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Plano de Metas JK

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Atividade de 18/09/2008
Ler o texto abaixo. A continuidade do programa será iniciada com o Plano de Metas do Governo JK. (Obs.: apenas ler o texto, não há a necessidade de se fazer síntese).
O que teria levado JK a ousar um planejamento global para a economia brasileira? A decisão de planejar é, antes de tudo, um ato político. Considerando que nosso país sempre teve partidos políticos de quadros e não propriamente de massa, de onde poderia ter derivado tal decisão? 
De um lado, a participação popular no período JK expandiu-se aceleradamente. Antes, na Primeira República, o número de votantes não ultrapassava 4 por cento do total da população brasileira. Na gestão de Getúlio Vargas houve ampliação para 9 por cento, e no seu segundo mandato o número de votantes atingiu 13 por cento de eleitores. Mas, no tempo de JK, 18 por cento da população brasileira já exercia o direito ao voto, e a taxa de crescimento das áreas urbanas chegou — no período — a 3 por cento ao ano, enquanto, na zona rural, o crescimento conservou-se puramente vegetativo. Significa que o Brasil tornava-se aceleradamente mais urbano, com mais de 45 por cento da população residindo em cidades. 
E de outro lado, o fenômeno do crescimento urbano e a ampliação do voto popular proporcionaram a costura de um pacto entre as elites e a massa populacional. Houve forte troca de interesses, e o beneficiado político, sem dúvida, foi o próprio JK. A massa fornecia o voto, legitimando o poder das elites para governar, e recebia, em troca, empregos e casa para morar. Surgia, assim, um consenso nos moldes do tradicional “populismo”, quando JK acabou recebendo apoio generalizado para fazer praticamente o que bem entendesse. Ficou eliminada politicamente a possibilidade de conflitos, obtendo o apoio tanto das elites como da massa de trabalhadores urbanos do país. 
A criação do slogan “50 anos em 5” foi surgindo aos poucos. JK conheceu a proposta da Comissão Mista Brasil/EUA e seus diagnósticos sobre os estrangulamentos econômicos no país. Sentiu que poderia corrigir tais obstáculos, proporcionando uma reviravolta no crescimento econômico nacional. Os primeiros problemas que teve de enfrentar foram a carência de recursos humanos e a pesada burocracia do Estado. Naquela época, apenas 12 por cento do funcionalismo havia ingressado no serviço público por mérito e capacidade. Ou seja, 88 por cento dos servidores ocupavam apenas “cabides eleitorais” de emprego. Em vista disso, JK escolheu alguns técnicos de comprovada capacidade no meio do funcionalismo, convocou o então diretor da Comissão Mista Brasil/EUA — Lucas Lopes —, além de técnicos do setor privado, criando vários grupos para sua empreitada. E, para burlar a burocracia estatal, concedeu liberdade de ação para os grupos executivos criados, que passariam a dar satisfações única e diretamente ao presidente, e não a seus respectivos ministérios. s técnicos da Comissão Mista Brasil/EUA haviam detectado vários pontos de estrangulamento internos, principalmente nos setores de energia, transportes e alimentação. No setor externo, o prejuízo diagnosticado foi a taxa de câmbio. Como o Brasil dependia das exportações de café para auferir reservas internacionais, o câmbio desvalorizado fornecia saldos comerciais, mas impedia a importação de bens de capital necessários para maior arrancada industrial. Ou seja, o Brasil tinha uma industrialização restringida, basicamente limitada pelas exportações de café. Diante disso, JK interveio na taxa cambial, implantando diferentes taxas setoriais, favorecendo a importação de bens de capital e de tecnologia para o país. 
Além dos pontos de estrangulamento, os integrantes da Comissão Mista Brasil/EUA elegeram alguns pontos de germinação que consideraram necessários para incrementar novos investimentos, objetivando maior aquecimento da economia brasileira. Daí a intenção da construção de Brasília e a interiorização dos multiplicadores de investimentos pelo interior do território nacional. 
Formaram-se, então, cinco grupos executivos com tarefas bastante distintas. O grupo executivo de energia, o grupo executivo de transportes, o grupo executivo da alimentação, o grupo executivo da indústria de base e o grupo executivo da educação. Cada núcleo tinha --dentro do orçamento — uma meta a cumprir nos cinco anos de governo. Havia pressa na concretização do tal Plano de Metas, pois o slogan “50 anos em 5” já havia sido amplamente veiculado. Na prática, então, cada hora de trabalho realizada teria de valer por 50 horas. 
	
