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Direito Financeiro alexsandro_abm PROFESSOR: ALEXSANDRO Direito Financeiro O Direito Financeiro, ramo autônomo do direito público que estuda o Controle da atividade financeira do Estado, a aplicação de recursos para a satisfação de necessidades públicas. O Estado tem a finalidade principal de realizar o bem comum e garantir que toda a população possa desenvolver-se de forma digna. Para atingir tal finalidade precisa obter recursos financeiros. Assim, a principal função do Estado é satisfazer as necessidades públicas, garantindo a realização dos direitos fundamentais e é para isso que se desenvolve toda a sua atividade financeira. O custo desses direitos se apresenta como um desafio para todo gestor público, independente do viés político adotado pelo Governo: social ou liberal. Direito Financeiro Portanto, quanto maior for o Estado e quantos mais direitos forem garantidos pelo seu ordenamento jurídico, maior será a necessidade de recursos nos cofres públicos. Traduzindo isso para termos técnicos do direito financeiro, quanto maiores direitos forem garantidos, maior será a despesa pública e, consequentemente, maior será a necessidade de ingresso definitivo de recursos no erário, maior terá que ser a receita pública. A ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO Compreender em que consiste a atividade financeira do Estado e sua correlação com o direito financeiro o ajudará a compreender os temas mais aprofundados e as escolhas do Constituinte e do Legislador ao positivarem determinadas regras. A atividade financeira é um conjunto de atividades-meio do Estado, consistente em obter, criar, gerir e despender o dinheiro público, que tem por objetivo a satisfação das necessidades públicas (finalidade do Estado), através da prestação de serviços públicos. Direito Financeiro Mas o que está contido na atividade financeira do Estado? Toda essa atividade é orientada para que o Estado tenha capacidade de fazer frente às demandas sociais existentes e seja um fato de realização dos direitos fundamentais de cada cidadão. Em suma, a atividade financeira do Estado refere-se ao conjunto de ações e processos realizados pelo Estado para gerenciar os recursos financeiros necessários para o funcionamento da administração pública, para a promoção do bem-estar da sociedade e a realização dos direitos fundamentais. Direito Financeiro Elemento Definição Obtenção da receita pública Etapa fundamental para financiar a realização das despesas públicas e da implementação/manutenção/expansão das políticas públicas. É aqui que o Estado busca arrecadar recursos financeiros por meio da tributação ou da exploração do seu próprio patrimônio ou ainda se valendo empréstimos (crédito público). Planejamento orçamentário Nesta peça deve vir estabelecido a previsão de arrecadação e fixação do gasto, com a alocação dos recursos financeiros para as diversas áreas e programas governamentais. Execução das despesas públicas Após o planejamento estampado no orçamento público o Estado realizará a execução das despesas públicas. Isso envolve a alocação dos recursos financeiros para os diversos setores existentes (ex: saúde, segurança, educação, infraestrutura). Gestão e controle dos recursos financeiros Trata-se de etapa que envolve todo o ciclo do gasto público, indo desde o acompanhamento das receitas e despesas, a fiscalização dos gastos públicos, a prestação de contas à sociedade e a adoção de medidas para prevenir e combater a corrupção e o mau uso dos recursos públicos. Direito Financeiro Fontes do Direito Financeiro fontes materiais e fontes formais. As fontes formais são aquelas que emanam do Estado, criadas por meio de processos formais estabelecidos pela ordem jurídica, está ligada a competência, ao rito, quórum de aprovação e correspondem ao tipo de norma pela qual a fonte material se manifesta como, por exemplo, Lei Complementar, Lei Ordinária etc. As fontes materiais do Direito são um conjunto de fatores políticos, históricos, sociais, culturais e econômicos que influenciaram a criação da norma jurídica. Direito Financeiro Direito Financeiro Direito Financeiro Lei Complementar A CF/88 estipula que determinadas matérias de Direito Financeiro devem ser disciplinadas por meio de Lei Complementar. Essas matérias estão indicadas nos artigos 161, 163 e 165, § 9º, da CF/88: CF/88: Art. 161. Cabe à lei complementar: I - definir valor adicionado para fins do disposto no art. 158, § 1º, I; II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159, especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o equilíbrio sócio- econômico entre Estados e entre Municípios; III - dispor sobre o acompanhamento, pelos beneficiários, do cálculo das quotas e da liberação das participações previstas nos arts. 157, 158 e 159. Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas referentes aos fundos de participação a que alude o inciso II. Direito Financeiro CF/88: Art. 163. Lei complementar disporá sobre: I - finanças públicas; (...) CF/88: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: (...) § 9º Cabe à lei complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual;II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos. Portanto, atenção: os assuntos especificados nos artigos constitucionais só podem ser disciplinados por meio de Lei Complementar de caráter nacional. Assim, não podem ser disciplinados por meio de qualquer outro tipo de diploma normativo, como, por exemplo, Lei Ordinária, Medida Provisória etc. Somente Lei Complementar pode discipliná-los. Direito Financeiro A lei complementar deve ser utilizada para veicular normas gerais, no sentido de completar a Constituição quando necessário. No Direito Financeiro Brasileiro tem destaque as seguintes leis complementares (são a base fundamental do seu estudo): ➢ Lei 4.320/1964 (Normas gerais do Direito Financeiro) recepcionada como lei complementar; ➢ Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Direito Financeiro Lei 4.320/1964 A Lei 4.320/1964 estatui as normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Como se vê é uma lei nacional aplicável a todos os entes federativos (União, Estados Distrito Federal e Municípios), servindo como regramento nacional para elaboração e controle de seus orçamentos. A Lei Complementar nº 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal Estipula uma série de regras voltadas à responsabilidade na gestão do dinheiro público, ou seja, impõe um severo rigor na administração do dinheiro público. Direito Financeiro O seu art. 1º deixa claro o objetivo dessa lei, que é combater o desequilíbrio fiscal com gastos sistematicamente superiores às receitas: LRF: Art. 1º Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição. § 1º A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. (...). Atenção: a LRF (LC 101/2000) não revogou e não conflita com a LeiFederal nº 4.320/64, sendo leis de alcance distintos: a LRF veicula normas de finanças públicas relacionadas à gestão fiscal; e a Lei Federal nº 4.320/64 veicula normas sobre a elaboração e controle dos orçamentos e balanços. Direito Financeiro A LRF alcança a Administração Direta e boa parte da Administração Indireta Encontra-se na LRF 5 (cinco) princípios ou pilares que devem orientar toda a gestão pública: Direito Financeiro Nos temas de Direito Financeiro que não haja previsão constitucional expressa acerca da necessidade da utilização da Lei Complementar a matéria será tratada por lei comum. Leis Ordinárias As leis ordinárias também têm um papel importantíssimo no Direito Financeiro, com especial destaque para a seguinte matéria: de acordo com os incisos I, II e III do art. 165 da CF/88, as leis orçamentárias dos Municípios, dos Estados-membros, do Distrito Federal e da União são criadas por meio de lei comum (ou ordinária). Vejamos: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais. A “tríade orçamentária” composta pelo plano plurianual, pelas diretrizes orçamentárias e pelo orçamento anual, será veiculada por leis ordinárias. Direito Financeiro ATENÇÃO! De acordo com o inciso III do § 1º do art. 62 da CF/88 em questão, é vedada a edição de Medida Provisória sobre matéria reservada à Lei Complementar. Logo, todas aquelas matérias de Direito Financeiro, descritas nos artigos 161, 163 e 165, § 9º, da CF/88, para as quais é exigida Lei Complementar, não podem ser disciplinadas por Medida Provisória. O PPA, a LDO e a LOA são feita por Lei Ordinária, sendo VEDADO sua edição por Lei Delegada ou Medida Provisória. No direito financeiro só cabe MP em caso de abertura de crédito extraordinário somente para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública (art. 167, §3º c/c III do art. 41 da Lei Federal nº 4.320/64) Direito Financeiro Os créditos orçamentários adicionais, que significam, basicamente, os valores que a Administração Pública pode adicionar ao seu orçamento original. Lei Federal nº 4.320/64: Art. 41. Os créditos adicionais classificam-se em: I - suplementares, os destinados a reforço de dotação orçamentária; II - especiais, os destinados a despesas para as quais não haja dotação