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TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL E BOA-FÉ OBJETIVA

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1 INTRODUÇÃO
	Com o advento do Código Civil Brasileiro de 2002, o ramo do direito civil que trata dos negócios jurídicos sofreu grandes mudanças, pois antes os contratos eram dominados por uma visão patrimonial e individualista, especialmente em relação ao seu descumprimento. 
	O art. 475 do atual Código Civil traz o direito de o credor resolver o contrato em caso de inadimplemento da outra parte, proporcionando-lhe ainda a indenização por perdas e danos. Porém, com a vinda do princípio da boa-fé objetiva e sua disseminação no direito brasileiro, abriu-se a possibilidade de que essa regra não precisasse ser seguida de maneira taxativa e absoluta. Desse modo limitou-se o direito do credor quando o inadimplemento da obrigação contratual se mostrava insignificante, a ponto de não interferir nos efeitos do contrato. Assim surgiu a teoria do adimplemento substancial, a qual já era utilizada por outros ordenamentos jurídicos, especialmente na Europa, onde se originou. 
	Essa teoria é utilizada como uma das formas de tradução da boa-fé objetiva na prática jurídica e ainda é de suma importância para o direito contratual, já que possibilita a preservação da relação negocial mesmo quando a legislação, tecnicamente, permitiria a sua resolução.
	Assim, o presente trabalho tem por objetivo trazer uma explicação acerca da teoria do adimplemento substancial, bem como do princípio da boa-fé objetiva, à luz da doutrina e da jurisprudência, investigando suas aplicações no direito brasileiro. 
2 ORIGEM
2.1 BOA-FÉ OBJETIVA
		O termo boa-fé se originou da expressão “bona fides” que tem como significados: fidelidade, confiança, sinceridade, etc. É um posicionamento contrário a má-fé, que significa: dolo, engano, malícia, etc. Esse princípio tem suas raízes no Direito Romano, pois os romanos se preocupavam em instituir princípios na aplicação do direito, e foram os primeiros a iniciarem os estudos sobre a boa-fé, que tinha a ideia de ética. 
		A palavra fides tinha três significados no Direito Romano: a primeira, fides-sacra, ligada à boa-fé de conotação moral e religiosa; a segunda, a fides-fato, ligada à noção de garantia; e a terceira a fides-ética, que era vista como um dever. 
		No Direito Canônico, durante a Idade Média, a ideia de boa-fé estava ligada a “ausência do pecado”. Seu significado ético de direito obrigacional é enfraquecido e é fortalecido sua dimensão subjetivista. Já na Idade Moderna, época em que se o comércio se desenvolveu, o consensualismo foi adotado como base da clássica teoria dos contratos, apoiando-se no princípio da autonomia da vontade em detrimento da boa-fé.
		Porém, o princípio da boa-fé ganhou importância no Direito Alemão com a regra Treu und Glauben, que tinham como significado lealdade e confiança/crença. Para os doutrinadores alemães, essa regra deveria ser observada pela coletividade, então, deram contornos objetivos a esse princípio, saindo do plano subjetivo e alcançando o sentido de conduta, de dever, de norma a ser seguida pelas partes até a conclusão do negócio jurídico. 
		No Brasil, a boa-fé aparece primeiramente no Código Comercial de 1850, que segundo o seu art. 131, sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, que fosse conforme a boa-fé. Porém não foi efetivo, pois não foi bem compreendido pela doutrina e jurisprudência, já que se restringia a mera interpretação dos contratos. Ela reaparece no Código Civil de 1916, não expressamente como o Código Comercial de 1850, ficando restrita às hipóteses de matéria de direito de família e em questões possessórias.
