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CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS PROF. PAULO EMÍLIO IESB - DIREITO PENAL I – AULA VIII I – CONDUTA. I.B) AUSÊNCIA DE AÇÃO OU OMISSÃO Como visto, a existência de ação ou omissão é necessária para a existência de conduta, ou seja, a vontade de delinqüir não é punível, se não for seguida de um comportamento externo (positivo ou negativo). Todavia, é de se ver que mesmo a existência do comportamento (ação ou omissão) não produz efeitos penais se não for orientado pela vontade e consciência do agente. Há ausência de ação por falta do elemento volitivo, segundo a doutrina dominante, em três grupos de casos: - Coação física irresistível (‘vis absoluta’ ) Quem atua movido por uma força física irresistível não age voluntariamente. Quem atua nessas circunstâncias não é o realizador do ato material praticado, mas sim mero instrumento realizador da vontade do coator. Vale distinguir, já de antemão, coação física e coação moral; nesta não há culpabilidade, naquela não há autoria, ou seja, não há conduta praticada pelo coato. A coação física excluir a própria ação, enquanto a coação moral exclui a culpabilidade, desde que irresistíveis. Nesse mesmo ponto, diga-se que o Código Penal reconhece a figura da autoria mediata. (CP, Art. 22 – “Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem”). - Movimentos reflexos. São os atos reflexos, assim considerados os movimentos puramente somáticos, aqueles em que o movimento corpóreo é determinado somente por estímulos externos dirigidos ao sistema nervoso. Pode-se afirmar que, em casos tais, não há existência de vontade impulsionadora do movimento e, portanto, não há ação. Não se pode, entretanto, confundir as reações explosivas dos indivíduos de forte temperamento com os movimentos reflexos, pois naqueles existe a vontade, ainda que de modo fugaz. - Estados de inconsciência Estados de inconsciência são aqueles em que as funções mentais não se encontram em pleno funcionamento. A doutrina e a jurisprudência têm identificado como estados de inconsciência o sonambulismo, a hipnose, etc. Como nesses casos não há existência da vontade não há se falar em ação penalmente relevante. Há controvérsia no que se refere à embriaguez letárgica – aquela referente ao último estágio da embriaguez, em que não há qualquer controle da vontade. Todavia, no nosso Direito Penal, a embriaguez não afasta a existência da ação penalmente relevante, podendo ser excludente de culpabilidade se tiver sido fortuita. Nesse sentido é a inteligência do art. 28, II e seus §§ 1º e 2º, do Código Penal, assim redigidos: “Art 28 - Não excluem a imputabilidade penal: I – a emoção ou paixão; II – a embriaguez. § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.”. Examinadas estas hipóteses, pode-se concluir que a adoção da teoria finalista da conduta afasta as condutas em que não há vontade finalista da valoração pelo Direito Penal. I.C) SUJEITOS DA AÇÃO - Sujeitos ativos da ação Por ser o crime uma ação humana, somente o ser vivo, nascido de mulher, pode ser autor de crime. A conduta, assim, é produto exclusivo do homem, pois exige a presença de uma vontade, entendida como faculdade psíquica da pessoa individual. Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito como crime na norma penal incriminadora. Para ser considerado sujeito ativo de uma crime é preciso executar total ou parcialmente a figura descritiva de um crime. Normalmente as normas penais incriminadoras não se referem ao sujeito ativo do crime. Esses crimes são chamados crimes comuns, isto é, podem ser praticados por qualquer pessoa. Por outras vezes, os tipos penais requerem determinada condição ou qualidade do sujeito ativo (v.g. art 268 do CP). Tais crimes são chamados de crimes próprios ou especiais. - Sujeitos passivos da ação Sujeito passivo é o titular do bem jurídico atingido pela conduta criminosa. Pode ser: a) o ser humano (ex. crimes contra a pessoa); b) o Estado (ex. crimes contra a Administração Pública); c) a coletividade (ex. crimes contra a saúde pública). Sob o aspecto formal, o Estado é sempre o sujeito passivo do crime, motivo pelo qual é chamado de sujeito passivo mediato. Sob o aspecto material, sujeito passivo é o titular do bem jurídico ofendido ou colocado em perigo, pelo que se chama de sujeito passivo imediato. Nada impede, todavia que o Estado seja o sujeito passivo mediato e imediato de um crime, como, por exemplo, nos crimes contra a Administração Pública. - A pessoa jurídica como sujeito ativo de crime. Maciça doutrina posiciona-se contra a adoção da responsabilidade penal da pessoa jurídica (societas delinquere non potest), por considerar inexistentes as capacidades natural de ação e de culpabilidade. No Brasil, a previsão