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74 OBJETIVO E METODOLOGIA O objetivo geral deste trabalho foi o de con- trolar a dinâmica do arremesso do basquetebolista de alto nível (masculino adulto) durante a etapa concentrada de treinamento de força especial. Há opiniões, de que os exercícios de força in- fluam negativamente na velocidade de movimento dos desportistas, na precisão do arremesso, e na qualidade de execução das ações motoras específi- cas (passe, manejo de bola, etc.). Utilizamo-nos de uma concepção metodológi- ca de treinamento, segundo a qual, a planificação é realizada através de um sistema conjugado e conse- qüente de planificação de cargas de diferentes obje- tivos e efeitos diferenciados e sucessivos, nas res- pectivas e distintas etapas de treinamento. Na etapa concentrada de força especial foram utilizados meios e métodos que se elevavam gradu- almente em intensidade com finalidades predomi- nantes sucessivas e concatenadas. Em um primeiro momento, priorizamos o trabalho de força dirigido para o desenvolvimento das manifestações da força máxima e explosiva, sucessivamente, dirigimos o processo de treino no sentido do desenvolvimento da força rápida e resistência de força. a rt ig o de r ev is ão “CONTROLE DA DINÂMICA DO ARREMESSO DOS BASQUETEBOLISTAS DURANTE A ETAPA CONCENTRADA DE FORÇA” Alexandre Moreira Marcel Ramon Ponikwar de Souza M&V - Centro de Preparação Física Individualizada e E.C. Pinheiros Durante os blocos de concentração de cargas de força, utilizamo-nos de diferentes exercícios e métodos para cargas unilaterais nas sessões e micro- ciclos de treinamento. O trabalho foi realizado utilizando-se dos equi- pamentos de musculação disponível e exercícios es- peciais realizados também em campo (quadra). Foram realizadas 50 sessões de treino de força e 50 sessões de treino de arremessos, onde eram realizados 200 arremessos por sessão. As sessões de arremesso eram realizadas no período da manhã e as sessões com objetivos de treino de força especial, eram realizadas no período da tarde. Nestas sessões de arremessos, os atletas reali- zavam diariamente sessões específicas de arremes- sos distintos. Os arremessos eram registrados e ana- lisados para em seguida serem correlacionados às cargas de força treinadas paralelamente. Participaram do estudo, 9 (nove) atletas da categoria adulta masculina em fase de preparação para o campeonato paulista da categoria, série A1 (PRINCIPAL). Abordamos nesta publicação, somente os mé- todos relativos ao treinamento de força para M.M.S.S., e os resultados dos arremessos, indicador central deste estudo. REVISTA TREINAMENTO DESPORTIVO 75 Os resultados mostraram uma dinâmica de evo- lução positiva no tocante aos arremessos, conforme podemos analisar segundo a análise dos gráficos. Ressaltamos a seguir, uma breve abordagem sobre os mecanismos de força e contração muscular, assim como alguns aspectos fisiológicos e metodo- lógicos importantes na discussão e na elaboração do treinamento de força. Os aspectos analisados são importantes na com- preensão da adaptação inerente ao treinamento de força, tanto no âmbito estrutural, quanto no meta- bólico, pois se faz mister que as alterações neurorre- guladoras, morfológicas e metabólicas, dar-se-ão durante o processo, e consequentemente o nível de força do desportista se elevará; cabe então, enten- der que o basquetebolista necessita manter o trei- namento específico e de fundamentos, a fim de adap- tar-se ao novo nível de força adquirido. Lembramos abaixo, os níveis de intervenção dos fenômenos de ordem nervosa, a existência do heterocronismo, e sua conseqüente utilização na distribuição ideal das cargas de treinamento ao lon- go da planificação, e revisamos conceitos sobre a hipertrofia muscular e adaptação metabólica e es- trutural, no sentido de subsidiarmos a idéia que norteia o estudo em questão, no tocante a distri- buição das cargas de diferentes finalidades e o seu conseqüente controle, a fim de possibilitar o al- cance de resultados cada vez mais expressivos no contexto desportivo. ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TREINO DO BASQUETEBOLISTA A organização do processo de treino do bas- quetebolista se faz mediante a análise de inúmeros aspectos, desde a classificação do basquetebol sob o ponto de vista metabólico, metodológico, conteúdo de treinamento, capacidades motoras a serem aper- feiçoadas nas distintas etapas da planificação, com- petição alvo, nível dos atletas, entre outros. No basquetebol brasileiro encontramos um número escasso de material teórico que demonstre a evolução da dinâmica de performance dos atletas durante as diferentes etapas de treinamento, e fun- damentalmente, dos efeitos sucessivos de treino nes- tas distintas etapas com finalidades diferenciadas. As opiniões com relação ao treinamento de força do basquetebolista vem normalmente sendo elaboradas sem nenhum subsídio teórico que for- neça material necessário para estudo, análise e conclusão. A adoção de metodologias inadequadas e in- corretas para o desporto, com a utilização prioritá- ria de métodos de body building, e a aplicação desta concepção metodológica em momentos inoportunos, ajudam a reforçar a idéia de uma situação desfavorá- vel ao nível de coordenação intra e intermuscular, que prejudicaria a velocidade de movimento, preci- são dos arremessos e outras ações específicas da modalidade. Segundo VERKHOSHANSKY (1995), os exercí- cios de força não são somente um meio para desen- volver força muscular, mas servem para o desenvol- vimento da velocidade e coordenação dos movimen- tos, assim como para a rapidez de reações motoras e capacidade de relaxamento. VERKHOSHANSKY cita ainda que os exercícios de força só podem ser eficazes quando selecionados e distribuídos no processo de planificação de manei- ra adequada. O aumento do potencial de força dos múscu- los esta determinado pela melhora do mecanismo de regulação intramuscular, pelo incremento de unidades motoras implicadas na tensão, pelo au- mento da freqüência de estímulos a que são expos- tos os motoneurônios e seu sincronismo (VERKHOSHANSKY 1990). Durante o processo de contração muscular, ZATSIORSKY (1966), citado por MANSO et all (1996), 76 distingue três níveis de intervenção de fenômenos de ordem nervosa: • Recrutamento de unidades motoras: O fator que determina a quantidade e o tipo de UM que coloca em funcionamento em uma contração muscular é a resistência que deve ser vencida. Em cada caso concreto, serão recrutadas apenas as UM que se necessita para uma determinada ação muscular, havendo uma alternância a fim de evitar a fadiga. Quando a resistência é baixa (20-30% da máxima) se recrutam as fibras de contração lenta ST, se a resistência é moderada (30-50%) se utilizam além das ST, as fibras intermediárias rápidas (Fta), em caso de resistência superiores, se recrutam todos os tipos de fibras (Ley de Henneman, 1965). Em caso de resistência baixa e duração elevada, o can- saço induz a utilização das FT, e mediante a estí- mulos ligeiros executados a alta velocidade (ex.: arremesso do basquetebol) , são as FT, que serão recrutadas (GRIMBY e HANNERZ, 1977 - citados por MANSO et all 1996). • Sincronização de unidades motoras: No treinamento com emprego de cargas em torno de 80% se incre- menta a coordenação intramuscular. Os grandes in- crementos iniciais de força se devem as adaptações neuromusculares, que não vem acompanhadas de uma correspondente hipertrofia muscular (DONS et all – 1979; THORSTENSSON et all – 1976; MORITANI & DE VRIES - 1979; HAKKINEN & KOMI - 1983). • Coordenação intermuscular: Este é mais um as- pecto