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Simão Vasconcelos, UFPE 
Zoologia dos Invertebrados Superiores, Licenciatura em Ciências Biológicas 
 
 
O R D E M �� A R A N E A E �� 
 
 
 De todos os grupos de invertebrados terrestres, os artrópodos são os mais bem adaptados, 
sendo encontrados em grande número nos mais diversos habitats. Entre os Arthropoda, merecem 
especial atenção, por sua abundância e importância econômica, os insetos e os aracnídeos. A Classe 
Arachnida contém aranhas, escorpiões, ácaros, carrapatos, opiliões e outras espécies de menor 
visibilidade. Com exceção talvez dos ácaros, as aranhas constituem a ordem mais ampla de 
aracnídeos. Foram descritas aproximadamente 32.000 espécies, e isso provavelmente representa 
somente uma parte do número verdadeiro. Além da grande diversidade de espécies, as populações 
de aranhas também são muito numerosas. 
 Muitas adaptações das aranhas tornam-na especialmente interessantes: elas podem utilizar a 
seda que produzem de diversos modos, seus padrões de comportamento são variados, e apresentam 
visão bem desenvolvida em muitas espécies. 
 
 
MORFOLOGIA EXTERNA 
 As aranhas variam de tamanho desde pequenas espécies com menos de 0,5 mm de 
comprimento até grandes migalomorfas tropicais (tarântulas, caranguejeiras) que atingem 9 cm de 
comprimento, podendo a envergadura das pernas ser bem maior. O prossomo da aranha porta uma 
carapaça convexa distinta, que geralmente contém 8 olhos anteriormente. Há um grande esterno na 
superfície ventral, e uma pequena placa mediana (conhecida como lábio) prende-se diretamente na 
frente do esterno. 
 Cada quelícera consiste de uma presa e de uma peça basal que contém um sulco no interior 
do qual a presa se dobra. Os pedipalpos da fêmea são curtos e em forma de pernas, mas no macho 
modificaram-se como órgãos copulatórios, com o último segmento bastante aumentado e em forma de 
maçaneta. As pernas variam de comprimento e peso, dependendo dos hábitos da espécie. 
 O abdome globoso ou alongado não é segmentado, exceto em algumas aranhas primitivas. 
Entretanto, a segmentação geralmente se reflete no padrão de coloração. O abdome conecta-se ao 
prossomo por meio de uma curta porção estreita, chamada pedicelo. Na parte anterior, o lado ventral 
do abdome possui uma depressão transversal conhecida como sulco epigástrico. As aberturas 
reprodutivas localizam-se no meio deste sulco, e os espiráculos dos pulmões laminares estão em 
cada lado dele. Na extremidade do abdome há um grupo de apêndices modificados: os órgãos 
fiadores (chamados fiandeiras). São órgãos produtores de seda, que se encontram na superfície 
ventral imediatamente à frente do ânus. Em aranhas primitivas existem 4 pares, mas na maioria das 
aranhas, o numero é reduzido a 3 pares, um dos quais sendo muito pequeno e vestigial. 
 
 
SEDA 
 A produção de seda é característica típica das aranhas, sendo conhecidas espécies fósseis 
com fiandeiras nítidas a partir do Devoniano. Cada fiandeira é uma pequena estrutura cônica, com 
muitos fusos, tubos quase microscópicos, por onde é expulso o líquido das glândulas de seda. Os 
ductos das glândulas sericígenas estendem-se em direção posterior e terminam na extremidade das 
fiandeiras. As fiandeiras são muito móveis, podendo mover-se independentemente. As glândulas de 
seda em si são grandes e localizadas na metade posterior do abdome. 
