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O QUE É OPINIÃO PÚBLICA

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O QUE É OPINIÃO PÚBLICA	
	Que vem a ser “opinião pública”? Como se forma ou influencia a opinião pública? Quais os meios de acesso a ela? Trata-se de processo necessariamente longo?  Ou podem encontrar-se atalhos e veredas capazes de encurtar o trajeto? Quem precisa manter-se em bons termos com ela? Como? 	As respostas a essas perguntas encheriam tratados. Meu objetivo, aqui, é somente discutir a opinião pública e sua mecânica como elemento de formação de imagem no contexto dos grupos de interesse e pressão. Sirvo-me para esse fim, em grande parte, de uma palestra de 1980 aos estagiários da Escola Superior de Guerra (ESG). O tema dado era “Como se forma a opinião pública no Brasil”, Uma década depois, o texto ainda se mantém vivo. Adaptei-o aos propósitos deste livro. Mas não mudei os conceitos emitidos então, os quais continuam válidos. Não existe definição geralmente aceita de opinião pública. Ou, mesmo, do que seja público, no singular ou no plural. Em qualquer comunidade, não faltam opiniões individuais acerca de qualquer assunto. Porém os sociólogos encontram, na acepção de opinião coletiva, mais que simples “Soma das opiniões individuais sobre um assunto". Alguns autores caracterizam a opinião pública como “organização, produto cooperativo de comunicação e interesse  recíproco”. Para não ficarmos sozinhos na incerteza da definição, registro o que diz Harold Childs, em opinião pública: Natureza, Formação e Papel. 	
	 “Opinião Pública não é o nome de uma coisa, mas a classificação de grande  número de coisas”.	 
	Instado a dar uma definição de “opinião pública”, ofereço a seguinte, baseada na concretude do grupo, do assunto e do tempo: 	
	“Opinião pública é a expressão do sentimento de um grupo social concreto sobre questão determinada, em momento dado”. 	
	 A primeira característica da opinião predominante no grupo social, num dia qualquer, é sua mutabilidade. (Os jogadores brasileiros de futebol começam toda Copa do Mundo como “ heróis”, paladinos da honra nacional.Perdida a oportunidade de sagrar-se campeões mundiais, voltam ai País como vilões. O técnico esse tem de driblar público e imprensa, a fim de evitar o opróbrio e a agressão que lhe reservam.) Por essas e outras razões, afirmo que toda manifestação de opinião pública é só uma foto: retrata um momento fugaz. É, simultaneamente, volúvel e volátil: você a vê uma hora, busca-a uma hora depois, e ela pode ter mudado ou desaparecido de todos, e até sem deixar vestígios. Nem sempre os sentimentos que informam a opinião pública são expressos ou visíveis. Observadores atentos relatarão numerosas instâncias, nas quais a opinião pública permanece em estado latente.Aflora se e quando se criam condições apropriadas. Capazes de tornar oportuna a manifestação objetiva  do sentimento coletivo preexistente. Ao raro, isso ocorre de modo inesperado e, nesses casos, com efeitos devastadores sobre equações baseadas na sua ignorância ou menosprezo. É preciso lembrar, entretanto, o caráter até certo ponto contraditório do conceito de opinião pública . A saber: o seu componente pessoal e a sua resultante coletiva. Ou, como afirma com tanta clareza a professora Sarah Chucid de Viá: 	
	“Opinião pública é fenômeno coletivo, porém se apóia numa realidade individual”. 	
	Essa dualidade, o individual sobre o coletivo. É rua de duas mãos, como espero deixar claro ao tratar da formação de conceitos, nos planos individual e coletivo, mais adiante, neste bloco de capítulos. Do mesmo modo que a realidade individual sustenta o fenômeno coletivo, assim também a opinião coletiva  condiciona e determina as atitudes dos indivíduos  no interior do grupo social. Os rebeldes, os que divergem das normas, desafiam o status quo, são figuras isoladas, bizarras. São rejeitados até se tornarem maioria e o resto do grupo começar a seguir seus passos, idéias, opiniões.
