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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E COMÉRCIO INTERNACIONAL BACHARELADO EM COMÉRCIO INTERNACIONAL CARLOS ORTH O USO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE DUAS UNIDADES DE NEGÓCIOS EM UMA EMPRESA DO SETOR AUTOMOTIVO EM CAXIAS DO SUL CAXIAS DO SUL 2014 CARLOS ORTH O USO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE DUAS UNIDADES DE NEGÓCIOS EM UMA EMPRESA DO SETOR AUTOMOTIVO EM CAXIAS DO SUL Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Comércio Internacional como pré-requisito parcial para graduação na Universidade de Caxias do Sul. Orientador: Prof. Me. Fábio Verruck CAXIAS DO SUL 2014 AGRADECIMENTOS Dedico um especial agradecimento ao Prof. Fábio Verruck e Profa. Fernanda Lazzari, pelo apoio, pela compreensão e por compartilhar o seu conhecimento para que a conclusão deste trabalho se tornasse possível. Aos amigos e familiares, pelo incentivo e apoio que motivaram a realização deste objetivo. A todos os professores do curso de Comércio Internacional, pelas trocas de conhecimento e experiências que contribuíram no meu desenvolvimento pessoal e profissional. “A maneira como você coleta, gerencia e utiliza as informações determina se você vai vencer ou perder.” Bill Gates RESUMO O processo de internacionalização de empresas envolve diversos riscos e oportunidades. É necessária uma ampla gama de informações para reduzir as incertezas envolvidas neste fenômeno. Informações podem aparentemente não ter significado quando vistas ou analisadas isoladamente. Isso muda completamente se adotarmos uma sistemática coletiva de coleta e interpretação de informações, como a inteligência competitiva. A inteligência competitiva pode ser entendida como sendo uma ferramenta que permite à empresa reduzir riscos em suas decisões, algo muito importante, principalmente no mercado do setor automotivo o qual é altamente competitivo e volátil. Neste sentido, esta pesquisa objetivou analisar o uso da inteligência competitiva no processo de internacionalização de empresas do setor automotivo, sob a ótica dos seus gestores. Foi utilizada uma pesquisa qualitativa exploratória em duas empresas de Caxias do Sul que atuam no setor automotivo. Os resultados obtidos com a pesquisa sugerem que a utilização do processo de inteligência competitiva pode gerar o reconhecimento de oportunidades, que por sua vez impulsiona o processo de internacionalização nas empresas analisadas, além de possuir papel importante sobre a escolha do mercado geográfico que a empresa irá decidir entrar, assim como o modo de entrada. Palavras chave: Inteligência Competitiva. Processo de internacionalização. Setor Automotivo. Gestão do Conhecimento. ABSTRACT The internationalization process of companies involves various risks and opportunities. It is observed that a wide range of information is required to reduce the uncertainties involved in this phenomenon. Information can apparently be meaningless when viewed or analyzed separately. This completely changes if we adopt a collective systematic collection and interpretation of information, such as competitive intelligence. Competitive intelligence can be understood as a tool that allows the company to reduce risks in the decision making, which is of extreme importance, especially in the automotive market that is highly competitive and volatile. In this sense, this research analyzes the use of competitive intelligence in the internationalization of companies in the automotive industry, from the perspective of its managers. An exploratory qualitative research was used in two companies of Caxias do Sul which operate in the automotive sector. The results obtained from the research suggest that the use of competitive intelligence process can generate the recognition of opportunities, which drives the internationalization process in the analyzed companies, as well as having an important role on the choice of the geographic market that the company will decide to take as well as the best way of approaching this market choice. Keywords: Competitive Intelligence. Internationalization Process. Automotive Sector. Knowledge Management. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Modelo de inteligência competitiva. .......................................................... 17 Figura 2 - Classificação de acordo com o tipo de informações. ................................ 19 Figura 3 - Métodos de análises ................................................................................. 21 Figura 4 - Modelo do processo de internacionalização. ............................................ 26 Figura 5 - Empresas fabricantes de autoveículos no Brasil. ..................................... 31 Figura 6 - Empresas fabricantes de máquinas agrícolas no Brasil. ........................... 32 Figura 7 - Entrevistas realizadas ............................................................................... 36 Figura 8 - Produto da Unidade de Negócios Marcopolo ............................................ 39 Figura 9 - Posicionamento global da empresa Marcopolo. ....................................... 40 Figura 10 - Receita líquida da empresa Marcopolo. .................................................. 40 Figura 11 - Participação de mercado da Marcopolo. ................................................. 41 Figura 12 - Produto da Unidade de Negócios Volare. ............................................... 42 Figura 13 - Presença Global da Unidade de Negócios Volare. ................................. 43 Figura 14 - Receita líquida da Unidade de Negócios Volare. .................................... 43 Figura 15 - Participação de mercado da Unidade de Negócios Volare. .................... 44 Figura 16 - Histórico de internacionalização da Marcopolo ....................................... 45 Figura 17 - Matriz de atratividade. ............................................................................. 51 Figura 18 - Perfil da UN Marcopolo e Volare. ............................................................ 61 Figura 19 - Principais etapas do processo de internacionalização. ........................... 62 Figura 20 - Principais informações procuradas pela IC. ............................................ 63 Figura 21 - Métodos de análise utilizados pela IC. .................................................... 65 Figura 22 - Utilização de IC nas UN Marcopolo e Volare. ......................................... 66 Figura 23 - Processo ideal de inteligência competitiva. ............................................. 67 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Aplicação do método FAROUT em técnicas de análise. .......................... 24 Tabela 2 - Indústria automobilística brasileira em grandes números. ....................... 33 Tabela 3 - Exportações por continente de destino: 2010 (em unidades). ................. 34 Tabela 4 - Informaçõesavaliadas na matriz de atratividade. .................................... 52 Tabela 5 - Estrutura do processo de IC na Marcopolo e Volare. ............................... 62 Tabela 6 - Fonte de dados utilizada pela IC. ............................................................. 64 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABRAIC Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva ACH Analysis of Competing Hypotheses BI Business Intelligence CKD Completely Knocked Down ERP Enterprise Resource Planning FAROUT Future-oriented, Accurat, Resource-efficient, Objective, Useful, Timely GIA Global Intelligence Alliance IC Inteligência Competitiva IDH Índice de Desenvolvimento Humano IPI Imposto sobre Produtos Industrializados KIT Key Intelligence Topics NCM Nomenclatura Comum do Mercosul PIB Produto Interno Bruto RBV Resource Based View SCIP Strategic and Competitive Intelligence Professionals SERVO Strategy, Environment, Resources, Values, Organization SKD Semi Knocked Down SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats UN Unidade de Negócios SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 12 1.1 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E PROBLEMA DE PESQUISA .................... 12 1.2 OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 13 1.2.1 Objetivos específicos ............................................................................... 14 1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ................................................................ 14 2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................... 16 2.1 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA: CONCEITOS CENTRAIS ....................... 16 2.2 ATIVIDADES ESSENCIAIS DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA ............... 16 2.2.1 Planejamento e Foco ................................................................................ 17 2.2.2 Coleta ........................................................................................................ 18 2.2.3 Análise ....................................................................................................... 19 2.2.4 Comunicação e tomada de decisão ........................................................ 