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UNIDADE 2 GERAL Farmacologia Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. Objetivo Geral Estudar os fármacos do sistema cardiovascular e do trato gastrointestinal. unidade 2 Parte 1 Fármacos Anti-hipertensivos O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 102 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 229 IV. ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO O objetivo do tratamento anti-hipertensivo é reduzir a morbidade cardiovascu- lar e renal e a mortalidade. A relação entre a pressão arterial e o risco de um evento cardiovascular é contínua e, assim, mesmo reduzindo a pressão arterial moderadamente elevada, reduz-se a doença cardiovascular significativamente. A nova classificação, “pré-hipertensão”, reconhece essa relação e enfatiza a necessidade de diminuir a pressão arterial na população geral com medidas educativas e adoção de condutas de redução da pressão. A hipertensão mode- rada pode ser controlada algumas vezes com um único fármaco, mas a maioria dos pacientes requer mais de um fármaco para obter o controle. As recomen- dações atuais são de iniciar o tratamento com um diurético tiazídico, a menos que haja razão que determine o emprego de outra classe de fármaco (Figura 19.5). Se a pressão arterial não é controlada adequadamente, é acrescentado um segundo fármaco, selecionado com base nos efeitos adversos mínimos do regime combinado e procurando uma pressão arterial apropriada (Figura 19.6). Pode ser acrescentado um �-bloqueador, se o fármaco inicial foi um diurético, e vice-versa. Um vasodilatador pode ser acrescentado como terceiro fármaco para aqueles pacientes que continuam sem alcançar uma pressão arterial vi- sada. Quando são usados inibidores da enzima conversora de angiotensina II ou bloqueadores de receptor AT1 da angiotensina II para iniciar o tratamento, o diurético é o segundo fármaco acrescentado mais comumente. A. Cuidados individualizados Certos subgrupos da população hipertensa respondem melhor a uma classe de fármacos do que à outra. Por exemplo, pacientes negros res- pondem bem aos diuréticos e bloqueadores de canais de cálcio, mas o monotratamento com �-bloqueadores ou inibidores da ECA com fre- quência é menos eficaz. De modo similar, bloqueadores de canais de Renina Atividade simpática Ativação dos adrenorreceptores-�1 nos rins Aumento do retorno venoso Resposta mediada pelo sistema nervoso simpático Resposta mediada pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona Resistência periférica Ativação de adrenorreceptores-�1 no coração Ativação de adrenorreceptores-�1 nos músculos lisos Débito cardíaco Diminuição na pressão arterial Aumento na pressão arterial Fluxo sanguíneo renal Angiotensina II Aldosterona Retenção de sódio e água Volume sanguíneo Velocidade de filtração glomerular Figura 19.4 Resposta do sistema nervoso autônomo e do sistema renina-angiotensina-aldosterona à diminuição da pressão arterial. Clark-5ed_19.indd 229Clark-5ed_19.indd 229 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-hipertensivos | PARTE 1 103 230 Clark, Finkel, Rey & Whalen cálcio, inibidores da ECA e diuréticos são apropriados para o tratamento da hipertensão em pacientes idosos, ao passo que os �-bloqueadores e os �-antagonistas são menos tolerados. Além disso, a hipertensão pode coexistir com outras doenças que podem ser agravadas por alguns dos fármacos anti-hipertensivos. Nesses casos, é importante encontrar o me- lhor fármaco anti-hipertensivo para cada paciente em particular. A Figura 19.5 mostra o tratamento preferido em pacientes hipertensos com várias doenças concomitantes, e a Figura 19.6 mostra a frequência de doenças concomitantes na população de pacientes hipertensos. B. Adesão do paciente ao tratamento anti-hipertensivo A falta de adesão do paciente é a causa mais comum para a falha do tratamento anti-hipertensivo. O paciente hipertenso normalmente é assin- tomático e é diagnosticado por triagem de rotina, antes da ocorrência de lesão óbvia sobre um órgão-alvo. Dessa forma, o tratamento em geral é direcionado para evitar as sequelas futuras da doença, em vez de aliviar algum desconforto atual no paciente. Os efeitos adversos associados ao tratamento anti-hipertensivo podem influenciar mais os pacientes do que as vantagens futuras. Por exemplo, os �-bloqueadores podem diminuir a libido e induzir disfunções eréteis em homens, particularmente os de meia- -idade e idosos. Essa disfunção sexual induzida pelo fármaco pode levar o paciente a interromper o tratamento. Assim, é importante aumentar a adesão do paciente selecionando cuidadosamente o regime de fármacos que reduz os efeitos adversos e minimiza o número de dosificações neces- sárias cada dia. A associação de dois ou três fármacos em um comprimido único, em associação dose-fixa, revelou melhorar a adesão ao tratamento e o número de pacientes que alcançaram a pressão arterial desejada. A Figura 19.7 mostra as normas do tratamento contra a hipertensão. CLASSES DE FÁRMACOS INDICADOS NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO DOENÇA CONCOMITANTE ANGINA PECTORIS DE ALTO RISCO DIABETES AVE RECORRENTE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA INFARTO DO MIOCÁRDIO PRÉVIO DOENÇA RENAL CRÔNICA �-Bloqueadores �-Bloqueadores Bloqueadores de canais de Ca2 Inibidores da ECA Inibidores da ECA Inibidores da ECA Inibidores da ECA BRAs BRAs BRAs Inibidores da ECA�-Bloqueadores Inibidores da ECA Antagonistas de receptor de aldosterona Diuréticos Diuréticos �-BloqueadoresDiuréticos Diuréticos Antagonistas de receptor de aldosterona + Bloqueadores de canais de Ca2+ Figura 19.5 Tratamento da hipertensão em pacientes com doenças concomitantes. As classes de fármacos em caixas azuis asse- guram melhor resultado (p. ex., diabetes ou doença renal) independente da pressão arterial. (Nota: os bloqueadores de receptores de angiotensina [BRA] são uma alternativa aos inibidores da enzima conversora de angiotensina [ECA]. AVE = acidente vascular encefálico. 0 5 10 15 Insuficiência cardíaca Hiperlipidemia Diabetes Angina Infarto do miocárdio prévio Alteração renal Asma Porcentagem de pacientes hipertensos com a doença concomitante indicada Figura 19.6 Frequência de doenças concomitantes entre a população de pacientes hiper- tensos. Clark-5ed_19.indd 230Clark-5ed_19.indd 230 21/11/12 09:0021/11/12 09:00 104 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 231 V. DIURÉTICOS Os diuréticos podem ser usados como tratamento farmacológico de primeira escolha para hipertensão, a menos que alguma razão obrigue a escolha de outro fármaco. O tratamento com doses baixas de diuréticos é seguro, barato e eficaz na prevenção de derrame, infarto do miocárdio e insuficiência car- díaca congestiva, todos os quais podem causar morte. Resultados recentes sugerem que os diuréticos são superiores aos bloqueadores para tratar a hipertensão em idosos. A. Diuréticos tiazídicos Todos os diuréticos orais são eficazes no tratamento da hipertensão, mas os tiazídicos têm sido os mais amplamente usados. Hipertensão Estágio I (PAS 140-159 mmHg) ou PAD 90-99 mmHg) • Diurético do tipo tiazida para a maioria dos pacientes Considere inibidores da ECA, BRA, �-bloqueadores, BCCa ou uma associação • Hipertensão Estágio II (PAS � 160 mmHg ou PAD � 100 mmHg) • Associação de dois fármacos para a maioria dos pacientes Considere um diurético tipo tiazida mais inibidores da ECA, BRA, �-bloqueadores ou BCCa • Fármacos para condições agravantes (verassociados à presença de anticorpos antiestreptococos no pa- ciente. A incidência de reações alérgicas é de cerca de 3%. D. Anistreplase (complexo ativador plasminogênio estreptoquinase anisoilado) O anistreplase é um complexo pré-formado de estreptoquinase e plas- minogênio e é considerado um pró-fármaco. A estreptoquinase deve ser liberada e somente o plasminogênio ao qual estava associado será con- vertido em plasmina. E. Uroquinase A uroquinase é produzida naturalmente no organismo pelos rins. A uro- quinase terapêutica é isolada de células renais humanas e tem baixa antigenicidade. a. Mecanismo de ação. A uroquinase hidrolisa diretamente a liga- ção arginina-valina do plasminogênio, formando plasmina. b. Uso terapêutico. A uroquinase só está aprovada para a lise de êmbolos pulmonares. Usos extra-bula incluem o tratamento de infartos agudos do miocárdio, tromboembolismo arterial, trom- bose artéria coronária e trombose de veias profundas. c. Farmacocinética. A uroquinase tem duração de ação curta e é rapidamente depurada pelo fígado (os rins são uma via de eli- minação menor). Assim, a meia-vida da uroquinase no plasma é de 20 min aproximadamente. A meia-vida pode ser prolongada em pacientes com insuficiência hepática. d. Efeitos adversos. O efeito adverso registrado com maior fre- quência é a hemorragia. Reações alérgicas ou anafiláticas tam- bém têm sido registradas raramente. VIII. FÁRMACOS USADOS PARA TRATAR HEMORRAGIAS Os problemas de sangramentos podem ter sua origem em condições patoló- gicas de ocorrência natural, como a hemofilia, ou resultar de estados fibrino- líticos que aparecem depois de cirurgia gastrintestinal ou prostatectomia. O uso de anticoagulantes também pode resultar em hemorragia. Certas proteí- nas naturais e a vitamina K, bem como antagonistas sintéticos são eficazes Clark-5ed_20.indd 260Clark-5ed_20.indd 260 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 126 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 261 no controle desses sangramentos. Por exemplo, a hemofilia é a consequência de uma deficiência de fatores de coagulação plasmáticos, mais frequente- mente os Fatores VIII e IX. Preparações concentradas desses fatores estão disponíveis a partir de doadores humanos. Contudo, essas preparações têm o risco de transferirem infecções virais. A transfusão de sangue também é uma opção para o tratamento das hemorragias graves. A. Ácido aminocaproico e ácido tranexâmico Os estados fibrinolíticos podem ser controlados pela administração do ácido aminocaproico ou ácido tranexâmico. Ambos são fármacos sinté- ticos, ativos por via oral, são excretados na urina e inibem a ativação do plasminogênio. O ácido tranexâmico é dez vezes mais potente do que o ácido aminocaproico. O efeito adverso potencial é trombose intravascular. B. Sulfato de protamina O sulfato de protamina antagoniza o efeito anticoagulante da heparina. Essa proteína é derivada do esperma ou dos testículos de peixes e é rica em arginina, o que explica o caráter básico. A protamina de cargas po- sitivas interage com a heparina de cargas negativas, formando um com- plexo estável sem atividade anticoagulante. Os efeitos adversos da admi- nistração da protamina incluem hipersensibilidade, bem como dispneia, rubor, bradicardia e hipotensão, quando injetada rapidamente. C. Vitamina K Que a administração de fitonadiona (vitamina K1) pode controlar sangra- mentos decorrentes de anticoagulantes orais não causa surpresa, pois essas substâncias atuam interferindo com a ação da vitamina (ver Figura 20.19). A resposta à vitamina K é lenta, requerendo cerca de 24 horas (tempo para sintetizar novos fatores de coagulação). Assim, se for neces- sária hemostasia imediata, deve ser transfundido plasma congelado fresco. D. Aprotinina A aprotinina é um inibidor serina-protease que interrompe sangramen- tos pelo bloqueio da plasmina. Ela pode inibir a estreptoquinase. A apro- tina tem permissão de uso em investigação limitado em pacientes sob risco de perdas de sangue e transfusão durante colocação de pontes e implantes em artérias coronárias, se não houver outras alternativas. A aprotinina pode causar disfunção renal e reações de hipersensibilidade (anafiláticas). Além disso, a aprotinina não deve ser administrada a pa- cientes que foram expostos a este fármaco nos 12 meses prévios, devido à possibilidade de reações anafiláticas. IX. FÁRMACOS USADOS PARA TRATAR ANEMIA A anemia é definida como a concentração plasmática de hemoglobina abaixo do normal, resultante de uma diminuição do número de eritrócitos circulantes ou de um conteúdo anormalmente baixo de hemoglobina total por unidade de volume de sangue. A anemia pode ser causada por perda crônica de sangue, anormalidades da medula óssea, aumento da hemólise, infecções, tumores, deficiências endócrinas, insuficiência renal e inúmeras outras doenças. A anemia pode ser corrigida, ao menos temporariamente, pela transfusão de sangue total. Um grande número de fármacos causa efeitos tóxicos nas célu- las sanguíneas, na produção de hemoglobina ou nos órgãos eritropoiéticos, o que pode causar anemia. Além disso, anemias nutricionais são causadas por deficiências de substâncias como ferro, ácido fólico e cianocobalamina (vitamina B12) que são necessárias para a eritropoiese normal. Clark-5ed_20.indd 261Clark-5ed_20.indd 261 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos que Afetam o Sangue | PARTE 2 127 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 3 Sistema Cardiovascular: Angina, IC, Antiarrítimico O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 130 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 197 2. Ativação do sistema renina-angiotensina. A queda no débito car- díaco diminui o fluxo sanguíneo aos rins, induzindo a liberação de renina, com o resultante aumento na formação de angiotensina II e liberação de aldosterona. Isso resulta no aumento da resistência periférica e retenção de sódio e água. O volume de sangue aumen- ta, e mais sangue retorna ao coração. Se o coração é incapaz de bombear esse volume extra, a pressão venosa aumenta e ocorre edema periférico e pulmonar (ver Figura 16.4). Essa resposta com- pensatória aumenta o trabalho do coração e, dessa forma, pode contribuir para o declínio posterior na função cardíaca. 3. Hipertrofia miocárdica. O coração aumenta em tamanho, e as câmaras dilatam e se tornam mais globulares. Inicialmente, o es- tiramento do músculo cardíaco leva a uma contração mais forte do coração. Contudo, o alongamento excessivo das fibras resulta no enfraquecimento das contrações, e a geometria diminui a capacida- de de ejetar o sangue. Esse tipo de insuficiência é denominado insu- ficiência sistólica e resulta da incapacidade do ventrículo bombear de forma eficiente. Menos comumente, os pacientes com IC podem apresentar disfunção diastólica – um termo aplicado quando a ca- pacidade do ventrículo em relaxar e receber sangue é prejudicada por mudanças estruturais, como a hipertrofia. O engrossamento da parede ventricular e a subsequente redução no volume ventricular diminuem a capacidade do músculo cardíaco relaxar. Nesse caso, o ventrículo não enche adequadamente, e a inadequação do débito cardíaco é denominada IC diastólica – uma condição particularmen- te comum de IC em mulheres idosas. A disfunção diastólica na sua forma pura se caracteriza por sinais e sintomas de IC na presença de função normal do ventrículo esquerdo. Todavia, as disfunções sistólica e a diastólica comumente coexistem na IC. D. IC descompensada Se os mecanismos de adaptação restabelecem adequadamente o débito cardíaco, a IC é dita compensada. Contudo, essas compensações au- mentam o trabalho do coração e contribuem para o seu posterior declínio na performance. Se os mecanismos adaptativos não conseguem manter o débito cardíaco, aIC é dita descompensada. E. Estratégias terapêuticas na IC A IC crônica é tratada normalmente com redução da atividade física, die- ta com baixa ingestão de sódio (O losartana, o primeiro membro aprovado da classe, difere dos demais, pois so- fre extensa biotransformação de primeira passagem pelo fígado, incluindo a conversão em seu metabólito ativo. Os demais fárma- cos apresentam metabólitos inativos. A eliminação de metabólitos e compostos originais ocorre na urina e nas fezes; a proporção depende de cada fármaco individualmente. Todos sofrem elevada ligação com proteínas plasmáticas (mais de 90%) e, exceto o can- desartana, apresentam grande volume de distribuição. 3. Efeitos adversos. Os BRAs têm perfil de efeitos adversos seme- lhante ao dos inibidores da ECA, mas não provocam tosse. Como com os inibidores da ECA, eles são contraindicados na gestação. M o rt al id ad e cu m u la ti va ( % ) Tempo (meses) Placebo Enalapril 0 0 20 40 60 80 100 3 6 9 12 Figura 16.6 Efeitos do enalapril na mortalidade de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva. Clark-5ed_16.indd 199Clark-5ed_16.indd 199 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Sistema Cardiovascular: Angina, IC, Antiarrítimico | PARTE 3 133 200 Clark, Finkel, Rey & Whalen IV. �-BLOQUEADORES Embora pareça contraditório administrar fármaco com atividade inotrópica ne- gativa ao paciente com IC, vários estudos clínicos têm claramente demonstrado a melhora do funcionamento sistólico e a reversão do remodelamento cardíaco em pacientes que recebem �-bloqueadores. Esses benefícios ocorrem apesar do eventual agravamento inicial dos sintomas. O benefício dos �-bloqueadores é atribuído, em parte, à sua propriedade de prevenir as mudanças que ocorrem em virtude da ativação crônica do sistema nervoso simpático, incluindo dimi- nuição da frequência cardíaca e inibição da liberação de renina. Além disso, os �-bloqueadores previnem também os efeitos prejudiciais diretos da norepinefrina na fibra muscular cardíaca, diminuindo o remodelamento, a hipertrofia e a morte celular. Dois �-bloqueadores são aprovados para uso na IC: o carvedilol e o me- toprolol de ação prolongada. O carvedilol é um antagonista de �-adrenorreceptor não seletivo que também bloqueia �-adrenorreceptores, o metoprolol é um anta- gonista �1 seletivo. (Nota: a farmacologia dos �-bloqueadores está descrita em detalhes no Capítulo 7.) O bloqueio � é recomendado para todos os pacientes com doença cardíaca, exceto aqueles que apresentam alto risco, mas não apre- sentam sintomas, ou aqueles com IC aguda. O carvedilol e o metoprolol dimi- nuem a morbilidade e a mortalidade associada a IC. O tratamento deve iniciar com baixas dosagens e gradualmente ser titulada a dosagem eficaz com base na tolerância do paciente. Obviamente, o paciente que é também hipertenso terá um benefício adicional com �-bloqueadores. A Figura 16.7 mostra o efeito bené- fico do tratamento com metoprolol em pacientes com IC. V. DIURÉTICOS Os diuréticos aliviam a congestão pulmonar e o edema periférico. Esses fár- macos também são úteis na redução dos sintomas da sobrecarga de volume, incluindo ortopneia e dispneia paroxística noturna. Os diuréticos diminuem o volume plasmático e, subsequentemente, diminuem o retorno venoso ao cora- ção (pré-carga). Isso diminui a carga de trabalho cardíaco e a demanda de oxi- gênio. Os diuréticos podem diminuir também a pós-carga pela redução do vo- lume plasmático, reduzindo, assim, a pressão arterial. Os diuréticos tiazídicos são relativamente fracos e perdem eficácia em pacientes com depuração de creatinina inferior a 50 mL/min. Os diuréticos de alça são usados em pacientes que necessitam diurese intensa e em pacientes com insuficiência renal. Os diuréticos de alça são os diuréticos mais comumente usados na IC. (Nota: a dosagem excessiva dos diuréticos de alça pode levar à hipovolemia profunda.) VI. VASODILATADORES DIRETOS A dilatação de vasos sanguíneos venosos leva a uma diminuição na pré-carga cardíaca pelo aumento da capacitância venosa; dilatadores arteriais reduzem a resistência arteriolar sistêmica e diminuem a pós-carga. Os nitratos são os dilatadores venosos comumente usados em pacientes com IC congestiva. Se o paciente é intolerante aos inibidores da ECA ou aos �-bloqueadores, ou se é necessária uma resposta vasodilatadora adicional, pode ser usada a associação de hidralazina e dinitrato de isossorbida. Esta associação é muito eficaz em pacientes negros com IC. A hidralazina diminui a pós-carga e o ni- trato orgânico reduz a pré-carga. (Nota: os bloqueadores de canais de cálcio devem ser evitados em pacientes com IC.) VII. FÁRMACOS INOTRÓPICOS Fármacos inotrópicos positivos aumentam a contratilidade do músculo car- díaco e, dessa forma, aumentam o débito cardíaco. Embora esses fármacos 0 5 10 15 20 0 6 12 18 Acompanhamento (meses) M o rt al id ad e cu m u la ti va (% ) Metoprolol O metoprolol reduz a mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca. Placebo Figura 16.7 Mortalidade cumulativa em pacientes com insuficiência cardíaca tratados com placebo ou metoprolol. Clark-5ed_16.indd 200Clark-5ed_16.indd 200 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 134 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 201 atuem por diferentes mecanismos, em todos os casos a ação inotrópica é o resultado do aumento da concentração de cálcio citoplasmático, o qual au- menta a contratilidade do músculo cardíaco. A. Glicosídeos digitálicos Os glicosídeos cardíacos são frequentemente chamados digitálicos ou glicosídeos digitálicos, pois a maioria dos fármacos é proveniente da planta digitalis (dedaleira). Eles são um grupo de compostos quimica- mente similares que podem aumentar a contratilidade do músculo car- díaco e, em vista disso, são amplamente usados no tratamento da IC. Como os fármacos antiarrítmicos descritos no Capítulo 17, os glicosídeos cardíacos influenciam os fluxos de íons sódio e cálcio no músculo car- díaco e, dessa forma, aumentam a contração do miocárdio atrial e ven- tricular (ação inotrópica positiva). Os glicosídeos digitálicos têm somente uma pequena margem entre a dosagem terapeuticamente eficaz e a que é tóxica ou mesmo fatal. Portanto, os fármacos têm um índice terapêutico reduzido. O digitálico mais amplamente usado é a digoxina. 1. Mecanismo de ação a. Regulação da concentração de cálcio citosólico. A concentra- ção de cálcio livre no citosol no final da contração precisa diminuir para que o músculo cardíaco relaxe. O trocador Na+/Ca2+ desem- penha um papel importante nesse processo, promovendo a saída de Ca2+ do miócito em troca de Na+ (Figura 16.8). O gradiente de concentração para ambos os íons é o principal determinante do movimento iônico geral. Inibindo a capacidade do miócito em bombear ativamente o Na+ da célula, os glicosídeos cardíacos diminuem o gradiente de concentração de Na+ e, consequente- mente, a capacidade do trocador Na+/Ca2+ em promover a saída de cálcio da célula. Além disso, o nível celular elevado de Na+ é trocado por Ca2+ extracelular pela bomba Na+/Ca2+, aumentando o cálcio intracelular. Como mais Ca2+ fica retido no espaço intrace- lular, ocorre um pequeno, mas importante, aumento fisiológico de Ca2+ livre, que fica disponível para o próximo ciclo de contração do músculo cardíaco, aumentando, dessa forma, a contratilidade car- díaca. Como a Na+/K+ATPase troca 2 Na+ por 1 K+, ela restabele- ce a concentração iônica e o potencial de repouso da membrana. Quando a Na+/K+ATPase é fortemente inibida pela digoxina (e por K+ Na+ K+Ca2+ Na+ Ca2+ Os digitálicos inibem as trocas Na+/K+ pela Na+/K+-ATPase. 1 3 2 A concentração intracelular de Na+ aumenta, e TA P Na+/Ca2+ trocador Ca2+ Na+ O aumento do Na+ diminui a força motriz do trocador de Na+/Ca2+. Então, há diminuição da exclusão de Ca2+ para o espaço extracelular.Miofibrilas o gradiente de concentração, através da membrana, diminui. livre Na+ Figura 16.8 Mecanismo de ação da digoxina. ATPase = adenosina trifosfatase. Clark-5ed_16.indd201Clark-5ed_16.indd 201 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Sistema Cardiovascular: Angina, IC, Antiarrítimico | PARTE 3 135 210 Clark, Finkel, Rey & Whalen somente um número limitado desses fármacos é benéfico clinicamente no tratamento de arritmias específicas. Por exemplo, a resolução imediata de taquicardia ventricular pela lidocaína ou de taquicardia supraventricu- lar por adenosina ou verapamil são exemplos nos quais o tratamento an- tiarrítmico resulta em diminuição da morbidade. Em contraste, vários dos fármacos antiarrítmicos apresentam ações pró-arrítmicas, ou seja, cau- sam arritmias perigosas. A eficácia de muitos antiarrítmicos permanece sem comprovação em triagens randomizadas controladas com placebo. (Nota: o implante de desfibriladores cardioversores está se tornando mais usado no tratamento dessas condições.) III. FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS DA CLASSE I Os fármacos antiarrítmicos podem ser classificados de acordo com seu efeito predominante sobre o potencial de ação (Figura 17.4). Embora essa classifi- cação seja conveniente, ela não é inteiramente definida, pois vários fármacos apresentam ações relacionadas com mais de uma classe ou podem apre- sentar metabólitos ativos com ação em uma classe diferente. Os fármacos antiarrítmicos da classe I atuam bloqueando canais de sódio (Na+) sensíveis à voltagem, pelo mesmo mecanismo dos anestésicos locais. A diminuição da velocidade de entrada de sódio reduz a velocidade de elevação da Fase 0 do potencial de ação. (Nota: em doses terapêuticas, esses fármacos apresentam pouco efeito na membrana em repouso completamente polarizada devido à sua maior afinidade pelos canais ativos e inativos do que pelos canais em repouso.) Os antiarrítmicos da classe I, portanto, geralmente causam diminui- ção da excitabilidade e da velocidade de condução. O uso dos bloqueadores de canais de sódio vem declinando continuamente devido aos seus possíveis efeitos pró-arritmogênicos, particularmente em pacientes com função ventri- cular esquerda reduzida e doença cardíaca isquêmica. A. Uso-dependência Os fármacos da classe I ligam-se mais rapidamente aos canais de sódio abertos ou inativados do que os completamente repolarizados após a re- cuperação do ciclo de despolarização prévio. Portanto, esses fármacos apresentam maior grau de bloqueio em tecidos que são frequentemente despolarizados (p. ex., durante a taquicardia, quando os canais de sódio abrem com frequência). Essa propriedade é denominada dependência- -de-uso (ou dependência-de-estado), e ela possibilita que esses fármacos IA IB IC II III IV CLASSIFICAÇÃO DO FÁRMACO MECANISMO DE AÇÃO COMENTÁRIO Bloqueador de canais de Na+ Bloqueador de canais de Na+ Bloqueador de canais de Na+ Bloqueador de �-adrenorreceptor Bloqueador de canais de K+ Bloqueador de canais de Ca2+ Torna lenta a despolarização de Fase 0 nas fibras musculares dos ventrículos. Encurta a repolarização de Fase 3 nas fibras musculares dos ventrículos. Torna muito lenta a despolarização de Fase 0 nas fibras musculares dos ventrículos. Inibe a despolarização de Fase 4 nos nós SA e AV. Prolonga a repolarização de Fase 3 nas fibras musculares dos ventrículos. Inibe o potencial de ação nos nós SA e AV. Figura 17.4 Ações de fármacos antiarrítmicos. SA = sinoatrial; AV = atrioventricular. Clark-5ed_17.indd 210Clark-5ed_17.indd 210 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 136 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 211 bloqueiem células que estão disparando em uma frequência anormalmen- te elevada, sem interferir com a frequência normal baixa de batimentos cardíacos. Os fármacos da classe I são subdivididos em três grupos de acordo com seus efeitos na duração do potencial de ação. Os fármacos da classe IA reduzem a velocidade de despolarização do potencial de ação (reduzindo, assim, a velocidade de condução), prolongam o potencial de ação e aumentam o período refratário efetivo do ventrículo. Eles apre- sentam uma velocidade intermediária de associação aos canais de sódio ativados/inativados e uma velocidade intermediária de dissociação dos canais em repouso. O prolongamento da duração do potencial de ação e o aumento no período eficaz ventricular são devidos à atividade de classe III simultânea. Os fármacos da classe IB apresentam poucos efeitos na velo- cidade de despolarização; eles diminuem a duração do potencial de ação encurtando a repolarização. Eles interagem rapidamente com os canais de sódio. Os fármacos da classe IC deprimem acentuadamente a veloci- dade de despolarização do potencial de ação da membrana. Dessa forma, eles causam redução acentuada na velocidade de condução, mas têm pouco efeito na duração do potencial de ação da membrana ou no período refratário efetivo ventricular. Eles se ligam lentamente aos canais de sódio. B. Arritmias A inibição dos canais de potássio (atividade de classe III) alarga o poten- cial de ação, levando ao prolongamento do intervalo QT no ECG. Esse efeito aumenta o risco de desenvolver taquiarritmias ventriculares fatais (torsade de pointes). A causa mais comum do prolongamento QT é a indução por fármacos, embora também possa ser genética. O prolonga- mento QT não é observado só com antiarrítmicos da classe III. Fármacos como cisaprida, grepafloxacino, terfenadina e astemizol foram retirados do mercado devido a arritmias graves e fatais. Eritromicina, claritromici- na, pentamidina, moxifloxacino, levofloxacino, imipramina, desipramina, amitriptilina, doxepina, tioridazina, mesoridazina, haloperidol, risperido- na, zoprasidona e quetiapina são alguns dos fármacos que prolongam o intervalo QT. Deve-se ter cautela ao associar diversos fármacos com efei- to no intervalo QT (p. ex., quinidina com levofloxacino) ou usando esses fármacos associados com antifúngicos azóis (fluconazol e itraconazol). Esse último inibe a biotransformação de fármacos causando grande au- mento nas concentrações plasmáticas. C. Quinidina A quinidina é o fármaco protótipo da classe IA. Devido à sua atividade de classe III simultânea, ela pode desencadear arritmias como a taquicardia ventricular polimórfica (torsade de pointes), que podem degenerar em fibrilação ventricular. Devido ao potencial tóxico da quinidina, os anta- gonistas de canais de cálcio, como a amiodarona e o verapamil, estão substituindo de forma crescente a quinidina no uso clínico. 1. Mecanismo de ação. A quinidina se liga aos canais de sódio aber- tos e inativados, impedindo o influxo de sódio e reduzindo, dessa forma, a velocidade de entrada rápida durante a Fase 0 (Figura 17.5). Ela também diminui a inclinação de despolarização espontâ- nea da Fase 4 e inibe as trocas de potássio. Devido a essas razões, ela diminui a velocidade de condução e aumenta a refratariedade. 2. Usos terapêuticos. A quinidina é usada no tratamento de uma grande variedade de arritmias, incluindo taquiarritmias atrial, jun- cional AV e ventricular. A quinidina é usada para manter o ritmo sinusal após cardioversão com corrente direta da palpitação (flutter) ou fibrilação atrial e para evitar taquicardia ventricular frequente. K+ K+ K+ K+ K+ Na+ Na+ –85 mV Sem fármaco 0 mV Fase 0 (INa) Fase 3 (I K) Períodorefratárioefetivo Quinidina, procainamida e disopiramida bloqueiam os canais de sódio abertos ou inativados. Esses fármacos apresentam velocidade intermediária de associação com canais de sódio. Membrana Interior Exterior Correntes de potencial de ação Correntes diastólicas Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Os fármacos da classe IA tornam lenta a despolarização da Fase 0. Além disso, eles prolongam o potencial de ação devido à sua atividadede classe III. K+ Figura 17.5 Diagrama dos efeitos de fármacos da classe IA. INa e IK são correntes trans- membrana decorrentes do movimento de Na+ e K+, respectivamente. Clark-5ed_17.indd 211Clark-5ed_17.indd 211 31/10/12 15:1331/10/12 15:13Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Sistema Cardiovascular: Angina, IC, Antiarrítimico | PARTE 3 137 212 Clark, Finkel, Rey & Whalen 3. Farmacocinética. O sulfato de quinidina é rápido e quase comple- tamente absorvido após administração via oral. Ele sofre extensa biotransformação por enzimas hepáticas citocromo P450, formando metabólitos ativos. 4. Efeitos adversos. O efeito adverso potencial da quinidina (ou de qualquer fármaco antiarrítmico) é o desenvolvimento de arritmia (torsades de pointes). A quinidina pode causar bloqueio SA e AV ou assistolia. Em concentrações tóxicas, pode induzir taquicardia ventricular. Náusea, êmese e diarreia são observados comumente. Doses elevadas de quinidina podem induzir sintomas de cinchonis- mo (p. ex., visão turva, zumbido, cefaleia, desorientação e psicose). O fármaco apresenta uma leve ação bloqueadora �-adrenérgica, bem como efeitos do tipo atropina. A quinidina pode aumentar a concentração de equilíbrio da digoxina deslocando-a dos sítios de ligação tecidual (efeito menor) e diminuindo sua depuração renal (efeito principal). D. Procainamida 1. Ações. Esse fármaco da classe IA é um derivado do anestésico local procaína e tem ações semelhantes às da quinidina. 2. Farmacocinética. A procainamida é bem absorvida após a admi- nistração via oral. (Nota: a via IV é usada raramente, pois causa hipotensão se a infusão for muito rápida.) A procainamida apresenta uma meia-vida relativamente curta, de 2 a 3 horas. Parte do fár- maco é acetilada no fígado em N-acetilprocainamida (NAPA), que apresenta pouco efeito na polarização máxima das fibras de Purkin- je, mas prolonga a duração do potencial de ação. Assim, a NAPA tem as propriedades e os efeitos adversos de um fármaco da classe III. A NAPA é eliminada pelos rins, e as dosagens de procainamida precisam ser ajustadas em pacientes com insuficiência renal. 3. Efeitos adversos. Com o uso crônico, a procainamida causa uma elevada incidência de efeitos adversos, incluindo síndrome do tipo lúpus eritematoso reversível, que se desenvolve em 25 a 30% dos pacientes. As concentrações tóxicas de procainamida podem cau- sar assistolia ou indução de arritmias ventriculares. Os efeitos ad- versos no SNC incluem depressão, alucinação e psicose. Com esse fármaco, a intolerância gastrintestinal é menos frequente do que com quinidina. E. Disopiramida 1. Ações. Esse fármaco da classe IA apresenta ações similares às da quinidina. A disopiramida produz efeito inotrópico negativo maior do que o fraco efeito exercido por quinidina e procainamida, e, ao contrário desses dois, a disopiramida causa vasoconstrição pe- riférica. Ela pode produzir diminuição clinicamente importante na contratilidade miocárdica em pacientes com comprometimento pre- existente da função ventricular esquerda. A disopiramida é usada no tratamento de arritmias ventriculares, como uma alternativa à procainamida ou quinidina. Como a procainamida e a quinidina, ela apresenta atividade de classe III. 2. Farmacocinética. Aproximadamente metade do fármaco ingerido por via oral é excretado inalterado pelos rins. Cerca de 30% do fár- maco são convertidos no fígado ao metabólito mono-N-desalquilado menos ativo. Clark-5ed_17.indd 212Clark-5ed_17.indd 212 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 138 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 213 3. Efeitos adversos. A disopiramida mostra efeitos de atividade anti- colinérgica (p. ex., xerostomia, retenção de urina, visão embaçada e constipação). F. Lidocaína A lidocaína é um fármaco da classe IB. Os fármacos da classe IB se associam e se dissociam rapidamente nos canais de sódio. Assim, as ações dos fármacos da classe IB se manifestam quando a célula car- díaca está despolarizada ou disparando rapidamente. Os fármacos da classe IB são particularmente úteis no tratamento de arritmias ventricula- res. A lidocaína foi o fármaco de escolha para o tratamento emergencial de arritmias cardíacas. 1. Ações. A lidocaína, um anestésico local, encurta a repolarização de Fase 3 e diminui a duração do potencial de ação (Figura 17.6). 2. Usos terapêuticos. A lidocaína é útil no tratamento de arritmias ventriculares que aparecem durante a isquemia miocárdica, como a vivenciada durante o infarto do miocárdio. Ela não reduz a velo- cidade de condução de forma marcante e, dessa forma, apresenta poucos efeitos nas arritmias atrial ou juncional AV. 3. Farmacocinética. A lidocaína é administrada por via IV devido à extensa biotransformação de primeira passagem no fígado, que im- pede a administração oral. O fármaco é desalquilado e eliminado quase completamente pelo fígado; consequentemente, o ajuste de dosagem pode ser necessário em pacientes com disfunção hepá- tica, ou em pacientes que estão usando fármacos que reduzem o fluxo sanguíneo hepático, como o propranolol. 4. Efeitos adversos. A lidocaína apresenta uma ampla relação entre efeito tóxico e efeito terapêutico. Ela pouco interfere na função ven- tricular esquerda e não tem efeito inotrópico negativo. Os efeitos so- bre o SNC incluem sonolência, fala enrolada, parestesia, agitação, confusão e convulsões. Pode ocorrer também arritmia cardíaca. G. Mexiletina e tocainida Esses fármacos da classe IB têm ações semelhantes às da lidocaína e podem ser administrados por via oral. A mexiletina é usada no tratamento crônico de arritmias ventriculares associadas ao infarto do miocárdio pré- vio. A tocainida é usada no tratamento de taquiarritmias ventriculares e apresenta toxicidade pulmonar, que pode levar à fibrose pulmonar. H. Flecainida A flecainida é um fármaco da classe IC. Esses fármacos se dissociam lentamente dos canais de sódio em repouso e têm efeitos proeminentes, mesmo em frequências cardíacas normais. Eles são aprovados nas ar- ritmias ventriculares refratárias, na prevenção da fibrilação/flutter atrial paroxística associada com sintomas desabilitantes e na taquicardia su- praventricular paroxística. Entretanto, resultados recentes lançaram sé- rias dúvidas na segurança dos fármacos da classe IC. 1. Ações. A flecainida suprime a ascensão da Fase 0 nas fibras de Purkinje e miocárdicas (Figura 17.7). Isso causa redução acentuada da velocidade de condução em todo o tecido cardíaco, com pouco efeito na duração do potencial de ação e no período refratário. A automaticidade é reduzida pelo aumento do potencial limiar, em vez da diminuição na inclinação da despolarização na Fase 4. Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ K+ K+ K+ K+ K+ K+ Na+ Na+ Lidocaína mexiletina e tocainida bloqueiam os canais de sódio abertos ou inativados. Esses fármacos apresentam velocidade rápida de associação com canais de sódio. Exterior Membrana Interior Correntes de potencial de ação Correntes diastólicas –85 mV Fase 3 (IK) Fase 0 (INa) 0 mV Sem fármaco Período refratárioefetivo Os fármacos da classe IB encurtam a repolarização de Fase 3 e diminuem a duração do potencial de ação. Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Figura 17.6 Diagrama dos efeitos dos fármacos da Classe IB. INa e IK são correntes trans- membranas decorrentes do movimento de Na+ e K+, respectivamente. Clark-5ed_17.indd 213Clark-5ed_17.indd 213 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Sistema Cardiovascular: Angina, IC, Antiarrítimico | PARTE 3 139 214 Clark, Finkel, Rey & Whalen 2. Usos terapêuticos. A flecainida é útil no tratamento de arritmias ventriculares refratárias. Ela é particularmente útil na supressão de contração ventricular prematura. A flecainida apresenta efeito ino- trópico negativo e pode agravar a insuficiência cardíaca congestiva. 3. Farmacocinética. A flecainida é absorvida por via oral, sofre bio- transformação mínima e tem meia-vida de 16 a 20 horas. 4. Efeitos adversos. A flecainida pode causar tontura, visão emba- çada, cefaleia e náusea. Como outros fármacosda classe IC, a fle- cainida pode agravar arritmias preexistentes ou induzir taquicardia ventricular potencialmente fatal e é resistente ao tratamento. I. Propafenona Esse fármaco da classe IC tem ações semelhantes às da flecainida. A propafenona, como a flecainida, reduz a velocidade de condução em todos os tecidos cardíacos e é considerado um antiarrítmico de amplo espectro. IV. FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS DA CLASSE II Os fármacos da classe II são antagonistas adrenérgicos. Eles reduzem a des- polarização de Fase 4, deprimem, assim, a automaticidade, prolongam a con- dução AV e diminuem a frequência e a contratilidade cardíacas. Os fármacos da classe II são úteis no tratamento de taquiarritmias causadas por aumento da atividade simpática. Eles também são usados contra palpitação e fibrilação atrial e contra a taquicardia de reentrada no nó AV. (Nota: em contraste com os bloqueadores de canais de sódio, os bloqueadores e os compostos da classe III, como sotalol e amiodarona, têm uso crescente.) A. Propranolol O propranolol reduz a incidência de arritmias súbitas fatais depois do infarto do miocárdio (a causa mais comum de morte nesse grupo de pa- cientes). Ele reduz a taxa de mortalidade no primeiro ano após um ata- que cardíaco, significativamente, em parte devido à sua capacidade de prevenir arritmias ventriculares. B. Metoprolol O metoprolol é o antagonista �-adrenérgico mais amplamente usado no tratamento de arritmias cardíacas. Comparado ao propranolol, ele reduz o risco de broncoespasmo. Como o propranolol, é extensamente bio- transformado e tem ampla penetração no SNC. C. Esmolol O esmolol é um �-bloqueador de ação muito curta usado por via IV no tratamento de arritmias agudas que ocorrem durante cirurgias ou situa- ções emergenciais. V. FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS DA CLASSE III Os fármacos da classe III bloqueiam os canais de potássio (K+) e, assim, dimi- nuem o efluxo de potássio durante a repolarização das células cardíacas. Es- ses fármacos prolongam a duração do potencial de ação sem alterar a Fase 0 de despolarização ou o potencial de repouso da membrana (Figura 17.8). 2+ Ca2+ K+ K+ K+ K+ K+ Na+ Na+ Exterior Interior Membrana Correntes de potencial de ação Correntes diastólicas Flecainida e propafenona bloqueiam os canais de sódio abertos ou inativados. Esses fármacos apresentam veloci- dade baixa de associação aos canais de sódio. Os fármacos da classe IC tornam a despolarização de Fase 0 marcadamente lenta. Sem fármaco 0 mV Fase 0 (INa) Fase 3 (IK) Período refratárioefetivo Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ –85 mV Figura 17.7 Diagrama dos efeitos dos fármacos da classe IC. INa e IK são correntes trans- membranas decorrentes do movimento de Na+ e K+, respectivamente. Clark-5ed_17.indd 214Clark-5ed_17.indd 214 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 140 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 215 Ao contrário, eles prolongam o período refratário efetivo aumentando a refra- tariedade. Todos os fármacos da classe III têm potencial de induzir arritmias. A. Amiodarona 1. Ações. A amiodarona contém iodo e é estruturalmente relacionada com a tiroxina. Ela apresenta efeitos complexos, mostrando ações de fármacos das classes I, II, III e IV. Seu efeito dominante é o pro- longamento da duração do potencial de ação e do período refratá- rio. A amiodarona tem atividade antianginosa e antiarrítmica. 2. Usos terapêuticos. A amiodarona é eficaz no tratamento de ta- quiarritmias supraventriculares e ventriculares refratárias graves. A amiodarona tem sido a base do tratamento da fibrilação atrial (FA). A amiodarona revelou-se eficaz em manter o ritmo sinusal. Apesar do seu perfil de efeitos adversos, ela é o antiarrítmico mais comu- mente empregado. 3. Farmacocinética. A amiodarona é absorvida incompletamente após a administração oral. O fármaco é incomum por apresentar meia-vida de várias semanas e se distribui extensamente no tecido adiposo. Os efeitos clínicos completos podem não ser obtidos até seis semanas após o início do tratamento, a menos que sejam em- pregadas doses de ataque. 4. Efeitos adversos. A amiodarona apresenta uma variedade de efei- tos tóxicos. Após o uso prolongado, mais da metade dos pacientes apresentam efeitos adversos que são suficientemente graves para suspender o uso. Todavia, o uso de dosagens baixas diminui a toxi- cidade e mantém a eficácia clínica. Alguns dos efeitos adversos são fibrose intersticial pulmonar, intolerância gastrintestinal, tremores, ataxia, tontura, hiper ou hipotireoidismo, toxicidade hepática, fotos- sensibilidade, neuropatia, fraqueza muscular e coloração azulada da pele causada pelo acúmulo cutâneo de iodeto. B. Dronedarona A dronedarona é um derivado benzofurano da amiodarona que é menos lipofílico, tem menor acúmulo tecidual e meia-vida sérica menor que a amiodarona. Não tem moléculas de iodo que são responsáveis pelas dis- funções tireóideas associadas com a amiodarona. Como a amiodarona, a dronedarona tem ações das classes I, II, III e IV. A maioria dos efeitos adversos é de natureza GI e inclui náuseas, êmese e diarreia. Um recen- te estudo de 7 meses em pacientes com fibrilação atrial revelou que a dronedarona é menos eficaz que a amiodarona em diminuir a recorrência de FA, mas tem perfil de segurança maior especificamente com relação a eventos tireóideos e neurológicos e não interage com os anticoagulantes orais. Entretanto, são necessários mais estudos comparativos de longa duração com a amiodarona para definir o papel da dronedarona no trata- mento da fibrilação atrial. C. Sotalol O sotalol, embora sendo um fármaco da classe III de antiarrítmicos, também apresenta atividade �-bloqueadora não seletiva e potente. O sotalol tem dois estereoisômeros com diferentes atividades farmaco- lógicas. O isômero levorotatório (isotalol) é responsável pela atividade �-bloqueadora, e o d-sotalol, pela ação antiarrítmica de classe III. Está bem estabelecido que os �-bloqueadores reduzem a mortalidade asso- ciada ao infarto agudo do miocárdio. Ca2+ Ca2+ Ca2+ Na+ Na+ Período refratárioefetivo Amiodarona, dofetilida e sotalol bloqueiam os canais de potássio. –85 mV Sem fármaco 0 mV Fase 0 (INa) Fase 3 (IK) Membrana Interior Exterior Correntes de potencial de ação Correntes diastólicas Os fármacos da classe III prolongam a repolarização de Fase 3, sem alterar a Fase 0. +K +K +K +K Figura 17.8 Diagrama dos efeitos dos fármacos da classe III. INa e IK são correntes trans- membranas decorrentes do movimento de Na+ e K+, respectivamente. Clark-5ed_17.indd 215Clark-5ed_17.indd 215 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Sistema Cardiovascular: Angina, IC, Antiarrítimico | PARTE 3 141 216 Clark, Finkel, Rey & Whalen 1. Ações. O sotalol bloqueia a corrente de saída rápida de potássio, conhecida como retificação retardada. Esse bloqueio prolonga a despolarização e a duração do potencial de ação, prolongando, as- sim, o período refratário efetivo. 2. Usos terapêuticos. Os �-bloqueadores são usados no tratamento de longa duração para diminuir a taxa de morte súbita após infarto agudo do miocárdio. Os �-bloqueadores têm habilidade modesta em suprimir os batimentos ectópicos e reduzir a demanda miocár- dica de oxigênio. Eles apresentam potente efeito antifibrilatório, par- ticularmente no miocárdio isquêmico. O sotalol é mais eficaz em prevenir a recorrência de arritmia e em diminuir a mortalidade do que imipramina, mexiletina, procainamida, propafenona e quinidina em pacientes com taquicardia ventricular sustentada (Figura 17.9). 3. Efeitos adversos. O sotalol apresenta a menor frequência de efei- tos adversos agudos ou de longo prazo. Como todos os fármacos que prolongam o intervalo QT, a síndrome torsade de pointes é um potencial efeito adverso grave, observado em 3 a 4% dos pacientes. D. Dofetilida A dofetilida pode ser usadacomo fármaco antiarrítmico de primeira linha em pacientes com fibrilação atrial persistente e insuficiência cardíaca ou em pacientes com doença arterial coronariana com comprometimento da função ventricular esquerda. Devido ao risco de pró-arritmia, o início do uso de dofetilida é limitado ao paciente hospitalizado e restrito para prescritores que completaram a sessão de treinamento específica com o fabricante. Junto com amiodarona e �-bloqueadores, a dofetilida é o úni- co antiarrítmico recomendado pelos especialistas para o tratamento da fibrilação atrial em ampla faixa de pacientes. A meia-vida é de 10 horas. Sua excreção é na urina, sendo 80% na forma inalterada e 20% na forma de metabólitos inativos ou minimamente ativos. VI. FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS DA CLASSE IV Os fármacos da classe IV são bloqueadores de canais de cálcio (ver p. 236). Eles diminuem a corrente de entrada do cálcio (Ca2+), resultando em diminui- ção da velocidade de despolarização espontânea da Fase 4. Eles também diminuem a velocidade de condução em tecidos que dependem de correntes de cálcio, como o nó AV (Figura 17.10). Embora haja canais de cálcio volta- gem-sensíveis em muitos tecidos diferentes, o principal efeito dos bloqueado- res de canais de cálcio ocorre no músculo liso vascular e no coração. A. Verapamil e diltiazem O verapamil apresenta maior ação no coração do que no músculo liso vascular, ao passo que o nifedipino, um bloqueador de canal de cálcio usado no tratamento da hipertensão (ver p. 236), exerce um efeito mais intenso no músculo liso vascular do que no coração. O diltiazem tem uma ação intermediária. 1. Ações. O cálcio entra nas células por canais voltagem-sensíveis e por canais operados por receptores que são controlados pela ligação de agonistas, como as catecolaminas, a receptores de membrana. Os Ano 0 1 2 3 4 0 100 50 Sotalol Outros fármacos: Imipramina Mexiletina Procainamida Propafenona Quinidina Ó b it o c u m u la ti vo d ev id o a a rr it m ia s (% ) Figura 17.9 Comparação do sotalol com cinco ou- tros fármacos com relação aos óbitos decorrentes de arritmias cardíacas. Clark-5ed_17.indd 216Clark-5ed_17.indd 216 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 142 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 217 bloqueadores de canais de cálcio, como verapamil e diltiazem, são mais eficazes sobre os canais voltagem-sensíveis, causando diminui- ção na corrente lenta para o interior da célula que dispara a contração cardíaca. Verapamil e diltiazem somente se ligam a canais abertos despolarizados, impedindo a repolarização até que o fármaco se dis- socie do canal. Portanto, esses fármacos são “uso-dependentes”, ou seja, eles bloqueiam mais efetivamente quando o coração está baten- do rapidamente, pois, no coração batendo normalmente, os canais de cálcio têm tempo para repolarizar, e o fármaco ligado se dissocia do canal antes do próximo pulso de condução. Diminuindo a corrente de cálcio para o interior, verapamil e diltiazem reduzem a velocidade de condução e prolongam o período refratário efetivo em tecidos depen- dentes de correntes de cálcio, como o nó AV. Portanto, esses fármacos são eficazes no tratamento de arritmias que precisam passar por teci- dos cardíacos dependentes de cálcio. 