AGENTES DE OPINIÃO POLÍTICA 	
	A  opinião das pessoas se forma no íntimo de cada uma, sob limitações e condicionamento das suas características próprias. A par da íntima, a aquisição de informações pode ser espontânea: fruto da curiosidade, do desejo de saber, ou induzida pelos inúmeros agentes que atuam dentro ou em torno do grupo social. Entre tais agentes, numa visão simplificada, são de interesse imediato para esta análise: os agentes internos, interagindo dentro do grupo, e os agentes externos, que vêm a ele. Vejamos: 					1. A  incorporação da informação ao pensamento da pessoa faz-se por  meio de um complexo processo, em virtude do qual as impressões  e percepções são filtradas, fecundadas, caldeadas, amalgamadas, modificadas pelo caracteres próprio da pessoa. Entre estes: tradição, conformismo, conservadorismo; e, a contrário senso, gosto de inovar , apetite para quebrar padrões,  desejo  de romper o convencional. 
	2. Nesse processo entram em jogo: a educação e a vivência familiar, profissional e social, a qualidade de vida, existência, acesso, tipo e especialização do trabalho disponível  e sua remuneração, proximidade física das pessoas e a intimidade, forçada ou por escolha, do seu convívio. Esses são, além de outros, uns poucos dos principais agentes internos de formação de opinião. Médicos reagem às questões em termo de saúde; trabalhadores querem saber se e de que modo novas idéias e propostas afetarão emprego, salário e capacidade de manter a família e, se possível,  progredir na vida; advogados inquirem ao lado legal das coisas, e assim por diante, cada qual com a sua “deformação profissional”. Em outro plano, as reações dos ricos nada  têm a ver com as da classe média; e as desta têm pouco em comum com as dos pobres. Moradores de prédios de luxo mal se conhecem e pouco ou nada  convivem; as opiniões de cada um são solenemente ignoradas pelos demais. No outro lado do aspecto social, os favelados, forçados à proximidade,têm de conversar entre si, no mínimo para passar o tempo. E, dessa maneira , formam facilmente idéias e sentimentos coletivos. 			3. Os agentes “externos “ ao grupo social também influenciam o processo de formação de opiniões individuais. Em particular, nos pontos de contato obrigatório... casa, escola, condução ou local de trabalho. Opiniões e conceitos de pais, irmãos, parentes mais velhos, amigos, compadres, professores ou chefes carregam o peso  relativo à preeminência familiar, cultural, funcional, do interlocutor. Ainda entre os agentes externos, em contato permanente ou com presença assídua junto ao grupo social, contam-se: o prestador de assistência social; o policial; o homem de venda, que dá ou nega crédito; líderes políticos, locais ou distantes; o bicheiro e o traficante; os portadores de carisma próprio ou derivado da função que exercem: padre, patão, médico, delegado. Todos ele contribuem para condicional as opiniões  individuais. Desse modo, exercem seu papel de formar, dirigir, orientar, modificar e fundir a opinião coletiva em bloco mais ou menos uniformes. E, assim, prepará-la a emergir e manifestar-se em hora oportuna. 		
	4. Impressões e percepções  se formam no insubstituível comércio de experiência entre as pessoas, ao qual se dá o nome adequado de “troca de idéias”: o convívio, as conversas, o intercâmbio de notícias , de fatos e “ causos “,entre amigos, companheiros, colegas, em qualquer lugar e hora, na fila da condução ou nos pontos de lazer. 	
	5. Os meios de comunicação de massa criam hábitos, modo de ser, conceitos, aspirações e padrões  de comportamento. A mídia... principal instrumento de transmissão de mensagens das empresas aos consumidores... induz  mudanças no relacionamento entre as pessoas, dentro e fora da família, e tende a colocá-lo em contexto diverso do da cultura de grupo. Aproxima das possibilidades de cada um o sonho de uma vida melhor que a atual. Expõe com dramaticidade os dados da vida social. os problemas  da pobreza, os méritos e deméritos  dos padrões... Antigos e novos... pelos quais a sociedade deve pautar-se.
