIL. Portaria n.º 874, de 16 de maio de 2013. Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, Presidência da República, [2013]. Disponível em: http://www.in.gov.br/visualiza/ index. jsp?data=17/05/2013&jornal=1&pagina=129&totalArquivos=232. Acesso em: 19 out. 2022. GAUTHIER, J. Sete mulheres descobrem câncer de mama por dia na Bahia; duas morrem, 2018. Disponível em: https://www. correio24horas.com.br/noticia/nid/sete-mulheres- descobrem- cancer-de-mama-por-dia-na-bahia-duas-morrem/. Acesso em: 19 out. 2022. FOUCAULT, M. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos V. Rio de Janeiro: Forence Universitária, 2006. p.264-87. GARRAFA, V. Introdução à Bioética. Revista do Hospital Universitário, São Luís, v. 6, n. 2, p. 9-13, 2005. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA11gAL/introducao- a-bioetica. Acesso em: 19 out. 2022. NAÇÕES UNIDAS. Mortes por câncer devem atingir número recorde de 9,6 milhões este ano, 2018. Disponível em: https:// www.facebook.com/nacoesunidas/ photos/a.473884867505/1015 7658260857506/?type=1&theater. Acesso em: 19 out. 2022. PACCINE R. Bioética personalista aplicada à clínica. In: Urban CA. Bioética clínica. Rio de Janeiro: Revinter; 2003. p.55. 59 Ações de Prevenção e Atenção Oncológica Referências RODRIGUES, A. B.; OLIVEIRA, P. P. (coord.). Oncologia para enfermagem. Barueri: Manole, 2016. TEIXEIRA, V. M. F.; SANTOS, A. T. C. Bioética, ética e assistência de enfermagem na área oncológica. In: Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino- serviço. 3. ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer - INCA, 2008. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca. local/files//media/document// acoes-enfermagem-controle- cancer.pdf. Acesso em: 19 out. 2022. ZOBOLI, E. L. C. P.; FORTES, P. A. C. Novas pontes para a bioética: do individual ao coletivo, da alta especialização à atenção básica. O Mundo da Saúde, v. 28, n. 1, p. 28-33, jan./mar., 2004. 60 Bioética Conceito de bioética Os princípios da bioética O principialismo e o cuidado na enfermagem Política nacional de atenção oncológica Conhecendo a política nacional de atenção oncológica Relatório de Auditoria Operacional – PNAO Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON), Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) e os Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) UNACON sem radioterapia UNACOM com radioterapia Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia Ações de prevenção no controle de câncer Fatores de risco para o câncer Fatores protetores para o câncer de mama As formas terapêuticas prestadas pela enfermagem a mulheres com câncer de mama Fisiopatologia do câncer O que é o câncer? O número de casos novos de câncer no Brasil Referências