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Exportações líquidas 
 
As exportações líquidas são a parte da identidade das contas nacionais que 
considera o comércio com outros países. Elas são o valor das exportações (o que é 
vendido para outros países) menos o valor das importações (o que compramos de 
outros países). As exportações líquidas são negativas quando o valor das 
importações é maior do que o valor das exportações, e positivas, no caso oposto. 
 
 
 
 
Ótica da oferta 
 
Para calcular o PIB pela ótica da oferta, somamos os valores agregados totais de 
cada firma, que é denominado valor adicionado bruto (VAB), e representa o valor da 
diferença entre o que é produzido e o consumo intermediário. Para chegar ao PIB a 
preços de mercado, somamos o VAB com impostos indiretos e subtraímos 
subsídios: 
 
 
PIB=∑VAB+ impostos indiretos - subsídios 
 
 
Para compreendermos melhor, vamos resolver a questão a seguir. 
 
Atividade discursiva 
 
Seja uma padaria que produza um pão e o venda a R$ 1,00. Para produzi-lo, o 
padeiro gastou 100g de farinha de trigo e 10ml de água. O custo de R$ 1,00 
considera os gastos com os ingredientes para produzi-lo. Suponha que o custo 
desses ingredientes seja de 30 centavos. Qual será o valor agregado a essa padaria 
e o valor da sua contribuição para o PIB? 
 
Para calcular o valor agregado pela padaria e sua contribuição para o Produto 
Interno Bruto (PIB), podemos usar a seguinte fórmula: 
Valor Agregado = Valor da Produção - Custo dos Insumos 
Contribuição para o PIB = Valor Agregado 
Primeiro, vamos calcular o valor agregado pela padaria: Valor da Produção = Preço 
de Venda do Pão 
 
 
 
 
 
Custo dos Insumos = Custo da Farinha de Trigo + Custo da Água 
Custo dos Insumos = 0,30 (custo dos ingredientes para produzir o pão) 
Agora, vamos calcular o valor agregado: Valor da Produção = R$ 1,00 
Custo dos Insumos = R$ 0,30 
 Valor Agregado = R$ 1,00 - R$ 0,30 Valor Agregado = R$ 0,70 
Portanto, o valor agregado pela padaria é de R$ 0,70. 
A contribuição para o PIB é igual ao valor agregado, então a contribuição da padaria 
para o PIB é de R$ 0,70. 
 
Ótica da renda 
 
O cálculo do PIB, pela ótica da renda, consiste na soma de todas as rendas dos 
agentes habitantes do país em questão, como salários, juros, lucros e aluguéis. A 
soma dos juros, lucros e aluguéis é conhecida na contabilidade nacional como 
excedente operacional bruto (EOB). Portanto, para chegar ao PIB a preços de 
mercado, devemos somar salários, EOB e impostos indiretos, e subtrair os 
subsídios, veja: 
 
PIB= salários + impostos indiretos - subsídios 
 
 
Fluxo x estoque 
 
O PIB é uma medida de fluxo de novos bens e serviços finais 
produzidos durante certo período de tempo, e não um estoque de 
riqueza existente em um país. Se um país não produz durante um 
ano, seu PIB anual é zero. 
 
O estoque é uma quantidade medida em certo ponto do tempo, 
enquanto o fluxo é uma quantidade medida por unidade de 
tempo. 
 
Atividade discursiva 
 
 
 
 
 
 
Pense numa caixa d’água. A água dentro da caixa é um estoque e 
equivale à quantidade de água da caixa em certo período do 
tempo. Já a água que entra na caixa pelo cano é um fluxo, sendo a 
quantidade de água adicionada ao longo do tempo. O que 
podemos considerar sobre a unidade de medida dessas variáveis? 
 
As variáveis de estoque, como a quantidade de água dentro da 
caixa, são medidas em unidades fixas, como litros, metros cúbicos, 
ou galões. Por outro lado, as variáveis de fluxo, como a quantidade 
de água que entra na caixa pelo cano, são medidas em unidades 
de volume por unidade de tempo, como litros por hora, metros 
cúbicos por segundo, ou galões por minuto. Essas unidades de 
medida são essenciais para entender e quantificar a dinâmica de 
entrada e saída de substâncias em um sistema, como no caso da 
caixa d'água. 
 
Veja um exemplo do cálculo do PIB pelas três óticas em uma 
economia hipotética: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB 
 
Como já vimos, o PIB nos possibilita fazer comparações tanto entre 
nações quanto entre períodos de tempo. Contudo, devemos prestar 
atenção ao fazermos comparações entre períodos de tempo. Parte 
do aumento do PIB ao longo do tempo representa um aumento nos 
preços dos bens e serviços, e não um aumento na quantidade 
produzida, uma vez que o PIB é calculado em moeda corrente 
 
Da mesma forma, uma economia pode estar aumentando, mas seu 
PIB pode estar caindo se os preços estiverem reduzindo. 
 