CAUSAÇÃO CIRCULAR CUMULATIVA	
	Diz o sociólogo e senador Fernando Henrique Cardoso ( concordo com ele) que, de todos osveículos de massa, a televisão é o mais eficiente e o mais dominador na rotina das famílias. Crianças e adolescentes passam mais tempo diante da telinha azul do que estudando, brincando, fazendo os deveres de casa. Ou qualquer outra coisa, exceto dormir. (Uma vez admirei-me de ver , debaixo do tórrido sol de Manaus, que as mocinhas calçavam incongruentes e coloridas meias de lã. Até descobrir que, simplesmente, imitavam as heroínas da novela “Dancing Days”, da Rede Globo.) Imagens e mensagens  recebidas pelos meios de comunicação de massa ou pela tradição oral passam por filtros que as editam, interpretam,. No convívio entre pessoas do  mesmo grupo, ou nas explicações reinterpretativas  dos agentes (internos ou externos), a informação é adaptada à vivência de cada um e, portanto, levada ao seu nível de compreensão. Escrevendo em junho de 1989 em O Globo, o cardeal d. Eugênio Salles, arcebispo do Rio de Janeiro, fez advertências que vale a pena reproduzir  sobre “abusos na Comunicação Social” e seu papel na formação de opiniões coletivas e na aceitação de hábitos e formas de conduta social:	
	 “A atual amplitude e impressionante rapidez das comunicações tornam mais grave o problema e mais aguda a responsabilidade de dirigentes e usuários desses instrumentos que transmitem e recebem imagem e idéias”. 	
	“Há anos nossos dias... acrescenta o arcebispo fluminense... uma incrível e extraordinária possibilidade em construir ou destruir uma civilização e facilmente levar a termo uma tarefa gloriosa ou degradante".
	 Essa tarefa se realiza, afirma D. Eugênio, por intermédio de “fatores... interligados por um processo chamado 'causação circular cumulativa', um agindo sobre o outro,aumentando assim sua força demolidora”.	 (D. Eugênio deixou de acrescentar que a força de circulação de informação pode ser também construtiva... como se verifica  pelo apostolado cristão, ao longo de vinte séculos. De qualquer modo, ninguém negará ou minimizará, a importância dos meios de comunicação de massa como principais educadores... deseducadores?... sociais da atualidade.) 	Enquanto transmite conceitos novos e informações instantânea ao redor do mundo, a mídia torna cada um de nós testemunhas presentes, ativas e constantes da história, no momento em que esta se faz. Ao mesmo tempo,a mídia cria heróis e vilões (ou transforma uns em outros) instantaneamente; constrói  mitos, derruba sentimentos e padrões. Em poucas décadas, se tanto, seremos todos produtos dos formadores de opinião e dos que a levam a nossa casa, ao nosso trabalho, à nossa vida, devidamente preparada, selecionada, empacotada.