2. Usos terapêuticos. O verapamil e o diltiazem são mais eficazes contra arritmias atriais do que contra as ventriculares. Eles são úteis no tratamento de taquicardia supraventricular de reentrada e na re- dução da frequência ventricular na palpitação (flutter) e fibrilação atriais (redução da velocidade ventricular). Além disso, esses fárma- cos são usados no tratamento de hipertensão e angina. 3. Farmacocinética. O verapamil e o diltiazem são absorvidos após administração via oral. O verapamil é extensamente biotransforma- do pelo fígado: portanto, deve-se ter cuidado quando esse fármaco é administrado em pacientes com disfunção hepática. 4. Efeitos adversos. O verapamil e o diltiazem têm propriedade inotrópi- ca negativa e, por isso, podem ser contraindicados em pacientes com função cardíaca deprimida preexistente. Ambos os fármacos também podem diminuir a pressão arterial devido à vasodilatação periférica – um efeito que é até benéfico no tratamento da hipertensão. VII. OUTROS FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS A. Digoxina A digoxina diminui o período refratário nas células miocárdicas atriais e ventriculares ao mesmo tempo em que aumenta o período refratário efetivo e diminui a velocidade de condução no nódulo AV. A digoxina é usada no controle da velocidade de resposta ventricular na fibrilação e na palpitação atrial. Em concentrações tóxicas, a digoxina causa batimentos ventriculares ectópicos que podem resultar em taquicardia e fibrilação ventriculares. (Nota: essa arritmia normalmente é tratada com lidocaína ou fenitoína.) B. Adenosina A adenosina é um nucleosídeo de ocorrência natural que, em doses altas, diminui a velocidade de condução, prolonga o período refratário e diminui a automaticidade no nó AV. A adenosina por via IV é o fármaco de escolha para abolir taquicardia supraventricular aguda. Ela tem baixa toxicidade, mas causa rubor, dor torácica e hipotensão. A adenosina tem uma dura- ção de ação extremamente curta (aproximadamente 15 segundos). K + K + K + K + K + Os fármacos da classe IV tornam lenta a despolarização de Fase 4 espontânea e diminuem a velocidade de condução em tecidos dependentes de correntes de cálcio, como o nó AV. Verapamil, diltiazem e nifedipino bloqueiam os canais de cálcio abertos ou inativados. Ca2+ Ca2+ Ca2+ Sem fármaco 0 mV Fase 0 ICa Notar –75mV Período refratário efetivo Ação do grupo IV Fase 2 (ICa e IK) Correntes de potencial de ação Correntes diastólicas Exterior Membrana Interior Na+Na+ Figura 17.10 Diagrama dos efeitos dos fármacos da classe IV. ICa e IK são correntes trans- membranas decorrentes do movimento de Ca+ e K+, respectivamente. Clark-5ed_17.indd 217Clark-5ed_17.indd 217 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Sistema Cardiovascular: Angina, IC, Antiarrítimico | PARTE 3 143 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 4 Laxantes e Antidiarréicos O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 146 FARMACOLOGIA GERAL Laxantes e antidiarreicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as classes de fármacos laxantes e antidiarreicos. Explicar o mecanismo de ação, os usos terapêuticos e os efeitos ad- versos dos laxantes. Descrever o mecanismo de ação, os usos terapêuticos e os efeitos adversos dos antidiarreicos. Introdução O trato gastrointestinal (TGI) é caracterizado por atividade absortiva, contrátil ou secretora, e, embora a principal funç ã o do intestino delgado seja a digestão e a absorção dos nutrientes provenientes dos alimentos, o intestino delgado e o colo, juntos, executam funç õ es importantes, que regulam a secreç ã o e a absorç ã o de á gua e eletrólitos (LONGO; FAUCI, 2015). O teor final de lí quidos nas fezes depende de um equilí brio entre a quantidade que entra no lúmen (ingestã o e secreç ã o de á gua e eletró litos) e o volume que sai (absorç ã o) ao longo de todo o TGI. Assim, o volume e a consistência das fezes é resultante da quantidade de líquidos, e a água representa em torno de 70% a 85% da massa fecal total. Condições que promovem a reduç ã o da motilidade e a remoç ã o excessiva de lí quidos tornam as fezes endurecidas e impactadas, le- vando à constipaç ã o. Por outro lado, um aumento da capacidade de absorç ã o de lí quidos pelo cólon desencadeia um quadro de diarreia. Já as alteraç õ es nas funç õ es motoras e sensoriais do colo resultam em sí ndromes altamente prevalentes, como a do intestino irritável, além de diarreiae constipaç ã o (LONGO; FAUCI, 2015). A constipaç ã o e a diarreia sã o patologias comuns e são responsá veis por um alto índice de mortalidade, morbidade, desconforto social, perda de produtividade no trabalho e custo com recursos médicos e medicamentos. Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Laxantes e Antidiarréicos | PARTE 4 147 Em geral, apesar da diarreia e da constipaç ã o apresentarem-se apenas como simples sintomas incômodos, por outro lado, podem sinalizar patologias graves ou potencialmente fatais. No entanto, vale ressaltar que, mesmo os sintomas leves podem sinalizar uma lesã o gastrintestinal subjacente grave, como o câ ncer colorretal, ou um distú rbio sistê mico, como a doenç a tireoideana (LONGO; FAUCI, 2015). Nesse cenário, diante das inúmeras possibilidades de causas e gravida- des dessas patologias, é muito importante que se conheçam os aspectos fisiopatológicos bem como os princípios terapê uticos da diarreia e da constipaç ã o, de modo a oferecer um tratamento racional aos pacientes (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Nesse capítulo vamos abordar os mecanismos de ação e efeitos ad- versos das diferentes classes de fármacos laxantes e antidiarreicos. Fármacos laxantes Os fármacos laxantes são comumente usados para tratar a constipação, uma queixa comum na prá tica clí nica que em geral se refere à defecação difí cil, in- frequente ou aparentemente incompleta e persistente (LONGO; FAUCI, 2015). Em geral, as definições científicas para a constipação baseiam-se principal- mente no nú mero de evacuaç õ es por semana, e estudos têm demonstrado que, em indivíduos com a dieta ocidental, a frequê ncia normal das evacuaç õ es pode variar de 3 vezes ao dia até pelo menos 3 vezes/semana. No entanto, utiliza-se o termo constipaç ã o nã o somente para descrever a reduç ã o da frequê ncia, mas també m para expressar a dificuldade de iniciar ou evacuar, a eliminaç ã o de fezes duras ou pequenas, ou a sensaç ã o de evacuaç ã o incompleta (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). Ou seja, apesar de comumente definida como frequência de evacuações inferior a 3 vezes/semana, constipação intesti- nal também pode envolver outras queixas como esforço evacuatório aumentado e fezes muito endurecidas (FUCHS; WANNMACHER, 2017). A constipaç ã o, muito comum em mulheres e idosos, em geral está associada a muitas causas reversíveis ou secundá rias, incluindo uma baixa ingestã o de fibras dieté ticas, fá rmacos que interferem com a motilidade intestinal (analgésicos opioides; anti-hipertensivos, clonidina e propranolol; verapamil; antidepressivos tricíclicos; antiparkinsonianos; carbonato de cálcio), alterações hormonais, distú rbios neurogênicos e doenç as sistêmicas. Porém, na maioria dos casos de constipaç ã o crô nica, nã o é encontrada uma causa especí fica Laxantes e antidiarreicos2 148 FARMACOLOGIA GERAL (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Exceto em casos passíveis de tratamentos específicos, recomenda-se o manejo sintomático de constipação intestinal através de medidas não farma- cológicas, devido a custo e risco baixos, além de potencial benefício à saúde geral, são geralmente indicadas. Medidas não farmacológicas que incluem (a) dieta rica em fibras (25 a 30 g/dia) associada à ingestão adequada de líquidos; (b) atividade física e (c) desenvolvimento de reflexo condicionado, ou seja, condicionamento do mesmo horário diário para evacuação, preferencialmente pela manhã, após o desjejum. Entretanto, não há evidência de que a constipação intestinal melhore com aumento da ingestão hídrica, exceto em pacientes desidratados. Em relação à atividade física, há evidência de menos distensão abdominal por gases com atividade física leve. Aumento do consumo de fibras ou uso de suplemento de fibras e agentes formadores do bolo fecal constituem recomendação frequentemente utilizada (FUCHS; WANNMACHER, 2017). Vale ressaltar que, para a maioria dos pacientes com constipação intesti- nal leve, medidas não farmacológicas mostram-se eficazes. Quando não há resposta, indicam-se alguns laxativos com propriedade de acumular água e eletrólitos no lúmen intestinal (laxantes formadores de bolo fecal), favorecendo assim o peristaltismo. Devem ser evitados os laxativos com mecanismo de ação irritante da mucosa colônica (FUCHS; WANNMACHER, 2017). Vejamos agora as características farmacológicas (mecanismo de ação, usos terapêuticos e efeitos adversos) das diferentes classes de fármacos laxantes. Para informações mais detalhadas sobre a fisiopatologia da constipação, leia o livro Gastrenterologia e hepatologia de Harrison de D. Longo e A. Fauci. 3Laxantes e antidiarreicos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Laxantes e Antidiarréicos | PARTE 4 149 Mecanismos de ação, usos terapeuticos e efeitos adversos de fármacos laxantes Laxantes formadores de bolo fecal Os laxantes formadores de bolo fecal, também denominados de laxativos formadores de massa ou expansores de bolo fecal, são coloides hidrofílicos não digeríveis que promovem a retenção de água nas fezes. Dentre os repre- sentantes de tal classe, pode-se citar as fi bras solúveis (psyllium, metilcelulose, goma guar, goma guar parcialmente hidrolisada), fi bra sintética (policarbofi la cálcica) e fi bra insolúvel (farelo de trigo). Esses agentes promovem a absorção da água, formando assim um gel emoliente e volumoso no intestino grosso, causando a distensã o intestinal, aumentando, assim, a atividade peristá ltica (KATZUNG; TREVOR, 2017). O uso desses agentes pode facilitar a formação do bolo fecal e aumentar o número de evacuações semanais, sendo úteis em pacientes com constipação leve ou crônica devido à quantidade insuficiente de água no bolo fecal. Em geral, são bem tolerados e com baixos índices de efeitos adversos, porém pode ocorrer obstrução mecânica do esôfago e do cólon, particularmente com as fibras insolúveis. Devem ser usados com cautela em pacientes que se encontram imobilizados, pois apresentam potencial de causar obstruç ã o intes- tinal (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Metilcelulose pode causar cólica abdominal, diarreia, náusea, vômito. Laxantes irritantes ou estimulantes Os laxantes irritantes ou estimulantes (catá rticos) induzem evacuaç ã o intes- tinal por meio de vá rios mecanismos, apesar de que são pouco elucidados, que incluem a estimulaç ã o direta do sistema nervoso entérico e a secreç ã o colônica de eletró litos e lí quidos. O uso de tais laxantes pode ser necessá rio a longo prazo, sobretudo em pacientes com comprometimento neurológico e em pacientes acamados em instituiç õ es de cuidados prolongados. Como exemplos, temos o óleo de rícino, derivados de difenilmetano (fenolf- taleína e bisacodil) e derivados antracênicos (sene, cáscara-sagrada, ruibarbo, dantrona), sendo que bisacodil e sene são os mais utilizados (KATZUNG; TREVOR, 2017). Com relação ao mecanismo de ação, esses fármacos estimulam termina- ções nervosas sensitivas na mucosa colônica, afetando o transporte de água Laxantes e antidiarreicos4 150 FARMACOLOGIA GERAL e eletrólitos do epitélio intestinal, e, dessa forma, promovem a retenção de água no lúmen intestinal e aumento de motilidade, estimulação de secreção de água/eletrólitos para o lúmen intestinal. Os derivados da antraquinona, aloe, sene e cá scara sagrada, ocorrem na- turalmente em plantas. Esses laxantes sã o pouco absorvidos e, apó s hidró lise no có lon, produzem evacuaç ã o em 6 a 12 horas quando administrados por via oral, e dentro de duas horas quando administrados por via retal. Seu uso crô nico leva à uma coloração castanha, conhecida como melanose do có lon. Em produtos associados, contendo o amolecedor de fezes docusato, esse fá rmaco é ú til no tratamento das constipações causadas por opioides (SILVA,2010). O bisacodil, derivado do difenilmetano, está disponí vel em comprimidos e supositó rios para o tratamento da constipaç ã o intestinal aguda e crô nica. Atua diretamente nas fibras nervosas na mucosa do colo do intestino e produz evacuaç ã o dentro de 6 a 10 horas quando administrado por via oral e em 30 a 60 minutos quando administrado por via retal. O óleo de rícino é hidrolisado no intestino delgado em á cido ricinoleico, que tende a irritar muito o intestino e, dessa forma, aumenta o peristaltismo. Deve ser evitado em gestantes, pois pode estimular contraç õ es do útero (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Laxantes amolecedores do bolo fecal Os laxantes amolecedores do bolo fecal, também denominados de laxantes umectantes e emolientes fecais ou surfactantes, promovem o amolecimento do bolo fecal. Exemplos incluem o docusato, administrado por via oral ou enema, e os supositó rios de glicerina. O docusato só dico (sulfossuccinato de dioctil só dico) e o docusato cá lcico (sulfossuccinato de dioctil cá lcico) sã o surfactantes aniô nicos que reduzem a tensã o superficial das fezes, com o objetivo de facilitar a mistura das substâ ncias aquosas e gordurosas, amolecer as fezes e permitir a evacuaç ã o mais fá cil (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). Com relação ao mecanismo de ação, esses fá rmacos promovem o amole- cimento do bolo fecal, possibilitando a penetraç ã o de á gua e lipí deos. O docusato age como um detergente, possibilitando maior interação entre a água e o conteúdo sólido das fezes, permitindo seu amolecimento. Pode ser utilizado na dose de 60 a 120 mg ao deitar. Tem eficácia bastante questionável, provavelmente inferior ao Psyllium, sem evidência suficiente para indicação no tratamento da constipação crônica. Praticamente não existem efeitos adversos 5Laxantes e antidiarreicos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Laxantes e Antidiarréicos | PARTE 4 151 relatados. É considerado seguro o uso na gravidez, porém recomenda-se não usar no primeiro trimestre de gestação. Nesse grupo de laxantes também pode-se citar o ó leo mineral, agente que lubrifica o material fecal, retardando a absorç ã o de á gua das fezes. É utilizado na prevenç ã o e no tratamento da impactaç ã o fecal em crianç as de pouca idade e em adultos debilitados. Nã o é saboroso, mas pode ser misturado com sucos. A aspiraç ã o pode resultar em pneumonite grave por lipí deo. Portanto, o ó leo mineral nã o deve ser usado em pacientes acamados devido à possibilidade de aspiraç ã o. O uso em longo prazo pode comprometer a absorç ã o das vitaminas lipossolú veis (A, D, E, K) (KATZUNG; TREVOR, 2017). Laxantes salinos e osmóticos Os laxantes salinos e osmóticos são também denominados agentes osmoti- camente ativos. Os mais utilizados são o hidróxido de magnésio, o polietile- noglicol (PEG), a lactulose e o sorbitol. Sã o compostos solú veis, poré m nã o absorví veis, que resultam em aumento da liquefaç ã o das fezes, devido a um aumento da á gua fecal (KATZUNG; TREVOR, 2017). Os laxantes que contê m cá tions de magné sio ou â nions de fosfato geral- mente sã o conhecidos como laxantes salinos: sulfato de magné sio, hidró xido de magné sio, citrato de magné sio ou fosfato de só dio. A aç ã o catártica desses fá rmacos supostamente resulta da retenç ã o de á gua por via osmótica, que resulta em estimulo da peristalse. Outros mecanismos podem contribuir para seus efeitos, inclusive a produç ã o de mediadores inflamató rios. Os laxantes que contê m magné sio podem estimular a liberaç ã o de colecistocinina, que resulta no acú mulo intraluminar de lí quidos e eletró litos e aumenta a motilidade intestinal (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). São frequentes as queixas de dor ou desconforto abdominal durante o uso dessas medicações. Soluções eletrolíticas contendo polietilenoglicol (PEG) sã o usadas como lavagens colô nicas para preparar o intestino para procedimentos endoscópicos ou radiológicos. Esse fá rmaco causa menos cólicas e gases do que outros laxantes (FUCHS; WANNMACHER, 2017). O sorbitol e a lactulose sã o aç ú cares nã o absorví veis, que podem ser uti- lizados na prevenç ã o ou no tratamento da constipaç ã o intestinal crô nica. Esses aç ú cares sã o metabolizados por bacté rias colô nicas, produzindo intensa flatulê ncia e có licas. Os agentes osmoticamente ativos, quando administrados em altas doses, produzem evacuaç ã o imediata (purgaç ã o) dentro de 1 a 3 horas. O rá pido movimento de á gua na porç ã o distal do intestino delgado e do có lon resulta em grande volume de fezes lí quidas, seguido de evacuaç ã o intestinal. Laxantes e antidiarreicos6 152 FARMACOLOGIA GERAL Citrato de magné sio, uma soluç ã o de sulfato e uma associaç ã o de ó xido de magné sio, picossulfato de só dio e citrato podem ser usados no tratamento da constipaç ã o intestinal aguda ou para limpeza do intestino antes de procedimen- tos mé dicos (colonoscopia) (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). É muito importante que os pacientes em uso desses fá rmacos mantenham uma hidrataç ã o adequada, ingerindo uma quantidade aumentada de lí quido para com- pensar a perda de lí quido fecal. Laxantes ativadores dos canais de cloreto A lubiprostona é um derivado do á cido prostanoico indicado para uso na constipaç ã o intestinal crô nica e na sí ndrome do intestino irritável. O mecanismo de ação envolve a ativação local de canais de cloro em porção proximal do intestino, aumentando a secreção intestinal de fluidos e a motilidade intestinal (FUCHS; WANNMACHER, 2017). Assim, promove o aumento da secreç ã o de lí quido rico em cloreto no intestino, o que estimula a motilidade intestinal e diminui o tempo de trâ nsito intestinal. A maioria dos pacientes apresenta evacuaç ã o dentro de 24 horas apó s a administraç ã o de uma dose, e parece nã o haver nenhuma perda da eficá cia do fá rmaco com o uso em tratamento em longo prazo. Apó s a interrupç ã o da lubiprostona, a constipaç ã o pode retornar aa sua gravidade antes do tratamento. Os efeitos adversos da lubiprostona incluem ná useas, cefaleia, diarreia, reaç õ es alé rgicas e dispneia. Atenção, a lubiprostona não deve ser usada na gestação, pois foi incluí da na categoria C para gravidez, devido a um aumento da perda fetal em cobaias. A lubiprostona pode causar ná useas em até 30% dos pacientes, devido ao esvaziamento gá strico tardio (KATZUNG; TREVOR, 2017). Laxantes agonistas seletivos dos receptores 5-HT4 Os laxantes agonistas seletivos dos receptores 5-HT4 são tegaserode e pruca- loprida. O tegaserode é um agonista parcial 5-HT4 da serotonina, foi aprovado 7Laxantes e antidiarreicos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Laxantes e Antidiarréicos | PARTE 4 153 para o tratamento de pacientes com constipaç ã o crô nica e síndrome do intestino irritável mas foi retirado do mercado nos EUA e Europa. No Brasil, seu uso é permitido para mulheres com menos de 55 anos com diagnóstico de sín- drome do intestino irritável com predomínio de constipação e sem cardiopatia (KATZUNG; TREVOR, 2017). A prucaloprida é um agonista serotoninérgico altamente seletivo do receptor 5-HT4, disponí vel para o tratamento da constipaç ã o intestinal crô nica em mulheres, particularmente para aquelas que não responderam aos laxativos convencionais. É bem tolerada e tem boa eficácia e segurança. Os efeitos adversos mais frequentes com o uso da medicação são cefaleia, dor abdominal, náusea e vômitos, nenhum com maior gravidade. Apesar de ter um mecanismo de ação bastante semelhante ao tegaserode, a prucaloprida apresenta menor risco de eventos cardiovasculares (FUCHS; WANNMA- CHER, 2017). O medicamento Zelmac® (tegaserode) pode conti- nuar a ser comercializado e utilizado no Brasil, porém, com restrições, ou seja, a indústria Novartis teve que alterar no texto de bula do medicamentoZelmac® (tegaserode) restringindo seu uso para “mulheres com diagnóstico de Síndrome do Intestino Irritável, com até 55 anos de idade, sem doenças cardiovasculares conhecidas ou fatores de risco para elas”. Delibera- ção da Anvisa sobre medidas regulatórias a serem adotadas nesse momento no Brasil para o produto Zelmac® (tegaserode). Veja as informações no link. https://goo.gl/g72efz Laxantes agonistas de receptor da guanilato ciclase C A linaclotida é um peptí deo que estimula a secreç ã o intestinal de cloreto e está aprovada para o tratamento da constipaç ã o intestinal crô nica e síndrome do intestino irritável. Laxantes e antidiarreicos8 154 FARMACOLOGIA GERAL Quanto ao mecanismo de ação, a linaclotida se liga e ativa a guanililciclase C na superfí cie epitelial intestinal luminal, resultando em aumento do GMPc intracelular e extracelular, que leva a um aumento de secreç ã o rica em cloreto, e alteraç ã o do trâ nsito intestinal (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). No início do tratamento com a linaclotida, em geral na primeira semana de tratamento, observa-se aumento médio de 1 a 2 evacuaç õ es por semana. Com a interrupç ã o do uso do fá rmaco, a frequê ncia de evacuaç õ es normaliza-se dentro de 1 semana. O efeito colateral mais comum consiste em diarreia, que ocorre em até 20% dos pacientes, com diarreia grave em 2%, porém poucos pacientes necessitam descontinuar a medicação, além de ter resolução espontânea, sem intervenção médica, na maioria dos casos. Outras reações adversas descritas são flatulência, distensão abdominal, náusea e infecção de vias aéreas superiores. Não deve ser usada na gravidez e também é contraindicado o uso na pediatria (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A constipaç ã o pode ser decorrente do uso de medicamentos. Os analgésicos opioides sã o a principal classe de analgé sicos utilizados no manejo da dor em pacientes onco- lógicos. Porém, os opioides causam constipaç ã o grave que reduz significativamente sua aceitaç ã o e a qualidade de vida do paciente. Tradicionalmente, laxantes clássicos e estraté gias na dieta sã o, com frequê ncia, ineficazes no controle da constipaç ã o pelos opioides; porém, uma estraté gia promissora é a prevenç ã o da constipaç ã o causada pelo opioide através do uso de antagonista de receptor opioide-μ, metilnaltrexona, que atua na origem especí fica da constipaç ã o, sem limitar a analgesia produzida por aç ã o central (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). Fármacos antidiarreicos A diarreia é o resultado de uma passagem muito rá pida do conteúdo intesti- nal, de modo que a reabsorção de á gua e eletró litos é insufi ciente; pode ser decorrente de inúmeras causas: (a) infecç õ es bacterianas ou virais que causam processos infl amató rios, pois determinados microrganismos produzem toxinas 9Laxantes e antidiarreicos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Laxantes e Antidiarréicos | PARTE 4 155 que inibem funç õ es do epité lio intestinal, como o co-transporte de Na+ e Cl–; (b) desregulação vegetativa com predomínio dos movimentos propulsivos que pode ser de origem psíquica, ou devido a efeito adverso de medicamentos; (c) distú rbio funcional do intestino, decorrente de defeitos gené ticos na defesa contra infecç õ es na doenç a de Crohn e na colite ulcerosa; e (d) distú rbios metabó licos como insufi ciê ncia pancreática e esteatorreia (LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017). Por outro lado, vale ressaltar que a diarreia pode ser um distú rbio inócuo (diarreia de viagem) que ocorre ocasionalmente, mas pode contribuir para o aumento da incidência de morte, em especial nos países subdesenvolvidos, ao atingir crianç as subnutridas, ou pode ser um sintoma crônico (doenç a de Crohn e colite ulcerosa) (LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017). Quanto ao