Para compreender melhor a questão, analise a situação a seguir: 
 
Em minhas pesquisas, verifiquei que o PIB do Brasil em 2019, 
segundo o IPEA Data, foi de 7.256.882,00 milhões de reais, 
enquanto em 2009 foi de 3.333.039,30 milhões de reais. Todavia, 
em 10 anos, a economia brasileira não mais que dobrou de 
tamanho. Para fazermos essa comparação de forma correta, é 
preciso calcular o PIB real, ou seja, a quantidade de bens e 
serviços finais que uma economia produziu. 
 
PASSO 1 
Para entendermos como calculamos o PIB real, vamos imaginar uma economia que 
produza apenas peixes e cocos. No primeiro ano, o preço do peixe é de R$ 3,00, o 
do coco é de R$ 1,00, e são produzidos 10 peixes e 25 cocos. No segundo ano, o 
preço do peixe é de R$ 5,00, o do coco é de R$ 2,00, e são produzidos 15 peixes e 
30 cocos. 
 
PASSO 2 
 
No primeiro ano, o valor total da produção é de R$ 55,00. No segundo ano, é de R$ 
135. O PIB nominal do segundo ano é 145% maior que o do primeiro. Contudo, fica 
 
 
 
 
 
claro, a partir do exemplo, que os preços aumentaram, e mesmo que a quantidade 
também tenha aumentado, o aumento da quantidade é menor do que 145%. 
 
 
PASSO 3 
 
Para chegarmos ao aumento da quantidade produzida, devemos calcular o PIB 
como se os preços não tivessem mudado, ou seja, utilizando os preços do primeiro 
ano e as quantidades do segundo. Assim, o PIB do segundo ano calculado a partir 
dos preços do primeiro é igual a R$ 75, o que representa um aumento de 36%. 
Portanto, o PIB real é o valor total de bens e serviços finais produzidos na economia 
durante um ano, e calculado como se os preços tivessem permanecidos constantes, 
ou seja, no nível de determinado ano base. 
 
 
 
O PIB real sempre vem acompanhado de informações do ano-base em questão. Os 
dados do PIB em que os preços não são ajustados é denominado PIB nominal, isto 
é, o PIB a preços correntes. Se tivéssemos utilizado o PIB nominal para comparar a 
economia dos dois anos, como mostrado no exemplo anterior, teríamos encontrado 
um crescimento de 145%, enquanto, na realidade, a economia cresceu 36%. O PIB 
real também previne que a variação dos preços distorça o valor da mudança na 
produção de produtos e serviços ao longo do tempo. Na prática, o ano-base é 
atualizado periodicamente, a cada cinco anos, para garantir que os preços não 
estejam demasiadamente defasados. 
 
 
 
 
 
Deflator do PIB 
 
Além do PIB nominal e do PIB real, podemos calcular o deflator do PIB, que 
corresponde à razão entre o PIB nominal e o PIB real. O deflator do PIB reflete o 
que está ocorrendo com o nível geral de preços da economia. 
 
Deflator do PIB= 
 PIB real 
 PIB nominal 
 
 
 
 
 
 
 
 
No exemplo sobre a economia hipotética, a variação do deflator do PIB é de 80% 
(135 ÷75 = (1,8 – 1) x 100 = 80%). O deflator do PIB representa a variação de 
preços mais abrangente na economia, pois sintetiza uma medida de preços de 
todos os bens e serviços produzidos. Como veremos, o deflator é diferente dos 
índices de preço frequentemente utilizados, porque sua estrutura muda conforme a 
composição do PIB se altera, enquanto os índices de preço, no geral, possuem uma 
cesta de bens fixa. 
 
 
 
Sazonalidade 
 
Além do PIB anual, os economistas se interessam pelo PIB de períodos de tempo 
mais curtos (trimestrais). Contudo, conforme estudamos sua evolução trimestral, 
logo notamos um padrão sazonal regular. 
A imagem a seguir ilustra a evolução do PIB trimestral do Brasil entre 2016 e 2019. 
O número 1 no eixo x representa o primeirotrimestre de 2016, o número 5 
representa o primeiro trimestre de 2017, e assim por diante. As linhas pontilhadas 
marcam o último trimestre de cada ano. 
 
