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O Fim da História e o Último Homem, por Silvio Almirante.

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ii 
 
Índice 
Resumo ........................................................................................................................................... iii 
Introdução ........................................................................................................................................ 4 
1. O Significado do Fim da História e o Último Homem (Fancis Fukuyama) ................................ 5 
2. O Último Homem ........................................................................................................................ 9 
Conclusão ...................................................................................................................................... 13 
Bibliografia .................................................................................................................................... 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iii 
 
Resumo 
Para entender O Fim da História e o Último Homem em Francis Fukuyama, é preciso voltarmos a 
uma antiga questão levantada por ele, cuja surge quando se questiona a existência de algo como o 
progresso e a possibilidade de construção de uma história universal da humanidade, coerente e 
direccional. Na tentativa de construir uma história universal e direccional deu a génese de dois 
processos históricos colaterais, que ao entender de Fukuyama, uma chama-se ‘ciência natural 
moderna e outra, é a luta pelo reconhecimento, dando origem a democracia capitalista liberal, 
vista como o estádio final do processo histórico, isto é, a democracia liberal poderia constituir o 
ponto terminal da evolução ideológica da humanidade e a forma final do governo humano, 
constituindo assim, o fim da história. 
Palavras-chave: Fim da História, Último Homem, Democracia Liberal, Reconhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
Introdução 
Francis Fukuyama nasceu em Chicago nos Estados Unidos da América, a 27 de Outubro de 1952. 
É filósofo e economista político. A tese sobre O Fim da História foi iniciada por Hegel, 
seguidamente por Marx e depois por Fukuyama. Hegel afirmava que o Fim da História 
aconteceria no momento em que a humanidade atingisse o equilíbrio, representado pela ascensão 
do liberalismo e da igualdade, porém com um prazo indeterminado para ocorrer, enquanto para 
Marx o Fim da História seria a Sociedade Comunista. 
Fukuyama escreve a obra O Fim da História e o Último Homem não como o fim dos 
acontecimentos de nascimento, vida ou morte, mas sim, o fim das guerras e revoluções 
sangrentas, uma vez que, os homens não teriam grandes razões para lutar, pois a actividade 
económica satisfaria as suas necessidades. 
Dentro deste debate, Fukuyama convida dois importantes filósofos como Nietzsche e Kojéve. As 
teses de Nietzsche se encontram sobre o Último Homem, onde afirmava que o cidadão da 
democracia liberal era o último homem. Para Kojéve a história tinha acabado, uma vez que, a 
democracia liberal solucionava totalmente as necessidades humanas. 
O que Fukuyama havia sugerido que terminaria era a história compreendida como um processo 
singular, coerente e evolutivo, tendo em conta a experiencia de todos os povos em todos os 
tempos, ou seja, o progresso. Outrossim, Fukuyama diz que a democracia Ocidental firmou-se 
como solução final do governo humano, gerando uma estagnação jamais vista antes na história do 
mundo. 
Este conteúdo foi elaborado com base na leitura e interpretação da obra ‘O Fim da História e o 
último Homem’ de Francis Fukuyama. Este trabalho segue a seguinte estrutura, resumo, 
introdução, desenvolvimento, conclusão e bibliografia respectivamente. 
 
 
 