orçamentária específica; III - extraordinários, os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Pois bem, somente o extraordinário (inciso III acima) pode ser criado por meio de Medida Provisória; todos os demais, somente por meio de Lei Ordinária. Direito Financeiro Direito Financeiro COMPETÊNCIA LEGISLATIVA A competência legislativa dos entes federativos é a capacidade que cada um desses entes políticos tem de editar leis (atos normativos primários), sendo tal aptidão entregue pela Constituição. A Competência Legislativa em matéria financeira está prevista pela Constituição Federal como sendo concorrente entre União, Estados e Distrito Federal. Competência da União para editar normas gerais de direito financeiro (art. 24, I, e §1º, da CF/1988). Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Direito Financeiro COMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL E os Municípios? Podem ou não legislar sobre Direito Financeiro? CF/88: Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (...). O Município não tem competência para legislar concorrentemente, mas poderá suplementar a legislação federal e estadual. A diferença é sutil. Em caso de inexistência de Lei federal ou estadual, o Município não poderá legislar sobre a questão, pois sua competência não é autônoma. Destarte, para direito financeiro, a competência dos Municípios aflora para atender a assuntos de interesse local, desde que haja espaço para suplementar a legislação federal ou a estadual. Direito Financeiro Direito Financeiro Assim, obedecida a CF/88 e as regras gerais estipuladas em Leis Complementares (Lei Federal nº 4.320/64, que tem status de Lei Complementar, e Lei Complementar nº 101/2000, (Lei de Responsabilidade Fiscal), cada um dos Municípios, dos Estado-membro, bem como o Distrito Federal e a União editam as suas leis orçamentárias. Portanto, para uma visão sistemática do Direito Financeiro, deve-se ter em mente, em primeiro lugar estudam-se, (i) os dispositivos constitucionais que tratam da matéria, (ii) depois, em âmbito infraconstitucional, dispondo sobre normas gerais, a Lei Federal 4.320/64 e a LC 101/2000 (LRF), e (iii), por fim, "na ponta" ou "na base" do arcabouço normativo, as leis orçamentárias da União, dos Estados- membros, do Distrito Federal e dos Municípios (PPA, LDO e LOA). Direito Financeiro Orçamento Público O orçamento é um instrumento fundamental de governo, seu principal documento de políticas públicas. Através dele os governantes selecionam prioridades, decidindo como gastar os recursos extraídos da sociedade e como distribuí-los entre diferentes grupos sociais, conforme seu peso ou sua força política. Estudar o orçamento público é importante para a compreensão completa do Direito Financeiro, na medida que toda ação estatal passa pelo orçamento. Como já dito, toda atuação estatal tem custo financeiro e o orçamento é o início (previsão da receita) e o fim (fixação da despesa) da atuação estatal. Conceito: é uma lei que programa a vida financeira do Estado, em atenção aos interesses públicos da sociedade. Logo, o orçamento público é a lei que autoriza os gastos que o Governo pode realizar durante um determinado período de tempo, descrevendo as ações e respectivas despesas que o Poder Público pode realizar (por exemplo, construção de escolas), com a previsão simultânea dos ingressos de recursos (receitas) necessários para realizá-las. Direito Financeiro ESPÉCIES DE ORÇAMENTO Direito Financeiro 1 - ORÇAMENTO CLÁSSICO OU TRADICIONAL - traz a ideia de desvinculação da peça orçamentária com a ideia de planejamento. Ou seja, o orçamento não se preocupava com as necessidades da coletividade e da Administração, mas focava apenas nos aspectos contábeis. 2 - ORÇAMENTO DESEMPENHO OU DE REALIZAÇÕES - há apenas a estimativa e autorização das despesas pelos produtos finais, pautando-se pelo desempenho funcional (também chamado de Orçamento Funcional). Esse orçamento tem como objetivo as realizações, os resultados, não havendo vinculação entre o planejamento o orçamento. 