		Mas, é no Código Civil de 2002 que a boa-fé alcança seu ápice no ordenamento jurídico, pois deixa de ser utilizada apenas em casos de ignorância escusável (aspecto subjetivo), passando a incidir também como fonte de deveres autônomos sobre todos os contratos, sejam eles civis ou empresariais, não ficando mais restrita às relações contratuais consumeristas (aspecto objetivo). Ela encontra-se disciplinada em três dispositivos do Código Civil de 2002 (arts. 422, 113 e 187) e em cada um deles tem um papel diferente a desempenhar no ordenamento jurídico. 
		Atualmente é um instituto jurídico adotado em vários países, visto como um dever ético-moral.
2.2 TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
		A origem da teoria do adimplemento substancial é a doutrina da substancial performance, do direito inglês, criada na Inglaterra no século XVIII. Foi concretizada com o caso Boone v. Eyre, de 1779, julgado por Lord Mansfield, que declarou ser o direito de resolução, naquela situação, abusivo, permitindo apenas a indenização, já que o contrato havia sido adimplido substancialmente. Assim se percebeu a necessidade da relativização da exigência do exato e estrito cumprimento dos contratos.
		No Código Civil Italiano, há previsão expressa sobre o adimplemento substancial, no seu art. 1.455, segundo o qual o contrato não será resolvido se o inadimplemento de uma das partes tiver escassa importância, levando-se em conta o interesse da outra parte.
		No Brasil, o responsável por introduzir a doutrina substancial performance foi o jurista Clóvis do Couto e Silva, fundamentando a sua utilização em decorrência do princípio da boa-fé objetiva, embora não expresso no Código Civil de 1916. 
		Embora haja ausência de previsão expressa no atual Código Civil, a teoria do adimplemento substancial tem sido aplicada em muitos casos, tendo como base, os princípios contratuais contemporâneos, especialmente a boa-fé objetiva e a função social do contrato. 
3 CONCEITO, ELEMENTOS CARACTERIZADORES E NATUREZA JURÍDICA DOS INSTITUTOS
3.1 BOA-FÉ OBJETIVA
		Pela importância que traz consigo, esse princípio precisa ser ressalvado como preceito constitucional que deve servir de parâmetro para a teoria jurídica moderna, pois agrega noções de lealdade, retidão, honestidade, qualificando uma norma de comportamento leal. 
		A boa-fé caracteriza-se como um dever de agir, ou seja, uma conduta pautada nos princípios da lealdade, da confiança e da ética. Ela constitui um princípio geral que produz uma delimitação do conteúdo objetivo do negócio jurídico, por meio da inserção de normas de conduta a serem seguidas pelos contratantes, ou produzindo a restrição do exercício de direitos subjetivos, ou, ainda, como método hermenêutico para interpretar a declaração da vontade a fim de ajustar a relação jurídica à função econômico-social de cada caso concreto.
		Mesmo na ausência da regra legal ou previsão contratual específica, da boa-fé nascem os deveres anexos, por isso, exige-se das partes do contrato um comportamento sob a ótica do homem médio, isto é, observam-se os padrões éticos e leais presentes na sociedade. 
		Esse princípio impõe uma regra de conduta, tratando-se de um verdadeiro controle das cláusulas e práticas abusivas em nossa sociedade. A boa-fé assume feição de uma regra ética de conduta e tem algumas funções como: fonte de novos deveres de conduta anexos à relação contratual; limitadora dos direitos subjetivos advindos da autonomia da vontade, bem como norma de interpretação (observar a real intenção do contraente) e integração do contrato.
		Para Martins: "A boa-fé, no sentido objetivo, é um dever das partes, dentro de uma relação jurídica, se comportar tomando por fundamento a confiança que deve existir, de maneira correta e leal; mais especificamente, caracteriza-se como retidão e honradez, dos sujeitos de direito que participam de uma relação jurídica, pressupondo o fiel cumprimento do estabelecido". (2000, p. 73)
		De acordo com Rosenvald (2005), esta modalidade de boa-fé encontra a sua justificação no interesse coletivo das pessoas pautarem seu agir na cooperação, garantindo a promoção do valor constitucional do solidarismo, incentivando o sentimento da justiça social e com repressão a todos a condutas que importem em desvio aos parâmetros sedimentados de honestidade e lisura.