contida no art. 225, § 3º da Constituição Federal, que prevê a responsabilidade penal das pessoas jurídicas por crimes contra o meio ambiente, tem gerado enorme divergência entre os doutrinadores. A maior parte da doutrina repudia tal possibilidade, à vista de não haver conduta que possa ser imputada à pessoa jurídica, que age através da vontade das pessoas ou órgãos que a compõem. Para combater a possibilidade de responsabilidade penal da pessoa jurídica, alguns doutrinadores invocam o disposto no art. 173, § 5º da CF, que dispõe: “A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com a sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular” Argumentam que dessa previsão pode-se concluir que: 1) a responsabilidade dos dirigentes não se confunde com a responsabilidade jurídica; 2) a Constituição não dotou a pessoa jurídica de responsabilidade penal. Ao contrário, estabeleceu que a responsabilidade à aplicação de sanções compatíveis com a sua natureza (administrativas e cíveis). Assim, a pessoa jurídica pode ser utilizada como meio da prática de crimes, por isso que deve-se individualizar quem são os autores dos fatos praticados em nome da pessoa jurídica, tidos como criminosos, que devem ser responsabilizados penalmente. II. A OMISSÃO E SUAS FORMAS. O Direito Penal contém normas penais proibitivas e imperativas. A infração dessas normas imperativas constitui a essência do crime omissivo. Configura-se o crime omissivo quando o agente não faz o que pode e deve fazer, que lhe é juridicamente ordenado. Portanto, o crime omissivo consiste sempre na omissão de uma determinada ação que o sujeito tinha obrigação de realizar e podia fazê-lo. II.A) TEORIAS DA OMISSÃO Há diversas teorias que tratam da omissão, dentre as quais cabe destacar: - Naturalística: para esta teoria a omissão é um fenômeno causal que produz resultados no mundo dos fatos. Foi duramente criticada, principalmente por Maurach, que apontou o erro em se supor que a omissão pode ser causa de algum resultado. Observou que, se a omissão é um nada, “do nada, nada pode surgir” e concluiu: “por isso, o delito de omissão não pode originar nenhuma relação de causalidade”. Assim, por exemplo, se um pedestre observa um atropelamento e sadicamente observa a vítima agonizante semagir para evitar o resultado morte, pela teoria naturalística da omissão, o pedestre responderia por homicídio ao lado do motorista. Nosso ordenamento não adotou tal teoria, sendo certo dizer que no exemplo citado, o pedestre responderia por crime de omissão de socorro com a qualificadora aplicável em razão da morte, mas não pelo crime de homicídio. - Normativa: para essa teoria, a omissão é um nada, logo não pode causar coisa alguma. Assim, a omissão não pode ser considerada causa de algum resultado. Embora não se possa estabelecer o nexo causal entre a omissão e o resultado, essa teoria admite que aquele que se omitiu seja responsabilizado pelo resultado. A omissão penalmente relevante é constituída de dois elementos: o non facere (não fazer) e o quod debetur (aquilo que tinha o dever jurídico de fazer). Não basta, portanto, o “não fazer”, sendo necessário que, no caso concreto, exista uma norma determinando o que devia ser feito. A omissão, assim, é um “não fazer o que deveria ser feito”. Daí o nome teoria normativa. Diga-se, ainda, que a configuração da omissão penalmente relevante não só quando exista norma determinando o comportamento omitido. Nosso Código impõe três situações em que estará presente o dever jurídico: a) quando houver uma determinação específica prevista em lei (dever legal); b) quando o omitente tiver assumido por qualquer outro modo a obrigação de agir (dever do garantidor); c) quando o omitente, com seu comportamento anterior, criou o risco para a produção do resultado, o que não impediu (dever por ingerência da norma). II.B) DA POSIÇÃO DE GARANTIDOR (ART 13, § 2º, CP) Como dito, as omissões penalmente relevantes são as previstas no art. 13, § 2º do Código Penal, que serão agora analisadas: - a) dever legal (obrigação de cuidado, proteção ou vigilância) – decorre da obrigação de cuidado, proteção ou vigilância imposta por lei, o próprio texto de norma legal (de natureza não penal) que impõe o dever. Dever de assistência entre pais e filhos, por exemplo. Há também um dever legal de proteção e vigilância daquelas pessoas que exercem determinadas atividades, como os policiais, os bombeiros, etc. Nesses casos, se o sujeito, por sua abstenção, não age para obstruir o processo causal que se desenrola em sua presença, considera-se que o causou. Assim, por exemplo, o médico que deliberadamente se omite de prestar socorro a quem está em situação de risco de morte não responde pelo crime de omissão de socorro (art. 135), mas pelo próprio resultado