Buscar

A formação da sociedade mercantil

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

A formação da sociedade mercantil
 
O problema econômico
 O pão nosso de cada dia... De onde vem? Nossos índios são pobres, vivem pouco, mas sabem sobreviver sozinhos na selva. E nós, saberíamos sobreviver sem nenhum artefato industrial? Temos portanto uma enorme interdependência numa sociedade econômica imensa e extremamente diversificada. De onde vem isso? 
 Produzimos, ao contrário dos índios, muito mais do que precisamos para sobreviver. Por que o fazemos?
 Vemos também em nosso país trabalhadores que mal conseguem sobreviver, apesar de trabalhar muito, enquanto outros têm bilhões de dólares. Tirando a ladroagem explícita, como isso acontece, como a sociedade organiza essa capacidade de apropriação? Quais são as formas legitimadas em que isso acontece?
 O problema econômico então é como se decide o que e quanto produzir, de modo a que a reprodução da sociedade seja garantida? (produção) Se há excedente como e por quem ele é apropriado? (distribuição)
Soluções ao problema econômico - tradição
 	Uma possível solução ao problema econômico é a tradição. Aqueles que fazem uma coisa, continuam a fazê-la do mesmo modo e na mesma quantidade. Sua profissão é passada aos seus filhos. 
	Essa solução é extremamente conservadora. Nada nela pode mudar muito ou não daria mais certo. Há sociedades onde esse tipo de solução predomina, seja com uma divisão de trabalho reduzida, seja com castas.No entanto, o uso da tradição também está presente na nossa sociedade, quando compramos de um fornecedor ao qual estamos habituados sem pesquisar se há outros melhores, quando um consultório passa de pai para filho, quando no interior de uma firma, os departamentos permanecem com as mesmas funções.
Soluções ao problema econômico - mando
	A solução de deixar a cargo de uma autoridade determinar o que vai ser produzido também é muito antiga e predominou nas sociedades de escravos ou feudais. Percebam que em ambos esses tipos de sociedade a tradição também continua tendo o seu papel no interior das roças dos camponeses e escravos.
	A solução de mando também permanece presente em nossa sociedade, tanto nos impostos que pagamos, quanto nos bens e serviços produzidos pelo estado, como no interior das firmas, quando o setor de planejamento estipula as metas de cada departamento.
	O mando não é inerentemente conservador, pelo contrário, pode ser importante na transformação, mas tampouco é inerentemente transformador. Também pode ser autoritário ou democrático.
Soluções ao problema econômico - mercado
	Mercados existem há muito tempo, mas como mecanismos de troca de excedentes, não como solucionadores do problema econômico apresentado. Só podem ser assim considerados quando o grosso da produção é voltado para o mercado e a maior parte das pessoas recorre aos mercados para satisfazer suas necessidades, confiando que sua sinalização será suficiente para garantir que a produção necessária será alcançada.
	 A solução de mercado é essencialmente transformadora – vejam o que aconteceu ao mundo da produção nos últimos trezentos anos e comparem com os trezentos primeiros anos da era cristã, por exemplo.
Soluções ao problema econômico – mercado (cont.)
		E a ideia de que poderia ser uma solução a esse problema pareceria absurda a alguém que vivesse há uns cinco séculos ou antes. Pensem bem, imaginem dizer a um camponês para parar de produzir sua subsistência e confiar que conseguirá encontrar tudo de que precisa na feira. Para que essa solução se estabelecesse foi necessário que diversas outras transformações também acontecessem.
		Mas não é só o camponês que se horrorizaria, os senhores de terra e mesmo os mestres artesãos que estavam habituados ao mando e aos privilégios também reagiriam fortemente contra. 
Advento da sociedade de mercado (Heilbroner)
Expansão do comércio levou à predominância dos pagamentos de impostos e rendas em dinheiro. Dinheiro favorece a ganância, apesar desta ser considerada pecado. Mas só isso não é suficiente para o surgimento da sociedade de mercado, voltada ao ganho monetário. Outros pré-requisitos são necessários:
Apropriação privada das terras: fechamento dos campos comuns, o que deixou os camponeses sem condições de sobrevivência. Isso promoveu a transformação da terra em mercadoria, assim como ampliou a possibilidade de contratar trabalho por dinheiro. 
Formação de mercado de trabalho, o que significa afrouxamento dos laços de servidão e dos regulamentos das guildas artesanais e também perda de “proteção” dos camponeses.
Papel do mercado (através da concorrência e da emulação) enquanto dissolvente das demais formas.
Mercado autorregulável(Polanyi)
Sistema em que produção é controlada apenas por mercados.
Supõe que humanos sempre busquem ganho monetário(máximo) 
Fornecimento de bens e demanda igualam demanda a um certo preço.
Tudo é produzido para venda e todos os componentes devem ser encontrados no mercado, não apenas os produzidos, mas também terra, trabalho e dinheiro, pagos com aluguéis, salários e juros. Isto é extremamente artificial.
Formação dos mercados não (deve ser) inibida por mando. 
Separação institucional entre esferas econômica e política.
Advento do mercado autorregulável(Polanyi)
Terra, trabalho e dinheiro não são produzidos para o mercado, não são mercadorias, mas aparecem como tal.
Guildas feudais regulamentadas por costumes e regras (tradição e mando): relações entre mestres, jornaleiros e aprendizes: condições de trabalho, pagamentos. Essa situação só foi melhor regulamentada no mercantilismo. Os privilégios destas organizações só foram legalmente abolidos na França em 1790 e no Reino Unido em 1814.
O advento da máquina, ou melhor do sistema de máquinas expropria o trabalhador de seus meios de produção, forçando-o a aceitar vender seu tempo no mercado de trabalho.
Artificialidade da transformação da força de trabalho, que é parte da vida do próprio trabalhador, em mercadoria tem potencial altamente disruptivo.
Advento do mercado autorregulável(Polanyi)
A “transformação” do trabalho, da terra e do dinheiro em mercadorias é uma ficção, mas essencial para o funcionamento da sociedade mercantil capitalista. Sem ela não haveria como o mercado ordenar a sociedade.
Esta ficção/ ordenação tem consequências fundamentais para todos os aspectos da sociedade, que torna-se “acessório” do sistema econômico.
O mecanismo de regulação do mercado pode gerar crises terríveis, destruindo as próprias bases da produção e a sociedade deve ser protegida dos “assaltos desse moinho satânico”.
Importante que as pessoas adquirem fé nesse sistema.
 
 “A história social do século XIX foi, assim, o resultado de um duplo movimento; a ampliação da organização do mercado em relação às mercadorias genuínas foi acompanhada pela sua restrição em relação às mercadorias fictícias. Enquanto, de um lado, os mercados se difundiam sobre toda a face do globo e a quantidade de bens envolvidos assumiu proporções inacreditáveis, de outro uma rede de medidas e políticas se integravam em poderosas instituições destinadas a cercear a ação do mercado relativa ao trabalho, à terra e ao dinheiro. Enquanto a organização dos mercados mundiais de mercadorias, dos mercados mundiais de capitais e dos mercados mundiais de moedas, sob a égide do padrão-ouro, deu um momentum sem paralelo ao mecanismo de mercados, surgiu um movimento bem estruturado para resistir aos efeitos perniciosos de uma economia controlada pelo mercado. A sociedade se protegeu contra os perigos inerentes a um sistema de mercado autorregulável, e este foi o único aspecto abrangente na história desses período.”

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais