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INFRAÇÃO PENAL(CRIME/CONTRAVENÇÃO PENAL) SISTEMA BINÁRIO O conceito de infração penal varia conforme o enfoque. Sob o enfoque formal, infração penal é aquilo que assim está rotulado em uma norma penal incriminadora, sob ameaça de pena. Num conceito material, infração penal é comportamento humano causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de sanção penal. O conceito analítico leva em consideração os elementos estruturais que compõem infração penal, prevalecendo fato típico, ilícito e culpável. 2 CRIME: SUBSTRATOSCULPABILIDADE ILICITUDE FATO TÍPICO INFRAÇÃO PENAL 3 Infração penal é gênero, podendo ser dividida em crime (ou delito) e Contravenção CONTRAVENÇÃO PENAL (crime anão, crime liliputinao e também crime vagabundo) CRIME (Delito) INFRAÇÃO PENAL O STJ, ao julgar se a condenação pela infração penal do art. 28 da Lei de Drogas (porte para uso próprio) servia ou não para reincidência, decidiu que não, nela enxergando um “minus” em relação à contravenção penal. Para a Corte Cidadã, o art. 28 da Lei de Drogas não é crime, nem contravenção. É menos que contravenção. Caso seja firmada essa tese também no STF, somos obrigados a rever a divisão de infração penal, pois não mais obedecerá a corrente dualista, mas um sistema tricotômico: crime, contravenção penal e infração penal “sui generis”. 5 Infração penal Contravenção PenalCrime Infração penal “sui generis” (art. 28 LD) O rótulo de crime ou contravenção penal para determinado comportamento humano depende do valor que lhe é conferido pelo legislador: as condutas mais graves devem ser etiquetadas como crimes; as menos lesivas, como contravenções penais. Trata-se, portanto, de opção política que varia de acordo com o momento histórico-social em que vive o país, sujeito a mutações. Trata-se de uma diferença que não é ontológica, mas sim axiológica, de valor. Não é uma diferença do ser, mas de valor. A título de exemplo, lembramos que o porte ilegal de arma de fogo, até o ano de 1997, configurava contravenção penal (artigo 19 da Lei de Contravenções Penais), infração de menor potencial ofensivo. No ano de 1997 foi elevado à categoria de crime e, em 2003, algumas figuras chegaram a ser rotuladas como inafiançáveis (Estatuto do Desarmamento). A Lei 13.964/19 torna algumas figuras crime hediondo. Contravenção Crime Crime hediondo Diferenças entre crime e contravenção penal Apesar de ontologicamente idênticos (aplicando-se às contravenções as regras gerais do CP), crime e contravenção possuem algumas diferenças trazidas pela própria lei: 9 1. Quanto à pena privativa de liberdade imposta Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal: “Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas alternativa ou cumulativamente”. Código Penal: Reclusão e Detenção. Contravenção: Prisão Simples, sem o rigor penitenciário de uma reclusão e detenção. Não pode ser iniciada no regime fechado. Não pode ir para o regime fechado nem mesmo pela regressão. A contravenção penal é um tipo de infração de menor potencial ofensivo, sendo menos grave que um crime. No Brasil, de acordo com a Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei 3.688/41), a pena para as contravenções é, em geral, de prisão simples, que pode ser cumulada com multa. Afinal, a infração penal do art. 146-A do CP é crime ou contravenção penal? Intimidação sistemática (bullying) Art. 146-A. Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação evidente, por meio de atos de intimidação, de humilhação ou de discriminação ou de ações verbais, morais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais: Pena - multa, se a conduta não constituir crime mais grave. Intimidação sistemática virtual (cyberbullying) Parágrafo único. Se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social, de aplicativos, de jogos on-line ou por qualquer outro meio ou ambiente digital, ou transmitida em tempo real: Pena - reclusão, de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos, e multa, se a conduta não constituir crime mais grave. LICP: Crime deve ser punido com: LICP: Contravenção penal deve ser punida com: Reclusão ou detenção Prisão simples Reclusão ou detenção e multa Multa Reclusão ou detenção ou multa Prisão simples ou multa Numa opção (feliz ou não) do legislador, acabou introduzindo a infração penal do bullying no Código Penal e não na Lei das Contravenções. Como disse, essa opção pode até ser infeliz, mas não é ilegítima. Isso é crime. A opção do legislador está feita. Introduzido no Código Penal é crime. O bullying está, agora, expressamente inserido no capítulo DOS CRIMES contra a liberdade individual. Esse crime tem forma qualificada, punida com reclusão de 2 a 4 anos. Não me parece que a contravenção “combina” com essa qualificadora. E me parece equivocado imaginar que o caput é contravenção, enquanto seu parágrafo único é crime. O fato de o caput não ser punido com pena privativa não impede a etiqueta de crime. Assim decidiu o STF quando analisou o art. 28 da Lei de Drogas, observando, na oportunidade, que a conduta do usuário de drogas estava no capítulo dos CRIMES e das penas da Lei 11.343/06. A Lei de Introdução ao CP se preocupa com os tipos penais PREVISTOS FORA DO CP OU DA LCP, sempre que o legislador não etiquetar a infração penal. Nesse caso de omissão do legislador, socorre-se do citado artigo da Lei de Introdução para concluir por uma ou outra espécie de infração penal. Art. 5º. CF/88: (...) XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; A própria Constituição prevê a multa como pena isolada para crimes. A discussão é importante, pois não podemos esquecer que, de acordo com os arts. 63 do CP e 7º. da Lei das Contravenções Penais, contravenção penal seguida de crime não gera reincidência. 2. Quanto à espécie de ação penal Art. 17 da LCP: “A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício”. Crime: Ação Penal Pública Condicionada ou Incondicionada; Ou ação penal privada. Contravenção: só admite Ação Penal Pública Incondicionada. Vias de fato (art. 21 LCP) é perseguida mediante ação penal pública incondicionada? Sim. Vias de fato é perseguida mediante ação penal pública incondicionada porque é a opção do legislador e não com base na gravidade do crime. 22 3. Quanto à admissibilidade da tentativa Art. 4º. LCP: “Não é punível a tentativa de contravenção”. No crime a tentativa é punível. Contravenção, apesar de admitir, de fato, a tentativa, esta não é punível. 4. Quanto à extraterritorialidade da lei penal brasileira Art. 2º da LCP: “A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional”. Crime: admite extraterritorialidade. Contravenção: não admite. 5. Quanto à competência para processar e julgar Art. 109, CF/88: “ Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral”. A contravenção penal só é processada e julgada apenas na Justiça Estadual. Nem a conexão leva a contravenção penal para a Justiça Federal. OBS - Apenas há uma hipótese em que a contravenção é processada e julgada na Justiça Federal: competência originária em razão da prerrogativa de foro. Ex: Juiz Federal que cometeu vias de fato.6. Quanto ao limite das penas Art. 10 da LCP: “A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a 5 anos (...)”. Crime: a duração da pena é de 40 anos. Contravenção: 5 anos. 26 image3.png image2.jpeg image4.jpeg image1.jpeg image5.jpeg image6.jpeg