 1
 A seda das aranhas é uma proteína de composição semelhante à seda das lagartas. É emitida 
como um líquido, sendo que o endurecimento resulta não da exposição ao ar, mas do próprio 
processo de esticá-lo, o que muda sua configuração molecular. A seda da aranha é quase tão forte 
como o nylon, porém mais elástica. Um único fio é composto de várias fibras, cada uma esticada a 
partir de seda líquida provida por um fuso separado. O estiramento ocorre à medida que a aranha se 
move para longe a partir de um fio ancorado ou puxa os cordões com suas pernas posteriores. A 
maioria das aranhas produz mais de um tipo de seda, e os vários tipos são secretados a partir de 2 a 
6 tipos de glândulas sericígenas. 
 A seda exerce papel importante na vida da aranha, tendo vários usos, mesmo em famílias que 
não constroem teias para capturar presas. Uma função comum à maioria das aranhas é a de linha de 
guia. As aranhas produzem continuamente uma linha de seda seca atrás delas à medida que 
vagueiam. A alguns intervalos, ela é presa ao substrato com seda adesiva. A linha de guia age como 
uma linha de segurança. As funções originais da seda eram provavelmente reprodutivas e essas 
permanecem importantes. Os ovos das aranhas são envolvidos em um estojo sedoso, e o macho usa 
a seda no processo de transferência do sêmen para os órgãos copulatórios. Muitas aranhas 
constroem ninhos sedosos sob cascas de árvores e rochas, que podem ter uso como abrigos ou 
locais para hibernação. Após a eclosão, os jovens de algumas espécies são transportados em 
correntes de ar por meio de um cordão sedoso (balooning). 
 
 
ALIMENTAÇÃO 
 Aranhas, como a maioria dos aracnídeos, são predadoras e alimentam-se predominantemente 
de insetos, embora as espécies grandes possam se alimentar de pequenos vertebrados. A presa é 
capturada na armadilha sedosa dos membros das famílias construtoras de teia ou é capturada 
ativamente pelos membros dos grupos caçadores. 
 
Aranhas tecedoras 
 A linha de guia pode ter originado a armadilha da teia. A primeira teia foi talvez constituída 
pelos fios que irradiavam da linha de guia quando a aranha emergia de seu abrigo protetor para 
capturar presas em trânsito. Tais fios podem ter adquirido uma função comunicativa, informando a 
aranha da presença de alimento quando a linha fosse atingida. O abrigo também tornou-se revestido 
por seda. A partir de tal modelo evoluíram os triângulos, órbitas (ou círculos), funis, e malhas 
altamente desenvolvidos e característicos das diferentes espécies de aranhas. 
 Muitas teias são compostas tanto de fios secos como adesivos, cada um deles produzido por 
glândulas diferentes. As linhas adesivas geralmente têm uma camada de seda externa viscosa e não 
polimerizada que aumenta bastante a resistência da teia. A construção de uma teia circular por uma 
aranha depende de fatores morfológicos e fisiológicos, tais como o peso, comprimento da perna, 
suprimento de seda, apetite, e um padrão de comportamento instintivo que envolve a integração da 
informação sensorial e da atividade locomotora. Informações visuais não são necessárias, pois uma 
aranha cega pode construir uma teia perfeita. Nenhum aspecto é aprendido: a teia mais complexa 
pode ser construída imediatamente após a eclosão. 
 A maior parte das teias circulares comuns é produzida por membros da família Araneidae. 
Como o tamanho da malha é determinado pelas primeiras pernas da aranha, o tamanho da teia é 
parcialmente dependente do tamanho da aranha e aumenta com o crescimento da mesma. A teia 
inteira, ou pelo menos a espiral adesiva, é substituída todos os dias ou noites, pois a seda úmida 
deixa de ser pegajosa dentro de poucos dias. A seda velha pode ser ingerida, e boa parte da proteína 
volta muito rapidamente para as glândulas de seda. As teias são substituídas em um período 
notavelmente curto. As espécies de Araneus tecem uma teia completa em apenas cerca de 20 min. 
A teia pode exigir 1.500 pontos de junção e de 10 a 30 m de seda. 