mecanismo subjacente, a diarreia pode ser causada pela sobre- carga osmó tica presente no intestino (resultante da retenç ã o de á gua dentro do lúmen intestinal); pela secreç ã o excessiva de eletró litos e á gua no lú men do ó rgã o; pela exsudaç ã o de proteí nas e lí quidos presentes na mucosa; e pela alteraç ã o da motilidade intestinal, resultando em aceleraç ã o do trâ nsito (e reduç ã o da absorç ã o dos lí quidos). Na maioria dos casos, vá rios processos sã o envolvidos simultaneamente e resultam no aumento global do peso e do volume das fezes com elevaç ã o da porcentagem de á gua fecal (LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Portanto, no manejo de paciente com diarreia, é extremamente importante a investigaç ã o e o entendimento dos processos etioló gicos responsá veis pela diarreia para uma seleção de tratamento eficaz. Vejamos agora as características farmacológicas (mecanismo de ação, usos terapêuticos e efeitos adversos) das diferentes classes de fármacos antidiarreicos. Mecanismo de ação, usos terapêuticos e efeitos adversos de fármacos antidiarreicos O aumento da motilidade do TGI e a diminuiç ã o de absorç ã o de lí quidos sã o os principais fatores na diarreia. Os fá rmacos antidiarreicos podem ser usados com seguranç a em pacientes com diarreia aguda leve a moderada. També m sã o usados no controle da diarreia crô nica em caso de síndrome do intestino irritável ou doenç a inflamató ria intestinal. No entanto, nã o devem ser administrados a pacientes com diarreia sanguinolenta e pacientes com febre alta, devido ao risco de agravamento do Laxantes e antidiarreicos10 156 FARMACOLOGIA GERAL processo subjacente. Atenção: fá rmacos antidiarreicos devem ser suspensos em pacientes cuja diarreia esteja se agravando (FUCHS; WANNMACHER, 2017) Os antidiarreicos incluem fá rmacos antimotilidade, racecadotrila, adsor- ventes e fá rmacos que modificam o transporte de á gua e eletró litos. Fá rmacos antimotilidade Difenoxilato e a loperamida são fármacos análogos a meperidina, com ação tipo opioide no intestino e são amplamente usados para controlar a diarreia (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Com relação ao mecanismo de ação, eles ativam receptores opioides pré - siná pticos no sistema nervoso enté rico para inibir a liberaç ã o de acetilcolina e diminuir o peristaltismo. A loperamida é um agonista opioide de venda livre, que nã o atravessa a barreira hematoencefálica e que nã o exibe nenhuma propriedade analgé sica nem potencial de adiç ã o. A loperamida pode induzir sonolência, tontura, cansaço e boca seca. Suas reações de hipersensibilidade incluem erupções cutâneas. Nã o foi relatado o desenvolvimento de tolerâ ncia ou dependência física com o uso em longo prazo. O difenoxilato é adquirido somente com prescriç ã o médica, e o seu uso prolongado pode resultar em tolerância e dependê ncia de opioides; portanto, recomenda-se a utilização da loperamida. Dentre os efeitos adversos de dife- noxilato, pode-se citar as cólicas, náuseas, vômitos e sonolência em pacientes sensíveis. A superdosagem condiciona depressão do SNC. Tais fá rmacos nã o devem ser usados em pacientes com diarreia sanguino- lenta ou suspeita de diarreia por Shigella, com desidratação moderada a grave e, por prudência, em crianças (FUCHS; WANNMACHER, 2017). Racecadotrila Racecadotrila é um agente antissecretor intestinal puro, que demonstrou não ter qualquer efeito sobre a motilidade gastrintestinal. Reduz a hipersecreção intestinal de água e eletrólitos causada pela toxina do cólera ou infl amação, sem afetar a secreção basal. Portanto, não há qualquer efeito sobre o intestino normal (FUCHS; WANNMACHER, 2017). Quando administrado por via oral, a inibição da encefalinase é puramente periférica, não afetando a atividade da encefalinase no SNC, e não induz dependência nem efeitos estimulantes ou sedativos no SNC. 11Laxantes e antidiarreicos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Laxantes e Antidiarréicos | PARTE 4 157 Racecadotrila parece tão eficaz quantoFigura 19.5) • Insuficiência cardíaca Pós-infarto do miocárdio Doença coronária de alto risco Diabetes Doença renal crônica Prevenção de AVE recorrente • • • • • ‘Peso’ – manter a massa corporal normal (IMC 18,5-24,9) Dieta – TCHD – rica em frutas, vegetais, grãos, produtos lácteos desnatados, sem gordura, colesterol e sódio Sais – reduzir o Na na dieta para menos de 2,4 g/dia ou 6 g/dia NaCl Exercício – atividade aeróbia regular como caminhar (30 min/dia na maioria dos dias) Álcool – limitar a menos de 2 drinques/dia para homens e 1 drinque/dia para mulheres Alcançou o valor pretendido Monitorar Escolha do fármaco inicial Com condições agravantes Não alcançou a pressão arterial pretendida (�140/90 mmHg) (�130/80 mmHg para aqueles com diabetes ou doença renal crônica) Alcançado o objetivo Hipertensão recém-diagnosticada Sem alcançar a pressão arterial desejada Otimizar as dosagens e/ou acrescentar fármaco adicional até alcançar a pressão arterial pretendida. Monitorar Alcançado o objetivo Sem condições agravantes Modificação do estilo de vida Monitorar Alcançado o objetivo Monitorar + Figura 19.7 Normas para o tratamento da hipertensão. TCHD = tentativa de controlar a hipertensão por meio de uma dieta. BCCa = bloqueador de canais de cálcio; BRA = bloqueador de receptor de angiotensina; ECA = enzima conversora de angioten- sina; PAD = pressão arterial diastólica; PAS = pressão arterial sistólica; AVE = acidente vascular encefálico. Clark-5ed_19.indd 231Clark-5ed_19.indd 231 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-hipertensivos | PARTE 1 105 232 Clark, Finkel, Rey & Whalen 1. Ações. Os diuréticos tiazídicos, como a hidroclorotiazida e a clor- talidona, diminuem a pressão arterial inicialmente por aumentar a excreção de sódio e água. Isso causa uma redução do volume ex- tracelular, resultando em diminuição do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo renal (Figura 19.8). Com tratamento prolongado, o volu- me plasmático volta ao valor normal, mas a resistência periférica diminui. Os diuréticos poupadores de potássio são frequentemen- te associados aos tiazídicos para reduzir a espoliação do potássio causada pelos tiazídicos. 2. Usos terapêuticos. Os diuréticos tiazídicos diminuem a pressão ar- terial tanto na posição supina quanto de pé, e raramente é observada hipotensão postural, exceto em pacientes idosos com redução de vo- lemia. Esses fármacos neutralizam a retenção de sódio e água obser- vada com os outros fármacos usados no tratamento da hipertensão (p. ex., hidralazina). Os tiazídicos são, portanto, úteis no tratamento combinado com uma variedade de outros fármacos anti-hipertensi- vos, incluindo �-bloqueadores, inibidores da ECA, bloqueadores de receptor de angiotensina (BRA) e diuréticos poupadores de potássio. Os diuréticos tiazídicos são particularmente úteis no tratamento de pacientes negros ou idosos. Com exceção da metazolina, os diuréti- cos tiazídicos não são eficazes em pacientes com função renal ina- dequada (depuração de creatinina menor que 50 mL/min). Nesses pacientes, podem ser necessários diuréticos de alça. 3. Farmacocinética. Os diuréticos tiazídicos são ativos por via oral. As velocidades de absorção e eliminação variam consideravelmente, embora nenhuma vantagem nítida exista entre eles. Todos os tiazídi- cos são substrato para o sistema secretor de ácido orgânico do ne- fron e, como tal, podem competir com o ácido úrico pela eliminação. 4. Efeitos adversos. Os diuréticos tiazídicos induzem hipopotassemia e hiperuricemia em 70% dos pacientes e hiperglicemia em 10%. Po- dem causar ataque agudo de gota. Hipomagnesemia pode ocorrer também. Os níveis séricos de potássio devem ser cuidadosamen- te monitorados em pacientes predispostos a arritmias cardíacas (particularmente indivíduos com hipertrofia ventricular esquerda, doença cardíaca isquêmica ou insuficiência cardíaca crônica) e nos pacientes que estão sendo tratados concomitantemente com diuré- ticos tiazídicos e digoxina. A incidência de efeitos adversos se reduz quando empregada dosagem baixa de diurético (6,25 a 25 mg/dia de hidroclortiazida). B. Diuréticos de alça Os diuréticos de alça (furosemida, bumetanida e torsemida) atuam rapi- damente, mesmo em pacientes com função renal pobre ou naqueles que não responderam aos tiazídicos ou a outros diuréticos. Os diuréticos de alça causam diminuição da resistência vascular renal e aumento do fluxo sanguíneo renal. (Nota: os diuréticos de alça aumentam o conteúdo de Ca2+ na urina, os diuréticos tiazídicos o diminuem.) C. Diuréticos poupadores de potássio Amilorida e triantereno (inibidores do transporte de sódio epitelial nos ductos distais e coletores), bem como espironolactona e eplerenona (an- tagonistas de receptor da aldosterona) reduzem a perda de potássio na urina. A espironolactona tem a vantagem adicional de diminuir a remode- lação cardíaca que ocorre na insuficiência cardíaca. (A discussão com- pleta dos diuréticos se encontra no Capítulo 22.) Diuréticos tiazídicos Débito cardíaco Retenção de sódio e água Volume sanguíneo Resistência periférica Diminuição na pressão sanguínea Figura 19.8 Alguns efeitos adversos dos diuréticos tiazídicos. Clark-5ed_19.indd 232Clark-5ed_19.indd 232 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 106 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 233 VI. AGENTES BLOQUEADORES DE �-ADRENORRECEPTORES Atualmente os �-bloqueadores são recomendados como tratamento de primeira escolha contra a hipertensão quando está presente uma doença concomitante (ver Fig. 19.5), por exemplo, em pacientes com infarto do miocárdio ou com infarto prévio. Esses fármacos são eficazes, mas apre- sentam algumas contraindicações. A. Ações Os �-bloqueadores reduzem a pressão arterial primariamente pela dimi- nuição do débito cardíaco (Figura 19.9). Eles também podem diminuir o efluxo simpático do SNC e inibir a liberação de renina dos rins, reduzindo, assim, a formação de angiotensina II e a secreção de aldosterona. O pro- tótipo dos �-bloqueadores é o propranolol, que atua em receptores-�1 e �2. Bloqueadores seletivos de receptores �1, como metoprolol e atenolol, estão entre os �-bloqueadores mais comumente prescritos. O nebivolol é um bloqueador seletivo de receptores �1 que aumenta também a produ- ção de óxido nítrico, levando à vasodilatação. Os �-bloqueadores seleti- vos devem ser administrados cautelosamente em pacientes hipertensos que também têm asma. Os �-bloqueadores não seletivos, como propra- nolol e nadolol, são contraindicados devido ao bloqueio da broncodilata- ção mediada por �2. (Ver p. 222 para a discussão sobre �-bloqueadores.) Os �-bloqueadores devem ser usados com cautela no tratamento de pa- cientes com insuficiência cardíaca aguda ou doença vascular periférica. B. Usos terapêuticos 1. Subgrupos de população hipertensa. Os �-bloqueadores são mais eficazes no tratamento de pacientes brancos do que de negros, sen- do também mais eficazes em pacientes jovens do que em idosos. (Nota: condições que desaconselham o uso de �-bloqueadores [p. ex., doença pulmonar obstrutiva crônica grave, insuficiência cardíaca con- gestiva crônica e doença vascular periférica oclusiva sintomática grave] são mais comumente encontradas em pacientes idosos e diabéticos.) 2. Pacientes hipertensos com doenças concomitantes. Os �-blo- queadores são úteis no tratamento de condições que podem coexis- Bloqueadores de �-adrenorreceptores Diminuição da pressão arterial Débito cardíaco Angiotensina II Aldosterona Retenção de sódio e água Volume sanguíneo Resistência periférica Renina Ativação de adrenorreceptores �1 no coração Figura 19.9 Efeitos dos fármacos bloqueadores dos �-adrenorreceptores. Clark-5ed_19.indd 233Clark-5ed_19.indd 233 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADEloperamida em reduzir a duração de diarreia e quantidade de fezes até a recuperação, entretanto está associada à menor incidência de constipação intestinal relacionada ao tratamento. Os efeitos adversos incluem náusea e vômito, constipação, vertigem e cefaleia e raros casos de reação alérgica, incluindo rash cutâneo, urticária e angioedema (FUCHS; WANNMACHER, 2017). Fá rmacos adsorventes Os anticolinérgicos e adsorventes, como caolim coloidal, pectina, carvão ativado e atapulgita ativada, componentes de muitas associações medicamen- tosas, não são tão efi cazes quanto os antidiarreicos opioides (loperamida). O carvão ativado tem uso restrito às intoxicações exógenas. Os anticolinérgicos são mais úteis no controle de cólica intestinal do que em diminuir o número de evacuações ou alterar consistência das fezes; diminuem tônus, contratilidade e secreção intestinais. Os adsorventes revestem a mucosa e se ligam a toxinas, bactérias e outros produtos do lúmen intestinal, aumentando a consistência das fezes. São menos efi cazes que opioides e antimuscarínicos (FUCHS; WANNMACHER, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A hipótese é que esses fá rmacos atuam adsorvendo toxinas intestinais ou microrganismos e/ou revestindo e protegendo a mucosa intestinal. Eles sã o muito menos eficazes do que os fá rmacos antimotilidade e podem interferir na absorç ã o de outros fá rmacos. Fá rmacos que modificam o transporte de lí quido e eletró litos Fá rmacos que modifi cam o transporte de lí quidos e eletró litos, como o sali- cilato de bismuto, diminuem a secreç ã o de lí quidos no intestino (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Salicilato de bismuto estimula absorção de água e eletrólitos pela parede intestinal. Mostrou-se superior a placebo no controle de diarreia inespecífica, na diarreia de viagem e em algumas diarreias agudas infecciosas, entre- tanto foi inferior à eficácia da loperamida nas situações já testadas (FUCHS; WANNMACHER, 2017). O bismuto praticamente não é absorvido no TGI; portanto, os efeitos ad- versos são extremamente raros. Podem ocorrer casos de hipercalcemia, obsti- pação, diarreia, náuseas e vômitos. São bastante comuns o escurecimento da língua e das fezes, porém tais efeitos não têm relevância clínica significativa (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Laxantes e antidiarreicos12 158 FARMACOLOGIA GERAL BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. (Lange). LONGO, D. L.; FAUCI, A. S. Gastrenterologia e hepatologia de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. LÜLLMANN, H.; MOHR, K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELLI, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Leituras recomendadas CONNOR, B. A. Travelers' diarrhea. 2017. Disponível em: . Acesso em: 24 set. 2018. PANUS, P. C. et al. Farmacologia para fisioterapeutas. Porto Alegre: AMGH, 2011. WILLIAMSON, E.; DRIVER, S.; BAXTER, K. Interações medicamentosas de Stockley. Porto Alegre: Artmed, 2010. 5. O fármaco antidiarreico racecadotrila é um agente antissecretor intestinal puro, que demonstrou não ter qualquer efeito sobre a motilidade gastrintestinal. I. É um agonista serotoninérgico altamente seletivo do receptor 5-HT4. II. Não induz dependência nem efeitos estimulantes ou sedativos no SNC. III. Os efeitos adversos incluem náusea e vômito, constipação, vertigem, cefaleia e raros casos de reação alérgica, incluindo rash cutâneo, urticária e angioedema. IV. Assinale a afirmativa correta, em relação a racecadotrila: a) As afirmativas I, II e III estão corretas. b) As afirmativas I e II estão corretas. c) As afirmativas I e III estão corretas. d) As afirmativas II e III estão corretas. e) Nenhuma das afirmativas estão corretas. Laxantes e antidiarreicos14 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 5 Fármacos Anti-ulcerosos O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 160 FARMACOLOGIA GERAL Fármacos anti-ulcerosos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Apontar as diferentes classes de fármacos usados no tratamento da úlcera. Descrever o mecanismo de ação dos fármacos usados no tratamento da úlcera. Explicar os efeitos adversos dos fármacos usados no tratamento da úlcera. Introdução Úlcera é definida como a ruptura da integridade da mucosa do estômago e/ou do duodeno, que resulta em um defeito local ou uma escavação decorrente de um processo inflamatório ativo. As úlceras podem ocorrer no interior do estômago e/ou do duodeno e, na maioria das vezes, são de natureza crônica (LONGO; FAUCI, 2015). As doenças ácido-pépticas incluem o refluxo gastresofágico e a doença ulcerosa péptica ou úlcera péptica, que inclui tanto as úlceras gástricas quanto as úlceras duodenais. Em todas essas doenças, há a produção de erosões ou ulceração da mucosa, quando os efeitos cáusti- cos dos fatores agressivos (ácido, pepsina, bile) sobrepõem os fatores de defesa da mucosa gastrintestinal (secreção de muco e de bicarbonato, prostaglandinas, fluxo sanguíneo e processos de restauração e regene- ração após lesão celular). Além disso, de forma geral, a ulcera duodenal, assim como a maioria dos casos de ulcera gástrica, pode ser atribuída à infecção por Helicobacter pylori, bem como ao dano à mucosa, induzido por anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). O aumento da secreção de ácido clorídrico (HCl) e a defesa inadequada da mucosa contra o HCl Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 161 também são importantes no processo fisiopatológico das úlceras (LONGO; FAUCI, 2015; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). O tratamento da úlcera inclui a erradicação do H. pylori com agentes antimicrobianos, a diminuição da acidez gástrica com uso de agentes supressores do ácido (antiácidos, antagonistas do receptor H2 e inibi- dores da bomba de prótons) e administração de fármacos que protejam a mucosa gástrica da lesão, como os agentes protetores da mucosa (sucralfato, análogo da prostaglandina e subsalicilato de bismuto) (WHA- LEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Neste capítulo, vamos abordar os mecanismos de ação e efeitos adversos das diferentes classes de fármacos usados no tratamento das úlceras pépticas. Para informações mais detalhadas sobre a fisiopatologia da doença ulcerosa péptica, sugerimos a leitura do Capitulo 14: Doença Ulcerosa Péptica e Distúrbios Relacionados da obra LONGO, D.L.; FAUCI, A.S. Gastrenterologia e hepatologia de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Fármacos usados no tratamento da úlcera O epitélio da mucosa gástrica é constantemente agredido por inúmeros fato- res agressivos endógenos, incluindo ácido clorídrico (HCl), pepsinogê nio/ pepsina e sais biliares. Além disso, um fl uxo constante de fatores exógenos, como medicações (AINEs), álcool e bactérias (H. pylori) alcançam e podem agredir a mucosa gástrica (LONGO; FAUCI, 2015). Como mecanismo de defesa, existem os fatores protetores da mucosa, um sistema biológico altamente complexo que entra em funcionamento para proporcionar defesa contra uma possível lesão mucosa e para reparar qual- quer lesão que possa ter ocorrido. A primeira linha de defesa é constituída por uma camada de muco e bicarbonato, que funciona como uma barreira físico-química. O muco é secretadopelas células epiteliais da superfície gastroduodenal e é composto de água (95%) e uma mistura de fosfolipídios e Fármacos anti-ulcerosos2 162 FARMACOLOGIA GERAL glicoproteínas (mucina). O bicarbonato, secretado pelas células da superfície epitelial da mucosa gastroduodenal e disponibilizado no gel mucoso, forma um gradiente de pH que varia de 1 a 2 na superfície gástrica luminal e alcança 6 a 7 ao longo da superfície das células epiteliais. As prostaglandinas dis- poníveis na mucosa gástrica também desempenham papel central na defesa/ reparo do epitélio gástrico, pois regulam a liberação de muco e bicarbonato pela mucosa, inibem a secreção de HCl das células parietais e são importantes na manutenção de um fluxo sanguíneo mucoso e na restituição das células epiteliais (LONGO; FAUCI, 2015). Postula-se que a deficiência de prostaglandinas pode estar envolvida na patogê nese das úlceras pépticas e, portanto, em algumas situações clínicas, em especial no caso de úlcera induzida por AINEs, indica-se o uso de análogos de prostaglandinas (misoprostrol) de forma profilática. Porém, vale ressaltar que tais fármacos são expressamente proibidos de serem usados na gestação, pois os mesmos podem estimular as contrações do útero e causar aborto (KATZUNG; TREVOR, 2017). Na prática clínica, observa-se que as duas principais causas de úlcera péptica são a infecção causada pelo microrganismo gram-negativo H. pylori e o uso crônico de AINEs. No entanto, o aumento da secreção de HCl e a defesa inadequada da mucosa contra o HCl também têm seu papel nesse processo (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Nesse cenário, de forma geral, o tratamento da úlcera péptica inclui (a) erradicação da H. pylori; (b) redução da acidez gástrica; e (c) aumento da proteção da mucosa gástrica. Nesse contexto, os fármacos anti-ulcerosos podem ser classificados em fármacos que reduzem a acidez intragástrica; fármacos protetores da mucosa e fármacos antimicrobianos (KATZUNG; TREVOR, 2017). Vejamos agora as características farmacológicas, o mecanismo de ação e os efeitos adversos das diferentes classes de fármacos usados no tratamento da úlcera péptica. Fármacos que reduzem a acidez intragástrica A célula parietal da mucosa gástrica contém receptores de gastrina (CCK-B), receptores de histamina (H2) e receptores colinérgicos (muscarínicos, tipo M3) (Figura 1) que, quando ativados, promovem a secreção de ácido gástrico. Ou seja, quando a acetilcolina (proveniente dos nervos pós-ganglionares vagais) ou a gastrina (liberada das células G do antro no sangue) ligam-se aos seus 3Fármacos anti-ulcerosos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 163 respectivos receptores das células parietais, provocam um aumento do cálcio citosólico, que, por sua vez, estimula as proteínas-cinase que promovem a secreção de ácido a partir de uma bomba de prótons (H+/K+-ATPase) na superfície canalicular (KATZUNG; TREVOR, 2017). Muito próximas às células parietais, encontram-se as células endócrinas intestinais, denominadas células semelhantes às células enterocromafins (ECL), que também possuem receptores de gastrina e de acetilcolina, que estimulam a liberação de histamina (Figura 1). A histamina, então, liga-se ao receptor H2 sobre a célula parietal, promovendo ativação da adenililciclase, que aumenta a concentração intracelular de monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) e ativa proteínas-cinase, que por sua vez estimulam a secreção de ácido pela H+/K+ ATPase (PANUS et al., 2011; KATZUNG; TREVOR, 2017). Veja na Figura 1 os sítios de ação de fármacos que reduzem a acidez intragástrica, incluindo os antiácidos e fármacos que atuam em receptores de mediadores envolvidos na secreção ácida gástrica, ou seja, os fármacos, incluindo os antagonistas de receptores histaminérgicos tipo H2, os inibidores de bomba de prótons e antagonistas muscarínicos (PANUS et al., 2011). Figura 1. Sítios de ação de classes de fármacos usados no tratamento da úlcera péptica. Os tipos de receptores envolvidos consistem nos muscarínicos (M1 e M3), que se ligam à acetilcolina à histamina tipo 2 (H2) e aos receptores de peptídeos (somatostatina [ST] e gastrina [G]). O sítio de ação do misoprostol não é apresentado; o misoprostol reduz a secreção de ácido e aumenta os fatores de proteção, como o muco e o bicarbonato. ECL, semelhante a enterocromafin; CCK, colecistocinina. Fonte: Panus et al. (2011, p. 503). Fármacos anti-ulcerosos4 164 FARMACOLOGIA GERAL Antiácidos Os antiácidos são bases fracas que reagem com o HCl gástrico, formando sal e água, e foram a base do tratamento dos distúrbios ácido-pépticos até o advento dos antagonistas dos receptores H2 e dos inibidores da bomba de prótons (IBPs) (Figura 1). O principal mecanismo de ação consiste em reduzir a acidez intragástrica. Após uma refeição, são secretados cerca de 45 mEq/h de HCl, e uma dose única de 156 mEq de antiácido, administrada 1 hora depois da refeição, é suficiente para neutralizar de forma eficaz o ácido gástrico por um período de até 2 horas. Vale ressaltar que a capacidade de neutralização do HCl é bastante variável entre as diferentes formulações comerciais de antiácidos, sendo dependente de sua velocidade de dissolução, hidrosssolubilidade, taxa de reação com ácido e velocidade de esvaziamento gástrico (KATZUNG; TREVOR, 2017). Os antiácidos variam amplamente em composição química, capacidade de neutralizar o ácido, conteúdo de sódio, palatabilidade e preço. A eficácia de um antiácido depende da sua capacidade de neutralizar o HCl gástrico e do fato de o estômago estar repleto ou vazio (o alimento retarda o esvaziamento do estômago, permitindo mais tempo para o antiácido reagir) (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Antiácidos comumente usados são combinações de sais de alumínio e magnésio, como hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio. Também estão disponíveis o carbonato de cálcio e bicarbonato de sódio. A absorção sistê mica do bicarbonato de sódio [NaHCO3] pode produzir alcalose metabólica transitória. Por isso, esse antiácido não é recomendado para uso prolongado. Com relação aos usos terapê uticos, os antiácidos são usados para o alívio sintomático da úlcera péptica e da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). Também podem auxiliar na promoção da cicatrização de úlceras duodenais. Para maior eficácia, os antiácidos devem ser administrados após a refeição. De forma geral, os antiácidos são bem tolerados, porém podem causar efeitos adversos. O hidróxido de alumínio tende a causar constipação, enquanto o hidróxido de magnésio tende a produzir diarreia. Ou seja, devido à não absorção dos sais de magnésio no trato gastrointestinal, os pacientes podem desenvolver diarreia osmótica, e os sais de alumínio podem provocar consti- pação intestinal. Nesse cenário, tais fármacos costumam ser administrados juntos em formulações comerciais para minimizar o impacto sobre a função intestinal. Mas atenção, tanto o magnésio como o alumínio são absorvidos e excretados pelos rins. Portanto, os pacientes com insuficiê ncia renal não devem tomar esses fármacos por um longo período de tempo. 