 
 
 
Série trimestral do PIB brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
A produção total aumenta durante o ano, com pico no último trimestre, conforme 
ilustra a imagem anterior. Parte da variação sazonal do PIB reflete a variação na 
capacidade de produção ao longo do ano. Por exemplo, certos cultivos são 
produzidos em determinadas estações, assim como indivíduos apresentam 
preferências sazonais, como a de comprar presentes no Natal, chocolates na 
Páscoa e viajar no verão. 
 
Para estudar as flutuações reais do PIB, tiramos a parte da flutuação previsível 
atribuída à sazonalidade do PIB. A maior parte das estatísticas é ajustada 
sazonalmente, ou seja, os dados são ajustados de modo a remover as flutuações 
sazonais regulares. Portanto, quando observamos flutuações no PIB real ou em 
outros indicadores, devemos buscar outros fatores além da sazonalidade para 
explicar tais flutuações. 
 
 
 
Outros indicadores de renda das contas 
nacionais 
 
 
 
PIB per capita 
 
PIB per capita é a renda média individual de um país. Para calcular o PIB per capita, 
dividimos o PIB daquele país pela sua população: 
 
 
 
Assim como o PIB real, o PIB per capita permite uma melhor comparação entre 
economias, porque eliminamos o efeito de uma população maior. Assim, um país 
cuja população é maior terá uma economia maior simplesmente pelo fato de que há 
mais indivíduos trabalhando. 
 
 
 
 
 
 
 
A razão para o PIB ser frequentemente usado para analisar o desempenho 
econômico é que uma economia com grande produção de bens e serviços é capaz 
de satisfazer melhor às demandas dos domicílios, empresas e governo. 
 
 
A partir do PIB, podemos comparar o tamanho da economia de países, avaliar a 
evolução do PIB no tempo, comparando o seu desempenho anual, analisar o PIB 
per capita etc. 
 
 
Relembrando 
PIB é um indicador imperfeito da economia, uma vez que 
existem limitações para o seu cálculo. Portanto, diversos 
fatores relevantes não são considerados no PIB: distribuição 
de renda, qualidade de vida, educação, saúde, segurança 
etc. 
 
Produto Nacional Bruto - PNB 
Além do PIB, existem outros indicadores de renda bastante utilizados que se 
relacionam com ele. O primeiro deles é o Produto Nacional Bruto (PNB), que 
considera o valor da produção de propriedade de residentes, ou seja, de brasileiros. 
A produção de estrangeiros no Brasil é levada em consideração no PIB, mas não no 
PNB. A produção de brasileiros em países estrangeiros, por exemplo, não é 
considerada no PIB, mas entra no PNB. 
 
PNB = PIB + pagamentos de fatores oriundos do exterior - pagamentos de fatores 
destinados ao exterior = PIB - RLEE 
 
 
 
Nessa expressão, a renda líquida enviada ao exterior (RLEE) é a diferença entre 
pagamentos de fatores destinados ao exterior (como o salário de um 
norte-americano que trabalha no Brasil) e pagamentos de fatores oriundos do 
exterior (por exemplo, o salário de um brasileiro que trabalha na Europa). 
 
As diferenças entre PIB e PNB podem ser expressivas em alguns países, como 
também podem quase não existir em outros. Isso acontece devido à composição da 
 
 
 
 
 
economia, ao grau de endividamento externo e à quantidade de empresas 
multinacionais que remetem lucros aos seus países de origem. 
 
Podemos calcular o Produto Nacional Líquido (PNL) a partir da subtração da 
depreciação do capital, isto é, da parcela do capital que se desgasta ao longo de um 
período: 
 
 
PNL = PNB - Depreciação do Capital 
 
 
Como a depreciação do capital representa um custo para a produção, por meio da 
sua subtração, temos o resultado líquido da atividade econômica. Imagine, por 
exemplo, uma máquina de moer café que precisa de manutenção, pois está com 
uma peça quebrada. Essa peça quebrada é um exemplo de depreciação do capital. 
 
 
O Produto Nacional Líquido é aproximadamente igual a outro 
indicador de renda, a Renda Nacional, que mede o quanto 
ganharam todas as pessoas que integram uma economia. A 
diferença entre os dois indicadores ocorre devido a uma pequena 
correção, conhecida como discrepância estatística, ocasionada 
porque fontes diferentes de dados podem não ser exatamente 
correspondentes. 
 
 
 
Em uma economia fechada, ou seja, sem trocas com o exterior, as estimativas de 
PIB e PNB são idênticas. 
 
Crescimento acelerado e períodos de recessão 
 
Veja agora uma breve contextualização sobre crescimento x recessão. 
 
