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1 - APRESENTAÇÃO DO CURSO DE DIREITO FINANCEIRO
Olá, OABeiro!
É uma imensa alegria trazer para você este curso de Direito Financeiro para a 1ª Fase do Exame da
Ordem dos Advogados do Brasil.
Este curso foi pensado e desenvolvido com um único propósito: contribuir para a sua tão sonhada
aprovação na OAB!
Por meio deste curso apresentaremos a você, de forma simplificada e sistematizada, toda a teoria do
Direito Financeiro, destacando, ainda, as principais leis e decisões dos Tribunais Superiores.
Este é um material objetivo, porém, sem deixar de ser completo.
Nós sabemos – e muito bem – que o teu tempo é curto, que a matéria é extensa e que você tem outras
disciplinas para estudar. Então abordaremos cada assunto com a profundidade que for necessária, ok?
Pois bem. Os nossos estudos serão divididos da seguinte forma:
CURSO DE DIREITO FINANCEIRO PARA A 1ª FASE DA AOB
Aula 1 A atividade financeira do Estado e o Direito Financeiro
Aula 2 Orçamento Público
Aula 3 Receita Pública
Aula 4 Despesa Pública
Aula 5 Crédito Público
Aula 6 Controle da atividade financeira do Estado
1.1 - Fórum de dúvidas
Como até mesmo aqueles alunos mais preparados ainda ficam com algumas dúvidas, você poderá entrar
em contato diretamente comigo a qualquer momento por meio do nosso portal, no Fórum de Dúvidas,
para esclarecê-las, pedir dicas, orientações etc.
1.2 - Apresentação do Professor
Por fim, chegou a hora de conhecer o seu Professor: meu nome é RODRIGO MARTINS. Sou Mestre em
Direito Tributário pela PUC/SP - Pontifícia Universidade de São Paulo, especialista em Direito
Tributário e Processual Tributário pela EPD - Escola Paulista de Direito e possuo MBA em
Administração Pública pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras -
FIPECAFI, órgão de apoio institucional da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo - FEA/USP. Fui fiscal de tributos municipais do Município de São Bernardo
do Campo/SP entre os anos de 2006 e 2014, quando também desempenhei a função de Juiz do Conselho
de Tributos e Multas (órgão de julgamento, em 2ª instância administrativa, de recursos interpostos por
contribuintes e que versam sobre questões tributárias). Também já fui Diretor da Seção de Fiscalização
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Tributária do ISS na Secretaria de Finanças do referido Município entre os anos de 2018 e 2019.
Atualmente sou Assessor de Governo junto ao Gabinete da Secretaria de Finanças do mesmo Município,
onde atuo, dentre outras matérias, com o Direito Financeiro. Também atuo como advogado e
consultor jurídico na área de Direito Tributário. Sou professor de Direito Material Tributário, Direito
Processual Tributário e de Prática Jurídica Tributária em alguns cursos de pós-graduação (lato sensu) e
preparatórios para concursos públicos, e também avaliador em bancas de concursos públicos para a
disciplina de Direito Tributário.
Muito prazer em conhecer você!
Tenho a mais absoluta certeza de que faremos um excelente trabalho juntos!
Deixarei abaixo os meus contatos para quaisquer dúvidas ou sugestões.
Prof. Rodrigo Martins
@professorrodrigomartins
Fórum de Dúvidas do Portal do Aluno
Sumário
1 - Apresentação do curso de Direito Financeiro ...........................................................................................1
1.1 - Fórum de dúvidas ......................................................................................................................................................... 2
mailto:rodrigodireitotributario@gmail.com
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1.2 - Apresentação do Professor ....................................................................................................................................... 2
2 - A atividade financeira do Estado e o Direito Financeiro ........................................................................4
2.1 – Atividade Financeira do Estado ............................................................................................................................. 5
2.2 – Direito Financeiro ........................................................................................................................................................ 6
2.2.1 – Fontes do Direito Financeiro .......................................................................................................................... 7
2.2.2 - Competência legislativa .................................................................................................................................. 16
2.2.3 - A legislação básica de Direito Financeiro ................................................................................................ 18
Considerações Finais ............................................................................................................................................. 19
2 - A ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO E O DIREITO
FINANCEIRO
A atividade financeira do Estado (e quando nos referirmos a "Estado", o estamos fazendo no seu sentido
amplo, ou seja, englobando a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios)
corresponde, basicamente, à conduta estatal de arrecadação de receitas e de realização de despesas.
Esta atividade é disciplinada por diversas regras e princípios jurídicos, que pertencem ao ramo que
denominados Direito Financeiro.
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O Direito Financeiro, que sempre ficou "em segundo plano" até pouco tempo atrás, ressurgiu agora com
toda força e vigor, pois, além de ter voltado a ser disciplina obrigatória nas faculdades de Direito, os
seus temas têm ocupado grande espaço no cenário nacional.
