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Cap´ıtulo 10 Magnetosta´tica 10.1 Campo Magne´tico Por meio de experimentos, notou-se que os portadores de carga sofriam in- flueˆncias de outra forc¸a, fora aquela resultante da ac¸a˜o do campo ele´trico. Tal forc¸a dependia na˜o so´ da posic¸a˜o da part´ıcula mas tambe´m da velocidade de seu movimento, e ela recebeu o nome de forc¸a magne´tica. Portanto, Em todo ponto do espac¸o temos duas quantidades vetoriais que determinam a forc¸a resultante que atua sobre uma carga: • A primeira delas e´ a forc¸a ele´trica, a qual fornece uma componente da forc¸a independente do movimento da carga. E´ poss´ıvel descreveˆ-la, como ja´ foi visto, em termos do campo ele´trico. • A segunda quantidade e´ uma componente adicional a` forc¸a denominada forc¸a magne´tica, que sera´ apresentada a seguir. Foi visto que o campo ele´trico pode ser definido como a forc¸a ele´trica por unidade de carga: �E = �Fe q (10.1) 149 150 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Isso poˆde ser feito devido a` existeˆncia de monopo´los ele´tricos. Pore´m o ser humano na˜o observou, ate´ hoje, monopolos magne´ticos: Todos os corpos magnetizados possuem um po´lo Norte e um po´lo Sul. Por causa disso, o campo magne´tico deve ser definido de outra maneira. Observando o movimento de cargas ele´tricas em campos magne´ticos, notou-se que: • A forc¸a magne´tica e´ proporcional a` carga da part´ıcula: Fm ∝ q • A forc¸a magne´tica e´ sempre perpendicular ao sentido de deslocamento da part´ıcula: �Fm · �v = 0 • Se o deslocamento da part´ıcula e´ paralelo a` uma direc¸a˜o fixa, a forc¸a magne´tica e´ nula. Caso contra´rio, a forc¸a magne´tica e´ proporcional a` componente da velocidade que e´ perpendicular a` essa direc¸a˜o. Em s´ıntese: sendo θ o aˆngulo entre o vetor velocidade (�v) e essa direc¸a˜o fixa: Fm ∝ v sin θ (10.2) Todo esse comportamento pode ser descrito por meio da definic¸a˜o do vetor campo magne´tico �B1, cuja direc¸a˜o especifica simultaneamente a direc¸a˜o fixa mencionada e a constante de proporcionalidade com a velocidade e a carga. �Fm = q � �v × �B � (10.3) Utilizando as equac¸o˜es 10.1 e 10.3, demonstra-se que a forc¸a resultante 1Unidade do campo magne´tico: � �B � = T (tesla). 1T = 104G (gauss)= wb m2 (weber) 10.2. FORC¸A MAGNE´TICA EM FIOS 151 aplicada sobre uma carga ele´trica e´ dada por: �F = �Fe + �Fm (10.4) �F = q � �E + �v × �B � (10.5) A equac¸a˜o 10.5 representa a Forc¸a de Lorentz, um dos axiomas da teoria eletromagne´tica. Sua importaˆncia adve´m do fato dela ser a ponte entre a dinaˆmica e o eletromagnetismo. Observac¸a˜o: A forc¸a magne´tica NA˜O realiza trabalho, pois ela e´ sempre perpendicular ao deslocamento da part´ıcula. dW = �Fm · d�l = q � �v × �B � · �v dt = 0 Segue que a forc¸a magne´tica na˜o pode alterar apenas a direc¸a˜o da veloci- dade da carga (�v). Fica enta˜o a pergunta: Como um ı´ma˜ pode mover outro? Veremos isso mais adiante. 10.2 Forc¸a magne´tica em fios Vamos considerar um condutor pelo qual passa uma corrente ele´trica I, imerso em um campo magne´tico �B. Pode-se dizer que a quantidade de carga que passa pela secc¸a˜o transversal do fio em um tempo dt e´: dq = I dt (10.6) De acordo com a equac¸a˜o 10.3, a forc¸a magne´tica aplicada nesse elemento de carga e´: d �Fm = dq � �v × �B � (10.7) Substitu´ındo 10.6 em 10.7, temos: 152 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA d �Fm = I dt � �v × �B � d �Fm = I � �v dt× �B � d �Fm = I � d�l × �B � (10.8) Onde �dl possui a mesma direc¸a˜o e sentido da corrente. Enta˜o integrando a equac¸a˜o 10.8 ao longo do comprimento do fio, encontramos a forc¸a aplicada nesse corpo: �Fm = � Γ I � d�l × �B � (10.9) Figura 10.1: Fio imerso em campo magne´tico Como exemplo, fac¸amos uma ana´lise para o caso no qual a corrente e o campo sa˜o constantes. Como I e �B na˜o variam, a integral apresentada em 10.9 fica da seguinte maneira: �Fm = I � Γ � d�l � × �B (10.10) Se somarmos todos os vetores elementares de comprimento ( d�l) de um fio, obtemos como resultado o vetor �l, que liga as duas extremidades desse 10.3. TORQUE EM ESPIRAS 153 objeto. Portanto, a equac¸a˜o 10.10 torna-se: �Fm = I � �l × �B � (10.11) Nota-se que, para fios fechados (espiras), o vetor �l e´ nulo, portanto a forc¸a magne´tica resultante e´ zero. Figura 10.2: Forc¸a resultante na espira fechada e´ nula Observac¸a˜o: A forc¸a magne´tica resultante e´ nula, mas o torque na˜o o e´! 