5 
 
1. O Significado do Fim da História e o Último Homem (Fancis Fukuyama) 
(Sílvio Almirante1) 
A génese da obra encontra-se escrita num artigo intitulado ‘ o Fim da História? Onde Fukuyama 
escrevera para a revista The National Interest em 1989. Nessa revista, Fukuyama defendia que, 
nos últimos anos, tinha ocorrido por todo o mundo um consenso notável quanto à legitimidade da 
democracia liberal como sistema de governo, à medida que esta triunfava sobre ideologias rivais, 
como a monarquia, o fascismo e comunismo. 
Não obstante que as democracias de hoje, como as dos Estados Unidos da América, da França ou 
da Suíça estivessem livres de injustiças ou graves problemas sociais. Todavia, estes problemas 
eram mais uns produtos de uma incompleta aplicação dos princípios gémeos da liberdade e da 
igualdade, onde a democracia se fundamenta. 
Ao entender de Fukuyama (1992: 13) “a democracia liberal poderia constituir o ponto terminal 
da evolução ideológica da humanidade e a forma final do governo humano, constituindo assim, o 
fim da história”. Ou seja, as anteriores formas de governo eram caracterizadas por graves 
imperfeições e irracionalidades que conduziam ao seu eventual colapso, a democracia liberal 
estava comprovadamente livre dessas contradições internas fundamentais. 
O fim da história suscitou um número extraordinário de comentários e controvérsias, 
primeiramente nos Estados Unidos da América e depois na Inglaterra, na França, na Itália entre 
outros países, mas a crítica surgiu de várias formas concebíveis, algumas delas fruto de uma 
simples incompreensão da intenção original de Fukuyama, outras captando mais profundamente 
o pensamento da sua argumentação. Muitas pessoas ficaram confusas com o seu uso da palavra 
‘historia’. Entendendo a história no seu sentido convencional como ocorrência de 
acontecimentos, as pessoas apontavam a queda do Muro do Berlim, a repressão Comunista 
Chinesa como provas de que a ‘história continuava’ e que Fukuyama estava totalmente errado. 
Segundo Fukuyama “aquilo que ele havia sugerido que terminaria 
não era a ocorrência de acontecimentos, mesmo de acontecimentos 
maiores e momentosos, mas a história; a história compreendida 
 
1 Estudante do curso de Licenciatura em ensino de Filosofia com Habilitações em História, na Universidade 
Pedagógica, delegação de Nampula, 3o Ano, 2014. 
6 
 
como um processo singular, coerente e evolutivo, tendo em conta a 
experiência de todos os povos em todos os tempos” (Idem: 14) 
Esta compreensão da história estava intimamente associada com o grande filósofo alemão Hegel. 
Ela tornou-se parte da nossa atmosfera intelectual quotidiana com Karl Marx, que tomou de 
empréstimo este conceito de história a Hegel e está implícita na utilização que fazemos de 
palavras como primitivo ou ‘avançado’, ‘tradicional’, ou ‘moderno’, quando nos referimos a 
diferentes tipos de sociedades humanas. 
Para os dois pensadores houve um desenvolvimento coerente das sociedades humanas, desde as 
sociedades tribais simples, baseadas na escravatura e na agricultura de subsistência, passando 
pelas várias teocracias, monarquias e aristocracias feudais, ate à moderna democracia liberal e ao 
capitalismo dirigido nas tecnologias. Esse processo evolutivo não aleatório nem inteligível, 
mesmo que não se tenha desenvolvido numa linha recta e que seja possível questionar se o 
homem como resultado do progresso histórico, seria mais feliz ou melhor. 
Tanto Hegel como Marx acreditavam que a evolução das sociedades humanas não era ilimitada, 
mas que terminaria quando a humanidade conseguisse atingir uma forma de sociedade que 
satisfizesse as suas profundas aspirações fundamentais. 
Os dois pensadores postulavam um ‘fim da historia’: para Hegel era 
o estado liberal, enquanto para Marx era uma sociedade comunista. 
Isto não significava que o ciclo natural do nascimento, vida ou morte 
acabasse, que deixassem de ocorrer acontecimentos importantesou 
que os jornais que os noticiavam deixassem de ser publicados. Mas 
sim, significava que não haveria progresso no desenvolvimento dos 
princípios e instituições fundamentais, porque todas as questões 
verdadeiramente importantes tinham sido resolvido (FUKUYAMA, 
1992: 14). 
É importante frisar que, o conteúdo da obra regressa a uma questão muito antiga levantada por 
Fukuyama: ‘se no final do século XX, faz sentindo para nós falar, mais uma vez, de uma história 
da humanidade, coerente e direccionada, que eventualmente conduzirá a maior parte da 
humanidade para a democracia liberal? A resposta de Fukuyama é afirmativa, sustentando-se por 
duas razões distintas. Uma tem a ver com a economia e outra com aquilo que se denominou ‘luta 
pelo reconhecimento’. 
Fukuyama apresenta duas tentativas distintas para a esquematização de uma história universal. 
Em primeiro lugar, Fukuyama estabelece a necessidade de relançar a possibilidade de uma 
7 
 