 As teias em órbita variam em detalhes de acordo com as estratégias de captura da espécie, 
algumas têm malha fina, outras mais grossas. Algumas têm um eixo fechado, outras têm um eixo 
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aberto que possibilita à aranha mover-se de um lado a outro da teia. Muitas espécies mantêm-se no 
centro da teia; outras escondem-se em um abrigo de folhas sobre o cordão sinalizador. Há tecedoras 
de órbitas diurnas que acrescentam linhas de seda em ziguezague no eixo da teia, chamadas de 
estabilizadoras. Agindo como um sinal de alarme, as linhas estabilizadoras reduzem a chance de que 
aves em vôo destruam a teia. 
 A posição e localizaçãodas teias não são aleatórias. Algumas espécies tecem órbitas 
horizontais, prendendo insetos que voam para cima e para fora da vegetação. Outras espécies têm 
teias verticais em elevações características para prender determinadas espécies de insetos. 
Conseqüentemente, a mesma área florestada pode manter várias espécies de tecedoras de órbitas, 
cada uma delas adaptada para prender uma parte diferente da população de insetos. Ao subir numa 
teia, a aranha prende-se às linhas por meio de uma pequena garra média que repousa entre as duas 
grandes garras encontradas em todas as aranhas, e que se mantém contra duas cerdas externas 
chamadas de garras acessórias. 
 A visão não é bem desenvolvida nas aranhas tecedoras de teias, mas elas são muito sensíveis 
a vibrações. A partir da vibração no cordão a aranha pode determinar o tamanho e a localização da 
presa capturada, e muitas espécies respondem a estímulos diferentes com padrões de ataque 
diferentes. As aranhas tecedoras de órbitas em teias emaranhadas comumente enfaixam a presa em 
seda antes de picá-la, o que ajuda na imobilizaçao da presa ou, impede-a de cair da teia. Algumas 
espécies (cleptoparasitas) abandonaram a captura de presas por armadilha e roubam as presas 
capturadas de outras construtoras de teias. 
 As formas caçadoras errantes incluem as tarântulas, aranhas pescadoras, aranhas saltadoras 
e muitas aranhas migalomorfas. Constituem um grupo mais primitivo que contém as chamadas 
caranguejeiras e as aranhas de alçapão. Acredita-se que as formas errantes derivem de ancestrais 
construtores de teias através da perda do hábito de construção de teias. As espécies que se 
aproximam furtivamente de suas presas têm pernas mais pesadas que as construtoras de teias. A 
maioria também tem um tufo de pêlos adesivos (escópulos) atrás das garras terminais, que auxilia na 
adesão à superfície e na captura da presa. Algumas espécies vagueiam capturando insetos que 
acabam encontrando; outras utilizam uma estratégia de tocaia. Muitas aranhas emboscam os insetos 
que visitam flores, podendo imobilizar presas relativamente grandes. A presa é detectada por 
estímulos visuais e tácteis, e em algumas espécies, como as tarântulas e as aranhas saltadoras, os 
olhos são bastante desenvolvidos e têm importância primária na captura da presa. 
 As aranhas errantes produzem uma linha de guia, e algumas aranhas de solo amarram sua 
presa correndo ao seu redor. As aranhas-de-alçapão constroem buracos revestidos de seda que se 
fecham por meio de uma membrana recoberta com líquens, terra e outros materiais. A aranha 
repousa em tocaia por baixo da membrana, e algumas espécies podem detectar as presas em trânsito 
por meio de linhas de seda que se irradiam sobre o solo. Se não forem perturbadas, as aranhas de 
alçapão podem ocupar o mesmo buraco por muitos anos. 
 A presa varia com o habitat e a distribuição da aranha. A pequena tarântula Pardosa amentata 
alimenta-se quase que exclusivamente de dípteros, enquanto Peucetia viridans, pode predar 62 
espécies de insetos e outras espécies de aranhas. Embora a maioria das aranhas seja solitária, um 
certo grau de organização evoluiu em algumas espécies dentro de 9 famílias. Essas aranhas sociais 
dividem uma teia comunitária e cooperam na captura da presa. 