5Fármacos anti-ulcerosos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 165 A absorção dos cátions dos antiácidos (Mg2+, Al3+, Ca2+), em geral, não é problema em pacientes com função renal normal; entretanto, pode ocorrer acúmulo e desencadear efeitos adversos em pacientes com comprometimento renal. O carbonato de cálcio (CaCO3) reage com o HCl formando cloreto de cálcio (CaCl2) e dióxido de carbono (CO2) e causa eructação. As formulações que contê m hidróxido de magnésio ou hidróxido de alumínio reagem lentamente com o HCl, formando cloreto de magnésio ou cloreto de alumínio e água. Como não há produçãode gás, não ocorre eructação. A alcalose metabólica também é incomum, devido à eficiência da reação de neutralização. Atenção, o uso de doses excessivas de bicarbonato de sódio ou de carbonato de cálcio com derivados do leite contendo cálcio pode levar ao desenvolvimento de hipercalcemia, insuficiê ncia renal e alcalose metabólica (síndrome do leite- -álcali) (KATZUNG; TREVOR, 2017). Os antiácidos podem desencadear interações medicamentosas. Todos os antiácidos podem afetar a absorção de outros fármacos pois os mesmos formam complexos com as moléculas do fármaco, reduzindo assim sua absorção, ou devido ao aumento do pH intragástrico, com consequente alteração na disso- lução ou solubilidade do fármaco (em especial os fármacos básicos ou ácidos fracos). Portanto, recomenda-se um intervalo de pelo menos 2 horas entre a administração do antiácido e outro medicamento. Por exemplo, não se devem administrar antiácidos dentro de 2 horas após a ingestão de doses de tetraci- clinas, fluoroquinolonas, itraconazol e ferro (KATZUNG; TREVOR, 2017). Antagonistas de receptor H2 Como demonstrado na Figura 1, a secreção gástrica ácida é estimulada pela interação de acetilcolina, histamina e gastrina com seus respectivos recepto- res. Assim, a ligação de histamina com os receptores H2 resulta na ativação de proteinocinases, que, por sua vez, estimulam a bomba de prótons H+/ K+-adenosina trifosfatase (ATPase) a secretar íons hidrogê nio em troca de K+ para o lúmen do estômago. Dessa forma, o mecanismo de ação pelos quais os fármacos antagonistas de receptor H2 reduzem a secreção ácida gástrica é através do bloqueio competitivo da ligação da histamina aos receptores H2 (KATZUNG; TREVOR, 2017). Assim, os antagonistas dos receptores H2 atuam através da inibição com- petitiva nos receptores H2 das células parietais e suprimem a secreção ácida tanto basal como estimulada por uma refeição. Os quatro fármacos cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina inibem significativamente a secreção gástrica ácida noturna (mais de 90%), seja a Fármacos anti-ulcerosos6 166 FARMACOLOGIA GERAL secreção estimulada por alimento ou a secreção ácida basal. A cimetidina foi o primeiro antagonista do receptor H2 da histamina a ser utilizado na clínica; porém, devido aos seus efeitos adversos e suas interações medicamentosas, foi substituído por outros fármacos, em especial os IBPs. Quanto ao uso terapêutico, todos os fármacos dessa classe são igualmente eficazes em promover a cicatrização das úlceras gástricas e duodenais. No entanto, é muito comum a recidiva da úlcera, principalmente quando há a presença de H. pylori, se o paciente for tratado somente com esses fármacos. Por outro lado, os anti-histamínicos H2 são usados por infusão intravenosa (IV) para prevenir o desenvolvimento de úlceras de estresse agudo associadas com pacientes de alto risco nas unidades de tratamento intensivo. No entanto, como pode ocorrer tolerâ ncia com esses fármacos, o uso dos IBPs também vem avançando nessa indicação. Com relação aos efeitos adversos, em geral, os antagonistas H2 são bem tolerados. São observados efeitos colaterais em menos de 3% dos pacientes, que consistem em diarreia, cefaleia, fadiga, mialgias e constipação intestinal (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A cimetidina apresenta efeitos endócrinos, pois atua como um antiandrogê nico não esteroidal, e os efeitos incluem ginecomastia, galactorreia (liberação ou ejeção contínua de leite) e impotê ncia nos homens e galactorreia nas mulheres. Os outros fármacos da classe não estão associados aos efeitos antiandrogê nicos. Outros efeitos podem ocorrer no sistema nervoso central (SNC), como confusão, agitação, alucinações e alterações mentais, em especial após a administração IV em pacientes na unidade de terapia intensiva, pa- cientes idosos ou que apresentam disfunção renal ou hepática, principalmente com o uso da cimetidina (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Embora não tenha sido demonstrado que os antagonistas H2 exerçam algum efeito prejudicial conhecido sobre o feto, tais fármacos atravessam a placenta e, portanto, não devem ser administrados a gestantes, exceto em caso extremamente necessário. Tais fármacos também são secretados no leite materno podendo causar efeitos adversos no lactente, sendo o uso não reco- mendado para mulheres que estejam amamentando (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Raramente os antagonistas dos receptores H2 podem causar discrasias sanguínea. A infusão intravenosa rápida pode causar bradicardia e hipotensão por meio do bloqueio dos receptores H2 cardíacos. Por esse motivo, as injeções intravenosas devem ser administradas durante 30 minutos. 7Fármacos anti-ulcerosos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 167 Tais medicamentos também estão envolvidos em inúmeras interações medicamentosas. A cimetidina inibe várias isoenzimas do sistema citocromo P450 (CYP450) e pode interferir na biotransformação de vários outros fármacos, como varfarina, fenitoína e clopidogrel. Observa-se uma interação insignifi- cante com a nizatidina e com a famotidina. Além disso, todos os antagonistas H2 podem reduzir a eficácia de fármacos que exigem um ambiente ácido para absorção, como o cetoconazol (KATZUNG; TREVOR, 2017). Inibidores de bomba de prótons Desde a sua introdução, no fi nal da década de 1980, os fármacos inibidores de bomba de prótons (IBPs) que são efi cazes agentes inibidores da secreção de ácido gástrico, assumiram a principal função no tratamento dos distúrbios ácido-pépticos. Hoje em dia, os IBPs estão entre os fármacos mais amplamente prescritos no mundo inteiro, em virtude de sua notável efi cácia e segurança. Seis IBPs estão disponíveis para uso clínico: omeprazol, esomeprazol, lansoprazol, dexlansoprazol, rabeprazol e pantoprazol. Quanto ao mecanismo de ação, os IBPs se ligam à enzima H+/K+-ATPase (bomba de prótons) e suprimem a secreção de íons hidrogê nio para o lúmen gástrico. A bomba de prótons ligada à membrana é a etapa final da secreção de ácido gástrico (Figura 1). Diferentemente dos antagonistas dos receptores H2, os IBPs inibem a secreção, tanto em jejum, como a estimulada por uma refeição, pois eles bloqueiam a via comum final de secreção de ácido, a bomba de prótons. Quando administrados em doses convencionais, os IBP inibem 90 a 98% da secreção de ácido em 24 horas (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Fármacos anti-ulcerosos8 168 FARMACOLOGIA GERAL Os inibidores de bomba de prótons (IBPs) são sensíveis ao meio ácido e, portanto, tais fármacos são administrados como pró-fármacos inativos. Nesse contexto, para proteger o pró-fármaco ácido-lábil de sua rápida destruição no lúmen gástrico, os medicamentos administrados por via oral são formulados para liberação tardia, na forma de cápsulas ou comprimidos de revestimento entérico, resistentes a ácido. Assim, após passar pelo estômago e alcançar o lúmen intestinal alcalino, o revestimento entérico dissolve-se, e o pró-fármaco é então absorvido. Para crianças ou pacientes com disfagia ou com sondas de alimentação enteral, as formulações disponíveis em cápsulas (mas não os comprimidos) podem ser abertas, e os microgrâ nulos misturados com suco de maçã ou de laranja ou com alimentos moles. O esomeprazol, o omeprazol e o pantoprazol também estão disponíveis em suspensões orais. O lansoprazol está disponível na forma de comprimido que se desintegra na boca, já o rabeprazol está disponível em uma formulação que pode ser polvilhada no alimento (KATZUNG; TREVOR, 2017). Com relação ao uso terapêutico, os IBPs proporcionam alívio mais rápido dos sintomas e cicatrização também mais rápida das úlceras, no caso das úlceras duodenais e, em menor grau, das úlceras gástricas, quando compara-dos com os antagonistas dos receptores H2. Ou seja, os IBPs são superiores aos antagonistas H2 no bloqueio da produção de ácido e na cicatrização das úlceras. Todos os IBPs proporcionam uma cicatrização de mais de 90% das úlceras duodenais dentro de quatro semanas e cicatrização de uma porcentagem semelhante de úlceras gástricas em 6 a 8 semanas (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Os IBPs são os fármacos preferidos no tratamento e na profilaxia de úlceras de estresse e para o tratamento da doença de refluxo gastroesofágico (DRGE), esofagite erosiva, úlcera duodenal ativa e condições hipersecretoras patológicas (síndrome de Zollinger-Ellison, na qual um tumor produtor de gastrina causa hipersecreção de HCl). Os IBPs também diminuem o risco de sangramento das úlceras causadas por ácido acetilsalicílico e outros AINEs, e podem ser usados para prevenção ou tratamento das úlceras induzidas por AINEs. Quanto aos efeitos adversos, os IBPs são extremamente seguros. Foi relatada a ocorrê ncia de diarreia, cefaleia e dor abdominal em 1 a 5% dos pacientes, embora a frequê ncia desses eventos esteja apenas um pouco aumentada em comparação com o placebo. Os IBPs não são teratogê nicos em modelos animais; entretanto, a sua segurança durante a gravidez ainda não foi estabelecida. 9Fármacos anti-ulcerosos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 169 Os IBPs estão envolvidos em interações medicamentosas. A redução da acidez gástrica pode alterar a absorção dos fármacos cuja biodisponibilidade é afetada pela acidez intragástrica, como cetoconazol, itraconazol, digoxina e atazanavir. Todos os IBPs são metabolizados pelo citocromo P450, (CYP2C19 e CYP3A4). O omeprazol pode inibir o metabolismo da varfarina, do diaze- pam e da fenitoína. O esomeprazol também pode diminuir o metabolismo do diazepam. O lansoprazol pode intensificar a depuração da teofilina. O rabeprazol e o pantoprazol não tê m interações medicamentosas significativas. Atenção, o Food and Drug Administration (FDA) divulgou um alerta sobre uma interação adversa potencialmente importante entre o clopidogrel e os IBPs, onde tais fármacos podem reduzir a ação antiplaquetária do clopidogrel em alguns pacientes. Ou seja, omeprazol e esomeprazol podem diminuir a eficácia do clopidogrel porque inibem a CYP2C19 e impedem a sua conversão no metabólito ativo, responsável pela atividade antiplaquetária (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Observa-se uma pequena redução na absorção oral de cianocobalamina durante a inibição da bomba de prótons, resultando, potencialmente, em níveis subnormais de vitamina B12 com tratamento prolongado, porque o ácido é necessário para a sua absorção, em complexo com o fator intrínseco. O pH gástrico elevado também pode prejudicar a absorção de carbonato de cálcio. Vários estudos de controle de casos sugeriram um aumento modesto no risco de fratura de quadril em pacientes em uso prolongado de IBP, em comparação com controles em condições equivalentes. Embora não se tenha comprovado uma relação causal, os IBPs podem reduzir a absorção de cálcio ou inibir a função dos osteoclastos. O citrato de cálcio é uma opção eficaz para suplementar cálcio em pacientes sob tratamento de supressão de ácido, pois sua absorção não é afetada pelo pH gástrico. Pode ocorrer diarreia e colite por Clostridium difficile em pacientes que recebem IBP. Os pacientes devem ser aconselhados a interromper o tratamento com IBP e contatar seu médico se tiverem diarreia por vários dias. Também são relatados casos de hipomag- nesemia e maior incidê ncia de pneumonia (KATZUNG; TREVOR, 2017). Antagonistas muscarínicos Os antagonistas dos receptores muscarínicos M1, a pirenzepina e a telenze- pina, reduzem a produção basal de ácido em 40-50% e tê m sido utilizados há muito tempo no tratamento de pacientes com doença ulcerosa péptica. No entanto, devido a uma efi cácia relativamente precária, dos efeitos adversos Fármacos anti-ulcerosos10 170 FARMACOLOGIA GERAL anticolinérgicos signifi cativos e indesejáveis, e do risco de discrasias san- guínea (pirenzepina), atualmente esses fármacos são raramente utilizados (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). Fármacos protetores da mucosa Os fármacos protetores da mucosa, também conhecidos como citoprotetores, apresentam várias ações que aumentam os mecanismos de proteção da mucosa, prevenindo lesões, reduzindo infl amação e cicatrizando úlceras existentes (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Sucralfato O sucralfato é um sal de sacarose complexado com hidróxido de alumínio sul- fatado. Em água ou soluções ácidas, forma uma pasta viscosa e de consistê ncia fi rme, que se liga seletivamente às úlceras e erosões por um período de até 6 horas. Ou seja, formando géis complexos com as células epiteliais, o sucralfato cria uma barreira física que protege a úlcera da pepsina e do ácido, permitindo a cicatrização da úlcera (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Menos de 3% do fármaco intacto e alumínio são absorvidos pelo trato intestinal, ao passo que o restante é excretado nas fezes. Apesar da atribuição de diversos efeitos benéficos ao sucralfato, ainda não está bem esclarecido o preciso mecanismo de ação. Acredita-se que o sulfato de sacarose, de carga negativa, liga-se a proteínas de carga positiva na base das úlceras ou das erosões, formando assim uma barreira física que restringe qualquer lesão cáustica adicional e que estimula a secreção de prostaglandinas e de bicarbonato pela mucosa. Como não é absorvido, o sucralfato é praticamente desprovido de efeitos adversos sistê micos. Devido ao alumínio, pode ocorrer constipação intestinal em 2% dos pacientes. Porém, o sucralfato não deve ser usado por períodos prolongados em pacientes com insuficiê ncia renal. Embora o sucralfato seja eficaz no tratamento das úlceras duodenais e na prevenção das úlceras por estresse, seu uso é limitado devido à necessidade de dosificações diárias múltiplas e interações medicamentosas. Esse fármaco não previne as úlceras induzidas pelos AINEs e nem cicatriza úlceras gástricas (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). 11Fármacos anti-ulcerosos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 171 Sucralfato está sujeito a interações medicamentosas. Como requer um pH ácido para sua ativação, o sucralfato não deve ser administrado com IBPs, antagonistas H2 ou antiácidos (KATZUNG; TREVOR, 2017). Análogos de prostaglandinas A prostaglandina, produzida pela mucosa gástrica, inibe a secreção de ácido e estimula a secreção de muco e bicarbonato, o que caracteriza um efeito citoprotetor da mucosa gástrica. Misoprostol, um análogo da prostaglandina E1, está aprovado para a pre- venção de úlceras gástricas induzidas por AINEs. Com relação ao mecanismo de ação, o misoprostol possui propriedades inibidoras da secreção de ácido e protetoras da mucosa. Acredita-se que o fármaco estimule a secreção de muco e de bicarbonato, além de aumentar o fluxo sanguíneo da mucosa. O misoprostol diminui a incidê ncia de úlceras induzidas por AINEs para menos de 3%, bem como a incidê ncia de complicações da úlcera em 50%. Assim, o uso profilático do misoprostol deve ser considerado em pacientes que estão em tratamento com AINEs e estão sob risco moderado ou alto de úlceras induzidas por tais fármacos, em especial em pacientes idosos ou com história prévia de úlceras. Porém, apesar de aprovado para a prevenção de úlceras induzidas por AI- NEs em pacientes de alto risco, o misoprostol nunca chegou a ser amplamente usado, em virtude de seu elevado perfil de efeitos colaterais e da necessidade de múltiplas doses diárias (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Diarreiae náuseas dose-dependentes são os efeitos adversos mais comuns e limitam o seu uso. Assim, os IBPs são os fármacos preferidos para a prevenção de úlceras causadas por AINEs. Além disso, o misoprostol é contraindicado na gravidez, pois pode estimular as contrações uterinas e causar aborto (KAT- ZUNG; TREVOR, 2017). Subsalicilato de bismuto Dispõe-se de dois compostos de bismuto: o subsalicilato de bismuto (formulação que contém bismuto e salicilato) e o subcitrato de bismuto potássico. Os mecanismos precisos de ação do bismuto permanecem desconhecidos, mas postula-se que o bismuto recobre as úlceras e as erosões, criando uma camada protetora contra o ácido e contra a pepsina. Além disso, pode estimular a secreção de prostaglandinas, de muco e de bicarbonato. Também, o bismuto Fármacos anti-ulcerosos12 172 FARMACOLOGIA GERAL exerce efeitos antimicrobianos diretos e liga-se às enterotoxinas, explicando o seu benefício na prevenção e no tratamento da diarreia do viajante. Os compostos de bismuto apresentam atividade antimicrobiana direta contra o H. pylori. Os compostos de bismuto são usados em esquemas de quatro fármacos para a erradicação da infecção por H. pylori. Um dos esquemas consiste em um IBP, duas vezes ao dia, associado ao subsalicilato de bismuto (2 comprimidos, 262 mg cada), tetraciclina (250-500 mg) e metronidazol (500 mg), quatro vezes ao dia, durante 10 a 14 dias. Outro esquema consiste em um IBP, duas vezes ao dia, associado a trê s cápsulas de uma formulação de combinação adquirida com prescrição (cada cápsula contém 140 mg de subcitrato de bismuto, 125 mg de metronidazol e 125 mg de tetraciclina), quatro vezes ao dia, durante 10 dias. Vale ressaltar que, embora esses esquemas sejam eficazes, os esquemas convencionais de terapia tríplice (IBP, claritromicina e amoxicilina ou metro- nidazol, duas vezes ao dia, durante 14 dias) geralmente são preferidos como terapia de primeira linha, devido à sua administração duas vezes ao dia, e a melhor adesão do paciente ao tratamento. As terapias quádruplas baseadas em bismuto costumam ser usadas como terapia de segunda linha. Quanto aos efeitos adversos, todas as formulações de bismuto apresentam um excelente perfil de segurança. Atenção, o bismuto provoca alteração da cor, provocando o enegrecimento das fezes, que pode ser confundido com sangramento gastrintestinal. As formulações líquidas também podem causar escurecimento da língua. Os fármacos que contê m bismuto só devem ser utilizados por um curto período de tempo e devem ser evitados em pacientes com insuficiê ncia renal. De forma rara, o uso prolongado de alguns compostos de bismuto pode provocar toxicidade, resultando em encefalopatia (ataxia, cefaleia, confusão e crises convulsivas). Todavia, essa toxicidade não é relatada com o uso do subsalicilato de bismuto ou do citrato de bismuto (KATZUNG; TREVOR, 2017). Fármacos antimicrobianos Obrigatoriamente, todos os pacientes com úlcera péptica (úlceras gástricas ou duodenais) infectados com H. pylori precisam de tratamento antimicrobiano, pois a erradicação da H. pylori resulta na cicatrização rápida da úlcera ativa e na baixa da taxa de recidiva (menos de 15%, comparando-se com 60 a 100% por ano, para úlceras iniciais tratadas somente com redução de ácido) (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). 13Fármacos anti-ulcerosos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 173 A erradicação bem-sucedida da H. pylori (80-90%) é possível com várias associações a agentes antimicrobianos. Atualmente, o tratamento de escolha consiste em um IBP combinado com amoxicilina (metronidazol pode ser usado em pacientes alérgicos à penicilina) mais claritromicina. O tratamento quádruplo com subsalicilato de bismuto, metronidazol e tetraciclina combinada a um IBP é outra opção. O tratamento quádruplo deve ser considerado em casos em que identifica-se a elevada resistê ncia à claritromicina. Vale ressaltar que o tratamento com um único antibacteriano é muito menos eficaz, resultando em resistê ncia microbiana, e não é recomendado em absoluto. A substituição de antimicrobianos também não é recomendada (ou seja, não é recomendado trocar amoxicilina por ampicilina ou doxiciclina por tetraciclina) (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A úlcera péptica é uma lesão que ocorre na mucosa do trato gastrointestinal, sendo caracterizada por um desequilíbrio entre fatores agressores e protetores da mucosa gástrica. Postula-se que uma dieta equilibrada é fundamental no tratamento da úlcera péptica, uma vez que o alimento pode prevenir, tratar ou mesmo aliviar os sintomas que envolvem esta doença. Veja as informações no link: https://goo.gl/2uFJpo Fármacos anti-ulcerosos14 174 FARMACOLOGIA GERAL BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. (Lange). LONGO, D. L.; FAUCI, A. S. Gastrenterologia e hepatologia de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. PANUS, P. C. et al. Farmacologia para fisioterapeutas. Porto Alegre: AMGH, 2011. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELLI, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Leituras recomendadas FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. LÜLLMANN, H.; MOHR, K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WILLIAMSON, E.; DRIVER, S.; BAXTER, K. Interações medicamentosas de Stockley. Porto Alegre: Artmed, 2012. 