		Sobre sua natureza jurídica, existe na doutrina uma discussão, pois alguns doutrinadores a questionam como sendo um princípio, umaregra ou standard jurídico.
		Para a doutrinadora Judith Martins-Costa (2002), a boa-fé é um "modelo de conduta social, arquétipo ou standard jurídico, segundo o qual cada pessoa deve ajustar a própria conduta a esse arquétipo, obrando como obraria um homem reto: com honestidade, lealdade, probidade."
		Porém, a maioria dos doutrinadores e as jurisprudências, já decidiram que a boa-fé objetiva é princípio jurídico, regra de conduta que norteia as relações contratuais e exige do sujeito determinado padrão de comportamento ético e moral.
3.1.1 BOA-FÉ OBJETIVA E BOA-FÉ SUBJETIVA
		É necessário que se diferencie boa-fé objetiva e boa-fé subjetiva. 
		A boa-fé subjetiva integra o ordenamento há muito tempo e sua previsão já remonta às origens do Direito positivo. Geralmente, o estado subjetivo, deriva da ignorância do sujeito, a respeito de determinada situação. É um conceito que leva em conta o íntimo do agente, uma prática de determinado ato, por alguém, que desprovida de malícia ou, até mesmo, ignorando a existência de vícios no mesmo, acredita estar em consonância com o Direito. Caso haja ignorância quanto a isso, estará ele de boa-fé subjetiva. Disto, infere-se que a boa-fé subjetiva está totalmente ligada ao estado psíquico do agente. Um exemplo é a hipótese do pagamento feito ao credor putativo (boa-fé pelo desconhecimento de quem seria o verdadeiro credor).
		Já a boa-fé objetiva, é a exigência de uma cooperação mútua, no âmbito contratual, entre as partes. Essa cooperação refere-se a lealdade, honestidade e equidade na prática de determinados atos pelas partes de uma relação jurídica de modo a alcançarem os fins a que se propuseram, como pode ser observado no artigo 422, CC/02, onde se lê: “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Resumindo, trata-se de um dever de bom comportamento entre as partes.
3.2 TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
		A teoria do adimplemento substancial é uma solução jurídica utilizada pela jurisprudência, não existindo previsão legal expressa, bem como uma fórmula para a sua aplicação, cabendo a sua definição no caso concreto (princípio da concretização. A sua aplicação é uma exceção à regra geral de que o pagamento deve se dar por completo (princípio da integralidade ou não-divisibilidade). 
		Ela foi elaborada a partir de estudos doutrinários e análises de casos concretos pelos órgãos jurisdicionais.  A teoria do adimplemento substancial veda a extinção do negócio jurídico pelo simples fato do descumprimento, se este restringir-se a obrigações de pequena importância dentro do contrato a ser analisado. Além disto, exige-se que a parte devedora tenha agido até o instante do inadimplemento com boa-fé, passível de ser auferida através do seu comportamento de zelo para com suas obrigações. Com esta teoria se permite que o contrato ainda sua função social: conservando-se, estará atendendo não só aos interesses dos particulares envolvidos, mas também o de toda a coletividade, pois assegura maior estabilidade nas relações sociais.
		Em resumo, o adimplemento substancial consiste em afastar a resolução do contrato tendo em vista os princípios que o fundamenta, quando o devedor não executa perfeitamente o contrato ou não atinge plenamente o fim proposto, mas aproxima-se consideravelmente do seu resultado final.
		Sobre sua Natureza Jurídica, a Teoria do Adimplemento Substancial é uma construção jurisprudencial.