25 2.3 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E A INTERNACIONALIZAÇÃO ............... 25 3 O SETOR AUTOMOTIVO NO BRASIL...................................................... 30 3.1 O SETOR AUTOMOTIVO NO BRASIL: CONTEXTO ATUAL .................... 30 3.1.1 Exportações do setor automotivo brasileiro .......................................... 34 4 MÉTODO DE PESQUISA .......................................................................... 35 4.1 PROCEDIMENTO DE COLETA ................................................................. 35 4.2 SELEÇÃO DOS RESPONDENTES ........................................................... 36 4.3 PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DOS DADOS ............................... 37 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................. 39 5.1 PERFIL DAS UNIDADES DE NEGÓCIOS ................................................. 39 5.1.1 Perfil da UN Marcopolo ............................................................................ 39 5.1.2 Perfil da UN Volare ................................................................................... 41 5.2 HISTÓRICO DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO ................... 44 5.2.1 Histórico de internacionalização da UN Marcopolo .............................. 44 5.2.2 Histórico de internacionalização da UN Volare ..................................... 47 5.3 SITUAÇÃO ATUAL DO PROCESSO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 47 5.3.1 Estrutura do processo de IC na UN Marcopolo e na UN Volare ........... 47 5.3.2 Etapa de coleta e análise da IC na UN Marcopolo ................................. 48 5.3.3 Etapa de coleta e análise da IC na UN Volare ........................................ 50 5.3.4 Uso da IC na UN Marcopolo ..................................................................... 54 5.3.5 Uso da IC na UN Volare ............................................................................ 56 5.3.6 Resultados da IC na UN Marcopolo ........................................................ 57 5.3.7 Resultados da IC na UN Volare ............................................................... 59 5.4 ANÁLISE COMBINADA DOS CASOS ....................................................... 60 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 68 6.1 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA ....... 69 7 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 71 ANEXO A – ROTEIRO DE QUESTÕES ................................................................... 76 12 1 INTRODUÇÃO A disposição de informações sobre o mercado e a concorrência é um item de grande relevância para o processo de internacionalização das empresas. Os riscos e as incertezas envolvidos na escolha de ingresso em mercados internacionais são muito elevados. Dessa forma, monitorar e prever aspectos relativos ao ambiente de negócios tornou-se um item de extrema importância para tomadores de decisão. Frente a isso, a inteligência competitiva (IC), que significa ver por completo e à frente do concorrente, vem se tornando componente crítico no arsenal de negócios e deveria estar presente no trabalho de todos (FULD, 2007). Esta é a temática que norteia o presente projeto de pesquisa, que está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo apresenta delimitação do estudo e problema de pesquisa, os objetivos e as justificativas do estudo. O segundo capítulo aborda o referencial teórico que dá as bases conceituais para o desenvolvimento do trabalho. O terceiro capítulo expõe informações sobre o setor automotivo e, por fim, o quarto capítulo traz o método que direciona a coleta e a análise dos dados. 1.1 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E PROBLEMA DE PESQUISA Nos últimos anos, a indústria automobilística vem se destacando no Brasil. Entre o período de 2002 a 2011, o mercado automotivo cresceu 145%, uma média anual superior a 10%. As perspectivas para os próximos anos são animadoras, projetando que o país poderá consumir seis milhões de veículo/ano, desde que se mantenham as expectativas de estabilidade e expansão da economia brasileira. O Brasil é considerado o sétimo maior produtor mundial de autoveículos e conta com 28 empresas montadoras, 500 empresas de autopeças e 4.809 concessionárias. O setor emprega 1,5 milhões de pessoas e faturou cerca de US$ 106,08 bilhões no ano de 2012. Além disso, a exportação de autoveículos montados somou 445.063 unidades no ano de 2012, sendo a América do Sul o principal continente de destino das exportações, correspondendo a 63,2% do volume total (ANFAVEA, 2012). 13 O mercado do setor automotivo é altamente competitivo, as empresas buscam constantemente apropriar-se de ferramentas de gestão para acompanhar a agilidade do mercado. A vantagem competitiva pode ser obtida, entre outras tantas ferramentas disponíveis, por meio do uso inteligente da informação (PANIZZON; CONTO; MALAFAIA, 2009). Neste contexto, as empresas automotivas podem fazer uso da inteligência competitiva para diminuir as suas dificuldades e melhorar suaposição no mercado. A inteligência competitiva pode ser definida como um conjunto de ações coordenadas de investigação, tratamento e distribuição das informações úteis para a empresa, ou seja, da informação que é requisitada por diferentes níveis da empresa para facilitar a tomada de decisão (MARTRE, 1994). O processo de globalização dos mercados forçou os agentes econômicos a se adaptar a um novo cenário - uma situação de equilíbrio entre competição e cooperação (MARTRE, 1994). No âmbito da globalização, pode-se destacar o aumento do comércio mundial, o surgimento de blocos econômicos, a abertura de mercados e, por consequência, uma concorrência intensificada. Frente às crescentes mudanças, as empresas, por meio da internacionalização, podem expandir os seus mercados de atuação, fortalecer a sua posição competitiva, diversificar o seu portfólio geográfico, melhorar sua eficiência através do acesso de recursos a custos inferiores e dos ganhos de arbitragem. Além disso, a internacionalização promove o desenvolvimento e a aquisição de novas competências empresariais, influenciando, de tal forma, com o intuito de alavancar novos produtos e segmentos (CYRINO; PENIDO, 2007). Para este estudo, define-se como problema de pesquisa: Qual o papel do uso da inteligência competitiva no processo de internacionalização de empresas do setor automotivo, sob a ótica dos seus gestores? 1.2 OBJETIVO GERAL Analisar o uso da inteligência competitiva no processo de internacionalização das empresas do setor automotivo, sob a ótica dos seus gestores. 14 1.2.1 Objetivos específicos a) Identificar as demandas de informação do setor automotivo no processo de internacionalização; b) Verificar as fontes de coleta das informações utilizadas pelas empresas do setor automotivo; c) Identificar a relação entre os mercados de atuação escolhidos e o uso de inteligência competitiva; d) Analisar, sob a ótica dos gestores, os benefícios do uso de inteligência competitiva na atuação internacional. 1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA A maioria das empresas, sejam grandes ou pequenas, sempre se esforçaram de alguma maneira para acompanhar o que faziam seus concorrentes. Muitas delas agiam mesmo sem saber que a atividade é denominada inteligência competitiva (PRESCOTT; MILLER, 2002). Na década de 1990, com a abertura do mercado brasileiro para as empresas estrangeiras, as organizações nacionais se viram despreparadas para enfrentar a concorrência internacional, visto que estas subsidiárias importavam das filiais seus modelos de sistemas de inteligência competitiva. Neste período, a imagem da desta atividade, por possuir normalmente ex-funcionários do serviço de inteligência ou militar, estava relacionada à espionagem industrial e não de uma pesquisa de informações realizada de maneira ética e legal (GOMES; BRAGA, 2004). Este cenário veio se modificando e, atualmente, o monitoramento de informações sobre os concorrentes e das ocorrências do mercado está cada vez mais presente nas empresas. Nos últimos anos, a inteligência competitiva vem ganhando força no Brasil. Em 2000, foi criada a ABRAIC - Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva. Esta instituição possui como um dos principais objetivos estimular a realização de debates, estudos e pesquisas nos campos teórico, conceitual e prático sobre as questões relativas à Inteligência Competitiva no país. No cenário internacional, a maior associação ligada ao tema é a SCIP - Strategic and Competitive Intelligence Professionals, criada em 1986 nos Estados Unidos da América, reúne profissionais envolvidos com criação e gestão de conhecimento de 15 negócios de diversos países. Anualmente, a SCIP promove um encontro latino- americano no Brasil, visando a troca de conhecimentos entre os profissionais da área no país. Frente a isso, este trabalho poderá auxiliar as empresas que já executam esta atividade no setor automotivo, a aprimorar os seus processos atuais, analisando suas atuais fontes e ferramentas de informações utilizadas para apoio do processo decisório. Além disso, as empresas que estão em processo de internacionalização poderão observar os benefícios do uso de inteligência competitiva, avaliando a necessidade da aplicação desta disciplina para melhorar sua posição no mercado. Os gestores das empresas do setor automotivo, ao serem entrevistados, promovem uma reflexão sobre o que atualmente executam, podendo desenvolver insights de melhoria para o seu negócio. Diante deste contexto, este trabalho busca colaborar com a evolução do tema no país, além disso, poderá servir como fonte de consulta no desenvolvimento de novos estudos para os acadêmicos de comércio internacional permitindo-os possuir uma visão do uso da inteligência competitiva como um todo. 