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Resenha Crítica - Sociologia 
As Consequências da Modernidade – Anthony Giddens 
 
O autor da obra em análise, Anthony Giddens, nasceu no Reino Unido, em Londres, em 
1983. Giddens é um renomado sociólogo britânico por suas pioneiras teorias filosóficas e 
sociológicas. Além disso, possui mais de vinte livros publicados ao longo de duas décadas. Dentre 
eles, a obra “As Consequências da Modernidade” pode demonstrar a maestria acera de sua 
interpretação inovadora e provocativa sobre a modernidade e suas transformações sociais, 
introduzindo conceitos de deslocamento do espaço-tempo e o caráter expansivo e globalizante da 
modernidade em toda a sua dimensão. Outrossim, percebe-se que, no livro, o autor introduz seus 
questionamentos ao transcrever “O que é modernidade?’’, a fim de tocar o imaginário do leitor e 
provocar a reflexão individual do ser. 
 Nesse sentido, o conceito é traduzido de forma assertiva como uma organização social 
mundial que se refere a um costume de vida acelerado e cada vez mais presente nas sociedades 
contemporâneas, atrelado desde às questões cotidianas até nas macroestruturas, que emergiram 
no mundo ocidental, inicialmente na Europa a partir do século XVII, trazendo influências 
exponenciais em seus processos. À vista disso, um dos pontos centrais abordados na obra se 
relaciona diretamente com o pensamento racional, uma marca desses processos em pauta. Assim, 
nota-se uma descontinuidade da sociedade feudal e suas diversas transformações sociais com a 
ascensão do racionalismo na sociedade; a nova perspectiva coletiva de pensar, verificar 
empiricamente ou por um princípio lógico cartesiano tornou-se expansiva e concreta, a medida 
em que se encontrava contra as sociedades tradicionais e seus valores religiosos medievais, haja 
vista seus modelos contrários sob a perspectiva do pensamento teológico e seus conhecimentos 
de ordem metafísica. . 
 Desse modo, houve uma ruptura no que diz respeito a substituição da ordem divinizada 
pela racionalidade e suas estruturas lógicas. Destarte, a noção de tempo também é influenciada 
pelas mudanças da modernidade, de caráter expansivo e dinâmico ao adentrar em todos os povos 
e espaços do planeta. Entretanto, com a emergência contínua desse novo sistema social e sua 
inserção inicial nas sociedades ocidentais, é possível observar que, na atualidade, tendo em vista 
os anseios tecnológicos e o avanço do racionalismo e seus métodos, houve a inserção de uma 
clara discussão em torno de uma suposta ‘nova era”, mais conhecida como ‘pós-modernidade”, 
indo em uma direção além da própria modernidade. Contudo, para o sociólogo, essa transição 
supracitada não se restringe apenas à mera criação de um novo termo para algo que já existe. 
 De acordo com o autor, devemos observar a natureza moderna que nos cerca e pressupor 
que ela foi insuficientemente abrangida pelas ciências sociais e seus métodos de análise. Em 
suma: O período moderno não se configura como um outro momento histórico e social, mas sim 
como um período em que as consequências da modernidade estão mais universalizadas e 
radicalizadas, isto é, o caráter expansivo da modernidade se mostra expressivo diante da alteração 
dramática do cotidiano popular em diferentes localidades em todo o mundo. Assim, a 
problematização do termo reflete a indignação de Giddens com autores como Jean-Étinne Liotard, 
em função de sua inadequação atrelada à ideia de que o mundo se tornou fragmentado, plural e 
diverso, que na verdade foram as consequências da modernidade. Portanto, por serem 
consequências, seu ritmo de transformação se orienta radicalmente na atualidade, tendo em vista 
a mudança exacerbada da noção de tempo do indivíduo em meio à sociedade moderna e suas 
proporcionalidades. 