3 - ORÇAMENTO PROGRAMA - Nesta espécie, os recursos públicos são relacionados com as metas governamentais, ou seja, com o programa de governo. Esse tipo de orçamento visa a dar cumprimento às metas orçamentárias em cada exercício financeiro, de modo que se façam cumprir as etapas previstas no Plano Plurianual. Nesta modalidade, o orçamento é visto como um verdadeiro instrumento de planejamento da atividade estatal, com o estabelecimento de objetivos e metas a serem atingidos, visando ao fim a realização dos direitos fundamentais. Direito Financeiro 4 - ORÇAMENTO BASE ZERO OU POR ESTRATÉGIA Esta técnica de elaboração do orçamento foi desenvolvido nos Estados Unidos e exige quetodas as despesas, programas ou projetos sejam detalhadamente justificados pelo governo, ou seja, como se cada item fosse um orçamento individual e detalhado a cada novo ciclo orçamentário; com isso, de um lado, aumentava-se a eficiência do Estado e, de outro, reduziam- se suas despesas. Como se vê, na elaboração da peça orçamentária não se deve olhar para o passado, partindo efetivamente de uma base zerada. Busca-se a elaboração do orçamento analisando as finalidades de determinado gasto, garantindo maior eficácia na alocação dos recursos. Direito Financeiro PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS 1 - PRINCÍPIO DA ANUALIDADE ORÇAMENTÁRIA O princípio da anualidade orçamentária atende à dinâmica da Administração Pública onde se vê a necessidade de implementação do orçamento de forma anual, com o objetivo de que possa sofrer as alterações necessárias para a implementação das diretrizes previstas na Lei de Diretrizes Orçamentárias. É um princípio de definição simples: o orçamento é ânuo, com o intervalo de tempo em que se estimam as receitas e fixam as despesas é de um ano. E atenção: a anualidade orçamentária é coincidente com o ano civil. 2 - PRINCÍPIO DA UNIDADE O princípio da unidade orçamentária não significa que o orçamento deva ser elaborado em um documento único, mas, sim, que o sistema orçamentário seja elaborado em harmonia com todos os seus elementos sob o aspecto forma. O que o princípio da unidade prega é a unidade de orientação política e não uma unidade puramente documental. Direito Financeiro 3 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O princípio da legalidade não é exclusivo do direito financeiro, mas orientador de todos os ramos do direito público. Trata-se de princípio norteador de todo o sistema orçamentário, na medida em que as finanças públicas não podem ser manejadas sem a devida autorização legal, seja autorizando a realização do gasto público ou a arrecadação da receita. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE A primeira exceção em que se permite a realização de gasto sem a existência de lei em sentido estrito está no artigo 167, §3º da CF/88. Ou seja, é o caso dos créditos extraordinários, que podem ser abertos por medida provisória, desde que efetivamente presentes os requisitos exigidos pela Constituição Federal (atendimento de despesas imprevisíveis e urgentes em virtude de guerra, calamidade pública ou comoção interna). Outra exceção está prevista no artigo 167, §5º ao permitir a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação. Direito Financeiro 4 - PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE O princípio da Exclusividade prevê que na lei orçamentária não deve existir qualquer matéria estranha ao orçamento. A única exceção permitida é a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, conforme a Constituição Federal: 5 - PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE Este princípio tem forte ligação com o princípio da unidade, uma vez que para que o orçamento seja uno, as leis orçamentárias terão que prever de uma vez todas as receitas e despesas dos Poderes, dos órgãos, fundos e entidades da Administração Direta e Indireta pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções. Ou seja, segundo este princípio todas as receitas e todas as despesas do Estado devem fazer parte do orçamento, sem qualquer exclusão (art. 2º da Lei 4.320/1964). Direito Financeiro 6 - PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO Este princípio norteia toda a Administração Pública, embora não seja expresso na Constituição ou na legislação infraconstitucional. Não obstante a ausência de expressa previsão, após a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal tornou-se regra no Brasil a elaboração de um orçamento equilibrado. Por este princípio objetiva-se assegurar que as despesas públicas autorizadas na lei orçamentária não superem a previsão das receitas. Em suma, o que o princípio em questão estabelece é que não pode haver gasto maior do que as receitas e que não se comprometa o orçamento mais do que autorizado pelo Poder Legislativo. 