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ANA CRISTINA RIBEIRO, DANIELLY MATOS BISPO, DAIANA SANTOS, MARYJANE MARTINS DO NASCIMENTO PAGAMENTO INDEVIDO ITABUNA/BA 2015 ANA CRISTINA RIBEIRO, DANIELLY MATOS BISPO, DAIANA SANTOS, MARYJANE MARTINS DO NASCIMENTO PAGAMENTO INDEVIDO Estudo submetido a Faculdade de Tecnologia e Ciências, a docente Natalia Porto, da disciplina Direito Civil III, no curso de Direito, turma 2015.2, turno noturno, com a finalidade de compor nota da unidade de classe. ITABUNA/BA 2015 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 4 2 CÓDIGO CIVIL DE 2002 ............................................................................................... 4 3 PAGAMENTO INDEVIDO ............................................................................................. 5 4 ESPÉCIES DE PAGAMENTO INDEVIDO .................................................................... 6 5 CONCEITO DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA ..................................................... 6 6 REQUISITOS DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA .................................................. 7 7 SUBSIDIARIEDADE DA AÇÃO IN REM VERSO ........................................................ 8 8 BOA FÉ NO PAGAMENTO INDEVIDO ........................................................................ 9 9 INEXISTÊNCIA DE DIREITO DE REAVER O QUE PAGOU INDEVIDAMENTE ......... 9 10 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 10 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 11 4 1 INTRODUÇÃO O pagamento indevido carrega como premissa, na maior parte das vezes, um rompimento do princípio da boa fé, mas inclusive poderá advir de erro, culpa ou negligência das partes, mas nesses episódios haverá necessidade de prova. No Direito Tributário, o contribuinte que executa o pagamento indevido, por inadvertido erro, não carece fazer prova se o fato se deu por ser ilegal ou inconstitucional a exação, mas os juros só são atribuídos a partir do trânsito em julgado da ação (GONÇALVES, 2011). No entanto, involuntariamente da motivação que acabou por ensejar o pagamento indevido de uma obrigação, o art. 876 do CC define que todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir. Tal restituição deve ser seguida da devida correção monetária a ser calculada a partir do recebimento indevido, na finalidade de não gerar enriquecimento indevido (FIGUEIREDO; GIANCOLI, 2010). O pagamento indevido de uma obrigação de fazer ou não fazer, pelo fato de não poder se recuar, a exemplo, no dever de abstenção, o art. 881 do CC estabelece que o que recebeu específico pagamento tem o dever de reparar a outra parte, na medida do arbitrário lucro obtido (OMETTO, 2012). 2 CÓDIGO CIVIL DE 2002 Presentemente, o Código Civil, logo seguida abordar do pagamento indevido (arts. 876 a 883), disciplina o enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886). Nota-se que o atual artigo 876, que trata do pagamento indevido, é de redação quase semelhante àquela do artigo 964 do diploma revogado, que era aproveitada para o enriquecimento sem causa, que atualmente é regrado expressamente, salvo a transcrição dos artigos 884 a 886 (BRASIL, 2002): “Art. 884 – Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é 5 obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido. Art. 885 – A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou de existir. Art. 886 – Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.” Na validade do diploma anterior, contudo, qualquer pagamento indevido aprovava a reprodução por enriquecimento sem causa. Atualmente isto não é mais admissível. Se alguém aufere um pagamento que não lhe era devido carecerá chamar o artigo 876 do CC, e não o específico artigo 884, pois há vedação apregoada no artigo 886 (DINIZ, 2004). Desta maneira, pelo Código Civil de 2002 o enriquecimento sem causa evoluiu a ter um caráter subsidiário, pois só poderá ser alegado para abalizar o pedido de restituição se não houver outros meios. Isto não constitui que aquele que recebe um pagamento que não lhe era devido não enriquece injustificadamente; trata-se somente do regramento para pleitear a devolução (OMETTO, 2012). 3 PAGAMENTO INDEVIDO O pagamento indevido acontece quando alguém recebe o que não lhe era devido (quer seja por inexistência de afinidade, quer seja por inexigibilidade; a exemplo, obrigação condicional aplicada sem o advento da condição). Aquele que auferiu de boa-fé faz jus, como o detentor de boa-fé, aos resultados da coisa, às benfeitorias necessárias e úteis e à retenção (GONÇALVES, 2011). O pagamento indevido baseia-se na condição de que todo pagamento que feito sem que seja devido deve ser restituído. De acordo o pronunciado do artigo 876 do Código Civil "Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição." (BRASIL, 2002). Quem voluntariamente pagou o indevido deve comprovar não apenas ter efetivado o pagamento, mas também que o fez por erro, pois a ausência de tal 6 comprovação leva a se conjeturar que se trata de uma liberalidade (FIGUEIREDO; GIANCOLI, 2010). Se o pagamento indevido tiver versado no desempenho de obrigação de fazer ou não fazer, não haverá mais, em princípio, como restituir as coisas ao estado anterior, pois não sendo mais possível aquele que recebeu a prestação fica na obrigação de indenizar o que a cumpriu, na medida do lucro obtido (DINIZ, 2004). 