Buscar

Max Weber Entender o homem e desvelar o sentido da ação social (FICHAMENTO)

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Faculdade de Formação de Professores
Departamento de Educação
Disciplina: Sociologia da Educação Turma: 03
Professor: Francisco Oliveira
Aluno: Carlos Augusto Abreu Tornio
Fichamento do Texto: Max Weber – 1864-1920 Entender o Homem e Desvelar o Sentido da Ação Social 
Referências
VILELA, Rita Amélia Teixeira. “Max Weber – 1864 – 1920. Entender o homem e desvelar o sentido da ação social”. In: TURA (org.). opus cit, pp. 63-96.
Introdução
“Na opinião de seu intérprete alemão mais respeitado, Johannes Winckelmann, a grande contribuição epistemológica de Weber -sua sociologia compreensiva como teoria das relações sociais, e sua teoria política como sistema explicativo das relações de poder ou de dominação, ambas construídas na prática ativa do cientista como acadêmico e como homem público - é de tamanha magnitude que ainda hoje não foi suficientemente analisada em toda a dimen­são que esta obra nos impõe.” (VILELA, 2006. P. 63)
“Diversos de seus intérpretes privilegiam alguns textos de sua obra que analisam as relações capitalistas e ainda descolam suas análises do entendimento dado por Weber, ou do sentido que para Weber, teve o estudo das relações sociais capitalistas: integra­da na totalidade de seu projeto teórico e metodológico, o objetivo dessa análise era procurar o entendimento do homem e das suas relações sociais sob as condições de vida na sociedade capitalista de seu tempo.” (VILELA, 2006. P. 63 e 64)
“Diversos desses intérpretes têm-se dedicado ao exa­me de diferenças entre o pensamento de Weber e de Marx, o que é correto, outros a tentativas de demonstrar como Weber se contra­põe a Marx no sentido de refutá-lo ou recusar a teoria marxiana, o que é incorreto, já que este não era o projeto de Weber, embora possa se considerar como legítimo valer-se da teoria weberiana para criticar e negar algumas assertivas do marxismo (SILVA, 1988).” (VILELA, 2006. P.65)
 “A intenção que orientou as leituras é a mesma que orienta a argumentação que se pretende usar neste texto: procurar explicitar o projeto intelectual de Weber: A Ciência Social que queremos praticar é uma Ciência da realidade concreta. O que queremos é entender a singularidade da vida social, tal como ela nos apresenta e se desenrola. De um lado queremos entender todas as relações concretas dos acontecimentos sociais com a realidade social e cultural contemporâneas e, de outro lado, queremos entender as causas históricas que definem que sejam dessa forma c não de outra (WEBER, OSE, p. 212).” (VILELA, 2006. P.67)
Weber no seu tempo: entender o homem para entender eu projeto epistemológico
“Weber viveu na Alemanha em momento histórico muito particular: em estado de reorganização social (a transição do reino alemão para a República de Weimar). Viveu, como homem, como cidadão e como político (Weber foi Constituinte e oficial do exército alemão tendo atuado como administrador de um grande hospital durante a Primeira Guerra), o processo de tentativa de consolidação de um Estado Federado e, portanto sob uma particularmente forte onda de nacionalismo. Viveu a difusão do marxismo dentro dos próprios matizes sociais oferecidos pelo legado deixado por Marx - o marxismo doutrinário e o marxismo científico. Testemunhou o estágio de um capitalismo diferente do estágio analisado por Marx, principalmente na Alemanha. Viveu as mudanças sociais marcantes no continente europeu da virada do século e as grandes rupturas sociais que produziram a Primeira Grande Guerra. No plano intelectual conviveu com intensa controvérsia entre os paradigmas dominantes das ciências sociais: o retorno às "ciências do espírito" (Geistwissenschaften); surgimento de um "novo kantismo"; a presença permanente de Hegel; a penetração da crítica nietzscheana e o auge da corrente sócio-histórica representada por Dilthey. Os círculos intelectuais na Alemanha, essencialmente aqueles vinculados à área das ciências sociais e humanas, enfrentavam uma reflexão aguda sobre a luta política e as perspectivas de transformação social, juntamente com um processo que parecia ser continental (Durkheim na França) de firmar a sociologia como ciência (questões de método e a discussão em torno da objetividade e neutralidade).