 
 
Fluxo circular do PIB 
 
 
 
 
 
 
PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB 
 
Outros indicadores de renda das contas nacionais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA 3 
 
 
Economia Brasileira no Século 21: 2003 em Diante 
 
 
Propósito 
Entender o governo do Partido dos Trabalhadores é fundamental 
para entender a economia e o quadro político brasileiro no século 
XXI, e portanto é fundamental para profissionais de todas as áreas 
que lidam com a conjuntura político-econômica do país. 
 
 
Objetivos 
● Descrever aspectos da economia nos governos Lula. 
● Descrever aspectos da economia nos governos Dilma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução 
 
A partir do momento em que a economia brasileira logrou sucesso com o Plano Real no 
combate à inflação, e sobretudo após a crise cambial de 1999, com a implantação do tripé 
macroeconômico, as prioridades de economistas e os anseios do mercado financeiro e da 
sociedade como um todo deixaram de ser apenas a manutenção da solidez da estabilidade 
macroeconômica alcançada. Agora, priorizava-se também o aprofundamento de reformas, 
tanto do ponto de vista estrutural, como a tributária, a fiscal, a política e a continuidade da 
previdenciária, como também maior atenção aos conflitos distributivos e à desigualdade 
social. 
 
 
Em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido simplesmente como Lula, chega à 
presidência da República, causando euforia popular e temor nos mercados financeiros a 
respeito da manutenção dos fundamentos dos anos FHC (Fernando Henrique Cardoso). 
 
 
 
Em 2011, Dilma Rousseff herda uma situação econômica confortável, mas não consegue 
manter uma taxa de crescimento alta após o boom de preços de commodities. A maneira 
pela qual Dilma escolhe lidar com essas adversidades acaba por perturbar os fundamentos 
macroeconômicos, o que, somado a uma crise política, leva a seu afastamento do cargo de 
presidente (impeachment). As escolhas incluíram dois ajustes fiscais; subsídios em 
demasia, que reforçaram a deterioração das contas nacionais; e algumas políticas de 
intervenção em mercado, que desagradaram setores importantes para a economia 
brasileira. 
 
 
 
Este conteúdo está estruturado em dois módulos, um para cada presidente. No primeiro 
módulo, há um estudo dos anos Lula e, no segundo, dos anos Dilma. 
 
 
A eleição de Lula 
 
Para compreender os anos Lula, é preciso voltar às eleições de 2002, momento em que o 
Partido dos Trabalhadores (PT) mudou significativamente suas propostas para a economia 
brasileira. Por um lado, houve documentos e apresentações do partido em que se 
mantinham claramente as ideias do partido durante a década de 1990 , como calote na 
 
 
 
 
 
dívida externa, suspensão dos juros da dívida interna e nacionalização de empresas (ou 
seja, reversão das privatizações). 
 
 
Ao longo de 2001 e 2002, porém, o PT não defendeu esses assuntos, como havia feito nas 
eleições de 1989, 1994 e 1998. A simples possibilidade de se abrir debate a respeito 
desses temas por parte de nomes do alto escalão do partido – nomes cotados para ocupar 
cargos no eventual governo do PT – gerava animosidade nos mercados. 
 
 
Percebendo que seria preciso romper a barreira de 30% dos votos, média do desempenho 
histórico de Lula, mas insuficiente para vencer as eleições, o PT muda gradualmente o 
discurso, a começar pela escolha do então prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci, para 
a coordenação de campanha de Lula. Palocci era um quadro menosexpressivo do 
comando do partido e mais afastado das decisões centrais, ao mesmo tempo em que tinha 
bom trânsito entre mercado, políticos e empresários. A esse fato, foram somadas: a “Carta 
aos brasileiros”, em que o PT se comprometia a manter as conquistas de estabilidade 
macroeconômica dos anos anteriores; e a escolha de José Alencar (empresário bem 
sucedido de mineração) para a chapa de Lula na condição de vice-presidente. 
 
 
 
O PT gradualmente se afastou do seu discurso tradicional, e se 
aproximou de forças políticas a que antes se opunha, em busca 
de uma coalização capaz de vencer as eleições. 
 
 
 
Giambiagi (2011) considera que, além do faro eleitoral, pesaram para essa inflexão dois 
fatores. O primeiro foi a crise argentina de 2001 e o medo de um efeito contágio, uma vez 
que, no país vizinho, havia ocorrido uma interrupção do crédito externo. O segundo foi a 
própria percepção de que a situação externa do Brasil dependeria ainda fortemente dos 
empréstimos estrangeiros e do FMI (Fundo Monetário Internacional). Sem esses 
empréstimos, faltaria moeda forte (dólar) no país, e o início do governo Lula poderia sofrer 
um quadro de depreciação cambial. E essa depreciação, por sua vez, poderia gerar inflação 
acelerada e risco de insolvência, uma vez que grande parte da dívida era atrelada direta ou 
indiretamente ao dólar. 
 