COMEÇO DE OPINIÃO	 
	Sob tais influências, os novos padrões de pensamento e modos de ser, o fraseado  adquirido, a nova semântica, os padrões morais e éticos modificados são traduzidos para termos inteligível, no ambiente das pessoas. Daí resultam desejos mais ou menos  profundos de emulação,melhoria de vida, progresso profissional; a adesão à moda  no vestir, falar, morar, empregar o tempo de lazer, alimentar-se, cuidar dos filhos, adquirir produtos e símbolos de status. A medida que essas idéias , palavras, frases de gíria e atitudes vão sendo assimiladas e repetidas, começa a emergir o “ sentimento coletivo”. Isto é : dão-se os primeiros passos para existir opinião coletiva, ou pública. Estabelecida opinião coletiva não necessariamente (aliás quase nunca) unânime do grupo social, cria-se um novo conjunto de parâmetros, em face dos quais se interpretam os fatos subseqüentes. (Durante o tempo em que foi ministra da Economia, a dra.Zélia Cardoso de Mello deu centenas, se não milhares, de entrevistas a jornais, revistas, rádio e TV. Comunicação simples nunca foi o forte da ministra que, literalmente, se “enrolava” nas palavras utilizadas para “vestir” formulações teóricas. A grande maioria simpatizava com ela mas não a compreendia. Até que o empresário e apresentador de televisão Silvio Santos a entrevistou no seu SBT. Silvio perguntava, Zélia respondia; Silvio Santos “ traduzia” em populês” o”economês” da ministra. Então , mais gente entendeu...) Sem querer tirar carta de moralista, um exemplo marcante da aquisição , mais por imposição que por aceitação,de novos parâmetros de comportamento social é a atitude das pessoas relativamente às questões  de fidelidade conjugal, virgindade e consumo de drogas e entorpecentes. Até pelo menos a década de 70, esses três tabus eram dos mais enraizados da vida brasileira. Atualmente, não se pode dizer o mesmo, As opiniões , a sociedade adota novos padrões e a eles se adapta. Agora, porém, de tanto ver os novos padrões glorificados na televisão, em novelas de imensa audiência, as pessoas incorporam à sua maneira de pensar a sensação de que ser fiel ao cônjuge (dos dois lados) é símbolo de ser “ quadrado”. Que ser virgem é “caretice”. E “ puxar fumo”, a coisa mais normal da vida na juventude. Nas famílias que não pensam assim, agrava-se o conflito entre as diferentes gerações. Outro exemplo (inverso) na política: nem toda a força da oposição mais ilustre, inteligente, impiedosa e veemente, ajudada pelos meios de comunicação, foi capaz de mudar a imagem de “pai dos pobres construída pacientemente pelo e para o presidente Getúlio Vargas. Durante quatro décadas, a presença ou a memória de Vargas  foi o grande trunfo eleitoral  brasileiro. Hoje, mais de três décadas e meia depois do suicídio, o governador Leonel  Brizola ( cunhado de João Goulart, herdeiro político de Getúlio) e o ex-governador Wellington Moreira Franco (casado com uma neta de Vargas) ainda tiram fotos diante do”retrato do velho” na esperança de ser  com ele identificados. O fato de suas opiniões coincidirem ou não com as de  Vargas é irrelevante. Nem por ser freqüentemente inexplicável , ou irracional, a opinião pública é menos concreta. Ou menos cruel, como atestam políticos sistematicamente rejeitados e os fabricantes de produtos lançados ao mercado depois de intensamente pesquisados... e apontados à industria como “ o sonho dos consumidores”..., que fracassam redondamente. Dois casos clássicos são: o automóvel Edsel, no qual a Ford perdeu  centenas de milhões de dólares, e, mais recentemente, a frustrada mudança de sabor da Coca –Cola, para aproximá-lo do da sua arqui-rival Pepsi-Cola. Os consumidores da Coke diziam  apreciar mais o sabor  Pepsi. Mas, com igual convicção, rejeitaram a  alteração do gosto: forçaram o fabricante a voltar ao velho sabor, agora denominado Classic.
O MOSAICO DA OPINIÃO PÚBLICA 	
	Sob essas premissas, gosto de dizer que a opinião pública é como esses retratos em mosaico que adornam igrejas européias. Milhares e milhares de pedrinhas, de diferentes formas e cores, arrumadas de certo modo produzem determinada imagem. Desarrumadas, misturadas... confundem-se e nada dizem. Observadas de muito perto,enxergam-se as pedras mas não o efeito de conjunto, o quadro geral, o retrato propriamente dito. Porém vistas na distância correta mostram a figura pacientemente montada e arrumada pelos especialistas e expertos. Esse mosaico se revela, às vezes, sob a forma do fenômeno igualmente inexplicável de aceitação ou rejeição de produtos, seus nomes, marcas e empresas que os fazem. Também aí o comportamento das pessoas e coletividades é muitas vezes, irracional. Como se pode dizer a respeito do hábito de fumar. Autoridades sanitárias de todo  o mundo advertem contra os riscos à saúde que envolve; mas o sucesso dessas campanhas é apenas relativo:agricultura e industria do fumo continuam a  prosperar.  Usam os seus lucros para diversificar operações. à espera da proibição formal  e total do fumo. (No Brasil , essa advertência era um monumento à inépcia na comunicação, Lamentável erro invertia a hierarquia dos avisos. O secundário... “O MINISTERIO DA SAUDE ADVERTE”... aparecia em letras grandes; o essencial... “Fumar é prejudicial à saúde”... em letras pequenas. Novas normas dão o tipo e o corpo em que devem ser grafadas as palavras.)