Segundo Baumgarten nenhum desses fatores pode ser esquecido para entender Weber, o homem, o político e o cientista social. De um lado, o político envolvido nos grupos que aspiravam à formação de uma Nação Alemã, cujo poder deveria assegurar a legitimidade dos ideais de justiça endireites sociais e com eles a vida digna dos homens e a sua felicidade - nesta dimensão pode-se entender em Weber sua resistência aos movimentos dogmáticos sustentados pelo marxismo, tanto da classe trabalhadora quanto de círculos acadêmicos, pois, na sua ótica, o perigo do dogmatismo consistia em prometer uma sociedade impossível de se consoli­dar na prática (via a sociedade socialista preconizada pêlos mar­xistas como uma utopia) e comprometer o projeto nacionalista da Alemanha porque as lutas e as cisões internas enfraqueciam o país internamente e o colocavam em situação desfavorável no continente.” (VILELA, 2006. P. 69 e 70)
“É sobre­tudo em Dilthey (1833-1911) que Weber toma a sustentação para seu projeto de contrapor ao pensamento filosófico uma teoria soci­al concreta. Ao firmar uma corrente de análise hermenêutica histórico-social, Dilthey se projeta como um "filósofo social" embora fosse filósofo (ocupava na Universidade de Berlim a cátedra de filosofia antes ocupada por Hegel) e assume lugar importante como precursor da sociologia na Alemanha. Para Dilthey, a interpretação do mundo no seu suceder histórico, através dos processos sociais vividos pêlos homens seria a condição básica para entender a so­ciedade construída pelo homens. O método de investigação que leva ao conhecimento da realidade social deve, portanto, substi­tuir os conceitos formados pela razão (como na tradição da filo­sofia) pela busca de esclarecimento (interpretativo) com base na compreensão das relações do social com a história.” (VILELA, 2006. P. 71)
“Na avaliação de Winckelmann, o que se destaca em Weber pode ser resumido em duas grandes características: ter sido pioneiro na ciência social empírica e um grande pensador que almejava descobrir a verdade nas relações sociais. Como pensador, ele encarnava duas dimensões no relacionamento com o conhecimento - "pensou como político; foi cientista com olhar de político e foi político com o olhar do cientista", além disso, ética e tolerância foram características que se mantiveram constantes na sua vida particular e profissional (WINCKELMANN, 1992, p. IX).” (VILELA, 2006. P. 72)
“Como intelectual do seu tempo, dialogou com o marxismo como cientista - querendo entendê-lo como teoria social, almejava completá-lo e não refutá-lo. Como professor universitário, consta que foi pioneiro na promoção de Marx como cientista social, levando suas teses para o ambiente universitário e abrindo espaço para a discussão acadêmica e científica das mesmas, que ele declarava serem "geniais". (VILELA, 2006. P. 72)
“Não é, portanto fortuito que Weber tenha desenvolvido sua teoria social tendo como foco de análise a sociedade capitalista do seu tempo e tomando a obra de Marx como interlocutora. É o en­tendimento dessa interlocução que deve e pode orientar um enten­dimento correto de sua obra, isentando nossas análises de uma to­mada prévia de partido diante dela, sustentada apenas por posição ideológica.” (VILELA, 2006. P. 73)
“Engajado socialmente na luta social de seu tempo, Weber busca na própria teoria marxiana e no marxismo do seu tempo os elementos para construir sua teoria social: descobrir e explicar quais os fantasmas se alojam na cabeça dos homens, como o fazem, por que e sob quais condições, quais as suas consequências.” (VILELA, 2006. P. 74)