 
 
Saiba Mais 
Insolvência é a incapacidade de pagamento, como ocorre quando empresas ou o governo 
não conseguem honrar dívidas em dólar. 
 
 
 
 
 
 
https://conteudo.ensineme.com.br/ge/02402/intro?brand=estacio#
 
 
O programa do PT lançado para as eleições de 2002 corrobora essa percepção e 
leva a uma melhora dos mercados. Porém, em 2002, há uma forte crise cambial, 
causada em parte pelo chamado “risco Lula”, que adicionou prêmio de risco aos 
ativos brasileiros – ou seja, os investidores nacionais e internacionais reduziram o 
interesse em ativos do país dada sua percepção de risco econômico, só aceitando 
adquiri-los quando houvesse expectativa de um retorno maior. Além disso, houve 
um conjunto de mudanças regulatórias na gestão cambial por parte do Banco 
Central, o que também afetou a demanda dos investidores. 
 
 
 
No segundo semestre de 2002, a taxa de câmbio depreciou para mais de R$3,30 e 
o risco-país se elevou de 700 para 1400 bps. Os juros futuros dispararam e as LFTs 
(pós-fixadas) chegaram a cotar 120% ao ano. Isso em um cenário com apenas 20 
bilhões de dólares em reservas internacionais, déficit corrente de 5% do PIB e conta 
capital predominantemente volátil e de curto prazo, com forte caráter especulativo. 
Em suma: houve grande saída de recursos do país, diante da insegurança dos 
investidores em relação à economia brasileira, gerando depreciação cambial e 
aumento dos juros. 
 
 
 
Para entender melhor: 
 
● BPs são pontos base: simplesmente uma unidade de medida tipicamente 
usada no mercado financeiro. Por exemplo, se um título tinha um retorno de 
5% e passa para 5,50%, houve um aumento de 50 pontos base.´ 
 
● LFTs (Letra Financeira do Tesouro), um título público chamado hoje de 
Tesouro Selic. É um título pós-fixado, ou seja, sua remuneração não é 
conhecida de antemão, mas acompanha a taxa Selic, a taxa básica de juros 
estabelecida pelo Banco Central. Quando a Taxa Selic aumenta, a 
remuneração da LFT também aumenta, por isso é um título público 
comprado, em geral, por pessoas que acham que a Selic vai aumentar. 
● 
 
 
Nesse contexto, por meio da Circular 3086 do Banco Central, a autoridade 
monetária remarcou os fundos de investimento a preços de mercado, gerando alta 
volatilidade dos preços dos títulos públicos, o que aumentou a necessidade de 
financiamento da dívida interna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A situação foi agravada por mais dois elementos: 
 
 
 
1. O Regime Especial de Tributação, que impôs a antecipação do pagamento 
de impostos atrasados para recompor a arrecadação federal. 
2. Os leilões de LFTs casados com oferta de swaps cambiais para conferir 
hedge aos investidores, de forma que não precisassem sair do país. Se você 
ainda não estudou esses conceitos, não há problema: basta saber que os 
swaps cambiais, ofertados pelo Banco Central, funcionam como um seguro 
contra grandes variações da taxa de câmbio, evitando que o investidor tenha 
grandes perdas. 
 
 
 
 
 
A primeira medida gerou um aumento do financiamento no mercado de títulos 
públicos. Já a segunda provocou um aumento da demanda por dólares. Essas 
medidas conjugadas reforçaram a crise cambial, que durou até o final do ano de 
2002. É esse o cenário macroeconômico que Lula encontra em janeiro de 2003, 
quando assume a presidência. 
 
 
 
A fase Palocci dos anos Lula: ajuste fiscal e 
manutenção dos fundamentos 
macroeconômicos 
 
As primeiras medidas 
 
O governo Lula inicia-se com um documento do Ministério da Fazenda, sob a 
gestão de Antonio Palocci, intitulado “Política econômica e reformas estruturais”, 
que propunha um modelo que combinaria três elementos: desenvolvimento 
econômico, estabilidade macroeconômica e redirecionamento dos gastos públicos 
para as classes menos favorecidas. 
 
 
 
 
 
 
 
Comentário 
José Alencar era do setor empresarial, que sofria com altas taxas de juros. Lula 
buscava conciliar diferentes interesses: tanto a necessidade de controlar a inflação, 
quanto o investimento produtivo e o crescimento econômico. 
 