Assuntos como "pedaladas fiscais", teto de gastos, orçamento público têm permeado os debates
políticos e são temas frequentes em todos os noticiários.
E não pode um Advogado desconhecer os princípios e normas que regem estas discussões,
especialmente os gastos públicos, não pode um juiz de direito decidir sem levar em consideração as
disposições orçamentárias em vigor, não pode um defensor público postular a proteção de direitos
sociais sem atenção às normas que disciplinam os seus custos, e também não podem o Poder Legislativo
e o Poder Executivo decidir o destino dos recursos públicos sem observar as disposições constitucionais
sobre a matéria.
Até mesmo os cidadãos em geral, que não são envolvidos com o universo jurídico por profissão,
precisariam ter noções básicas sobre a atividade financeira do Estado e o Direito Financeira para
melhor exercerem o controle social sobre os orçamentos.
Por isso podemos afirmar: por questão de cidadania e de participação popular nas finanças públicas, o
Direito Financeiro se mostra como um dos mais importantes ramos do Direito.
2.1 – Atividade Financeira do Estado
O Estado tem o dever de satisfazer necessidades públicas, por meio da entrega de bens (habitações
populares, medicamentos etc.) e/ou por meio da prestação de serviços públicos (por exemplo,
educação, saúde etc.).
É fácil perceber que a entrega de bens e/ou por meio da prestação de serviços públicos tem um custo,
o que exige a realização de gastos (despesas públicas).
Pois bem: as despesas públicas (ou gastos públicos) são gerenciadas por meio de um orçamento
público. Acaso a receita pública arrecadada (ingresso de dinheiro nos cofres públicos) não seja
suficiente para custear os gastos públicos, o Estado poderá obter empréstimos públicos (também
chamados de créditos públicos), para atingir o equilíbrio entre receitae despesa pública.
Atenção: esses 4 elementos, quais sejam, (i) receitas públicas, (ii) despesas
públicas, (iii) orçamento público e (iv) crédito público constituem a atividade
financeira do Estado.
Essa atividade está sujeita, pois, a um controle (controle da atividade financeira do Estado),
exercida pelo Poder Legislativo, pelo Tribunal de Contas etc.
É isto que estudaremos a partir de agora: o disciplina jurídica, ou seja, as normas
jurídicas (Direito Financeiro) que regem (i) as receitas públicas, (ii) as despesas
públicas, (iii) o orçamento público, (iv) o crédito público e (v) o controle da
atividade financeira do Estado.
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2.2 – Direito Financeiro
O Direito Financeiro (conjunto de regras e de princípios jurídicos que disciplinam a atividade financeira
do Estado) é um sub-ramo "autônomo" do direito público.
Contudo, importa relembrar que a "autonomia" do Direito Financeiro é relativa (razão pela qual
colocamos a expressão entre aspas), assim como em qualquer ramo do Direito, pois, como sabemos, o
Direito é uno e indivisível.
Atenção: essa autonomia é relativa, pois é meramente didática, científica e
legislativa, já que – sabemos – não existe ramo do Direito totalmente autônomo e
independente. De fato, o Direito é um sistema uno e indivisível, tal qual concebido por
Kelsen (Pirâmide de Kelsen), de modo que todas as suas normas se intercomunicam,
inexistindo, por isso, ramo totalmente autônomo do Direito.
logo, esta divisão em ramos "autônomos" do Direito se dá, portanto, apenas para fins didáticos,
científicos e legislativos, ou seja, para facilitar a produção de normas e seu estudo.
Nesse sentido, um ramo do Direito é considerado didaticamente, cientificamente e legislativamente
"autônomo" quando ele possui institutos e princípios próprios, "descolando-se", assim, de outro ramo,
do qual não pode mais ser considerado um "apêndice".
Esta é a realidade do Direito Financeiro, que possui institutos e princípios próprios, não podendo ser
considerado, por isso, um apêndice de outros ramos, como, por exemplo, o Direito Tributário ou o
Direito Administrativo.
De fato, o Direito Financeiro possui um sistema próprio de normas (por exemplo, nesse sentido, o art.
24, inciso I, da CF/88 prescreve que compete à União, aos Estados-membros e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre Direito Financeiro, indicando, então, a existência do referido sistema
próprio de normas).
Paralelamente, também à título de exemplo, o capítulo II do Título VI da CF/88 (artigos 163 até 169)
trata, especificamente, de finanças públicas.
Existem, ainda, outros artigos espalhados na CF/88 que disciplinam os empréstimos públicos,
financiamentos públicos, responsabilidade pelos gastos públicos, precatórios etc., todos eles
pertencentes ao Direito Financeiro.