4 APLICAÇÃO DOS INSTITUTOS E SUAS RESTRIÇÕES
4.1 BOA-FÉ OBJETIVA
		A aplicação prática da boa-fé objetiva se dá a partir de suas funções, que são as seguintes: função interpretativa/integrativa, função limitativa dos direitos subjetivos e função supletiva de criar deveres anexos. Porém como a boa-fé é uma cláusula aberta, vale salientar que a classificação quanto às funções são variadas, pois o rol é exemplificativo.
		A função interpretativa/integrativa permite a análise das condutas, conforme os padrões éticos exigidos e na prática constituiu a possibilidade de interpretação e até mesmo a supressão de lacunas ocorridas nos contratos. Pode acontecer de o juiz se deparar com situações que não foram previstas no contrato, então o mesmo deverá raciocinar como se as partes estivessem de boa-fé na elaboração do contrato, devendo imaginar como uma pessoa de boa-fé objetiva o celebraria. Em situações de lacunas nos contratos, deverá o juiz preenche-la de acordo com o que pessoas que estivessem de boa-fé fariam, já em dúvidas quanto à interpretação de cláusulas, a boa-fé objetiva deverá ser utilizada.
		O art. 113 do Código Civil determina que "os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Eis a função interpretativa.
		O art. 422 do Código Civil estabelece que "os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé". Trata-se da função integrativa. Porém, diferentemente do que esse artigo diz, a boa-fé não pode se limitar à fase de execução do contrato, a boa-fé deve preceder o contrato e permanecer íntegra, mesmo após sua plena execução.
		Sob ótica da função limitativa de direitos subjetivos, a boa-fé possui função semelhante à figura do abuso de direito (não se confundindo com o mesmo), não admitindo condutas que contrariem o mandamento de agir com lealdade e probidade, pois somente assim o contrato alcançará a funções socioeconômicas que lhe são cometidas. Essa função, então, reduz a liberdade das partes contratantes no momento de elaborar as cláusulas contratuais.
		Embora também abranja a restrição a comportamentos abusivos, possui um efeito muito mais amplo do que a mera limitação daqueles. Ao exigir um padrão leal e honesto de conduta, termina alcançar situações que estão além do abuso de direito. Exemplos disso são os casos de Adimplemento Substancial do Contrato e a Vedação ao Comportamento Contraditório.
		A função limitativa está prevista no art. 187 do Código Civil: "também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes".
		Por fim, a função supletiva de criar deveres anexos, acessórios e laterais é uma clara implicação prática da boa-fé objetiva, pois há a necessidade de as partes observarem os deveres anexos ao contrato, logo que em um contrato há as cláusulas centrais ou nucleares que são as principais obrigações das partes dentro do contrato. Neste aspecto, a boa-fé objetiva cria uma prestação diversa da principal fixada pelas partes, que muitas vezes nem sequer foram redigidos. 
		São obrigações decorrentes daquela justa expectativa que existe nas relações sociais de sempre lidar com pessoas íntegras e probas. Exemplos nítidos de deveres anexos são o dever de informação, de cooperação, de equidade, de lealdade e de sigilo, ou seja, deveres de proteção ao contratante. Esses deveres existem desde a fase pré-contratual e se estendem mesmo após o contrato. Na hipótese de violação desses deveres acessórios, ocorrerá violação positiva do contrato, gerando sua resolução e a obrigação de reparar perdas e danos, sendo a responsabilidade nesses casos objetiva.
		Assim, o princípio da boa-fé objetiva impõe uma regra ética de conduta, tratando-se de um verdadeiro controle das cláusulas e práticas abusivas na sociedade. Pelo dever de segurança cabem as contratantes garantir a integridade de bens e dos direitos do outro, em todas as circunstâncias próprias do vínculo que possam oferecer algum perigo, sendo este o modelo de contrato contemporâneo.