 
Na prática, o documento corroborou as intenções expressadas pelo PT na mudança 
de tom ainda nas eleições de 2002 e acalmou ainda mais as expectativas do 
mercado. Por outro lado, a nomeação de Henrique Meirelles para a presidência do 
Banco Central foi um forte sinal de comprometimento com os fundamentos 
macroeconômicos, uma vez que Meirelles havia sido presidente internacional do 
Bank Boston e era filiado ao PSDB. Meirelles, embora não tivesse autonomia legal, 
ganhou status de ministro e gozou de liberdade para manejar a política monetária 
sem interferência do presidente, muito embora as críticas do vice José Alencar, por 
vezes, tenham gerado constrangimento. 
 
 
 
Por seu turno, o governo adotou como primeiras medidas o aumento das metas de 
superávit primário (Diferença entre receitas e despesas do governo, excetuando 
despesas financeiras), pois percebeu que o resultado primário necessário para 
estabilizar a dívida não seria mais o mesmo definido pelo governo anterior em linha 
com o FMI. Isso porque a dívida já havia se deteriorado com o aumento dos juros, 
com a contração do PIB (Produto Interno Bruto) e com a expectativa de novos 
aumentos de juros para combater a inflação. Esse aumento de juros elevou o custo 
fiscal do serviço da dívida pública. 
 
 
 
Dessa maneira, as metas de superavit primário aumentaram de 3,75% do PIB para 
4,25% em 2003. A meta de 4,25% foi ainda fixada para os anos de 2004, 2005 e 
2006, garantindo ainda mais o comprometimento do governo com uma política fiscal 
restritiva, o que agradava o mercado. Por sua vez, as metas de inflação anunciadas 
para 2003 e 2004 foram satisfatórias, atendendo às expectativas, sendo de 8,5% 
para o primeiro ano de governo e de 5,5% para o segundo. A meta maior para o 
primeiro buscava acomodar os choques cambiais do ano anterior. 
 
 
 
Com as medidas tomadas pelo governo, o risco-país voltou para 700 bps em março 
de 2003, depois de ter chegado a mais de 2000 em dezembro de 2002. Entretanto, 
 
 
 
 
 
a taxa de câmbio acumulava alta de 70% em 12 meses e a expectativa de inflação 
para 2003 estava em 11%, mesmo com Selic a 25% ao final de 2002. 
 
 
 
Comentário 
Lembre-se de que a depreciação cambial pode gerar aumento da inflação: bens 
importados, bens que competem com importados, e bens vendidos ao exterior ficam 
mais caros. A taxa Selic é um instrumento para combater a inflação: quando 
aumenta, os investimentos produtivos ficam menos rentáveis em comparação ao 
mero investimento em títulos públicos. Uma taxa Selic de 25% é extremamente alta, 
e ainda assim havia o risco de que não fosse suficientepara controlar a inflação. 
 
 
 
 
No primeiro semestre de 2003, as medidas de política econômica e a melhora da 
balança comercial levaram a taxa de câmbio para três reais, uma apreciação 
significativa. Além disso, o acordo com o FMI foi renovado, mas o governo não 
precisou acessar a linha de crédito do Fundo, pois o capital externo voltou a entrar 
no país. A balança comercial superou os 13 bilhões de dólares e o déficit em conta 
corrente caiu para menos de 8 bilhões. Por seu turno, a maior entrada de capitais foi 
favorecida pela baixa de juros americanos, que caíram para 1% ao ano: dessa 
forma, os investidores tinham menos retorno nos Estados Unidos, e passaram a 
procurar outros países para investir. Dizemos que havia uma grande liquidez 
(abundância de recursos) no mundo, o que continuou por um longo período. 
 
 
 
 
Mesmo assim, sentindo os efeitos do repasse cambial, a inflação chegou a 17% em 
maio e, a partir daí, começou a arrefecer. Para isso, a política monetária foi bastante 
restritiva com a taxa básica Selic, que foi de 25% para 26,5% ao ano, para somente 
após maio, começar a se reduzir, chegando a 8% em 2004. A inflação fechou 2003 
em 9,3%, acima da meta, mas bem abaixo do pico das expectativas. 
 
 
 
As reformas propostas 
 
 
 
 
 
No plano reformista, duas propostas foram encaminhadas ao Congresso Nacional, o 
que gerou insatisfação na base mais à esquerda dentro do PT. A primeira foi a 
reforma tributária e a segunda a reforma da Previdência. 
 
 
 
Segundo Giambiagi (2011), a reforma tributária tinha quatro objetivos: 
 
● Unificação da legislação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias 
e Serviços). 
● Padronização da Desvinculação de Receitas da União (DRU). 
● Renovação da contribuição da CPMF (Contribuição Provisória sobre 
Movimentação Financeira). 
● Transformação do COFINS (Contribuição para o Financiamento da 
Seguridade Social) em tributação sobre valor adicionado, não mais em 
cascata. 
 