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO O objetivo deste referencial teórico é apresentar teorias ligadas à inteligência competitiva e ao processo de internacionalização das empresas. 2.1 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA: CONCEITOS CENTRAIS Atualmente, as empresas estão inseridas em um ambiente de constantes mudanças. Sendo assim, acompanhar este ritmo é fundamental para a sua sobrevivência no mercado. As organizações começaram a notar que a vantagem competitiva pode ser obtida através da coleta de informações que possam indicar oportunidades e ameaças (FACHINELLI et al., 2007). Neste sentido, a inteligência competitiva, que é o processo legal e ético de coleta e análise de informações sobre os concorrentes e os setores em que atuam, pode contribuir para ajudar as organizações a tomar decisões melhores e alcançar seus objetivos (SCIP, 2013). Segundo Bose (2008) as decisões estratégicas de uma empresa são, geralmente, tomadas a partir de determinadas premissas, sendo que a inteligência competitiva pode auxiliar a empresa a testar e validar estes pressupostos, além de preencher as lacunas no qual a empresa esqueceu-se de considerar e ajudar a formular novas estratégias através de uma compreensão do setor de atuação e de seus concorrentes. No entanto, o maior benefício do uso da inteligência competitiva apontado pelo autor é a sua capacidade de construir informações que auxiliam a empresa a identificar os seus concorrentes, pontos fortes e fracos, estratégias, objetivos, seu posicionamento no mercado e reações prováveis, podendo realizar uma comparação com a sua própria organização. 2.2 ATIVIDADES ESSENCIAIS DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Dishman e Calof (2008), a partir dos seus estudos, propõem um modelo de estrutura e processo de inteligência competitiva, que consiste em: planejamento e foco, coleta, análise, comunicação e decisão. Além disso, os autores indicam fatores que possuem impacto direto nas diferentes fases da inteligência competitiva: 17 existência de uma estrutura formal, envolvimento dos trabalhadores, alerta organizacional e cultura. Este modelo está exposto na figura 1. Fonte: Traduzido de Dishman e Calof (2008). 2.2.1 Planejamento e Foco Para Herring (2002), a definição das necessidades reais de inteligência é um item de fundamental importância para o sucesso de qualquer operação de inteligência competitiva nas organizações. Para a identificação das necessidades específicas de inteligência no ambiente empresarial, pode-se utilizar a metodologia do processo KIT – Key Intelligence Topics. Depois de informar a alta gerência da empresa sobre o processode inteligência e sua importância, o primeiro passo é a realização de entrevistas KIT com os tomadores de decisão e gerentes. A partir disso, é possível obter um foco e estabelecer prioridades necessárias à condução de operações de inteligência eficazes e com resultados adequados. Sendo assim, é possível determinar a qualificação dos profissionais de inteligência competitiva e os recursos necessários para a obtenção dos resultados pretendidos. Herring (2002) identificou que as necessidades de inteligência de uma empresa, de maneira geral, podem estar enquadradas a uma de três categorias funcionais: a) Decisões e ações estratégicas: que envolve o desenvolvimento de planos estratégicos e estratégias; Processo e estrutura de inteligência competitiva - Infraestrutura formal - Envolvimento dos funcionários Alerta organizacional e cultura Planejament o e Foco Coleta Análise Comunicação Decisão - Existência de IC - Foco em IC - Variedade de fontes - Coleta de informações - Primárias e secundárias - Análises competitivas das informações - Técnicas analíticas avançadas Figura 1 - Modelo de inteligência competitiva. 18 b) Tópicos de alerta antecipado: que inclui iniciativas dos concorrentes, mudanças tecnológicas e ações governamentais; c) Descrição dos principais atores: localizados no mercado, incluí concorrentes, clientes, fornecedores, órgãos regulamentadores e potencias parceiros. 2.2.2 Coleta As atividades de coleta incluem a identificação de todas as fontes de informações possíveis e relevantes e, em seguida, a sua pesquisa e coleta realizada de forma ética e legal, armazenando a informação de maneira organizada (BOSE, 2008). Esta etapa parte das necessidades de informações identificadas na fase de planejamento. Sendo assim, deve-se estabelecer a estratégia de busca, as fontes que serão utilizadas e a definição do responsável para realizar a coleta, de acordo com os recursos humanos e financeiros da empresa. Além disso, as informações coletadas devem ser classificadas conforme sua confiabilidade. Devido a isso, as fontes de informações são dividas em: formais (documental) e informais (redes ativas), além de primárias e secundárias (STAREC; GOMES, 2005). 2.2.2.1 Tipos de informações As informações são a matéria prima para o trabalho de inteligência competitiva. Os dados podem ser classificados em: informação branca, informação cinza e informação preta (ROUACH; SANTI, 2001; MACHADO; ABREU; AGRASSO NETO, 2013). A informação branca pode ser encontrada publicamente na mídia – (imprensa, jornais, revistas; feiras; bancos de dados; internet, órgãos públicos; consultoria; etc.). A informação cinza abrange o domínio privado; são encontradas em: clientes, fornecedores, terceirizados, parceiros, concorrentes, visita a empresas, produtos comprados, etc. A informação preta inclui dados obtidos de maneira ilegal através da interceptação técnica no campo da informática, escutas telefônicas e também através de fontes humanas posicionando-se na ilegalidade. 19 A ética possui grande relevância na atividade de inteligência competitiva, os profissionais devem trabalhar com informações públicas e não utilizando informações confidenciais obtidas de maneira ilegal – (espionagem). O código de ética da SCIP (2013) descreve que os analistas devem cumprir com todas as leis aplicáveis, domésticas e internacionais; além de fornecer recomendações e conclusões honestas e realistas, evitando conflitos de interesse. Conforme ilustrado na figura 2, 80% das informações disponíveis são brancas, 15% correspondem a informações cinza e por fim 5% são informações pretas. Fonte: Baseado em Rouach e Santi (2001). Informações inalteradas vindas diretamente das fontes, como por exemplo: clientes, consultores, fornecedores, experts, entre outros, são caracterizadas como fontes primárias. Quando o conteúdo coletado sofre algum tipo de análise e/ou interpretação prévia é identificado como uma fonte secundária (STAREC; GOMES, 2005; OLIVEIRA; GONÇALVES; PAULA, 2011). 2.2.3 Análise Esta atividade é considerada a principal e mais difícil etapa do processo de inteligência competitiva (ADIDAM; BANERJEE; SHUKLA, 2012). Ela abrange uma análise sistemática de dados, informações e conhecimentos coletados para a transformação em inteligência acionável visando auxiliar a tomada de decisão, melhorar o planejamento e/ou no desenvolvimento de estratégias que ofereçam uma vantagem competitiva para a empresa no mercado (BOSE, 2008). Informação branca Informação cinza Informação preta 80% 15% 5% Ilegal/Anti-ético Segredos Espionagem Industrial Legal/Ético Legal/Ético? Figura 2 - Classificação de acordo com o tipo de informações. 