A sociologia compreensiva no centro do projeto epistemológico de Weber
“Uma pista essencial para apreender a matriz teórica de Weber está no entendimento
da sua vinculação ao "novo kantismo", que poderia ser tomado como "a moda" nos círculos intelectuais da Alemanha, como o foi a ligação com Hegel no grupo ao qual Karl Marx se vinculou anteriormente (Marx e os Jovens Hegelianos). O próprio Weber teria se declarado adepto desta corrente e dois de seus representantes mais significativos, W. Windelband e H. Rickert, teriam sido referências mestras nas discussões de Weber acerca das diferenças entre ciências naturais e ciências sociais, fornecendo ao nosso mestre os elementos fundamentais para defender sua sociologia como uma "ciência da cultura" (BAUMGARTEN, In. WINCKELMANN, 1992, p. XII).” (VILELA, 2006. P. 75)
“Assim, as duas matrizes kantianas: (a da irredutibilidade do ser ao saber e a separação entre juízos de valor e juízos de fato) e a indiscutível subordinação do objeto de conhecimento aos sujeitos sociais, os pilares do novo kantismo, servem a Weber na construção de sua matriz para des­vendar a realidade social: Compreender; explicar e interpretar a realidade de seu tempo, considerar as chances determinadas his­toricamente e possíveis de serem conhecidas através da análise de uma cadeia de relações históricas e culturais, empiricamente demonstradas, este foi o projeto epistemológico de Weber.” (VILELA, 2006. P. 75)
“É, portanto, como "novo kantiano" que Weber teria lido Marx e é nesta leitura de Marx e na sua declarada insatisfação com a teoria marxiana para dar conta de explicar a autonomia dos sujeitos nas relações sociais, associada à sua posição, também declarada, de resistência aos movimentos sociais marxistas, que ele avalia como dogmáticos, que Weber busca as motivações para desenvolver sua teoria. De acordo com BAUMGARTEN (l 992), algumas teses do "jovem Marx" são o ponto de partida de Weber. Para Marx: o idealismo toma a realidade como um processo edificado na cabeça dos homens, constrói dela imagens abstratas e as querem impor na vida dos homens. Nós queremos e devemos conceber a realidade como acontecimentos reais produzidos por homens reais como conseqüências de suas ações, de sua prática como sujeitos históricos (MARX, citado por BAUMGARTEN, In. WINCKELMANN, 1992, p. XXVII).” (VILELA, 2006. P. 75)
“Numa direta ligação e aceitação dessa premissa marxiana, Weber defende a sociologia como "Wissenschaft vom menschlichen Haiuleln " (ciência da ação humana), na medida em que seria dotada da possibilidade de explicar o sentido das relações dos homens orientadas para os outros homens e a sua produção cultural (material e política). Explicara sentido, da ação humana, esta era a chave de Weber. Explicar o sentido seria buscar (descobrir e nominar) e esclarecer os significados subjetivos que na cabeça dos sujeitos ativos nas relações sociais definem sua conduta e produzem as consequências da ação. Por isso é correto afirmar que a sociologia weberiana construiu, no seu núcleo, uma teoria da ação social - não uma teoria sobre as ações objetivas diretas (como a conduta manifesta ou expressa), nem uma teoria sobre manifestações de comportamento sustentadas por visões metafísicas sobre a realidade, nem uma teoria para explicar as causas inconscientes da conduta, mas sim, uma teoria da ação social que colocou no núcleo o sentido particular que mobiliza cada sujeito social a agir de uma forma e não de outra".