Atenção: não se preocupem com o estudo desses artigos neste momento; eles serão
abordados adiante, em momento oportuno; estão sendo mencionados tão somente
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para demonstrar a autonomia do Direito Financeiro em relação a outros ramos do
Direito.
Portanto, fica claro que o Direito Financeiro é um ramo autônomo, não se justificando estudá-lo
juntamente com qualquer outro ramos o Direito.
Pois bem: há um ramo do Direito que pode causar uma certa confusão, qual seja, o Direito Tributário.
Direito Financeiro e Direito Tributário "se confundem"? São "a mesma coisa"? Um é um "apêndice" do
outro?
Não!
Ambos têm autonomia!
Enquanto o Direito Financeiro estuda a atividade financeira do Estado, incluindo as receitas públicas,
como já vimos, o Direito Tributário estuda apenas com uma parte dessas receitas, especificamente a
receita tributária.
Logo, podemos dizer que o Direito Tributário "se apropriou" de um específico elemento do Direito
Financeiro, que é a receita tributária, e, ao criar institutos e princípios próprios, acabou "descolando"
esse elemento (receita tributária) do Direito Financeiro, ganhando, assim, autonomia, dando
surgimento ao que conhecemos como Direito Tributário.
É inegável, portanto, que o Direito Tributário tem um importante papel na atividade financeira do
Estado, uma vez que os tributos são a principal fonte de receitas. De fato, os tributos são fundamentais
para a existência do Estado, pois as receitas tributárias são o elemento financeiro central que viabilizam
(i) a existência do Estado do ponto de vista material, e também (ii) a concretização dos valores e
objetivos eleitos como fundamentais por esse mesmo Estado, especialmente na Constituição Federal.
Pois bem: muito embora o Direito Tributário tenha grande importância na atividade financeira do
Estado, não estudaremos, neste curso, o Direito Tributário em si, já que isso é feito em outro curso, de
forma independente (independência didática).
2.2.1 – Fontes do Direito Financeiro
O tema “fontes" do Direito é abordado de diversas formas pela doutrina, com diferentes classificações
que nem sempre coincidem de autor para autor.
Assim, abstraindo as divergências teóricas existentes, nos permitimos simplificar explicando que as
fontes do Direito podem ser classificadas em fontes materiais e fontes formais.
As fontes materiais do Direito são os Poderes Legislativos da União, dos Estados-membros, do Distrito
Federal e dos Municípios, que produzem normas de Direito Financeiro.
Nesse sentido, os Poderes Legislativos da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos
Municípios são fontes materiais de Direito Financeiro, pois produzem normas desse ramo do Direito.
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As fontes formais correspondem, por sua vez, à forma (tipo de norma) pela qual a fonte material se
manifesta. A "ideia" é a seguinte: que tipo de "produto normativo" (tipo de norma, como, por exemplo,
Lei Complementar, Lei Ordinária etc.)) as fontes materiais produzem? O "produto" será a fonte formal.
Nesse sentido, a fonte formal é "produto" (tipo de norma), ou seja, aquilo que é elaborado por uma fonte
material (Poderes Legislativos da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios).
No momento nos interessam as principais fontes formais do Direito Financeiro.
2.2.1.1 - Constituição Federal
A Constituição Federal de 1988 é – obviamente – a mais importante fonte formal do Direito Financeiro.
De fato, se pensarmos na Pirâmide de Kelsen (que reflete ser o Direito uno e indivisível) e que no seu
topo está a Constituição Federal, que dá fundamento de validade a todo o Sistema Normativo, não
chegaremos a outra conclusão senão a seguinte: a Constituição Federal é a fonte formal mais importante
do Direito.
E como nos ensina a Teoria Geral do Direito: se alguma norma abaixo da Constituição Federal estiver
em desconformidade com o seu texto (regras e princípios), então essa norma será considerada
inconstitucional.
Pois bem: há diversas normas de Direito Financeiro espalhadas pela CF/88, como, por exemplo:
Os artigos 70 a 75 que tratam fiscalização contábil, financeira e orçamentária dos entes públicos;
Os artigos 157 a 162 que tratam da repartição de receitas tributárias;
O art. 163 que trata de empréstimos públicos;
O art. 164 que trata do subsistema monetário; e
Os arts. 165 a 169 que tratam do orçamento e que impõe limites de gasto com pessoal.
Além desses, há outros artigos de Direito Financeiro espalhados na Constituição Federal.
Reiteramos que essa normas serão estudadas adiante, mas, por enquanto, queremos que você grave o
seguinte: a disciplina jurídica da atividade financeira do Estado (Direito Financeiro) parte da
Constituição Federal, que é o diploma normativo mais importante desse ramo do Direito.
