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Apostila Filosofia

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FILOSOFIA 
 
 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte / 2015
 Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 2| P á g i n a 
 
ESTRUTURA FORMAL DA UNIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÃNCIA 
 
REITOR 
JOÃO PAULO BARROS BELDI 
 
VICE-REITORA 
JULIANA SALVADOR FERREIRA DE MELLO 
 
DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 
EDUARDO PENNA DE SÁ 
 
EQUIPE DE PRODUÇÃO 
ANTÔNIO HENRIQUE RIBEIRO DALBEM 
LUCIANA REGINA VIEIRA 
 
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA 
MARIA LUIZA QUEIROZ BRAGA 
REGINA MARCIA DE JESUS PAREDES 
 
AUXILIAR ADMINISTRATIVO 
MARILIA APARECIDA OLIVEIRA BICALHO 
 
REVISORA DE TEXTO 
MARIA DE LOURDES SOARES MONTEIRO RAMALHO 
 
SECRETARIA ACADÊMICA VIRTUAL 
LUANA DOS SANTOS ROSSI 
MARIA LUIZA AYRES 
 
ATENDIMENTO AO ALUNO 
 
POLO CARLOS LUZ 800 – BELO HORIZONTE 
MIRIÃ NERES PEREIRA 
FLÁVIA CRISTINA DE MORAIS 
JAQUELINE MARA DE VARGAS 
MARCIA DE SOUZA PARREIRAS MOREIRA 
 
 
 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 3| P á g i n a 
 
 
 
Sumário 
 
 
Unidade 1: Introdução à Filosofia 7 
Unidade 2: Filosofia Antiga 29 
Unidade 3: Filosofia Cristã na Idade Média 49 
Unidade 4: A Filosofia Moderna 62 
Unidade 5: A Filosofia Contemporânea 83 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 4| P á g i n a 
 
 
Ícones 
 
Comentários 
 
Reflexão 
 
Dica 
 
Lembrete 
 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 5| P á g i n a 
 
 
Nosso Tema 
 
Você chegou até aqui. Já estudou diversas disciplinas ao longo de sua jornada acadêmica. Já 
investigou diversas ciências. Aprofundou com interesse alguns temas durantes sua vida de aluno,, 
outros, nem tanto. Você ultrapassou limites do seu conhecimento anterior, o senso comum e 
percebeu que o conhecimento é uma obra aberta. Você se aplicou e descobriu que a vida é uma 
construção constante. 
 
Ora, a Filosofia também é como cada um de nós. Aprendeu com o passar do tempo. Aperfeiçoou seu 
método de conhecimento. Ampliou tanto seu interesse pela vida humana que hoje é uma atividade de 
vastidão incomensurável. A Filosofia, atualmente, é tão ampla como o horizonte do ser humano no 
mundo globalizado. A Filosofia é como a vida e o vinho: tendem a melhorar com o passar dos anos. 
 
Você está prestes a abrir diante de si algumas páginas da história da Filosofia. Você vai encontrar 
pensadores ávidos por compreender a vida em seus vários aspectos. Como cada filósofo é resultado 
de sua sociedade e de seu tempo histórico, convidamos você a interagir com muitos deles para 
aprofundar mais ainda a sua própria vida. 
 
Nosso objetivo é levá-lo, de mãos dadas com os filósofos de várias épocas, a fazer da Filosofia uma 
atividade constante. Uma atividade na sua vida. Os problemas filosóficos são expressão das 
inquietações humanas. E todos nós temos necessidade de respostas para nossos questionamentos. 
Sinta-se à vontade para descobrir respostas e criar novas perguntas. 
 
A motivação dos filósofos é a busca por explicações para si mesmo, para as realidades do mundo. 
Nessa viagem intelectual, teórica, conceitual, formal, metódica, rigorosa, radical e de conjunto, surge 
a alegria diante da descoberta dos limites do próprio pensamento e da razão. Diante de teorias 
explicativas, novos questionamentos. Como a vida, a Filosofia é uma obra em constante construção. 
A Filosofia é uma obra aberta. 
 
Sinta-se à vontade para usar e abusar da sua curiosidade. Investigue nos filósofos os seus 
argumentos. Passe pela história da Filosofia como quem recolhe ensinamentos que iluminam a 
experiência da vida. As pérolas espalhadas no caminho longo da Filosofia estão à disposição de 
você, a partir de agora. 
 
Venha escrever mais um capítulo da Filosofia. Junte sua vontade de conhecer e dialogue criticamente 
com os pensadores que iremos lhe apresentar. A Filosofia, assim, é uma atividade constante. A 
Filosofia vai se revelar, então, como uma obra aberta. Seja bem-vindo ao mundo novo das ideias e da 
razão. 
 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 6| P á g i n a 
 
 
 
Para Refletir 
 
 
Uma boa pergunta merece uma boa resposta. Um bom pensamento estimula e amplia o 
conhecimento. Uma teoria bem formulada proporciona satisfação à razão. Por isso, a Filosofia tem 
boas perguntas (questionamentos) para alcançar respostas interessantes (investigação). A Filosofia 
pensa rigorosamente (método) para superar o conhecimento anterior (senso comum). A Filosofia 
formula teorias sobre o conhecimento (epistemologia) para aumentar seu poder de análise (razão 
explicativa). A Filosofia procura explicar como podemos, inclusive, pensar (metafísica). 
 
Como todos nós, a Filosofia nasceu um dia. O tempo de seu nascimento, os seus fundadores 
deixaram marcas em nós, como nossos pais. Vamos percorrer, nesta primeira unidade, os primeiros 
registros filosóficos. Vamos procurar a gênese da Filosofia, estimulados pela descoberta sobre o que 
pensavam os primeiros filósofos na Grécia Clássica. 
 
Ao perguntar sobre o nosso nome, outras pessoas querem saber quem somos. Querem informações 
sobre o que pensamos. As pessoas são sempre curiosas para identificarem quem somos nós. Nesta 
unidade, vamos responder: 
 
 
 
 
Vamos estimulá-lo a investigar as formas do conhecimento e a questionar o senso comum, ou seja, a 
nossa cosmovisão. O nosso jeito de ver o mundo, a nós mesmos e os outros se altera quando 
descobrimos que podemos ir mais além. A realidade da vida (cosmovisão) é um convite para 
aprofundarmos nossos pontos de vistas. 
 
Será que pensamos bem? 
Será que somos o que pensamos? 
Somos felizes pensando sempre da mesma forma? 
Há alguma coisa para aprender além do que eu já achava que sabia? 
 
Por fim, vamos refletir sobre os fatores sociais, econômicos e históricos que proporcionaram o 
nascimento da Filosofia. Venha com a gente, então, para o berçário da Filosofia: a Grécia Antiga. 
Para quê, por quê, onde e qual o fundamento da Filosofia. 
 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 7| P á g i n a 
 
 
Unidade 1: Introdução à Filosofia 
 
1. Conteúdo Didático 
 
 
1.1. Atividade filosófica: origem e definição 
 
A complexidade do mundo atual exige de nós uma postura racional diante dos fatos. Somos 
convocados pela realidade a nos posicionar sobre assuntos dos mais variados. Assim, a clonagem de 
seres humanos nos interpela sobre a interferência da ciência na ordem natural das coisas. Os crimes 
hediondos, da pedofilia ao genocídio, questionam nosso ponto de vista diante do poder e da 
violência. As bombas atômicas, as viagens espaciais, o mundo virtual em rede colocam perguntas em 
relação à possibilidade do avanço tecnológico e do novo homem que surge desse cenário. A 
felicidade imediatista, a sociedade de consumo, o neoliberalismo nos faz questionar sobre nosso 
modo de vida. 
 
 Será ele o melhor para a sustentabilidade do planeta? 
 Poderemos viver diante do medo do fim do mundo? Como se posicionar diante das religiões, da fé, da crença em um ente supremo, 
dos santos, dos anjos, dos deuses? 
 É possível ser feliz? 
 
Como podemos observar, os questionamentos humanos diante da existência são vários. É nesse 
sentido que a Filosofia se aproxima da vida. A vida humana é a origem da Filosofia. As respostas 
necessárias para uma vida são muitas. Os objetos de estudo da Filosofia também são muitos. 
 
A investigação filosófica surge da observação e análise dos objetos que compõem o mundo. Ao 
escolher um objeto para investigação, a Filosofia busca conceituá-lo com coerência, descobrindo a 
sua lógica e as causas que o fundamentam. O conhecimento relativo ao objeto de estudo (o poder, a 
felicidade, o homem, a ciência, Deus, etc) é uma busca pelos princípios que regem esse objeto. 
 
Assim, a origem da Filosofia está ligada à busca pela verdade última das coisas. É preciso esclarecer, 
a priori, que a verdade é, na contemporaneidade, um conceito colocado em xeque. Não há a verdade 
absoluta. Há verdades que precisam ser negociadas, discutidas, questionadas e relativizadas. A 
verdade vai depender, a fortiori, do sujeito que conhece. 
 
