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Notas de Aula do Curso de Análise Macroeconômica III – Ibmec O setor governamental Professor Christiano Arrigoni Coelho O setor governamental • Até agora a existência do governo foi ignorada. Na prática, as decisões de gastos e impostos do governo (passadas, presentes e futuras) influenciam o nível de poupança doméstica. Neste capítulo estudaremos como esses tipos de decisões do governo afetam o comportamento do setor privado. O setor governamental • Fluxo de receita: impostos. • Fluxo de gastos governamentais. O setor governamental • Tipos de impostos: • Diretos: incidem diretamente sobre firmas e indivíduos (ex: imposto de renda, imposto sobre o lucro, imposto sobre a propriedade de imóveis (IPTU), etc.) • Indiretos: incidem sobre as mercadorias e serviços (ex: ICMS,IPI,ISS,etc). • Países desenvolvidos (>% de impostos diretos) x Países não desenvolvidos (>% de impostos indiretos). O setor governamental • Tipos de gastos : • Gastos com consumo (G): compra de bens não duráveis e serviços (inclui funcionalismo público). • Gastos com transferências ao setor privado (Tr) (ex: aposentadorias públicas, seguros desemprego, etc). • Gastos com o juros sobre a dívida (rD-1 g). • Gastos com bens de capital (Ig): investimento governamental (alguns erros de classificação como por exemplo gastos em educação classificados em consumo). O setor governamental • Outra possível classificação: • Despesas correntes do governo:G+Tr+rD-1 g • Despesas de capital: Ig. Poupança, investimento e empréstimos governamentais • Assim como a família do capítulo 4, o governo tem uma equação de movimento para os seus ativos líquidos: Poupança, investimento e empréstimos governamentais • Como Ativo líquido governamental ( ) = -Dívida líquida governamental ( ), podemos reescrever a equação anterior como: gB gD Poupança, investimento e empréstimos governamentais • Poupança governamental: Orçamento do governo e conta corrente • Sabemos que: • Com a presença do governo: • Logo: Orçamento do governo e conta corrente • Ativos líquidos das famílias: • Renda disponível das famílias: • Poupança privada: Orçamento do governo e conta corrente • Poupança doméstica: Orçamento do governo e conta corrente • Conta corrente: Orçamento do governo e conta corrente • Efeito do governo: Ip+Ig=I(r) S=Sp(r)+ Sg Sg>0 r S,I Sp(r) Orçamento do governo e conta corrente • Dois cenários: Ip+Ig=I(r) Sp(r)+ Sg Sg>0 r S,I r* Sp(r) S’g<0 Sp(r)+ S’g Sg>0 e S’g<0: T =T’ e G <G’ CC’ CC CC> CC’ A interação entre os setores público e privado • Vamos estudar como as decisões de gastos e impostos do setor governamental afetam a poupança privada e o equilíbrio da economia. • Vamos dar ênfase aos efeitos intertemporais das ações do governo. A interação entre os setores público e privado • Restrição orçamentária intertemporal do setor privado no modelo de 2 períodos: A interação entre os setores público e privado • Vamos supor a seguinte alteração: aumento temporário de gastos financiados por um aumento nos impostos: A interação entre os setores público e privado • Logo, por hipótese não se altera. • Qual é o efeito dessa mudança de política fiscal sobre ? • O efeito do aumento de gastos financiados por aumento de impostos no período 1, sem nehuma variação de gastos e impostos no período 2, representa uma queda temporária da renda disponível das famílias. S1 g A interação entre os setores público e privado • Dos modelos de suavização do consumo do capítulo 4 (por exemplo, modelo da renda permanente), sabemos que essa queda temporária da renda irá gerar uma queda do consumo no primeiro período menor do que a queda da renda disponível. Logo, a poupança privada no período 1 ( ) cai para qualquer nível de taxa de juros real. A interação entre os setores público e privado • Qual será o efeito dessa queda de poupança privada ( ) e poupança total doméstica ( ) (lembre que está constante por hipótese) sobre a taxa de juros real e sobre a CC? • R: Depende do tamanho e do grau de mobilidade de capital da economia sendo estudada. A interação entre os setores público e privado • Pequena economia aberta com perfeita mobilidade de capital: Ip+Ig=I(r) S1 p(r)+ Sg r S,I r* S1’ p(r)+ Sg CC1’ CC1 CC1’< CC1 CC1( CC2) A interação entre os setores público e privado • E uma economia grande com perfeita mobilidade de capital? • E uma pequena (ou grande) economia fechada? A interação entre os setores público e privado • Qual é o efeito de um aumento permanente de gastos financiados por um aumento nos impostos: • Caso extremo: Consumo=Renda Permanente. Nesse caso, essa mudança de política fiscal não terá nenhum efeito sobre a poupança e, portanto, nenhum efeito sobre a taxa de juros real e a conta corrente (independentemente do tamanho e do grau da mobilidade do capital). Crowding-out • Definição: efeito de aumentos dos gastos do governo sobre os outros componentes do PIB (consumo, investimento e exportações líquidas). • Normalmente, o conceito está mais associado aos efeitos sobre o investimento. Porém, o aumento dos gastos do governo, ao afetar a poupança privada e a taxa de juros real de equilíbrio, também afeta o consumo e a conta corrente. Crowding-out • Efeito de um aumento temporário dos gastos: • Pequena economia aberta com perfeita mobilidade de K: Queda de S não afeta a taxa de juros real. Logo, investimento não sofre nenhum impacto desse tipo de política fiscal. O consumo sofre apenas o efeito da queda temporária da renda, mas não há efeitos secundários justamente porque a taxa de juros real não varia. Porém, as exportações líquidas (BC=CC-rB*-1) absorvem todo o deslocamento de poupança (como r e B*-1 são dados, DCC=DBC). Ou seja, o país vai ter que exportar menos e importar mais. Crowding-out • Efeito de um aumento temporário dos gastos: • Pequena economia fechada: Deslocamento de S terá que ser compensado pelos outros componentes do gasto, pois nesse caso CC=0 sempre. Logo, investimento e consumo absorverão todo o impacto desse tipo de política fiscal. No novo equilíbrio, a taxa de juros real irá subir para fazer com que o consumo caia (e a poupança suba) e o investimento também caia. Dessa forma, a poupança volta a se igualar ao investimento. Logo, tanto investimento quanto consumo são deslocados pelo maior nível de gastos. Note que o consumo cai mais agora do que no caso anterior, pois ele cai por dois motivos: queda temporária de renda e aumento da taxa de juros real. Crowding-out • Efeito de um aumento temporário dos gastos: • Grande economia aberta com perfeita mobilidade de K: Queda de S também aumenta a taxa de juros real internacional. Logo, investimento e consumo irão diminuir assim como a conta corrente e a balança comercial. • Importante: o aumento da taxa de juros internacional necessário para fazer com que o déficit da nação grande se iguale ao superávitdo resto do mundo também irá deprimir o nível de consumo e investimento do resto do mundo. Efeitos dinâmicos da política fiscal • No período atual: DCC= DBC,, pois a taxa de juros r que incide sobre B*-1 é dada (é a taxa de juros que vigorou entre o período anterior e o atual). A taxa de juros que aumenta é a taxa de juros que vai vigorar entre o período atual e o próximo período. Logo, existe um efeito dinâmico da queda da poupança hoje sobre o comportamento futuro da economia. No caso de uma economia grande (ou com mobilidade de capital imperfeita), o aumento temporário dos gastos irá gerar um aumento da taxa de juros hoje e isso afetará a RLRE do período seguinte. Se o país é um credor líquido (B*>0), ele irá ter um aumento da RLRE no período seguinte e necessitará de um menor superávit da BC no período seguinte para compensar o atual déficit comercial. Se o país é um devedor líquido (B*<0), ele irá ter uma queda da RLRE no período seguinte e necessitará de um maior superávit da BC no período seguinte para compensar o atual déficit comercial. Esse efeito irá alterar as respostas de C1 e C2 ao choque. Se um país é um devedor líquido, C1 e C2 cairão mais do que no caso em que o país é um credor líquido. Equivalência Ricardiana • Conceito: contabilmente, viu-se que: • Logo, contabilmente há uma relação de 1 para 1 entre déficit do governo e déficit da conta corrente. • A equivalência Ricardiana mostra sob quais condições um aumento do déficit não afeta a poupança doméstica (e a conta corrente). Equivalência Ricardiana • RO intertemporal no modelo de 2 períodos: • VP do consumo=VP da produção – VP dos impostos. • Logo, variações de impostos hoje que não alteram o VP dos impostos não alteram o consumo. Ex: T1 de DT e T2 de (1+r)DT. Equivalência Ricardiana • RO intertemporal do governo no modelo de 2 períodos: • VP das despesas=VP da dívida em 2 + VP dos impostos. Equivalência Ricardiana • Teorema da equivalência Ricardiana: uma queda de impostos no período atual, para dados valores de , não causa nenhuma variação na poupança doméstica (e consequentemente nenhuma variação na conta corrente e taxa de juros real). Equivalência Ricardiana • “Prova”: • 1) Dadas as hipóteses, a queda de DT em T1 causará um aumento de (1+r)DT em T2. Basta olhar a RO intertemporal do governo. • 2) Já vimos que nesse caso C1 não varia. Como a renda disponível aumentou em DT, mas o consumo em 1 não variou, então a poupança privada aumentou em DT. Equivalência Ricardiana • “Prova”: • 3) Logo, DS=DSg+DSp=-DT+DT=0. Portanto, S não varia. • 4) Como S não variou, não há modificações na conta corrente e/ou na taxa de juros