20 Segundo Thold (2006) os analistas de inteligência competitiva buscam determinar premissas que eles acreditam que sejam verdadeiras e concentram-se em examinar informações para dar suporte a sua conclusão, diante desde contexto, o uso da ferramenta de Análise de Hipóteses Concorrentes (ACH) pode auxiliar o analista a encontrar diferentes hipóteses e respostas buscando a melhor solução, desconsiderando o modelo de analisar apenas a alternativa mais provável. A análise é fundamental para auxiliar os tomadores de decisão a compreender como os fenômenos que ocorrem no ambiente externo se relacionam com a missão, os objetivos e as estratégias da empresa. Fleisher e Benoussan (2000) descrevem uma metodologia para auxiliar os analistas a avaliar os melhores métodos ou técnicas para o gerenciamento de seus desafios analíticos, este modelo é denominado FAROUT: a) F-Future-oriented (orientação para o futuro): a inteligência deve ser orientada para um futuro incerto com previsões descritivas e explicativas, disposta a assumir riscos; b) A-Accurat (precisão): o analista deve desenvolver análises de alta precisão e credibilidade, em alguns casos, a precisão pode ser menos importante que a compreensão; c) R-Resource-efficient (utilização de recursos eficientes): para fazer a análise, os dados precisam vir de fontes a um custo menor do que os resultados da inteligência, além disso, não pode demandar muito tempo, caso contrário se torna obsoleto; d) O-Objective (objetividade): os dados devem ser vistos e analisados utilizando uma abordagem sistemática e racional, evitando conclusões antecipadas dos analistas; e) U-Useful (utilidade): o resultado da análise deve ser adequado para o tomador de decisões, suas responsabilidades e contexto organizacional; deve atender ou superar sua necessidade de informação, além de ser comunicado utilizando um idioma que pode ser facilmente explicado e entendido pelo receptor; f) T-Timely (tempo para execução): o tempo dedicado do analista para realizar a análise pode ajudar ou dificultar quem faz uso da inteligência. Alguns métodos de analise podem fornecer a inteligência necessária, no 21 entanto demoraram muito tempo para o seu desenvolvimento; já outros métodos de análise podem exigir pouco tempo para sua elaboração, porém não oferece objetividade, precisão, eficiência de recursos e aplicabilidade suficiente para os tomadores de decisão. Uma boa análise permite aos tomadores de decisão executar a ação recomendada para a empresa em um tempo hábil. Neste sentido, o sistema FAROUT (FLEISHER; BENOUSSAN, 2000) funciona para orientar o analista sobre a escolha do melhor método de análise para resolver sua situação, atribuindo notas para cada um doscritérios da ferramenta: orientação para o futuro, precisão, necessidade de recursos, utilidade e tempo para execução. A figura 3 apresenta alguns modelos de análise no qual pode ser aplicada a ferramenta de Fleisher e Benoussan (2000). Figura 3 - Métodos de análises. (continua) MÉTODO OBJETIVO ANÁLISES ESTRATÉGICAS Análise das nove forças Mapear as forças que afetam a organização. Posicionamento competitivo Avalia se os planos estratégicos estão de acordo com o posicionamento competitivo da organização. Análise SERVO Analisa a relação entre estratégia, ambiente, recursos, valores e organização para verificar a consistência da organização. Análise da Cadeia de Valor Identificar as atividades que geram valor para a organização. Matriz BCG Analisar a competitividade do portfólio de produtos (Crescimento e Market- share) Matriz GE Combina forças da empresa com análise interna da indústria para descrever a situação competitiva das Unidades de negócio, e auxiliar na alocação de recursos. Análise de Grupos Estratégicos Analisa o posicionamento dos concorrentes na forma de clusters. Análise SWOT Diagnosticar os pontos fortes, fracos, oportunidades, ameaças da organização para subsidiar estratégias. ANÁLISES COMPETITIVAS E DO CONSUMIDOR Perfil de gestão Análise do perfil de gestão dos tomadores de decisão rivais. 22 (conclusão) MÉTODO OBJETIVO ANÁLISES CORPORATIVAS Sombreamento Monitora competidores ou mercados específicos, buscando compreender a sua forma de ação. Análise Ganha/Perde Analisa percepções dos clientes e as compara com os competidores, dizendo por que um cliente consome ou não um produto. Benchmarking Analisa aspectos chave em relação a outras organizações. McKinsey 7s Testa a relação entre a estrutura existente para atender as estratégias correntes e propostas. ANÁLISES AMBIENTAIS Análises PESTEL Analisa fatores políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, legais que interferem na organização. ANÁLISES EVOLUTIVAS Análise de patentes Analisa o potencial tecnológico dos concorrentes. Análise de ciclo de vida do produto Analisa a evolução das vendas de um produto em função do tempo. Análise Curva S Analisa as mudanças tecnológicas e compara com as capacidades da organização. ANÁLISES FINANCEIRAS, PROBABILISTICAS E ESTATÍSTICAS Análise de Interpretação Estatística Envolve tanto as tradicionais técnicas de estatística descritiva quando as modernas técnicas de análise multivariada. Análise de Programação de Fundos Estratégicos Esta técnica tem um caráter mais interno, e auxilia a estruturar a interface entre as estratégias da empresa e a sua programação de recursos. Fonte: FLEISHER e BENOUSSAN (2007, 2003) apud PANIZZON (2010). O método de análise das nove forças combina uma análise PEST (macro ambiental) e as cinco forças do Porter (indústria) para fornecer uma abordagem ampla para a análise competitiva da empresa (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). O posicionamento competitivo é uma análise em relação ao próprio posicionamento da empresa a fim de preservar uma vantagem competitiva, estabelecer uma tentativa de melhoria ou uma futura retirada de mercado. Avalia o market share, a percepção do cliente, estratégias de marketing atuais, preços e custos, e as posições dos concorrentes (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). A análise SERVO (estratégia, ambiente, recursos, valores, organização) é uma ferramenta utilizada para construir e testar iniciativas estratégicas de uma empresa. É possível analisar as interações entre os cinco elementos críticos, facilitando o ajuste ou implantação de uma estratégia de acordo com o mercado e mudança organizacional (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). 23 A análise de Cadeia de Valor é um método utilizado para identificar potenciais fontes de vantagens competitivas, abrangendo desde o fornecimento de matéria-prima até o consumidor final. Pode garantir vantagens em custo para a empresa e/ou para criar vantagens baseadas em produtos e/ou serviços diferenciados (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). A análise de Grupos Estratégicos estuda grupos de empresas rivais que possuem um enfoque competitivo ou posição estratégica similar. O método é utilizado para determinar o posicionamento competitivo adotado pelos rivais, avaliar a intensidade de competitividade dentro e entre os grupos da indústria e para estimar a potencial rentabilidade e estratégias adotadas pelas empresas analisadas (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). O método de sombreamento é utilizado para monitorar os concorrentes e/ou mercados com um alto nível de detalhamento, procurando aprender como um concorrente específico poderá pensar, raciocinar e agir. O conhecimento gerado nesta análise permite que a empresa realizar interferências nos movimentos da concorrência (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). A análise ganha/perde é utilizada para coletar informações sobre o mercado, clientes e concorrentes da empresa. Identifica as percepções dos clientes em situações específicas de vendas, motivo de ganha ou perda do negócio, sendo possível realizar comparações com a concorrência. Este modelo de análise permite que a equipe de vendas seja mais eficaz no mercado e também pode auxiliar o desenvolvimento de novos produtos (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). O Benchmarking é um método pelo qual uma organização identifica e analisa aspectos chaves em outras empresas do setor e, em seguida, executa o aprendizado na sua operação. Pode ser utilizada para a empresa obter vantagens sobre a sua concorrência, como a redução de custos, aumento de produtividade e melhoramento em seu produto e/ou serviços para atender as necessidades dos clientes (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). O modelo de análise McKinsey 7s é uma ferramenta de gestão concebida para facilitar o processo de implantação de uma estratégia no contexto de uma mudança organizacional, é formado por sete elementos: Estrutura, Sistemas, Estratégia, Habilidades, Pessoas, Estilo e Valores Compartilhados. É utilizado para testar a força do grau de ajuste estratégico entre as estratégias atuais e propostas de uma empresa (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). 24 A análise de interpretação estatística envolve a manipulação de dados usando uma variedade de fórmulas matemáticas e descrição de situações, usando conceitos matemáticos. Permite a simples descrição de situações complexas e pode dar ideias de previsão (FLEISHER; BENOUSSAN, 2007). A aplicação do método FAROUT é demonstrada na tabela 1, o método ajuda o analista a considerar o ajuste entre as técnicas e suas atribuições e serve como guia para os esforços de coleta de dados. Tabela 1 - Aplicação do método FAROUT em técnicas de análise. Orientação para o futuro Precisão Utilização de recursos eficientes Objetividade Utilidade Tempo para execução Análise da indústria: nove forças 4 3 4 2 3 3 Posicionamento competitivo 4 4 4 4 5 3 Análise SERVO 4 2 3 1 4 2 Análise da cadeia de valor 4 3 3 4 5 3 Análise de grupos estratégicos 5 2 3 3 5 3 Análise SWOT 2 3 4 3 4 4 Benchmarking 3 3 2 3 5 2 McKinsey 7S 4 2 3 1 3 2 Sombreamento 4 3 2 3 5 4 Análise ganha/perde 4 3 4 4 5 2 Análise de interpretação estatística 1 4 3 3 3 2 Orientação para o futuro. 1: Baixo nível de orientação para o futuro, pode ser muito ancorada no passado ou presente. 5: Forte foco no futuro. Precisão. 1: Baixonível de precisão, levando-se em consideração as prováveis fontes de dados subjacente à sua aplicação. 