importante relacionado às adaptações neu- romusculares que possibilitam o alcance de uma nível de força mais elevado, conseguindo uma mai- or interação entre os músculos agonistas e antago- nistas. As ações sincronizadas de ações de contra- ção e relaxamento muscular permitem uma maior eficácia dos diferentes grupos que intervém no movimento independentemente das funções que desenvolvem nas ações. HOWARD et all (1987), ci- tado porMANSO et all (1996), explica que a força gerada por uma contração muscular coordenada entre vários músculos é maior do que a força da soma das forças desenvolvidas separadamente. Heterocronismo: VERKHOSHANSKY (2000) descreve tal proces- so, como aquele onde não se produzem sucessos es- pecíficos de forma simultânea ou sincrônica, mas sim em uma seqüência complexa de ações diferentes, cada uma delas nas quais se estabelece a base da seguin- te (posterior; ulterior). Estudos detalhados, citados por VERKHOSHANSKY (2000), envolvendo a especializa- ção funcional, demonstram o fenômeno do hetero- cronismo, apresentado-os de duas formas: • Falta de coincidência do ritmo inicial de incre- mento dos fatores de força específica entre os músculos chaves das ações específicas; e uma se- qüência característica de especialização funcio- nal dos grupamentos chaves. Assim, estes estudos demonstram que a força máxima e a força absoluta aumentam desde o início do treinamento, logo é a força explosiva que começa a incrementar-se e somente mais tarde aumenta de forma significativa a força inicial. VERKHOSHANSKY (2000) ressalta ainda que o incremento de força ab- soluta e máxima é típico dos desportos em que os desportistas superam resistência pequenas, onde o mais importante é a velocidade de produção de força de trabalho, do que propriamente a magnitude. Adaptação Metabólica e Estrutural: Além destes mecanismos de adaptação, deve- mos nos ater ao conjunto de outras variáveis impor- tante no processo de alcance da maestria esportiva, como as limitações de rendimento durante uma car- ga competitiva. No caso específico, as cargas de curta duração dirigidas ao desenvolvimento da velocidade e força, cuja potência se determina principalmente em função das probabilidades dos mecanismos alac- tato-aneróbicos de abastecimento energético. Com o objetivo de desenvolver a força rápida, as contrações musculares se desenvolvem através da MOREIRA & SOUZA REVISTA TREINAMENTO DESPORTIVO 77 via alactácida-anaeróbica de transformação de ener- gia. Este trabalho produz um intercâmbio mais alto de combinações energéticas de fosfato de alta ener- gia por unidade de tempo (MISHENKO & MONOGA- ROV, 1995). Do ponto de vista metabólico e estrutural, podemos afirmar que a profundidade de alterações provocadas pelas cargas é o estímulo principal dos posteriores processos de adaptação. A base estrutu- ral das cargas que desenvolvem a velocidade e força, são o incremento do conteúdo de uniões protéicas e o acúmulo do potencial energético das estruturas para ao tipo de atividade muscular concreta (MI- SHENKO & MONOGAROV, 1995). MISHENKO & MONOGAROV (1995), afirmam que a influência do treinamento nos processo de adapta- ção ao trabalho de velocidade e força, se refletem não tanto no incremento do conteúdo de ATP nas células musculares, mas sim no crescimento da ativi- dade metabólica determinada com a elevação do conteúdo de enzimas transformadoras de ATP, como também na eficácia dos sistemas que controlam a sua decomposição e síntese. Hipertrofia Muscular: Em relação ao que se pressupõem de uma me- lhora de rendimento desportivo em disciplinas de velocidade, devemos destacar que grandes hipertro- fias podem levar a uma diminuição de velocidade máxima de contração muscular. Esta diminuição de velocidade de contração dos músculos hipertrofia- dos parece estar ligada com o mecanismo