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Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos e Educação Popular - Aula 09 a 10

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Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos e Educação Popular
Aula 09 - Trajetória intelectual de Paulo Freire: obra e vida
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
Identificar as experiências profissionais de Paulo Freire como aspecto relevante para compreender o desenvolvimento de sua trajetória intelectual; 
Reconhecer a evolução do seu pensamento destacando as principais influências teóricas que marcaram essa evolução e as categorias centrais do seu discurso.
Nesta aula, vamos conhecer a obra e vida de... Paulo Freire
E a propósito, você sabe quem foi Paulo Freire?
Paulo Freire nasceu em Recife em 1921, se tornou o mais importante educador brasileiro e, através de seu trabalho teórico e político, Paulo Freire construiu um autêntico sistema de pensar o fenômeno educativo. Nesse sistema, pretendia "ensinar o povo a ler e depois pensar no que leu."
Como professor de Filosofia e História da Educação, começa a trabalhar em 1961 na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Recife, depois de ter defendido a tese de Doutorado "Educação e atualidade brasileira”. Em1962 passa a ser Livre Docente de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes de Recife.
Dessa forma começa a emergir o filósofo da educação. 
Segundo Scocuglia (1999), pensadores como Sartre, Lukács e Amílcar Cabral foram determinantes na evolução do seu pensamento.  
Integrou o Conselho Consultivo de Educação do Recife e, anos depois, em 1963, foi membro do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco até o golpe militar de 1964.  Partiu ao exílio com 43 anos, primeiro para Bolívia e depois para o Chile onde trabalhou desde novembro de 1964 até abril de 1969, como assessor do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e como assessor do Ministério de Educação do Chile, bem como consultor da UNESCO no Instituto de Capacitação e Investigação na Reforma Agrária desse país.
Regressa ao Brasil em 1979, sob a Lei de Anistia, se engajando no trabalho de professor universitário da Universidade de Campinas até 1990. Nessa década, Paulo Freire ficara viúvo (1986), se casando pela segunda vez com Ana M. Araujo.
Em 1989, o educador se converte em homem público ao aceitar o cargo de Secretário de Educação do Município de São Paulo até 1991 quando volta, dentre outras atividades, à docência - desta vez na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Ao longo da sua vida profissional, Freire escreveu 14 livros, onde registrou seu pensamento impregnado por dois polos de irradiação inseparáveis, um psico-pedagógico emergindo na "Pedagogia do Oprimido" editado em 1970, e outro político-pedagógico construído a partir das reflexões de "Ação Cultural para a Liberdade", editado em 1968.
A adesão manifesta aos trabalhadores como classe sócio política acompanha em Freire a evolução do seu pensamento em relação à categoria "diálogo" entendida como "ação entre os iguais e os diferentes, mas contra os antagônicos, nos conflitos sociais" sendo o "oprimido" a categoria central que marca a mudança do enfoque analítico anterior do educador.  
Com 75 anos de idade, Paulo Freire morre em São Paulo, em 02 de maio de 1997, deixando um legado marcado pela humildade característica dos intelectuais éticos.
Dos escritos de Paulo Freire, o livro "Pedagogia do Oprimido" vem sendo identificado como a obra mais importante do educador pernambucano. Desenvolvida em 1968 durante seu exílio no Chile, passou a influenciar não somente educadores, pensadores, intelectuais e revolucionários latino-americanos como também, africanos, europeus e estadunidenses.
O que tornaria esta obra tão relevante?
O movimento dialético que caracteriza o pensamento de Paulo Freire possibilitou que o educador estivesse constantemente se reinventando, juntando tramas passadas a novos fatos, a novos saberes, constituindo novas tramas como ele próprio afirmou nas Primeiras Palavras de "Pedagogia da Esperança, um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido" quando, 24 anos depois, analisando sua vida, refez historicamente a trajetória do seu texto "Pedagogia do Oprimido".
O desenvolvimento do pensamento freireano apresenta duas questões em permanente tensão ao longo de sua trajetória intelectual:
Por um lado, questões de tipo psicopedagógicas relacionadas ao cotidiano das relações educador-educando...
...e, por outro, as questões de cunho político-pedagógico.