5: Alto nível de precisão. Utilização de recursos eficientes. 1: Requer um grande volume de dados, recursos humanos e financeiros; baixa eficácia. 5: Altamente eficiente no uso de recursos. Objetividade. 1: Baixo nível de objetividade. 5: Alto nível de objetividade. Utilidade. 1: Baixo nível de utilidade. 5: Alto nível de utilidade. Tempo para execução. 1: Requer muito tempo para a análise. 5: Requer pouco tempo para a análise. Fonte: Fleisher e Benoussan (2007). 25 2.2.4 Comunicação e tomada de decisão Esta fase envolve a entrega da análise da inteligência competitiva para os tomadores de decisão, é considerado o produto da inteligência. O analista junto com o usuário da inteligência define o mecanismo de distribuição das análises, a linguagem utilizada, frequência e a credibilidade da análise. A divulgação do produto da Inteligência pode ser feita através de relatórios, apresentações, boletins, entre outros. Pode ser restrita para um grupo de usuários que necessitam de um tipo de informação específica ou de maneira geral, onde as análises da inteligência são divulgadas para toda a organização (STAREC; GOMES, 2005). Por fim, a última etapa do processo de inteligência competitiva é a tomada de decisão, a utilização da análise após a etapa de comunicação. De acordo com pesquisas da GIA - Global Intelligence Alliance (2013), em empresas que possuem uma função formal de inteligência competitiva, a tomada de decisão é avaliada de forma significantemente mais eficiente comparada a empresas que não o fazem, além de possuir informações facilmente disponíveis quando necessário. 2.3 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E A INTERNACIONALIZAÇÃO A internacionalização pode ser definida, de forma ampla, como um processo continuado de envolvimento e/ou atuação de uma empresa com países diferentes do seu de origem; neste sentido, refere-se ao fluxo de produtos, serviços, dinheiro, ideias e pessoas entre dois ou mais países (CHIAVEGATTI; TUROLLA, 2011). Diversos estudos procuraram descrever o processo de internacionalização de empresas: teoria da organização industrial, teoria da internalização, teoria do paradigma eclético da produção internacional, teoria do custo de transação, teoria da vantagem monopolística, teoria do RBV- Resource based view, teoria do poder de mercado, teoria do comportamento estratégico, teoria de internacionalização de Uppsala e a de networks (TANURE; DUARTE, 2006). O modelo da Escola de Uppsala é considerado uma das principais sínteses teóricas de referência sobre o processo de internacionalização (THOMÉ et al., 2013). Publicado por Johanson e Vahlne em 1977 o modelo de Uppsala pressupõe 26 que a internacionalização da organização, se dá, como consequência do seu crescimento: partindo da exportação até a realização de investimentos diretos para fabricação no próprio país estrangeiro. Outra característica do modelo de Uppsala de 1977 é que o processo de internacionalização se inicia em mercados com menor distância psíquica, esta distância é definida como fatores que inibem o fluxo de informações entre a firma e o mercado (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Diante de muitas mudanças que ocorrem no ambiente de negócios desde a publicação do modelo da Escola de Uppsala nos anos 1970; Johanson e Vahlne (2009) realizaram uma revisão do seu modelo procurando uma melhor compreensão das características e dificuldades encontradas no processo de internacionalização. O novo modelo de Uppsala passa a considerar a rede de relacionamentos (business network) como uma influência no processo de internacionalização. Uma vez que a rede não possui fronteiras, elas colaboram para a identificação de oportunidades, além de possuir papel importante sobre a escolha do mercado geográfico que a empresa irá decidir entrar, assim como o modo de entrada. O modelo revisado do processo de internacionalização proposto por Johanson e Vahlne (2009) é representado na figura 4, é possível verificar que o mesmo é composto por dois conjuntos de variáveis: aspectos de estado e aspectos de mudança, sendo que tais variáveis afetam uma a outra. Fonte: Johanson e Vahlne (2009). A etapa de conhecimento de oportunidades é considerada o elemento de maior destaque, podendo orientar o processo. Além das oportunidades; é importante o conhecimento de necessidades, estratégias e redes relacionadas de maneira Conhecimento de oportunidades Posição na rede de negócios Decisão de comprometimento no relacionamento Aprendizado, criação e construção de confiança Aspectos de estado Aspectos de mudança Figura 4 - Modelo do processo de internacionalização. 27 direta ou indiretamente ao contexto da empresa. A segunda variável nos aspectos de estado é a posição na rede de negócios; no qual as relações são caracterizadas pela possibilidade que a empresa possui de gerar aprendizado, confiança e comprometimento para a rede de negócios sobre a firma foco (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Em relação aos aspectos de mudança, a etapa de aprendizado, criação e construção de confiança é baseada nas atividades em curso mais explícitas, além das da aprendizagem experimental. A velocidade, intensidade e eficiência dos processos de aprendizagem para criar conhecimento e um clima de confiança para a rede dependem da estrutura já existente de conhecimento, confiança e compromisso; na medida em que os parceiros encontrem dadas oportunidades atraentes, resultando em um mais eficiente processo criativo (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Por fim, o último aspecto de mudança: a variável sobre a decisão de comprometimento no relacionamento. Significa a decisão de maior ou menor comprometimento da empresa com um ou mais relacionamentos da sua rede. Em geral, será notada através de mudanças nos modos de entrada, a dimensão dos seus investimentos, mudanças organizacionais e no seu nível de dependência. A decisão sobre o comprometimento com o relacionamento pode reforçar ou enfraquecer a relação, com a intenção de desenvolver novos relacionamentos ou para estabelecer pontes para novas redes e buracos estruturais (JOHANSON; VAHLNE, 2009). A validade do modelo proposto por Johanson e Vahlne (2009) é testada por Schweizer, Vahlne e Johanson (2010). Os autores, a partir de um estudo de caso de empresas do setor farmacêutico, verificam que a internacionalização envolve uma ação empreendedora e confirmam alguns pensamentos do modelo atualizado de Uppsala. Os resultados do estudo comprovam que as variáveis de estado e mudança afetam uma a outra, sendo que a rede de negócios possui grande participação na identificação de oportunidades em um estágio inicial e para o desenvolvimento de um ambiente de crescimento. A rede de negócios é caracterizada como um compromisso de longo prazo e uma relação de respeito mútuo. Além disso, ela pode ser utilizada para a continuação de investigações e desenvolvimento de novos produtos. 28 A capacidade dinâmica, essencial do empreendedor, é a capacidade de construir e manter relações importantes, inclusive o relacionamento pessoal. A internacionalização, neste caso, é vista como um subproduto. Neste contexto, é possível verificar que a busca de oportunidades, a primeira etapa do processo empreendedor, demanda análise de informações; os estudos de Schweizer, Vahlne e Johanson (2010) reforçam a importância de estar bem informado e pronto para tomar as decisões quando surge à oportunidade. Sendo assim, ouso de inteligência competitiva pode colaborar com o processo de internacionalização, antecipando mudanças que interferem no nível de incerteza das empresas. A inteligência competitiva pode ser utilizada como uma ferramenta de gestão estratégica aumentando a competitividade do exportador: fornecendo uma visão mais abrangente e precisa do ambiente competitivo dos mercados onde o exportador está atuando; uma melhor compreensão de onde o exportador quer ir; medir o seu desempenho, produtos, serviços, a sua base de clientes atuais contra a base de clientes potenciais; além de alertar sobre ameaças iminentes e oportunidades emergentes (CUYVERS et al., 2006). Adidam, Gajre, Kejriwal (2009) apresentam algumas práticas do processo de inteligência competitiva em diversos mercados, desenvolvidos e emergentes. Na Europa, entrevistas por telefone e e-mail são aceitas como a metodologia mais rentável e bem sucedidas para a coleta de dados. Deve-se evitar realizar entrevistas utilizando línguas não nativas, mesmo em países em que a população possua um bom nível de inglês, pois algumas informações podem ser perdidas. É recomendável utilizar mais que uma fonte de dados, realizando um cruzamento entre os dados secundários. No Japão, as empresas são boas em coletar informações através de redes internas, no entanto não são eficazes devido à falta de utilização de técnicas rigorosas em suas análises de IC. Na China, a descentralização do poder, a globalização de atividades econômicas e a legislação está criando um ambiente muito favorável para as práticas de IC. A coleta de dados na China possui alguns desafios, as fontes de informação disponíveis ao público geralmente são