história universal. Em segundo lugar, propõe uma resposta primeira, tentando utilizar a ciência 
natural moderna como um regulador ou mecanismo para explicar a direccionalidade e a 
coerência da história. Portanto, é a única actividade social importante, embora é um tempo 
cumulativo e direccional, mesmo que o seu impacto final sobre a felicidade humana seja 
ambíguo. 
O desenvolvimento da ciência natural moderna produziu um efeito uniforme em todas as 
sociedades que o experimentaram por duas razões. Em primeiro lugar, a tecnologia confere 
vantagens militares decisivas aos países que a possuem, dada a continua possibilidade de guerra 
no sistema internacional de Estados. Nenhum estado que preze a sua independência pode ignorar 
a necessidade de modernização defensiva. Em segundo lugar, a ciência natural moderna 
estabelece um horizonte uniforme da possibilidade de uma produção económica. A tecnologia 
torna possível a acumulação ilimitada de riqueza e a satisfação de um conjunto cada vez maior 
de aspiração humanas. 
Este processo garante uma homogeneização cada vez maior de todas as sociedades humanas, 
quaisquer que sejam as suas origens históricas ou heranças culturais. Na percepção de Fukuyama 
(1992: 16) “todos os países em fase de modernização económica têm de conseguir as formas 
tradicionais de organização social, como a tribo, a seita e a família, por formas 
economicamente racionais, baseadas nas funcionalidades e na eficiência, e promover a 
educação universal dos seus cidadãos”. 
A democracia liberal substituiu o desejo irracional de se ser reconhecido como alguém maior que 
os outros pelo desejo racional de se ser reconhecido como um igual. Portanto, um mundo de 
democracias liberais deveria constituir um incentivo muito menor para a guerra, uma vez que, 
todas as nações reconheceriam reciprocamente as respectivas legitimidades. 
De acordo com Hegel, o desejo de ser reconhecido como um ser humano digno conduziu o 
homem, no início da história, a uma sangrenta batalha mortal pelo prestígio. Um entendimento 
da importância do desejo de reconhecimento como motor da história, permitindo-nos 
reinterpretar muitos fenómenos que nos são aparentemente familiares, como a cultura, a religião, 
o trabalho, o nacionalismo e a guerra. 
8 
 
Para que a democracia funcione é preciso que os cidadãos desenvolvam um orgulho irracional 
nas suas instituições democráticas, desenvolvendo igualmente aquilo que Tocquiville chamou 
‘arte de associação’, que assenta numa ligação forte a pequenas comunidades. Portanto, estas 
comunidades baseiam-se frequentemente na religião, na etnia ou em outras formas de 
reconhecimento que ficam aquém do reconhecimento universal em que assenta o Estado liberal. 
No século Alexandre Kojéve, o grande intérprete de Hegel, defendeu que a história tinha 
acabado, uma vez que, aquilo a que ele chamava o estado universal e homogéneo, o que 
podemos entender por democracia liberal solucionava definitivamente a questão do 
reconhecimento ao substituir a relação de domínio e escravidão pelo reconhecimento universal e 
paritário. 
Será que o reconhecimento acessível aos cidadãos das democracias contemporâneas totalmente é 
satisfatório? O futuro à longo prazo da democracia liberal e as alternativas que possam um dia 
surgir dependem da resposta à questão acima. O reconhecimento universal da democracia liberal 
é necessariamente incompleto, portanto, o capitalismo gera a desigualdade económica e exige 
uma divisão de trabalho que implica um reconhecimento desigual. Nesta perspectiva, o nível de 
propriedade absoluta de uma nação não é solução, pois continuarão a existir os pobres, por isso, 
são invisíveis como seres humanos para os seus concidadãos. 
Nietzsche acreditava que a democracia moderna não representava o autodomínio dos antigos 
escravos, mas sim, a vitória incondicional do escravo e de um tipo de moralidade própria da 
escravidão. 
Segundo Nietzsche apud Fukuyama (1992: 23) “o cidadão típico de uma democracia liberal era 
o ‘último homem’, cujo instruído pelos fundadores do liberalismo moderno, trocou a crença 
orgulhosa na superioridade do seu próprio valor por um auto preservação comodista”. 
Portanto, a democracia liberal produziu ‘homens se coluna vertebral’; compostos de desejos e 
razão, mas sem ânimo, suficientemente espertos para encontrarem novos processos de 
satisfazerem uma série de aspirações, através da avaliação dos seus próprios interesses ao longo 
prazo. O último homem não deseja ser reconhecido como superior aos outros e, sem esse desejo, 
nenhuma excelência ou realização era possível. Contente com a sua felicidade e incapaz de sentir 
9 
 