 Não obstante, a partir da compreensão da modernidade em consonância ao conceito 
supracitado sob a ordem pós-moderna que está a emergir, infere-se que não há linearidade no 
conhecimento, ou seja, podemos interpretá-la como interpolada ao desenvolvimento social 
moderno. Nesse sentido, é possível suscitar que a história é marcada por descontinuidades no que 
tange ao desenvolvimento social, ao contrário de uma perspectiva homogênea e linear para esse 
processo. À vista disso, nota-se que esses pontos de transição ou conjuntos de descontinuidades 
estão inseridos fortemente ao período moderno e suas consequências, por meio da mudança 
temporal no cotidiano humano e sua rápida expansão territorial, além do dinamismo imposto nos 
processos de globalização cada vez mais expressivos. Entretanto, apesar da descontinuidade ser 
característica de diversos tipos tradicionais de ordem social, as transformações relacionadas à 
modernidade são, de fato, para o autor, mais complexas e intensas, haja visa o seu poder de mudar 
até mesmo a forma de pensar e agir do indivíduo em seu estado natural. Assim, com suas 
transações ininterruptas, seus impactos abrangem a ideia de que a pós-modernidade não pode ser 
vista como uma unidade, isto é, de forma generalizada. Muito pelo contrário, ela é denominada 
como expansiva, dinâmica e alastrante no que concerne ao seu fluxo de entrada entre diferentes 
povos e culturas. 
 Não obstante, para identificar as descontinuidades que separam as instituições sociais 
modernas das ordens sociais tradicionais, é preciso contrastar o ritmo de mudança presente em 
ambas, proclamado, para Giddens, como extremo pela era da modernidade se comparado à 
mudanças de outras ordens sociais antigas e anteriores, como por exemplo, na rapidez das 
transformações tecnológicas contemporâneas, haja vista o poder de inovação de empresas 
multinacionais como a Apple, que renova seus aparelhos eletrônicos anualmente, tendo em vista 
que o corpo social se adequa e acompanha essas variáveis capitalistas que estão a emergir no 
mercado. Logo, vê-se a rapidez exacerbada do caráter moderno de modificação da sociedade em 
relação à era medieval e seus precedentes históricos. Portanto, de acordo com o estudioso, a 
modernidade se preenche como descontínua em relação às culturas anteriores e tradicionais, além 
de instituir o dinamismo nas instituições modernas. 
 Nesse sentido, outra descontinuidade observável é o escopo da mudança; a 
interconexão mundial que propaga ondas de transformação social através da internet e suas 
proporcionalidades de apoio à globalização, adentrando em diferentes localidades. Além disso, é 
notória a natureza intrínseca das instituições modernas, ou seja, a característica inerente de 
determinadas formas sociais modernas, que não se encontram em períodos históricos precedentes. 
Na verdade, a ordenação de características novas à determinada ordem social não se dá pela 
expansão de ordens pré-existentes ou pela sua melhoria a partir de algo que já é, mas sim sobre 
outras perspectivas criadas e princípios inovadores, totalmente diferentes dos ordenados 
inicialmente, deixando de lado o processo de avanço contínuo ao botar em prática um “salto” 
desenvolvimental no que tange às mudanças e consequências sociais da modernidade. Assim, os 
períodos anteriores e pré-modernos não se relacionam diretamente com essas transformações 
atuais. 
 Ademais, outra reflexão aprofundada e certeira proposta por Giddens, se introduz ao 
avaliar questões sobre as características expressas na modernidade, ao discutir substancialmente 
sobre a segurança verus perigo e confiança verus risco. Em primeiro plano, nota-se a idealização 
hipotética de que o desenvolvimento pleno das instituições sociais abrangeria, em escala global, 
a possibilidade de certa segurança aos indivíduos inseridos, tendo em vista seu destaque em 
relação aos sistemas anteriores. Entretanto, com o avanço tecnológico, as ameaças de confrontos 
nucleares em consonância à conflitos militares demonstram um dos pontos negativos trazidos 
pelo avanço damodernidade: considerado o século da guerra. Assim, o mundo contemporâneo 
carrega o peso de ser perigoso para a população, contrastando inevitavelmente com a ideia de que 
sua eclosão tornaria as sociedades mais felizes e seguras, deixando clara as limitações das 
perspectivas sociológicas clássicas, carregadas de limitações históricas contra o tempo além da 
carência da análise sociológica de suas problemáticas. Diante desse cenário, é plausível contrastar 
essa ideia com a atual crise política e econômica advinda da guerra atual da Rússia e Ucrânia em 
pleno século XXI, à vista de empasses armamentistas e invasivos ao povo vinculados à questões 
sobre a expansão da Otan pelo Leste Europeu, a possibilidade de adesão da Ucrânia à aliança 
militar, ao desejo egocêntrico de Putin de reestabelecer a zona de influência da União Soviética, 
entre outros fatores. Desse modo, percebe-se a influência dos avanços tecnológicos armamentistas 
para com a segurança, ou melhor, a falta dela para a população moderna, que sofre diretamente 
com as consequências da modernidade, ora boas ou ruins. 