Isso fica bem claro na opinião de Karl Jaspers quando afirma que “a filosofia entrevê os critérios 
últimos, a abóbada celeste das possibilidades e procura, à luz do aparentemente impossível, a via 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 8| P á g i n a 
 
 
pela qual o homem poderá enobrecer-se em sua existência empírica1". Importa ressaltar que o 
homem é um inventor de verdades e que elas são mutáveis, se alteram com o passar do tempo e das 
experiências humanas. 
 
Se a Filosofia nasce da incrível capacidade humana de fazer perguntas (os animais não perguntam, 
por isso não conhecem!) e de criar verdades, precisamos, então, definir, de imediato, o que é 
Filosofia. 
 
a) A palavra Filosofia (Φιλοσοφία) nasceu na Grécia. Compõe de duas palavras: philo + sophia. Philia 
é a raiz de philo e quer dizer amizade, amor, respeito; sophia é a palavra grega para sabedoria. 
Assim, a Filosofia é amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo conhecimento. Importante ressaltar 
que a origem da palavra nos remete ao objeto principal dessa atividade humana: o prazer atribuído 
ao conhecimento verdadeiro que pode ser, também, um autoconhecimento. 
 
 
 
 
Fonte: Figura 1. Mapa da Grécia Antiga. As cidades mais importantes serão os sobrenomes do principais filósofos. 
 
b) Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (c. séc.V a.C) a invenção da palavra filosofia. 
Pitágoras foi um filósofo e matemático grego que nasceu em Samos entre cerca de 570 a.C e 571 a.C 
e morreu em Metaponto entre cerca de 496 a.C ou 497 a.C. Para ele, a sabedoria plena, em 
absoluto, é um atributo dos deuses. Cabe aos homens o desejo e amor pela sabedoria que lhes pode 
ser dada como atividade respeitosa ao saber. 
 
1 JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1965, p.138. 
 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 9| P á g i n a 
 
 
 
Fonte: Figura 2. Pitágoras, pormenor de A escola de Atenas de Raffaello Sanzio (1509). Disponível em: < 
http://www.dm.ufscar.br/hp/hp0/fhp0f.jpg>. Acesso em: 01/04/2010 
 
 
c) Aristóteles (384-322 a.C), filósofo grego da Antiguidade, afirma que a Filosofia nasce do assombro, 
do espanto, da admiração (em grego, pathos) diante das questões da vida: “os homens, no início 
como agora, encontram no assombro o motivo para filosofar, porque no início eles se maravilhavam 
diante dos fenômenos mais simples, dos quais não podiam dar-se conta, e depois, paulatinamente, 
se encontraram diante de problemas mais complexos, como as condições da Lua e do Sol, e as 
estrelas, e a origem do Universo. Quem se encontra em um estado de incerteza e de assombro 
acredita ser ignorante2”. 
 
Fonte: Figura 3. Busto de Aristóteles no Museu do Louvre. Disponível em: 
http://www.fotodicas.com/imagens/img_wiki/240px-Aristoteles_Louvre.jpg. Acesso em: 01/04/2010
 
2 ARISTÓTELES. Metafísica. In: NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia. São Paulo: Globo, 2005, p. 85. 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 10| P á g i n a 
 
 
 
d) René Descartes (1596 -1650), filósofo da Modernidade, esclarece que a admiração é a primeira de 
todas as paixões. É da capacidade de admirar-se diante do inexplicável que surge a resposta da 
razão como uma explicação. Para ele “quando se nos depara algum objeto insólito, que julgamos 
novo ou diferente do que conhecíamos antes ou supúnhamos que fosse, admiramos esse objeto e 
ficamos surpresos; e como isso ocorre antes que saibamos se o objeto nos será útil ou não útil, a 
admiração me parece a primeira de todas as paixões; e não tem oposto porque, se o objeto que se 
apresenta não tem em si nada que nos surpreenda, não somos afetados por ele e o consideramos 
sem paixão3”. 
 
Fonte: Figura 4. René Descartes em pintura de Frans Hals. Disponível em: 
http://www.amoeba.com/dynamic-images/blog/Charles/rene-descartes.jpg>. Acesso em: 01/04/2010 
 
 
Portanto, você já deve ter percebido que a Filosofia é uma atividade prazerosa da vida. Filosofamos 
quando, admirados pela vida, diante dos problemas que a vida nos oferece, conseguimos usar o 
raciocínio, a lógica, o senso crítico para dar respostas consistentes e bem fundamentadas para essas 
questões. 
 
Por isso, podemos concluir que a Filosofia é a reflexão radical, rigorosa e 
de conjunto acerca dos problemas da existência/vida e que nos causam 
admiração. Radical, porque é reflexão profunda em busca da essência das 
coisas. Rigorosa, pois trata de reflexão que se procede com rigor, com 
método. De conjunto, porque o problema não deve ser analisado 
isoladamente do contexto que o cerca. 
 
Depois que você conheceu um pouco sobre a origem da Filosofia e as suas primeiras definições, 
podemos ampliar nossa discussão, apresentando um questionamento sobre a utilidade da Filosofia. 
 
3 DESCARTES, René. As paixões da alma. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007, 
p. 18. 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 11| P á g i n a 
 
 
 
 O que você acha: a Filosofia é útil para quê? 
 
 
Fonte: Figura 5. A Filosofia está no nosso dia-a-dia. Disponível em 
http://www.gentedeopiniao.com.br/fotos/image/sarneyFILOSOFIA.jpg 
 
 
Nessa charge, vemos Sócrates, à esquerda, juntamente com Lula e o presidente do Senado, José 
Sarney. Numa cena futurista, o chargista destaca as frases que ficarão para a posteridade. Uma 
menção clara à crise do Senado brasileiro. 
 
 
1.2. Filosofia para quê? 
 
Se você é um utilitarista vai se decepcionar com a Filosofia. Ela não busca ser útil. É que a utilidade 
indica uma atitude não-filosófica. Não usamos Filosofia para resolver cálculos matemáticos, não 
usamos a Filosofia para solucionar problemas da Física, nem tampouco usaremos a Filosofia para 
solucionar crises da economia. 
 
Se você é daqueles que acreditam que ser um filósofo é estar alienado do mundo,você também vai 
se decepcionar. A Filosofia não aliena ninguém, não enlouquece, não distancia nenhum aluno da 
realidade. A Filosofia não é obra de um ser aéreo, distante do mundo, das coisas, da realidade. 
 
Se você é dogmático também não vai entender a Filosofia. O dogmático acredita em verdades 
prontas. A verdade é inquestionável. O dogmático prefere a verdade estabelecida do que enfrentar o 
questionamento sobre seu ponto de vista. 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 12| P á g i n a 
 
 
 
Se você tem preconceitos também vai passar longe do objeto da Filosofia. O preconceito distancia 
qualquer um da busca filosófica que é o esclarecimento da razão. O preconceituoso também é 
dogmático. Não porque acredita numa verdade superior e imutável. O preconceituoso é alguém que 
paralisou sua capacidade de ir além através do pensamento. Assim, fecha-se no senso comum. O 
preconceituoso não dialoga, impõe seu ponto de vista pela incapacidade de aprofundar suas 
opiniões. Ele tem medo da fragilidade de seu ponto de vista. 
 
Então, acho que você já percebeu para que a Filosofia foi criada. Ela 
pretende romper, a fim de questionar sempre o utilitarismo, a alienação, o 
dogmatismo e os preconceitos. 
 
Aqui podemos dar um exemplo para clarear a serventia da Filosofia: 
 
Imagine as verdades necessárias para um cientista criar uma teoria como, 
por exemplo, Albert Einstein, com a sua Teoria da Relatividade. Imagine que 
depois de escrever muito, pesquisar, anotar, criar fatos científicos, Einstein 
se perguntou: qual o sentido de fazer ciência? E mais: o que fiz como 
cientista tornou a humanidade melhor? Quais os preconceitos que minha 
teoria leva em conta para sua formulação? Quais os pontos de partida foram 
necessários para chegar até a última afirmação teórica? Essas questões 
não são científicas, mas sim filosóficas. É a Filosofia fazendo seu papel de 
questionar a utilidade da utilidade, a serventia da serventia. Não há outra 
atividade humana capaz de chegar ao ponto de perguntar sobre o que se 
faz de maneira tão profunda, tão analítica, tão significativa. 
 
O fato da Filosofia não ser útil no mundo prático como uma ferramenta de um carpinteiro, a faca de 
um açougueiro, um cálculo para o físico, não é a negação de sua necessidade. 
 
Mas por que a Filosofia é necessária? 
 