 
 
VENENO 
 As aranhas picam a sua presa com as quelíceras, que também podem segurar e macerar os 
tecidos durante a digestão. As quelíceras das aranhas são exclusivas entre os aracnídeos por serem 
providos de glândulas de venenos, que se abrem próximo à ponta da presa. As glândulas localizam-
se dentro dos segmentos basais das quelíceras e geralmente se estendem para trás no interior da 
cabeça. Quando a aranha pica, as presas são elevadas para fora do sulco no qual repousam e são 
cravadas na presa. Simultaneamente, os músculos ao redor da glândula de veneno contraem-se e 
descarrega-se o fluido da glândula da presa para o interior do corpo da presa. 
 3
 O veneno da maioria das aranhas não é tóxico aos humanos, mas algumas espécies têm 
picadas perigosas. Entre elas está a viúva-negra (Latrodectus) encontrada em quase todo o mundo. 
O veneno é neurotóxico e, como na maioria das aranhas, é constituído de uma mistura de compostos 
protéicos. Embora a picada possa passar despercebida, os sintomas são severos e muito dolorosos; 
incluem dor no abdome e nas pernas, pressão elevada do fluido cérebro-espinhal, náusea, espasmos 
musculares e paralisia respiratória. Casos fatais são raros e muitas vezes resultam de diagnóstico ou 
tratamento errado do que do próprio veneno. Muitos antídotos já se encontram disponíveis. 
 As aranhas do gênero Loxosceles têm veneno hemolítico e produzem necrose ou ulceração 
local do tecido que se espalha a partir da picada. No sudeste do Brasil, Phoneutria e as tarântulas do 
gênero Lycosa também têm venenos que produzem necrose. As caranguejeiras migalomorfas norte-
americanas, apesar de seu tamanho e reputação, não são venenosas, mas a australiana Atrax, e a 
sul-americana Trechona podem ser bastante perigosas. Muitas espécies sul-americanas têm cerdas 
urticantes defensivas no abdome que penetram facilmente na pele de um agressor. 
 As aranhas que têm quelíceras com “dentes”, tais como muitas caçadoras, mastigam sua 
presa, auxiliando na digestão dos tecidos com enzimas derramadas da boca. Os restos esqueléticos 
indigeríveis são descartados como um bolo. As aranhas com quelíceras sem dentes não mastigam, 
mas introduzem enzimas através de uma picada e sugam os tecidos digeridos. Na maioria das 
aranhas, cada uma das coxas pedipalpares (enditos), que flanqueiam a boca, tem uma borda 
serrilhada utilizada para cortar o tecido da presa e uma tela de pêlos que age como um filtro quando 
os sucos são sugados para o interior da boca. A forca de sucção vem da faringe e de um 
alargamento posterior do esôfago, conhecido como estômago bombeador. Ele se localiza 
aproximadamente no meio do prossomo. O mesêntero preenche quase todo o abdome, bem como a 
maior parte do prossomo. A parte posterior do intestino médio alarga-se no dorso do abdome para 
formar uma câmara cloacal. Os dejetos são aí coletados, e depois descartados a partir do ânus 
através de um intestino curto e esclerosado. 
 Como uma adaptação ao hábito predatório e a um suprimento alimentar incerto, a maioria das 
aranhas tem taxas metabólicas relativamente baixas, podendo tolerar um período de inanição 
prolongado. Devido à grande capacidade da extensa região do intestino médio, as aranhas podem 
duplicar seu peso corporal em uma refeição. Por exemplo, a tarântula Lycosa lenta, que tem uma 
expectativa de vida de 300 dias, pode sobreviver sem alimento por 200 dias e reduzir sua taxa 
metabólica em 30 a 40% durante esse período. 
