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1- Histórico da fitoterapia

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Profa. PhD. Denise Botelho de Oliveira Braga
Universidade Federal Fluminense
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HISTÓRICO DA FITOTERAPIA
As plantas foram os primeiros medicamentos utilizados pelo Homem. 
Desde o período pré-histórico, o homem já sabia distinguir as plantas tóxicas, comestíveis e as que lhes poderiam ajudar na cura de seus males. 
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Todas as civilizações, em todos os continentes, deixaram registros das virtudes das plantas para fins alimentícios, medicinais e cosméticos. 
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Papiro de Ebers – descrição de muitas plantas, animais e remédios inorgânicos. Alguns como o coentro, o funcho, o alho, o sene e o absinto são usados ainda hoje.
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1ª experiência do Homem na área da preparação de medicamentos - produção de ópio a partir da papoula cultivada na Mesopotâmia (Iraque).
Papaver somniferum
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Por mais de 5.000 anos a arte da cura tem sido uma doutrina crescente e em constante mudança, entretanto ao se comparar a história da medicina em várias civilizações podemos perceber muitos paralelos.
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MEDICINA AYURVÉDICA
Medicina oficial na Índia
Veda = ciência ayur = vida
Princípios
Prana = força vital 
5 elementos: terra, ar, fogo, água e etéreo
Doshas
Vata - regido por ar e éter
Pitta - regido por fogo e água 
Kapha - regido por terra e água
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MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
BEN CAO JING = Tratado de árvores e ervas
Foi difundida pela Europa no século II d.C
Princípios: 
os 5 elementos: madeira, fogo, terra, metal e água
a relação entre Yin e Yang 
a circulação da energia Qi pelos meridianos
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MEDICINA GREGA 
Século V a.C. 
Empédocles descreveu a relação dos humores com os 4 elementos que asseguravam a vida:
a terra – bílis preta
o ar – sangue
o fogo - bílis amarela 
 a água – muco
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 Hipócrates (460-375 a.C.) 
Pai da Medicina
“É mais importante conhecer o tipo de pessoa que tem a doença, do que conhecer o tipo de doença que a pessoa tem.”
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Muitos médicos do século V a.C. pretendiam fundar a arte da medicina sobre 1 ou 2 princípios que sistematizavam toda a patologia.
Hipócrates criticou essa medicina “filosófica” e afirmou a autonomia da arte médica em relação à filosofia.
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“As doenças não são consideradas isoladamente e como um problema especial, mas é no homem vítima da enfermidade, com toda a natureza que o rodeia, com todas as leis universais que a regem e com a qualidade individual dele, que o médico se fixa com segura visão.”
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Mais do que um biólogo ou um naturalista, o médico deveria ser, fundamentalmente, um humanista. Um sábio que, na formulação do seu diagnóstico, leva em conta não apenas os dados biológicos, mas também os ambientais, culturais, sociológicos, familiares, psicológicos e espirituais.
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Introduziu a avaliação metódica dos sinais e sintomas como base fundamental para o diagnóstico.
Em termos de tratamento, advogava que dois métodos terapêuticos poderiam ser utilizados com sucesso:
Contraria Contrariis Curentur
Similia Similibus Curentur
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Desta forma, ele colocou a medicina em bases racionais, desligando-a da religião e da magia.
Corpus Hippocraticum - conjunto de manuscritos, de variada proveniência. São cerca de 60 tratados, de temática muito variada e distribuídos em mais ou menos 70 livros. Foi composto após a morte de Hipócrates, e alojado na Biblioteca de Alexandria.
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Os textos foram agrupados em:
Anatomo-fisiológicos
Patológicos
Terapêuticos
Cirúrgicos
Textos de carácter geral
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Século III a.C.
Theophrastus (371 – 287 a.C.)
1º livro sobre ervas no qual descreveu o uso de 455 plantas medicinais, muitas das quais ainda são utilizadas.
classificou as plantas por seu uso e forma de cultivo.
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MEDICINA ROMANA 
1ª forma de medicina preventiva 
estabeleceram a importância do uso de água limpa
dispuseram de sistema de esgotos
isolamento de quem estava com determinadas doenças
 Celsus (n 42 a.C. - m 37 d.C.)
guia para a prática médica - incluía plantas, minerais e tb venenos como mercúrio, arsênico e chumbo.
descreveu a inflamação introduzindo os quatro sinais clássicos: rubor, calor, tumor e dor.
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MEDICINA ROMANA 
Dioscórides (40-90 d.C) 
herbário descrevendo 600 plantas, ilustrado a cores
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MEDICINA ROMANA 
Galeno (129 a 200 d.C) 
1º a combinar ervas na prática médica ocidental. Estas misturas eram conhecidas como galênicas, um termo utilizado até hoje.
1ª a se preocupar com o controle de qualidade, incentivando os funcionários públicos romanos a fiscalizar o conteúdo dos remédios.
Pai da Farmácia – criou o 1º sistema terapêutico racional.
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MEDICINA PERSA/ÁRABE
Séculos III, IV e V (476 dC): declínio do Império Romano
reduziu o avanço do conhecimento na Europa, inclusive na teoria médica e herbal.