A tendência para o político pedagógico começa a se delinear em "Pedagogia do Oprimido" onde se evidenciam as aproximações do educador com as concepções de Marx e de Gramsci, marcando a guinada desde as "instâncias superestruturais" - que dizem respeito às crenças; às ideias; à moral; à política; à religião; ao direito; à arte, para as "infraestruturais" - que dizem respeito às classes sociais e aos conflitos entre elas.
Freire percebe que superar a polarização opressor-oprimido significa a conquista de criticidade por parte destes, embora "consciência crítica" não apareça ainda explicitamente na Pedagogia do Oprimido como "consciência de classe". Os escritos, "Educação e Atualidade Brasileira" (1959), "Conscientização" (1980) e "Educação como Prática da Liberdade" (1984) são considerados por Scocuglia (2001) os mais representativos das mudanças conceituais e da rede de relações que envolvem o binômio educação-política
A caverna, diz Platão, é o mundo sensível onde vivemos. A réstia de luz que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (as ideias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis que tomamos pelas verdadeiras. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos e opiniões.
O instrumento que quebra os grilhões e faz a escalada do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do Ser, isto é, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o Sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna é o diálogo filosófico.
Essas obras permeiam o construto do educador em relação ao conceito "conscientização", em que, num primeiro momento, a criticidade não expressava ainda a questão dos conflitos entre as classes sociais e, portanto, não significava a busca da "consciência de classe" para os subalternos.  Da "conscientização" e do "entendimento geral para o desenvolvimento de todos”.
Freire passa a defender o desenvolvimento da "consciência da situação histórica das classes trabalhadoras".
"Cartas à Guiné-Bissau"
A construção do discurso político-pedagógico de Freire evidencia o dinamismo de processamento do seu pensamento incorporando novas categorias analíticas, agora no nível das relações de produção, que irão se traduzir em 1977, em "Cartas à Guiné-Bissau" no conceito "trabalho" e no postulado de uma educação política que prepare não tão só "para a autonomia e para a capacidade de dirigir" como também para fazer emergir a pedagogia das classes populares.
A autonomia, conceito trabalhado em 1996 na "Pedagogia da Autonomia”, vai se constituindo na experiência de várias e inúmeras decisões que vão sendo tomadas. É um processo centrado nas experiências da decisão e da responsabilidade, ou seja, centrada na experiência respeitosa da liberdade.
Postulado político pedagógico do pensamento freireano que contribui com uma educação para cidadania plena que possibilite a construção de outra sociedade menos desigual e menos injusta para a grande maioria da população.
O espaço é onde todo conhecimento vai sendo construído na relação das pessoas entre si e com o mundo. Parte desta relação pode ser sistematizada pela escola. Mas a ausência desta parcela de sistematização não significa ausência de conhecimento.
O sentido de liberdade está presente no pensamento de Paulo Freire que alerta os educadores para o preconceito de classe em relação aos analfabetos os que, por não dominarem o código escrito, se encontram irremediavelmente excluídos dos espaços onde impera o conhecimento da classe dominante que, segundo esse preconceito, seria o único conhecimentoválido.
Embora privados de escolaridade, homens e mulheres continuam a se relacionar com o mundo, e esta relação é uma relação transformadora, ou seja, uma relação que modifica o mundo. Ao transformarem o mundo, homens e mulheres são transformados também por ele.
Freire, ao defender a educação como uma ação instrumentalizadora na construção da gênese do conhecimento, está defendendo o direito que o povo tem de conhecer melhor o que já sabe e de conhecer aquilo que ainda não sabe.
Entende o conhecimento popular como ponto de partida para a construção de qualquer outro conhecimento. Para tanto, a relação entre educador – educando não pode ser uma relação dominadora, nem um monólogo do professor com si próprio.
Esta postura autoritária, embora não inventada pela escola, é exercida ainda nela. Trata-se de uma relação antipedagógica e antidemocrática que dificulta a tarefa educacional em que o diálogo deve estar presente numa relação de horizontalidade.
Alcançar a horizontalidade implica em que superemos a verticalidade e reconheçamos que o conhecimento do professor é o conhecimento das classes dominantes enquanto o conhecimento popular é o conhecimento das classes dominadas.
Ignorar este fato é ingenuidade. Para Paulo Freire o caminho autoritário é uma contravenção à natureza indagadora e buscadora de homens e de mulheres que, se domesticados, se perdem ao perderem a liberdade.