Por fim, não podemos esquecer das Emendas Constitucionais, que também são fontes formais do Direito
Financeiro, e que não têm qualquer especificidade:devem observar, pois, as regras de Direito
Constitucional que disciplinam a matéria, especialmente o respeito às cláusulas pétreas.
2.2.1.2 - Lei Complementar
A CF/88 estipula que determinadas matérias de Direito Financeiro devem ser disciplinadas por
meio de Lei Complementar.
Essas matérias estão indicadas nos artigos 161, 163 e 165, § 9º, da CF/88:
CF/88: Art. 161. Cabe à lei complementar:
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I - definir valor adicionado para fins do disposto no art. 158, § 1º, I;
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I,
objetivando promover o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre Municípios;
III - dispor sobre o acompanhamento, pelos beneficiários, do cálculo das quotas e da
liberação das participações previstas nos arts. 157, 158 e 159.
Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas
referentes aos fundos de participação a que alude o inciso II.
CF/88: Art. 163. Lei complementar disporá sobre:
I - finanças públicas;
II - dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais
entidades controladas pelo Poder Público;
III - concessão de garantias pelas entidades públicas;
IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública;
V - fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 40, de 2003)
VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios;
VII - compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União,
resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao
desenvolvimento regional.
VIII - sustentabilidade da dívida, especificando: (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 109, de 2021)
a) indicadores de sua apuração; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
b) níveis de compatibilidade dos resultados fiscais com a trajetória da dívida; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
c) trajetória de convergência do montante da dívida com os limites definidos em
legislação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
d) medidas de ajuste, suspensões e vedações; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
109, de 2021)
e) planejamento de alienação de ativos com vistas à redução do montante da dívida.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso VIII do caput deste artigo
pode autorizar a aplicação das vedações previstas no art. 167-A desta Constituição.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
CF/88: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
(...)
§ 9º Cabe à lei complementar:
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I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a
organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei
orçamentária anual;
II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração
direta e indireta bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos.
III - dispor sobre critérios para a execução equitativa, além de procedimentos que
serão adotados quando houver impedimentos legais e técnicos, cumprimento de restos
a pagar e limitação das programações de caráter obrigatório, para a realização do
disposto nos §§ 11 e 12 do art. 166. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 100,
de 2019) (Produção de efeito )
Portanto, atenção: os assuntos especificados nos artigos constitucionais acima
transcritos só podem ser disciplinados por meio de Lei Complementar de caráter
nacional. Assim, não podem - atenção - não podem ser disciplinados por meio de
qualquer outro tipo de diploma normativo, como, por exemplo, Lei Ordinária,
Medida Provisória etc. Somente Lei Complementar pode discipliná-los.
Pode parecer, à "primeira vista", que os temas em questão são extremamente técnicos, "difíceis", mas,
fique tranquilo: só estamos começando; você irá compreendê-los quando forem estudados adiante!
Prosseguindo, assim como ocorre no Direito Tributário, as Leis Complementares de Direito Financeiro,
de caráter e aplicação nacional, só veiculam normas gerais de Direito Financeiro, no sentido de
complementar a CF/88 onde e quando necessário.
Pois bem: dentre todas as Leis Complementares de Direito Financeiro já editadas, que serão
oportunamente estudadas ao longo do curso, conforme desenvolvermos nossos estudos, queremos
destacar, neste momento, apenas 2 (duas), quais sejam, a Lei Federal nº 4.320/1964 e a Lei
Complementar nº 101/2001.
2.2.1.2.1 – Considerações sobre a Lei Federal nº 4.320/1964
A Lei Federal nº 4.320/1964 estipula normas gerais de Direito Financeiro, ou seja, normas gerais
relativas à atividade financeira do Estado, disciplinando a obtenção de receitas e a realização de
despesas públicas.
É possível verificar, no entanto, que a lei em questão não foi editada (criada, na origem, em 1964) com
a forma de Lei Complementar.
Ocorrem, porém, que diante da exigência feita pelo § 9º do art. 165 da CF/88 acima transcrito, de
que cabe à Lei Complementar dispor sobre normas gerais de Direito Financeiro, a referida Lei
Federal nº 4.320/1964, por já ser uma lei que estipulava normas gerais de Direito Financeiro,
acabou sendo recepcionada pela CF/88 com o status de Lei Complementar (exatamente como
ocorreu, também, com o CTN - Código Tributário Nacional, que é a Lei Federal nº 5.172/1966).
Portanto, para todos os fins e efeitos jurídicos, a partir de 1988 a Lei Federal nº
4.320/1964 é considerada materialmente complementar, pois dispõe sobre
matérias próprias de Lei Complementar, em atendimento à exigência feita pelo
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§ 9º do art. 165 da CF/88, razão pela qual só pode ser alterada - atenção - por
meio de outra Lei Complementar de caráter nacional.