SENTIMENTOS GREGÁRIOS	
	A opinião pública envolve e expressa conceitos necessariamente gregários.Sentimentos sofisticados  ou primitivos, como a fé e o medo, tendem a congregar pessoas que os experimentam. Do mesmo modo, afinidade de opiniões... políticas, sociais, culturais, comerciais... aproximam e criam laços  semelhantes entre elas. Algo como o dito latino referente a similia similibus curantur. Acontece aí  a “causação  circular cumulativa” referida por D.Eugênio Salles. Explico: Na hora do medo, até a companhia de outros  medrosos é preferível à solidão: a solidariedade diante do perigo,real, potencial ou imaginado dá segurança e conforto.Na política, é também assim. Democratas freqüentam democratas. Socialistas discutem política entre si: as convicções de uns reforçam as dos outros. Sendo o homem animal associativo, até anarquistas preferem viver entre seus. (Essa é uma das razões para o lobista trabalhar seus interlocutores um a um: é mais difícil  convencer quatro adversários junto.) Da mesma forma, e pelas mesmas rações, os crentes vão à igreja ouvir os pastores  de sua fé, de preferência aos de outra religião. (Os padres da minha adolescência  me ensinaram que a palavra religião tem raiz dupla. Uns a  derivam de religare, que significa religar o que estava separado, desunido. Outros,de religere, reeleger ou reescolher. Seja qual for a etimologia certa, a prática de religião contém a idéia de congregar valores afins. E as pessoas  que neles acreditam.) Em termos atuais, e na prática, os comícios dos candidatos, bem como o horário de propaganda na TV, são assistidos quase só  pelos partidários de quem se apresenta. Exceto os adversários, eventualmente  desejosos de conheceras “armas” dos seus contendores, seus pontos fracos, poucas pessoas têm paciência para ouvir a monocórdia cantilena dos candidatos. Conhecidos, desconhecidos e anônimos. Acontece o inverso na comunicação empresarial. Como as apresentações desta são neutras, em relação ao leitor, ouvintes ou espectador, e geralmente feitas com mais talento, arte e ritmo, os comerciais das empresas, em dias e programas comuns, têm maior audiência e recebem mais atenção que as monótonas apresentações políticas. O que se comprova na velocidade e volume de vendas dos produtos anunciados.
