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Hipertensão na Gestação MD 942 – P1 – Profa. Maria Laura – Aula 1 Introdução A pré-eclâmpsia é uma doença grave relacionada com o aumento da pressão arterial, que pode se instalar de forma rápida. Ela pode acontecer em qualquer gestante durante a segunda metade da gravidez ou até seis meses após o parto. A identificação precoce da pré-eclâmpsia é muito importante para as mães e seus bebês. Os riscos para a mãe incluem convulsões e morte, e para o bebê incluem nascimento prematuro e morte. É uma doença multifatorial e multissistêmica, cujo desenvolvimento relaciona-se com distúrbios da placentação secundários ao desbalanço entre fatores pró-angiogênicos e anti-angiogênicos. A apresentação clínica da doença é variável e depende da idade gestacional em que ocorre a pré-eclâmpsia (mulheres com pré-eclâmpsia precoce apresentam maior comprometimento placentário e pior prognóstico). Epidemiologia pré-eclâmpsia é uma complicação presente em 3 a 12% das gestações (BR: 6,7%). apresenta um grande impacto em morbidade e mortalidade maternal e perinatal, sendo a principal causa de morbimortalidade materno-fetal no Brasil (21%) as complicações maternas incluem: eclampsia, acidente vascular cerebral e danos hepáticos e renais Sinais de Alerta dor de cabeça forte que não desaparece com medicação dificuldade para respirar ou se sentir ofegante náusea ou vômito após os três primeiros meses da gestação inchaço no rosto e nas mãos alterações na visão, como borramento, luzes piscando ou perda de visão ganho de peso de 1 kilo ou mais em uma semana dor no abdome na região direita próximo ao estômago Fisiopatologia da Hipertensão Arterial na Gravidez As trocas materno-fetais ocorrem no vilo terminal. Nas primeiras 20 semanas de gestação, deve haver uma invasão trofoblástica da parede da arteríola espiralada. A arteríola espiralada apresenta um miométrio rígido, sendo invadia pelo trofoblasto e por células imunes, de forma a ampliar o lúmen da célula e dos vasos, garantindo uma vascularização adequada. Em uma situação de placentação normal, tem-se uma invasão trofoblástica extensa na musculatura uterina, formando um espaço interviloso robusto e bem irrigado. No entanto, na placentação inadequada, tem-se uma invasão trofoblástica inadequada, com rarefação vascular e menor perfusão placentária (vasoconstrição). Por um defeito ou predisposição genética, tem-se uma disfunção da adaptação imunológica na formação da placenta, levando à lesão de células endoteliais. Com a anormalidade da placentação e deficiência da invasão citotrofoblástica de arteríolas espiraladas, tem-se a liberação de fatores citotóxicos na circulação materna, promovendo isquemia generalizada, levando à lesão do endotélio placentário, promovendo uma disfunção multissitêmica no organismo materno. Consequências Laboratoriais lesão endotelial é tamponada por plaquetas consumo plaquetário plaquetopenia severa ( 500g/semana Profilaxia/Terapêutica Sulfato de Magnésio IV estabiliza a membrana neuronal, vasodilata a microcirculação e auxilia no controle pressórico Sem Tratamento creatinina + ácido úrico Complicação isquemia renal severa, necrose renal e edema generalizado Comprometimento Vascular Alterações no Fundo de Olho: espamos segmentares e áreas de hemorragia. Comprometimento Hepático O vasoespasmo pode levar à isquemia hepática, comprometendo a função hepática de produção de fatores de coagulação e de albumina, além de levar à lesão de hepatócitos. Com isso, na pré-eclâmpsia, tem-se: fatores de coagulação hipoalbuminemia elevação de transaminases (> 70 U/L) Sinais Clínico aumento da resistência vascular periférica aumento das enzimas hepáticas redução dos fatores de coagulação distensão da cápsula hepática por edema dor epigástrica (em loja hepática) ou dor no ombro (irritação do nervo frênico) icterícia Comprometimento Placentário Em nível placentário, tem-se áreas progressivas de infarto, com perda de fluxo sanguíneo. Os vasos placentários estão obstruídos pela aterose aguda, havendo perda de função da placenta. Em consequência disso, tem-se baixo fluxo sanguíneo para o bebê, com restrição de oxigênio e nutrientes hipóxia crônica e restrição do crescimento