10.3 Torque em espiras Considere uma espira retangular imersa em um campo magne´tico �B de tal forma que seus fios estejam paralelos aos vetores do campo, como mostrado na figura 10.3. Vamos calcular a forc¸a em cada lado da espira: Figura 10.3: Espira retangular 154 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Lado 1: �F1 = I � �l1 × �B � = 0 Lado 2: �F2 = I � �l2 × �B � = IBa � −iˆ× jˆ � �F2 = −IBakˆ Lado 3: �F3 = I � �l3 × �B � = 0 Lado 4: �F4 = I � �l4 × �B � = IBa � iˆ× jˆ � �F4 = IBakˆ Agora e´ poss´ıvel calcular o torque das forc¸as �F2 e �F4 em relac¸a˜o ao eixo que passa pelo centro da espira e e´ perpendicular aos fios 1 e 3, como mostrado na Figura 10.4. Figura 10.4: Ca´lculo do torque Lado 2: �τ2 = �r2 × �F2 = � − b 2 jˆ � × � −IBakˆ � �τ2 = IBab 2 iˆ Lado 4: �τ4 = �r4 × �F4 = � b 2 jˆ � × � IBakˆ � 10.3. TORQUE EM ESPIRAS 155 �τ4 = −IBab 2 iˆ Enta˜o, o torque total e´: �τ = �τ2 + �τ4 = IBabˆi Nota-se que o produto ab e´ a a´rea da pro´pria espira. Pode-se estender o resultado acima para uma espira qualquer de a´rea A percorrida por uma corrente I. Sendo �A um vetor normal a` superf´ıcie da espira com mo´dulo igual a` A, o torque nesse objeto e´ dado por: �τ = I �A× �B (10.12) Para uma espira com N voltas, temos: �τ = NI �A× �B (10.13) Observando-se a importaˆncia do primeiro fator do membro direito da equac¸a˜o 10.13 , define-se o momento de dipolo magne´tico �µ como sendo: �µ = NI �A (10.14) Logo a equac¸a˜o 10.13 pode ser escrita como2: �τ = �µ× �B (10.15) Exerc´ıcio 10.1. Em um dado instante, percebeu-se que uma bobina de N voltas imersa em um campo magne´tico �B apresentou uma acelerac¸a˜o angular de rotac¸a˜o igual a` α. Sendo I seu momento de ine´rcia, calcule a a´rea da bobina. Considere θ como sendo o aˆngulo entre o plano da bobina e o vetor �B Podemos calcular o torque de duas maneiras: 2analogia com a equac¸a˜o do momento de dipolo para a eletrosta´tica 156 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Figura 10.5: Espira imersa no campo magne´tico τ = Iα �τ = �µ× �B Logo: Iα = ����µ× �B��� (10.16) Calculando o momento de dipolo magne´tico: µ = i �A = NiA�n (10.17) Substitu´ındo 10.17 em 10.16 : Iα = NiAB ����n×�j��� Iα = NiAB cos θ Enta˜o a a´rea e´: A = Iα NiB cos θ 10.4. O MOVIMENTO CYCLOTRON 157 10.4 O Movimento Cyclotron Um dos mecanismos utilizados em aceleradores de part´ıculas emprega campos magne´ticos para que elas descrevam movimentos circulares. Tais aceleradores sa˜o conhecidos como Cyclotrons. Uma part´ıcula lanc¸ada em um campo magne´tico �B com uma velocidade �v perpendicular a` �B, como mostrado na Figura 10.6, realizara´ esse tipo de mo- vimento, no qual a forc¸a magne´tica desempenha o papel de forc¸a centr´ıpeta. Pode-se dizer enta˜o que: Figura 10.6: Movimento de uma part´ıcula no Cyclotron Fm = qvB = mv2 R (10.18) Os aceleradores de part´ıculas permitem a obtenc¸a˜o de certas caracter´ısticas importantes desses corpos, tais como o momento linear. Sendo p = mv o mo- mento linear de uma part´ıcula, pode-se manipular a equac¸a˜o 10.18 e chegar ao seguinte resultado:p = qBR (10.19) Desse modo, basta lanc¸ar a part´ıcula no campo e medir o raio de seu 158 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA movimento para medir o seu momento linear. Sabe-se que a frequ¨eˆncia angular do movimento circular e´ ω = v/R. Manipulando a equac¸a˜o 10.18, tambe´m e´ poss´ıvel determinar a frequ¨eˆncia cyclotron: ω = qB m (10.20) Outro aspecto interessante relativo a` esse movimento e que, caso a part´ıcula apresente uma componente da velocidade paralela ao campo magne´tico, ela descrevera´ uma trajeto´ria helicoidal. Figura 10.7: Movimento helicoidal Exerc´ıcio 10.2. Um feixe de part´ıculas transitando por uma regia˜o com campo magne´tico �B e campo ele´trico �E na˜o sofre acelerac¸o˜es. Depois, retirou-se o campo magne´tico, enta˜o as part´ıculas passaram a executar um movimento circular uniforme de raio R. Deˆ a relac¸a˜o carga/massa dessas part´ıculas No primeiro caso, as forc¸as ele´tricas e magne´ticas devem equilibrar-se para que na˜o haja acelerac¸o˜es. Ou seja, a Forc¸a de Lorentz deve ser nula: �F = q � �E + �v × �B � = 0 �E + �v × �B = 0 E = vB v = E B (10.21) Para o segundo caso, temos um movimento cyclotron. De acordo com 10.5. A AUSEˆNCIA DE MONOPOLOS MAGNE´TICOS 159 a equac¸a˜o que fornece o momento linear das part´ıculas nesse movimento, temos: mv = qBR q m = v BR (10.22) Encontramos a relac¸a˜o carga/massa por meio da substituic¸a˜o de 10.21 em 10.22: q m = E B2R Esse foi o processo pelo qual J. J. Thomson descobriu o ele´tron estudando o comportamento de raios cato´dicos, em 1897. 