PESQUISAR É PRECISO	
	Ninguém chega a saber realmente o que é a opinião pública, se não se mistura a ela.  É preciso conversar; voltar-se “para fora”; ouvir e compreender o que dizem e sentem as pessoas. Mesmo que elas não saibam expressar em frases o que pensam. Há vários instrumentos adequados para medir a opinião pública. Abrangem desde a leitura dos jornais à contagem e medição das notícias publicadas, à enquete de rua feita pelo rádio e pela TV e à pesquisa formal... planejada e estruturada, para qualificar sentimentos e opiniões simples..., indicativa de preferência, simpatia, apoio ou disposição de compra, sobre pessoas, idéias e produtos. Pesquisar a opinião pública é tarefa para especialistas, dos quais há numerosos no Brasil. Os mais antigos e conhecidos são o Gallup, de renome internacional, e o IBOPE... Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, o Data Folha , da Folha de São Paulo, e o Informo Estado, do  O Estado de São Paulo, além do Vox Populi, de Belo Horizonte,entre outros.”Dar ibope” está consagrado pela sua dicionarização, que Aurélio Buarque de Holanda Ferreira registra com a acepção de prestígio. A pesquisa sistemática de opinião,envolvendo questionários, perguntas e respostas é excelente para obter  reações do tipo “sim” ou “ não”. Ou para seleção de uma hipótese preferida ou mais próxima de  representar o pensamento de quem responde . dentre as oferecidas pelo pesquisador. O mais difícil , nessa área, e de custo mais elevado, é a “construção de amostra”. A saber: determinar quantas pessoas ouvir, em que lugares, segundo características de sexo, estado civil, idade, profissão, classe de renda familiar, escolaridade, etc. Amostras bem construídas baseiam-se na eqüiprobabilidade da representação dos subgrupos que integram o grupo social pesquisado. Por isso, reproduzem, em microcosmo, o universo  do qual foram extraídas. Nas pesquisas de opinião, o rigor da amostra é mais importante, visto que se propõe determinar o número de votantes ou pessoas com   intenção de compra. Isso porque a intenção  ou decisão de votar num ou noutro candidato é fato íntimo, pessoal, e formalmente independente de valorização externa (o voto do pobre analfabeto vale exatamente o mesmo que o do rico doutor). Já o resultado da investigação do desejo de comprar é condicionado, entre numerosas outras circunstâncias, à disponibilidade de recursos necessários. Pesquisas do tipo descrito acima  servem para avaliar reações  quantitativas, tais como determinar a extensão (mas não a profundidade) da penetração das idéias, conceitos,produtos, nomes, propostas ou marcas. Seu resultado é  representado, em geral, pelo número de pessoas que na amostra dada, declaram conhecer, ter lido, ouvido falar, visto, ou desejam adquirir o objeto do inquérito.Pesquisas quantitativas não servem, entretanto, para indicar as razões ou motivos da preferência. (O processo de aquisição de informação... e, portanto, de formação de opinião... é essencialmente subjetivo, inconsciente.) Cumpre lembrar, por fim, os seguinte: o cuidado  empregado na construção da amostra tem de ser redobrado quando os testes preliminares revelam índices altos de indefinição (resposta típicas: “ não sei”, não tenho opinião ou “ ainda não decidi”). O número físico de pessoas entrevistadas não é importante, por si; mas será tanto maior, ou menor , conforme o número de variáveis implícitas na pesquisa. Assim, com apenas dois candidatos à presidência dos Estado Unidos, e uma sociedade razoavelmente estratificada, uma amostra de 1.500 eleitores, pesquisadores por telefone (que todo mundo tem).costuma apresentar resultados bastante acurados para aquele  pai. No Brasil, com duas dúzias de candidatos... e uma sociedade em busca de  identificar-se, além de imensas discrepâncias na distribuição dos bens econômicos e sociais... a amostra requer maior número de pessoas. É verdade que as pesquisas de intenção de voto têm servido, em nosso país, para “ depurar” as candidaturas, reduzindo-as, de facto, às duas ou três mais viáveis. Nenhuma pesquisa, entretanto , é isenta de erro estatístico previsíveis. Ou de erros não-intencionais das respostas: pessoas procuram responder as perguntas de modo a tentar melhorar  seu perfil social. Um antigo pesquisador de opinião pública resumiu a questão dizendo: “They say that they do, but they don't. Ou seja: eles dizem que fazem, mas não fazem. A recíproca  também é verdadeira. Os interessados em conhecer mais profundamente as motivações que levam as pessoas a agir ou pensar determinada maneira  recorrem a formas mais sofisticadas de investigação... com escassa possibilidade de reduzir os resultados a números percentuais: pesquisa motivacionais conduz a resultados qualitativos, não quantitativos. Ocupar-se da opinião pública, ou utilizar-se dos instrumentos próprios a influênciá-la é como trafegar por uma auto-estrada de várias pistas: cada uma têm função própria. Sem mencionar, é claro, talento e savoir faire, revistos ao longo deste livro.

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