Podemos enumerar alguns argumentos sobre sua necessidade. Vejamos então: 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 13| P á g i n a 
 
 
 
a) A Filosofia é uma atividade de reflexão sobre a realidade: 
 
Enquanto estamos imersos no nosso dia a dia, confusos com a realidade cada vez mais complexa de 
nossas vidas, a Filosofia sugere uma pausa para pensar. Pensar sobre o que estamos fazendo, 
pensar sobre o que estamos pensando, como estamos levando nossas vidas. A reflexão é o 
distanciamento para uma avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se 
destinam (lembra-se das perguntas do Einstein imaginário?). 
 
b) A Filosofia é a possibilidade de transcendência humana: 
 
A vida é uma constante imanência (a situação dada e não escolhida por nós); os problemas 
existenciais, a família, as tradições, os mitos, a religião, a ciência já estavam no mundo quando 
nascemos. Precisamos lidar com eles, assim como nossa vida e as questões que surgem dela. Por 
isso, a transcendência é filosófica. A transcendência é a capacidade humana de distanciamento da 
realidade. Assim, o homem se despe da imanência e passa a ser um sujeito de sua existência, passa 
a ser um ser de projeto, capaz de construir, com liberdade, o seu próprio destino. 
 
c) A Filosofia promove a renovação do pensamento e da ação: 
 
As verdades prontas são questionadas pelo pensamento filosófico. Por isso, a crítica filosófica é a sua 
grande serventia para a humanidade. Ela promove a mobilidade, a alteração, a evolução, a 
transformação do que acreditávamos ser a verdade. Assim, a Filosofia não deixa pedra sobre pedra. 
Denuncia as formas de governo desumanas, demonstrando sua ineficácia, sua ideologia e sua 
parcialidade. Investiga a liberdade humana e aponta os erros da conduta moral. Demonstra as 
falácias do pensamento científico e denuncia os seus preconceitos, a alienação e a ideologia por trás 
do discurso pragmático dos laboratórios e gabinetes. 
 
d) A Filosofia resgata o humanismo através da coragem de pensar livremente: 
 
Immanuel Kant (1724-1804) define a atitude filosófica como a maioridade da humanidade. Para Kant, 
a maioridade é a capacidade de se servir livremente do entendimento sem a orientação de outra 
pessoa. Para ele, a culpa pela menoridade intelectual (o maior mal de todos os tempos!) é culpa 
própria, ou falta de coragem. Kant afirma numa frase latina - sapere aude! - o que é a Filosofia 
enquanto esclarecimento. Tem coragem de servires do seu próprio entendimento. Para Kant, a 
Filosofia esclarece quando desperta a coragem em cada um de se tornar um ser iluminado pelo 
pensamento crítico, ativo, livre. Para Kant, a atividade filosófica conduz à autonomia humana: “a 
preguiça e a covardia são as causas de os homens em tão grande parte (...) continuarem, todavia, de 
bom grado menores durante toda a vida; e também de outros se tornarem tão fácil assumirem-se 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 14| P á g i n a 
 
 
como seus tutores. É tão cômodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um 
diretor espiritual que em vez de mim tem consciência moral, um médico que por mim decide pela 
dieta, etc., então não preciso de eu próprio me esforçar. Não me forçoso pensar, quando posso 
simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida4.” A atualidade do texto 
kantiano é surpreendente. 
 
e) A Filosofia auxilia na autonomia intelectual: 
 
Segundo o filósofo Gérard Lebrun (1930-1999), o estudante de Filosofia (uma atividade que dura 
durante toda a vida) adquire autonomia diante do conhecimento. Mais que isso, o estudante-filósofo 
passa a fazer do questionamento uma atividade corriqueira. Nesse sentido, cria a sua própria retórica, 
ou seja, poderá, a todo instante, em qualquer lugar, “denunciar a ‘ingenuidade’ do ‘cientista’ ou a 
‘ideologia’ de quem não pensa como ele.” A Filosofia é, por isso, uma ferramenta para o bom 
pensamento e para o bom viver. Afinal, conclui Lebrun, “qual melhor recurso se lhe apresenta senão 
tomar emprestado um discurso filosófico?5” 
 
Portanto, são várias as respostas para a questão sobre a serventia da Filosofia. A 
Filosofia pode ajudar você a fazer uma nova leitura de si mesmo, do mundo e dos outros. 
Abandonando os preconceitos e a ingenuidade, contrapondo-se aos discursos prontos e 
dominantes, compreendendo a cultura, a sociedade, os conceitos estéticos que 
movimentam nossa cultura industrial, as formas de governo, as ações que preservam a 
liberdade ou a ameaçam. Enfim, exercitando, com coragem, a capacidade crítica de seu 
pensamento. 
 
E por falar em pensamento, agora vamos estudar um pouco a natureza e as formas de que nossa 
razão utiliza para conhecer o mundo. 
 
1.3. Natureza e formas de conhecimento 
 
 
Vamos conversar agora sobre o fundamento da Filosofia, que é o conhecimento. Vamos dialogarsobre a origem do conhecimento ou sua natureza, como ele é gerado, memorizado e compartilhado. 
Depois, vamos apresentar algumas formas de conhecimento que vão nos auxiliar, a priori, na 
compreensão do fenômeno do conhecimento. São eles: o conhecimento popular, religioso e o 
científico.
 
4 KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: “O que é o Iluminismo?” Tradução de Artur Morão. Disponível em www.lusosofia.net. 
Acesso: 22/03/2010. 
5 LEBRUN, Gerard. Por que filósofo? In: Estudos Cebrap, no. 15, jan/mar, 1976, pp. 148-53. 
 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
Unidade de Educação a Distância | Newton 15| P á g i n a 
 
 
 
1.3.1. Natureza do conhecimento 
 
A discussão do conhecimento é um dos temas mais intrigantes da Filosofia. Podemos escolher um 
filósofo e descrever seu modo de conceber a gênese do conhecimento. Contudo, nesse primeiro 
momento, precisamos de uma formulação genérica, mas rigorosa, de como o conhecimento surge. 
 
A natureza do conhecimento está na consciência. A consciência é a razão, a mente, nosso centro 
individual de processamento de informações sobre a subjetividade (sentimentos, sensações, memória 
afetiva), a autoconsciência (minha forma de estar no mundo, autoidentificação), a sapiência 
(aprendizado, experiências, capacidade reflexiva) e a capacidade de perceber a relação entre si e um 
ambiente (interação, intersubjetividade). 
 
Se a consciência é a sede do conhecimento, se na consciência está a natureza do conhecimento, 
podemos afirmar que conhecemos por que desejamos apreender o mundo à nossa volta. Por isso, a 
cultura, nossa cosmovisão, é importante para determinar qual o tipo de conhecimento cada um de 
nós irá priorizar. O conhecimento depende da consciência e a consciência seleciona, por causa da 
sua cultura, da sociedade em que foi formada, o conhecimento que lhe convém naquele momento. 
 
É assim que podemos problematizar o conhecimento em sua natureza. Se o conhecimento é um 
processo pelo qual a realidade se reflete e se reproduz no pensamento humano, de modo seletivo, 
chegamos à conclusão que o fim último do conhecimento consiste em alcançar a verdade e no seu 
valor como prova para se afirmar que se conhece alguma coisa. É aí que a nossa conversa fica 
interessante: 
 
 Por que algumas pessoas têm um conhecimento diferente das outras? 
 O que as faz priorizar, selecionar, experimentar e autenticar um determinado tipo 
de conhecimento em detrimento do outro? 
 
Por exemplo: por que algumas pessoas têm um conhecimento filosófico mais aprimorado que o 
conhecimento científico e vice-versa? É porque todo conhecimento humano é autoconsciência, ou 
seja, somos nós mesmos que escolhemos e selecionamos o nosso conhecimento. Assim, a 
autoconsciência é o elemento fundamental da consciência. Sem ela não há consciência nem reflexão 
sobre a consciência. 
 
Agora, vamos identificar alguns tipos de conhecimento. Verifique com qual deles você se identifica 
mais. Nosso objetivo é que você possa fazer uma distinção entre os diversos conhecimentos e 
identifique os objetivos do conhecimento filosófico. 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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1.3.2. Formas de conhecimento 
 
Imagine que a consciência encontre objetos pelo mundo à sua volta. Esse objeto pode ser muito 
importante ou insignificante. Os objetos do mundo (coisas, pessoas, textos) precisam ser 
processados pela consciência. Na apreensão dos objetos, o sujeito cognoscente (você, eu) pode 
penetrar em todas as esferas do conhecimento: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma 
série de conclusões sobre a sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência 
cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, através de investigação 
experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo 
quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo 
como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os 
textos sagrados. 
 
Apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e 
científico, essas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, 
por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a 
um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos 
provenientes do senso comum. 
 
Assim, podemos definir as formas de conhecimento da seguinte maneira: 
 
É o senso comum; é de tendência superficial, conformando-se com a 
aparência, podendo ser comprovado, acessando as coisas à sua volta; é 
superficial porque está preso às vivências de cada um, estados de ânimo e 
emoções da vida diária; é subjetivo, sendo organizado na consciência pelo próprio sujeito, indivíduo, 
que articula essa experiência com os dados apresentados pela realidade palpável; é assistemático 
porque não se preocupa com uma validação técnica de sua experiência, ou seja, vale como 
comprovação o “eu acho”, “eu acredito”, “eu sei que é assim porque sempre aprendi assim”; por fim, 
apresenta-se como acrítico, sem uma explicação racional convincente e válida como demonstração 
de verdade para um grande número de pessoas ou fora do raio de ação desse conhecimento. 
 