Pois bem: além da Lei Federal nº 4.320/1964, recepcionada pela CF/88 com o status de Lei
Complementar, há outra que também estipula normas gerais de Direito Financeiro (paralelamente a
essa já vista), qual seja, a Lei Complementar nº 101/2001 - Lei de Responsabilidade Fiscal.
2.2.1.2.2 – Considerações sobre a Lei Complementar nº 101/2001 – Lei de
Responsabilidade Fiscal
A Lei Complementar nº 101/2001 – Lei de Responsabilidade Fiscal estipula uma série de regras
voltadas à responsabilidade na gestão do dinheiro público, ou seja, impõe um severo rigor na
administração do dinheiro público.
O seu art. 1º deixa claro o objetivo dessa lei, que é combater o desequilíbrio fiscal com gastos
sistematicamente superiores às receitas:
LRF: Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas
para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da
Constituição.
§ 1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente,
em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das
contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e
despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita,
geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e
mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de
garantia e inscrição em Restos a Pagar.
(...).
Atenção: a LRF (LC 101/2000) não revogou e não conflita com a Lei Federal nº
4.320/64, sendo leis de alcance distintos: a LRF veicula normas de finanças
públicas relacionadas à gestão discal; e a Lei Federal nº 4.320/64 veicula normas
sobre a elaboração e controle dos orçamentos e balanços.
2.2.1.2.3 – Outras Leis Complementares
Nem toda matéria de DireitoFinanceiro reservada pela CF/88 à Lei Complementar é disciplinada pela
Lei Federal nº 4.320/64 ou pela Lei Complementar nº 101/2001 – Lei de Responsabilidade Fiscal.
De fato, há outros assuntos de Direito Financeiro para os quais é exigida Lei Complementar nacional
que ainda não foram regulamentados ou que foram regulamentados por meio de outras Leis
Complementares que não essas duas.
Mas, atenção: para os fins de nossos objetivos, que é a preparação para a prova
da 1ª fase do Exame de Ordem, a Lei Federal nº 4.320/64 e a Lei Complementar
nº 101/2001 – Lei de Responsabilidade Fiscal são as principais Leis
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Complementares, cujos principais institutos serão objetos de questões nas
provas.
2.2.1.3 - Lei Ordinária
As leis ordinárias também têm um papel importantíssimo no Direito Financeiro, com especial destaque
para a seguinte matéria: de acordo com os incisos I, II e III do art. 165 da CF/88, as leis orçamentárias
dos Municípios, dos Estados-membros, do Distrito Federal e da União são criadas por meio de lei
comum (ou ordinária). Vejamos:
CF/88: Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais.
(...).
O dispositivo está se referindo, pois, às 3 leis que compõem o orçamento (e que serão muito bem
estudadas adiante), quais sejam:
Lei do Plano Plurianual (PPA);
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); e
Lei Orçamentária Anual (LOA).
Observe, pois, que a CF/88 menciona apenas "lei" para a criação dessas 3 leis orçamentárias, não
exigindo "Lei Complementar".
Portanto, atenção, muita atenção: (i) o Plano Plurianual (PPA), a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) são editadas
por meio de Lei Comum (ou Ordinária); (ii) são editadas pelos respectivos
Poderes Legislativos de cada Município, de cada Estado-membro, do Distrito
Federal e da União; e (iii) muito embora sejam editadas pelos Poderes
Legislativos de cada entidade federativa, essas leis são - todas - da iniciativa
privativa do Poder Executivo.
2.2.1.4 - Medida Provisória
A Medida Provisória é prevista no art. 62 da CF/88:
CF/88: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
I - relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
(...)
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d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais
e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001)
(...)
III - reservada a lei complementar;
(...).
Portanto, em regra, de acordo com o caput do art. 62 da CF/88, o Chefe do Poder Executivo poderá
editar Medida Provisória com força de lei desde que presentes os seguintes pressupostos: (i)
relevância "E" (ii) urgência (um "e" outro requisito, cumulativamente, e não um ou outro,
alternativamente).
A Medida Provisória também é uma fonte formal de Direito Financeiro, pois pode ser utilizada, em
regra, para disciplinar essa área do Direito.
Mas, é claro, HÁ EXCEÇÕES À REGRA. Vejamos:
1ª) De acordo com o inciso III do § 1º do art. 62 da CF/88 em questão, é vedada a edição
de Medida Provisória sobre matéria reservada à Lei Complementar. Logo, todas aquelas
matérias de Direito Financeiro, descritas nos artigos 161, 163 e 165, § 9º, da CF/88, para
as quais é exigida Lei Complementar, não podem ser disciplinadas por Medida Provisória.