 Embora as aranhas sejam predadoras de insetos importantes, elas próprias são presas de 
alguns insetos e vertebrados. Dois grupos de vespas utilizam aranhas como alimento para suas 
larvas. A vespa paralisa a aranha com um ferrão e põe um ovo em seu corpo. As vespas caçadoras 
(Pompilidae) põem a aranha em uma câmara subterrânea; vespas da família Sphecidae põem várias 
aranhas em um tubo de lama preso em objetos elevados. O efeito predatório dos vertebrados nas 
aranhas se reflete no fato de que as densidades de populações de aranhas são dez vezes maiores 
em ilhas sem predadores vertebrados. 
 
 
ESTRUTURA INTERNA E FISIOLOGIA 
 Os órgãos de troca gasosa nas aranhas são de duas formas: pulmões laminares e traquéias. 
As aranhas consideradas primitivas (tais como as migalomorfas) não têm traquéias, mas possuem 
dois pares de pulmões laminares derivados do segundo e terceiro segmentos abdominais. Quase 
todas as outras aranhas têm somente um único par de pulmões laminares, com o par posterior tendo 
evoluído em traquéias. Coincidindo com essa transformação na maioria das aranhas, ocorreram uma 
migração posterior e uma fusão das aberturas traqueais, formando um único espiráculo localizado 
imediatamenteem frente às fiandeiras. Em vários grupos de aranhas pequenas, os pulmões laminares 
anteriores também se transformaram em traquéias, de forma que a troca gasosa é obtida 
completamente através desse meio. 
 O sistema circulatório da aranha é semelhante ao dos escorpiões, mas os pulmões laminares 
se tornaram menores e as traquéias aumentaram em complexidade, ocorrendo uma perda 
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correspondente no numero de câmaras cardíacas, óstios e artérias, até que nas aranhas, 
exclusivamente traqueadas (a maioria das quais pequena), existem freqüentemente somente dois 
pares de óstios. As aranhas saltadoras (Salticidae) saltam por meio de uma elevação súbita da 
pressão sangüínea e de uma extensão do terceiro ou quarto par de pernas. Registraram-se saltos de 
até 25 vezes o comprimento corporal. 
 As glândulas coxais não se encontram tão bem desenvolvidas nas aranhas como nos outros 
aracnídeos. Os grupos considerados primitivos têm dois pares de glândulas coxais bem 
desenvolvidas se abrindo por cima das coxas do primeiro e do terceiro pares de pernas caminhantes. 
Em todas as outras, somente o par anterior de glândulas permanece, e exibe vários estágios de 
regressão. Em muitas aranhas, os dois túbulos de Malpighi ramificados, que se conectam com a 
câmara cloacal na parte posterior do abdome, são mais importantes na excreção que as glândulas 
coxais. Os dejetos excretórios são a guanina e o ácido úrico. 
 
 
ÓRGÃOS SENSORIAIS 
 Os olhos de algumas aranhas ultrapassam os dos outros aracnídeos em grau de 
desenvolvimento. Geralmente, existem 8 olhos arranjados em duas fileiras de quatro cada uma ao 
longo da margem dorsal anterior da carapaça, mas outros arranjos ocorrem em certas famílias. Nas 
tarântulas e aranhas saltadoras os olhos situam-se sobre a superfície da metade anterior da carapaça, 
resultando em um campo visual amplo. Das duas fileiras de 4 olhos geralmente encontrados nas 
aranhas, os olhos medianos anteriores são do tipo direto e todos os olhos remanescentes são 
indiretos. 
 Os olhos medianos anteriores das aranhas saltadoras são típicos por terem os fotorreceptores 
arranjados em 4 camadas, cada um deles acredita-se que responda a comprimentos de ondas 
diferentes. Ainda é incerto se tal diferenciação torna possível o reconhecimento de cores ou um maior 
contraste. Como os olhos indiretos são providos de um tapete, que reflete raios luminosos, os olhos 
medianos anteriores aparecem escuros e os outros aparecem freqüentemente brancos. Em algumas 
famílias, notavelmente nas tarântulas caçadoras errantes, o tapete desenvolveu-se de tal forma que 
essas aranhas podem ser facilmente localizadas à noite e capturadas utilizando-se uma lanterna para 
procurar o reflexo dos olhos. O número de receptores é muito maior nas espécies caçadoras do que 
nas construtoras de teia sedentárias. Nas aranhas errantes, os olhos são importantes para detecção 
do movimento e localização dos objetos. As aranhas saltadoras são capazes de perceber uma 
imagem relativamente precisa de tamanho considerável. 