ultrapassadas, genéricas e pouco confiáveis. Para obter sucesso de coleta de informações no país, deve-se procurar um parceiro local com uma extensa rede de contatos. Na África do Sul, a prática de IC é bastante recente, está concentrada no 29 setor bancário, tecnologia da informação, telecomunicações e fornecimento de energia elétrica (ADIDAM; GAJRE; KEJRIWAL, 2009). Na América Latina, a prática de IC é desafiadora. Poucas empresas são negociadas na bolsa de valores, há falta de dados corporativos precisos. Nos Estados Unidos e Europa associações industriais geram informações detalhadas sobre os seus associados, incluindo vendas, número de escritórios e fábricas, número de funcionários, produtos e demais dados corporativos. Na América Latina, estão surgindo associações de setores com viés econômico, cobrando um valor de adesão para distribuir as informações do setor entre seus associados (ADIDAM; GAJRE; KEJRIWAL, 2009). De forma geral, para ser bem sucedida no mercado internacional, as empresas devem estar familiarizadas com a ética, as práticas de negócios e um conhecimento profundo sobre a cultura e fatores que possam alavancar suas práticas de inteligência competitiva no país. Em mercados desenvolvidos o governo desempenha um papel crítico e de apoio no desenvolvimento da IC, em comparação com os mercados emergentes onde o envolvimento do governo com as empresas retarda o processo de IC (ADIDAM; GAJRE; KEJRIWAL, 2009). 30 3 O SETOR AUTOMOTIVO NO BRASIL O primeiro encontro dos brasileiros com os automóveis aconteceu em 1893 quando o engenheiro brasileiro Henrique Dumont dirigia orgulhosamente um veículo Peugeot, comprado em Paris, pelas ruas de São Paulo. Até o ano de 1918, o Brasil importava somente carros montados. A Ford inaugurou em 1919 a primeira linha de montagem do setor no Brasil, produzia o modelo T, um produto que surgiu nos Estados Unidos e revolucionou a indústria automotiva. Nos anos seguintes, surgiram no Brasil a General Motors, International Harvester, Fiat, entre outras (ANFAVEA, 2013). Em 1951, as importações de veículos tinham um enorme peso na balança comercial do Brasil: representava 15,1% dos US$ 1,1 bilhão que o país gastava no mercado externo. Importava-se em média 100 mil veículos/ano, sendo que 60% eram caminhões, além de autopeças. Neste período, o carro havia se tornado um objeto de desejo, no entanto, era acessível para poucas pessoas (ANFAVEA, 2013). A indústria automobilística no Brasil surgiu no ano de 1956, quando o presidente Juscelino Kubitschek assinou o decreto 39.412, criando a GEIA, Grupo Executivo da Indústria Automobilística. Os desafios para nacionalização da indústria automotiva eram enormes: mão de obra pouco qualificada, falta de tecnologia local, infraestrutura precária, além de escasso capital para investimento (ANFAVEA, 2013). Em 1956 é inaugurada oficialmente a Mercedes-Benz do Brasil, produzindo o primeiro caminhão a diesel nacional. Neste mesmo ano a General Motors inicia sua fábrica em São José dos Campos; a empresa Máquinas Agrícolas Romi fabrica o primeiro carro de passageiros nacional, o Romi-Isetta, com índice de nacionalização de 70%. No ano seguinte, a Volkswagen inicia suas atividades de produção no país, fabricando o modelo Kombi com metade das peças importadas (ANFAVEA, 2013). 3.1 O SETOR AUTOMOTIVO NO BRASIL: CONTEXTO ATUAL Nas últimas décadas, o setor automobilístico brasileiro continuou a crescer e receber novas marcas; hoje o país conta com diversas fabricantes de automóveis, 31 comerciais leves, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. As marcas estão representadas nas figuras 5 e 6. Figura 5 - Empresas fabricantes de autoveículos no Brasil. Fonte: ANFAVEA, 2012. Na figura 5 é possível verificar que a categoria de veículos comerciais leves possui o maior número de empresas fabricantes no Brasil. Este é o segmento com o maior crescimento nos últimos 10 anos no país: de 139.761 unidades emplacadas no ano de 2002 passou a 535.745 unidades em 2012, representando um crescimento de 283% neste período (ANFAVEA, 2012). A categoria de automóveis possui 10 fabricantes, sendo todas subsidiárias das grandes transnacionais estrangeiras do setor. Com 2.314.791 unidades licenciadas em 2012 no país, este segmento é considerado o maior mercado com 32 77% do volume total de unidades comercializadas no setor automotivo brasileiro (ANFAVEA, 2012). Fonte: ANFAVEA, 2012. Pode-se observar na figura 6 que o maior número de fabricantes de máquinas agrícolas no Brasil produz tratores de rodas, é a categoria de produto com o maior número de vendas do mercado doméstico: 55.819 unidades no ano de 2012, representando 79% do mercado total de máquinas agrícolas. No caso do ônibus, no Brasil, a fabricação e a montagem desses veículos são operações realizadas por distintas indústrias do ramo: as montadoras e as fabricantes de carroçarias. As primeiras produzem a parte mecânica (plataforma de sustentação e o sistema motriz – chassi, representadas na figura 5). Já a segunda é responsável pela confecção da carroceria, além da montagem final do veículo. As principais marcas de carroçarias presentes no Brasil são: Marcopolo, Ciferal, Comil, Induscar Caio, Irizar, Neobus e Mascarello (FABUS, 2013). O país é o sétimo maior produtor mundial de autoveículos, com 3.342.617 unidades produzidas em 2012, ficando atrás dos países: China, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Coréia do Sul e Índia (OICA, 2013). O setor automotivo possui grande importância para o país. Na tabela 2 é possível verificar a dimensão desta indústria que emprega um grande número de pessoas além de ter forte participação na economia nacional. Figura 6 - Empresas fabricantes de máquinas agrícolas no Brasil.33 Tabela 2 - Indústria automobilística brasileira em grandes números. Empresas 28 fabricantes 500 autopeças 5.116 concessionárias Fábricas 57 unidades 10 estados 35 municípios Capacidade de produção (2012) 4,5 milhões autoveículos 109 mil de máquinas agrícolas Faturamento (2012) US$ 106,8 bilhões (inclui autopeças) Investimentos (1994-2012) US$ 68,0 bilhões (inclui autopeças) Produção acumulada (1957-2012) 64,4 milhões (autoveículos montados) 2,3 milhões (máquinas agrícolas) Geração de tributos (2012) (IPI, ICMS, PIS, COFINS) US$ 24,8 bilhões (autoveículos) Emprego 1,5 milhão de pessoas (direto + indireto) Participação no PIB (2012) (inclui autopeças) Industrial: 21% Nacional: 5% Comercio exterior (2012) (inclui autopeças) US$ 22,7 bilhões (exportações) US$ 33,2 bilhões (importações) Fonte: ANFAVEA, 2012. O governo brasileiro reconhece a importância do setor automotivo para o país. Em 2013, criou o programa Inovar Auto (2013-2017) com o objetivo de aumentar a competitividade, tecnologia e segurança dos veículos produzidos e comercializados no Brasil. A iniciativa é voltada para as empresas do setor que investem em P&D (inovação); gastos com engenharia; tecnologia industrial; capacitação de fornecedores; produção de veículos mais econômicos e seguros. O benefício é concedido através de crédito presumido de, até, trinta pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), estima-se que até 2015 o programa levantará mais de R$ 50 bilhões em investimentos no setor (INOVARAUTO, 2013). 34 3.1.1 Exportações do setor automotivo brasileiro O Brasil é considerado o quarto maior mercado doméstico mundial de autoveículos; perdendo apenas para a China, Estados Unidos e Japão. Além de possuir um bom volume de vendas no mercado interno, o país exporta produtos do setor automotivo para diversos países do mundo. No ano de 2010, o país exportou 767.432 unidades de autoveículos, sendo: 80,3% carros; 14,8% comerciais leves; 3,0% caminhões e 1,9% ônibus. Os principais destinos de exportação foram: Argentina, África do Sul, México, Chile, Uruguai, Inglaterra, Alemanha, Peru e Colômbia. Destaque para a América do Sul e África como principais continentes de destino da exportação do setor, apresentado na tabela 3, representando mais de 85% do volume total de unidades exportadas (ANFAVEA, 2012). Tabela 3 - Exportações por continente de destino: 2010 (em unidades). AUTOMÓVEIS COMERCIAIS LEVES CAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL AMÉRICA DO SUL 377.417 75.445 21.035 10.760 484.657 AMÉRICA CENTRAL 927 247 236 564 1.974 AMÉRICA DO NORTE 54.739 18.698 289 221 73.947 EUROPA 32.132 2.517 0 1 34.650 ÁFRICA 148.918 16.499 1.480 1.466 168.363 ÁSIA 457 215 20 1.507 2.199 OCEANIA 1.535 0 0 107 1.642 TOTAL GERAL 616.125 113.621 23.060 14.626 767.432 Fonte: Elaborado pelo autor, com base em ANFAVEA (2012). As exportações do setor em valores somaram o montante de aproximadamente US$ 7 bilhões no ano de 2009, sendo - US$ 5,2 bilhões em autoveículos - US$ 0,2 bilhão em motores e US$ 1,6 bilhão em componentes (ANFAVEA, 2012). 