15Fármacos anti-ulcerosos ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 6 Fármacos Antieméticos O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 176 FARMACOLOGIA GERAL Fármacos antieméticos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a classificação dos fármacos antieméticos. Explicar o mecanismo de ação e usos terapêuticos de fármacos antieméticos. Descrever os efeitos adversos dos fármacos antieméticos. Introdução A náusea costuma ser definida como a tendência a vomitar ou como uma sensação, na garganta ou na região epigástrica, que alerta o indivíduo de que o vômito está iminente, enquanto o vômito (êmese) representa a expulsã o do conteúdo gástrico, resultante da contraç ã o do intestino e da musculatura da parede toracoabdominal, que por sua vez difere da regurgitação, que consiste na passagem sem esforço do conteúdo gá strico para a boca (LONGO; FAUCI, 2015; WELLS et al., 2016). As ná useas e os vô mitos podem ser manifestações de uma ampla variedade de condiç õ es, seja devido a efeitos colaterais de medicaç õ es, distú rbios sistê micos ou infecç õ es, gravidez, disfunç ã o vestibular, infecç ã o do sistema nervoso central (SNC) ou elevaç ã o da pressã o, peritonite, distú rbios hepatobiliares, radioterapia ou quimioterapia e obstruç ã o ou infecç õ es gastrintestinais (KATZUNG; TREVOR, 2017). Diversos distú rbios metabó licos induzem a ná useas e vô mitos, incluindo uremia, cetoacidose e disfunç ã o suprarrenal, bem como doenç as da paratireoide e tireoide. A gravidez é a causa endocrinológica mais prevalente de ná useas, que afeta 70% das mulheres no primeiro trimestre de gravidez (LONGO; FAUCI, 2015; SILVA, 2010). As opções de tratamento para as náuseas e vômitos incluem modali- dades farmacológicas e não farmacológicas, dependendo da causa e das condições clínicas do paciente. Para pacientes com náuseas e vômitos decorrentes do consumo de alimentos ou de bebidas, pode ser prefe- rível a prevenção ou moderação da ingestão da dieta.No entanto, em Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Antieméticos | PARTE 6 177 pacientes com sintomas de doença sistêmica é necessário o tratamento da condição subjacente. Também há situações nas quais esses sintomas resultam de alterações do labirinto, produzidas por movimento, e os pacientes podem beneficiar-se da manutenção de uma posição física estável (WELLS et al., 2016). Neste capítulo, vamos abordar os mecanismos de ação e efeitos adversos das diferentes classes de fármacos antieméticos. Fá rmacos antiemé ticos Os fármacos antieméticos atuam por diferentes mecanismos de ação. De fato, a identifi cação dos diferentes neurotransmissores envolvidos no vô mito possibilitou o desenvolvimento de um grupo de fá rmacos antiemé ticos, que possuem afi nidade por vá rios receptores. Nesse contexto, com frequê ncia, na prática clínica utiliza-se associações de fá rmacos antiemé ticos com diferentes mecanismos de aç ã o, em especial nos pacientes com vô mitos induzidos por agentes quimioterápicos antineoplásicos (KATZUNG; TREVOR, 2017). Em caso de desidratação grave decorrente de vômitos, deve-se considerar a hospi- talização do paciente, especialmente se a reposiç ã o com lí quidos orais nã o puder ser mantida. Por outro lado, assim que o paciente consiga tolerar a ingestã o oral, os alimentos devem ser reiniciados com lí quidos com baixo teor de gorduras, pois os lipídios retardam o esvaziamento gá strico. Os alimentos com alto teor de resíduos nã o digeríveis devem ser evitados porque també m prolongam a retenç ã o gá strica (LONGO; FAUCI, 2015). Para que possamos compreender os aspectos farmacológicos, em especial o modo de ação e indicações terapêuticas, vamos abordar de forma breve a fisiopatologia do vômito. Os vômitos são desencadeados por impulsos aferentes até o centro do vômito, um núcleo de células no bulbo que coordena o complexo ato do vô mito por meio de interaç õ es com os nervos cranianos VIII e X e redes neurais no nú cleo do trato solitário, que controlam os centros respirató rio, da salivaç ã o e vasomotor. Os impulsos são recebidos de centros sensoriais, como a zona Fármacos antieméticos2 178 FARMACOLOGIA GERAL de gatilho quimiorreceptora (CTZ, do inglês chemoreceptor trigger zone), o córtex cerebral e os aferentes viscerais provenientes da faringe e do trato gastrintestinal (TGI). Quando estimulados, os impulsos aferentes são integrados pelo centro do vômito, resultando em impulsos eferentes para o centro da salivação, o centro respiratório e os músculos faríngeos, TGI e abdominal, resultando no ato do vômito (KATZUNG; TREVOR, 2017; WELLS et al., 2016). Foram identificadas elevadas concentraç õ es de receptores colinérgicos muscarí nicos M1, receptores histaminérgicos H1, de neurocinina 1 (NK1) e serotonina 5-HT3 no centro do vô mito (Figura 1). Existem quatro fontes importantes de influxo aferente para o centro do vô mito (Figura 1): A zona de gatilho quimiorreceptora ou á rea póstrema que se encon- tra fora da barreira hematoencefálica, poré m acessível aos estí mulos emetogê nicos no sangue ou no lí quido cerebrospinal. Nessa área encontram-se receptores dopaminérgicos D2 e receptores opioides e, possivelmente, receptores 5-HT3 de serotonina e receptores NK1. O sistema vestibular está envolvido na cinetose e contém receptores muscarí nicos tipo M1 e histaminérgicos H1. Os nervos aferentes vagais e espinais do TGI contêm receptores seroto- ninérgicos tipo 5-HT3. Importante ressaltar que a irritação da mucosa gastrintestinal causada pela quimioterapia antineoplásica, radioterapia ou gastrenterite infecciosa aguda determina a liberaç ã o de serotonina da mucosa e a ativaç ã o desses receptores, que por sua vez estimulam o influxo aferente vagal para o centro do vô mito e a zona de gatilho quimiorreceptora. O SNC também desempenha um papel na fisiopatologia do vô mito, seja devido a transtornos psiquiá tricos, estresse ou vô mito antecipatório antes da quimioterapia antineoplásica (KATZUNG; TREVOR, 2017). Veja na Figura 1 as vias neuroló gicas envolvidas na fisiopatologia das ná useas e dos vô mitos, com a identificação dos diferentes tipos de receptores. 3Fármacos antieméticos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 179 Para informações mais detalhadas sobre a fisiopatologia da doença ulcerosa péptica, sugerimos a leitura do Capitulo 5: Ná useas, Vô mitos e Indigestão da obra Gastroente- rologia e hepatologia de Harrison (LONGO; FAUCI, 2015). Vejamos agora as características farmacológicas, mecanismos de ação e efeitos adversos das diferentes classes de fármacos antieméticos. Antagonistas dos receptores 5-HT3 de serotonina Os antagonistas de receptores serotoninérgicos tipo 5-HT3 incluem ondanse- trona, granisetrona, palonosetrona, tropisetrona e dolasetrona e sã o úteis em Figura 1. Vias neuroló gicas envolvidas na fisiopatologia das ná useas e dos vô mitos. Fonte: Katzung e Trevor (2017, p. 1068). Fármacos antieméticos4 180 FARMACOLOGIA GERAL casos de vô mitos pó s-operató rios, apó s a radioterapia e para prevenç ã o dos vô mitos induzidos pela quimioterapia do câ ncer. A utilidade dos antagonistas de 5-HT3 para outras causas de ê mese nã o foi tã o bem estabelecida (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Com relação ao mecanismo de ação, os antagonistas seletivos dos recep- tores 5-HT3 exercem atividades antiemé ticas potentes, que sã o mediadas, em parte, por meio do bloqueio dos receptores 5-HT3 centrais, presentes no centro do vô mito e na zona de gatilho quimiorreceptora, mas principalmente pelo bloqueio dos receptores 5-HT3 perifé ricos nos nervos aferentes espinais e vagais intestinais extrínsecos no TGI (KATZUNG; TREVOR, 2017). Os antagonistas dos receptores 5-HT3 constituem os principais agentes para a prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos agudos induzidos pela quimio- terapia. Essa classe de fármacos é extremamente importante no tratamento da ê mese induzida pela quimioterapia antineoplásica, principalmente devido ao prolongado tempo de ação e maior eficácia no controle da êmese. Vale ressaltar que tais fá rmacos tê m pouca ou nenhuma eficá cia na prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos tardios (que ocorrem > 24 horas apó s a quimioterapia), porém são os fá rmacos mais efetivos quando administrados em dose ú nica por injeç ã o intravenosa (IV), 30 minutos antes da administraç ã o da quimioterapia. Uma dose oral ú nica, administrada uma hora antes da quimioterapia, também pode ser igualmente efetiva, porém requer ajustes de dosagens dos fármacos. Embora os antagonistas dos receptores 5-HT3 sejam efetivos como fá rmacos isolados para a prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos induzidos por quimioterapia, sua eficá cia é potencializada pela terapia de combinaç ã o com um corticosteroide (dexametasona) e um antagonista dos receptores NK1. Mostram-se també m efetivos na prevenç ã o e no tratamento das ná useas e dos vô mitos em pacientes submetidos à radioterapia corporal total ou do abdome (KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Eles també m sã o ú teis no tratamento de ná useas e ê mese pó s-operató ria. Os antagonistas 5-HT3 sã o extensamente biotransformados pelo fí gado, mas somente a ondansetrona exige ajuste de dosagem na insuficiê ncia hepá tica (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Quanto a efeitos adversos, os antagonistas dos receptores 5-HT3 sã o agentes bem tolerados, com excelente perfil de seguranç a. Os efeitos colaterais mais relatados consistem em cefaleia, tontura e constipaç ã o intestinal. Foram re- gistradas alteraç õ es eletrocardiográficas, como o prolongamento do intervalo QT, em especial com dolasetrona e dosagens elevadas de ondansetrona. Por essa razão, a dolasetrona nã o está maisaprovada para a profilaxia de náuseas 5Fármacos antieméticos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 181 induzidas pela quimioterapia antineoplásica (WHALEN; FINKEL; PANA- VELLI, 2016). Nã o foi relatada nenhuma interaç ã o medicamentosa significativa com os antagonistas dos receptores 5-HT3 (KATZUNG; TREVOR, 2017). Antagonistas dos receptores dopaminérgicos Fenotiazí nicos As fenotiazinas sã o fá rmacos antipsicó ticos que podem ser utilizados pelas suas potentes propriedades antiemé ticas e sedativas. Os agentes mais comumente usados como antiemé ticos sã o proclorperazina, prometazina e tietilperazina (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). As propriedades antiemé ticas das fenotiazinas sã o mediadas por meio da inibiç ã o dos receptores dopaminérgicos e muscarí nicos. As propriedades sedativas devem-se aa sua atividade anti-histamínica. A proclorperazina é eficaz contra náuseas induzidas por agentes quimiote- rápicos pouco ou moderadamente emetogê nicos (fluorouracil e doxorrubicina). No entanto, o uso é limitado, pois, embora o aumento da dosagem melhore a atividade antiemética, os efeitos adversos sã o dose-limitantes (KATZUNG; TREVOR, 2017). Butirofenonas As butirofenonas antipsicó ticas (droperidol) també m possuem propriedades antiemé ticas moderadamente efi cazes devido ao bloqueio de receptores do- paminérgicos em nível de SNC. O principal agente utilizado é o droperidol, que pode ser administrado por injeç ã o intramuscular ou intravenosa (IV) (KATZUNG; TREVOR, 2017). Droperidol atua bloqueando os receptores de dopamina do tipo D2. Em doses antiemé ticas, o droperidol é um sedativo extremamente forte e já foi muito usado para o controle de ná useas e para os vô mitos pó s-operató rios, em associaç ã o com fármacos opioides e benzodiazepí nicos, para a obtenção de sedaç ã o em procedimentos cirúrgicos e endoscópicos e para a induç ã o e manutenç ã o da anestesia geral. Contudo, ele pode prolongar o intervalo QT, resultando, raramente, em episó dios fatais de taquicardia ventricular, incluindo torsades de pointes (taquiarritmia), e, portanto, deve ser reservado para pacientes com resposta inadequada a outros fá rmacos (KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Fármacos antieméticos6 182 FARMACOLOGIA GERAL Benzamidas substituí das As benzamidas substituí das, com atividade antiemé tica, incluem a metoclopra- mida e a trimetobenzamida. A metoclopramida é efi caz em doses altas contra a êmese induzida pela cisplatina (KATZUNG; TREVOR, 2017). O mecanismo de ação das benzamidas é através do bloqueio de receptores dopaminérgicos na zona de gatilho quimiorreceptora. Para a prevenç ã o e o tratamento das ná useas e dos vô mitos, a metoclopramida pode ser administrada na dose relativamente alta de 10 a 20 mg, por via oral ou IV, a cada 6 horas. A dose habitual de trimetobenzamida é de 300 mg, por via oral, ou 200 mg, por injeç ã o intramuscular. Os principais efeitos adversos desses fármacos decorrentes do bloqueio dopaminérgico e incluem os sintomas extrapiramidais (inquietação, distonia e sintomas parkinsonianos), o que limita o uso prolongado de doses elevadas (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Anti-histamí nicos H1 Os antagonistas dos receptores histaminérgicos H1 sã o ú teis principalmente na cinetose e nos vô mitos pó s-operató rios, atuando nos nervos aferentes vestibu- lares e no tronco cerebral. Ciclizina, hidroxizina, prometazina e difenidramina sã o alguns exemplos desse grupo de fá rmacos (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). A difenidramina e o dimenidrinato atuam através da atividade antagonista dos receptores H1. Devido a suas propriedades sedativas, a difenidramina deve ser utilizada em associaç ã o com outros antiemé ticos para o tratamento dos vô mitos induzidos pela quimioterapia. A meclizina é um outro fá rmaco anti-histamínico H1, que produz menos sedaç ã o. É utilizada na prevenç ã o da cinetose e no tratamento da vertigem causada por disfunç ã o do labirinto (KATZUNG; TREVOR, 2017). Fá rmacos anticoliné rgicos Os fármacos anticoliné rgicos, especialmente o antagonista do receptor muscarí nico, hioscina (escopolamina), assim como os antagonistas de receptor histaminérgico tipo H1, como dimenidrinato, meclizina e ciclizina, sã o muito ú teis na cinetose (enjôo de movimento), e nos distú rbios da orelha interna, mas sã o inefi cazes contra substâ ncias que atuam diretamente na zona de gatilho 7Fármacos antieméticos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 183 quimiorreceptora, como os quimioterápicos antineoplásicos (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A hioscina (escopolamina), um protótipo dos antagonistas dos receptores muscarí nicos, atua através do bloqueio de receptores M1, e é um dos melhores agentes para a prevenç ã o da cinetose. Entretanto, apresenta uma incidê ncia muito alta de efeitos anticoliné rgicos, quando administrada por via oral ou parenteral. É mais bem tolerada na forma de adesivo transdé rmico. Os efeitos adversos da escopolamina incluem tontura, sedaç ã o, confusã o, boca seca, cicloplegia e retenç ã o uriná ria, o que desencadeia a limitação de uso, sendo utilizado na cinetose (KATZUNG; TREVOR, 2017). Antagonistas dos receptores de neurocinina Os antagonistas dos receptores de neurocinina 1 (NK1) apresentam proprieda- des antiemé ticas que sã o mediadas através do bloqueio central na á rea postrema. O aprepitanto, administrado por via oral, é um antagonista altamente seletivo dos receptores NK1, que atravessa a barreira hematoencefálica e se liga aos receptores NK1 no SNC. Nã o tem nenhuma afinidade pelos receptores de serotonina, dopamina ou corticosteroides. Também há a disponibilidade do fosaprepitanto, administrado por via IV que é convertido em aprepitanto 30 minutos apó s a sua infusã o. Na clínica, o aprepitanto é utilizado em associaç ã o com antagonistas dos receptores serotoninérgicos 5-HT3 e corticosteroides na prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos tardios e agudos, induzidos por esquemas quimioterápicos muito emetogê nicos. Ou seja, a terapia combinada com aprepitanto, um antagonista dos receptores 5-HT3, e dexametasona impede a ocorrê ncia de vô mitos agudos em até 80 a 90% dos pacientes, quando comparado com uma taxa menor, de 70%, em pacientes com esquemas terapêuticos que não incluem aprepitanto. Ainda, há uma prevenç ã o dos vô mitos tardios em mais de 70% dos pacientes que recebem terapia combinada, versus 30 a 50% tratados sem aprepitanto. O aprepitanto pode causar fadiga, tontura e diarreia. O fá rmaco é metabo- lizado pela CYP3A4 e pode inibir o metabolismo de outros fá rmacos antineo- plásicos metabolizados pela via da CYP3A4 (docetaxel, paclitaxel, etoposí deo, irinotecano, imatinibe, vimblastina e a vincristina) assim como também pode afetar a biotransformaç ã o de outros fá rmacos por essa enzima, como varfarina e anticoncepcionais orais. Por outro lado, fá rmacos que inibem o metabolismo da CYP3A4 podem aumentar de forma significativa os ní veis plasmáticos de aprepitanto (cetoconazol, ciprofloxacino, claritromicina, nefazodona, ritonavir, nelfinavir, verapamil e quinidina) (KATZUNG; TREVOR, 2017). Fármacos antieméticos8 184 FARMACOLOGIA GERAL Corticosteroides Os glicocorticoides como a dexametasona podem ser coadjuvantes ú teis no tratamento das ná useas dos pacientes com câ ncer generalizado, possivelmente porque suprimem a infl amaç ã o peritumoral e a produç ã o das prostaglandinas (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). Os corticosteroides (dexametasona, metilprednisolona) apresentam proprie- dades antiemé ticas, poré m ainda não se conhece o mecanismo desses efeitos. Postula-se que tais fá rmacos parecem aumentar a eficá cia dos antagonistasdos receptores 5-HT3 para a prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos agudos e tardios, em pacientes submetidos a esquemas de quimioterapia moderada e muito emetogê nicos. Embora diversos corticosteroides tenham sido utilizados, costuma-se administrar dexametasona, em uma dose de 8 a 20 mg por via IV antes da quimioterapia, seguida de 8 mg por dia, por via oral, durante 2 a 4 dias (KATZUNG; TREVOR, 2017). Benzodiazepí nicos Os benzodiazepí nicos, como o lorazepam ou o diazepam, sã o utilizados antes do iní cio da quimioterapia para reduzir os vô mitos antecipatórios ou os vô mitos causados pela ansiedade. A potê ncia antiemé tica do lorazepam e do alprazolam é baixa, porém seus efeitos bené ficos podem ser devido à s suas propriedades sedativas, ansiolíticas e amné sicas. O uso concomitante com á lcool deve ser evitado devido ao efeito depressor aditivo no SNC (KATZUNG; TREVOR, 2017). Canabinoides O dronabinol é o Δ9-tetra-hidrocanabinol (THC), a principal substâ ncia psico- ativa da maconha. À semelhanç a da maconha nã o purifi cada, o dronabinol é um fá rmaco psicoativo utilizado clinicamente como estimulante do apetite e como antiemé tico; no entanto, os mecanismos envolvidos nesses efeitos ainda nã o estã o elucidados. Devido à disponibilidade de fá rmacos mais efetivos, o dronabinol, hoje, é pouco usado na prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos induzidos por quimioterapia. A terapia de combinaç ã o com fenotiazinas pro- porciona uma aç ã o antiemé tica sinérgica e parece atenuar os efeitos colaterais de ambos os agentes. 9Fármacos antieméticos Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-ulcerosos | PARTE 5 185 Em geral, o dronabinol é administrado antes da quimioterapia, e a cada 2 a 4 horas, quando necessá rio. Os efeitos adversos consistem em euforia, disforia, sedaç ã o, alucinaç õ es, boca seca e aumento do apetite. Também pode causar taquicardia, congestão da conjuntiva e hipotensã o ortostá tica. O dronabinol nã o apresenta interaç õ es medicamentosas significativas, mas pode potencializar os efeitos clí nicos de outros fá rmacos psicoativos (KATZUNG; TREVOR, 2017). A hiperemese gravídica é uma condição clínica que pode ocorrer em gestantes, e causam náuseas e vômitos intensos, podendo induzir uma perda de peso corporal, desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e deficiência nutricional na gestante. Leia o artigo Hiperemese gravídica associada a fatores psicossociais: revisão sistemática. Alfenas et al. Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 9, n. único, p. 63-68, 2017, disponíveis no link abaixo. https://goo.gl/WQfGcE Fármacos antieméticos10 186 FARMACOLOGIA GERAL BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. (Lange). LONGO, D. L.; FAUCI, A. S. Gastrenterologia e hepatologia de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELLI, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. WELLS, B. G. et al. Manual de farmacoterapia. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Leituras recomendadas CONNOR, B. A. Travelers' diarrhea. 2017. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2018. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. LÜLLMANN, H.; MOHR, K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. PANUS, P. C. et al. Farmacologia para fisioterapeutas. Porto Alegre: AMGH, 2011. WILLIAMSON, E.; DRIVER, S.; BAXTER, K. Interações medicamentosas de Stockley. Porto Alegre: Artmed, 2010. 13Fármacos antieméticos ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Se você encontrar algum problema neste material, entre em contato pelo email eadproducao@unilasalle.edu.br. Descreva o que você encontrou e indique a página. Lembre-se: a boa educação se faz com a contribuição de todos! CONTRIBUA COM A QUALIDADE DO SEU CURSO Av. Victor Barreto, 2288 | Canoas - RS CEP: 92010-000 | 0800 541 8500 eadproducao@unilasalle.edu.br2 Fármacos Anti-hipertensivos | PARTE 1 107 234 Clark, Finkel, Rey & Whalen tir com hipertensão, como taquiarritmia supraventricular, infarto do miocárdio prévio, angina pectoris e insuficiência cardíaca crônica. Os �-bloqueadores são usados também para prevenir a enxaqueca e a cefaleia em salvas. C. Farmacocinética Os �-bloqueadores são ativos por via oral. O propranolol sofre biotransfor- mação de primeira passagem extensa e altamente variável. Os bloqueado- res podem demorar várias semanas até desenvolverem seu efeito pleno. D. Efeitos adversos 1. Efeitos comuns. Os �-bloqueadores podem causar bradicardia e efeitos colaterais no SNC, como fadiga, letargia, insônia e alucina- ções. Esses fármacos também podem causar hipotensão (Figura 19.10). Os �-bloqueadores podem diminuir a libido e causar impo- tência. (Nota: a disfunção sexual provocada pode reduzir acentua- damente a adesão do paciente ao tratamento.) 2. Alterações nos padrões lipídicos séricos. Os �-bloqueadores po- dem desregular o metabolismo lipídico, diminuindo a lipoproteína de alta densidade colesterol e aumentando os triglicérides plasmáticos. 3. Retirada do fármaco. A retirada abrupta dos �-bloqueadores pode causar angina, infarto do miocárdio e mesmo a morte súbita de pa- cientes com doença cardíaca isquêmica. Por isso, a dosagem desses fármacos deve ser reduzida gradualmente ao longo de duas a três se- manas em pacientes com hipertensão e doença cardíaca isquêmica. VII. INIBIDORES DA ECA Os inibidores da ECA, como enalapril ou lisinopril, são recomendados quando os fármacos de primeira escolha (diuréticos e �-bloqueadores) estão con- traindicados ou são ineficazes, ou se existem razões que os indicam como no diabetes melito. A. Ações Os inibidores da ECA diminuem a pressão arterial reduzindo a resistên- cia vascular periférica sem aumentar reflexamente o débito, a frequência ou a contratilidade cardíaca. Esses fármacos bloqueiam a ECA que hidro- lisa a angiotensina I para formar o potente vasoconstritor angiotensina II (Figura 19.11). A enzima conversora também é responsável pela degra- dação da bradicinina que aumenta a produção de óxido nítrico e pros- taciclinas nos vasos sanguíneos. Ambos, óxido nítrico e prostaciclinas, são potentes vasodilatadores. Os inibidores da ECA diminuem os níveis de angiotensina II e aumentam os de bradicinina. Ocorre vasodilatação de arteríolas e veias como resultado da combinação de efeitos de vaso- constrição diminuída causada pela redução dos níveis de angiotensina II e potente vasodilatação devido ao aumento da bradicinina. Reduzindo os níveis de angiotensina II circulante, os inibidores da ECA também di- minuem a secreção de aldosterona, resultando em menor retenção de sódio e água. Os inibidores da ECA diminuem a pré-carga e a pós-carga cardíaca, reduzindo, assim, o trabalho cardíaco. B. Usos terapêuticos Como os �-bloqueadores, os inibidores da ECA são mais eficazes em pacientes hipertensos brancos e jovens. Todavia, quando associados com Bradicardia Fadiga Insônia Disfunção sexual Hipotensão PA Figura 19.10 Alguns efeitos adversos dos fármacos �-bloqueadores. Clark-5ed_19.indd 234Clark-5ed_19.indd 234 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 108 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 235 um diurético, sua eficácia é semelhante em pacientes hipertensos brancos e negros. Junto com os BRA, os inibidores da ECA retardam a progressão da nefropatia diabética, diminuem a albuminúria e são, assim, indicação obrigatória para pacientes com nefropatia diabética. Os efeitos benéficos na função renal podem resultar da diminuição da pressão intraglomerular devido à vasodilatação da arteríola eferente. Os inibidores da ECA são pa- drão no cuidado de pacientes após o infarto do miocárdio e são fármacos de primeira escolha no tratamento de pacientes com disfunções sistólicas. O tratamento é iniciado 24 horas após o fim do infarto. O tratamento crôni- co com inibidores da ECA obtém redução sustentada da pressão arterial, regressão da hiperttrofia ventricular esquerda e prevenção do remodela- mento ventricular, após infarto do miocárdio. Os inibidores da ECA são os fármacos de primeira escolha no tratamento da insuficiência cardíaca, para tratar pacientes hipertensos com doença renal crônica e para pacien- tes com risco elevado de doença arterial coronariana. C. Efeitos adversos Os efeitos adversos comuns incluem tosse seca, exantema, febre, altera- ção do paladar, hipotensão (em estados hipovolêmicos) e hiperpotassemia (Figura 19.12). A tosse seca, que ocorre em aproximadamente 10% dos pacientes, parece ser devida ao aumento dos níveis de bradicinina na ár- vore pulmonar e ocorre mais frequentemente em mulheres e não fumantes e com inibidores da ECA de longa duração. A tosse desaparece poucos dias após a descontinuação do tratamento. Os níveis de potássio devem ser monitorados. São contraindicados a suplementação de potássio (ou dietas ricas em potássio) e o uso de diuréticos poupadores de potássio. O níveis de creatinina no soro devem ser monitorados, particularmente