 Os pêlos tubulares quimiossensíveis nas pontas dos apêndices, pêlos tácteis(a maioria dos 
grandes pêlos corporais), tricobótrios, órgãos sensoriais em fenda e társicos são órgãos sensoriais 
muito importantes em todas as aranhas. Na maioria delas, especialmente nas formas construtoras de 
teias sedentárias, eles são mais importantes que os olhos. Algumas espécies determinam a posição 
da presa por meio dos tricobótrios. 
 As aranhas têm os órgãos sensoriais em fenda mais desenvolvidos entre os aracnídeos. Os 
estudos na aranha caçadora Cupiennius demonstraram a importância dos órgãos sensoriais em fenda 
agrupados (órgãos liriformes) no fêmur e na tíbia em orientação cinestésica. Os indivíduos cegos 
afugentados por cerca de 25cm de uma presa recém capturada são capazes de retornar a sua 
posição original, determinando corretamente o angulo e a distância do trajeto de retorno. Essa 
capacidade é bastante reduzida quando são destruídos os órgãos liriformes no fêmur e na tíbia. 
 Os órgãos sensoriais em fenda na articulação entre o tarso e o metatarso da aranhas 
construtoras de teia são especialmente sensíveis e permitem que a aranha diferencie as freqüências 
de vibração transmitidas através dos fios de seda da teia ou mesmo através do ar. Nas espécies em 
que os filhotes de aranha permanecem na teia dos pais após eclodirem, a aranha original pode 
reconhecê-los. A aranha também pode diferenciar o tamanho da presa capturada ou mesmo o tipo do 
inseto, se este produzir vibrações de zumbido. As próprias aranhas podem produzir sinais vibratórios. 
O macho pode beliscar os fios da teia da fêmea ou a mãe pode produzir sinais vibratórios detectáveis 
 5
pelos filhotes. Os órgãos társicos , estruturas em forma de taça situadas próximo às pontas das 
pernas, são provavelmente receptores olfatórios para feromônios. 
 
 
REPRODUÇÃO E HISTÓRIA NATURAL 
 Os ovários da fêmea consistem de dois sacos paralelos alongados localizados na parte ventral 
do abdome. Cada oviduto converge para formar um tubo mediano que se estende ventralmente e para 
trás para se juntar com uma curta vagina quitinosa, que se abre no meio do sulco epigástrico. 
Associados à vagina e ao útero, encontram-se dois ou mais receptáculos e glândulas seminais. Na 
maioria das aranhas essas estruturas têm aberturas separadas para o meio externo e conectam-se 
internamente à vagina. Essas aberturas externas são para a recepção do órgão copulatório 
masculino durante o acasalamento e localizam-se imediatamente na frente do sulco epigástrico em 
uma placa esclerosada especial chamada epigino. A fertilização ocorre no momento da postura dos 
ovos, com o acasalamento tendo ocorrido algum tempo antes. O esperma é armazenado nos 
receptores seminais ou espermatecas. 
 Os dois grandes testículos tubulares repousam ao longo de cada lado do abdome masculino, e 
os dois ductos espermáticos abrem-se através de um poro genital comum no meio do sulco 
epigástrico. Os órgãos copulatórios masculinos não se conectam à abertura do ducto espermático, 
mas estão localizados nas extremidades pedipalpares. O segmento társico desses apêndices 
modificou-se para formar uma estrutura para a transmissão do esperma. Basicamente, cada 
pedipalpo consiste de um reservatório bulbar, a partir do qual estende-se um ducto ejaculatório. Este 
leva a uma projeção em forma de pênis, chamada de êmbolo. Em repouso, o bulbo e o êmbolo 
encaixam-se em uma concavidade (o alvéolo) num lado do segmento társico masculino. Durante o 
acasalamento, regiões especiais (hematódocos) do segmento társico ingurgitam-se com sangue, 
fazendo com que o bulbo e o êmbolo sejam deformados e projetados para fora do alvéolo; o êmbolo é 
inserido ao mesmo tempo em uma das aberturas reprodutivas femininas que levam aos receptáculos 
seminais. Nas aranhas primitivas, o órgão pedipalpar consiste somente das partes básicas descritas. 