	
Os resultados alcançados pelo Plano de Metas foram positivos, e o impacto na economia brasileira — como um todo — foi admirável. No setor de energia foram gastos 44 por cento do total de investimentos previstos no plano, e os resultados foram expressivos. Na geração de energia elétrica, 88 por cento da meta foi cumprida, com elevação da capacidade instalada para 5.000.000 kw. No ramo de energia nuclear, 100 por cento da meta foi alcançada com novas prospecções, implantação de termelétricas e instalação de um reator da Universidade de São Paulo (USP). Quanto ao petróleo, na área de produção 76 por cento da meta foi realizada e na de refinação atingiu-se 125 por cento do objetivo proposto. Somente abandonou-se a meta prevista na produção de carvão mineral em função da queda brusca de demanda, dada a substituição das máquinas a vapor pelas locomotivas movidas a óleo diesel. 
A segunda meta, de transportes, arrebanhou 30 por cento dos recursos orçamentários do plano. O serviço de pavimentação das rodovias atingiu 100 por cento do previsto, e a abertura de novas rodovias ultrapassou 150 por cento da meta inicial. O incremento portuário foi da ordem de 57 por cento do projeto, e a implantação da indústria aeronáutica proporcionou a construção de 13 novas aeronaves para o país. O reaparelhamento de ferrovias conseguiu 76 por cento do objetivo inicial, e a construção de novas estradas-de-ferro somente 20 por cento, dada a explícita “opção rodoviária” assumida pelo governo JK. 
No setor de alimentação, a intenção primordial era diminuir a dependência do país das importações de trigo, que sempre pesaram na balança comercial brasileira. Mas cumpriu-se apenas 24 por cento da meta, dada as más condições de produtividade do grão no território brasileiro. Entretanto, em termos de armazéns e silos, e na construção de frigoríficos e matadouros, 80 por cento dos objetivos iniciais foram cumpridos. No ramo de mecanização — fabricação de tratores —, a meta prevista foi largamente ultrapassada, chegando a 77 mil máquinas em operação na agricultura brasileira. Por fim, o ramo de fertilizantes atingiu 250 por cento da produção planejada. 
No quarto item, relacionado a indústrias de base, o volume físico da produção praticamente dobrou no período. Nos objetivos previstos, a siderurgia atingiu 100 por cento, a produção de alumínio 80 por cento, de níquel 70 por cento, de cimento 90 por cento e a de minérios de ferro 94 por cento das metas. O planejado era implantar a indústria automobilística e, ao mesmo tempo, dotá-la de um aparato produtivo, aumentando o índice de nacionalização dos veículos produzidos. Para tanto, implantou-se a indústria de borracha sintética e natural, que atingiu 100 por cento do previsto, e a de material elétrico, que também atingiu plenamente a meta. Desde então, o Fusca, a Kombi e o Opala, por exemplo, tiveram presença marcante nas rodovias brasileiras por longo período. 
O setor de educação — quinta meta — obteve apenas 3,4 por cento dos recursos totais do plano, que foram consumidos com a formação de pessoal técnico na USP e com adição de novas verbas orçamentárias para o Ministério da Educação e Cultura. 
	
	
Desse modo, o Plano de Metas foi bem-sucedido, esgotando — na opinião de vários economistas — o modelo de substituição de importações no país. O padrão anterior de acumulação — que era dado pelo café — foi transferido definitivamente para a indústria nacional, o PIB cresceu a 7 por cento em média no período, e a renda
per capita dobrou com relação à década anterior. Tudo isso em tempo recorde de 5 anos! 
Não obstante o crescimento econômico, o processo inflacionário incomodou bastante a população brasileira na gestão JK. O alto nível de preços corroeu grande parte dos ganhos salariais dos trabalhadores. De um lado é bastante compreensível. Quando um governo realiza investimentos — que somente se concretizam em longo prazo —, coloca grande quantidade de dinheiro em circulação e provoca elevação dos preços acionados pela demanda. Ao construir uma usina hidrelétrica, por exemplo, antes da produção de kws, tem de pagar salários e matérias-primas por vários anos, fornecendo demasiada liquidez à economia. JK precaveu-se quanto à inflação de custos ao estabelecer taxa diferenciada de câmbio para os bens de capital importados, mas padeceu da inflação de demanda, em função da grande quantidade de dinheiro em circulação.

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