intrauterino (RCIU) fetal. Além disso, pode haver o descolamento prematuro da placenta, por pico hipertensivo com acidente vascular na placenta, levando também à hipóxia crônica e restrição do crescimento intrauterino (RCIU) fetal. Comprometimento Cerebral No cérebro, há isquemia e edema (sinal clínico: cefaleia). A disfunção cerebral por isquemia leva à crise convulsiva (por encefalopatia hipertensiva), coma e lesão encefálica grave. Aspectos Diagnósticos de Doenças Hipertensivas na Gestação Classificação de Doenças Hipertensivas na Gestação Eclâmpsia: ante-parto (59%), intraparto (20%), pós-parto (21%). Pré-Eclâmpsia Sobreposta: gestante com diagnóstico prévio de HAC, com hipertensão a cima do normal, associada à proteinúria ou sinais de disfunção orgânica. OBS: Na gestação, é contraindicado o uso de iECA, visto que é nefrotóxico para o RN. Profilaxia da Pré-Eclâmpsia: AAS + Carbonato de Cálcio Pressão Arterial A PA deve ser aferida para confirmar a hipertensão. Se PAS 160 ou PAD 110 mmHg, deve-se repetir a aferição em 15 minutos. Se não, deve-se repetir a aferição em 4 horas ou em duas consultas consecutivas para fechar o diagnóstico de hipertensão na gestação. Para aferição adequada, a paciente deve estar sentada, com suporte nas costas e pés, com o braço apoiado a nível do coração e sem as pernas cruzadas; a paciente não deve estar falando e sua bexiga deve estar vazia. É muito importante a aferição adequada da pressão arterial de gestantes, de modo a evitar superestimar a PA em pacientes cujo manguito não está adequado para a circunferência do braço (p. ex. obesas). Isso porque o tratamento da hipertensão na gestação com doses de anti-hipertensivos superiores a dose adequada pode levar à hipotensão, levando ao hipofluxo placentário e, consequentemente, à RCUI. Para evitar essa situação, utiliza-se a tabela de correção da pressão arterial de acordo com a circunferência do braço da paciente. Diagnóstico de Pré-Eclâmpsia O diagnóstico da pré-eclâmpsia pode ser feito de duas formas: PAS 140 e/ou PAD 90 mmHg (2 medidas, > 20 semanas)proteinúria 300 mg/24h OU proteína/creatinina > 0,3 Na ausência de proteinúria, surgimento de HA, com sinais de lesão de órgão-alvo: plaquetopenia 1,1 mg/dL elevação de transaminases > 2x valor de referência edema pulmonar sintomas de SNC e visuais OU sinais de insuficiência placentária Portanto, é possível fechar o diagnóstico na ausência de proteinúria, se a paciente apresentar sinais/sintomas de lesão de órgão alvo OU sinais de insuficiência placentária. Classificação da Pré-Eclâmpsia PRECOCE TARDIA 34 semanas menor gravidade menor risco de recorrência menor risco de complicações a longo prazo Classificação do Risco da Paciente para Desenvolvimento de Pré-Eclâmpsia OBS: o tabagismo é um fator protetor para pré-eclâmpsia, assim como gestantes com atividade sexual com múltiplos parceiros (expostas a diferentes sêmens – fator imunológico). Protocolo de Pré-Eclâmpsia Na suspeita de pré-eclâmpsia, deve-se colher os seguintes exames: hemograma avaliação do hematócrito e hemoglobina + contagem de plaquetas LDH (desidrogenase lática) bilirrubinas totais/haptoglobina (padrão-ouro de anemia microangiopática) creatinina AST Avaliação da Vitalidade Fetal OBS: a frequência desse acompanhamento depende da evolução e da gravidade de cada caso. No futuro, será possível dosar os biomarcadores sFLIT/PIGF > 1 fator de risco 2 fatores de risco Interpretação dos Biomarcadores Abordagem Terapêutica da Hipertensão Arterial na Gestação Profliaxia da Pré-Eclâmpsia 1. AAS 100 mg 1 comprimido VO, à noite, de 12-36 semanas de gestação 2. Carbonato de Cálcio 500 mg 1 comprimido VO, 8/8h, a partir de 12 semans de gestação até o parto Além da profilaxia medicamentosa, é importante ressaltar outras medidas que evitam a pré-eclâmpsia, como hábitos alimentares saudáveis e prática exercício físico. Tratamento da Hipertensão Arterial na Gestação CLASSE DO AGENTE AGENTE POSOLOGIA Simpatolíticos de ação central, α2-agonistas Metildopa (250 e 500mg) 750 a 2.000mg/dia | 2 a 4x/dia Clonidina (0,1 e 0,2mg) 0,2 a 0,6mg/dia | 2 a 3x/dia Bloqueadores de canais de cálcio Nifedipina Retard (10 e 20mg) 20 a 120mg/dia | 1 a 3x/dia Amlodipina (2,5, 5 e 10mg) 5 a 20mg/dia | 1 a 2x/dia Vasodilatador periférico * Hidralazina (25 e 50mg) 50-150mg/dia β-bloquedores * Metoprolol (25, 50 e 100mg) 100 a 200mg/dia | 1 a 2 x/dia Carvedilol (6,25 e 12,5mg) 12,5 a 50mg/dia | 1 a 2 x/dia Recomenda-se iniciar com 12,5mg/dia por dois dias e a partir de então aumentar a dose * recomenda-se essas medicações como terceira droga para associação de medicamentos para controle pressórico ou no caso de impossibilidade de uso das drogas de primeira escolha. Os β-bloqueadores de maior experiência clínica são o labetalol e o pindolol. Entretanto, o primeiro não é produzido no Brasil e o segundo foi recentemente retirado do mercado. Na gravidez, o tratamento terapêutico é iniciado com 1 droga (principal: Metildopa). Em casos de permanência de descontrole pressórico, aumenta-se a posologia, até a dose máxima, para então introduzir uma segunda droga (principal: Nifedipina) e assim por diante. Tratamento da Crise/Emergência Hipertensiva em Gestantes Manejo da Pré-Eclâmpsia DIAGNÓSTICO PRECOCE E MANEJO ADEQUADO 1. Identificação de Risco + Profilaxia 2. Pré-Natal Adequado 3. Diagnóstico e Gravidade, com encaminhamento rápido e preciso 4. Uso de sulfato de magnésio 5. Definir o Momento do Parto SEMPRE com estabilidade clínica e adequada avaliação fetal. Deve-se avaliar a gravidade, estabilizar a mãe e avaliar a vitalidade fetal e se é possível induzir o parto. A definição do momento do parto SEMPRE depende da avaliação das condições clínicas maternas (análise laboratorial) e vitalidade fetal. CUIDADO nos casos de PE precoce ( 37 semanas indução do parto Conduta na Atenção Primária 1. Identificação de RISCO (primeira consulta e a cada atendimento!) 2. Prescrever profilaxia para pacientes de alto risco e/ou com dois critérios de médio risco. Nenhum tratamento pode prevenir todos os casos de pré-eclampsia. 3. AAS 100mg/d – a partir da 12a semana de gestação e até as 36 semanas (preferencialmente a noite). 4. CaCO3 – 1,5 g/dia, de 500mg em 3 tomadas ao dia. A partir da 12a semana de gestação e manter até o final da mesma. Evitar a administração simultânea com o FeSO4. Avaliar recordatório alimentar para ingestão de cálcio na dieta diária. A suplementação de cálcio reduz significativamente o risco para PE em mulheres com baixa ingesta de cálcio (de placenta (7-10%) CIVD (7-11%) edema pulmonar (3-5%) insuficiência renal aguda (5-9%) pneumonia por aspiração (2-3%) parada cardio-respiratória (2-5%) hematoma hepático (1%) Síndrome HELLP (10-15%) morte perinatal (5-12%) parto pré-termo (50%) Manejo da Eclâmpsia 1. proteção de via aérea SEMPRE, a fim de garantir a oxigenação. Deve-se colocar a paciente em decúbito lateral esquerdo e contê-la mecanicamente, a fim de evitar trauma 2. Convulsão Auto-Limitada Sulfato de Magnésio (evitar novos eventos) 3. realizar o controle da PA 4. avaliar/tratar complicações 5. solicitar exames laboratoriais (SEMPRE) e de imagem (s/n) 6. avaliar vitalidade fetal e resolução da gestação (a depender da IG) Prevenção de Formas Graves Quando a paciente é sulfatada, deve-se realizar o controle da diurese da paciente (pelo menos 25 mL/hora) e avaliar reflexos osteo-tendíneos. A dose de ataque de sulfato de magnésio (4g EV) NUNCA intoxica. A dose de manutenção deve ser ajustada, dosando-se o magnésio. A dose terapêutica é muito distante da dose de intoxicação. Correlação Clínica e Nível Sérico do Magnésio normal para gravidez 1,5 a 2,5 mg/dL de Magnésio sérico terapêutico adequado 4 a 7 mg/dL de Magnésio sérico abolição de reflexo patelar 9 a 12 mg/dL de Magnésio sérico paralisia muscular 15 a 17 mg/dL de Magnésio sérico parada cardíaca 30 a 35 mg/dL de Magnésio sérico Antídoto para Intoxicação por Magnésio Gluconaco de Cálcio Síndrome de HELLP H Htc/Hb + LDH 600 UI/L + Bilirrubina Total 1,2 mg/dL + esquisócitos no sangue periférico EL AST/ALT 70 UI/L LP 3 dias orientações de alta + acompanhamento PRECOCE Manejo Terapêutico do Controle Pressórico Após o Parto Em geral, substitui a Metildopa pelo iECA e, em casos em que não há controle pressórico, introduz-se o Nifefipino. Em pacientes muito obesas, pode usar o diurético. Controle da PA Identificar Risco e Instituir Prevenção Diagnóstico Manejo-Referência Cuidado Pós-Parto Longo Prazo