É baseado em proposições valorativas, por terem sido reveladas pelo 
sobrenatural; é inspiracional e, por esse motivo, tais verdades são 
consideradas infalíveis, indiscutíveis e exatas. Além disso, é um 
conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um 
criador divino. Suas evidências não são verificadas. Está sempre implícita uma atitude de fé perante 
um conhecimento revelado. O conhecimento religioso parte do princípio de que as verdades tratadas 
são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural. 
 
Conhecimento 
Popular 
Conhecimento 
Religioso 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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Considera-se como real e factual, pois lida com ocorrências, fatos, com 
aquilo que é um fenômeno, ou seja, que se manifesta de algum modo; é 
contingente porque suas proposições ou hipóteses têm a sua veracidade 
ou falsidade conhecida através da experimentação e não apenas pela razão; é sistemático por ter seu 
saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias; tem pretensão de verificação, já que 
pode ser testado e experimentado. 
 
É valorativo porque determina um peso para suas observações; parte da 
realidade experimentada; a Filosofia não se preocupa, a não ser por uma 
questão de coerência de discurso, com a demonstração de suas 
afirmações; é racional porque consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados; é 
sistemático um vez que suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da 
realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. 
 
Portanto, após a leitura dessas definições: 
 
 Qual a forma de conhecimento que você mais utiliza no seu dia a dia? 
 O que mais lhe convence? 
 O que mais lhe toca o sentimento e a consciência? 
 
Para compreender o ponto de partida (axioma) do conhecimentofilosófico, é importante ressaltar que 
esse conhecimento se encontra sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela 
formulação de uma concepção unificada e unificante do mundo. Para tanto, procura responder às 
grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais universais que englobem e 
harmonizem as conclusões da ciência. 
 
Agora você está preparado para estudar mais profundamente o que em Filosofia chamamos da 
passagem do conhecimento popular ou senso comum para o conhecimento filosófico. Para isso, 
vamos recorrer à história da Filosofia para problematizar a gênese dessa separação que inventou 
uma nova forma de conhecimento do mundo. 
 
1.4. Do senso comum à Filosofia 
 
 Por que o senso comum, também chamado conhecimento popular, está em oposição ao 
conhecimento filosófico? 
 
 Por que, para que haja conhecimento filosófico, é necessário romper com o “pé-no-chão”, o 
concreto do nosso dia a dia? 
Vamos problematizar, agora, essa relação entre senso comum e Filosofia. Desde já, compreenda que 
o senso comum é o conhecimento primitivo, fundamental, o nosso ponto de partida para a percepção 
Conhecimento 
Filosófico 
Conhecimento 
Científico 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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do mundo. É a partir dele que construímos nossa cosmovisão. Por causa dele nos sentimos 
envolvidos numa cultura. E mais: partindo do senso comum, criamos laços de solidariedade social. 
 
Nesse sentido, a filósofa Hannah Arendt (1906-1975) afirma que: 
 
Graças ao senso comum, é possível saber que as outras percepções sensoriais 
mostram a realidade, e não são meras irritações de nossos nervos nem sensações 
de reação de nosso corpo. Em qualquer comunidade, portanto, o declínio perceptível 
do senso comum e o visível recrudescimento da superstição e da credulidade 
constituem sinais inconfundíveis da alienação em relação ao mundo6. 
 
O senso comum é nosso ponto de partida. Mas a Filosofia não está preocupada apenas com nosso 
mundo concreto, nossos dados sensoriais. A Filosofia é um conhecimento que pretende transcender 
o senso comum para lhe aprimorar a concepção de mundo. É como se, diante de um quarto escuro, 
pudéssemos acender uma vela. O ambiente se clareia devido à ampliação da luz. A Filosofia é a luz. 
O senso comum é o quarto escuro. Estamos dentro dele e acostumados a ver o escuro. Achamos 
que o escuro é a realidade. Mas basta ampliar nossa capacidade de conhecimento que algo de novo 
ocorre e percebemos que há um mundo novo à nossa volta. 
 
No senso comum, não há análise profunda e sim uma espontaneidade de ações relativa aos limites 
do conhecimento do indivíduo que vão passando por gerações. O senso comum é o que as pessoas 
comuns usam no seu cotidiano, o que é natural e fácil de entender, o que elas pensam que sejam 
verdades, e que lhe traga resultados práticos herdados pelos costumes. 
 
O conhecimento filosófico ultrapassa o senso comum nos seus questionamentos. Enquanto o senso 
comum afirma que a Terra gira e por isso a Lua tem suas fases, os primeiros filósofos queriam saber 
quem criou o universo, como, para quê, quais as regras universais do cosmo. O conhecimento 
filosófico persegue, através de questionamentos, o fundamento dos fenômenos. Discute suas causas. 
Investiga as consequências. Através da Filosofia, o senso comum se aperfeiçoa. Torna-se profundo. 
Ganha em fundamentação. Amplia o seu horizonte através da lógica do pensamento correto, que tem 
como objetivo verificar a verdade e testar seus limites. 
 
Os primeiros filósofos a fazerem a passagem do senso comum para o conhecimento filosófico foram 
os gregos da Antiguidade. Por isso, Sócrates é considerado o fundador da Filosofia, pois foi o 
primeiro filósofo a propor um método para o pensamento. Nesse sentido, aprimorou o senso comum e 
pôde chegar a lugares antes impossíveis para o pensamento humano. 
Sócrates não só criou um método de investigação filosófica, mas propôs um questionamento do 
senso comum. Vamos mostrar, de maneira bem resumida, como o método socrático efetuava a 
passagem do senso comum à Filosofia. 
 
 
6 ARENDT, Hannah. Sobre a revolução. Lisboa: Relógio D’Água, 2001, p.221. 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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Sócrates perguntava, num primeiro momento, a um soldado ateniense vitorioso nas batalhas de seu 
exército o que era a coragem. Partindo do senso comum, de sua experiência, de sua cosmovisão, o 
soldado descrevia concretamente a experiência da coragem. A descrição não ultrapassava a vivência 
do soldado, do seu senso comum. Por isso, esse primeiro momento, chamado de ironia, Sócrates 
deixava o soldado se perder nas palavras. Até que, num determinado momento do diálogo, Sócrates 
desconstruía a vivência, o senso comum. 
 
No segundo momento, chamado de maiêutica (dar à luz), Sócrates ensinava ao soldado o conceito 
de coragem. Apresentava as contradições da experiência. Problematizava a virtude da coragem. 
Insistindo na demonstração de que o soldado estava preso à experiência, Sócrates erigia um novo 
conhecimento, dessa vez, universal, abstrato, capaz de dar à experiência do soldado uma novidade 
conceitual: o soldado aprendia o que era o conceito de coragem. Distante do fenômeno, da guerra, o 
soldado poderia, agora, de posse do conceito de coragem, distanciar-se da experiência, tornando-se 
um filósofo. A experiência da coragem tornava-se um conceito racional. 
 
O convite da Filosofia é esse: 
 
 
Agora vamos passar para uma introdução à história da Filosofia. Para sermos exatos, vamos 
investigar a Filosofia no tempo. Depois, vamos descrever como a Filosofia, como quase todas as 
áreas de conhecimento humano, abre-se em várias áreas de investigação. 
 
1.5. Importância de uma abordagem histórica da Filosofia 
 
A filosofia ocidental, derivada dos gregos da Antiguidade, tem uma trajetória bastante longa, repleta 
de contribuições que seguem, às vezes, uma certa ordem, buscando inspiração num filósofo 
marcante do passado. Outros filósofos, mesmo nos dias atuais, têm uma forma de pensar inovadora 
que não se vincula a nenhuma outra escola filosófica do passado. 
 
Podemos dividir a produção do conhecimento filosófico em quatro grandes eixos, classicamente 
compartilhados também pela História. Há outras formas de dividirmos o conhecimento filosófico seja 
em eixos temáticos (o conceito de Deus, a linguagem, a hermenêutica, entre outros), correntes de 
pensamento (platonismo, neoplatonismo; tomismo e neotomismo, entre outros). Como se trata de 
uma introdução à Filosofia, podemos aproveitar a divisão clássica da História para abordar a Filosofia. 
Passar do senso comum à universalidade conceitual. Passar da experiência para o 
conceito. Do “concreto” para o “abstrato”. Enfim, a Filosofia é um conhecimento que 
esclarece, ilumina, amplia a experiência, buscando os fundamentos conceituais do seu 
objeto de estudo. 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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a) Filosofia Antiga (4.000 a.C. até 476 d.C.): 
 
Nesse período surge o pensamento filosófico e ocorre a fundação de seus fundamentos 
desenvolvidos pelos gregos e passados posteriormente para o mundo romano. Em geral, ela é 
repartida, tomando-se Sócrates como referência. Assim, há o período pré-socrático,com os filósofos 
fazendo os primeiros ensaios da compreensão do cosmo. Após Sócrates, temos um período em que 
a Filosofia se estabelece com um método próprio de investigação e as escolas filosóficas criam assim 
uma tradição. Suas figuras de destaque são Platão e Aristóteles, além de outros de quem se sabe 
menos, como Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Parmênides, Empédocles e Demócrito. A 
transição entre esta etapa e a Filosofia Medieval não é muito nítida. Ela se dá quando o cristianismo 
ganha status e recorre ao pensamento grego, para dar fundamento teórico a suas teses. Em termos 
cronológicos, esse período coincide aproximadamente com a queda de Roma, no século V. 
 
b) Filosofia medieval (476 até 1453): 
 
A Filosofia Medieval se estende até aproximadamente o século XV, quando ocorre o que se chama 
Renascença. Ela está principalmente subordinada à Igreja Católica, e seus representantes mais 
notáveis são Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. É quase totalmente uma filosofia escolástica. 
Há ainda alguns filósofos de origem árabe ou judaica, mas não fazem parte da tradição filosófica 
ocidental, embora seus trabalhos tenham sido fundamentais para que o pensamento antigo atingisse 
nossos dias. 
 
c) Filosofia moderna (1453 até 1789): 
 
Surge uma nova forma de Filosofia, voltada para o humanismo renascentista, o racionalismo, o 
diálogo com a ciência e uma discussão profunda sobre a política. Há uma leitura renovada das obras 
de Platão e Aristóteles, além de outras obras do mundo grego, sendo seus principais pensadores 
Maquiavel, Montaigne, Erasmo, More, Giordano Bruno, Galileu, Bacon, Descartes, Pascal, Hobbes, 
Espinosa, Leibniz, Locke, Berkeley, Newton, Hume e Kant. 
 
d) Filosofia contemporânea (1789 até aos dias atuais): 
 
A Filosofia contemporânea trouxe uma série de desenvolvimentos contraditórios em cima da base de 
conhecimento e a validez de variações absolutas dos outros períodos da Filosofia. A Filosofia 
contemporânea está alicerçada num consistente antropocentrismo, ou seja, o homem é o centro das 
atenções filosóficas. Na contemporaneidade, temos a emergência de várias crises do pensamento, 
especialmente nos pós-guerras mundiais. Estamos, atualmente, num processo de estudo da 
linguagem, ou melhor, da hermenêutica. Além disso, não podemos mais falar da ética, senão das 
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Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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éticas que permeiam um mundo onde a verdade é relativa e cultural mas obrigada a conviver com 
um mundo globalizado. Vários filósofos se destacam nesse período, entre eles, Jean-Paul Sartre, 
Martin Heidegger, Hannah Arendt, L. Wittgenstein, Albert Camus, Michel Foucault, Paul Ricouer entre 
outros. 
 
O filósofo Mario Ariel González Porta7 questiona a periodização clássica da Filosofia. Para ele falta à 
divisão clássica uma natureza puramente filosófica. Nesse sentido, propõe alguns critérios para uma 
divisão do desenvolvimento filosófico que sejam, em primeiro lugar, intra-sistemáticos e propriamente 
filosóficos e, além disso, que sejam evolutivos ou dinâmicos, isto é, que permitam compreender não 
apenas a diferença essencial entre o pensamento de diferentes períodos, mas também o princípio 
interno de passagem de um a outro. Observe a periodização no quadro abaixo. 
 
Período 
filosófico 
Correspondência 
ao período 
histórico 
Grandes 
nomes 
Disciplina-
chave 
Conceito-
chave 
1. Período 
metafísico 
Época antiga, 
medieval e início 
da moderna 
Platão, 
Aristóteles, 
São Tomás 
de Aquino 
(Descartes) 
Metafísica 
(ontologia) 
Ser 
2. Período 
epistemológico 
(ou 
transcendental) 
Época moderna 
(Descartes) 
Kant 
Epistemologia, 
Teoria 
transcendental 
Verdade, 
objetividade, 
validez 
3. Período 
semântico-
hermenêutico 
Época 
contemporânea 
Husserl, 
Dilthey, 
Heidegger, 
Frege, 
Wittgenstein 
Teoria da 
significação, 
Fenomenologia, 
Hermenêutica, 
Semântica 
(análise lógica 
da linguagem) 
Significado, 
Semântica: 
análise 
lógica da 
linguagem 
 
Depois de apresentarmos duas tentativas de organização do conhecimento filosófico (clássica e 
puramente filosófica), podemos conversar um pouco sobre as áreas nas quais a Filosofia se divide. 
Essa divisão é importante para que a Filosofia possa dar conta de investigar com profundidade os 
temas essenciais que têm como centro a vida humana. Assim, a Filosofia trata de diversos assuntos, 
agrupados em: 
 
a) História da Filosofia: 
Trata-se de um estudo pormenorizado e cronológico das correntes de pensamento, da biografia dos 
filósofos e estudos introdutórios sobre a contribuição conceitual de suas obras mais importantes. 
Você poderá visualizar, nas bibliotecas e livrarias, coleções sobre a História da Filosofia. É um modo 
rápido e interessante de estudar a Filosofia de um modo sistemático e objetivo. 
 
7 GONZÁLEZ PORTA, M. A. A filosofia a partir de seus problemas. São Paulo: Loyola, 2002. 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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Fonte: Figura 6. Detalhe da pintura de Rafaello Sanzio (1483-1520). Platão e Aristóteles, considerados os principais 
representantes da filosofia grega durante toda a Idade Média, caminham em diálogo no topo das escadas. 
 
b) Ética: 
Originada do grego ethos, que significa modo de ser, caráter. A Ética é essencialmente especulativa, 
ou seja, preocupam-se com os fundamentos da ação, questionando quais são as virtudes 
necessárias para uma vida digna, para a prática do bom, do justo, visando a uma discussão sobre o 
que leva o homem à felicidade e como se dá esse percurso. É uma discussão sobre a ação. 
 
c) Lógica: 
Do grego logos, que significa palavra, pensamento, ideia, argumento, relato, razão lógica ou princípio 
lógico). É o estudo sobre as regras do pensamento e do discurso. É o ramo da filosofia que cuida das 
regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar. 
 
d) Epistemologia ou Teoria do Conhecimento: 
O grego episteme, ciência, conhecimento, trata dos problemas filosóficos relacionados ao 
conhecimento. Para Japiassu8, a Epistemologia global ou geral trata do saber globalmente 
considerado. Já a Epistemologia específica investiga o conhecimento em sua organização, seu 
funcionamento e as possíveis relações que ele mantém com as demais disciplinas. Sem a 
fundamentação do conhecimento o que seria da Filosofia, não é mesmo? Por isso, a problematização 
da Epistemologia auxilia, e muito, as ciências. Portanto, A epistemologia estuda a origem, a estrutura, 
os métodos e a validade do conhecimento. 
 
e) Estética: 
Do grego aisthésis, que quer dizer percepção, sensação. Tem por objeto o estudo da natureza do 
belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a 
produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como as diferentes formas de arte e do 
trabalho artístico; a idéia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. 
 
8 JAPIASSU, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 
1992. 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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Fonte: Figura 7. A escultura O Pensador, do artista francês Auguste Rodin (1840-1917) representa a postura filosófica do 
homem à procura de respostas em sua própria razão. É o momento do ócio criativo. Além disso, a Estética estuda a beleza 
(técnica, conceito, proporção) da obra informando sobre sua unicidade no mundo das artes. 
 
 
Após os estudos iniciais sobre a História da Filosofia, você está preparado para a próxima unidade. 
Os temas da unidade 1 ajudaram você na construção de um conhecimento histórico da Filosofia. Ao 
diferenciar os tipos de conhecimento, você se encontra apto para perceber que a Filosofia é uma 
atividade para a vida. Na unidade 2, ampliaremos nossas considerações sobre a Filosofia. A nossa 
viagem terá outras paradas interessantes pela História da Filosofia na Grécia Antiga. Vamos 
conhecer os primeiros filósofos e suas teorias e aprofundar o nascimento da Filosofia através da 
passagem do conhecimento mitológico para o conhecimento filosófico. Mantenha sua curiosidade! 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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2. Teoria na Prática 
 
 
Proponho a você uma pausa para reflexão a respeito do aprendizado feito até esse momento. Vamos 
utilizar uma charge e um texto para que você possa pensar sobre a atividade filosófica e como a 
sociedade atual encara o filósofo. Observe com atenção a charge de um site de Portugal. Quais são 
as idealizações sobre o filósofo? O filósofo é apresentado como um indivíduo feliz, alegre, contente? 
Ou, ao contrário: o filósofo é considerado um intelectual desanimado, beberrão, desleixado? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8. Disponível em http://www.filosofia.com.br/figuras/charge/42.jpg. Acesso: 25/03/2010. 
Para contrapor a charge acima, leia o texto abaixo sobre o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-
1980). O artigo se intitula Sartre, o pensador engajado. Observe como o autor propõe uma 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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abordagem oposta à charge acima. O filósofo é engajado na sociedade, ativo, respeitado, influente e, 
acima de tudo, tem uma vida útil para a sociedade. 
 