Séculos VII e VIII: surgimento do Islã e a proeminência do Império Muçulmano
os persas e os árabes mantiveram as idéias de Galeno, mas adicionaram os seus próprios remédios como a cânfora e o bórax.
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MEDICINA PERSA/ÁRABE
Século XI - Avicena (980-1037)
“The Canon Medicinae” - enciclopédia médica que tornou-se a base para o conhecimento no Ocidente por muitos séculos. Compreendia 5 livros:
I- Generalidades,
II- Matéria médica
III- Doenças da cabeça aos pés
IV- Doenças não específicas de órgãos
V- Drogas compostas
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MEDICINA NO OCIDENTE
Séculos XII e XIII: Império Muçulmano declinou
Séculos XIII a XVII: renascimento da cultura européia
A idéia da medicina personalizada foi desafiada na Europa pela ascensão da investigação experimental, principalmente pela dissecação.
Poucas drogas eficazes existiam, além do ópio e do quinino.
Curas espirituais e o uso de venenos e metais eram tratamentos populares e ineficazes.
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Séculos XVI e XVII
Época onde epidemias como a peste bubônica, a malária e a sífilis tiveram que ser enfrentadas.
invenção da impressão - produção de muitos trabalhos sobre ervas.
traduções de trabalhos médicos do grego clássico para muitas línguas.
William Turner (1568), Jonh Parkinson (1640) e Nicholas Culpepper (1652) - herbalistas estabeleceram o uso para muitas das ervas que nós usamos hoje.
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Séculos XVIII e XIX
Renascimento da idéia de higiene e saúde, que os romanos introduziram séculos antes.
William Whithering (1785) - Digitalis (dedaleira), útil no tratamento da hidropisia (hoje utilizada para problemas cardíacos).
Geiger (1785-1836) – farmacêutico alemão, em colaboração com o químico Hesse, descobriram a atropina, cicutina e a aconitina. 
Pelletier e Caventou (1820) - químicos franceses identificaram o alcalóide quinina. 
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O escocês Jenner, o francês Pasteur, o alemão Koch, e o inglês Lister reconheceram que microorganismos poderiam ser responsáveis por doenças infecciosas e que muitas doenças e epidemias eram transmitidas de pessoa para pessoa e pela falta de higiene.
Jenner (1749 - 1823) - vacina contra varíola 
Pasteur (1822 - 1895) - pasteurização e vacina antirrábica
Koch (1843 – 1910) - carbúnculo e tuberculose
Lister (1827 - 1912) - antissepsia e esterilização de instrumentos cirúrgicos
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Até a metade do séc. XIX os medicamentos eram formulados basicamente a partir de plantas, isto só mudou com a síntese da aspirina pela Bayer em 1897. 
Mesmo assim, os extratos de plantas e substâncias puras seguiram sendo a base da terapêutica até a década de 1940. 
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1ª Guerra Mundial (1914/1918), Revolução Russa (1917) e 2ª Guerra Mundial (1939/1945) - o alívio da dor era um dos maiores interesses e foi conseguido usando substâncias naturais como álcool, ópio e hioscina.
Século XX 
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O Homem aprendeu a isolar os componentes ativos das plantas e adaptá-los  foi o nascimento da indústria farmacêutica.
Com a grande compreensão da fisiologia humana durante a segunda metade do século a indústria farmacêutica foi-se desenvolvendo cada vez mais.
Mais e mais componentes foram descobertos, isolados das plantas e copiados, surgindo assim, os medicamentos sintéticos (originados de produtos do petróleo).
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Entretanto, cerca de 44% dos remédios utilizados pela medicina convencional são feitos a
partir de substâncias extraídas de vegetais. Ex.: atropina, morfina, pilocarpina, digoxina, taxol, vincristina...
Diferente dos gregos e romanos que não tinham um claro entendimento de como o corpo humano funcionava, a Fitoterapia moderna tem as vantagens das descobertas feitas durante o século XX.
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Situação atual da Fitoterapia
Reconhecimento das potencialidades das plantas medicinais gerou crescente interesse em todo o mundo pelos assuntos ecológicos e pelos remédios naturais.
Muitas plantas utilizadas pela medicina tradicional precisam ser identificadas e testadas para comprovar suas utilidades terapêuticas.
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Situação atual da Fitoterapia
A destruição dos habitats naturais causa grande preocupação para muitos no campo da fitoterapia.
Conferência de Chiang-Mai (OMS, 1987) - pedido para “salvar as plantas que salvam vidas”, em um alerta contra o extrativismo desordenado.
OMS (2006) - cerca de 80% da população mundial consomem remédios à base de ervas e plantas medicinais.
 pelo menos 30% deu-se por indicação médica
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Fitoterapia no Brasil
Estima-se que 4 milhões de brasileiros lancem mão de alguma forma de terapia complementar para tratar doenças.
MS (2006) - aprovou a PNPIC no SUS, na qual considera que a Fitoterapia é um recurso terapêutico caracterizado pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas e que tal abordagem incentiva o desenvolvimento comunitário, a solidariedade e a participação social.