10.5 A Auseˆncia de monopolos magne´ticos Como foi dito anteriormente, nunca observaram-se monopolos magne´ticos, e tal fenoˆmeno foi tomado como outro axioma da teoria eletromagne´tica. Isso pode ser descrito matematicamente do seguinte modo, sendo S uma superf´ıcie fechada e V o volume delimitado por essa superf´ıcie: � S �B · d�S = 0 Aplicando o Teorema de Gauss, encontramos que: � S �B · d�S = � V �∇ · �B dV = 0 �∇ · �B = 0 (10.23) A equac¸a˜o 10.23 pertence a`s equac¸o˜es de Maxwell. Os principais signifi- cados contidos nessa equac¸a˜o sa˜o: 160 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA • Auseˆncia de monopo´los magne´ticos • As linhas do campo magne´tico sempre sa˜o fechadas Na eletrosta´tica, vimos que �∇ · �E = ρ �0 . Conclui-se que na˜o ha´ ana´logo magne´tico para a carga ele´trica. Na˜o ha´ cargas magne´ticas por onde o campo magne´tico possa emergir (nunca divergem de nenhum ponto!), pois ele so´ surge na presenc¸a de correntes ele´tricas. Observa-se tambe´m que as linhas de campo magne´tico sa˜o sempre fechadas. Ale´m disso, pelo fato de o fluxo atrave´s de uma superf´ıcie fechada ser igual a zero, todas as linhas que entram nessa superf´ıcie devem sair. As linhas nunca comec¸am ou terminam em algum lugar. 10.6 O Efeito Hall Em 1979, E.H. Hall tentou determinar se a resisteˆncia de um fio aumentava quando este estava na presenc¸a de um campo magne´tico, uma vez que os portadores de carga deveriam se acumular num lado do fio. Vamos analisar tal fenoˆmeno por meio da experieˆncia ilustrada na Figura 10.8. Figura 10.8: Efeito Hall Considere um condutor no qual o sentido da corrente e´ perpendicular ao campo magne´tico. Os portadores de carga negativa acumular-se-a˜o em uma das extremidades do condutor, logo a extremidade oposta apresentara´ uma carga positiva, o que resultara´ no surgimento de um campo ele´trico �EH no interior do condutor. Os ele´trons sera˜o deslocados ate´ que as forc¸as ele´tricas e magne´ticas entrem em equil´ıbrio, ou seja: 10.6. O EFEITO HALL 161 �Fe = �Fm Aplicando as equac¸o˜es 10.1 e 10.3, temos: −e �EH = −e � �v × �B � �EH = �v × �B (10.24) Considerando o campo constante no interior do condutor, podemos medir a diferenc¸a de potencial entre as duas extremidades, denominada ddp Hall, como sendo: �H = EHd (10.25) Nota-se que essa voltagem existe no sentido transversal a` corrente. E´ poss´ıvel utilizar o Efeito Hall para investigar a natureza dos portadores de carga no condutor, como mostrado nas Figuras 10.9 e 10.10, uma vez que podemos prever como as cargas devem se comportar sob ac¸a˜o de campos magne´ticos. Figura 10.9: Efeito Hall para portadores de carga negativa 162 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Figura 10.10: Efeito Hall para portadores de carga positiva 10.7 A Lei de Biot Savart 10.7.1 Introduc¸a˜o Na eletrosta´tica, a Lei de Coulomb permite analisar como se da´ a relac¸a˜o entre o campo ele´trico e as cargas ele´tricas. Sera´ que existe uma lei corres- pondente para a magnetosta´tica? A resposta e´ sim, e ela e´ conhecida como a Lei de Biot-Savart, que sera´ discutida a seguir. Como foi visto anteriormente, definimos o campo magne´tico por meio da forc¸a magne´tica. Agora queremos defini-lo por meio de sua fonte, que e´ a corrente ele´trica. Figura 10.11: Movimento da carga em relac¸a˜o a` um ponto P Observe a Figura 10.11. Experimentalmente, pode-se constatar que: B ∝ qv r2 �B⊥�v �B⊥�r 10.7. A LEI DE BIOT SAVART 163 Com base nisso, pode-se dizer que o elemento do campo magne´tico produ- zido por um elemento de de carga em movimento obedece a` seguinte relac¸a˜o: d �B ∝ dq�v × rˆ r2 (10.26) d �B ∝ dq d �l dt × rˆ r2 d �B ∝ dq dt d�l × rˆ r2 d �B ∝ I d �l × rˆ r2 d �B = µ0 4π I d�l × rˆ r2 �B = µ0 4π � I d�l × rˆ r2 (10.27) A equac¸a˜o 10.27 e´ denominada lei de Biot-Savart. A escolha da constante de proporcionalidade foi feita de modo a facilitar os ca´lculos subsequ¨entes. No sistema MKS: µ0 4π = 10−7 N A2 Onde µ0 e´ a permeabilidade magne´tica do va´cuo. 10.7.2 Formas Alternativas A Lei de Biot-Savart tambe´m pode ser escrita em termos da distribuic¸a˜o de corrente. Sabendo que I = j dS, a equac¸a˜o 10.27 fica da seguinte maneira: �B = µ0 4π � jdS d�l × rˆ r2 (10.28) Vamos aplicar a equac¸a˜o 10.28 para a situac¸a˜o ilustrada na Figura ???x. Neste caso, o sistema Oxyz e´ um referencial fixo, enquanto o sistema Ox�y�z� 164 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA esta˜o situados no elemento de carga em estudo. Observe que �R = �r − �r�. Como �j e d�l possuem a mesma direc¸a˜o, podemos dizer que j d�l = �j dl. Ale´m disso, sabendo que dl dS = dV , pode-se dizer que a Lei de Biot-Savart fica da seguinte maneira: �B (�r) = µ0 4π � �j ��r��× Rˆ R2 dv� Vamos aplicar o divergente em relac¸a˜o ao sistema Oxyz: �∇ · �B (�r) = µ0 4π � �∇ · �j � �r� � × Rˆ R2 dv� (10.29) Aplicando a regra do divergente do produto vetorial3 ao divergente pre- sente no membro direito da equac¸a˜o 10.29 : �∇ · �j � �r� � × Rˆ R2 = −�j ��r�� · �∇× � Rˆ R2 � + Rˆ R2 · �∇×�j � �r� � Nota-se que Rˆ R2 = �∇ � − 1 R � . Logo �∇× � Rˆ R2 � = 0 pois o rotacional do gradiente e´ sempre nulo. Ale´m disso �∇ × �j � �r� � = 0 pois o rotacional esta´ aplicado em Oxyz enquanto �j refere-se ao sistema Ox�y�z�. Obtemos enta˜o que: �∇ · �B = 0 Isso corrobora a validade da Lei de Biot-Savart. 