Nesse sentido é possível entender onde e por que Weber se distancia de Marx. A premissa marxiana de que é o homem, dotado de conhecimentos e de ferramentas, quem constrói a sua realidade social, sendo capaz de agir sobre a natureza, interferir nela e introduzir mudanças, é a mesma encontrada na obra de Weber. Entretanto, diante da explicação monocausal de Marx, que considera o grau de possibilidades de ação dos homens condicionado pêlos determinantes econômicos desdobrados das relações de produção vigentes na sociedade, Weber apresenta as seguintes questões: Com que grau de liberdade os homens podem agir para superar os determinantes de ordem econômica? Com que processos particulares eles se organizam para dominar a natureza e edificai-os caminhos da vida entre eles? Quais as chances de destino social se colocam para os homens que estão sujeitos a formas específicas de soberania política, de relações de poder, de relações racionalizadas de produção, de processo político e de direito social? Esses são, portanto, os temas das análises de Weber (BAUMGARTEN, in WINCKELM ANN, 1992, p. XXXI).” (VILELA, 2006. P. 76 e 77)
“O entendimento do conceito de Wirtschaft é de fundamental importância para entender o conjunto da obra de Weber e, em especial, os textos destinados à análise do capitalismo e das relações sociais capitalistas. O que Weber pretende anunciar na apropriação deste vocábulo junto com o vocábulo designador da organização social (Gemeinschaft) formando o título do seu ensaio não é nada mais nada menos do que precisar que não vai discutir a sociedade capitalista, sua organização social e seus mecanismos como na teoria marxiana (as relações de produção como determinantes dos lugares dos homens na hierarquia social e da conduta dos homens), mas que pretende exatamente inverter essa relação: como os homens, agindo racionalmente para fins específicos e determinados, intencional e conscientemente, de posse de meios escolhidos racionalmente, se organizam para produzir relações sociais particulares, entre elas o próprio capitalismo e consequentemente as relações sociais capitalistas. Seu objeto de análise é, portanto, o conjunto das instituições sociais produzidas pelos homens em processos de relação entre eles e com o mundo material. É dessa premissa, Wirtschaft, não como economia, mas como o espírito da mais alta racionalidade, como propriedade dos homens organizados na sociedade, e presente nos processos em que os homens se envol­vem para organizar sua vida social e edificar as suas instituições, é que podemos entender o alcance do projeto weberiano: o objetivo da ciência social (sociologia) é compreender a "existência vivida". (VILELA, 2006. P. 80)
“Podemos resumir a dimensão da sociologia compreensiva de Weber em quatro grandes características: substituição da abordagem filosófico-social pela análise empírica; introdução, na análise social empírica, do conceito de "chances" - o que lhe possibilitou substituir uma concepção estática de explicação do social por uma explicação dinâmica (a existência social não é, ela pode ser); no plano metodológico a construção dos tipos ideais como recurso heurístico; ter firmado a possibilidade de a ciência social desenvolver e apresentar análises não valorativas.” (VILELA, 2006. P. 81)
"Algumas lições" weberianas:" Sociedade, religião e capitalismo
“Os estudos de Weber sobre religião centram-se em dois grandes problemas: o primeiro é histórico - em que medida certas seitas protestantes, ou, de modo mais geral, o espírito protestante, influenciaram a formação do capitalismo? O segundo é sociológico e também de ordem teórico-metodológica - em que sentido a com­preensão das condutas econômicas exige a referência às crenças religiosas e aos sistemas sociais do mundo dos atores? Para Weber, não há cisão entre o homem econômico e o homem religioso porque é em função de uma ética determinada (no caso a religiosa) que o homem econômico define a sua ação e, consequentemente, a sua forma de vida.