O educador crítico trabalhará para que essas diferenças não justifiquem a desigualdade. O que irá quebrar a relação autoritária não será nunca a negação da realidade, mas o esforço comum para conhecer e transformar esta realidade.
Precisamos lembrar que é justamente a diferença de saberes entre educando e educador que possibilita o diálogo. Nessa Leitura de Mundo (princípio da pedagogia freireana) que emerge do diálogo, o conhecimento de um desafia a produção de conhecimento no outro. 
No diálogo, não há passividade nem neutralidade.
Freire nos alertou ao longo de sua vida para a necessidade de reagir criticamente ao poder de persuasão da ideologia. Para ele o exercício crítico da própria resistência ao poder da ideologia vai gerando certas qualidades que viram sabedoria indispensável à prática docente.
A resistência crítica predispõe o educador para uma atitude sempre aberta não somente às outras pessoas como, também, aos dados da realidade bem como predispõe para uma desconfiança metódica de se tornar absolutamente certo das certezas.
É imprescindível ao educador não se fechar aos outros nem se enclausurar no ciclo da própria verdade para se resguardar das artimanhas da ideologia.
Preservar a capacidade de pensar certo, ver com seriedade, ouvir com respeito, implica em se arriscar à exposição. Para se libertar das correntes da ideologia, é necessário se expor às diferenças, recusando posições dogmáticas. Implica em fazer opções ou pela domesticação ou pela libertação.
Paulo Freire demonstrou através de sua práxis que a educação não é neutra. Criou um sistema de conhecimento que sustenta o educador para estar em permanente disponibilidade de lidar sem medo nem preconceito com as diferenças, aberto a multiplicar a libertação: aberto a fazer de seu trabalho educativo uma prática de libertação, um ATO POLÍTICO.
Aula 10 - Conceitos freireanos na Educação Popular: autonomia, conscientização e libertação.
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
Explicar a dimensão política da educação, relacionado com os conceitos freireanos de autonomia, conscientização e libertação; 
Contrastar práticas educativas transformadoras com práticas educativas conservadoras.
Para começar nossa aula, vamos a uma reflexão...
Para reconhecer se a educação é ou não popular, numa perspectiva freireana, temos que observar a quem serve essa educação:
Serve aos empresários? Serve às elites dominantes? Serve ao povo?
O que define a educação popular, segundo Paulo Freire, não é a idade dos educandos, mas a opção política assumida com um necessário e contínuo processo de reflexão que leve a uma prática política entendida e assumida na prática educativa.
Assim a educação popular é conseqüência de um posicionamento frente à questão dos objetivos da educação. Portanto, tem tudo a ver com a opção política do educador.
A forma de praticar a educação pode ser considerada como um modelo ou paradigma político educativo, teórico e metodológico que emergiu na América Latina com extraordinária intensidade nos anos 60 a partir do trabalho de Paulo Freire.
Embora suas experiências de trabalho estivessem ligadas à superação do analfabetismo e à alfabetização, Paulo Freire não foi "um inventor de métodos milagrosos" como alguns querem estereotipá-lo, simplificando e reduzindo seu pensamento.
Recordemos que sua experiência profissional começa em Recife com populações adultas, no entanto, se ele tivesse começado sua prática em uma creche suas reflexões e sua teorização de educação continuaria sendo popular, pois sua opção política de servir ao povo como educador já havia sido assumida.
Suas reflexões tiveram como foco a questão da produção do conhecimento, e estão relacionadas a questões antropológicas e de teoria do conhecimento, portanto sua grande contribuição é filosófica e pedagógica.
Utilizando os recursos metodológicos existentes e combinando-os com sua forma de pensar ele criou respostas adaptadas às situações concretas da realidade em que tinha que trabalhar se reinventando constantemente como educador.
Dessa forma, seu pensamento contribui para o desenvolvimento da prática educativa de qualquer educador, seja do ensino formal primário, secundário ou universitário bem como na formação de mão de obra ou militando nos movimentos populares, já que Paulo Freire construiu um autêntico sistema de pensar o fenômeno educativo.