3�∇ · � �A× �B � = − �A · � �∇× �B � + �B · � �∇× �A � 10.7. A LEI DE BIOT SAVART 165 10.7.3 Aspectos Interessantes Um resultando interessante pode ser obtido ao combinar a Lei de Biot-Savart com a equac¸a˜o 10.3 na seguinte situac¸a˜o: imagine uma carga q1 movendo-se com velocidade �v1 tendo ao seu redor uma outra carga q movendo-se com velocidade �v. Qual a forc¸a magne´tica que q imprimira´ em q1? A ana´lise inicia-se por meio da integrac¸a˜o da equac¸a˜o 10.26, empregando, antes, a constante de proporcionalidade. Encontramos enta˜o que: �B= µ0 4π q �v × rˆ r2 (10.30) Substitu´ındo a equac¸a˜o 10.30 na equac¸a˜o 10.3 aplicada para a carga q1: �Fm = q1�v1 × �B = q1�v1 × � µ0 4π q �v × rˆ r2 � Multiplicando e dividindo o membro direito por µ0: �Fm = µ0�0�v1 × � �v × qq1rˆ 4π�0r2 � Mas, pela Lei de Coulomb: �Fe = qq1rˆ 4π�0r2 Ale´m disso, sabendo que c2 = µ−10 � −1 0 , temos: �Fm = �v1 c × � �v c × �Fe � Se considerarmos v << c, encontramos que: �Fm ≤ vv1 c2 �Fe (10.31) A equac¸a˜o 10.31 diz que para velocidades pequenas comparadas com a velocidade da luz, a interac¸a˜o magne´tica sera´ muito menor que a interac¸a˜o 166 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA ele´trica. Como Fm << Fe, pode parecer, a` primeira vista, que a forc¸a magne´tica poderia ser desprezada em comparac¸a˜o com a forc¸a ele´trica, pore´m existem sistemas de part´ıculas onde isso na˜o e´ assim. De fato, numa corrente de conduc¸a˜o, onde esta˜o presentes cargas positivas e negativas em iguais den- sidades, o campo ele´trico macrosco´pico e´ nulo, pore´m o campo magne´tico das cargas em movimento na˜o o e´. Outro aspecto importante que pode ser derivado por meio da Lei de Biot- Savart e´ uma relac¸a˜o entre o campo ele´trico e o campo magne´tico gerado por uma mesma part´ıcula. Multiplicando o numerador e o denominador da equac¸a˜o 10.30 por �0: �B = µ0�0 4π�0 q �v × rˆ r2 �B = �v × �E c2 10.7.4 Aplicac¸o˜es da Lei de Biot-Savart Agora vejamos alguns exemplos nos quais se aplica a Lei de Biot-Savart: Exerc´ıcio 10.3. Calcule, por meio da Lei de Biot Savart, o campo ele´trico nas vizinhanc¸as de um fio reto. Figura 10.12: Campo gerado por um fio reto 10.7. A LEI DE BIOT SAVART 167 Podemos escrever a Lei de Biot-Savart do seguinte modo: �B = µ0 4π � I d�l × rˆ r2 = µ0 4π � I d�l × �r r3 Para o fio reto, vale: d�l = dxiˆ �r = −xiˆ+ djˆ Enta˜o, fazendo as devidas substituic¸o˜es: �B = µ0 4π l/2� −l/2 I dxiˆ× r � −xiˆ+ djˆ � (x2 + d2) 3/2 �B = µ0 4π l/2� −l/2 I ddx (x2 + d2) 3/2 kˆ �B = µ0Id 4π 1 d2 x (x2 + d2) 1/2 ������ l 2 −l 2 Logo o campo e´: �B = µ0I 4πd l� l2 4 + d2 �1/2 kˆ Note que se considerarmos o fio como sendo infinito (l >> d), o campo sera´: 168 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA �B = µ0I 2πd kˆ Exerc´ıcio 10.4. Calcule, por meio da Lei de Biot Savart, o campo ele´trico no eixo de uma espira circular. Figura 10.13: Campo gerado por uma espira circular Podemos escrever a Lei de Biot-Savart do seguinte modo: �B = µ0 4π � I d�l × rˆ r2 = µ0 4π � I d�l × �r r3 Para a espira, vale: d�l = a dθθˆ �r = −aˆi+ zjˆ Pela simetria do problema, so´ teremos campo paralelo ao eixo da espira. Logo precisamos calcular apenas uma componente do campo gerado por cada elemento de corrente: d �B = d �B1 cosα 10.7. A LEI DE BIOT SAVART 169 Onde: cosα = a√ a2 + z2 Enta˜o, aplicando a Lei de Biot-Savart (para calcular apenas o elemento de campo): d �B = µ0 4π I d�l × �r r3 cosα Fazendo as devidas substituic¸o˜es: d �B = µ0 4π Ia (z2 + a2) 3/2 adθkˆ Integrando de 0 a 2π para cobrir toda a espira, encontramos o campo desejado: �B = µ0Ia 2 2 (a2 + z2) 3/2 kˆ Exerc´ıcio 10.5. Para criar regio˜es com campos magne´ticos constantes em laborato´rio, empregam-se as bobinas de Helmholtz, esquematizadas na Fi- gura 10.14.Calcule o valor do campo ao longo do eixo das bobinas e o ponto no qual o campo e´ magne´tico e´ maximo : O campo gerado por uma espira circular e´: �B (z) = µ0Ia 2 2 (a2 + z2) 3/2 kˆ Enta˜o, usando o princ´ıpio da superposic¸a˜o para as duas espiras, o campo ao longo do eixo e´: �B (z) = µ0Ia 2 2 1 (a2 + z2) 3/2 + 1� a2 + (2b− z)2�3/2 kˆ 170 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Figura 10.14: Bobinas de Helmholtz Para calcular o ponto no qual o campo magne´tico apresenta valor ma´ximo, basta encontrarmos o valor de z tal que a derivada da func¸a˜o acima se anula: d �B (z) dz = µ0Ia 2 2 −3 2 2z (a2 + z2) 5/2 − 3 2 2 (2b− z) (−1)� a2 + (2b− z)2�5/2 kˆ Vemos que: d �B (z) dz = 0⇒ z = b Agora veremos a condic¸a˜o para que o campo nesse ponto seja aproxima- damente constante. Derivando mais uma vez a func¸a˜o do campo magne´tico: d2 �B (z) dz2 ����� z=b = 0⇒ a2 − 4b2 = 0⇒ 2b = a A condic¸a˜o e´ que a separac¸a˜o das bobinas seja igual ao raio. Fazendo a expansa˜o em se´ries de Taylor, e´ poss´ıvel calcular o qua˜o pro´ximo esse campo esta´ de um campo constante: 10.8. A LEI CIRCUITAL DE AMPE`RE 171 Sabendo que B��(a/2) = B���(a/2) = 0, a expansa˜o fica: �B (z) ≈ B �a 2 � + 1 24 � z − a 2 �4 ∂4B ∂z4 ���� z= a 2 + ... �B (z) = B �a 2 �� 1− 144 125 � z − a/2 a �4� A partir desse resultado, e´ poss´ıvel inferir que, para |z − a/2| < a/10 ⇒ B (z) �= B (a/2), o campo varia em menos de uma parte e meia em dez mil. 10.8 A Lei Circuital de Ampe`re 10.8.1 Introduc¸a˜o As experieˆncias de Oersted, ale´m de comprovarem que correntes ele´tricas geram campos magne´ticos ao seu redor, motivou a comunidade cient´ıfica a compreeender a relac¸a˜o entre fenoˆmenos ele´tricos e magne´ticos. Apo´s tais experimentos, uma semana foi tempo suficiente para que Ampere deduzisse a apresentasse sua lei. Enquanto que a Lei de Biot-Savart corresponde a` Lei de Coulomb, a Lei de Ampe`re faz a vez da Lei de Gauss na magnetosta´tica. Considere um fio infinito por onde passa uma corrente I, como mostrado na Figura 10.15. Utilizando a Lei de Biot-Savart, demonstrou-se que o campo gerado nesse caso e´ dado por: Figura 10.15: Fio infinito 172 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA �B = µ0I 2πr θˆ Calcularemos a circulac¸a˜o do campo magne´tico por meio de va´rios cami- nhos ao redor do fio. Considerando, inicialmente, o caminho como sendo um c´ırculo: Figura 10.16: Caminho ao redor do fio para ca´lculo da circulac¸a˜o � Γ �B · d�l = µ0I 2πr 2πr = µ0I Vamos calcular a circulac¸a˜o pora outro caminho: Figura 10.17: Caminho ao redor do fio para ca´lculo da circulac¸a˜o � Γ �B · d�l = � Γ1 �B · d�l + � Γ2 �B · d�l + � Γ3 �B · d�l + � Γ4 �B · d�l Como os vetores �B e d�l sa˜o paralelos para os fios 2 e 4, as integrais para Γ2 e Γ4 sa˜o nulas. Logo temos o seguinte resultado: 10.8. A LEI CIRCUITAL DE AMPE`RE 173 � Γ �B · d�l = µ0I 2πr1 πr1 + 0 + µ0I 2πr2 πr2 = µ0I Mais um caminho para calcular: Figura 10.18: Caminho ao redor do fio para ca´lculo da circulac¸a˜o � Γ �B · d�l = � Γ1 �B · d�l + � Γ2 �B · d�l + � Γ3 �B · d�l + � Γ4 �B · d�l A mesma observac¸a˜o feita para os fios 2 e 4 anteriormente valem para esse caso. Enta˜o temos: � Γ �B · d�l = µ0I 2πr1 θr1 + 0 + µ0I 2πr2 (2π − θ) r2 = µ0I Obsevou a semelhanc¸a dos resultados? Enta˜o vamos generaliza´-los para um caminho qualquer. Figura 10.19: Caminho ao redor do fio para ca´lculo da circulac¸a˜o 174 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Em coordenadas cil´ındricas: d�l = drrˆ + r dθθˆ + dzkˆ Sabendo que �B = Bθˆ, encontramos que: �B · d�l = Br dθ = µ0I 2πr r dθ = µ0I 2π dθ Fazendo a integral ao redor do fio: � Γ �B · d�l = � Γ µ0I 2π dθ = 2π� 0 µ0I 2π dθ = µ0I 2π 2π Disso resulta a Lei de Ampe`re: � Γ �B · d�l = µ0Iint (10.32) Observac¸a˜o: Na Lei de Coulomb, utiliza´vamos SUPERFI´CIES que en- volviam as cargas para fazer o ca´lculo do campo ele´trico, mas na Lei de Ampe`re, precisamos criar CURVAS que envolvam os condutores a fim de calcular o campo magne´tico. Assimcomo a Lei de Coulomb, a Lei de Ampe`re sempre e´ va´lida. No entanto sua maior utilidade se da´ em casos nos quais e´ poss´ıvel notar simetria no campo magne´tico, como sera´ mostrado no exerc´ıcios mais adiante. 