 
Já a reforma da Previdência foi voltada para o RPPS (Regime Próprio de 
Previdência Social, dos funcionários públicos) e tinha as seguintes características: 
1. Taxação dos inativos à mesma alíquota dos ativos. 
2. Aplicação de um redutor para pensões acima de determinado piso de 
isenção. 
3. Aumento das idades mínimas (60 para homens e 55 para mulheres). 
4. Definição do mesmo teto do INSS (dos funcionários do setor privado) para os 
novos servidores públicos, com possibilidade de previdência complementar. 
Ou seja, o setor público não garantiria aos servidores um valor máximo 
diferente do que um trabalhador privado obtinha: tanto um quanto outro 
precisaria recorrer a uma forma adicional de poupança (como a previdência 
complementar) para receber além do teto. 
 
 
A gestão da dívida pública 
 
 
A partir de setembro de 2004, há novo ciclo de aumentos da taxa de juros (Selic), 
que saiu de 16% para 19,75% em maio de 2005. A medida foi uma reação para a 
alta de preços de commodities. Nesse momento, havia a aceleração do crescimento 
chinês, que foi fundamental para aumentar os preços de commodities em dólar e 
também a demanda externa para a economia brasileira. 
 
Afinal, o que são commodities? 
 
 
 
 
 
 
 
Saiba Mais 
Commodities são bens extraídos diretamente, com pouco ou nenhum 
processamento, como minério de ferro ou soja. São fundamentais para qualquer 
país em crescimento, e a China, que começava a acelerar seu processo de 
crescimento econômico para atingir níveis poucas vezes vistos, demandava 
quantidades cada vez maiores de commodities brasileiras, o que provoca uma 
pressão sobre os preços. 
 
 
A política restritiva do BCB (Banco Central do Brasil) tentou evitar aumento da 
inflação, que estava pressionada pelo preço do petróleo, entre outras commodities, 
e a redução do hiato do produto. Outros ciclos de aperto nos anos Lula ocorreram 
entre abril e setembro de 2008 (de 11,25% para 13,75%) por conta do aquecimento 
da atividade no pré-crise global, e entre abril e junho de 2010 (de 8,75% para 
10,75%) como resposta à recuperação acelerada no pós-crise. 
 
 
 
No plano externo, a melhora dos termos de troca e a abundância de liquidez foram 
decisivas para a trajetória de apreciação da taxa de câmbio. Nesse contexto, há 
duas mudanças importantes na gestão da dívida pública e em seu perfil. Com a 
entrada crescente de fluxo de moeda estrangeira por conta dos efeitos China (alta 
demanda provoca altos preços) e EUA (baixos juros externos provocam entrada de 
capitais no Brasil), houve melhora na conta corrente (efeito China) e na conta capital 
e financeira (efeito EUA). 
 
 
 
Nesse cenário, o BCB adotou uma política de compra de reservas internacionais 
esterilizada. Se você ainda não estudou esse tipo de operação, basta saber que o 
BCB comprava os dólares que entravam no país e os usava para comprar títulos 
públicos americanos, que compunham as reservas internacionais do Brasil. Para 
comprar esses dólares, porém, o BCB usa naturalmente a moeda brasileira: reais. 
Logo, uma entrada de dólares acaba provocando um aumento da quantidade de 
moeda (reais) em circulação na economia, o que representa um afrouxamento 
monetário, ou uma redução da taxa Selic. Para evitar essa redução, o BCB precisa 
comprar esses reais para tirá-los de circulação, e para isso vende títulos públicos, o 
que “esteriliza” o aumento da oferta de moeda causado pela compra de dólares. 
Para simplificar: no fim das contas, o BCB simplesmente compra dólares e vende 
títulos públicos. 
 
 
 
 
https://conteudo.ensineme.com.br/ge/02402/intro?brand=estacio#
 
 
 
 
Por um lado, essa venda de títulos públicos era contabilizada como um aumento da 
dívida bruta (tecnicamente, tratam-se das chamadas operações compromissadas, 
que têm esse registro contábil). Por outro lado, houve redução da dívida líquida, já 
que as reservas internacionais são contabilizadas na dívida líquida. 
 
Finalmente, o grande ponto positivo nesse caso foi que o Brasil se tornou credor 
externo líquido, pois o volume em dólares de reservas superou o estoque de 
passivo externo (pense em dívidas para simplificar) em dólar. Esse estoque parou 
de aumentar porque o Brasil não fez empréstimos junto ao FMI e a organismos 
internacionais. 
A partir desse momento, nota-se uma reversão de um padrão histórico na economia 
brasileira, já que, antes, um processo de depreciação cambial deteriorava os 
indicadores fiscais por meio de um aumento da dívida externa. Agora, a depreciação 
cambial reduzia a dívida! 
 