Nesse sistema de pensar o fenômeno educativo, Freire parte afirmando algumas questões fundamentais, a saber:
Em relação ao conhecimento que já trazem os educandos e que não podem ser esquecidos no ato de aprender, o autor reconhece que o adulto do meio popular é portador de conhecimento e não um copo vazio a ser preenchido pelo educador. Para ele o conhecimento do sujeito das classes populares é importante e não pode ser ignorado pelo educador.
Todo conhecimento forma-se na relação com a realidade e vai sendo construído na relação das pessoas entre si e com o mundo. Esta relação é uma relação transformadora que modifica o mundo. Ao transformar o mundo, homens e mulheres são também transformados por ele.
Por exemplo: um pedreiro que conclui a construção de uma casa não é mais o mesmo daquele que iniciou essa construção. 
Ele terá adquirido novas experiências, novas informações. Irá ampliar seus conhecimentos porque ao realizar cada ato necessário à construção estará pensando sobre as possíveis alternativas, ou as melhores formas de realizar seu trabalho. 
Ou seja, estará refletindo a sua prática, estará analisando, estabelecendo relações, elaborando sínteses. Quer dizer, estará produzindo conhecimento.
Conhece-se o desconhecido a partir do já conhecido. Para atingir novos conhecimentos é necessário o referencial do conhecimento velho. Quanto maior referencial conhecido, maior facilidade tem o educador para trabalhar o desconhecido.
O adulto conhece melhor a sua própria realidade, onde estabelece a quase totalidade das suas relações. Por isto, o educador de adultos precisa iniciar sua tarefa de professor a partir daquilo que os educandos mais conhecem: sua própria realidade que além de familiar é política, é regional, é sentimental  etc.
Realidade que precisa ser conhecida pelo educador para estabelecer uma ponte entre o conhecimento dos educandos e o dele próprio. 
Essa realidade será a mediação no diálogo de ambos para conhecer o mundo. A leitura do mundo possibilitará não só o confronto dos conhecimentos diferentes que eles possuem dessa mesma realidade, mas permitirá também a troca de saberes entre educador e educando.
Pensarmos em educação nos endereça necessariamente para a reflexãosobre o inacabamento ou inconclusão humana. O homem, como afirmava Freire, sabendo-se inacabado, procura permanentemente a si mesmo, busca ser mais. Esse saber, essa percepção, esse ter ciência do nosso inacabamento nos remete à questão da consciência.
Ter consciência é estar no mundo...
A categoria "consciência" se estuda no âmbito da psicologia. Ela surge no processo da interação social e pressupõe o funcionamento da linguagem. Deve ser considerada como um movimento interno específico gerado pelo movimento da atividade humana.
No caso da consciência individual, não se trata apenas de conhecimento nem de um sistema de conhecimento ou de conceitos adquiridos, trata-se de um movimento interno que reflete o movimento da vida real do próprio sujeito, o qual ela (a consciência) media. Será nesse movimento que o conhecimento encontra sua relevância com respeito ao mundo objetivo, bem como a sua eficácia.
A atitude de comunicar-se, comportamento específico do ser humano próprio da interação social, acontece por meio do diálogo tendo como instrumento a linguagem:
Essa relação entre as pessoas, esse "entre-dois" é o lugar e o suporte daquilo que se passa entre humanos, onde o homem volta-se para o outro, o aceita como parceiro e comunica-se com ele como um Tu. Eis a relação dialógica onde o objetivo é conhecer, aprender, captar algo que está em relação.
Nessa atitude de abertura, não há submissão às ideias do outro, mas sim, tolerância e compreensão que perpassa o respeito às limitações mútuas. Nisso existe um árduo trabalho diante das diferenças onde se instaura uma dimensão de comprometimento com a sorte e o destino do homem.
Diferentemente dos meros contatos, aproximações e reações comuns que definem o social, que pode ser visto como esse "estar um ao lado do outro", será na relação dialógica enquanto responsabilidade, decisão, liberdade, presença face a face que se define o inter-humano ou esse "estar junto com o outro".
A capacidade humana de transcender, de captar a realidade, de torná-la objeto de conhecimento é o cerne do fato educativo.
A educação, como postulava Freire, existe porque o homem é um ser inacabado em constante busca.