 Outrossim, de acordo com o sociólogo, a criação do relógio como fonte de dimensionar 
o tempo de forma a quantificar os afazeres diários no cotidiano do indivíduo canalizou e organizou 
socialmente o tempo dentro das sociedades, como é visto no filme “Tempos Modernos” de 
Charles Chaplin, em que o trabalhador industrial alienado se vê em uma situação de 
distanciamento da realidade ao ser reduzido à gestos mecânicos em conjunto ao alinhamento de 
sua jornada exaustiva de trabalho e seu respectivo tempo regulado e exato, de forma a economiza-
lo. Tal mudança padronizada do tempo ocorreu em escala mundial, de forma a controlar o espaço 
e o tempo, que coincidiu com o avanço da modernidade. 
 Contudo, a nova ordem social de caráter tecnológico acaba por descoincidir o espaço e o 
tempo, a medida em que a interação face a face torna-se ausente e reinstitui as relações sociais 
em função da distância comunicativa e a formação do “espaço vazio”, independente do lugar. 
Assim, vê-se a distinção entre o tempo medieval e o tempo moderno; sob a perspectiva de que ele 
era cheio e completo por fazer sentido ao se referir à medidas naturais referidas à experiencias 
vividas em determinado espaço. Já na modernidade, o tempo se alterou de tal forma que passou a 
ser uniforme, ao substituir o sentido pelo vazio padronizado de forma universal. Logo, a separação 
entre o tempo e o espaço é crucial para o dinamismo da modernidade, visto que ela é fundamental 
para a efetivação das conexões sociais dentro de contextos distantes em relação à presença de 
pessoas em suas relações, ao tornar múltiplas as possibilidades de comunicação e diminuir as 
restrições interativas acerca de seu local. 
 Além disso, o sistema de datação padronizado em questão possibilita o dinamismo de 
conexão entre as rotinas dos indivíduos. Dessa forma, também pode-se introduzir a condição de 
mecanismo de desencaixe encontrada nas economias modernas, ao relacionar dinheiro ao tempo, 
haja vista que o dinheiro pode ser considerado um meio de ‘atrasar o tempo’, pelo seu poder de 
distanciar o espaço-tempo, devido às transações entre agentes situados em locais distintos; em 
função da distância espacial entre o homem e sua posse. Logo, em função desse mecanismo de 
desencaixe da modernidade, percebe-se a necessidade de confiança na simbologia proposta no 
dinheiro, posto que o valor introduzido às fichas monetárias é abstrato. Logo, seu valor é instituído 
e credibilizado na sociedade pelas instituições modernas. Não só em relação ao dinheiro, a 
confiança é essencial no que tange ao conhecimento perito do ambiente que nos cerca, nos objetos 
que usamos. Tal mecanismo de desencaixe fornece “garantias” de sucesso através do espaço-
tempo, assim como as fichas monetárias. 
 Portanto, ao analisar a obra em si, é possível suscitar que o autor oferece uma visão 
inovadora e relativista ao provocar questionamentos assertivos no leitor sobre a modernidade e 
suas consequências sociais, políticas e econômicas. Dessarte, Giddens tem como objetivo 
transcrever as características da modernidade e seus frutos através de uma retratação proveitosa e 
complexa, por meio da análise detalhista dos fenômenos sociais vinculados à esse contexto em 
consonância aos complexos mecanismos sociais que separam o moderno do pós modernos, de 
forma minuciosa, descritiva e profunda. Logo, a obra carrega uma riqueza expressiva no tocante 
à diversificação de conhecimentos filosóficos, antropológicos e sociológicos, por meio de 
conceitos refinados e auxiliares na compreensão da modernidade e suas respectivas reflexões. Isto 
posto, revela o caráter provocativo de questionamento do autor sobre não vivermos em um mundo 
pós-moderno, apesar de já estarmos a caminho. Logo, ao envolver a separação do moderno e o 
pré-moderno, conceitos de encaixe e desencaixe, Giddens procura compreender a modernidade 
em suas diversas esferas sociais, ao elevar o conceito em si como algo além de um pós e revelar 
o poder global de suas consequências exponenciais.

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