morte, verificado em razão de sua omissão (homicídio). - B) de outra forma assumiu o dever de evitar o resultado – por muito tempo se disse em dever contratual. Todavia, ainda que o configure, o contrato não esgota todas as possibilidades de tal dever de garante. O que se necessita é que o sujeito tenha voluntariamente se colocado na condição de garante, como, por exemplo, nos casos em que uma vizinha se disponha a cuidar das crianças de uma residência, está se obrigando a agir para evitar a ocorrência de um resultado lesivo. - C) com o seu comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado – Nesses casos, o sujeito coloca em andamento um processo causal, com seu comportamento anterior, ou então agrava um processo causal já existente. Não importa que o tenha feito voluntária ou involuntariamente, dolosa ou culposamente; importa que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco ou agravou uma já existente. Um exemplo é o de um sujeito que, de forma imprevidente, coloca um vidro de remédio em local ao alcance de uma criança que mora no mesmo local, que apanha o frasco, toma o remédio e passa mal. O sujeito percebe o que está acontecendo e não socorre a criança. Se omite, assim, de uma obrigação que lhe incumbe em razão de uma conduta anterior criadora de uma situação de risco. II.C) CRIMES OMISSIVOS O crime omissivo divide-se em crime omissivo próprio e omissivo impróprio. Os primeiros são crimes de mera conduta, como, por exemplo, o crime de omissão de socorro (CP, art. 135), aos quais não se atribui resultado algum, mas pune-se o próprio comportamento omissivo. Os omissivos impróprios, por sua vez, são crimes de materiais ou de resultado. Os crimes omissivos próprios são previstos em tipos penais em que o verbo nuclear prevê uma falta de ação, um não fazer, ou seja, uma omissão (“deixar de”). Esse não fazer se refere à desatenção do dever jurídico imposto por uma norma mandamental. Ex.: art 135 e 269 do Código Penal. Nesses crimes, basta a abstenção, pois o que se pune a mera inatividade, atribuída a qualquer pessoa. O resultado que eventualmente possa advir de tal omissão será irrelevante para a configuração do crime, podendo, todavia, ser uma qualificadora ou majorante da pena. Assim ocorre no citado crime de omissão de socorro, que se consuma quando o agente devia e podia agir. A morte ocasionada pela omissão poderá aumentar a pena imposta ao omitente. Há, todavia, nos casos de majoração, a necessidade de verificação da relação de causalidade entre a omissão e o resultado. Devemos, em casos tais, indagar se o resultado verificado (morte, por exemplo) seria afastado pela ação omitida. Os crimes omissivos impróprios são também denominados de crimes comissivos por omissão, no qual o dever de agir é para evitar um resultado concreto. Nesses crimes, o omitente não tem simplesmente a obrigação de agir, mas a de agir para evitar um resultado. Nos crimes comissivos por omissão há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de resultado. Trata-se de crimes que são previstos sem que o verbo nuclear revele, em si mesmo uma omissão. Assim, por exemplo, o crime de infanticídio é, em princípio, um crime comissivo (praticado por meio de ações), mas pode ser praticado por meio de uma omissão de quem tenha o dever de impedir o resultado. É o caso da mãe que, em estado puerperal, resolve matar o filho, logo após o parto e deixa de amamentá-lo, causando, assim, a morte da criança. No caso, a mãe praticou um infanticídio por meio da omissão de um dever legal que lhe incumbia, qual seja, o dever de alimentar. Há também de se mencionar que pequena parte da doutrina reconhece a existência de crime omissivo por comissão em que há uma ação provocadora da omissão. Ex. chefe de uma repartição impede que sua funcionária seja atendida quando está passando mal. Essa categoria não é reconhecida por grande parte da doutrina. Outra modalidade de omissão que merece citação é a de participação por omissão, que ocorre quando o omitente, tendo o dever jurídico de evitar o resultado, concorre para a sua prática ao se quedar inerte. (Ex. é a do porteiro que concorrendo para a prática de furto em apartamento se omite, deliberadamente, de acionar o alarme) Nesses casos, responderá como partícipe do crime de furto. Requisitos da omissão: para a caracterização da conduta omissiva é necessário analisar a ocorrência dos seguintes requisitos: a) Conhecimento da situação típica; b) Consciência, por parte do omitente, de seu poder de ação para a execução da ação omitida (é chamado dolo da omissão) c) Possibilidade real, física, de levar a efeito a ação exigida. Na presença de tais condições pode-se dizer que o omitente tinha a real possibilidade de agir
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