10.8.2 A forma diferencial da Lei de Ampe`re Aplicando o Teorema de Stokes no membro esquerdo da equac¸a˜o 10.32: � Γ �B · d�l = � S � � �∇× �B � · d�S (10.33) Analisando o membro direito da equac¸a˜o 10.32: 10.8. A LEI CIRCUITAL DE AMPE`RE 175 µ0I = µ0 � S � �j · d�S (10.34) Pela pro´pria Lei de Ampe`re, podemos igualar 10.33 e 10.34, encontrando que: � S � � �∇× �B � · d�S = µ0 � S � �j · d�S Finalmente, temos a forma diferencial da Lei de Ampe`re: �∇× �B = µ0�j (10.35) Se aplicarmos o divergente na equac¸a˜o 10.35 �∇ · � �∇× �B � = µ0�∇ ·�j �∇ ·�j = 0 Percebe-se algo importante diante desse resultado: a Lei de Ampe`re e´ va´lida apenas para correntes estaciona´rias4 10.8.3 Aplicac¸o˜es da Lei de Ampe`re Seguem alguns exemplos nos quais e´ fundamental a aplicac¸a˜o da Lei de Ampe`re para a resoluc¸a˜o dos problemas: Exerc´ıcio 10.6. Calcule o campo magne´tico, em todo o espac¸o, gerado por um ciclindro infinito percorrido por uma corrente I. Devido a` simetria cil´ındrica do problema, podemos escolher amperianas circulares para calcular o campo no interior e ao redor do fio, pois o campo magne´tico sera´ constante ao longo de toda a curva, facilitando a integrac¸a˜o. 4corrente estaciona´ria: dρ dt = 0 176 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Figura 10.20: Cilindro condutor • Para r > R (Figura 10.21): Figura 10.21: Amperiana fora do cilindro � Γ1 �B · d�l = µ0I → B2πr = µ0I �B = µ0I 2πr θˆ • Para r < R (Figura 10.22): � Γ2 �B · d�l = µ0Iint → B2πr = µ0I πr 2 πR2 �B = µ0Ir 2πR2 θˆ 10.8. A LEI CIRCUITAL DE AMPE`RE 177 Figura 10.22: Amperiana dentro do cilindro Sintetizando os resultados na forma de um gra´fico: Figura 10.23: Campo magne´tico gerado por um cilindro infinito Exerc´ıcio 10.7. Calcule o campo magne´tico, em todo o espac¸o, gerado por um cabo coaxial percorrido por correntes de mesma intensidade mas de sen- tidos opostos em cada face. Vamos dividir o espac¸o em 4 regio˜es e aplicar a Lei de Ampe`re para cada uma delas: • Para r < a: Para determinar a corrente interna a` amperiana, vamos considerar que 178 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Figura 10.24: Cabo coaxial a densidade de corrente ao longo do cabo e´ constante e igual a` j, logo sendo πr2 a a´rea delimintada pela amperiana: j = Iint πr2 = I πa2 Iint = r2 a2 Aplicando a Lei de Ampe`re: B2πr = µ0I r2 a2 → �B = µ0Ir 2πa2 θˆ • Para a < r < b: A corrente interna a` amperiana sera´ sempre a corrente total que passa pelo cabo interno, logo pela Lei de Ampe`re: B2πr = µ0I → �B = µ0I 2πr θˆ • Para b < r < c: A corrente interna a` amperiana sera´ a corrente total que passa pelo cabo interno menos a corrente que passa pela porc¸a˜o do cabo externo 10.8. A LEI CIRCUITAL DE AMPE`RE 179 delimitada pela curva. Considerando tambe´m a densidade de corrente constante no cabo externo: Iint = I − r 2 − b2 c2 − b2 Aplicando a Lei de Ampe`re: B2πr = µ0I − µ0Iπ (r 2 − b2) π (c2 − b2) θˆ → �B = µ0I 2πr � 1− r 2 − b2 c2 − b2 � θˆ �B = µ0I � c2 − r2 c2 − b2 � θˆ • Para r > c: A corrente interna a` amperiana sera´ a soma das correntes que passam pelo cabo interno e pelo cabo externo. Como as duas correntes possuem a mesma intensidade mas possuem sentidos opostos, a soma sempre sera´ nula. Enta˜o, pela Lei de Ampe`re: �B = 0 Exerc´ıcio 10.8. Considere dois soleno´ides infinitos conceˆntricos de raios a e b. Calcule o campo magne´tico em todo o espac¸o. As correntes de cada soleno´ide possuem mesma intensidade mas teˆm sentidos contra´rios. Primeiro vamos analisar o campo gerado por um soleno´ide para depois empregar o princ´ıpio da superposic¸a˜o Observa-se que a corrente no interior da amperiana (Figura: 10.26) de- pende do nu´mero de espiras englobadas: Iint = NI Aplicando enta˜o a Lei de Ampe`re: 180 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Figura 10.25: Soleno´ides Figura 10.26: Amperiana no interior do soleno´ide � Γ �B · d�l = � Γ1 �B · d�l � �� � =0pois �B=0 + � Γ2 �B · d�l � �� � =0pois �B⊥ d�l + � Γ3 �B · d�l + � Γ4 �B · d�l � �� � =0pois �B⊥ d�l Logo: � Γ �B · d�l = µ0I → Bdentrol = µ0NI → Bdentro = µ0N l I = µ0nI onde n = N l indica a densidade de espiras do soleno´ide Agora, fac¸amos uma amperiana para calcular o campo fora do soleno´ide 10.8. A LEI CIRCUITAL DE AMPE`RE 181 (Figura: 10.27) : Figura 10.27: Amperiana externa ao soleno´ide Note que, neste caso, a corrente interna a` curva e´ zero. Portanto o campo magne´tico fora do soleno´ide infinite e´ nulo: Bfora = 0 Agora, vamos usar o princ´ıpio da superposic¸a˜o para calcular o campo para os dois soleno´ides. • Para r < a : Neste caso, temos a influeˆncia dos campos dos dois soleno´ides. Sendo �B1 o campo gerado pelo soleno´ide interno e �B2 o campo gerado pelo soleno´ide externo: �B = �B1 − �B2 = µ0In1 − µ0In2 �B = µoI (n1 − n2) • Para a < r < b : Aqui, temos influeˆncia apenas do soleno´ide externo 182 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA �B = −µ0In2 (10.36) • Para r > b : Como estamos fora de ambos os soleno´ides, o campo neste caso e´ nulo �B = 0 Exerc´ıcio 10.9. Considere um cilindro de raio a com uma cavidade cil´ındrica de raio b. A distaˆncia entre os centros dos cilindros e´ d. Sendo j a densidade