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P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 1 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA 1) Conceito: - Jurisdição (Juris dictio) – ação de dizer o direito: é um poder-dever constitucionalmente assegurado e entregue ao Judiciário para que se aplique a lei ao caso concreto, resolvendo a demanda penal. - Competência: é a medida da Jurisdição, ou seja, é a quantidade de poder especificado em lei e entregue a determinado órgão, delimitando a sua margem de atuação. 2) Critérios de definição (classificação) da competência: 03 subcritérios de definição: [1] Competência ratione materiae (matéria); [2] Competência ratione loci (lugar); [3] Competência ratione personae (pessoa). 3) Competência ratione materiae (matéria): 3.1) Conceito: detectar qual é a Justiça competente. 3.2) Distribuição: I - Justiça comum a) Estadual: julgar aquilo que não for expressamente conferido pela Constituição às demais justiças (residual). b) Federal: é a justiça da União, e a sua competência esta integralmente prevista na Constituição. II- Justiça Especial a) Justiça Eleitoral: lhe cabe julgar as infrações eleitorais e todas as infrações comuns conexas. E as infrações de menor potencial ofensivo? Poderão ser aplicados os institutos benéficos dos Juizados Especiais (Arts. 69, 74, 76 e 89 da Lei 9.099/95), MAS A COMPETÊNCIA AINDA É DA JUSTIÇA ELEITORAL. b) Justiça Militar: lhe cabe julgar tão somente as infrações militares, assim definidas nos artigos 9º e 10 do CPM. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 2 Obs.1: a Justiça Militar não tem competência para julgar infrações comuns conexas e a solução seria a separação de processos (Art. 79, I do CPP). Obs.2: vale lembrar que o abuso de autoridade (Súmula 172 do STJ), a tortura e os crimes dolosos contra a vida de civil são infrações comuns e não serão julgados na justiça militar. Obs.3: os institutos benéficos da lei dos juizados não se aplicam na esfera Militar (artigo 90 – A da Lei 9.099/95). b.1) Justiça Militar Estadual: os PMs e os Bombeiros Militares. Advertência: pessoas comuns jamais serão julgadas na Justiça Militar Estadual. b.2) Justiça Militar Federal: membros da Marinha, membros do Exercito e da Aeronáutica. Ainda tem competência para julgar pessoas comuns que venham praticar crime militar federal. 3.3) Competência pela “Natureza da Infração” - Conceito: o nosso legislador pode estabelecer o órgão competente para julgar determinado tipo de crime, em razão da sua natureza. - Hipóteses Constitucionais: I- De acordo com o artigo 5, XXXVIII, “d” da CF os crimes dolosos contra a vida tentados ou consumados serão julgados pelo Tribunal do Júri. Obs.: Os crimes dolosos contra vida estão listados nos artigos 121 ao 128 do CP. II- De acordo com o artigo 98, I da CF as infrações de menor potencial ofensivo, quais sejam, os crimes com pena de até 2 anos e as contravenções penais, por sua natureza, serão julgados nos Juizados Especiais Criminais (Arts. 60 e ss da Lei 9.099/95). 4) Competência ratione loci (lugar): 4.1) Conceito: por esse critério determinaremos o juízo territorialmente competente. 4.2) Regras Definidoras: - 1ª regra - Teorias territoriais P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 3 I- TEORIA DO RESULTADO: por ela a competência territorial é estabelecida pelo local da consumação do delito – REGRA: artigo 70, caput do CPP. II- Teoria da Ação: por ela a competência é definida pelo local dos atos executórios. Obs.: ela é aplicada aos crimes tentados (artigo 14, II do CP) e para as infrações de menor potencial ofensivo (art. 69 da Lei 9.099/95). III- Teoria da Ubiquidade (hibrida; mescla; tanto faz o local da ação como o do resultado): Obs.: esta teoria é aplicada aos crimes à distância. Crime a distância é aquele onde a ação criminal nasce no Brasil e o resultado ocorre no estrangeiro ou vice e