em pacientes com doença renal subjacente. O angioedema é raro, mas é potencialmente fatal e também pode ser atribuído ao aumento dos níveis de bradicinina. Pode ocorrer insuficiência renal reversível em pacientes com estenose bi- lateral na artéria renal tratados com inibidor da ECA. Os inibidores da ECA podem induzir malformações fetais e não devem ser usados em gestantes. VIII. BLOQUEADORES DE RECEPTORES DE ANGIOTENSINA II Os BRA são alternativos aos inibidores da ECA. Esses fármacos bloqueiam os receptores AT1 diminuindo a ativação desses receptores pela angiotensina II. A losartana é o protótipo dos BRAs e, correntemente, há seis outros BRAs. Seus efeitos farmacológicos são similares aos dos inibidores da ECA por pro- duzirem dilatação arteriolar e venosa e bloqueio da secreção de aldosterona, Inibição da degradação de bradicinina Renina (dos rins) Angiotensina I (inativa) Angiotensina II diminuída ECA Angiotensinogênio (globulina �2 no sangue) Produção de aldosterona reduzida Estimulação do sistema nervoso simpático Retenção de sódio e água Níveis de bradicinina Vasodilatação do músculo liso vascular Inibidores da ECA Diminuição da pressão arterial PA Figura 19.11 Efeitos dos inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA). Tosse seca Erupção cutânea Hipotensão Febre Hiperpotassemia 37oC PA K+ Figura 19.12 Alguns efeitos adversos comuns dos inibidores da enzima conversora de an- giotensina. Clark-5ed_19.indd 235Clark-5ed_19.indd 235 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-hipertensivos | PARTE 1 109 236 Clark, Finkel, Rey & Whalen reduzindo, assim, a pressão arterial e diminuindo a retenção de sal e água. Os BRAs não aumentam os níveis de bradicinina. Eles diminuem a nefro- toxicidade do diabetes, sendo, assim, um tratamento atraente a diabéticos hipertensos. Seus efeitos adversos são semelhantes aos dos inibidores da ECA, embora o risco de tosse e angioedema seja significativamente menor. Os BRAs também são fetotóxicos e não devem ser usados por mulheres ges- tantes. (Nota: os BRAs são discutidos no Capítulo 16.) IX. INIBIDORES DE RENINA O inibidor seletivo de renina, alisquireno, está disponível para o tratamento da hipertensão. O alisquireno inibe diretamente a renina e, assim, atua mais pre- cocemente no sistema renina-angiotensina-aldosterona do que os inibidores de ECA ou BRAs. Ele reduz a pressão arterial com eficácia similar aos BRAs, inibidores da ECA e tiazidas. O alisquireno pode ser associado com outros anti-hipertensivos, como diuréticos, inibidores da ECA, BRAs ou bloqueado- res de canais de cálcio. O alisquireno pode causar diarreia, em especial em dosagens elevadas. Ele também pode causar tosse e angioedema, mas pro- vavelmente com menos frequência do que os inibidoresda ECA. Como os ini- bidores da ECA e os BRA, o aliquireno é contraindicado durante a gestação. O alisquireno está disponível em associação de doses fixas com valsartana, bem como com hidroclortiazida. A hiperpotassemia foi significativamente mais comum em pacientes que receberam alisquireno e valsartana. O aliquireno é biotransformado pela CIP3A4 e é sujeito a interações de fármacos. X. BLOQUEADORES DE CANAIS DE CÁLCIO Os bloqueadores de canais de cálcio são recomendados quando os fárma- cos de primeira escolha estão contraindicados ou são ineficazes. Eles são eficazes no tratamento da hipertensão em pacientes com angina ou diabetes. Doses elevadas de bloqueadores de canais de cálcio de curta duração devem ser evitadas devido ao maior risco de infarto do miocárdio por vasodilatação excessiva e acentuada estimulação cardíaca reflexa. A. Classes de bloqueadores de canais de cálcio Os bloqueadores de canais de cálcio são divididos em três classes quími- cas, cada uma com propriedades farmacocinéticas e indicações clínicas diferentes (Figura 19.13). 1. Difenilalquilaminas. O verapamil é o único representante dessa classe aprovado nos Estados Unidos atualmente. O verapamil é o menos seletivo dos bloqueadores de canais de cálcio e apresenta efeitos significativos nas células cardíacas e do músculo liso vascu- lar. Ele é usado também no tratamento da angina, das taquiarritmias supraventriculares e para prevenir a enxaqueca e a cefaleia em sal- vas. Bloqueio atrioventricular de primeiro grau e constipação são efeitos adversos dose-dependentes do verapamil. 2. Benzotiazepina. O diltiazem é o único membro dessa classe que está aprovado nos Estados Unidos atualmente. Como o verapamil, o diltiazem afeta tanto as células cardíacas quanto do músculo liso vascular, mas apresenta efeito inotrópico cardíaco negativo menos pronunciado comparado ao efeito do verapamil. O diltiazem apre- senta um perfil de efeitos adversos favorável. 3. Di-hidropiridinas. Essa classe de bloqueadores de canais de cálcio em rápida expansão inclui o nifedipino de primeira geração e cinco 18% 9% 2% A B C Diltiazem Verapamil Dilatação de vasos coronarianos Nifedipino Ação forte Ação fraca Diltiazem Verapamil Condução AV Nifedipino Diminuída Aumentada Diltiazem Verapamil Frequência de efeitos adversos Nifedipino FrequenteInfrequente Pouco efeito Figura 19.13 Ações dos bloqueadores de canais de cálcio. AV = atrioventricular. Clark-5ed_19.indd 236Clark-5ed_19.indd 236 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 110 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 237 fármacos de segunda geração para o tratamento de doença cardio- vascular: anlodipino, felodipino, isradipino, nicardipino e nisoldipi- no. Esses bloqueadores de canais de cálcio de segunda geração diferem na farmacocinética, nos usos aprovados e nas interações farmacológicas. Todas as di-hidropiridinas apresentam muito maior afinidade pelos canais de cálcio vasculares do que pelos canais de cálcio do coração. Elas são, por isso, particularmente atrativas no tratamento da hipertensão. As di-hidropiridinas têm a vantagem de interagir pouco com outros fármacos cardiovasculares, como a di- goxina ou a varfarina, que são frequentemente usados em conjunto com bloqueadores de canais de cálcio. B. Ações A concentração intracelular de cálcio tem um papel importante na ma- nutenção do tônus da musculatura lisa e na contração do miocárdio. O cálcio entra nas células musculares através de canais de cálcio voltagem- -sensíveis. Isso dispara a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático e da mitocôndria, que aumenta adicionalmente o nível de cálcio citosó- lico. Os antagonistas de canais de cálcio bloqueiam a entrada de cálcio por se ligarem aos canais de cálcio do tipo L no coração e nos músculos lisos dos vasos arteriolares coronarianos e periféricos. Isso causa o rela- xamento do músculo liso vascular, dilatando principalmente as arteríolas. Os bloqueadores de canais de cálcio não dilatam veias. C. Usos terapêuticos Os bloqueadores de canais de cálcio apresentam um efeito natriurético intrínseco e, dessa forma, normalmente não requerem a adição de um diurético. Esses fármacos são úteis no tratamento de pacientes hiper- tensos que tem também asma, diabetes, angina e/ou doença vascular periférica (Figura 19.14). Pessoas negras hipertensas respondem bem aos bloqueadores de canais de cálcio. LEGENDA: HIPERTENSÃO ANGINA TAQUIARRITMIA SUPRAVENTRICULAR SEGURO NA IC LEVE A MODERADA SEGURO COM �-BLOQUEADORES INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS BLOQUEADORES DE CANAIS DE CÁLCIO APROVADOS Diltiazem Felodipino Isradipino Anlodipino Nicardipino FármacoFármaco Indicação aprovada Uso com cautela Nifedipino Verapamil Felodipino Isradipino Anlodipino NicardipinoNifedipino Diltiazem Anlodipino NicardipinoNifedipino Verapamil Diltiazem Verapamil Diltiazem Felodipino Isradipino Anlodipino Figura 19.14 Algumas aplicações terapêuticas dos bloqueadores de canais de cálcio. IC = insuficiência cardíaca. Clark-5ed_19.indd 237Clark-5ed_19.indd 237 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos Anti-hipertensivos | PARTE 1 111 238 Clark, Finkel, Rey & Whalen D. Farmacocinética A maioria desses fármacos apresenta meia-vida curta (3 a 8 horas) após a administração via oral. Preparações de liberação sustentada estão dis- poníveis e permitem dosificação única por dia. O anlodipino tem meia- -vida muito longa e não requer formulação de liberação estendida. E. Efeitos adversos Constipação ocorre em cerca de 10% dos pacientes tratados com vera- pamil. Tontura, cefaleia e sensação de fadiga causada pela redução da pressão arterial ocorrem com di-hidropiridinas mais frequentemente (Fi- gura 19.15). O verapamil deve ser evitado em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou com bloqueio atrioventricular devido aos efeitos inotrópicos (força de contração do músculo cardíaco) e dromotrópicos (ve- locidade de condução) negativos. A nifedipina causa crescimento gengival. XI. AGENTES BLOQUEADORES DE ADRENORRECEPTORES � Prazosina, doxazosina e terazosina produzem bloqueio competitivo de adrenorreceptores-�1. Eles diminuem a resistência vascular periférica e re- duzem a pressão arterial por relaxarem os músculos lisos de artérias e veias. Esses fármacos causam mudanças mínimas no débito cardíaco, fluxo san- guíneo renal e velocidade de filtração glomerular. Por isso, não ocorre taqui- cardia no tratamento prolongado, mas retenção de sal e água. Pode ocorrer hipotensão postural em alguns indivíduos. Os �-bloqueadores podem ser usados para tratar hipertensão leve a moderada e são prescritos associados ao propranolol e/ou a um diurético para efeitos aditivos. Taquicardia reflexa e síncope na primeira dose são efeitos adversos praticamente universais. O uso concomitante de um �-bloqueador pode ser necessário para abrandar a taquicardia reflexa de curto prazo. Devido ao perfil de efeitos adversos, ao de- senvolvimento de tolerância e ao advento de anti-hipertensivos mais seguros, os �-bloqueadores são usados raramente no tratamento da hipertensão. A tansulosina tem sido usada no tratamento da hiperplasia benigna de próstata por ser um bloqueador-�1 com maior seletividade pelo músculo prostático. XII. FÁRMACOS BLOQUEADORES DE ADRENORRECEPTORES � E � O labetalol e o carvedilol bloqueiam os receptores �1, �1 e �2. O carvedilol, embora eficaz como anti-hipertensivo é usado principalmente no tratamento da insuficiência cardíaca. O carvedilol, bem como o metoprolol, um antagonis- ta �1 seletivo, revelaram ser capazes de reduzir a morbidade e a mortalidade associada à insuficiência cardíaca. XIII. ADRENÉRGICOS DE AÇÃO CENTRAL A. Clonidina Esse agonista �2 diminui o efluxo adrenérgico central, reduzindo a taxa de disparos dos nervos simpáticos e a quantidade de norepinefrina libe- rada. A clonidina é usada primariamenteno tratamento da hipertensão leve a moderada que não responde adequadamente ao tratamento com dois ou mais fármacos. A clonidina não reduz o fluxo sanguíneo renal ou a filtração glomerular e, portanto, é útil no tratamento da hipertensão complicada por doença renal. A clonidina é bem absorvida após admi- Constipação Vertigem Cefaleia Fadiga HipotensãoPA Rubor Figura 19.15 Alguns efeitos adversos comuns dos bloqueadores de canais de cálcio. Clark-5ed_19.indd 238Clark-5ed_19.indd 238 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 112 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 239 nistração via oral e é excretada pelos rins. Como pode causar retenção de sódio e água, a clonidina pode ser administrada associada com um diurético. Os efeitos adversos geralmente são leves, mas pode produzir sedação, xerostomia e constipação. Ocorre hipertensão de rebote após interrupção súbita da clonidina. Ela deve ser retirada lentamente se o clínico deseja mudar o fármaco. B. �-Metildopa Esse agonista-�2 é convertido em metilnorepinefrina no SNC, causando diminuição do efluxo adrenérgico. Isso leva à redução da resistência peri- férica total e à diminuição da pressão arterial. O débito cardíaco e o fluxo sanguíneo para os órgãos vitais não diminuem. Como o fluxo sanguíneo aos rins não diminui, a �-metildopa apresenta especial valor no tratamen- to de pacientes hipertensos com insuficiência renal. Os efeitos adversos mais comuns do �-metildopa são sedação e sonolência. A �-metildopa tem sido usada em hipertensas grávidas. XIV. VASODILATADORES Os relaxantes de músculos lisos de ação direta, como a hidralazina e o mi- noxidil, tradicionalmente não são usados como fármacos primários no tra- tamento da hipertensão. Estes vasodilatadores produzem relaxamento do músculo liso vascular, o que diminui a resistência e, dessa forma, a pressão arterial. Parte significativa da ação hipotensora destes fármacos é devido à ativação de canais de potássio, aumentando o efluxo de potássio e induzindo hiperpolarização da membrana dos músculos lisos. Quando a membrana está hiperpolarizada, o influxo de cálcio é inibido e o músculo liso arteriolar rela- xa. Esses fármacos produzem estimulação reflexa do coração, resultando em aumentos reflexos da contratilidade miocárdica, da frequência cardíaca e do consumo de oxigênio. Essas ações podem causar angina pectoris, infarto do miocárdio ou insuficiência cardíaca em indivíduos predispostos. Os vasodila- tadores também aumentam a concentração plasmática de renina, causando retenção de sódio e água. Esses efeitos colaterais indesejados podem ser bloqueados pelo uso concomitante de um diurético e um �-bloqueador. A. Hidralazina Esse fármaco causa vasodilatação direta, agindo primariamente nas ar- térias e arteríolas. Isso resulta na diminuição da resistência periférica, que, por sua vez, inicia a elevação reflexa da frequência cardíaca e do débito cardíaco. A hidralazina é usada no tratamento de hipertensão mo- deradamente grave. Ela é administrada quase sempre em associação a um �-bloqueador, como o propranolol, metoprolol ou atenolol (para com- pensar a taquicardia reflexa), e um diurético (para reduzir a retenção de sódio). Juntos, os três fármacos diminuem o débito cardíaco, o volume plasmático e a resistência vascular periférica. A monoterapia com hidrala- zina é um método aceito no controle da hipertensão induzida pela gesta- ção. Os efeitos adversos do tratamento com hidralazina incluem cefaleia, taquicardia, náusea, sudoração, arritmia e precipitação de angina. Uma síndrome semelhante ao lúpus pode ocorrer com doses elevadas, mas é reversível com a interrupção do uso do fármaco. B. Minoxidil Esse fármaco causa dilatação dos vasos de resistência (arteríolas), mas não nos vasos de capacitância (vênulas). O minoxidil é administrado por via oral para o tratamento de hipertensão grave à maligna, refratá- ria a outros fármacos. A taquicardia reflexa e a retenção de líquidos po- Clark-5ed_19.indd 239Clark-5ed_19.indd 239 31/10/12 15:1331/10/12 15:13 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 2 Fármacos que Afetam o Sangue O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 116 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 251 B. Papel das superfícies celulares Cada reação envolvida com a cascata da coagulação ocorre em uma superfície celular ativada localizada, onde o complexo proteína-proteína com base em fosfolipídeo se formou. Este complexo consiste em super- fícies de membranas providas de fosfolipídeos (primariamente fosfa- tidil-serina) de plaquetas ativadas ou células endoteliais ativadas, uma enzima (um fator de coagulação ativado), um substrato (a pró-enzima do fator de coagulação seguinte na cadeia) e de um cofator. O cálcio é essencial nesse processo, unindo fosfolipídeos aniônicos a resíduos de ácido �-carboxiglutâmico dos fatores de coagulação. (Nota: a remoção do cálcio com quelantes, como o citrato ou ácido tetraetilenodiamina acético, é usado para evitar a coagulação em tubo de ensaio). C. Inibidores de coagulação É importante que a coagulação fique restrita ao local da lesão vascular. Endogenamente existem vários inibidores dos fatores de coagulação, in- cluindo proteína C, proteína S, antitrombina III e inibidor da via do fator tissular. O mecanismo de ação dos vários fármacos anticoagulantes, in- cluindo heparina e fármacos relacionados à heparina, envolve a ativação desses inibidores endógenos (primariamente antitrombina III). VI. ANTICOAGULANTES Os fármacos anticoagulantes inibem a ação dos fatores de coagulação (os inibidores de trombina, como a heparina e os fármacos heparina-relaciona- dos) ou interferem na síntese dos fatores de coagulação (os antagonistas da vitamina K, como a varfarina). A. Inibidores de trombina: heparina e heparinas de baixa massa molecular A heparina é um anticoagulante injetável de ação rápida que é usado com frequência para interferir agudamente na formação de trombos. Ela nor- malmente ocorre como uma macromolécula complexada com histamina nos mastócitos, onde sua função fisiológica é desconhecida. Para uso co- mercial, a heparina é extraída da mucosa intestinal suína. A heparina não fracionada é uma mistura de cadeias retas, glicosaminoglicanos aniônicos com uma ampla faixa de massas moleculares (Figura 20.11). Ela é muito ácida devido à presença de sulfato e grupos de ácido carboxílico (Figura 10.0000 20.000 30.000 C o n ce n tr aç ão Massa molecular HBMMs Heparina Figura 20.11 Distribuição das massas moleculares típicas das heparinas de baixa massa molecular (HBMM) e da heparina. CH2 O COO– OH OH O HN H H H H H H H H H H OO OO H SO3 – SO 3 –O Ácido �-D-glicurônico Sulfato de glicosamina Figura 20.12 Componente dissacarídeo da heparina mostrando as cargas negativas decor- rentes dos grupos carboxila e sulfato. Fatores de coagulação inativos Lento Rápido Antitrombina Heparina Heparina A heparina se dissocia do complexo ternário e pode ser reutilizada. Fatores de coagulação inativos Figura 20.13 A heparina acelera a inativação dos fatores de coagulação pela antitrombina. Clark-5ed_20.indd 251Clark-5ed_20.indd 251 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos que Afetam o Sangue | PARTE 2 117 252 Clark, Finkel, Rey & Whalen 20.12). (Nota: nesta discussão, o termo heparina indica a forma não fracio- nada do fármaco.) O conhecimento de que formas de heparina de baixa massa molecular (HBMM) também conseguem atuar como anticoagulantes levou ao isolamento da enoxaparina, a primeira HBMM (ao polímero, estão substituindo o uso da heparina em várias situações clínicas. A heparina é usada na prevenção de trombose venosa e no tratamento de uma variedade de doenças trom- bóticas, como embolia pulmonar e infarto agudo do miocárdio. 1. Mecanismo de ação. A heparina atua em inúmeros alvos molecula- res, mas seu efeito anticoagulante é consequência da ligação à anti- trombina III, com a rápida inativação subsequente dos fatores de coa- gulação (Figura 20.13). A antitrombina III é uma �-globulina e inibe serina-proteases, incluindo vários dos fatores de coagulação – sendo os mais importantes a trombina (Fator IIa) e o Fator Xa (ver Figura 20.10). Na ausência de heparina, a antitrombina III interage lentamen- te com a trombina e o Fator Xa. As moléculas de heparina se ligam à antitrombina III, induzindo alteração conformacional que acelera sua velocidade de ação cerca de mil vezes. A heparina também serve de molde catalítico para a interação da antitrombina III e os fatores de coagulação ativados. Ela atua como verdadeiro catalisador, permitindo que a antitrombina III se combine rapidamente com a trombina circu- lante e o Fator Xa e os iniba (Figura 20.14). Em contraste, as HBMMs complexam com a antitrombina III e inativam o Fator Xa (incluindo o localizado nas superfícies das plaquetas), mas não se ligam tão avida- mente à trombina. Sem dúvida, a ativação das plaquetas em repouso é menos provável com as HBMMs do que com a heparina. (Nota: a sequência de pentassacarídeo presente na heparina e nas HBMMs permite sua ligação à antitrombina III [ver Figura 20.14].) 2. Usos terapêuticos. A heparina e as HBMMs limitam a expansão dos trombos evitando a formação de fibrina. A heparina é o prin- cipal fármaco antitrombótico para o tratamento da trombose aguda de veias profundas e do embolismo pulmonar. A incidência de epi- A B Antitrombina Fator XaFator Xa Trombina Heparina HBMM Antitrombina Fator XaFator Xa Heparina não fracionada HBMM A heparina não fracionada acelera a interação da antitrombina com a trombina e o Fator Xa. HBMM acelera seletivamente a interação da antitrombina com o Fator Xa. A interação da antitrombina com a heparina e a HBMM é mediada por uma sequência de pentassacarídeos. Figura 20.14 A heparina e a heparina de baixa massa molecular (HBMM) intermedeiam a inativação da trombina ou do Fator Xa. Meia-vida intravenosa Resposta anticoagulante Biodisponibilidade Principais efeitos adversos Local de tratamento 2 horas Variável 20% Sangramentos frequentes Hospital 4 horas Previsível 90% Sangramentos menos frequentes Hospital e paciente externo HEPARINA HBMMsCARACTERÍSTICAS DO FÁRMACO Figura 20.15 Algumas propriedades da heparina e das heparinas de baixa massa molecu- lar (HBMM). Clark-5ed_20.indd 252Clark-5ed_20.indd 252 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 118 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 253 sódios tromboembólicos recorrentes também diminui. Clinicamente, a heparina é usada profilaticamente para prevenir trombos venosos pós-cirúrgicos em pacientes submetidos à cirurgia eletiva (p. ex., prótese de bacia) e naqueles que estão na fase aguda de um infarto do miocárdio. A retrotrombose arterial coronariana após o tratamen- to trombolítico é reduzida com heparina. Esse fármaco também é usado nos aparelhos de circulação extracorpórea (p. ex., máquinas de diálise) para prevenir a trombose. A heparina e as HBMMs são os anticoagulantes de escolha para o tratamento da gestante com válvula cardíaca prostética ou tromboembolismo venoso, pois esses fármacos não atravessam a placenta (devido ao grande tamanho e carga negativa). A heparina tem a vantagem do rápido início de ação e que também termina rápido na suspensão do tratamento. Contu- do, isso está sendo superado pelas HBMMs, como a enoxaparina e a dalteparina, pois esses fármacos podem ser convenientemente injetadas por via SC no paciente com base na sua massa corpórea, têm efeitos terapêuticos e perfil farmacocinético previsíveis (Figura 20.15). Especificamente, a HBMM não requer a mesma monitoração intensa que a heparina, exige; em consequência, elas poupam tem- po e custos laboratoriais e de enfermagem. Essas vantagens tornam as HBMM úteis para pacientes hospitalizados e ambulatoriais. 