 
 
Nascido em Paris, no dia 21 de junho de 1905, Jean-Paul Sartre foi o mais famoso, odiado e 
celebrado, intelectual francês do século 20. Homem de sete instrumentos, ao longo dos seus 74 anos 
de vida, nenhum gênero das letras lhe foi estranho. 
 
Mostrou-se extraordinariamente hábil e criativo não só na filosofia, romance, novela e teatro, mas até 
nos roteiros de filmes que deixou. Mas Sartre, prodigiosa máquina de gerar palavras, foi isso e muito 
mais, pois ele se lançou na indagação da situação da humanidade e da cultura, podendo 
seguramente ser colocado no Panteão dos “heróis da razão pensante” do século 20. Foi o Sócrates 
do nosso tempo. 
 
Avesso à Torre de Marfim, - refugio do escritor simbolista alheio ao mundo real que desprezava - quis 
servir como um exemplo para os intelectuais do seu tempo, estimulando-os a que eles escapassem 
dos seus gabinetes, arquivos e bibliotecas e seguindo a tradição francesa de Voltaire, de Victor Hugo 
e de Émile Zola, se engajassem nas coisas do seu tempo. Que participassem ombro a ombro com os 
homens comuns das tragédias, dos dramas e das felicidades da sua época, porque, afinal, “o lugar 
do intelectual crítico é o cárcere, o exílio ou o museu. Tem que eleger”. 
 
Por conseguinte, não lhe ficou mal terem-no batizado de “o pedagogo da segunda metade do nosso 
século”, ou o “Sócrates da nossa época”, dando a todos uma “lição permanente de independência 
absoluta”. Ainda que educado como uma criança sedentária em meio aos livros do seu avô Charles 
Schwitzer, considerando a biblioteca como um templo, Sartre, adulto, transformou-se na inquietação 
em forma humana. 
 
Ao contrário do que marcava o pensamento existencialista anterior a ele, que defendia uma posição 
filosófica intimista, extremamente subjetivista, um tanto quanto refugiada do mundo, Jean Paul Sartre 
defendeu um existencialismo ativo, engajado. Não era para menos. O seu antecessor e ainda 
contemporâneo, o famoso filósofo Martin Heidegger, propusera uma filosofia da existência numa 
Alemanha apática e ainda apalermada pela derrota sofrida na Primeira Guerra Mundial. 
 
Ocasião em que desabara o poderoso IIº Reich, construído por Otto von Bismarck, destroçado nas 
trincheiras de 1914-18 e sepultado pela Revolução de Novembro de 1918. Toda a expectativa de 
uma grandeza futura, num repente, desaparecera do horizonte dos alemães. 
 
Ora, o existencialismo sartriano foi forjado em outras circunstâncias. Se bem que a França fora 
derrotada em 1940, e, em seguida, ocupada até 1944. De certo modo, ele foi a espiritualização da 
Disciplina: Filosofia 
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Resistência, do movimento clandestino gaullista-comunista que se articulou contra a presença nazista 
durante a guerra. 
 
Por conseguinte, a reflexão dele nasceu marcada pelo agir, pela ação, e não pela inanição. Daí 
também se entender classificar os intelectuais como “teóricos do saber prático” (essa definição 
colhida do “O Escritor não é político?”, resultava de Sartre entender que todo o saber moderno, pelo 
menos desde Descartes, “é prático” e não mais desinteressado como fora outrora). 
 
Neste afã de tomar a peito as coisas da vida, o homem desejava, não mais crer em Deus, como 
propunha Gabriel Marcel, o filósofo cristão, mas ser ele mesmo um tipo de Deus. É a luta dos 
franceses pela libertação nacional que também fará com que se entenda a ênfase que ele depositou 
na questão da liberdade (palavra-chave do existencialismo sartriano) e do engajamento, tornando-se 
Sartre o maior profeta da liberdade do mundo do após-guerra. 
 
Se o homem é livre para escolher o seu caminho e fazer da sua vida um projeto que dê sentido a ela, 
isso só pode ser realizado se os seus atos se articularem com os demais. Não há liberdade de um só. 
É impossível alguém ser livre numa caverna habitada por escravos, por conseguinte a liberdade de 
um somente pode ser concretizada obtendo-se a liberdade de todos. Ora, essa conclusão tornava 
obrigatório o engajamento, de participar ativamente das coisas do mundo. Não é possível alguém 
trancar-se ou fechar-se numa redoma qualquer e desinteressar-se daquilo que o cerca. É 
praticamente imoral voltar às costas aos outros, pois “o homem está condenado a ser livre, com 
outros homens livres”. 
 
Assim sendo, como ele assegurou numa entrevista em 1964, “A política não é uma atitude que o 
indivíduo possa tomar ou abandonar segundo as circunstâncias, senão uma dimensão da pessoa. Na 
nossa sociedade, faça-se ou não política, já se nasce politizado: não pode haver vida individual ou 
familiar que não esteja condicionada pelo conjunto social de onde nós aparecemos e, por 
conseguinte, todo homem pode e deve atuar, ainda que seja para defender sua vida privada, sobre 
os grupos que o condicionam9.” 
 
 
9SCHILLING, Voltaire. Jean-Paul Sartre, o pensador engajado. Disponível em 
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2005/06/21/004.htm. Acesso: 28/03/2010. 
 
Disciplina: Filosofia 
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Então, percebeu-se como a sociedade pode ser cruel com os pensadores: Nem sempre a 
atividade filosófica é vista em sua essência. Quando falamos dos fundamentos da atividade 
filosófica, deixamos claro que a Filosofia é um respeito à sabedoria. Ora, assim como o cientista 
(você se lembra da imagem do Albert Einstein com a língua para fora?), o filósofo é tido como fora 
de seu tempo, lunático, aéreo, com pensamentos inúteis. 
 
Contudo, a Filosofia é uma atividade prazerosa, agradável, enriquecedora, humanizadora. E você, 
depois dos estudos da primeira unidade, acha que o melhor retrato de um filósofo é do Filosofus 
inutilis ou do filósofo engajado? 
Disciplina: Filosofia 
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3. Recapitulando 
 
Na Unidade 1, viajamos pela História da Filosofia. Descobrimos que a atividade filosófica está ligada 
ao desejo humano de compreender o mundo e a si mesmo. A admiração e o espanto diante das 
coisas, diante das situações da vida proporcionaram aos filósofos a possibilidade de questionar e 
responder. Nessa dinâmica, o conhecimento filosófico foi se estruturando. Tornou-se um método 
dialético em duas fases para Sócrates, a ironia e a maiêutica. 
 
Sócrates é o fundador da Filosofia. Mais que isso, depois dele temos uma divisão clássica da 
Filosofia. Os pré-socráticos estavam, ainda, envolvidos com o mundo, ainda sem uma metodologia 
definida. Depois de Sócrates, Platão e Aristóteles, filósofos clássicos da Antiguidade grega, a 
Filosofia cresceu, desenvolveu-se e pôde entusiasmar novos pensadores na discussão sobre os mais 
variados temas. 
 
É importante recordar que a Filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto. Radical, 
porque é reflexão profunda em busca da essência das coisas. Rigorosa, pois trata de reflexão que se 
procede com rigor, com método. De conjunto, porque o problema não deve ser analisado 
isoladamente do contexto que o cerca. É importante que você se recorde sempre dessas três 
características, combinado? 
 
Nesta unidade, pudemos ensaiar algumas respostas para a pergunta sobre a serventia da Filosofia. 
Assim, argumentamos a favor de uma atividade filosófica que se propõe a uma reflexão sobre a 
realidade. Além disso, vimos que a Filosofia é a possibilidade de transcendência humana, para fugir 
do seu mundo concreto e imanente; por outro lado, sugerimos a você que entendesse a Filosofia 
como uma renovadora do pensamento e da ação, bem como indicamos que a Filosofia resgata o 
humanismo através da coragem de pensar livremente. Por fim, afirmamos que a Filosofia é para o 
aluno da Academia um importante instrumento de autonomia intelectual. 
 
Mas a Filosofia não é um conhecimento qualquer. Ela se diferencia do senso comum. Diferencia-se 
do conhecimento religioso e científico. Para dizer que somos filósofos (amantes da sabedoria), 
precisamos romper com os dados da realidade nua e crua; precisamos transcender o dia a dia e, 
abstraindo as situações, buscar alternativas através do pensamento. Isso é ser filósofo. 
 
Por fim, apresentamos-lhe duas propostas de sistematização do conhecimento filosófico. A primeira 
ligada à história clássica. A segunda mais filosófica, mais conceitual, mais abstrata. Trata-se de uma 
periodização puramente filosófica. Durante nosso curso, você terá oportunidade de compreender 
melhor os conceitos ali citados. 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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Unidade 2: Filosofia Antiga 
 
1. Conteúdo Programático 
 
 
1.1. Introdução 
 
 As pérolas da Filosofia estão, em grande parte, arquivadas na Filosofia antiga. É como se, em casos 
de necessidade, no momento de crise da racionalidade, voltássemos aos gregos clássicos para nos 
inspirar, retirando desse passado a iluminação para os momentos de trevas do pensamento. E haja 
inspiração: a Filosofia anterior e posterior a Sócrates é considerada uma obra aberta, ainda em 
discussão. As obras clássicas da Filosofia foram escritas na Antiguidade. Devemos a Platão e 
Aristóteles contribuições em várias áreas do conhecimento humano. Alguns dizem que Platão e 
Aristóteles são incontornáveis, ou seja, não é possível entender Filosofia sem um estudo profundo de 
seus conceitos. 
 