35 4 MÉTODO DE PESQUISA Este trabalho se propõe a verificar qual é o papel do uso da inteligência competitiva no processo de internacionalização das empresas do setor automotivo, sob a ótica dos seus gestores. Para possibilitar uma resposta ao problema proposto neste projeto, será adotada a metodologia da pesquisa qualitativa de caráter exploratório. A pesquisa qualitativa considera a existência de uma relação dinâmica entre o sujeito e o mundo real, sendo que a sua subjetividade não pode ser traduzida em números (KAUARK; MANHÃES; MEDEIROS, 2010). Considerando os seus objetivos a pesquisa exploratória busca ajudar a compreender o problema enfrentado pelo pesquisador, pode ser utilizada para as seguintes finalidades: formular um problema ou defini-lo com maior precisão; desenvolver hipóteses; identificar cursos alternativos de ação; estabelecer prioridades para o desenvolvimento de novas pesquisas entre outras aplicações (MALHOTRA, 2011). 4.1 PROCEDIMENTO DE COLETA A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas individuais em profundidade. A entrevista é um encontro entre duas pessoas, com o propósito de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional (MARCONI; LAKATOS, 2003). Foi utilizado como instrumento de coleta um roteiro de questões semiestruturadas, podendo ser verificado no anexo A. De acordo com Castro (2006), os entrevistados tendem a andar em muitas direções e em alguns casos fugir do tema principal da pesquisa, sendo assim o uso de roteiro semiestruturado direciona a conversa de volta para o tema central além de permitir maior flexibilidade para complementação de perguntas que podem trazer mais informações sobre o assunto pesquisado. A entrevista em profundidade foi realizada de maneira individual no local de trabalho do respondente. A visita foi agendada através de e-mail e confirmada por meio de telefonema. Para tomar nota das respostas, houve a utilização de gravação digital mediante autorização do entrevistado. Posteriormente à gravação, a 36 entrevista foi transcrita em formato de texto, buscando total conformidade e identidade com o que foi descrito pelo entrevistado. 4.2 SELEÇÃO DOS RESPONDENTES Para este estudo optou-se por uma amostra não probabilística definida por julgamento. Foram contatados profissionais de empresas automotivas que atuam no Brasil: Agrale, Audi, BMW, Citröen, Fiat, Ford, GM, Honda, Hyundai, Iveco, Land Rover, MAN, Marcopolo, Mercedes-Benz, Mitsubishi, Nissan, Peugeot, Randon, Scania, Toyota, Volare, Volkswagen e Volvo. Constatou-se que em algumas empresas a Inteligência Competitiva trabalha somente com informações sobre o mercado nacional. Além, disso, é considerada uma área estratégica dentro de diversas organizações, neste sentido um número reduzido de empresas esteve disposta a conceder entrevistas, alegando razões de sigilo. Diante deste contexto, apenas uma empresa do setor automotivo que monitora informações sobre o mercado internacional aceitou o convite para participar da entrevista: Marcopolo S.A. Para aprofundar os estudos, foram analisadas duas unidades de negócios da empresa: Marcopolo e Volare. Para selecionar os entrevistados, buscaram-se profissionais que possuem cargo de gestão, sendo o principal responsável pelas operações internacionais da empresa e que tenha contato com o processo de inteligência competitiva. A figura 7 apresenta um resumo sobre as entrevistas realizadas. Figura 7 - Entrevistas realizadas. (continua) Unidade de negócios Marcopolo Volare Entrevistado N1 N2 Cargo Diretor de Estratégia e Marketing Institucional Coordenador de Estratégia Tempo de empresa 43 anos 13 anos Áreas que já trabalhou na empresa Manutenção Engenharia Qualidade Produção Estratégia Marketing Assessoria da Diretoria Operações Internacionais Engenharia Novos Negócios Desenvolvimento de Rede Marketing Internacionalização Estratégia 37 (conclusão) Formação acadêmica Graduação: Engenharia Mecânica. Graduação: Engenharia Mecânica. MBA: Gestão Empresarial e Gestão Industrial Tempo de duração 1h37min 0h27min Data de realização 23/05/2014 27/05/2014 Fonte: Dados da pesquisa.4.3 PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DOS DADOS O procedimento adotado para a análise dos dados da pesquisa será a de análise de conteúdo. A matéria-prima da análise de conteúdo pode ser originária de qualquer comunicação verbal ou não verbal, como por exemplo: jornais, revistas, livros, filmes, entrevistas, gravações, e outros. A análise de conteúdo auxilia a reinterpretar as mensagens, atingindo uma nova compreensão de seus significados em um nível superior à leitura comum (MORAES, 1999). Para Gil (2008), a análise de conteúdo é desenvolvida em três etapas: a) pré-análise – fase da organização. Envolve a escolha de documentos, formulação de hipóteses e preparação do material para análise; b) exploração do material – Corresponde às tarefas de codificação; envolvendo a escolha das unidades, escolha das regras de contagem, e escolha de categoria; c) tratamento dos dados, inferência e interpretação – possui por objetivo tornar os dados válidos e significativos. Procedimentos estatísticos são utilizados, buscando desenvolver ilustrações que sintetizam e coloquem em relevo as informações obtidas, para posteriormente confrontar com informações já existentes. Para auxiliar a etapa de análise foi utilizado o critério de categorização. Segundo Bardin (2000), a categorização possui como primeiro objetivo fornecer uma representação simplificada dos dados brutos. Cada elemento não pode existir em mais de uma divisão, deve ser homogêneo e ter pertinência com as intenções da investigação do analista. As, diferentes partes do material coletado devem ser codificadas da mesma maneira e, por fim, os conjuntos de categorias devem 38 fornecem resultados férteis em indicadores de argumentos, hipóteses e em dados exatos. 39 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS 5.1 PERFIL DAS UNIDADES DE NEGÓCIOS 5.1.1 Perfil da UN Marcopolo A Marcopolo é uma sociedade anônima de capital aberto, sediada em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, que tem como principal objetivo a fabricação de carrocerias para ônibus. A empresa foi fundada em 06 de agosto de 1949 na cidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, com o nome de Nicola & Cia Ltda. Em 1971, devido ao sucesso alcançado com o lançamento do ônibus Marcopolo, passou a denominar-se Marcopolo S.A. Atualmente possui quatro fábricas no Brasil, doze no exterior e mais de 21.000 colaboradores entre as suas fábricas. A Marcopolo possui uma ampla linha de produtos: ônibus rodoviários, urbanos, midi e micro-ônibus. São vinte diferentes modelos: Paradiso 1800 DD, Paradiso 1600 LD, Paradiso 1200, Paradiso 1050, Viaggio 1050, Viaggio 900, Audace, Ideale 770, Ideale 770 MT, Gran Viale, Viale BRT, Viale BRS, Novo Torino, Senior Midi Escolar, Torino, Senior Midi, Senior Midi Rural, Viale DD Sunny, Senior Rodoviário e Senior Urbano. A figura 8 demonstra um dos produtos da marca. Fonte: Dados da pesquisa. A Marcopolo está presente em todos os continentes do globo. Atualmente possui fábricas nos países: África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Figura 8 - Produto da Unidade de Negócios Marcopolo. 40 China, Colômbia, Egito, Estados Unidos, Índia, México e Rússia. Já exportou seus produtos para mais de 100 países. Na figura 9 é possível verificar o posicionamento global da marca. Figura 9 - Posicionamento global da empresa Marcopolo. Fonte: Dados da pesquisa. A receita líquida da Marcopolo, e suas coligadas no exterior, possui um crescimento médio anual de 21%. Observa-se um aumento de participação do mercado externo no seu faturamento nos últimos dois anos, conforme apresentado na figura 10. Fonte: Dados da pesquisa. Fábrica Exportações Representantes comerciais Figura 10 - Receita líquida da empresa Marcopolo. 41 No mercado nacional a empresa é líder de mercado na categoria de ônibus rodoviários e intermunicipais, com 66% de participação nos emplacamentos de 2013. Na categoria ônibus urbano possui uma participação de 39% - vice-líder - perdendo apenas para a empresa Caio Induscar, que possui 41% de participação. Na categoria micro-ônibus, segmento dominado por sua unidade de negócios Volare, possui 8% de participação. A figura 11 resume as informações. Figura 11 - Participação de mercado da Marcopolo. Fonte: Dados da pesquisa. 