4.2 TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
 Como Regra Geral, será aplicado o artigo 475 do Código Civil em casos de descumprimento da obrigação contratual: 
		“A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos”Porém, na tentativa de preservar o vínculo contratual e o negócio jurídico, a doutrina e a jurisprudência têm reconhecido a teoria do Adimplemento Substancial, que admite o impedimento da rescisão do contrato pelo credor nos casos de cumprimento de parte expressiva do contrato por parte do devedor, todavia, aquele não perde o direito de obter o restante do crédito, podendo ajuizar ação de cobrança para tanto.
		O adimplemento substancial não foi previsto formalmente pelo Código Civil de 2002. Sua aplicação se realiza com base nos princípios da função social dos contratos (CC, art. 421), da boa-fé objetiva (CC, art. 422), da vedação ao abuso de direito (CC, art. 187) e ao enriquecimento sem causa (CC, art. 884). 
		Ele será empregado somente em casos específicos em que o devedor já cumpriu quase a totalidade do contrato, mas tornou-se incapaz de fazê-lo por completo. O descumprimento deve ser insignificante em relação à parte que já foi cumprida. Sendo adimplida parte essencial da obrigação, serve para "salvar" o contrato não totalmente quitado.
		Entretanto, são necessários os seguintes requisitos para que se configure o adimplemento substancial: a) cumprimento expressivo do contrato; b) prestação realizada que atenda à finalidade do negócio jurídico; c) boa-fé objetiva na execução do contrato; d) preservação do equilíbrio contratual; e) ausência de enriquecimento sem causa e de abuso de direito, de parte a parte.
		Assim, conforme essa teoria, a extinção contratual somente se justificará quando o dano sofrido pela parte adimplente seja de tal dimensão a ponto de não ser possível o cumprimento do negócio, em razão da desarmonia operada entre as partes. Desta forma, para que ela seja, se faz necessário o cumprimento significativo da prestação obrigacional.
		O Superior Tribunal de Justiça vem proferindo reiteradas decisões fundamentadas nessa teoria. Os argumentos utilizados na sua aplicação são os princípios da função social e da boa-fé objetiva.
		O princípio da boa-fé objetiva foi recepcionado pela teoria do adimplemento substancial, tendo em vista, principalmente, a confiança e lealdade a serem observadas pelas partes contratantes, em razão do padrão ético de conduta necessário às relações negociais.
		Pode-se afirmar que a teoria encontra abrigo no artigo 187 do Código Civil, logo que impõe limites ao exercício dos direitos subjetivos do credor que sofreu o inadimplemento, uma vez que o cumprimento da prestação substancial ultrapassa os limites da boa-fé objetiva.
		Desta forma, os princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato são a essência da doutrina do adimplemento substancial, uma vez que visam à continuidade da relação obrigacional, a fim de evitar o uso desequilibrado do direito de resolução motivado pelo inadimplemento contratual, segundo as reiteradas decisões do Superior Tribunal de Justiça e do entendimento o Conselho de Justiça federal.
5 JURISPRUDÊNCIAS 
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. NÃO VERIFICADO. AUSÊNCIA DE BOA-FÉ OBJETIVA. SENTENÇA REFORMADA. 1. Havendo pagamento de prestações consideráveis do contrato firmado entre as partes, ainda que havendo insuficiência obrigacional, esta poderá ser relativizada, com o fim da preservação da relevância social do contrato, desde que preenchidos os seguintes requisitos: prestação realizada que atenda à finalidade do negócio jurídico; boa-fé objetiva na execução do contrato; preservação do equilíbrio contratual; ausência de enriquecimento sem causa e de abuso de direito, de parte a parte. 2. Na espécie, o devedor, embora regularmente citado da ação de busca e apreensão, quedou-se inerte, demonstrando desinteresse na manutenção do contrato, pois além de não purgar a mora, deixou de apresentar qualquer justificativa ou proposta para o pagamento do remanescente da dívida. 3. Ausente a boa-fé objetiva, que deve permear a relação havida entre os contratantes, não há como acolher a tese do adimplemento substancial, ainda que parcela significativa da dívida tenha sido quitada (aproximadamente 77% do contrato). 4. Recurso conhecido e provido. (TJ-DF - APC: 20140610096817 , Relator: GISLENE PINHEIRO, Data de Julgamento: 26/08/2015, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 31/08/2015 . Pág.: 235)