Portanto, Weber não pretendeu opor, à causalidade das forças econômicas (como em Marx), a causalidade de forças religiosas. Weber não defendeu a religião como causa determinante do desenvolvimento do capitalismo, não quis substituir a tese de Marx da determinação de ordem econômica na condução do destino dos homens por uma "causa religiosa". Weber pretendeu demonstrar que a representação religiosa da existência, a visão de mundo que ela desenvolve e a forma de conduta humana por ela engendrada é uma das causas do capitalismo, portanto tem chances probabilísticas de explicar a gênese e a consolidação dessa forma de organização social. Sua conclusão foi, e nada mais do que isso, que
o surgimento do capitalismo, ou seja, de uma racionalidade da produção (como organização humana) tendo por objetivo uma produção crescente e racionalizada (organização dos elementos essenciais à produção e obtenção do lucro) exigiu uma atitude humana à qual uma moral ascética, do protestantismo calvinista, deu sentido.” (VILELA, 2006. P. 82)
“Além disso, estudando as religiões, Weber "descobre" situações particulares de conduta religiosa no calvinismo, condutas não presentes em outras religiões, e indica que estas particularidades poderiam ser explicação da existência do capitalismo tal como ele se manifestava. Seriam elas: abolição de ritualismos tradicionais -o calvinismo desenvolveu uma pratica religiosa racionalizada diferente da prática engendrada por outras religiões decorrentes de visões de mundo contemplativas e espiritualistas que sugeriam ao crente esperar salvação na providência divina e na vida junto de Deus; o calvinista assumiu ter que trabalhar para ser bom diante de Deus, com o que estabeleceu o rompimento com a esperança de uma vida celeste e melhor após a morte, resultando na ênfase da conquista da salvação "aqui e agora" pelas virtudes da religião e do trabalho. Em consequência, o calvinista levava uma vida sem prazeres mundanos, virtuosa e dedicada ao trabalho, situação que beneficiou a acumulação capitalista.” (VILELA, 2006. P. 83)
Teoria social
“Weber rejeita o método marxiano, nega, ao método de Marx, o materialismo histórico, a função de ser fonte de explicações monocausais de determinantes também monocausais para os fenômenos sociais (as relações de produção do capitalismo determinando as relações sociais). Deste modo, na teoria social de Weber está a tentativa de assinalar que existem explicações pluricausais para o capitalismo, como organização social e para as formas de relação dos homens sob essa forma de produção. Weber, como Marx, analisa as relações entre base e superestrutura, mas o que ele analisa são as relações dos homens com o modo capitalista de produção.” (VILELA, 2006. P. 84)
“Distancia-se de Marx ao desinteressar-se do estudo dos problemas da dinâmica do capitalismo (ciclo econômico, crises, perspectivas de superação da luta de classes pela superação do modo de produção). Weber se orienta para o estudar e explicar a racionalidade da sociedade capitalista industrializada (a sua Wirtschaft). Para Weber, o capitalismo moderno seria a forma mais elevada de operações racionais a que os homens foram capazes de chegar, embora reconhecesse que a situação de vida social no continente europeu de seu tempo dava mostras de uma crescente e irresponsável irracionalidade (HENRICH, 1988).” (VILELA, 2006. P. 84)
“Diferencia-se de Marx no tratamento analítico das classes sociais: Para Marx, se opunham basicamente duas classes básicas -os proprietários dos meios de produção (os capitalistas) e os proprietários da força de trabalho (trabalhadores), o que constituía, na sua sociologia, uma classificação objetiva da estratificação no capitalismo, sustentada pela relação renda/lucro e salários, posse/ não posse de meios de produção. Assim, donos de terra e empresários, e os trabalhadores conformavam o modelo de estratificação social.” (VILELA, 2006. P. 85)
“Portanto, para Weber, o entendimento de "situação de classe" é coerente com sua lógica de explicação dos sujeitos agindo e interagindo na sociedade, não apenas em processo de produção e reprodução de sua vida material. Classe é tomada por ele como um "conjunto de probabilidades típicas: provisão de bens - posição externa e sentido pessoal na organização social. A sua classificação das classes tem três categorias: classe proprietária, classe lucrativa e classe social. Neste sentido, ao usar classe social, já não o faz no mesmo teor da teoria marxiana. Situação de classe (no sentido econômico aceitando a classificação marxiana) e classe social, indicam, para Weber, situações típicas de condições de existência de sujeitos sociais, que se encontram juntamente com muitos outros iguais ou semelhantes.” (VILELA, 2006. P. 86)
Teoria social, conduta científica e papel da ciência
“Para Weber, as conclusões oferecidas pelas ciências são parciais e não globais; comportam um caráter de probabilidade e não de determinação necessária. Sua teoria social exclui a possibilidade de que um elemento da realidade seja considerado como determinante dos outros aspectos da realidade, sem ser também influenciado por eles. Neste aspecto, demonstra como se distancia do materialismo histórico.