5.1.2 Perfil da UN Volare A Volare nasceu em 1998, como uma solução para a crise de mobilidade que enfrentava o transporte coletivo urbano no Brasil. Naquele período, o transporte urbano no país era concentrado em veículos de grande porte em linhas de alto fluxo, conhecidas como linhas centrais. Havia a necessidade de um veículo de transporte capaz de fazer o deslocamento da população das zonas periféricas às zonas centrais, as chamadas linhas alimentadoras. Assim, a Marcopolo, já responsável por grande parte da frota de veículos urbanos em circulação no país, desenvolveu um veículo para atender este mercado. Criou-se, então, o Volare A6, um veículo de pequena capacidade e fácil dirigibilidade capaz de trafegar com velocidade operacional e economia, inclusive em vias de difícil acesso. A partir de 2001, em decorrência do sucesso comercial, o miniônibus deixa de ser um item do mix de produtos da Marcopolo e assume a identidade própria da 6% 8% 9% 9% 8% 35% 39% 38% 37% 39% 60% 69% 69% 67% 66% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 2009 2010 2011 2012 2013 Micro Urbano Rodoviário/Intermunicipal 42 marca Volare, que passa a operar como uma unidade de negócios independente. Sua unidade fabril, localizada em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, conta com uma área física de 48.000m² e 38.300m² de área construída e capacidade de produção de 7.500 unidades/ano. Dentro de seu programa de expansão, a Volare está construindo uma nova fábrica em São Mateus, Espírito Santo, e, recentemente, inaugurou um Centro de Operações em São Paulo, fortalecendo a estrutura de atendimento, pós-vendas, assistência técnica e apoio ao cliente Volare. Atualmente a unidade de negócios possui a linha mais completa de micro- ônibus do mercado nacional. São onze diferentes modelos: V6L, V8L curto, V8L médio, V8L longo, V8L 4X4, W6, W7, W8, W9, DW9 e WL, disponíveis nas versões: Limousine, Executivo, Fretamento, Urbano, Autoescola, Escolarbus e Off Road, utilizando motorização MWM, Cummins e Mercedes-Benz. A figura 12 demonstra um dos produtos da marca. Fonte: Dados da pesquisa. A Volare atualmente possui fábricas apenas no Brasil, conta com mais de cem lojas exclusivas da marca no território nacional e possui quatorze representantes e agentes comerciais no mercado internacional. Já exportou seus produtos para mais de 29 países, na figura 13 é possível verificar o posicionamento global da marca. Figura 12 - Produto da Unidade de Negócios Volare. 43 Figura 13 - Presença Global da Unidade de Negócios Volare. Fonte: Dados da pesquisa. A receita líquida da Volare possui um crescimento médio anual de 18%, sendo que existe uma baixa representatividade do seu faturamento no mercado externo nos últimos cinco anos, conforme apresentado na figura 14. Figura 14 - Receita líquida da Unidade de Negócios Volare.Fonte: Dados da pesquisa. 44 No Brasil a Volare é líder de mercado no seu segmento, com 59% de participação nos emplacamentos de micro-ônibus no ano de 2013. É possível observar na figura 15 que o market share da empresa se mantém estável, sendo que apenas em dois anos ficou abaixo de 50%. Figura 15 - Participação de mercado da Unidade de Negócios Volare. Fonte: Dados da pesquisa. 5.2 HISTÓRICO DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO 5.2.1 Histórico de internacionalização da UN Marcopolo A Marcopolo começou sua trajetória internacional no ano de 1961, exportando o seu produto para o Uruguai. Nos anos seguintes, as exportações foram estendidas para outros países da América do Sul: Chile e Paraguai. Na década de 70 e 80 houve um movimento nacionalista de alguns países para montar o veículo nacionalmente e gerar novos empregos, como foi o caso da Venezuela, da Colômbia, do Chile, do Equador e do Peru. Neste período a Marcopolo passou por um segundo momento no seu processo de internacionalização, onde começaram as operações de exportação de veículos em Completely Knocked Down (CKD) e Semi Knocked Down (SKD). Sendo assim, exportava ônibus desmontados e criava pequenas fábricas para a montagem local dos veículos. Conforme o discurso do Entrevistado N1, esta etapa foi muito importante para a empresa porque houve uma quebra de paradigmas sobre fatores, 50% 50% 51% 46% 46% 59% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 2008 2009 2010 2011 2012 2013 45 como cultura, legislação e idioma. Criou-se um sentimento que a empresa poderia ter um comprometimento maior com o mercado internacional, fato que se concluiu com a primeira unidade fabril da empresa em Portugal no ano de 1990. Atualmente a empresa possui um alto nível de internacionalização. Observe a figura 16. Esta foi uma etapa de aprendizagem para a empresa. Ganhamos dinheiro com essas exportações, no entanto, criamos concorrentes locais, alguns atuam até hoje no Peru, empresas derivadas de outras no qual vendemos tecnologia e ensinamos a montar os veículos na época. Podemos dizer que o processo de internacionalização da Marcopolo começa aqui? Sim, porque a partir deste momento quebrou-se o paradigma de idioma, legislação e cultura de países diferentes. Nós não exportávamos e deixamos os veículos lá. Tivemos que enviar brasileiros para o país para treinar os funcionários locais e ajudar a montar a fábrica. Mas afinal, não é tão difícil aqui. Criou-se um sentimento de novos caminhos para a empresa. [Entrevistado N1] Figura 16 - Histórico de internacionalização da Marcopolo. (continua) Ano Forma de internacionalização País Motivação 1961 Exportação Uruguai Distância geográfica, condições das rodovias e recepção positiva do cliente. 1990 - 2009 Investimento direto Portugal Constatou-se que a Europa estava formando um bloco econômico e que tal fato poderia dificultar as exportações de outros países. A escolha do país foi pela menor distância psíquica, em especial o idioma. 1997 - 2001 Investimento direto Argentina Altas barreiras tributárias impostas pelo governo argentino, obrigando a busca por uma operação local visando continuar sendo competitiva no mercado. 2000 - 2002 Franchising China A empresa foi procurada pela montadora Iveco para vender sua tecnologia. A lei chinesa exigia a tecnologia de ônibus completo, não sendo possível estabelecer apenas uma fábrica de carrocerias no país. 2000 - atual Joint venture México A empresa foi procurada pela montadora Mercedes-Benz para estabelecer uma parceria. A empresa já operava no país com operações de exportação em CKD e montagem local. 2001 - atual Investimento direto África do Sul A empresa negociou um contrato de dois anos com a montadora Scania para a exportação de 230 ônibus em CKD com montagem local. Após o fim do contrato, surgiu a oportunidade de comprar a fábrica da montadora Volvo no país. 2001 - atual Joint venture Colômbia A montadora Volvo gerenciava um projeto de transporte local, no entanto constatou-se que as empresas de ônibus do país não eram qualificadas para fabricar ônibus de luxo. Neste sentido a Marcopolo foi procurada pelo Grupo Fanalca, parceiro da Volvo na Colômbia, para estabelecer uma sociedade no país. 46 (conclusão) Ano Forma de internacionalização País Motivação 2002 - atual Investimento direto China Após o fim do contrato de Franchising com a Iveco a empresa criou sua fábrica de componentes no país, visando fornecer para as demais unidades. 2006 - 2009 Joint venture Rússia Planejamento estratégico global. A empresa avaliou que precisaria estar presente nos maiores mercados de ônibus do mundo: China, Índia e Rússia. 2006 - atual Joint venture Índia Planejamento estratégico global. A empresa avaliou que precisaria estar presente nos maiores mercados de ônibus do mundo: China, Índia e Rússia. 2007 - atual Joint venture Argentina O país sobrepassou um período de crise economia no ano de 2001, obrigando a empresa a fechar sua antiga fábrica. Com a retomada do mercado a empresa procurou estabelecer uma nova parceria para fabricação no país. 2008 - atual Joint venture Egito Planejamento estratégico global. A empresa avaliou que faltava estabelecer presença em alguns blocos econômicos. Devido à baixa rentabilidade a fábrica de Portugal havia sido desativada. O mercado europeu não tinha tradição de comprar veículos da China e Índia, neste sentido, constatou-se que o Egito era o país ideal para estabelecer uma base de exportação, com uma logística favorecida. 2011 - atual Joint venture Rússia A crise econômica mundial de 2008 reduziu a oferta de crédito para os clientes no país e a empresa precisou desativar sua fábrica. Com a retomada do mercado em 2011, a Marcopolo procurou estabelecer uma nova parceria no país. 2011 - atual Investimento direto Austrália Planejamento estratégico global. A Marcopolo avaliou que precisava internacionalizar a empresa no Sudeste Asiático e América do Norte. 2012 - atual Joint venture Argentina Os fabricantes de ônibus argentinos criaram uma associação de classe, e as exportações brasileiras passaram a sofrer retaliações do governo. Para continuar participando do mercado de ônibus de luxo a empresa optou por comprar o líder deste segmento no país. 2013 - atual Investimento direto Canadá Planejamento estratégico global. A Marcopolo avaliou que precisava internacionalizar a empresa no Sudeste Asiático e América do Norte. 2013 - atual Participação acionária Estados Unidos A empresa Canadense com o dinheiro proveniente do investimento direto da Marcopolo adquiriu uma fábrica de ônibus nos Estados Unidos. Fonte: Dados da pesquisa. 47 5.2.2 Histórico de internacionalização da UN Volare A Volare começou sua trajetória internacional no ano de 1999, exportando o seu produto para a Bolívia. Nos anos seguintes, as exportações foram estendidas para outros países, como Paraguai, Uruguai, Chile e África do Sul. A marca já exportou para 29 países do globo. Atualmente suas vendas no mercado externo estão concentradas em países da América do Sul e América Central, com vendas ocasionais para a África. Conforme o discurso do Entrevistado N2, a empresa passa por um processo de estruturação de novas operações no mercado internacional, sendo possível procurar estabelecer operações de fabricação locais buscando um maior nível de competitividade no mercado. Observa-se que o desempenho do mercado externo será fundamental
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