No entanto, na maioria das famílias, o pedipalpo adquiriu muitas partes acessórias, tais como o 
condutor. Essas estruturas, em combinação com as configurações esclerosadas do epigino feminino, 
auxiliam na orientação do pedipalpo e na inserção do êmbolo no interior das aberturas femininas. 
 A forma precisa do pedipalpo masculino e do epigino feminino é distinta para cada espécie e 
esses órgãos formam estruturas primárias utilizadas pelos aracnologistas para classificar e identificar 
as espécies. Os sistemas reprodutivos masculino e feminino, e o órgão pedipalpar masculino não se 
formam completamente até que ocorra a última muda. O macho então enche ou carrega os 
pedipalpos com esperma da seguinte maneira: primeiro tece uma pequena teia espermática, ou pelo 
menos um fio de seda, com glândulas de seda especiais que se abrem sobre a superfície ventral 
anterior do abdome. Nessa teia, ejacula-se um glóbulo de sêmen. Em seguida, os pedipalpos são 
imersos no interior do glóbulo até que todo o sêmen seja coletado nos reservatórios.Com os 
pedipalpos cheios, a aranha macho então procura uma fêmea com a qual acasalar. No entanto, o 
comportamento da corte não depende dos pedipalpos cheios de esperma. 
 Os hábitos predatórios das aranhas, como nos outros aracnídeos, torna o reconhecimento do 
parceiro sexual especialmente importante, significando que a fêmea deve identificar o macho como 
um parceiro em potencial e não um alimento. Como resultado, padrões de comportamento pre-
copulatórios bastante complexos evoluíram em muitas espécies. Estímulos químicos e tácteis 
possuem importância primária em todas as aranhas. Ao encontrar uma linha de guia ou uma teia, um 
macho pode determinar se ela foi produzida por uma fêmea adulta da mesma espécie, e o feromônio 
na seda ou no corpo da fêmea pode iniciar uma trilha após ou uma resposta de corte do macho. 
 As fêmeas respondem a vários estímulos produzidos pelos machos. Nos construtores de teia 
sedentários, o macho freqüentemente puxa os fios da teia, produzindo vibrações detectadas e 
reconhecidas pela fêmea. O macho das tecedoras de órbita puxa o raio seguro pela fêmea ou puxa 
um cordão de acasalamento que prendeu à teia da fêmea. A mensagem é espécie-específica em 
 6
número, freqüência e intensidade de puxões. Em algumas espécies, o macho é tão pequeno que 
sobe incógnito pelo corpo da fêmea. 
 As aranhas caçadoras errantes exibem comportamento de corte exclusivos. A abordagem 
pode ser direta, com o macho investindo contra a fêmea, palpando o seu corpo com seus pedipalpos 
e pernas, e fazendo com que caia em um estado imóvel. Algumas tarântulas macho estridulam com 
uma lima e um raspador localizados na articulação tibiotársica palpar. Durante as oscilações da 
articulação, um grupo de espinhos fortes na ponta do palpo mantêm contato com o substrato e as 
vibrações são detectadas pela fêmea através do substrato em vez de como ondas de pressão aéreas. 
Nas famílias com uma visão ocular bem desenvolvida, os estímulos visuais também são importantes e 
a corte assume a forma de uma dança a e uma postura por parte do macho em frente da fêmea. Isso 
envolve movimentos variados e a ondulação dos apêndices, que com freqüência têm cores brilhantes. 
Tal comportamento é muito desenvolvido e foi melhor estudado nas aranhas saltadoras. 