7 - PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA ORÇAMENTÁRIA Este princípio é um corolário do princípio da publicidade previsto no caput do artigo 37 da CF/88 e norteador da atividade da Administração Pública. A ideia da transparência orçamentária é a de permitir a fiscalização das despesas e das receitas públicas, só sendo possível caso os cidadãos e demais entidades tenham ciência dos fatos orçamentários. Com a emenda constitucional nº 108/2020 deu-se um passo importante no sentido da uniformização das informações orçamentárias, facilitando o processo de fiscalização (Art.163-A) Direito Financeiro 8 - PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO (VEDAÇÃO) DO ESTORNO Este princípio é decorrência do princípio da legalidade e determina que o gestor público não pode alterar as prioridades ou previsões da lei orçamentária, devendo suas regras serem aplicadas em conformidade com o que foi elaborado pelo Poder Legislativo. Nos termos previstos na CF/88 não é possível a repriorização das demandas governamentais através de Direito Financeiro DA ORÇAMENTAÇÃO De acordo com o art. 165 da CF/88 existem três leis orçamentárias, todas de iniciativa do Executivo: a que institui o plano plurianual, a de diretrizes orçamentárias e a que aprova o orçamento anual. Para contextualizar de forma inicial (será aprofundado mais a frente) essas leis trazem o seguinte: Plano Plurianual Planejamento estratégico Lei de Diretrizes Orçamentárias Planejamento operacional Lei Orçamentária Anual Operacional O estudo e o conhecimento das 3 leis orçamentárias acima referidas é fundamental para o bom desenvolvimento no Direito Financeiro. Vamos analisar como ocorre a criação de cada uma delas, através do que se convencionou chamar de ciclo orçamentário. Direito Financeiro CICLO ORÇAMENTÁRIO Consiste numa série de fatos orçamentários sucessivos que integram todo o processo de elaboração dos orçamentos. O ciclo orçamentário tem início com a necessidade de recurso para a realização de determinado objetivo público, passa pela etapa do planejamento visando a liberação do recurso e finaliza com a aplicação do recurso e a sua fiscalização. O ciclo orçamentário compõe-se das seguintes etapas: Direito Financeiro 1.1 - Iniciativa Trata-se da primeira fase do ciclo orçamentário e tem previsão no artigo 84, XXIII da Constituição Federal de 1988, sendo as leis orçamentárias de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo. Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; Não cabe iniciativa parlamentar para iniciar o processo legislativo referente às leis orçamentárias. Entretanto, é possível que o orçamento seja impactado reflexamente por leis tributárias de iniciativa do Poder Legislativo, especialmente as concessivas de benefícios fiscais, não havendo qualquer vício de iniciativa nesta situação. Direito Financeiro Vejamos agora como se chega na proposta orçamentária que deverá ser enviada ao Poder Legislativo: Os Poderes Legislativo e Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública são entes dotados de autonomia financeira, ou seja, eles tem a atribuição de elaborar as suas próprias propostas orçamentárias e enviá-las ao Poder Executivo que as consolidará e encaminhará ao Poder Legislativo. A elaboração das propostas orçamentárias pelo Poder Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública deve ser feito dentro dos limites estipulados, conjuntamente com os demais Poderes, na Lei de Diretrizes Orçamentárias. No ato de consolidação das diversas propostas orçamentárias recebidas, o Poder Executivo pode modificar as propostas dos demais Poderes ou órgãos dotados de autonomia financeira? Quando os Poderes, Ministério Público eDefensoria Públicas apresentaram sua proposta orçamentária fora dos limites da LDO aí, neste caso, deve o Poder Executivo realizar os ajustes necessários na proposta orçamentária anual consolidando-a. Direito Financeiro O STF tem jurisprudência consolidada no sentido da inconstitucionalidade de redução unilateral pelo Poder Executivo dos orçamentos propostos pelos outros Poderes e por órgãos constitucionalmente autônomos quando tenham observado o previsto na LDO (ADI 5287). Caso não seja encaminhada a proposta orçamentária pelo Poder Judiciário, Ministério Público ou Defensoria Pública no prazo estabelecido na LDO, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados pela LDO. 1.2 - Apreciação parlamentar Após o envio do projeto de orçamento consolidada para o Poder Legislativo este será objeto de análise conjunta das duas casas que compõe o Congresso Nacional e a apreciação deverá ser feita na forma do Regimento Comum do Congresso Nacional. Durante a tramitação, é possível que o Poder Legislativo apresente emendas para alteração do projeto das leis orçamentárias em discussão. Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. Direito Financeiro 1.3 - Sanção ou Veto Encerrado o trâmite dentro do Poder Legislativo o projeto de lei deverá ser enviado ao Presidente da República para análise (sanção ou veto) no prazo de 15 dias úteis. Caso entenda por vetá-lo, no todo ou em parte, deverá comunicar os motivos do veto, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal. O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. 1.4 – Execução Após a sua aprovação e publicação as leis orçamentárias entram em vigor e começam a produzir seus regulares efeitos, autorizando o Poder Executivo a realizar o gasto público. 1.5 - Controle É importante sempre destacar que a realização de gasto público demanda periódico acompanhamento pelos órgão responsáveis pela sua execução e pelos órgãos de controle para que possa ser executado de acordo com os ditames constitucionais e legais. Direito Financeiro AS LEIS ORÇAMENTÁRIAS Há 03 leis orçamentárias que permitem o planejamento do setor público, conforme art. 165, CF/88. O Plano Plurianual (PPA) é a norma mais ampla e abrangente, englobando as despesas de capital e os programas de duração continuada. O PPA estabelece o planejamento estratégico de longo prazo para o Estado. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é a norma intermediária nas leis orçamentárias, trazendo orientações para elaboração da LOA, metas e prioridades da administração pública federal, diretrizes de política fiscal, entre outros temas, figurando como a ligação entre o planejamento e o operacional, estabelecendo o planejamento operacional. A Lei Orçamentária Anual (LOA) é a norma com maior concretude entre as três e tem como função principal estimar as receitas públicas e fixar as despesas públicas para o exercício financeiro, executando os projetos, metas e prioridades expostas na LDO e no PPA. É uma norma primordialmente operacional. Direito Financeiro 1 - PLANO PLURIANUAL Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; (...) § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Direito Financeiro Todos os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos na Constituição serão elaborados em consonância com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional (art. 165, §4º da CF/88). Assim podemos esquematizar os prazos da elaboração do PPA da seguinte forma: 1.3 – Vigência do Plano Plurianual A vigência do PPP é de 4 anos, não coincidentes com o mandado do Chefe do Poder Executivo. Direito Financeiro Nos termos do inciso I, §2º do artigo 35 do ADCT o Plano Plurianual tem vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial subseqüente. Ou seja, o PPA inicia a sua vigência no segundo ano do mandado do Chefe do Poder Executivo e encerra sua vigência no final do primeiro ano do mandato subsequente do Chefe do Poder Executivo. 2 – LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS - LDO A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) está prevista no artigo 165, II da Constituição Federal representa o elo de ligação entre o planejamento (PPA) e o operacional (LOA). Direito Financeiro Direito Financeiro Metas e Prioridades da Administração Pública Federal Neste primeiro ponto, percebe-se a LDO como um “recorte do PPA”, pegando as “diretrizes, objetivos e metas” do PPA para os seus 4 anos de vigência e os restringem para um exercício financeiro, destacando o que é mais relevante. Estabelecer as diretrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância com trajetória sustentável da dívida pública Esta é a inovação mais relevante trazida pela EC nº 109/2021 em relação a LDO e indica o dever dos gestores públicos no comprometimento com o equilíbrio fiscal. Orientação sobre a elaboração da Lei Orçamentária Anual A LDO representa uma ponte entre o PPA e a LOA, buscando garantir a afinidade lógica entre todas as leis orçamentárias. Cabe à Lei de Diretrizes Orçamentárias orientar a elaboração do orçamento dos poderes legislativo, executivo e judiciário, bem como do Ministério Público e da Defensoria Pública. Direito Financeiro Dispor sobre as alterações na legislação tributária Tendo em vista que a LDO é um dos principais instrumentos de equilíbrio fiscal, é imperativo que as alterações da legislação tributária estejam alinhadas com as previsões da Lei de Diretrizes Orçamentárias, sob pena de inconstitucionalidade da medida. Fixar a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento De acordo com Kiyoshi Harada os financiamentos oficiais têm papel estratégico no desenvolvimento do Estado. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, está fundamentalmente vocacionada para implementação de programas, objetivando a redução do déficit habitacional e saneamento básico que possam resultar em desenvolvimento de uma infraestrutura rural e urbana adequadas e satisfatórias. O Banco do Brasil S.A. dedica-se ao financiamento do setor agrícola com vista no aumento de produção agrícola, destinada ao mercado interno e externo, com a consequente intensificação das trocas internacionais. Como há recursos públicos envolvidos nesses incentivos, tal previsão e forma de alocação devem estar contidas na LDO, sempre no ano anterior à sua ocorrência. Direito Financeiro Autoriza a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público (art. 169, §1º da CF/88) A Constituição Federal de 1988, com objetivo de buscar o equilíbrio fiscal e incrementar a responsabilidade na gestão fiscal, previu como um dos requisitos para o aumento do gasto com pessoal a autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias. Esta previsão não se aplica para as empresas públicas e sociedades de economia mista. Ou seja, qualquer incremento de gasto com pessoal tem que ser autorizado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, com a finalidade de compatibilizar esta despesa com as metas de crescimento, endividamento e estar alinhada com os outros gastos públicos. DireitoFinanceiro Prazos da elaboração da LDO Em suma, a LDO deverá ser enviada, no máximo, até o dia 15 de abril de cada ano (o que representa oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro) e deverá ser devolvida pelo Congresso Nacional para sanção presidencial até, no máximo, 17 de julho de cada ano (o que representa o encerramento do primeiro período da sessão legislativa). Direito Financeiro Sessão legislativa se subdivide em 02 períodos (art. 57, caput da CF/88): 1º período: de 02 de fevereiro a 17 de julho; 2º período: de 01 de agosto a 22 de dezembro. E muita atenção: a sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de LDO, na forma expressa pelo artigo 57, §2º da CF/88. Direito Financeiro Vigência da Lei de Diretrizes Orçamentárias A Lei de Diretrizes Orçamentárias possui uma peculiaridade no que toca a sua vigência, uma vez que esta é variável, a depender da data de sua publicação. A LDO tem funções específicas e por isso deverá viger por período superior a um ano, para que consiga atender às finalidades de: ➢Orientar a elaboração da LOA ➢Dispor sobre as metas e prioridades da Administração para o exercício financeiro seguinte. Pode-se dizer que a LDO deve entrar em vigor dia 17 de julho de cada ano e permanecer em vigência até o dia 31 de dezembro do ano seguinte. Direito Financeiro LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL A Lei Orçamentária Anula (LOA) é a lei mais concreta dentre as leis orçamentárias e dispõe sobre a execução prática das previsões trazidas pelo Plano Plurianual (diretrizes, objetivos e metas) e pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (metas e prioridades). Trata-se da lei orçamentária mais relevante quando se analisa o aspecto prático das normas orçamentárias, uma vez que ela detalha a previsão de receita e a autorização para as despesas, pois é o resultado do desdobramento natural de uma despesa idealizada no PPA, priorizada na LDO e aqui concretizada. Devem constar na LOA todas as receitas e todas as despesas do Governo em homenagem ao Princípio do Orçamento Global) Direito Financeiro Nesse sentido, e de acordo com o §5º do artigo 165 da CF/88 a Lei Orçamentária Anual vem subdividida em 3 suborçamentos: Direito Financeiro Os prazos da elaboração da LOA PRAZOS Encaminhamento do projeto de LOA ao Poder Legislativo 31 de agosto (até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro). Devolução do projeto de LOA aprovado para sanção do Chefe do Poder Executivo 22 de dezembro (encerramento da sessão legislativa). Vigência da Lei Orçamentária Anual A Lei Orçamentária Anual, em obediência ao princípio da anualidade, tem vigência de 01 (um) ano. Ela entra em vigor no dia 01 de janeiro e vige até o dia 31 de dezembro. Direito Financeiro A Constituição Federal de 1988 regulou, ainda, o repasse de recursos orçamentários aos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública. Estes recursos devem ser entregues a cada um dos Poderes e/ou Instituições até o dia 20 de cada mês e em duodécimos (ou seja, a cada mês entrega-se 1/12 da receita auferida no exercício anterior), art. 168 da CF/88. Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 Slide 40 Slide 41 Slide 42 Slide 43 Slide 44 Slide 45 Slide 46 Slide 47 Slide 48 Slide 49 Slide 50 Slide 51 Slide 52