2ª) A alínea "d" do inciso I desse mesmo § 1º prescreve que é vedada a edição de medidas
provisórias sobre matéria relativa planos plurianuais, diretrizes orçamentárias,
orçamento e créditos adicionais e suplementares, RESSALVADO, ISTO É, COM EXCEÇÃO do
quanto previsto no art. 167, § 3º, da CF/88, que permite o uso de Medida Provisória sobre
lei orçamentária para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes
de guerra, comoção interna ou calamidade pública, mediante a abertura de créditos
extraordinários, tal como definido no inciso III do art. 41 da Lei Federal nº 4.320/64 ("Art.
41. Os créditos adicionais classificam-se em: (...) III - extraordinários, os destinados a
despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade
pública").
Os créditos orçamentários adicionais, que significam, basicamente, em linhas bem gerais e resumida, os
valores que a Administração Pública pode adicionar ao seu orçamento original, são classificados em:
Lei Federal nº 4.320/64: Art. 41. Os créditos adicionais classificam-se em:
I - suplementares, os destinados a reforço de dotação orçamentária;
II - especiais, os destinados a despesas para as quais não haja dotação orçamentária
específica;
III - extraordinários, os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso
de guerra, comoção intestina ou calamidade pública.
Pois bem: somente o extraordinário (inciso III acima) pode ser criado por meio de Medida Provisória;
todos os demais, somente por meio de Lei Ordinária.
Portanto, máxima atenção à 2ª exceção acima:
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EM REGRA, Medida Provisória não pode ser utilizada para criar ou para
modificar a Lei do Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) e especialmente a Lei Orçamentária Anual (LOA).
MAS, EXCEPCIONALMENTE, poderá ser utilizada se e somente se for para a
criação de créditos extraordinários.
OS CRÉDITOS EXTRAORDINÁRIOS correspondem aos valores descritos na lei
orçamentária (especialmente na Lei Orçamentária Anual - LOA) que são
destinados à atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes
de guerra, comoção interna ou calamidade pública.
Oras, as condições necessárias para a abertura dos créditos extraordinários justificam a
possibilidade excepcional de uso da Medida Provisória: tais créditos servem para custear
despesas urgentes, indicadas no texto constitucional, como as decorrentes de guerra, comoção
interna ou calamidade pública.
O STF já validou, inclusive, a regra constitucional em questão no julgamento da ADI 4048 e da
ADI 4049, de que o Chefe do Poder Executivo não pode, por meio de Medida Provisória, alterar
ou complementar disposições orçamentárias, o que representa afronta ao Princípio da
Legalidade, salvo mediante a abertura de créditos extraordinários para atender despesas
imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade
pública.
Por exemplo: foram abertos (criados) diversos créditos extraordinários pelo
Poder Executivo da União, por meio de Medidas Provisórias, para atender
despesas imprevisíveis e urgentes decorrentes da pandemia pela Covid-19,
reconhecida como calamidade pública sanitária. O uso excepcional de Medidas
Provisórias se mostrou correto e constitucional nesse caso, diante da situação
de emergência sanitária em que o país se encontrava naquele momento.
Vamos conferir uma questão inédita sobre o assunto, que tem grande potencial de ser exigido no exame:
(QUESTÃO INÉDITA) Objetivando cumprir suas promessas de campanha, o Presidente da
República, recém eleito, editou Medida Provisória para alterar a Lei Orçamentária Anual (LOA)
da União, objetivando criar uma nova despesa que não é imprevisível ou urgente. Sobre a
hipótese, é correto afirmar que:
A) É absolutamente vedada a edição de Medida Provisória sobre qualquer matéria relativa à Lei
Orçamentária Anual (LOA).
B) Medida Provisória pode dispor sobre matéria orçamentária somente se for utilizada para a abertura
de créditos extraordinários destinados a atender despesas imprevisíveis e urgentes, como as
decorrentesde guerra, comoção interna ou calamidade pública.
C) Medida Provisória pode dispor sobre matéria orçamentária desde que seja utilizada para a abertura
de créditos suplementares destinados a atender despesas imprevisíveis e urgentes, como as
decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública.
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D) Como a iniciativa das leis orçamentárias é privativa do Poder Executivo, não há qualquer limitação
constitucional quanto ao uso de Medida Provisória em matéria orçamentária.
Comentários:
De acordo com o art. 62, § 1º, inciso I, alínea "d", da CF/88, é vedada a edição de Medidas Provisórias
sobre matéria relativa planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e
suplementares, EXCETO se for para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as
decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, mediante a abertura de créditos
extraordinários. Como o Presidente da República objetiva criar uma nova despesa que não é
imprevisível ou urgente, a alternativa "B" é a única correta. A alternativa "A" está errada porque não
é absolutamente vedada a edição de Medida Provisória sobre qualquer matéria relativa à Lei
Orçamentária Anual (LOA); pode ser usada para a abertura de créditos extraordinários para atender a
despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade
pública. A alternativa "C" também está errada, pois a permissão constitucional para o uso de Medida
Provisória recai sobre a abertura de créditos extraordinários, e não suplementares. E a alternativa "D"
também está errada, pois, apesar de a iniciativa das leis orçamentárias ser de fato privativa do Poder
Executivo, há sim limitação constitucional quanto ao uso de Medida Provisória em matéria
orçamentária, que só pode ser usada para a abertura de créditos extraordinários para atender a
despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade
pública. Logo, a única alternativa correta é a "B".