4 ESPÉCIES DE PAGAMENTO INDEVIDO Literariamente há duas maneiras de pagamento indevido (OMETTO, 2012): Pagamento Objetivamente Indevido: Quando há erro quanto à existência ou extensão da obrigação; Pagamento Subjetivamente Indevido: Quando executado por alguém que não é devedor ou feito a alguém que não é credor. Embora o brocardo de "quem paga mal, paga duas vezes" seja válido, isso não afasta o direito do pagador reaver a prestação adimplida indevidamente. 5 CONCEITO DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA Aporte a leitura do artigo 884 do Código Civil, percebe-se que a ninguém é dado o direito de enriquecer à custa de outrem, sem causa real. Não se coíbe o enriquecimento de um pelo empobrecimento de outro, mas sim esta situação sem uma causa justificadora. Seguramente há casos em que uma pessoa empobrecerá em função de outra sem que se configure qualquer tipo de ilícito, como é o caso, a exemplo, da doação; o doador empobrecerá em favor do donatário, mas se tem evidente uma causa justa (BRASIL, 2002). Tomando-se como base o aparelhado no artigo 884 do Código Civil percebe aceitável avaliar enriquecimentosem causa como maneira de enriquecimento ilícito em que o solvens, natural e equivocadamente, executa uma prestação em favor do accipiens, que não é seu credor, causando-lhe o dever legal de restituição (DINIZ, 2004). Diversas Ocasiões se amoldam plenamente no conceito de enriquecimento sem causa, como é o caso, a exemplo, do pagamento indevido (art. 876), da vantagem obtida de pessoa que se encontrava em estado de lesão (art. 157), onerosidade 7 excessiva (art. 478). Em todos esses modelos é possível se idealizar uma pessoa tendo um acréscimo patrimonial em detrimento de outrem, sem que exista uma causa legitimadora (FIGUEIREDO; GIANCOLI, 2010). Não se pode aceitar que alguém enriqueça à custa alheia sem um fundamento jurídico (nemo potest lucupletari, jactura aliena) (GONÇALVES, 2011). 6 REQUISITOS DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA São requisitos do enriquecimento sem causa (OMETTO, 2012): a) Enriquecimento de alguém (accipiens) – o patrimônio de uma pessoa deve ser elevado, sendo que isto pode acontecer por duas maneiras: efetiva prerrogativa recebida, a exemplo, o recebimento de um valor que não era devido; ausência de um dano ou redução de uma despesa, a exemplo, conexão clandestina com a rede de fornecimento de energia elétrica. b) Empobrecimento de outrem (solvens) – em função de o patrimônio do accipiens evoluir, o de outra pessoa deverá, conseqüentemente, sofrer uma diminuição. A parcela que é acrescida no patrimônio de um estorna, ou deixa de ingressar, no patrimônio de outro; c) Nexo causal – relação entre o acréscimo patrimonial do accipiens e a diminuição experimentada pelo solvens; d) Ausência de justa causa – o enriquecimento do accipiens deve acontecer sem que exista uma causa justificadora (art. 885, CC). O solvens realiza uma prestação em favor do accipiens sem ter a obrigação; o faz equivocadamente. Não pode haver nenhuma causa que legitime o enriquecimento. Há que se distinguir o enriquecimento injusto daquele que acontece sem que ocorra um motivo que o abone. Se, a exemplo, alguém empresta numerário a outrem, que não o restitui no prazo avençado, prescrito o direito de ação para cobrança, acontecerá um enriquecimento do mutuário. Isto, que apesar de demonstrar injusto, não se deu sem uma causa legitimadora. A prova do pagamento indevido incumbe a quem alega tê- lo feito (art. 877, CC). Para tornar mais claro o que se pretende expor, como outro exemplo pode-se citar o benefício patrimonial daquele que por usucapião adquire a propriedade de bem imóvel. Claramente há um enriquecimento de uma pessoa em desfavor de outra, mas não se pode citar em ausência de justa causa. 8 Há que se insira a subsidiariedade da ação in rem verso como requisito. Percebe-se de maneira adversa. Acredita-se que pelo simples fato de o locupletamento de uma pessoa (accipiens) estar relacionado ao empobrecimento de outra (solvens), sem que para tanto exista um motivo justificadora, está caracterizado o enriquecimento sem causa. A subsidiariedade da ação in rem verso apenas se refere ao meio para se buscar a recomposição patrimonial. A título de ilustração, se idealiza que uma pessoa se aproveitando do estado de perigo vivido por outra, enriqueceu. Seguramente, tal acréscimo patrimonial foi, total ou parcialmente, injustificado. Apesar o fundamento do seu pedido seja o estado de perigo (art. 156, CC), não se deve deixar de distinguir que houve enriquecimento sem causa. É certo que não poderá basear seu pedido nos artigos 884 e 885, mas isto não que dizer que o fato demonstrado não se amolde ao conceito de enriquecimento sem causa. Enfim, aquele que recebe uma prestação que não lhe é devida, e por se aproveitar da necessidade de alguém se salvar, enriquece sem que haja uma causa justificadora (DINIZ, 2004). Desta maneira, diante os requisitos se está diante de enriquecimento sem causa, devendo o solvens, para procurar a recomposição do seu patrimônio, analisar se não há previsão especifica para o tipo de enriquecimento ilícito em questão (GONÇALVES, 2011). 