Ementa-APELAÇÃO CÍVEL. RESOLUÇÃO DE CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL RURAL. MANUTENÇÃO DO CONTRATO PELA APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. BOA-FÉ OBJETIVA. RECURSO PROVIDO. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas pela probidade, cooperação e lealdade (REsp 758.518/PR). A teoria do substancial adimplemento visa a impedir o uso desequilibrado do direito de resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos desnecessários em prol da preservação da avença, com vistas à realização dos princípios da boa-fé e da função social do contrato (Resp 1.051.270/RS). No caso concreto, se o devedor quitou aproximadamente 90% da obrigação vencida, há de se prestigiar a conservação do contrato por adimplemento substancial, cuja pequena parcela de descumprimento contratual é inapta a ensejar a rescisão da compra e venda de imóvel rural, com o perdimento de arras, multa contratual e fruição, medidas desproporcionais diante do substancial adimplemento da avença. (TJ-MS - APL: 00083367620118120008 MS 0008336-76.2011.8.12.0008, Relator: Des. Claudionor Miguel Abss Duarte, Data de Julgamento: 17/06/2014, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: 16/07/2014)
Ementa: ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E APREENSÃO. LIMINAR. CASSAÇÃO. PAGAMENTO DE 80% DAS PARCELAS PREVISTAS NO CONTRATO. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. APLICAÇÃO. BOA-FÉ OBJETIVA. RECURSO PROVIDO. Adimplemento pelo devedor de parcela substancial do contrato. Observância dos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato. Revogação de liminar de busca e apreensão que se impõe, o que resulta em ausência de pressuposto processual e justifica a imediata extinção da ação, com fundamento no artigo 267, IV, do Código de Processo Civil. Recurso provido. (TJ-SP, Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento: 22/06/2015, 35ª Câmara de Direito Privado)
6 CONCLUSÃO
		O adimplemento substancial é de suma importância para o Direito Contratual brasileiro, logo que o Ordenamento Jurídico prima pela garantia de uma maior segurança às partes no momento de contratar. Essa teoria é uma das grandes responsáveis por essa garantia, pois mantem as relações obrigacionais, preservando os contratos.
		Embora não se apresente como uma lei expressa, a jurisprudência se encarregou de consolidar esta teoria, podendo servir como um instrumento de defesa para a parte devedora desde que esta tenha cumprido grande parte de suas obrigações.
		A teoria do adimplemento substancial possibilita a concretização do princípio da função social dos contratos e da boa-fé objetiva, na medida em que permite a sua conservação. Ela prestigia o comportamento daquele que vinha se mantendo de acordo com a boa-fé objetiva, mas que, por algum motivo, deixou de cumprir deveres de menor vulto.
		Desde modo, pode-se afirmar que esta teoria é um reflexo do princípio da boa-fé objetiva, sendo a prova da relativização do direito do credor estipulado no art. 475 do Código Civil.
		Tendo em conta os argumentos expostos, percebe-se a grande importância da jurisprudência e da doutrina para a efetiva aplicação dos princípios e deve-se reconhecer a estreita ligação entre a boa-fé objetiva e a teoria do adimplemento substancial. Se preenchidos ambos requisitos no caso concreto, o direito poderá ser utilizado como meio de pacificação social e fazer valer outros vetores importantes, como o bom senso, a ética, a lealdade, a razoabilidade e a proporcionalidade.
		Conclui-se que a teoria do adimplemento substancial deve ser aplicada sempre que a extinção do contrato causar na prática mais danos do que a permanência da sua execução.
7 REFERÊNCIAS
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ROSENVALD, Nelson. Dignidade humana e boa-fé no Código Civil. 1. ed. Saraiva, 2005.
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