Nessa rejeição da determinação do conjunto da sociedade por um só elemento, rejeita também a possibilidade de que o conjunto da sociedade futura seja determinado a partir de certas características da sociedade presente. Analítica e parcial (essa a grande diferença com a teoria marxiana), a teoria social weberiana não permite prever como seria a sociedade capitalista do futuro.” (VILELA, 2006. P. 87)
“Definindo a sociologia como a ciência que procura com­preender a ação social, que deve entender o sentido que o ator dá à sua ação, a "ciência weberiana" pode ser caracterizada pelo esforço que empreendeu para elucidar e explicar os valores aos quais os homens aderiam, e as obras (instituições) que construíram (sociologia compreensiva).” (VILELA, 2006. P. 88)
“Assim, o cientista social deve se preocupar com a análise das especificidades das infinitas relações que se dão nos grupos sociais estabelecidos e hierarquizados; deve entender e aceitar que a sociologia procura e demonstra causalidades, não determinações, que ela constrói conceitos-tipo que podem lhe mostrar como o real acontece e deve empenhar-se para "encontrar as regras gerais do acontecer" (WEBER, SWV, p. 251).” (VILELA, 2006. P. 88)
“Dessa perspectiva desdobram-se algumas regras que devem orientar a conduta científica: considerar, primeiramente, que a ciência, no estágio atual na sociedade (nunca foi assim antes -falando de sua época) é resultado do estágio de racionalização da atividade social (a ciência é positiva e racional); nenhuma ciência poderá dizer aos homens como devem viver ou ensinar à sociedade como deve se organizar (diverge de Durkheim); nenhuma ciência poderá indicar à humanidade qual será o seu futuro, pois este não pode ser predeterminado. O homem terá sempre a liberdade de recusar o determinismo de condições específicas ou particulares, assim como a possibilidade de se adaptar a ele de diferentes maneiras (distancia de Marx).
Do ponto de vista metodológico, o conhecimento sobre a realidade só pode ser obtido e afirmado em termos de chances, de probabilidades. Todo conhecimento da realidade é apenas probabilístico, toda explicação é relativa e provisória.” (VILELA, 2006. P. 89)
Relação entre o cientista e a pesquisa
“Segundo Weber, as ciências humanas são animadas e orien­tadas por questões dirigidas à realidade social, e, assim, o interesse das respostas depende do interesse das questões. Weber não consi­dera "mau" ou "negativo" que cientistas que estudam determinado fenômeno tenham interesse pessoal por ele - assim, o político pode investigar questões de política e o religioso questões de religião. A orientação metodológica é que deve preservar a imparcialidade. A racionalidade científica resulta do respeito do cientista para com as regras da lógica e para as regras da pesquisa. A essência da Ciência é a sujeição da consciência aos fatos e às provas. A orientação metodológica é que vai preservar a imparcialidade do cientista, o seu distanciamento para ver e tratar o problema cientificamente. Assim, a relação parcialidade x imparcialidade é uma questão de conduta científica.” (VILELA, 2006. P. 89)
Weber e educação: Educação, legitimação e poder
“Weber não produziu uma teoria sociológica da Educação, não considerou, diretamente, a organização social Escola ou a instituição Educação como objeto de análise.” (VILELA, 2006. P. 90)
“O eixo de uma sociologia da educação de Weber está na demonstração de que através dos sistemas escolares (e das práticas
sociais no interior destes sistemas) se desenvolve um pro­cesso peculiar de imposição dos caracteres dos grupos sociais e do poder estabelecido.” (VILELA, 2006. P. 90)
“Esta "sociologia weberiana da educação" está sustentada particularmente nas análises de Weber sobre os mecanismos de fun­cionamento da ordem capitalista e nos estudos sobre a sociologia das religiões. São dois os focos enfatizados: primeiro, o entendimento de Weber de classe social e os mecanismos (as relações sociais) de manutenção ou não deste modelo; segundo, os processos de dominação como eixos estruturantes da vida social.” (VILELA, 2006. P. 90 e 91)