2.2.1.5 - Lei Delegada
De acordo com o art. 68, § 1º, inciso III, da CF/88:
CF/88: Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que
deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso
Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal,
a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
(...)
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
(...).
A Lei Delegada é uma espécie normativa com força de Lei Ordinária.
É editada pelo Presidente da República sob autorização do Congresso Nacional e dentro dos limites por
ele impostos.
Devido à possibilidade de uso de Medida Provisória pelo Poder Executivo, a Lei Delegada caiu
praticamente em desuso, razão pela qual não é uma fonte relevante do Direito Financeiro.
De qualquer modo, apesar de, em tese, poder ser utilizada no Direito Financeiro, também não pode ser
utilizada para dispor sobre matéria reservada à lei complementar e nem para dispor sobre planos
plurianuais (PPA), diretrizes orçamentárias (LDO e orçamentos (LOA), não havendo, aqui, aquela
exceção para a abertura de créditos extraordinários.
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2.2.1.6 - Outras fontes formais
Existem, ainda, outras fontes formais de Direito Financeiro.
À título de exemplo, os Decretos, expedidos pelo Poder Executivo para dar fiel execução às leis.
Também as Resoluções, que correspondem às deliberações que cada uma das Casas do Congresso
(Senado Federal e Câmara dos Deputados) ou o próprio Congresso Nacional forma, caracterizadas por
não precisar de sanção presidencial.
Pois bem: as Resoluções em questão são especialmente importantes no Direito Financeiro,
especialmente as editadas pelo Senado Federal quanto às matérias de sua competência privativa:
CF/88: Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
(...)
V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da
dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e
interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias
e demais entidades controladas pelo Poder Público federal;
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em
operações de crédito externo e interno;
IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
(...).
Temos ainda, como fontes formais do Direito Financeiro, as Resoluções dos Tribunais de Contas, as
decisões administrativas e as decisões judiciais (jurisprudência), mormente aquelas com efeitos
vinculantes.
2.2.2 - Competência legislativa
A competência legislativa corresponde à aptidão (poder) dada pela CF/88 para que os entes políticos
(União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) possam legislar, sempre de acordo com o
procedimento legislativo previsto no texto constitucional.
Pois bem: de acordo com o art. 24, inciso I, da CF/88, o Direito Financeiro está dentro da
competência legislativa concorrente da União, dos Estados-membros e do Distrito Federal:
CF/88: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
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(...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da
lei estadual, no que lhe for contrário.
Nos termos do § 1º do art. 24, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais,
que servem de "moldura", baliza para as demais entidades federativas e que devem por elas ser
respeitadas e cumpridas.
Em seguida, o § 2º prescreve que a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui
a competência suplementar dos Estados-membros (incluindo, também, o Distrito Federal), ou
seja, desde que respeitadas e cumpridas as normas gerais da União, os Estados-membros e o
Distrito Federal podem estabelecer normas específicas sobre Direito Financeiro.
E na ausência das normas gerais da União, os Estados e o Distrito Federal poderão exercer a
competência legislativa plena, nos termos do § 3º.
Contudo, uma vez exercida a competência pela União, a superveniência da lei federal prescrevendo
normas gerais suspenderá a eficácia da lei estadual ou distrital no que lhe for contrária, nos termos do
§ 4º.
Pois bem: e os Municípios? Podem ou não legislar sobre Direito Financeiro? Observe que o art.
24 acima não os comtempla...
Vejamos o que prescreve o art. 30, incisos I e II, da CF/88:
CF/88: Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
(...).
A possibilidade de os Municípios legislarem de forma autônoma e concorrentemente sobre Direito
Financeiro é um assunto controvertido, sobre o qual existem 2 correntes:
A primeira delas defende que os Municípios podem legislar concorrentemente e de forma
autônoma sobre Direito Financeiro, com basena simetria constitucional, política e jurídica
existentes entre eles e as demais entidades federativas.
A segunda corrente defende que os Município só podem suplementar a legislação federal ou
estadual que porventura exista e desde que esteja presente o interesse local do Município em
editar a legislação suplementadora. Assim, acaso inexista interesse local municipal, não podem
os Municípios legislar suplementarmente.