versa. Neste caso a competência brasileira será fixada pelo local no Brasil em que ocorrer a ação ou o resultado. (Artigo 70, §1º e 2º do CPP). - 2ª regra - Domicílio/Residência (Réu) Obs.: o domicílio da vítima não fixa competência na esfera penal, afinal o réu é a grande referência normativa (artigo 72 e seguintes do CPP). - 3ª regra - Prevenção (antecipação): Juiz prevento é aquele que se antecipa, ou seja, é aquele que primeiro pratica um ato do processo (recebimento da inicial acusatória) ou juiz prevento é aquele que durante o inquérito já adotou medidas cautelares inerentes ao futuro processo (Artigo 83 do CPP). 4.3- Situações especiais de interpretação das regras de fixação da competência territorial: → Infrações consumadas na divisa entre duas ou mais comarcas Neste caso, a competência será resolvida pela prevenção (art. 70, §3º, CPP). → Crime continuado ou permanente que venha a se estender por mais de uma comarca Neste caso, a competência será fixada pela prevenção (art. 71, CPP). → Pluralidade de domicílios ou residências Nesse caso, a competência será fixada pela prevenção (art. 72, §1º). → Peculiaridade das ações privadas Nesse caso, o querelante pode optar em promover a ação no domicílio do réu em detrimento do local da consumação. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 4 Advertência: essa prerrogativa não se aplica à ação privada subsidiária da pública (art. 73, CPP). 5) Competência ratione personae (pessoa): 5.1) Conceito: Algumas autoridades, em razão da importância do cargo ou da função desempenhada serão julgadas originariamente perante tribunal num critério de paridade no tratamento entre os diversos poderes (foro por prerrogativa de função). 5.2) Regras interpretativas: → Foro por prerrogativa x deslocamento As autoridades com foro por prerrogativa no TJ/TRF, ao praticarem crime fora do Estado ou da região, serão julgadas no seu tribunal de origem. → Foro por prerrogativa x Júri Para o STF, na súmula 721, as autoridades com foro por prerrogativa na Constituição Federal não vão a júri. O mesmo não ocorre quando a prerrogativa é estabelecida apenas na Constituição Estadual. → Cidadão comum Segundo o STF, na súmula 704, não há violação às garantias constitucionais quando o cidadão comum é julgado originariamente perante o tribunal, por ter praticado o crime com a autoridade que goza de prerrogativa de função. → (TJ e TRF) X TRE O foro por prerrogativa no TJ ou no TRF, ao praticarem crime eleitoral, serão julgadas no TRE. → Perpetuação no tempo da prerrogativa de função Com a declaração de inconstitucionalidade dos parágrafos 1º e 2º do artigo 84 do CPP, passamos a ter as seguintes regras: 1ª Regra: para os crimes, uma vez encerrado o cargo ou o mandato, encerra-se o foro por prerrogativa de função, e vice-versa; 2ª Regra: para as ações de improbidade administrativa não há foro por prerrogativa em nenhum momento. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 5 PROCEDIMENTOS 1. Considerações: 1.1. Enquadramento terminológico: a) Procedimento: é uma sequência lógica de atos concatenados em lei e destinados a uma finalidade. b) Processo: é um procedimento em contraditório enriquecido pela relação jurídica construída entre o juiz e as partes. c) Rito (“ritmo”): é a amplitude assumida por determinado procedimento. d) Ação: é um direito público e subjetivo constitucionalmente assegurado de exigir do estado-juiz a aplicação da lei ao caso concreto, para solução da demanda penal. 