“Como condição de classe, encontramos em Weber o entendimento de que situações de pro­priedade ("ter" - ser proprietário ou não de bens de trabalho em relação ao mercado) definem as condições de existência, separando, portanto, os homens com relação a possibilidades de acessos a bens culturais e materiais não disponíveis igualmente para todos.” (VILELA, 2006. P. 91)
“Nesta perspectiva, os estudos de religião oferecem uma contribuição essencial: sua sociologia da religião é uma sociologia do poder: Weber estuda as religiões analisando seus aparatos de poder e demonstra como a religião exerce um papel social significativo para legitimar os afortunados, os homens dominantes, os proprietários, os sadios, os vitoriosos, os que têm mando temporal estabelecido e legitimado. A religião é um aparato de poder. Como aparato de poder c entendido um estado de coisas pelo qual uma vontade manifesta daquele que está no lugar do dominador influi sobre a ação dos outros, de tal sorte que estes atos têm a propriedade de serem assimilados pelos dominados de tal forma que se apresentam como sendo deles próprios (BAUMGARTEN. In. WINCKELMANN, p.XXXVIII).” (VILELA, 2006. P. 91 e 92)
“Assim, Weber demonstra, em sua obra, a existência de três tipos de educação que correspondem aos três tipos de dominação - a dominação carismática, a dominação legal e a dominação tradicional. Nosso teórico admite, em "Os letrados chineses", que, historicamente, podem ser identificadas duas metas nas finalidades atribuídas pelas instituições educacionais: fomentar o carisma (estimular as qualidades heroicas ou dotes mágicos) ou possibilitar a formação especializada. O objetivo educacional é cultivar o aluno para uma conduta de vida de caráter mundano ou religioso ou criar condições de existência dentro de um grupo de status.” (VILELA, 2006. P. 92)
“- Uma educação carismática: orientada para despertar a capacidade considerada como um dom puramente pessoal. O carisma não se pode ensinar, nem adquirir, não se trata de uma tarefa de formação mas sim de conversão: o aluno tem que negar-se em seu estado atual e tratar de alcançar ou recuperar sua autên­tica personalidade. Como exemplos, a educação típica dos guerreiros e dos sacerdotes, na modernidade analisada por Weber a versão mais pura do pensamento essencialista clássico.
- Uma educação formativa: orientada, sobretudo, para cultivar um determinado modo de vida que admita atitudes e comportamentos particulares. Este modo de vida pode ser muito diverso, pois constitui sempre um conjunto articulado de atitudes fundadas em um ethos que é, em cada caso característico, ascético, literário, musical ou científico. Assume a finalidade de educar para determinadas atitudes frente à vida (pode até vir acompanhado por um carisma e por um saber ou conhecimento, mas não o exige). Se a educação carismática era a educação dos eleitos do destino, este segundo tipo é próprio de um grupo particular. Esse segundo tipo de sistema educativo constitui a instância reprodutora de uma categoria estamental, isto é, de uma categoria social que define sua posição em termos de conduta de vida, o que se traduz em prestígio.” (VILELA, 2006. P. 92 e 93)
“- Uma educação especializada: está orientada para instruir o aluno em conhecimentos, de saberes concretos, necessários, principalmente para o exercício de papéis sociais específicos das sociedades racionalizadas, como profissionais ou políticos. E, portanto, correspondente à estrutura de dominação legal e está associada ao processo de racionalização e burocratização da sociedade contemporânea (de Weber). Ser o homem culto, das gebildeí Mensch (da categoria anterior) se caracteriza por ter posse de um sistema particular de hábitos, marcas de formação que estão dentro dele, que foram incorporadas na convivência; nesta outra categoria, o especialista (das Fachmann) necessariamente é um produto da ação escolar, da instrução, não da educação no seu sentido de formação. A educação especializada existe para instruir o aluno para que adquira uma utilidade prática com fins profissionais e utilitários na vida social, o seu resultado é o homem instruído (das augebildet Mensch).” (VILELA, 2006. P. 93 e 94)
“O grande mérito das lições de Weber para o entendimento da educação na atualidade, e que tem sido devidamente apropriada na sociologia da educação, pode ser sintetizada em duas amplas dimensões.
De um lado, a abordagem do sistema escolar dentro do processo de racionalidade burocrática, de seus mecanismos de organização e de suas funções práticas, objetivas, do papel que desempenham, para os sujeitos escolarizados e para grupos profissionais, permite, não só o entendimento de seus mecanismos de funcionamento e sua função social na ordem estabelecida, mas permite também o desvelamento da sua ideologia.” (VILELA, 2006. P. 94) 
“Em especial podemos apontar, como possibilidades abertas pela sociologia compreensiva de Weber, para as análises da escola, os seguintes, temas, atualmente caros à sociologia da educação e que se encontram nas diferentes vertentes de tratamento da escola na estrutura social como aparato de dominação cultural e simbólica: estudos dos processos e mecanismos de reprodução social através da reprodução de estruturas escolares (arbitrariedade de formas curriculares e práticas sociais de seus agentes), estudo dos sistemas de educação com sistemas de dominação; valor social dos diferentes tipos de diplomas e de culturas escolares; processos sociais particulares de grupos sociais (ou de camadas sociais) em relação às suas possibilidades e qualidades de educação; reflexões sobre o conhecimento e o saber especializado na ordem social racional da sociedade pós-industrializada e os estudos de desvelamento e crítica da ideologia da escola.” (VILELA, 2006. P. 94) 
Comentários
Em alguns dos pontos que Weber se diferencia de Marx, destaca-se o tratamento analítico das classes sociais. Que Para Marx, seriam duas classes basicamente: os donos dos meios de produção (capitalistas/burgueses) e os que não tinham nada além da força de trabalho (trabalhadores), constituindo na sociologia de Marx uma classificação objetiva da estratificação no capitalismo, que é sustentada pela relação renda/lucro e salários, posse/ não posse de meios de produção. Já para Weber, classe é entendida por ele como um "conjunto de probabilidades típicas: provisão de bens, posição externa e sentido pessoal na organização social. Classifica as classes em três tipos: classe proprietária, classe lucrativa e classe social. Dessa forma, ao falar em classe social, não fala no mesmo teor que Marx. Situação de classe (no sentido econômico aceitando o que Marx classificou) e classe social, para Weber, incidam situações típicas de condições de existência de sujeitos sociais, que se encontram juntamente com outros semelhantes ou iguais.
No sentido da Educação:
Para Weber, existem três tipos de dominação: A dominação carismática, a dominação formativa e a dominação especializada. 
• Educação carismática: orientada para despertar a capacidade considerada como um dom puramente pessoal pode ser uma burocratização, que tende a restringir a liberdade. Tende a se tornar rotina. Dessa maneira, ela corre o risco de perder seu poder criativo, cristalizar-se e se institucionalizar.
• Educação formativa: orientada, para cultivar um determinado modo de vida que admita atitudes e comportamentos
particulares.
• Educação especializada: orientada para instruir o aluno em conhecimentos, de saberes concretos, necessários, principalmente para o exercício de papéis sociais específicos das sociedades racionalizadas, como políticos ou profissionais.
A escola na estrutura social enquanto instrumento de dominação cultural e simbólica, separa aquele dominante do dominado e educando conforme a necessidade que o indivíduo precisa para o grupo ou sociedade em que está inserido.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Mais conteúdos dessa disciplina