real de equilíbrio, independente do modelo utilizado. Equivalência Ricardiana • Logo, é possível que um aumento do déficit fiscal não cause variações no déficit em conta corrente. • Porém, não é provável. Várias hipóteses implícitas são necessárias para o resultado ser válido. Destacaremos duas delas: o horizonte temporal do governo ser igual ao das famílias e as famílias não estarem restritias no mercado de crédito. Equivalência Ricardiana • Horizonte temporal do governo diferente do das famílias: • Famílias vivem 2 períodos, governos continuam a existir. • Logo, o governo poderia diminuir T1 sem alterar T2. Para isso, aumentaria a dívida no período 2. Ele “empurraria” o aumento de impostos para períodos futuros. Equivalência Ricardiana • Governos têm restrições orçamentárias parecidas com a de países: • Logo, o aumento da dívida gerado pela diminuição de impostos no período 1 pode ser paga com superávits primários futuros (aumentos de impostos e/ou quedas de gastos e investimentos do governo no futuro). • Logo, as gerações futuras “pagariam a conta”. Equivalência Ricardiana • Para as gerações atuais o corte de impostos no período 1 seria aumento de riqueza: • Vimos nos modelos de suavização do consumo que o consumo no período 1, em geral, pode ser escrito como: Equivalência Ricardiana • Logo: • Logo: Equivalência Ricardiana • Assim sendo, podemos calcular a variação da poupança doméstica: • Logo, nesse caso o aumento do déficit fiscal provocado pela queda de impostos provoca uma queda de poupança doméstica. Usando os modelos do capítulo 6, essa queda de poupança irá gerar um aumento do déficit em conta corrente. Equivalência Ricardiana • Contra-argumento teórico a questão do horizonte temporal do governo: as famílias são altruístas em relação as gerações futuras Equivalência Barro- Ricardiana. • As famílias podem se importar tanto com seus filhos, netos, bisnetos, etc, que irão poupar todo o aumento dos impostos para deixar heranças suficientes para as gerações futuras poderem pagar a conta. Nesse caso, recupera-se o resultado anterior: a queda de impostos não irá gerar variação na poupança total da economia. Equivalência Ricardiana • Restrições de liquidez: • E as famílias que não estão aptas a suavizar consumo por estarem impedidas de usar a renda futura como colateral no mercado de crédito? • Provavelmente essas famílias aumentarão o consumo no mesmo montante da queda em T1, mesmo que elas esperem pagar a conta no futuro com um aumento em T2. • Por que? A queda de imposto funciona como um empréstimo para essas famílias: aumento meu consumo em D T1 hoje e pago (1+r) D T1 amanhã. Como elas estão com um consumo hoje abaixo do ótimo, elas terão incentivos para fazer isso. Equivalência Ricardiana • Logo, as famílias que enfrentam restrições de liquidez no mercado de crédito aumentarão o consumo e isso fará com que a poupança privada aumente menos do que a queda da poupança pública, causando uma queda da poupança doméstica. • Como antes, essa queda da poupança doméstica causa um aumento do déficit em conta corrente. Equivalência Ricardiana • Evidências empíricas: • Feldstein (1982): analisa episódios de quedas de impostos com gastos constantes para o período entre 1930 e 1977 nos EUA. Conclusão: consumo aumenta quando há queda temporária de impostos. Isso é contrário a equivalência Ricardiana. • Summers e Poterba (1987): analisam as quedas de impostos na década de 80 nos EUA. Conclusão: a poupança privada ficou constante ou mesmo caiu. Isso é consistente com famílias com restrições de liquidez e/ou com expectativas de quedas futuras nos gastos do governo. Além disso, os déficits fiscais foram acompanhados de déficits em conta corrente e aumento da taxa de juros. Déficit em Conta Corrente nos EUA – Os “Déficits Gêmeos”: Saldo em Transações Correntes nos EUA -6.5% -6.0% -5.5% -5.0% -4.5% -4.0% -3.5% -3.0% -2.5% -2.0% -1.5% -1.0% -0.5% 0.0% 0.5% 1.0% 1.5% 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 % d o PI B Reagan Bush "Pai" Bush "Filho"Clinton Poupança e Investimento nos EUA 13.0% 13.5% 14.0% 14.5% 15.0% 15.5% 16.0% 16.5% 17.0% 17.5% 18.0% 18.5% 19.0% 19.5% 20.0% 20.5% 21.0% 21.5% 22.0% 22.5%23.0% 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 % d o PI B 13.0% 13.5% 14.0% 14.5% 15.0% 15.5% 16.0% 16.5% 17.0% 17.5% 18.0% 18.5% 19.0% 19.5% 20.0% 20.5% 21.0% 21.5% 22.0% 22.5% 23.0% I (Investimento) S (Poupança Nacional) Reagan Bush "Pai" Bush "Filho"Clinton Déficits Gêmeos! Equivalência Ricardiana • Evidências empíricas: • Conclusão: as evidências empíricas apontam que a equivalência Ricardiana é pouco provável. Os dados, em geral, não se comportam da forma como a equivalência Ricardiana prevê.
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