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Fitoterapia no Brasil
Brasil - 200 grupos étnicos diferentes, grande diversidade de ecossistemas, flora estimada em 55 mil espécies, 99,6% é desconhecida quimicamente.
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Fitoterapia no Brasil
A fitoterapia existe principalmente no mercado informal.
Grande perigo à saúde da população
comercialização de drogas vegetais sem controle fitossanitário e de identidade e pureza.
Mercado brasileiro é carente em profissionais com uma sólida formação para trabalhar com a fitoterapia.
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Fitoterapia na Medicina Veterinária
Diário do Comércio & Indústria (2004) - apenas 1% do mercado de fitoterápicos no país é voltado ao segmento veterinário, porém é o setor que mais cresce: cerca de 25% ao ano.
Vantagens da fitoterapia:
facilidade em obter as plantas (diversidade) 
baixo custo
alta eficácia com baixa toxicidade e efeitos colaterais
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Fitoterapia na Medicina Veterinária
Usuários
Grandes animais
agricultura familiar e produção agroecológica 
Pequenos animais 
quando o proprietário tb usa terapias naturais
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Na Medicina Veterinária, a fitoterapia não significa apenas intervir no processo de cura de doenças. 
Teoria da ecologia médica - enfatiza a relação estabelecida entre os componentes da chamada tríade epidemiológica (agente causal, hospedeiro e ambiente). 
Fritjof Capra (1997) - a arte de curar é algo mais integrador dos aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais, ambientais e espirituais. 
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Quando um MV, deixa um receituário com uma lista enorme de medicamentos, não adequado à baixa renda do proprietário, gera: 
perdas econômicas pela permanência da enfermidade e, consequentemente, perda da produção; 
perdas sociais pelas conseqüências negativas na saúde física e emocional, que a baixa condição econômica provoca. 
Agricultura Familiar
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CENSO IBGE, 2006
84,4% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares  12,3 milhões de pessoas em cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos familiares.
Na produção nacional, a AF foi responsável por 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos.
38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária são produzidos por agricultores familiares. 
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Na produção animal - demanda cada vez maior por produtos agropecuários livres de resíduos de produtos químicos (orgânicos, ecológicos, biodinâmicos).
Resíduos de antibióticos, parasiticidas e outros, quando desprezados períodos de carências para eliminação metabólica deste produtos, acabam por atingir também o ser humano.
Produção Agroecológica
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A manipulação de produtos tóxicos podem provocar danos à saúde, por mais que estejam disfarçados sob o nome de “defensivos agrícolas” ou de “remédios”. 
Porto Alegre e entorno - em várias pequenas propriedades familiares de produção de leite, são as mulheres que estão aplicando banhos carrapaticidas nas vacas, sem nenhum equipamento de proteção. Justificativa: os homens estão “alérgicos” e muitos sentem náuseas apenas em sentir o cheiro destes produtos.
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 No mercado de produtos orgânicos, a produção de carnes (aves, bovinos, suínos e ovinos), produtos lácteos e mel, quando comparada à produção de vegetais, representa aproximadamente 5%. 
Nos últimos 4 anos, o mercado brasileiro foi um dos que mais cresceram no mundo, com taxas de 35 a 50% ao ano.
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Pequenos animais
Brasil é o terceiro do mundo no mercado pet.
Existem mais de 45 milhões de cães, mais de 11 milhões de gatos, 4 milhões de pássaros e, ainda, 500 mil aquários espalhados por todo o Brasil. 
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Considerações finais
A pesquisa e o uso de plantas medicinais devem partir de conhecimentos locais, como forma de afirmação em políticas de identidade cultural e de conhecimentos gerados na sociedade.
É necessário um aprendizado com dimensões multidisciplinares, integrando diversas áreas do conhecimento como por exemplo as Ciências Sociais, a Antropologia, a Botânica, a Agronomia, a Farmácia, a Química e a Medicina (Veterinária e Humana).
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A importância econômica das plantas medicinais é tão relevante que, cada vez mais, existem denúncias sobre a biopirataria como forma de expropriação de conhecimento e de matéria médica vegetal e animal dos povos e países em desenvolvimento. 
Nos EUA, empresas farmacêuticas privadas e institutos públicos (como o Instituto de Saúde) fazem pesquisas com plantas recolhidas da África, Ásia e América Latina. O que certamente significam lucros de milhões de dólares. 
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A história tem demonstrado que o resultado destas pesquisas tem sido apropriado por poucos, sem retorno para a comunidade ou o país de origem do conhecimento popular sobre a matéria médica vegetal. Por ex., Biancarelli (1999) alertou que as propriedades ativas da “espinheira-santa” e do “ipê-roxo”, utilizadas no combate de alguns tipos de câncer, já pertencem ao Japão. 
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Cena III, Ato II, Romeu e Julieta 
(Shakespeare, 1564-1616) 
 “Imensa é a graça poderosa que reside nas ervas e em suas raras qualidades. Porque na Terra não existe nada tão vil que não preste à Terra algum benefício especial. Dentro do terno cálice da débil flor residem o veneno e o poder medicinal”.
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