3. Farmacocinética a. Absorção. Enquanto o efeito anticoagulande da heparina ocorre minutos após a administração por via IV (ou em 1 a 2 horas após injeção SC), a atividade antifator Xa máxima das HBMMs ocorre em cerca de 4 horas após a injeção SC. (Nota: Isso é comparável aos anticoagulantes antagonistas da vitamina K, como a varfari- na, cuja atividade exige de 8 a 12 horas.) A heparina precisa ser administrada por via parenteral, em locais SC profundos ou por via IV, pois ela não atravessa membranas com facilidade (Figura 20.16). As HBMMs são administradas por via SC. (Nota: a ad- ministração de ambos os fármacos por via IM é contraindicada devido à formação de hematoma.) A heparina com frequência é administrada por via IV em bolus para obter anticoagulação imediata. Isso é seguido de doses menores ou infusão contínua de heparina por 7 a 10 dias, titulando a dose de forma que o tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) seja 1,5 a 2,5 vezes o valor controle normal. Normalmente não é preciso obter um índice desses com as HBMMs, pois os níveis plasmáticos e a farmacocinética desses fármacos são previsíveis. Todavia, aos pacientes com insuficiência renal, a dosagem deve ser reduzida para compensar a diminuição da função renal. b. Distribuição. No sangue, a heparina se liga a várias proteínas que neutralizam sua atividade, causando, assim, resistência ao fármaco e farmacocinética imprevisível. A ligação da heparina às proteínas plasmáticas é variável em pacientes com doença tromboembólioca. Embora geralmente restrita à circulação, a heparina é captada pelo sistema monócitos/macrófagos e sofre despolimerização e dessulfatação a produtos inativos. (Nota: a heparina tem meia-vida mais longa em pacientes com cirrose hepática.) Os metabólitos inativos, bem como alguma hepari- na e HBMMs são excretados na urina. Portanto, a insuficiência renal também prolonga a meia-vida. Nem a heparina nem as HBMMs atravessam a barreira placentária. A meia-vida da he- parina é de cerca de 1,5 hora, ao passo que das HBMMs é duas a quatro vezes mais longa, variando de 3 a 7 horas. Heparina e HBMM são na maior parte confinadas no sistema vascular Heparina e HBMMs A heparina e a HBMM parcialmente degradadas aparecem na urina. Heparina: IV, SC profunda HBMMs: SC Figura 20.16 Administração e destino da heparina e das heparinas de baixa massa molecu- lar (HBMM). A A A Sangramento Hipersensibilidade Trombocitopenia Figura 20.17 Efeitos adversos da heparina. Clark-5ed_20.indd 253Clark-5ed_20.indd 253 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos que Afetam o Sangue | PARTE 2 119 254 Clark, Finkel, Rey & Whalen 4. Efeitos adversos. Apesar da expectativa de menos efeitos adver- sos com as HBMM, verificou-se que as complicações são similares às observadas com a heparina. Todavia, os problemas tromboem- bólicos são menos comuns. a. Hemorragias. A principal complicação do tratamento com he- parina é a hemorragia (Figura 20.17). A monitoração cuidadosa do tempo de sangramento é necessária para minimizar esse problema. O sangramento excessivo pode ser controlado pela interrupção do uso da heparina ou pela administração de sulfa- to de protamina. Infundido lentamente, este último fármaco se combina ionicamente com a heparina para formar um complexo 1:1 estável e inativo. É muito importante que a dosagem de pro- tamina seja titulada cuidadosamente (1 mg para cada 100 uni- dade de heparina administrada), porque o sulfato de heparina é um anticoagulante fraco e o excesso pode iniciar sangramento ou piorar o potencial hemorrágico.b. Reações de hipersensibilidade. As preparações de heparina são obtidas de suínos e, assim, podem ser antigênicas. Possí- veis reações adversas incluem calafrios, febre, urticária e cho- que anafilático. c. Trombose. A administração crônica ou intermitente de heparina pode levar à redução da atividade da antitrombina III, diminuin- do, assim, a inativação dos fatores de coagulação e aumentan- do o risco de trombose. Para minimizar esse risco, são empre- gados, em geral, tratamentos com doses baixas de heparina. d. Trombocitopenia. Essa condição, na qual o sangue circulan- te contém um número anormalmente pequeno de plaquetas, é uma anormalidade comum entre os pacientes hospitalizados que recebem heparina. O tratamento com heparina deve ser interrompido em pacientes que apresentam grave trombocito- penia. A heparina pode ser substituída por outro anticoagulante, como dabigatrana, lepirudina ou argatrobana (ver a seguir). e. Outros: a heparina pode produzir resultados anormais de tes- tes de função hepática, bem como osteoporose, observada em pacientes tratados por longo período. f. Contraindicações. A heparina é contraindicada para pacientes que são hipersensíveis a ela ou têm distúrbios de coagulação, são alcoólatras ou que tiveram recentemente ou terão cirurgia no cérebro, no olho ou na medula espinal. B. Inibidores de trombina: etexilato de dabigatrana O etexilato de dabigatrana é o pró-fármaco da molécula ativa dabiga- trana que é um inibidor direto da trombina aprovado atualmente para prevenir derrames e embolismo sistêmico em pacientes com fibrilação atrial. A dabigatrana é o primeiro anticoagulante oral em 50 anos a ser aprovado após a descoberta da varfarina. A dabigatrana não requer monitoração de rotina (INR), e comparada com varfarina, tem poucas interações com outros fármacos. O principal efeito adverso é o sangra- mento, como com outros anticoagulantes. Efeitos adversos GI também podem ocorrer com este fármaco. Devido à sua eficácia, à biodisponibi- lidade oral e a propriedades farmacocinéticas previsíveis, a dabigatrana pode ser uma alternativa à enoxaparina para a profilaxia de trombos na cirurgia ortopédica. IV A lepirudina fica confinada no sistema vascular Lepirudina Figura 20.18 Administração de lepirudina. IV = intra- venoso. Clark-5ed_20.indd 254Clark-5ed_20.indd 254 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 120 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 255 C. Outros anticoagulantes parenterais 1. Lepirudina. Um antagonista direto e altamente específico de trom- bina, a lepirudina é um polipeptídeo intimamente relacionado com a hirudina – um inibidor de trombina presente na saliva da sanguessu- ga. A lepirudina é produzida em células de fungos por tecnologia de DNA recombinante. Uma molécula de lepirudina se liga a uma molé- cula de trombina, bloqueando a sua atividade trombogênica. Ela tem pouco efeito na aglutinação plaquetária. Administrada por via IV (Fi- gura 20.18), a lepirudina é eficaz no tratamento da trombocitopenia induzida por heparina (TIH) e de outros distúrbios tromboembólicos e pode evitar complicações tromboembólicas adicionais. A lepirudina tem meia-vida de cerca de uma hora e sofre hidrólise. Ela e seus fragmentos são eliminados na urina. O sangramento é o principal efeito adverso do tratamento com lepirudina e pode ser agravado pelo tratamento trombolítico simultâneo, como com estreptoquinase ou alteplase. Cerca de metade dos pacientes que recebem lepirudi- na desenvolve anticorpos. Contudo, o complexo fármaco-anticorpo mantém sua atividade anticoagulante. Como a eliminação renal do complexo é mais lenta do que a do fármaco livre, o efeito anticoagu- lante pode ser maior. É importante monitorar o TTPa e a função renal quando o paciente está recebendo lepirudina. 2. Argatrobana. Argatrobana é um anticoagulante oral. Ela é uma pequena molécula sintética que inibe diretamente a trombina. A argatrobana é usada preventivamente no tratamento da trombose em pacientes com TIH e aprovada para uso durante intervenções coronárias percutâneas em pacientes que apresentam ou estão sob risco de TIH. A argatrobana é biotransformada no fígado e tem meia-vida de 39 a 51 min. É monitorada pelo TTPa. A hemoglobina e o hematócrito também devem ser monitorados. Como a argatro- bana é biotransformada no fígado, ela pode ser usada em pacien- tes com disfunção renal, mas deve ser usada com cautela nos que apresentam insuficiência hepática. Como com os outros fármacos dessa classe, o principal efeito adverso é a hemorragia. 3. Fondaparinux. Esse é o primeiro de uma nova classe de anticoa- gulantes pentassacarídeos totalmente sintético sem variabilidade na atividade biológica. O fondaparinux foi aprovado pelo FDA recente- mente para uso na profilaxia da trombose de veias profundas que podem levar à embolia pulmonar em pacientes submetidos a cirur- gias de fratura de bacia, prótese de cabeça de fêmur ou de joelho. Também é usado junto com varfarina para o tratamento do embolis- mo pulmonar agudo e trombose de veias profundas. Esse fármaco inibe seletivamente só o Fator Xa. Ligando-se seletivamente a anti- trombina III, o foundaparinux potencializa (300 a 1.000 vezes) a neu- tralização inata do Fator Xa pela antitrombina III. Ele é bem absorvi- do da via SC com perfil farmacocinético previsível. O foundaparinux requer menos monitoração do que a heparina. É eliminado com a urina principalmente inalterado com meia-vida de eliminação de 17 a 21 horas. Ele é contraindicado em pacientes com insuficiência renal grave (depuração de creatinina menor que 30 mL/min). Episódios de sangramento são o seu principal efeito adverso. Trombocitopenia, em particular a trombocitopenia Tipo II, não constitui problema e este fármaco pode ser usado em pacientes com TIH. D. Antagonistas da vitamina K Os anticoagulantes cumarínicos, que incluem a varfarina, comumente usada, e o dicumarol (antigamente bisidroxicumarina), raramente usa- Clark-5ed_20.indd 255Clark-5ed_20.indd 255 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos que Afetam o Sangue | PARTE 2 121 256 Clark, Finkel, Rey & Whalen do. Ambos devem sua ação à sua capacidade de antagonizar a função de cofator da vitamina K. A única cumarina terapeuticamente relevante é a varfarina. Inicialmente usada como raticida, a varfarina hoje é mui- to usada clinicamente como anticoagulante oral. Com a disponibilização das HBMMs e os inibidores da aglutinação das plaquetas, contudo, o uso dos antagonistas da vitamina K está diminuindo. A morbidade potencial associada ao uso da varfarina torna importante identificar os pacientes que realmente estão em risco de trombose. (Nota: na década de 1990, foi adotada a Relação Internacional Normalizada (INR na sigla em inglês) para monitorar a concentração de varfarina. O INR corrige as variações que ocorrerm com diferentes reagentes tromboplastinas entre diferentes hospitais ou quando o hospital recebe novos lotes de reagentes.) Mesmo a monitoração cuidadosa para manter o INR de 2 a 3 para a maioria dos pacientes não impede complicações de sangramento em vários pacientes. 1. Mecanismo de ação. Vários dos fatores de coagulação proteicos (incluindo os Fatores II, VII, IX e X; ver Figura 20.10) precisam da vitamina K como um cofator para sua síntese pelo fígado. Esses fatores sofrem uma modificação pós-translacional dependente de vitamina K, na qual alguns de seus resíduos de ácido glutâmico são carboxilados para formar resíduos de ácido �-carboxiglutâmico (Fi- gura 20.19). Os resíduos de �-carboxiglutamil ligam íons cálcio, que são essenciais para a interação entre os fatores de coagulação e as membranas plaquetárias. Nas reações de carboxilação, a carboxila- se dependente de vitamina K fixa CO2 para formar os novos grupos COOH no ácido glutâmico. O cofator vitamina K reduzido é converti- do em epóxido de vitamina K durante a reação. A vitaminaK é rege- nerada do epóxido pela vitamina K epóxido-redutase – a enzima que é inibida pela varfarina. O tratamento com varfarina resulta na pro- dução de fatores de coagulação menos ativos (de 10 a 40% do nor- mal), pois lhes faltam suficientes cadeias laterais �-carboxiglutamil. Diferente da heparina, os efeitos anticoagulantes da varfarina não são observados até 8 a 12 horas depois da administração, mas o pico do efeito pode demorar até 72 a 96 horas, tempo necessário para esgotar o estoque de fatores de coagulação circulantes. O efei- to anticoagulante da varfarina pode ser superado pela administração de vitamina K. Contudo, a reversão após a administração de vitami- na K demora cerca de 24 horas (tempo necessário para degradação de todos os fatores de coagulação sintetizados). 2. Usos terapêuticos. A varfarina é usada para prevenir a progres- são ou a recorrência de trombose aguda de veias profundas ou de embolia pulmonar, após o tratamento inicial com heparina. Ela é também usada para a prevenção do tromboembolismo venoso du- rante cirurgias ortopédicas ou ginecológicas. Profilaticamente, ela é usada em pacientes com infarto agudo do miocárdio, válvulas car- díacas prostéticas e fibrilação atrial crônica. 3. Farmacocinética a. Absorção. A varfarina é rapidamente absorvida após adminis- tração via oral (100% de biodisponibilidade com pouca variação individual). Embora alimentos possam retardar a sua absorção, eles não alteram a extensão da absorção. A varfarina liga-se 99% à albumina plasmática, o que evita sua difusão para o líqui- do cerebrospinal, para a urina e para o leite materno. Contudo, fármacos que tenham maior afinidade pelo local de ligação da albumina, como as sulfonamidas, podem deslocar os anticoagu- lantes e levar a um aumento transitório da atividade. Fármacos que afetam a ligação da varfarina às proteínas plasmáticas pro- C O CH NH CH2 CH2 COO– C O CH NH O2 CO2 CH2 CH COO– COO– Precursores polipeptídicos dos Fatores de coagulação II, VII, IX e X NADPH NADP+ Vitamina K reduzida Vitamina K epóxido oxidado Resíduos �-carboxiglutamila Fatores de coagulação ativos II, VII, IX e X Varfarina Figura 20.19 Mecanismos de ação da varfarina. NADP+ = forma oxidada do fosfato de nicotinamida-adenina dinucleotídeo; NADPH = forma reduzida do fosfato de nicotinamidaadenina dinucleotídeo. Clark-5ed_20.indd 256Clark-5ed_20.indd 256 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 122 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 257 movem interações e variabilidade na resposta terapêutica à var- farina. A varfarina atravessa facilmente a placenta. A meia-vida média é de cerca de 40 horas, mas este valor é muito variável entre indivíduos. O tempo de protrombina, uma medida da via extrínseca, pode ser usado para monitorar o tratamento com varfarina. O objetivo do tratamento com varfarina é um INR de 2 ou 3 para a maioria das indicações e 2,5 a 3,5 em pacientes com válvulas cardíacas mecânicas. A varfarina tem índice tera- pêutico estreito e, portanto é importante que o INR seja mantido na faixa ideal. Valores de INR acima ou abaixo da faixa aumen- tam o risco de trombose e hemorragia respectivamente. b. Destino. Os produtos da biotransformação da varfarina, catali- sados pelo sistema CIP450, são inativos. Após conjugação ao ácido glicurônico, são excretados na urina e nas fezes. Os fár- macos que afetam a biotranformação da varfarina podem alterar seus efeitos terapêuticos. 4. Efeitos adversos a. Hemorragias. A principal reação indesejada causada pelo trata- mento com varfarina é a hemorragia, e a embalagem dos medica- mentos que a contém tem advertência em tarja preta alertando para o risco. Por isso, é importante monitorar com frequência e ajustar o efeito do anticoagulante. Pequenos sangramentos po- dem ser tratados com a retirada do fármaco e a administração de vitamina K1 oral, mas hemorragias exigem doses maiores de vita- mina administradas por via IV. Sangue total, plasma congelado e concentrados plasmáticos dos fatores sanguíneos também podem ser usados para reverter a ação da varfarina rapidamente. Lesões de pele e necrose são complicações raras e observadas primaria- mente em mulheres. Síndrome da língua púrpura, uma coloração violácea da língua muito dolorosa, causada por êmbolos de coles- terol, também foi observada no tratamento com varfarina. b. Interações com fármacos e outras. A varfarina tem numero- sas interações que podem potencializar ou atenuar seu efeito anticoagulante. A relação de fármacos de interação é extensa. Um resumo das interações mais importantes é apresentado na Figura 20.20. Numerosos outros fatores influenciam a resposta terapêutica à varfarina. Estes fatores incluem alterações am- bientais, dieta, estado físico e medicações. Pode ser necessário monitorar a resposta do paciente mais amiude com mensuração do tempo de protrombina/INR se um ou mais dos fatores lista- dos estão presentes. c. Doenças. Deficiência de vitamina K, doenças hepáticas que impedem a síntese dos fatores de coagulação ou afetam a bio- transformação da varfarina e estados hipermetabólicos que au- mentam o catabolismo dos fatores da coagulação dependentes de vitamina K podem influenciar o estado hipoprotrombinêmico do paciente e aumentar a resposta aos anticoagulantes orais. Outras doenças, como neoplasias, hiperlipidemia e hipotireoi- dismo, também afetam a resposta do paciente à varfarina. d. Contraindicações. A varfarina nunca deve ser usada durante a gestação, pois ela é teratogênica e pode causar aborto, bem como defeitos no parto (Classificação do FDA na gestação: X). Se o tratamento anticoagulante é necessário durante a gesta- ção, deve-se administrar heparina ou HBMM. Varfarina Ácido acetilsalicílico Inibição da biotransformação da varfarina Inibição da aglutinação plaquetária Consumo crônico de álcool Barbitúricos Glutetimida Griseofulvina Rifampicina Estimulação da biotransformação de varfarina Potencialização dos anticoagulantes Atenuação da anticoagulação Intoxicação aguda por álcool Cimetidina Cloranfenicol Cotrimoxazol Dissulfiram Metronidazol Figura 20.20 Fármacos que afetam o efeito anticoa- gulante da varfarina. Plasminogênio Plasmina Fibrina Produtos de degradação da fibrina Estreptoquinase Uroquinase Alteplase + + + Figura 20.21 Ativação do plasminogênio pelos fár- macos trombolíticos. Clark-5ed_20.indd 257Clark-5ed_20.indd 257 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos que Afetam o Sangue | PARTE 2 123 258 Clark, Finkel, Rey & Whalen VII. FÁRMACOS TROMBOLÍTICOS A doença tromboembólica aguda em determinados pacientes pode ser tratada com a administração de fármacos que ativam a conversão de plasminogênio em plasmina – uma serina-protease que hidrolisa fibrina e, assim, dissolve coá- gulos (Figura 20.21). A estreptoquinase, um dos primeiros desses fármacos aprovados, causa um estado fibrinolítico sistêmico que pode levar a problemas de sangramento. O alteplase atua mais localizadamente na fibrina trombótica para produzir fibrinólise. A uroquinase é produzida naturalmente nos rins huma- nos e converte diretamente plasminogênio em plasmina ativa. A Figura 20.22 compara os fármacos trombolíticos comumente usados. A experiência clínica mostrou eficácia similar entre estreptoquinase e alteplase. Infelizmente, o trata- mento trombolítico é malsucedido em cerca de 20% das artérias infartadas, e cerca de 15% das artérias que são abertas tornam a fechar outra vez. No caso de infarto agudo do miocárdio, os fármacos trombolíticos são reservados para as situações nas quais a angioplastia não é uma opção ou até que o paciente possa ser levado ao local que tenha condições de realizar intervenções coroná- rias percutâneas. Os fibrinolíticos podem lisar trombos patológicos e normais. A. Características comuns dos fármacos trombolíticos 1. Mecanismo de ação.Os trombolíticos apresentam algumas carac- terísticas comuns. Todos atuam direta ou indiretamente convertendo plasminogênio em plasmina, que, então, hidrolisa a fibrina, lisando, assim, os trombos (ver Figura 20.21). A dissolução do coágulo e a reperfusão ocorrem com maior frequência quando o tratamento é iniciado logo após a formação do trombo, pois ele se torna mais resistente à lise à medida que envelhece. Infelizmente, um maior número de trombos pode ocorrer enquanto o trombo se dissolve, levando a uma maior agregação das plaquetas e trombose. Estraté- gias para evitar essa situação incluem a administração de fármacos antiplaquetários, como o AAS, ou antitrombóticos, como a heparina. 2. Usos terapêuticos. Usados originalmente para o tratamento de trombose de veias profundas e embolismo pulmonar grave, os trom- bolíticos hoje são usados menos frequentemente para essas condi- ções. Sua tendência de causar hemorragias também comprometeu seu uso no tratamento do infarto agudo do miocárdio ou trombose arterial periférica. Contudo, os trombolíticos são úteis para restabe- lecer a função de cateteres e anastomoses (shunts) lisando os coá- gulos que causam a oclusão. Os trombolíticos também são usados para dissolver coágulos que resultam em acidente vascular encefá- lico (AVE). 3. Farmacocinética. Para o infarto do miocárdio, a aplicação intraco- ronariana do fármaco é a forma mais confiável em termos de obter a recanalização. Contudo, a cateterização cardíaca pode não ser possível nas 2 a 6 horas de “janela terapêutica”, após as quais a re- cuperação miocárdica significativa se torna menos provável. Assim, os trombolíticos, em geral, são administrados por via IV, pois essa via é rápida, barata e não tem os riscos da cateterização. 4. Efeitos adversos. Os trombolíticos não diferenciam entre a fibri- na de um trombo indesejado e a fibrina de um tampão hemostáti- co benéfico. Assim, a hemorragia é o principal efeito adverso. Por exemplo, uma lesão prévia insuspeita, como a úlcera péptica, pode sangrar após a injeção de um trombolítico (Figura 20.23). Esses fár- macos são contraindicados em pacientes com ferimentos em cica- trização, gestação, história de AVE, tumor cerebral, traumatismo na cabeça, sangramento intracranial e câncer metastático. A presen- 0 10 Minutos 20 30 C. MEIA-VIDA Baixa Alta A. ANTIGENICIDADE Baixa Alta Alteplase Estreptoquinase Uroquinase Uroquinase Uroquinase Alteplase Estreptoquinase Alteplase Estreptoquinase B. ESPECIFICIDADE DA FIBRINA Figura 20.22 Comparação entre enzimas trombolíti- cas. A B Tampão hemostático Sangue Sangue Sangramento Paciente não tratado Paciente tratado com ativador de plasminogênio Trombo Trombo diminuído Figura 20.23 Degradação de um trombo indesejado e um tampão hemostático útil pelos ati- vadores de plasminogênio. Clark-5ed_20.indd 258Clark-5ed_20.indd 258 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 124 FARMACOLOGIA GERAL Farmacologia Ilustrada 259 ça contínua do estímulo trombogênico pode causar retrotrombose após a lise do coágulo inicial. B. Alteplase Alteplase (era conhecida como ativador do plasminogênio tipo tecidual ou APt) é uma serina-protease originalmente derivada de cultura de células de melanoma humano. Atualmente, ela é obtida como produto de tecno- logia de DNA recombinante. 1. Mecanismo de ação. A alteplase tem baixa afinidade pelo plasmi- nogênio livre no plasma, mas ativa rapidamente o plasminogênio que está ligado à fibrina em um trombo ou um tampão hemostático. Assim, a alteplase é considerada “fibrina seletiva” e, em doses bai- xas, tem a vantagem de lisar apenas a fibrina, sem a indesejada degradação de outras proteínas – notadamente fibrinogênio. Isso contrasta com a estreptoquinase, que atua no plasminogênio livre e induz um estado fibrinolítico geral. (Nota: na dosagem de alteplase usada atualmente na clínica, o plasminogênio circulante pode ser ativado, resultando em hemorragia.) 2. Usos terapêuticos. A alteplase é aprovada para o tratamento de infarto do miocárdio, embolismo pulmonar massivo e choque isquê- mico agudo. Ela parece superior à estreptoquinase em dissolver coá- gulos antigos e pode ser aprovada para outras aplicações. A altepla- se, administrada dentro de três horas do início do AVE isquêmico, melhora significativamente o resultado clínico – ou seja, a habilidade do paciente de realizar as tarefas diárias (Figura 20.24). Reteplase (Retavase®) é similar ao alteplase e pode ser usado como alternativa. 3. Farmacocinética. A alteplase tem uma meia-vida muito curta (de 5 a 30 minutos) e por isso é administrada como dose total de 0,9 mg/ kg, sendo 10% da dose total injetado por via IV como um bolus, e o restante do fármaco é administrado durante 60 minutos. 4. Efeitos adversos. Podem ocorrer sangramentos, incluindo hemor- ragias gastrintestinais e cerebrais. C. Estreptoquinase A estreptoquinase é uma proteína extracelular purificada de caldos de cultura de estreptococos �-hemolíticos do grupo C. 1. Mecanismo de ação. A estreptoquinase não tem atividade enzi- mática; ao contrário, ela forma um complexo um-a-um ativo com o plasminogênio. Esse complexo enzimaticamente ativo converte o plasminogênio não complexado na enzima ativa plasmina (Figura 20.25). Além da hidrólise dos tampões de fibrina, o complexo tam- bém catalisa a degradação do fibrinogênio, bem como dos Fatores V e VII de coagulação (Figura 20.26). 2. Usos terapêuticos. A estreptoquinase é aprovada para uso em em- bolia pulmonar aguda, trombose de veias profundas, infarto agudo do miocárdio, trombose arterial e oclusão de acesso de anastomoses. 3. Farmacocinética. O tratamento com estreptoquinase é instituído dentro de quatro horas do infarto do miocárdio, sendo infundida du- rante uma hora. Sua meia-vida é de menos de 30 minutos. O tempo de tromboplastina é monitorado e mantido entre 2 e 5 vezes o valor controle. Na interrupção do tratamento, heparina ou anticoagulantes orais podem ser administrados. 50% 38% 13% 16% 13% 28% 24% 17% Incapacidade moderada Incapacidade grave Morte Mínima ou nenhuma incapacidade Porcentagem dos pacientes Placebo Alteplase Figura 20.24 Resultado, após 12 meses, dos pacien- tes de choque tratados com alteplase dentro de 3 horas do início dos sintomas comparados aos tratados com placebo. + + Plasminogênio Plasmina Fibrina Produtos de degradação da fibrina Estreptoquinase Plasminogênio Complexo plasminogênio-estreptoquinase Figura 20.25 Mecanismo de ação da estreptoquinase. + + FibrinaFibrinogênio Produtos de degradação da fibrina Produtos de degradação da fibrina Estado lítico Dissolução do coágulo Complexo plasminogênio- -estreptoquinase Figura 20.26 A estreptoquinase degrada a fibrina e o fibrinogênio. Clark-5ed_20.indd 259Clark-5ed_20.indd 259 31/10/12 15:1231/10/12 15:12 Fármacos dos Sistemas Cardiovascular e Trato Gastrointestinal | UNIDADE 2 Fármacos que Afetam o Sangue | PARTE 2 125 260 Clark, Finkel, Rey & Whalen 4. Efeitos adversos a. Hemorragias. A ativação do plasminogênio circulante pela es- treptoquinase leva a níveis elevados de plasmina, o que pode desencadear sangramentos pela dissolução de tampões hemos- táticos (ver Figura 20.23). Nos raros casos de hemorragias amea- çadoras à vida, deve ser administrado ácido aminocaproico. b. Hipersensibilidade. A estreptoquinase é uma proteína estra- nha e é antigênica. Ocorre urticária, febre e raramente anafi- laxia. Como a maioria dos indivíduos alguma vez teve infecção estreptocócica, anticorpos contra estreptoquinase provavelmen- te estão presentes na maioria dos pacientes. Esses anticorpos podem combinar com a estreptoquinase e neutralizar suas propriedades fibrinolíticas. Portanto, quantidades suficientes de estreptoquinase devem ser administradas para superar os anticorpos e assegurar concentrações terapêuticas de plasmi- na. Febre, reações alérgicas e fracasso terapêutico podem ser