E você, está preparado para os objetivos desta unidade? São eles: 
 
 Investigar o pensamento filosófico antes de Sócrates; 
 A passagem do conhecimento mitológico para o conhecimento filosófico; 
 Estudar alguns conceitos de Platão e Aristóteles evidenciando o legado da Filosofia grega para 
a Filosofia. 
 
Pegue suas malas (a curiosidade e a concentração!) e vamos desembarcar 
num mundo diferente do nosso, mas com profundas conexões atuais no 
nosso jeito de fazer política, entender a ética, a lógica e a teoria do 
conhecimento. 
 
 
Você já parou para se perguntar sobre o quê pensam os primeiros filósofos 
lá da Grécia Antiga? Será que as questões deles ainda são as nossas 
questões? Quais as respostas que podemos considerar inválidas nos dias 
atuais? E as respostas que nós não conseguimos desconsiderar e que 
parecem dadas para a nossa sociedade? Você já se questionou sobre a 
evolução do pensamento humano? Parece óbvio, mas o que é óbvio precisa 
ser problematizado. Se falamos sobre uma passagem de um conhecimento 
para outro, ou seja, do mito para a Filosofia, o que mudou? 
 
Disciplina: Filosofia 
Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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As respostas sobre a mudança de paradigma, ou seja, a mudança na forma de pensar e de fazer 
perguntas teve efeito direto sobre a racionalização do pensamento ocidental. É por isso que devemos 
aprofundar a gênese da mudança. Precisamos investigar no nascimento da Filosofia o nascimento de 
uma nova cosmovisão, novos paradigmas, novos conceitos. Ao se diferenciar do mito a Filosofia, 
ensaiou seus primeiros passos no seu berçário, a Grécia antiga. 
 
Ao final de nosso estudo, você deve estar habilitado para responder como se deu a passagem do 
mito ao logos (razão) na história do pensamento grego e quais os fundamentos filosóficos dos 
primeiros amantes da sabedoria. 
 
 
1.2. O legado da Filosofia grega 
 
 
A polis é uma herança dos gregos. Nela e por causa dela temos, ainda hoje, reflexões fundamentais 
sobre a democracia, a ética, a ditadura, o direito, a cidadania. Na polis, a cidade-estado dos gregos 
antigos, os pensadores aprimoraram o conhecimento filosófico Devido à liberdade intelectual da 
época, à alegria de viver retratada nos banquetes, à discussão bem embasada sobre política nas 
praças públicas, às primeiras experiências especulações sobre o funcionamento do universo, a 
Filosofia nasceu. 
 
Haveria o ocidente com sua racionalidade se não fossem os gregos? Haveria hoje um modelo de 
participação cidadã democrática se não fosse a estruturação da polis? São perguntas que necessitam 
de um aprofundamento na história da Filosofia grega da antiguidade. 
 
Jean-Pierre Vernant (1914-2007)10 foi um dos maiores pesquisadores da história da Grécia Antiga e 
das relações da polis com o surgimento, ali, da Filosofia. Para ele, a consolidação da polis grega foi 
muito importante para o desenvolvimento de todo o Ocidente, quando ela foi efetivada, entre os 
séculos VIII e VII. Por causa dela, as noções de relações sociaise interpessoais se alteraram para 
sempre e passaram para a posteridade como modelos ou paradigmas a serem seguidos pelas 
nações. 
 
1.3. O pensamento grego arcaico: polis e os sete sábios 
 
O Período Arcaico, período da Grécia Antiga de desenvolvimento cultural, político e social, situa-se 
entre c. 700 a.C e 500 a.C. Foi um período marcado por profundas mudanças nos agrupamentos 
humanos. Várias cidades iniciaram uma vida social, política e cultural. As cidades fortificadas 
ofereciam segurança para seus moradores. Por isso, as pessoas migravam para obter a proteção 
dessas fortalezas e ali vão se estabelecendo. Surgem pólos comerciais e até sedes governamentais. 
 
10 VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo: Difel, 1986. 
 
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Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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Naquela época, surgem as cidades de Atenas, Tebas, Megara; no continente surgem Esparta e 
Corinto no Peloponeso; Mileto e Éfeso na Ásia Menor; Mitilene, Samos e Cálcis nas ilhas do Mar 
Egeu. 
 
A monarquia, o governo de um soberano, abre espaço ao domínio das oligarquias urbanas. Nessas 
cidades, a economia se baseia no artesanato e no comércio. Há uma independência muito grande 
entre uma cidade e outra, daí é que surgem as cidades-estados. Autônomas, livres, ricas, com 
exércitos próprios e grandes obras, Atenas e Esparta acabaram por se destacar no cenário grego. 
 
Esse panorama político da Grécia possibilita a consolidação da polis. Não existia mais a visão do 
soberano, nem o poder monárquico, pois todas as decisões estavam submetidas à arte oratória e 
eram resolvidas na conclusão de um debate. Isso consequentemente evitava o poder despótico. 
Existia na polis um respeito grande, mesmo que restrito aos homens, adultos, aparentados com os 
fundadores da cidade, à liberdade de expressão. 
 
Quanto mais a política (a arte do debate e do convencimento pela oratória) virava moda na Grécia, 
mais a razão foi se especializando em fundamentar suas razões. Assim, os sábios começaram a 
surgir dentro da polis. Eles começaram por discutir a melhor forma de governo e passaram a 
argumentar sobre a verdade. Foi um passo para que Sócrates, posteriormente, fizesse o 
questionamento dos deuses gregos (imaginários demais para serem reais ou verdadeiros) e fosse 
acusado de rebeldia contra o Estado. É assim que, sem polis, não haveria o nascimento da Filosofia. 
Sem Filosofia, não haveria o questionamento das regras da polis. 
 
 Quem foram os sete sábios da Grécia? 
Mas por que os sete sábios gregos foram tão importantes? 
 
A lista foi se alterando com o passar do tempo. Segundo Platão, os 
sete sábios da Grécia eram filósofos, amantes da sabedoria e 
reconhecidos como sábios pelo povo grego. Eram eles: Tales de 
Mileto, Periandro de Corinto, Pitaco de Mitilene, Bias de Priene, 
Cleóbulo de Lindos, Sólon de Atenas e Quilon de Esparta. O 
sobrenome corresponde às cidades de origem dos sábios. 
 
O que eles fizeram para serem chamados de sábios? Vejamos: 
 
1. Tales de Mileto (640-546 a.C): astrônomo e matemático, é considerado o mais antigo dos 
filósofos. 
 
2. Periandro de Corinto (627-584 a.C): tinha fama de sanguinário e foi um tirano em sua cidade, 
mas esta prosperou durante seu governo. 
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3. Pítaco de Mitilene (650-569 a.C): famoso por sua feiúra física depôs o tirano local, mas afastou-se 
voluntariamente do poder após dez anos de governo. 
 
4. Bias de Priene (século 6 a.C): poeta e orador eloqüente, ganhou fama com as defesas feitas 
diante dos juízes de sua cidade, em favor de amigos. 
 
5. Cleóbulo de Lindos (meados de 600 a.C): autor de mais de três mil poesias e logogrifos, 
inclusive o epitáfio de Midas, tradicionalmente atribuído a Homero. 
 
6. Sólon de Atenas (640-558 a.C): autor da lei que libertou da servidão os cidadãos atenienses 
escravizados por dívidas; foi um poeta lírico que compôs principalmente elegias morais e filosóficas. 
 
7. Quílon de Esparta (viveu no século 6 a.C): poeta sensível, foi também um dos mais poderosos 
éforos (nome dado a cada um dos cinco magistrados espartanos que desempenhavam essa função a 
cada ano, contrabalançando o poder dos reis e do senado) da sua cidade, utilizando 
costumeiramente a mitologia para justificar a liderança política de Esparta na região do Peloponeso. 
 
Os preceitos e provérbios dos sete sábios da Grécia fizeram história. Mas 
qual a importância as sabedoria oral deles para a Filosofia? Agora, 
podemos explorar uma das afirmações mais interessantes desta unidade: 
não haveria Filosofia sem mitologia grega, cheia de sabedoria e preceitos 
orais. Os sete sábios eram ótimos na expressão oral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Figura 1. O sete sábios: Sólon, Pitaco, Quilon, Tales de Mileto (na imagem), Cleóbulo, Bias, Periandro. 
 
 
Os contadores de mitos também. E os filósofos: seriam eles bons de conversa? Vamos investigar 
agora a passagem do mito ao logos. Nosso estudo pretende investigar a sabedoria no evento de 
criação da Filosofia. 
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1.4. Mito e Razão: o nascimento da Filosofia 
 
Os primeiros filósofos perguntaram sobre o quê? 
 