qualquer espécie de vergonha por não conseguir elevar-se a aspiração além de imediatas, o 
último homem deixou de existir de ser humano. 
2. O Último Homem 
Há discussão sobre a possibilidade de se escrever uma história universal, a questão de apurar se 
as transformações de uma história direccional significavam progresso. No entanto, a história nos 
conduz para uma democracia liberal. As democracias liberais estão sem dúvida ameaçadas por 
uma série de problemas, como desemprego, as drogas, o crime e ouros, porém além destas 
preocupações imediatas, resta saber se existe outras fontes mais profundas de insatisfação no 
interior da democracia liberal. Portanto, se não distingamos tais contradições, estaremos em 
oposição de afirmar com Hegel e Kojéve que chegamos ao fim da história. 
A pretensão de Kojéve de que a humanidade chegou ao fim da história, assenta na sua tese de 
que o desejo de reconhecimento é fundamental anseio humano. Para ele, a luta pelo 
reconhecimento foi o fio condutor da história desde a primeira batalha sangrenta; a história 
terminou porque o estado universal e homogéneo, a materializar o reconhecimento recíproco, 
satisfaz plenamente este anseio. 
O problema do fim da história resume-se a uma questão sobre o futuro do ânimo: se a 
democracia liberal satisfaz adequadamente o desejo pelo reconhecimento, como diz Kojéve, ou 
se esse desejo continuará por se realizar e, capaz de vir a manifestar-se de uma forma diferente. 
Na tentativa de construir uma história universal originou dois processos históricos paralelos: um 
guiado pela ciência natural moderna e pela lógica do desejo e o outro pela luta do 
reconhecimento. O reconhecimento recíproco que caracteriza o estado homogéneo e universal 
não consegue satisfazer muita gente, porque segundo Adam Smith apud Fukuyama (1992: 290) 
“o homem rico continuara a glorificar-se com as suas riquezas, enquanto o homem pobre 
continuará a sentir-se envergonhado da sua pobreza a sentir-se invisível”. 
Ambos terminaram convenientemente no mesmo ponto de chegada, a democracia capitalista 
liberal.Mas, será que o desejo e o ânimo podem ser satisfeitos suficientemente pelas mesmas 
instituições sociais e políticas? Não poderá acontecer que satisfaz o desejo não satisfaça o ânimo 
10 
 