7 SUBSIDIARIEDADE DA AÇÃO IN REM VERSO A ação in rem verso destina-se à recomposição de um patrimônio injustificadamente lesado em favor de outro. Contudo, o alcance desta definição é delineado pelo que determina o artigo 886 do Código Civil, in verbis (BRASIL, 2002): “Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.” Desta maneira, a ação in rem verso só terá cabimento na hipótese de não haver previsão para o caso específico (FIGUEIREDO; GIANCOLI, 2010). Como exemplo, se um indivíduo acreditando ser devedora de outra fizer, de forma indevida, um pagamento, não poderá ajuizar a ação in rem verso para buscar a recomposição patrimonial, visto que para tal caso deverá adotar o disposto nos artigos 876/883. Logo, a ação in rem verso tem caráter subsidiário. Outros exemplos 9 em que não se pode adotar a ação in rem verso: lesão (art. 157, CC), indenização devida ao possuidor de má-fé por benfeitorias necessárias (art. 1220, CC), direito do vizinho que constrói muro limítrofe (art. 1.297, CC), evicção (art. 447, CC). Nestes casos, embora o patrimônio de uma pessoa seja acrescido em razão da diminuição experimentada por outra, não se pode utilizar da ação in rem verso, pois há fundamento e meio próprio legalmente previsto (BRASIL, 2002). 8 BOA FÉ NO PAGAMENTO INDEVIDO Como regra, o pagamento indevido está vinculado a má-fé, mas podem acontecer as seguintes situações (DINIZ, 2004): a) Se o bem, indevidamente recebido, fora transferido a um terceiro, de boa- fé, e a título oneroso, o alienante ficará obrigado a entregar ao legítimo proprietário a quantia recebida; b) se o bem, indevidamente recebido, fora transferido a um terceiro, de má-fé, e a título oneroso, o alienante ficará obrigado a entregar ao legítimo proprietário a quantia devida; c) se o bem fora transferido ao terceiro, a título oneroso, estando este último de má-fé, caberá ao que pagou por erro o direito à reivindicação; d) se o bem fora transferido ao terceiro, a título gratuito, caberá ao que pagou ou erro o direito à reivindicação. As conjecturas aplicam-se também aos frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações sobrevindas à coisa dada em pagamento indevido. 9 INEXISTÊNCIA DE DIREITO DE REAVER O QUE PAGOU INDEVIDAMENTE Se o devedor executar o pagamento de dívida já prescrita, dívida de jogo, cumprir obrigação judicialmente inexigível, ou deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei, não terá direito à restituição (FIGUEIREDO; GIANCOLI, 2010). Ao se idealizar uma circunstância no qual um contribuinte, necessitando obter certidões junto à Instituição Federal, paga R$ 100.000,00 a um intermediário que lhe assegurou as certidões. Depois de um período, o intermediário disse que seu contato interno na Instituição não pode mais conseguir. Assim, o contribuinte 10 concebeu um prejuízo que não mais poderá, pelas vias normais, cobrar o Intermediário (GONÇALVES; 2011). Fica imune de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o como parte de dívida válida, prejudicou o título, deixou prescrever a pretensão ou deixar das garantias que asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador (OMETTO, 2012). 10 CONCLUSÃO Enfim, o pagamento indevido é uma das maneiras de enriquecimento ilícito, por decorrer de uma prestação feita por alguém com o intuito de extinguir uma obrigaçãoerroneamente pressuposta, gerando ao accipiens, por imposição legal, o dever de restituir, uma vez estabelecido que a relação obrigacional não existe, tinha cessado de existir ou que o devedor não era o solvens ou o accipiens não era do credor. Já o enriquecimento sem causa é o acréscimo de bens que se verifica no patrimônio de um sujeito, em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um fundamento jurídico. O enriquecimento sem causa é a forma de acréscimo patrimonial decorrente do fato de o solvens, espontânea e equivocadamente, realizar uma prestação em favor do accipiens, que não é seu credor, acarretando a este o dever de restituição. Para que se declare o enriquecimento devem estar presentes os seguintes requisitos: enriquecimento de alguém (accipiens), empobrecimento de outrem (solvens), nexo causal e ausência de justa causa. A ação in rem verso só é cabível para o caso de não haver disciplinamento específico (caráter subsidiário). 11 REFERÊNCIAS BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 3 v. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. FIGUEIREDO, Fábio Vieira; GIANCOLI, Brunno Pandori. Coleção OAB Nacional – primeira fase – Direito Civil I. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume II – Teoria Geral das Obrigações. 8 ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2011. OMETTO, Rosália Toledo Veiga. Código Civil Interpretado. 5 ed. São Paulo: Editora Manole. 2012.
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