Sabemos que a Filosofia surge da interrogação, não é mesmo? Por isso, saber o que se perguntava 
na Grécia Antiga vai nos ajudar a descobrir os primeiros passos da Filosofia. E mais: qual foi a 
primeira resposta para tantas perguntas? Essa você já sabe: o mito. E depois, o que sucedeu? Veio a 
Filosofia! 
 
Vamos colocar algumas perguntas como exemplos. 
 
Por que os seres vivos nascem e morrem? 
Por que o sol se põe ao fim do dia e o seu nascimento no dia seguinte começa um 
novo turno? 
Como as crianças nascem? 
Depois de mortos para onde vamos? 
A vida tem um destino ou é obra do acaso? 
Quem guia o homem, a razão ou a crença? 
Em quem acreditar mais: no mito ou na Filosofia? 
 
 Espera aí: essa última pergunta foi feita por um filósofo? Exatamente! Um filósofo que já começava a 
desconfiar do fato de que os mitos não continham verdades inquestionáveis. 
 
As perguntas feitas merecem respostas. Os mitos não respondiam mais? E a tradição oral? E a 
religião dos gregos não continha respostas convincentes para as perguntas? Encontramo-nos agora 
no limite, no ponto de saturação, na quebra do paradigma, na ruptura do modelo. As explicações da 
religião, dos mitos e da tradição já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas de um 
mundo mutável, ou o que levava o mundo a ser regido por leis permanentes; a permanência e a 
mudança afetavam a razão. Como sair dessa enrascada? Criando um método novo para pensar: a 
Filosofia. 
 
Filosofia já sabemos o que é (unidade 1). Mas o que é o mito? Por que de sua fragilidade surgiu a 
Filosofia? Mito é uma narrativa. Por isso, a necessidade de bons contadores. Conta a origem dos 
astros, da Terra, dos homens, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, 
da morte, das raças, das guerras, do poder. Para contador do mito, é preciso que a comunidade lhe 
dê a autoridade moral para recitá-lo. A autoridade vem da ligação do contador com os deuses. O 
mito, ao sercontado, levava o ser humano ao contato com a divindade. Por isso, era necessário 
acreditar no mito. É por isso que a palavra mythos deriva de dois verbos: mytheyo (contar, narrar, 
falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). O 
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mito estava ligado à crença, ou, se quisermos atualizar o conceito, era uma devoção, exigindo fé. 
Podemos citar três diferenças entre mito e Filosofia: 
 
a) o mito é uma narrativa sobre como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, 
longínquo e fabuloso, com uma explicação de tempos remotos e irreais. A Filosofia se preocupa em 
explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro as coisas são como são; 
 
b) o mito é uma narrativa de origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças 
divinas sobrenaturais e personalizadas, tal como vemos na mitologia grega. A Filosofia explica a 
produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais. 
 
c) o mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque 
esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito 
vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, não admite contradições, fabulação e coisas 
incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional11. 
 
Diferenciamos mito e Filosofia. Mas nos falta esclarecer outras condições além da passagem do mito 
ao logos para o surgimento da Filosofia. Vamos recorrer à análise da conjuntura grega para apontar 
alguns fatores essenciais para que a Filosofia tivesse êxito na sua luta contra a mentalidade 
mitológica. 
 
Em primeiro lugar, as viagens marítimas e os relatos dos navegadores de além-mar desmentiram os 
mitos gregos. Os mares não eram dominados por deuses, titãs ou heróis. O mar precisava, para ser 
dominado, de técnica de navegação e coragem. Como os gregos tinham técnica e coragem de sobra, 
chegaram a desmistificar as fabulosas epopeias viajando com a razão à frente. 
 
Em segundo lugar, o tempo foi controlado com a invenção do calendário. É a superação do tempo 
divino através da observação da natureza em ciclos que se repetem e que a razão pode entender e 
decodificar. Os deuses dos mitos perderam mais uma: a razão explicava mais que a crença. 
 
Em terceiro lugar, somando-se à invenção do calendário, à dinamização da vida urbana com a 
circulação de uma moeda, temos o surgimento de um alfabeto padrão para os gregos. Isso permitiu 
uma abstração ainda maior do pensamento. Agora os gregos não precisavam apenas falar. Podiam 
escrever. A escrita é uma atividade que revoluciona a sociedade: o conhecimento pode ser passado 
para outras gerações sem a necessidade da autoridade de um sacerdote ou de um contador de 
mitos. 
 
Portanto, a Filosofia nasceu num contexto específico. Derivada de vários 
fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, a Filosofia se revelou em 
 
11 Segundo CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2003, p. 36-37. 
Disciplina: Filosofia 
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uma atividade poderosa para o intelecto humano. A partir de seu advento, a 
razão e não mais o mito passou a ser a grande herança para o ocidente. 
 
1.5. A Filosofia pré-socrática 
 
Sócrates é o fundador da Filosofia. Os filósofos pré-socráticos são assim chamados por causa de 
serem anteriores no tempo a Sócrates. Em relação ao objeto de estudos, também. O objeto de 
estudos dos pré-socráticos era a physis ou a natureza. Os filósofos da physis buscavam uma 
realidade primeira, originária e fundamental. Os filósofos pré-socráticos buscavam a origem de todas 
as coisas ou o que é primário, fundamental e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado 
e transitório. 
 
Podemos classificar os filósofos da physis em escolas (o sobrenome é a cidade de origem do 
pensador, não esqueça): 
 
a) Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso; 
b) Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento; 
c) Eleata: Xenófanes, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia e Melisso de Samos; 
d) da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e 
Demócrito de Abdera. 
 
Segundo o filósofo alemão Georg W. F. Hegel (1770-1831), a procura dos pré-socráticos é pelo 
absoluto12 e universal. A razão se volta para o princípio à procura pela essência, pela verdade por 
trás das aparências. Pretende-se fugir do óbvio. O obvio é aquilo que se apresenta à percepção 
sensível, ou seja, os filósofos da physis estão conceituando seu raciocínio através de um conceito 
universal. O que é um universal? É a possibilidade de afirmar sem fantasia ou imaginação a 
subsistência de um objeto singular, que subsiste para si, que é uma força para si, autônoma. Apenas 
um universal para toda a diversidade da natureza. 
 
Parecerá ingênuo quando apresentarmos as formulações dos naturalistas. A essência de tudo ser a 
água, o ar, o fogo, entre outros. Mas lembre: a Filosofia passou por várias etapas. A etapa naturalista 
foi essencial para o amadurecimento do pensamento grego por iniciar uma trajetória distanciada do 
mundo sensível. A Filosofia é conceitual, universal. Mas como chegar até lá sem ensaios? Segundo 
Aristóteles: 
A maior parte dos primeiros filósofos considerava como os únicos princípios de todas 
as coisas os que são da natureza da matéria; aquilo de que todos os seres são 
constituídos, e de que primeiro são gerados e em que por fim se dissolvem, 
enquanto a substância subsiste mudando-se apenas as afecções, tal é, para eles, o 
elemento, tal é o princípio dos seres13. 
 
 
12 HEGEL, G. W. F. Tales de Mileto. Crítica Moderna. In: Os pré-socráticos. Fragmentos, doxologia e comentários. São Paulo: 
Nova Cultural: 1991, p.9. 
13 ARISTÓTELES. Metafísica (1, 3. 983 b 6 (DK 11 a 12). In: Os pré-socráticos. Fragmentos, doxologia e comentários. São 
Paulo: Nova Cultural: 1991, p.7. 
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Autor: Danilo Arnaldo Briskievicz 
 
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FILÓSOFO PRINCÍPIO/ARQUÉ FRAGMENTO / FRASE / COMENTÁRIO 
Tales de Mileto ÁGUA - a água é o princípio de todas as coisas; 
- todas as coisas estão cheias de deuses; 
- a pedra magnética possui um poder porque move o 
ferro. 
Anaxímenes de Mileto AR OU VAPOR - Outros dizem que a alma é o ar, como Anaxímenes e 
alguns estóicos (Fragmento de autoria de Filópono) 
Anaximandro de Mileto APEÍRON 
(INDETERMINADO, 
INFINITO) 
- o ilimitado é eterno; 
- o ilimitado é imortal e indissolúvel. 
 
Heráclito de Éfeso FOGO, MUDANÇA, 
DIALÉTICA 
- todas as coisas fluem; 
- podemos confiar em nossas percepções sensoriais. 
Pitágoras de Samos NUMERO, 
MATEMÁTICA 
- a matemática é o paradigma para o conhecimento 
genuíno e o raciocínio dedutivo é a chave da verdade 
metafísica. 
Filolau de Crotona NUMERO, 
MATEMÁTICA 
- o um (unidade) é o princípio de todas as coisas 
Árquitas de Tarento NUMERO, 
MATEMÁTICA 
- a música tem três médias, uma é aritmética, a 
segunda é a geométrica e a terceira é a contraposta 
que chamam de harmônica. 
Xenófanes TERRA - o todo é um. 
Parmênides de Eléia UNO, IMUTÁVEL, 
IMPERECÍVEL

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