e vice-versa? De tal maneira que nenhuma sociedade humana agrade ao, homem enquanto 
homem? 
A possibilidade de a sociedade liberal não tipificar a satisfação simultânea do desejo e do ânimo, 
é colocada pelos críticos do liberalismo, tanto de esquerda como da direita. A crítica da esquerda 
sustenta que a promessa do reconhecimento universal e recíproco continua por cumprir as 
sociedades liberais pelas razões acabadas de indicar: a desigualdade económica originada pelo 
capitalismo implica ‘por si mesmo’ reconhecimento desigual. A crítica da direita insiste em que 
o problema da sociedade liberal não tem a ver com uma inadequada universalização do 
reconhecimento igualitário. Esse objectivo é problemático porque os seres humanos são 
intrinsecamente ‘desiguais’, tratá-los como iguais não é afirmar, mas antes negar, a sua 
humanidade. 
Apesar da acusação mais familiar contra a democracia liberal ser a de que procede ao 
reconhecimento desigual de pessoas iguais, há razão para se pensar que a maior e mais seria 
ameaça vem da direita, isto é, da tendência da democracia liberal para conferir reconhecimento 
igual a pessoas desiguais. 
O último homem de Nietzsche não era outro senão o escravo 
vitorioso. Ele estava completamente de acordo com Hegel quanto o 
cristianismo ser uma ideologia de escravidão e a democracia 
representar uma forma secularizada do cristianismo. A igualdade de 
todos perante a lei constituía a realização do ideal cristão da 
igualdade de todos os crentes no Reino dos Céus. Portanto, segundo 
Nietzsche o último homem deixou as regiões onde era difícil viver, 
porque o homem necessita de calor (NIETZSCHE apud 
FUKUYAMA, 1992: 296). 
Torna-se difícil para as pessoas das sociedades modernas articular em público questões com um 
conteúdo moral sério. O moralismo exige uma distinção entre o melhor e o pior, o bem e o mal. 
É por essa razão que o último homem se preocupa com a sua ‘saúde e segurança pessoal’, por 
estas não constituírem motivos de controvérsias. 
Ao colocar a autopreservação acima de todas as coisas, o último homem assemelha-se ao servo 
da batalha sangrenta de Hegel que deu início à história. Todavia, a situação que o último homem 
se encontra (a de luta pela saúde e segurança pessoal) tornou-se ainda pior, como resultado de 
um completo processo histórico que decorreu desde essa altura, uma complexa e cumulativa 
evolução da sociedade humana em direcção à democracia. Segundo Nietzsche, uma coisa que 
11 
 
viva não pode ser saudável, forte ou produtiva se não viver dentro de um certo horizonte, isto é, 
um quadro de valores e crenças aceite absoluta e incontroversamente. 
A educação moderna, essa educação universal e essencial para as sociedades para o mundo 
moderno económico, liberta os homens das suas amarras à tradição e à autoridade. Eles sabem 
que o seu horizonte é apenas isso, não a terra firme, mas uma viragem que desaparece com a 
aproximação, dando lugar a um outro horizonte. É por isso que o homem moderno é o ‘último 
homem’, exausto pela experiência da história e desenganado quanto à possibilidade de uma 
experiência directa de valores. 
O último homem, no fim da história sabe não o fará, pois tem consciência de que a história está 
cheia de batalhas inúteis, em que homens lutaram por serem cristãos ou muçulmanos, protestante 
ou católicos. A história subsequente provou que as lealdades que impeliram os homens para 
actos desesperados de coragem e sacrifício, não passaram de todos de preconceitos. Os homens 
com educação moderna realizaram-se ficando em casa, congratulando-se pela sua tolerância e 
ausência de fanatismo. 
Alexandre Kojéve partilhava a opinião de Tocquiville sobre a inevitabilidade da democracia 
moderna. Se o homem é caracterizado pelo desejo de lutar pelo reconhecimento e perlo seu 
trabalho para dominar a natureza e se, no fim da história ele obtém o reconhecimento da sua 
humanidade e a abundância material, ‘o homem propriamente dito’ deixará de existir, porque 
terá deixado de trabalhar e lutar. O desaparecimento do homem no fim da história não é uma 
catástrofe cósmica. O que desaparece é o homem propriamente dito, isto é, acção negando o 
dado, o sujeito opondo-se ao objecto. 
“O fim da história traduz-se no fim das guerras e revoluções sangrentas. Os homens de acordo 
aos objectivos não teriam grandes razões para lutar. A actividade económica satisfaria as suas 
necessidades, pelo que já não teriam de arriscar a vida em batalhas” (FUKUYAMA, 1992: 300). 
As reflexões psicológicas de Nietzsche são familiares às nós, porque ele fala-nos do desejo de 
reconhecimento. Pode-se dizer que a preocupação central de Nietzsche é o futuro do ânimo, que 
considerava ameaçada pelo sentido histórico do homem e pelo alastramento da democracia. 
Quando o Zaratustra de Nietzsche falava à multidão sobre o último homem, ergue-se um clamor: 
12 
 