de corrente no condutor, qual e´ o campo magne´tico no interior da cavidade? Figura 10.28: Condutor com cavidade Considere como sendo �x a posic¸a˜o do ponto em questa˜o em relac¸a˜o ao eixo do condutor e �y como sendo a posic¸a˜o do ponto em relac¸a˜o ao eixo da cavidade: Para resolver esse exerc´ıcio, sera´ necessa´ria a utilizac¸a˜o do princ´ıpio da superposic¸a˜o. Observe que a configurac¸a˜o final do sistema pode ser obtida se somarmos dois cilindros com sentidos de correntes opostos, como apresentado na Figura 10.30 : Portanto, devemos calcular o campo gerado pelo cilindro maior em um ponto que dista x do seu eixo e somar com o campo gerado pelo cilindro 10.8. A LEI CIRCUITAL DE AMPE`RE 183 Figura 10.29: Posicionamento do ponto Figura 10.30: Princ´ıpio da superposic¸a˜o menor em um ponto que dista y de seu centro. • Cilindro maior Figura 10.31: Lei de Ampe`re para cilindro maior 184 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA � Γ −→ B · d−→l = µ0Iint B12πx = µ0jπx 2 �B1 = µ0jx 2 −→ θ �Bx = µ0 2 �−→ j ×−→x � • Cilindro menor Figura 10.32: Lei de Ampe`re para cilindro menor � Γ −→ B · d−→l = µ0Iint B22πy = µ0jπy 2 �B2 = µ0jy 2 −→ϕ �B2 = µ0 2 �−→ j ×−→y � Como os sentidos das correntes sa˜o opostos, o campo resutante sera´: −→ B = −→ B 1 −−→B 2−→ B = µ0 2 �−→ j ×−→x � − µ0 2 �−→ j ×−→y � −→ B = µ0 2 �−→ j × (−→x −−→y ) � Mas a seguinte relac¸a˜o sempre e´ va´lida: �x − �y = �d . Portanto o campo no interior da cavidade e´ constante e igual a`: −→ B = µ0 2 �−→ j ×−→d � 10.9. POTENCIAL VETOR 185 Exerc´ıcio 10.10. Calcule o campo no centro da sec¸a˜o circular de um toro´ide de N espiras. Figura 10.33: Toro´ide Vamos passar uma amperiana no interior do toro´ide Figura 10.34: Amperiana no toro´ide Temos que a corrente interna a` amperiana sera´ Iint = NI. Logo� �B · d�l = µ0Iint → B2πr = µ0NI → �B = µ0NI 2πr θˆ 10.9 Potencial Vetor As 4 equac¸o˜es que sintetizam a teoria eletromagne´tica vistas ate´ agora sa˜o: ELETROSTA´TICA �∇ · �E = ρ0 �0 (10.37) �∇× �E =0 (10.38) 186 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA MAGNETOSTA´TICA �∇ · �B = 0 (10.39) �∇× �B = µ0�j (10.40) Para a eletrosta´tica, devido a` equac¸a˜o 10.38, percebe-se que o campo ele´trico e´ um campo conservativo. Logo foi poss´ıvel definir o potencial ele´trico da seguinte forma: �∇× �E = 0⇒ �E = � −�∇V � Aplicando esse resultado a` equac¸a˜o 10.38: �∇ · �E = �∇ · � −�∇V � = −∇2V Segue que: ∇2V = −ρ0 �0 Sera´ que e´ poss´ıvel definir um potencial ana´logo para o campo magne´tico? Sabe-se que �∇ · �B = 0. A partir disso, pode-se inferir que �B e´ um campo rotacional. Em outras palavras, e´ poss´ıvel encontrar um campo vetorial tal que seu rotacional resulta no campo magne´tico. Esse campo e´ denominado potencial vetorial � �A � , que e´ definido do seguinte modo: �∇ · �B = 0⇒ �B = � �∇× �A � (10.41) Aplicando esse resultado a` equac¸a˜o 10.40: �∇× �B = �∇× � �∇× �A � = �∇ � �∇ · �A � −∇2 �A Como pode-se determinar mais de um campo que satisfac¸a a equac¸a˜o 10.41, e´ permitido escolher adequadamente um campo �A tal que �∇ · �A = 05. 5Denomina-se isso como escolha de calibre, ou escolha de gauge 10.9. POTENCIAL VETOR 187 Segue enta˜o que: �∇× �B = −∇2 �A ∇2 �A = −µ0�j (10.42) Observac¸a˜o: ∇2 �A na˜o e´ o operador Laplaciano, pois esta´ sendo aplicado a um campo vetorial. Na verdade, temos que: ∇2 �A = �∇ � �∇ · �A � − �∇× � �∇× �A � Particularmente, para coordenadas cartesianas: ∇2Ax = −µ0jx ∇2Ay = −µ0jy ∇2Az = −µ0jz Outras formas de expressar o potencial vetor em func¸a˜o das densidades de corrente6 sa˜o: • Densidade volume´trica �A (�r) = µ0 4π � �j ��r�� dv�����r − �r���� (10.43) • Densidade superficial �A (�r) = µ0 4π � �k ��r�� ds�����r − �r���� (10.44) 6�r:posic¸a˜o do ponto em relac¸a˜o ao referencial fixo. �r�: posic¸a˜o do ponto em relac¸a˜o a um elemento de carga. (ver Figura 10.11) 188 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA • Densidade linear �A (�r) = µ0 4π � �I ��r�� dl�����r − �r���� (10.45) Fac¸amos alguns exemplos: Exerc´ıcio 10.11. Calcule o potencial vetor para um fio finito percorrido por uma corrente I. Figura 10.35: Fio finito Vamos aplicar a equac¸a˜o que fornece o potencial vetor em func¸a˜o da densidade linear de carga (equac¸a˜o 10.45 ): �A = µ0 4π � �Idzkˆ r , comr = √ z2 + s2 �A = µ0I 4π � dz√ z2 + s2 kˆ → �A = µ0I 4π ln � z + √ z2 + s2 ���z2 z1 kˆ → �A = µ0I 4π ln � z2 + � z22 + s 2 z1 + � z21 + s 2 � kˆ Observe que se aplicarmos o rotacional ao resultado, obtemos o vetor �B: 10.10. CONDIC¸O˜ES DE CONTORNO NA MAGNETOSTA´TICA 189 �∇× �A = � ∂As ∂z − ∂Az ∂s � θˆ.Assim, �B = �∇× �A = −∂Az ∂s θˆ = − ∂ ∂s � µ0I 4π ln � z2 + � z22 + s 2 z1 + � z21 + s 2 �� θˆ �B Exerc´ıcio 10.12. (Griffths, pa´g , ex: 5.23) Qual densidade de corrente pro- duziria um vetor potencial �A = k ˆphi, em coordenadas cil´ındricas (k e´ cons- tante)? Para resolver esse exerc´ıcio, primeiro aplicaramos o rotacional em �A para determinar o campo magne´tico. Depois aplicaremos o rotacional em �B para determinar a densidade de corrente, de acordo com as equac¸o˜es da magne- tosta´tica. Observac¸a˜o: aplicar o rotacional em coordendadas cil´ındricas Aφ = k ⇒ �B = �∇× �A = 1 ρ ∂ ∂ρ (ρAρ) kˆ = Aφkˆ ρ = k ρ kˆ �B = Bzkˆ �∇× �B = µ0 �J ⇒ �j = 1 µ0 � �∇× �B � = 1 µ0 � −∂Bz ∂ρ � φˆ = + k µ0ρ2 φˆ 10.10 Condic¸o˜es de Contorno na Magnetosta´tica Vimos que existe uma descontinuidade no campo ele´trico em de superf´ıcies carregadas, no sentido perpendicular a` essa superf´ıcie. Da mesma forma, o campo magne´tico tambe´m e´ descont´ınuo numa superf´ıcie de corrente. Para facilitar a ana´lise desse fenoˆmemo, vamos divid´ı-lo em 3 etapas, uma para cada componente do campo magne´tico7: 7B⊥ = B⊥superficie, B // // = B //corrente //corrente , B // ⊥ = B //superficie ⊥corrente 190 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA 10.10.1 Componente perpendicular a` superf´ıcie Considere uma superf´ıcie percorrida por uma corrente I, cuja densidade su- perficial e´ �k. Vamos envolver uma porc¸a˜o dessa superf´ıcie por um retaˆngulo cujas faces possuem a´rea A, como mostrado na Figura 10.36. Figura 10.36: Superf´ıcie fechada para ca´lculo do fluxo de B⊥ Como na˜o ha´ monopo´los magne´ticos: � S �B · d�S = 0 Considerando apenas a componente do campo perpendicular a` superf´ıcie, teremos fluxo apenas na face superior e inferior do retaˆngulo, portanto: � S �B · d�S = B⊥acimaA− B⊥abaixoA = 0 B⊥acima = B ⊥ abaixo Logo essa componente e´ cont´ınua. 10.10.2 Componente paralela a` superf´ıcie e paralela a` direc¸a˜o da corrente Para a mesma superf´ıcie descrita anteriormente, vamos trac¸ar uma amperi- ana da forma como esta´ apresentada na Figura 10.37 . 10.10. CONDIC¸O˜ES DE CONTORNO NA MAGNETOSTA´TICA 191 Figura 10.37: Amperiana para ca´lculo de B // // Nota-se que a corrente que passa pelo interior da amperiana e´ nula. Enta˜o, aplicando a Lei de Ampe`re (10.32): � Γ �B · d�l = B////acimal − B////abaixol = 0 B // //acima = B // //abaixo Logo essa componente tambe´m e´ cont´ınua. 10.10.3 Componente paralela a` superf´ıcie e perpendi- cular a` direc¸a˜o da corrente Agora, ainda na mesma superf´ıcie, trac¸aremos uma outra amperiana, desta vez em outra direc¸a˜o, como mostrado na Figura 10.38 . Figura 10.38: Amperiana para ca´lculo de B⊥// A corrente que passa pelo interor da amperiana e´ Iint = kl. Aplicando a 192 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA Lei de Ampe`re (10.32) encontramos que: � Γ �B · d�l = B// ⊥acimal − B//⊥abaixol = µ0Iint B // ⊥acimal − B//⊥abaixol = µ0kl B // ⊥acima − B//⊥abaixo = µ0k �B // ⊥acima − �B//⊥abaixo = µ0 � �k × �n � Conclui-se que o campo magne´tico, na direc¸a˜o paralela a` superf´ıcie e perpendicular ao sentido da corrente, e´ descont´ınuo. 10.11 Expansa˜o em multipo´los Assim como foi feito para o campo ele´trico, buscaremos uma forma de expres- sar o potencial vetorial em uma se´rie de poteˆncias de 1 r , onde r e´ a distaˆncia do multipolo ate´ o ponto em questa˜o. A ide´ia e´ que esta equac¸a˜o seja u´til para analisar o comportamento do campo magne´tic a` grandes distaˆncias. Considere a espira apresentada na Figura 10.39 . Figura 10.39: Posic¸a˜o do ponto P em relac¸a˜o a` espira Vimos na Sec¸a˜o 10.9 que o potencial vetor, para densidades lineares, e´ dado por: 10.11. EXPANSA˜O EM MULTIPO´LOS 193 �A (�r) = µ0 4π � Γ �I � �r� � dl�����r − �r���� (10.46) Podemos reescrever o denominador do integrando da seguinte maneira: 1���−→r −−→r� ��� = 1√ r2 + r�2 − 2rr� cos θ� = 1 r ∞� n=0 � r� r �n pn cos θ � (10.47) Onde pn e´ o Polinoˆmio de Legendre 8. Considerando a corrente cons- tante e substitu´ındo 10.47 em 10.46 , encontramos a expressa˜o de multipo´los magne´ticos: �A (�r) = µ0I 4π ∞� n=0 1 rn+1 � Γ (r�) n pn cos (θ �) d�l� E´ interessante notar que o termo correspondente ao monopo´lo (n=0) e´ 1 r � Γ d�l� = 0, o que esta´ de acordo com os observac¸o˜es. Enta˜o, o termo mais importante da sequeˆncia corresponde ao dipolo magne´tico (n=1): �Adipolo = µ0I 4πr2 � Γ � rˆ · �r� � d�l� = µ0 4πr2 �µ× rˆ Onde µ e´ o momento de dipolo magne´tico definido na equac¸a˜o 10.14. 8Pn(x) = 1 2nn! � d dx �n � x2 − 1�n 194 CAPI´TULO 10. MAGNETOSTA´TICA
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