1.2. Classificação procedimental: → Procedimento comum Pode assumir três ritos distintos: - Rito ordinárioP r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 6 - Rito sumário - Rito sumaríssimo → Procedimentos especiais - Júri - Tóxicos (lei 11.343/06) - Ações originárias dos tribunais (lei 8.038/90) 1.3. Escolha do rito no procedimento comum Rito Regras Ordinário Crimes com pena máxima igual ou superior a quatro anos. Sumário Crimes com pena máxima inferior a 4 anos. Sumaríssimo Crimes com pena máxima de até 2 anos e contravenções penais. Obs.1. Eventualmente, as infrações de menor potencial ofensivo vão tramitar no rito sumário, seja por que não há citação por edital no juizado ou quando a complexidade do fato inviabilize a oferta oral da denúncia. Obs.2. Base normativa para escolha do rito: §1º do artigo 394 do CPP. 2) Estrutura do procedimento comum de rito ordinário (arts. 394 a 405, CPP) 1º PASSO: oferta da inicial acusatória (denúncia ou queixa- crime). Obs. Os requisitos formais da inicial acusatória estão construídos no artigo 41 do CPP. 2º PASSO: realização do juízo de admissibilidade: I – NEGATIVO: REJEITAR (ART. 395 DO CPP) a) Conceito: é o ato judicial que denega início ao processo em razão da ausência dos respectivos requisitos legais. b) Hipóteses: P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 7 b.1) Inépcia: caracteriza-se por um defeito formal grave na inicial acusatória que normalmente compromete a narrativa dos fatos. b.2) Faltar condição da ação ou pressuposto processual b.3) Falta justa causa: significa a ausência de latro probatório mínimo dando sustentabilidade a respectiva inicial. c) Sistema recursal c.1) Regra geral: caberá RESE – Recurso em sentido estrito, conforme disposto no artigo 581, I, do CPP. c.2) Exceção: Nos juizados especiais, o recurso adequado é a apelação (artigo 82 da lei 9.099/95). d) Rejeitada a inicial, o juiz deverá notificar a defesa para apresentar contrarrazões ao recurso, sob pena de nulidade. Advertência: a ausência da notificação da defesa não é suprida pela mera nomeação de advogado dativo (súmula 707 do STF). II – POSITIVO: RECEBIDA. a) Conceito: é o ato que demarca o início do processo em razão da presença dos requisitos legais diante da análise da inicial acusatória. b) Consequências b.1) Demarca o início do processo. b.2) O mero suspeito vira réu. b.3) Interrupção da prescrição b.4) Servirá para fixar a prevenção c) Fundamentação: para o STF e o STJ, o recebimento da inicial acusatória dispensa motivação. d) Sistema recursal: o recebimento da inicial não comporta recurso por ausência de previsão legal no artigo 581 do CPP. A defesa poderá impetrar habeas corpus com o objetivo de trancar o processo (artigo 648, I, do CPP). 3º PASSO: Realização da citação P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 8 a) Citação: é o ato de comunicação processual que informa ao réu sobre o início do processo e o convoca a apresentar defesa (resposta escrita à acusação). b) Modalidades - Citação pessoal (real): nela o oficial de justiça vai ao encontro do réu promovendo a leitura do mandado e entregando a contrafé (artigo 351 a 360 do CPP). - Edital (ficta): caracteriza-se pela ausência de má-fé do réu que apenas não foi encontrado para ser citado pessoalmente (artigo 361 do CPP). Advertência: vale lembrar que o prazo do edital é de 15 dias. - Por hora certa: está pautada na má-fé do réu que está se escondendo para não ser citado pessoalmente (artigo 362 do CPP). Advertência: o procedimento da efetivação da citação por hora certa está delineado nos artigos 227 ao 229 do CPC. Obs.: no processo penal não há CITAÇÃO por AR (correios) ou citação por e-mail, sob pena de nulidade do processo. Do mesmo modo os vícios eventualmente existentes nas três modalidades citatórias admitidas também são fato gerador de nulidade (artigo 564, III, “e”, do CPP). 4º PASSO: Apresentação da resposta escrita à acusação a) Conceito: é a peça defensiva que vai resistir aos termos da inicial acusatória, alimentando a esperança de que o réu seja absolvido no início do processo (absolvição sumária) sem a necessidade de uma audiência de instrução e julgamento (artigos 396 e 396-A do CPP). b) Capacidade postulatória: essa peça DEVE SER SUBSCRITA POR ADVOGADO, sob pena de nulidade absoluta, afinal a defesa técnica é obrigatória (súmula 523 do STF). c) Prazo: o prazo é de 10 dias, contados da efetiva citação (artigo 396 do CPP), sendo indiferente a data de juntada aos autos do processo do mandado cumprido. - Forma de contagem: este prazo é de natureza processual, sendo contado de acordo com as regras do artigo 798 do CPP. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 9 Exemplo: João foi citado em 10.03.2014, uma terça-feira. Apresente a resposta no último dia do prazo. O prazo começa a contar no dia 11.03.2014, quarta-feira. O último dia do prazo será dia 20.03.2014, sexta-feira. Conclusão: se o último dia se encerrar em feriado ou final de semana, prorrogaremos o prazo para o primeiro dia útil subsequente. d) Conteúdo - Conceito: Na resposta escrita podem ser apresentadas todas as teses favoráveis ao agente na expectativa de impugnar os termos da inicial acusatória e convencer o juiz de que o réu deve ser absolvido sumariamente. - Estrutura do conteúdo * Preliminares I – Preliminares processuais (NULIDADES): são aquelas que ocasionam a NULIDADE DO PROCESSO em virtude de eventual vício por ofensa à Constituição Federal ou nos termos do artigo 564 do CPP; II – Preliminar de Mérito (EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE): caracterizam-se pelas causas de EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (artigo 107 do CP). * Mérito principal da peça (ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA) Aqui vamos apontar as teses principais que justifiquem a ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do réu e todas elas são construídas diante de um juízo de certeza. I - Hipóteses (artigo 397 do CPP) Negativa de autoria; Inexistência do fato; Excludente de tipicidade; Excludente de ilicitude. Excludente de culpabilidade → Advertência: a INIMPUTABILIDADE NÃO (ANTECIPAÇÃO DA PENA) autoriza absolvição sumária no procedimento comum, afinal ela anteciparia a medida de segurança, o que não é favorável à defesa (artigo 397, II, do CPP). * Requerimento de diligências (caso não receba a tese de absolvição sumária) Em homenagem ao princípio da eventualidade, na resposta escrita a defesa já irá consignar as diligências que ela pretende que sejam produzidas ao P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 10 longo do processo, pois ao invés da absolvição sumária corremos o risco de o juiz marcar audiência de instrução e julgamento. Advertência: vale lembrar que na resposta a defesa terá a oportunidade, sob pena de preclusão, de arrolar as suas testemunhas em número máximo de 08. e) “Deixa para a peça” A OAB poderá fazer as seguintes referências: - Considerando que o réu foi citado, apresente a peça privativa de advogado no último dia do prazo. - Considerando que o réu foi citado, apresente a peça cabível. f) Técnica redacional da peça 1º passo: Endereçamento → a peça será endereçada ao juiz de primeiro grau que preside o processo. Exemplo: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA “...” VARA CRIMINAL DA COMARCA DE “...” (caixa alta). 2º passo: Espaçamento → 5 linhas. 3º passo: Apontamento processual. Processo n.º “...” 4º passo: Preâmbulo; Obs.: Conteúdo: a) Qualificação do réu: como o réu já está qualificado na inicial, faremos uma resposta uma qualificação resumida. b) Assistência por advogado: faremos referência de que a PROCURAÇÃOACOMPANHA A PEÇA. c) Nome jurídico da peça: RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO. d) Artigos de lei para embasamento: artigos 396 e 396-A do CPP. Exemplo: “...”, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 11 de Penal, apresentar RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO, pelas razões de fato e de direito a seguir apontados. 5º passo: Espaçamento → 1 linha. 