Dá-nos este último homem, ó Zaratustra! Transforma-nos nesses 
últimos homens! A vida do último homem é uma vida de segurança 
física e de abundância material, exactamente aquilo que os políticos 
gostam de prometer aos seus eleitores (NIETZSCHE apud 
FUKUYAMA, 1992: 301). 
 
O declínio da vida comunitária sugere que no futuro, corremos o risco de nos transformar em 
últimos homens, seguros e absorvidos, desprovidos de espírito tímido para atingir objectivos 
mais elevados na nossa busca de conforto privado. É possível que, se os acontecimentos 
continuarem a desenrolar como nas últimas décadas, a ideia de uma história direccional e 
universal rumo à democracia liberal possa ser mais aplaudível para as pessoas e que o impasse 
relativista do pensamento moderno se resolva. 
Para Alexandre Kojéve apud Fukuyama (1992: 301) “o fim da história significava igualmente o 
fim da arte e da Filosofia, pois elas são actividades da sua própria vida”. No entanto, Kojéve 
acreditava que a história acabaria por se vingar da sua própria racionalidade. Ou seja, chegaria ao 
fim da viagem tantas carruagens que qualquer pessoa que observasse a chegada, seria forçada a 
admitir ter havido uma só viagem e um só destino. 
O Estado liberal deve ser universal, isto é, reconhecer todos os cidadãos por serem seres 
humanos e não membros de um determinado grupo nacional, ético ou racial. E deve também ser 
homogéneo na medida em que cria uma sociedade sem classes assente na abolição da distinção 
entre senhores e escravos. O Estado homogéneo e universal que surge no fim da história pode ser 
visto como assentado nos pilares da economia e do reconhecimento. 
O Estado que emerge no fim da história é liberal na medida em que reconhece e protege, através 
de um sistema jurídico, o direito universal do homem à liberdade e é democrático na medida em 
que somente existe com o consentimento dos governadores. 
 
 
 
 
13 
 
 
 
Conclusão 
Com a destruição do fascismo e do socialismo, a humanidade teria atingido o ponto culminante 
da sua evolução com o triunfo da democracia liberal Ocidental, porque o capitalismo e a 
democracia burguesa constituíam o coroamento da história da humanidade. A história conduz-
nos a uma democracia liberal, mas a mesma encontra-se muito ameaçada por várias dificuldades, 
como por exemplo, o crime, a luta pelo poder, o desemprego e entre outras. No entanto, caso não 
superarmos essas dificuldades, corremos o risco de chegarmos ao fim da história enunciada pelos 
filósofos, mas se ultrapassarmos tais dificuldades, podemos afirmar claramente que a história vai 
continuar. 
Neste trabalho,fala-se do Último Homem como aquele que luta pela preservação de si próprio e 
de seus interesses, e guiado pela força do desejo, do ânimo e pelo reconhecimento. Na sociedade 
moderna exige-se um moralismo na distinção entre o melhor e o pior, o bem e o mal, gerando 
assim, um Último Homem movido pela saúde e segurança individual, por essas não ser motivos 
de desavenças. 
Não obstante que, a democracia liberal seja acusada pelo reconhecimento desigual de pessoas 
iguais, mas isto constitui uma ameaça da própria democracia liberal por conferir reconhecimento 
igual a pessoas desiguais. A democracia liberal aconselha na distribuição económica e no 
reconhecimento do outro enquanto homem. 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
Bibliografia 
FUKUYAMA, Francis. O Fim da História e o Último Homem. Brasil: Gradiva, 1992.

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