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Atenção: como o assunto é controvertido, havendo sólidos argumentos em ambas
correntes, e como tal controvérsia ainda não foi pacificada pelo Poder Judiciário,
dificilmente será objeto de questionamento pela banca numa questão de múltipla
escolha. Inclusive é difícil "arriscar" qual seria a corrente considerada "correta" acaso
esse assunto fosse exigido na 1ª fase do Exame de Ordem. Então, "apostando" que não
será exigido pela banca, devido à controvérsia presente, nos resta aguardar para
verificar, se for o caso, na remota hipótese de ser cobrado, qual será o entendimento
da banca.
2.2.3 - A legislação básica de Direito Financeiro
Já vimos que compete à União, aos Estados, e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre
direito financeiro (o art. 24, inciso I, da CF/88), havendo uma controvérsia acerca de tal possibilidade
pelos Municípios.
Já vimos, também, que o art. 165, § 9º, da CF/88 prescreve caber à Lei Complementar dispor sobre
normas gerais de Direito Financeiro, e que as duas principais Leis Complementares que cumprem essa
função são a Lei Federal nº 4.320/64, que foi recepcionada pela CF/88 com status de Lei Complementar,
e a Lei Complementar nº 101/2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
E "abaixo" da CF/88 e dessas Leis Complementares gerais? Quais as demais leis de direito financeiro
existentes?
Existem algumas, mas nos importam, para os fins propostos nestes estudos, as leis orçamentárias
editadas pelo Poder Legislativo de cada entidade federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal
e Municípios), que são as também já referidas:
Lei do Plano Plurianual (PPA);
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); e
Lei Orçamentárias Anual (LOA).
Assim, encontrando autorização na CF/88 e devendo observar as regras gerais estipuladas em Leis
Complementares (Lei Federal nº 4.320/64, que tem status de Lei Complementar, e Lei Complementar
nº 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal), cada um dos Municípios, cada Estado-membro, o Distrito
Federal e a União editam cada uma das leis orçamentárias acima destacadas (que serão estudadas mais
adiante, no momento oportuno).
Portanto, para uma visão sistemática do Direito Financeiro, deve-se ter em mente, em primeiro
lugar, (i) os dispositivos constitucionais que tratam da matéria, (ii) depois, em âmbito
infraconstitucional, dispondo sobre normas gerais, a Lei Federal 4.320/64 e a LC 101/2000 (LRF), e
(iii), por fim, "na ponta" ou "na base" do arcabouço normativo, as leis orçamentárias da União, dos
Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios (PPA, LDO e LOA).
Esta é a legislação básica de Direito Financeiro sobre a qual recairá nossos estudos.
Assim, em resumo:
SISTEMA NORMATIVO DO DIREITO FINANCEIRO
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Constituição Federal de 1988
Estipular regras e princípios de Direito Financeiro e exige a
edição de Lei Complementar para dispor sobre normas gerais
atinentes à matéria.
Lei Federal nº 4.320/1964
Recepcionada pela CF/88 com o status de Lei Complementar,
cumpre o quanto determinado pela CF/88 dispondo sobre
normas gerais de Direito Financeiro, especificamente sobre a
elaboração e controle dos orçamentos e balanços públicos.
Lei Complementar nº 101/2000
(Lei de Responsabilidade
Fiscal)
Ao lado da Lei Federal nº 4.320/1964, também cumpre o quanto
determinado pela CF/88, igualmente dispondo sobre normas
gerais de Direito Financeiro, com ênfase no controle e
transparências das finanças públicas, ou seja, institui normas
gerais relativas à gestão Fiscal.
Leis orçamentárias da União,
dos Estados-membros, do
Distrito Federal e dos
Municípios (PPA, a LDO e a LOA
e suas alterações)
São essas leis que criam efetivamente o orçamento público em
cada uma das entidades federativas, dispondo sobre as receitas
(de onde virá o dinheiro) e despesas (onde será gasto) públicas.
Assim, com base no poder recebido pela CF/88 e atendendo aos
seus limites e também às normas gerais de Direito Financeiro
constantes na Lei Federal nº 4.320/1964 e na Lei Complementar
nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), cada entidade
federativa edita suas três leis orçamentárias, que são o PPA (Lei
do Plano Plurianual), a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e
a LOA (Lei Orçamentária Anual).
Expostos esses conhecimentos gerais e introdutórios estudados até o momento, relativos à atividade
financeira do Estado e ao Direito Financeiro, já podemos ingressar, então, nos aspectos que envolvem o
orçamento, as receitas, as despenas e o crédito público, bem como o controle da atividade financeira do
Estado.
É justamente o que faremos a partir de agora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pessoal, chegamos ao final desta primeira aula!
Na próxima estudaremos o Orçamento Público.
Um forte abraço e bons estudos a todos!
Prof. Rodrigo Martins
@professorrodrigomartins
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