 
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Uma depreciação da taxa de câmbio aumentava em reais os valores das reservas 
denominadas em dólares e, assim, o ativo do BCB aumentava em reais sem 
necessidade de aumento de compras de novos dólares, isto é, sem alterações no 
estoque do ativo. 
 
 
Na prática, isso se configurou um enorme avanço institucional à medida que 
mitigava a vulnerabilidade externa do país, sobretudo com a redução do risco de 
ataques especulativos tão comuns nos anos 1990. Esse aumento de reservas foi 
elemento-chave no bom enfrentamento da crise global de 2008. 
 
 
É importante pontuarmos que a melhora do perfil da dívida também se deu por outro 
aspecto no âmbito interno. 
 
 
 
Com a melhora dos indicadores fiscais, com o comprometimento do governo em 
manter os pilares da economia e com o cenário externo favorável, a avaliação do 
país nos mercados externos melhorou. Nessa seara, o Tesouro Nacional aproveitou 
para trocar títulos indexados à taxa de câmbio ou em dólares por títulos indexados 
em reais, notadamente, LFTs, por estarem atrelados a uma taxa Selic crescente, ou 
 
 
 
 
 
em NTNs-B (Notas do Tesouro Nacional, título público atrelado à inflação), que 
garantiam uma parcela pré-fixada atrativa e uma parte flutuante que acompanharia 
a inflação. 
 
 
 
 
Isso foi possível porque o país atraía investidores menos preocupados com 
instabilidade cambial, e que portanto não precisavam de proteção contra variações 
cambiais. Na prática, o país atraía investidores que pensavammais no longo prazo, 
e que acreditavam nos fundamentos da economia do país. 
 
Vale lembrar que a boa avaliação da dívida brasileira culminou em 2008 com a 
obtenção do grau de investimento por parte das principais agências de rating 
internacional. Na prática, ainda houve venda de títulos pré-fixados nos momentos de 
queda esperada na taxa Selic, ou seja, o Tesouro Nacional (TN) ia a mercado 
resgatar títulos em dólares ou indexados ao câmbio e, assim, vendia novos títulos 
mais longos e indexados a taxas de juros internas com liquidação em reais. 
 
Vamos resumir essa melhoria da situação fiscal. Quando o país tem poucos 
investidores, é difícil para o governo financiar a dívida pública. 
 
É necessário garantir aos investidores proteção contra variações cambiais, e contra 
mudanças na taxa de juros (Selic). Com um aumento do investimento no país, seja 
por maior volume de recursos internacionais ou por maior confiança no país, 
torna-se menos necessário recorrer a esse tipo de proteção, que é boa para os 
investidores, mas é cara para o país porque gera uma dívida pública instável, por 
ser muito dependente de fatores conjunturais que afetam os juros e o câmbio. 
 
Esse elemento foi muito importante, pois conferiu maior autonomia monetária e 
fiscal ao governo Lula, que pôde, assim, não ter maiores preocupações com o longo 
prazo nem com a sustentabilidade fiscal. 
 
 
 
A fase Mantega: expansão social, crise de 2008 
e a mudança de orientação de política 
econômica 
 
Os novos rumos 
 
 
 
 
 
 
 
Havia um entendimento dentro do PT e do núcleo duro do governo que o ajuste 
fiscal e a política de sinalização para “agradar aos mercados”, ao mesmo tempo em 
que serviria para conciliar classes, seria útil para evitar adversidades no plano 
financeiro ao novo governo. Essa análise consta em Barbosa (2013), que versa 
acerca do ajuste ter sido exigido também por conta do fim das arrecadações não 
recorrentes, como os recursos obtidos com privatizações, ao passo que o aperto da 
política monetária levaria a uma alta da despesa financeira, com juros da dívida 
pública. 
 
 
 
 
 
 
	Ótica da oferta 
	Ótica da renda 
	Fluxo x estoque 
	PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB 
	Deflator do PIB 
	Sazonalidade 
	Outros indicadores de renda das contas nacionais 
	Relembrando 
	Produto Nacional Bruto - PNB 
	Crescimento acelerado e períodos de recessão 
	TEMA 3 
	Economia Brasileira no Século 21: 2003 em Diante 
	A eleição de Lula 
	Saiba Mais 
	A fase Palocci dos anos Lula: ajuste fiscal e manutenção dos fundamentos macroeconômicos 
	Comentário 
	Comentário 
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	A fase Mantega: expansão social, crise de 2008 e a mudança de orientação de política econômica

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