Cabe à educação, como ato de conhecimento, estimular as opções para que o ser humano se afirme como homem enfrentando os desafios que a realidade coloca, buscando soluções e transformando-a com seu trabalho, criando seu próprio mundo.
É imprescindível afastar constantemente o estigma da domesticação humana realizada através dos processos de "adaptação à sociedade". 
Domesticar é negar a educação, afirmou o educador quando apontou as suas reflexões sobre a concepção ingênua da pedagogia.
Uma coisa é o educador buscar compromisso com o processo histórico das massas populares pela democratização fundamental e outra, bem diferente, é existir tal compromisso no educador. 
Eis o diferencial entre ingenuidade e criticidade.
O professor ingênuo efetua depósitos de conhecimento.
Educa para arquivar conhecimento tornando o homem uma peça.
Como peça, o homem perde sua capacidade criativa, restando-lhe a mediocridade.
A relação entre o professor- bancário e o aluno-peça é autoritária. Com efeito, este professor não educa, ele domestica, buscando controlar as vidas e ações dos alunos para que aceitem - de forma passiva - o mundo tal qual se apresenta, impedindo-os de exercer sua capacidade criativa e transformadora sobre ele.
Método de Estudo
Advogando por uma educação que forme cidadãos plenos, Freire vê a educação como "processo de conhecimento, formação política, manifestação ética" (...) "uma educação que não sendo fazedora de tudo é um fator fundamental na reinvenção do mundo". Plenitude no sentido de libertação, de compromisso consigo mesmo e com o social.
Para tanto precisa ser uma prática como movimento, como luta, fundada na reflexão, mediada pela problematização. Na relação dialógica entre educador-educando essa educação vai se configurando como um ato de saber, como um ato de conhecer, como um método de transformar a realidade que se busca conhecer.
Na medida em que nossa prática educativa, como professores de Educação de Jovens e Adultos, possibilite a leitura crítica do mundo, estaremos acolhendo não somente as contribuições conceituais da Educação Popular, mas também as contribuições metodológicas que a caracterizam.
Situar a EJA na Educação Popular implica na compreensão crítica do que ocorre na cotidianidade do meio popular, o que nos endereça para nossa competência como educadores em promover a assunção dos educandos como sujeitos de busca que precisam fazer análise de sua "realidade concreta", superando o saber anterior de pura experiência feito, por um saber mais crítico, menos ingênuo.
Superar o senso comum a partir do próprio educando significa para os educadores populares iniciar os processos educativos a partir de sonhos, frustrações, dúvidas, medos e desejos da própria experiência existencial que envolve o educando (FREIRE, 1992).
A Educação Popular facilita a compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de suas experiências. Sua tarefa fundamental é inserir os grupos populares no movimento de superação do saber do senso comum pelo conhecimento mais crítico da realidade.
Para tanto, se faz necessário um método de explicitação dos fenômenos culturais, desse mundo de significados e códigos simbólicos construídos socialmente pelos grupos e compartilhados pelos seus integrantes.
Esforços se apontam para um movimento de superação do senso comum e implicam em outra compreensão da história. Implicam entender e viver a história como tempo de possibilidade.
Cultura popular se refere não apenas às manifestações festivas e às tradições orais e religiosas do povo, mas ao conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa, aos significados e valores que atribui ao que faz e aos diferentes modos de trabalhar, aos jeitos de falar, aos tipos de música que cria, às misturas que faz na religião, na culinária, na brincadeira.
Cultura popular que, respeitada pelo educador crítico, se transforma no ponto de partida de sua ação pedagógica em que, com palavras e temas pertencentes à experiência existencial dos educandos venha a facilitar a compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de suas experiências.
O movimento de ir além do "penso que é" ou "acho que é" se converte na tarefa fundamental da Educação Popular que tem nos processos sociais seu âmbito de reflexão.
Partir da realidade imediata (aparente) dos educandos...
...realizar abstrações (reflexões, teoria) visando à realidade concreta (pensada, compreendida), significa um percurso - um método epistemológico...
...cujo caráter materialista e histórico se desprende da compreensão da "totalidade concreta" pelo movimento dialético do pensamento dos fenômenos e dos problemas em estudo.
Colocar, assim, a teoria no âmbito da prática cotidiana a partir de um processo dialético de prática – teoria – prática ou reflexão.

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