de libera- ção e recaptação do cálcio por parte do retículo sar- coplasmático (ROY et all, 1982, citado por MANSO et all, 1996). Um outro fator ligado com a relação inversa entre a hipertrofia muscular e a velocidade de con- tração parece ser a modificação do ângulo de atua- ção das fibras musculares (TESCH & LARSON, 1982, citado por MANSO et all, 1996). O maior tamanho individual de cada uma das fibras para um mesmo espaço de inserção, modifica o ângulo de inclinação das fibras e transforma os aspectos mecânicos da contração. Em função dos conceitos e estudos citados acima, podemos entender que o processo de treina- mento de força especial do basquetebolista, deve ser elaborado de maneira cuidadosa e dirigida, e fun- damentalmente controlada, a fim de otimizar o novo nível de força adquirido durante o treinamento, e evitar os aspectos negativos de uma transferencia aos movimentos característicos da modalidades. No estudo realizados por nós, o indicador mais importante era a eficiência do arremesso durante todo o desenvolvimento da preparação de força, alem de outros índices e que foram alvo de estudos e que não fizeram parte desta publicação. Nosso objetivo era de minimizar as eventuais correlações negativas advindas de uma novo nível de força e uma conseqüente piora da efetividade do arremesso, em função de uma modificação na coor- denação intra e intermuscular, resultante das adap- tações induzidas pelo treinamento. Analisando todos estes fatores revisados até o momento, podemos considerar as seguintes situa- ções de organização do treino de força, no tocante aos métodos e controle do treinamento: Métodos Utilizados e Distribuição das Orientações de Carga Distribuímos as cargas de treinamento conju- gadas e conseqüentes entre si, com as seguintes fi- nalidades predominantes: 1. Força máxima 2. Força rápida 3. Resistência de força As formas de treinamento, seguiram a seguin- te ordem cronológica: 78 ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Alexandre Moreira Marcel Ramon Ponikwar de Souza Rua República do Iraque, 1263 Campo Belo – São Paulo – SP – CEP 04611-002 e-mail: mv-cpfi@originet.com.br 1. Treinamento em pirâmide: • INTENSIDADE: 70 a 100% • NÚMERO DE REPETIÇÕES: 3 a 8 • NÚMERO DE EXERCÍCIOS : 4 a 6 • NÚMERO DE SÉRIES: 3 • PAUSA ENTRE SÉRIES: 2 a 3 MINUTOS 2. Superséries de agonistas e antagonistas: • INTENSIDADE 70 a 90% • NÚMERO DE REPETIÇÒES: 8 a 12 • NÚMERO DE EXERCÍCIOS 5 a 8 • NÚMERO DE SÉRIES: 3 a 4 • PAUSA ENTRE SÉRIES: MÁXIMO 1min. 3. Séries de queimação (WEINECK, 1999): • INTESIDADE 70 a 80% • NÚMERO DE REPETIÇÕES: 10 COMPLETAS + 06 PAR- CIAIS MANSO. J.M.G.; VALDIVIELSO.M.N.; CABALLERO.J.A.R.; Bases teóricas del Entrenamiento Deportivo. Ed. Gymnos, Madrid-Espanha, 1996. MISHECHENKO V.S.; MONOGAROV.V.D.; Fisiologia del Deportista; Ed. Paidotribo, Barcelona – Espanha, 1995. WEINECK.J.; Treinamento Ideal; Ed. Manole, São Paulo, 1999. VERKOSHANSK Y.Y.; OLIVEIRA. P. Preparação de Força Especial. Rio de Janeiro. Ed. Grupo Palestra Sport, 1995. BIBLIOGRAFIA: • NÚMERO DE SÉRIES: 3 • PAUSA ENTRE SÉRIES : MÁXIMO 1min 4. Método de contrastes: • INTENSIDADE: 80 a 30% • NÚMERO DE REPETIÇÕES: 6 a 10 • NÚMERO DE SÉRIES: 5 SRS P/ 80% E 3 P/ 30% • PAUSA ENTRE SÉRIES: COMPLETAS 5. Método de força explosivo • INTENSIDADE: 30 a 60% • NÚMERO DE REPETIÇÕES: 6 a 15 • NÚMERO DE SÉRIES: 2 BLOCOS DE 3 SÉRIES • PAUSA ENTRE SÉRIES: COMPLETAS 6. Métodos Híbridos (combinados): • INTENSIDADE 30 a 60%; 10 a 20 Repetições; 4 a 5 séries ; pausas incompletas VERKOSHANSK Y.Y; Entrenamiento Deportivo - Planificacion y Programacion. Ediciones Martinez Roca, S.A, 1990. VERKHOSHANSKY.Y.Y. & SIFF.M.; Super Entrenamiento; Ed. Paidotribo, Barcelona – Espanha, 2000. ZATSIORSKY.V.M.; Ciência e Prática do Treinamento de Força; Ed. Phorte. São Paulo, 1999. MOREIRA & SOUZA