 Embora as descrições de corte das aranhas destaquem o papel do macho, o comportamento 
de cada sexo depende de uma seqüência de sinais recíprocos que libera a próxima ação em um sexo 
ou outro. O passo primário para a corte é provavelmente o contato corporal, exibido por muitas 
caranguejeiras e certas aranhas pequenas de solo. Os feromônios corporais ou os sinais químicos ou 
vibratórios das linhas de seda são estímulos mais avançados para muitos grupos, como as tarântulas 
e muitas tecedoras de teia. A condição mais altamente evoluída, exibida pelas aranhas saltadoras, 
utiliza estímulos visuais como liberadores primários. 
 Várias posições copulatórias caracterizam famílias diferentes. Na posição apropriada, o macho 
geralmente raspa a superfície epiginal rapidamente com o palpo até que as partes apropriadamente 
orientadas no palpo e na placa epiginal se conectem. Algum tempo após a cópula, a fêmea põe de 
poucos a 3.000 ovos em um a vários estojos dependendo da espécie. Imediatamente após a postura 
dos ovos, a fêmea tece uma pequena membrana basal e depois uma parede em forma de taça. Os 
ovos são fertilizados com o esperma armazenado imediatamente antes de deixar o corpo da fêmea e 
postos na taça sedosa. A fêmea cobre os ovos com outra camada de seda, e a massa inteira 
freqüentemente recebe uma cobertura adicional de seda, assumindo uma forma esférica - o saco 
ovigero ou casulo. O saco ovígero é preso a teia (nas famílias construtoras de teia), escondido no 
abrigo da aranha ou preso às fiandeiras e arrastado pela mãe (como nas tarântulas e em algumas 
outras). Em muitas aranhas, a fêmea morre após terminar o saco ovígero; em outras, ela pode 
produzir uma série de estojos e permanecer com os jovens por algum tempo após eclodirem. 
 Os filhotes de aranha eclodem no interior do saco ovígero e permanecem lá ate que sofram a 
primeira muda. Os filhotes de aranha de muitas espécies, bem como alguns adultos pequenos, 
utilizam uma forma de transporte conhecida como balonismo, que auxilia na dispersão da espécie. A 
pequena aranha sobe até o topo da planta e libera um fio de seda; tão logo as correntes de ar sejam 
suficientes para produzir um puxão no fio, a aranha solta o seu cabo na planta e é transportada pelas 
correntes. Embora o balonismo seja importante no alastramento das populações de aranhas para 
novos habitats, a dessecação e a falta de alimento tornam improvável o transporte a longas 
distancias. Algumas aranhas tomam conta de seus filhotes após a eclosão. Entre elas, a tarântula 
fêmea transporta os seus filhotes no dorso após eclodirem. A superfície abdominal dorsal da mãe 
encontra-se coberta com pelos espinhosos arredondados que ajudam na ligação do filhote. Os 
filhotes de aranha dispersam-se gradualmente. A mãe não se alimenta enquanto transporta os filhos. 
 Embora já se tenha mantido aranhas migalomorfas (caranguejeiras) por até 25 anos em 
cativeiro, a maioria vive de 1 a 2 anos. O numero de mudas exigido para atingir a maturidade sexual 
varia, dependendo do tamanho da espécie. As espécies grandes sofrem até 15 mudas antes do 
ínstar final; as espécies pequenas mudam somente algumas vezes. Os machos mudam menos vezes 
que as fêmeas da mesma espécie, e dentro de uma mesma espécie sempre ocorre uma certa 
variação no número de ínstares antes da muda final. Cerca de metade das espécies de clima 
temperado passa o inverno como imaturos, geralmente no solo; outras passam o inverno no estágio 
de ovo ou como adultos. A temperatura e o fotoperíodo são os fatores controladores primários na 
determinação do padrão do ciclo de vida. 
 
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	MORFOLOGIA EXTERNA 
	SEDA 
	ALIMENTAÇÃO 
	VENENO 
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