6º passo: Narrativa fática Obs.: Regras de construção: a) Evitar parágrafos longos; b) Estamos proibidos de inventar informações; c) Seguir uma sequência lógica, temporalmente adequada ao caso narrado na questão. Exemplo: Narram os autos que “...” foi indiciado em inquérito policial por ter subtraído de Maria, sem violência ou grave ameaça, a quantia de R$ 1.000,00. “...”, numa terça-feira, precisava da quantia em questão para comprar medicamento para sua filha (Estado de necessidade), Marcela, que está com uma grave doença degenerativa. Por estar desempregado, e não tendo a quem recorrer, optou por subtrair a quantia de Maria, que tinha acabado de receber o salário mensal. Após a conclusão da investigação, o Ministério Público ofereceu denúncia, que foi rejeitada pelo magistrado ao considerar que a tragédia social em questão não merecia reprimenda criminal. Inconformado, o promotor apresentou recurso, que subiu ao Tribunal sem a notificação da defesa para apresentar contrarrazões (nulidade absoluta). O Tribunal julgou procedente o recurso acusatório, recebendo a inicial. Considerando que o réu foi citado no dia 12.04.2014, uma quarta-feira, não restou alternativa à defesa que não a apresentação da presente peça. 7º passo: Espaçamento → 1 linha. 8º passo: Construção das teses jurídicas. Obs.: Regras de construção: a) As preliminares serão tratadas em separado; P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 12 b) As teses de mérito principal devem ser devidamente organizadas, para que possamos desenvolver o raciocínio de casa uma delas separadamente; c) Devemos evitar parágrafos longos; d) Deveremos indicar os artigos de lei e eventuais súmulas que embasam a tese; e) Indicação de doutrina: nada impede que na peça façamos referência à “doutrina majoritária” para embasar o argumento jurídico apresentado (NÃO É IMPRESCINDÍVEL). Exemplo: DO DIREITO I – Preliminares Preliminarmente, é necessário o reconhecimento da nulidade absoluta do processo, afinal o recurso acusatório apresentado para impugnar a rejeição da inicial, foi remetido ao Tribunal sem que a defesa tivesse a oportunidade de apresentar contrarrazões, em grave ofensa aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Não é outro o entendimento sumulado do Supremo Tribunal Federal, vejamos: Súmula 707 do STF: “Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”. II – Do mérito (ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA) A responsabilidade criminal pressupõe a prática de um fato típico, ilícito e culpável, para justificar qualquer reprimenda. No caso em tela, estamos diante de uma subtração da quantia de R$1.000,00, com a finalidade de comprar medicamento para uma criança enferma, cuja gravidade é medida pela qualidade da doença, que no caso é degenerativa. Na situação posta, o pai, para resguardar os interesses da filha e em situação de verdadeiro desespero, acabou por transgredir a lei, praticando um fato típico disciplinado no art. 155, “caput” do Código Penal. Percebe-se que o imputado foi levado a praticar tal conduta para salvaguardar um bem jurídico relevante, qual seja, a vida e a saúde da sua filha. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 13 Para tanto, almejava evitar um perigo atual, ao qual não deu causa, já que a infeliz situação de enfermidade não escolhe vítima, sendo verdadeira provação. Em conclusão, acabou por comprometer bem jurídico alheio, qual seja, o patrimônio, mas na presente circunstância, não seria razoável exigir-se o sacrifício de sua filha. É solar o reconhecimento de que o imputado atuou em verdadeiro estado de necessidade em favor de terceiro, excluindo-se assim a ilicitude da conduta, como verdadeira causa justificante, a merecer um decreto absolutório, como indica a direção do art. 24 do Código Penal, vejamos: Art. 24 do CP: “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”. 9º passo: Espaçamento → 1 linha. 10º passo: Os pedidos. Obs.: Regras de construção: a) Deveremos estabelecer o vínculo lógico entre os pedidos e as teses apresentadas b) Recomenda-se que os pedidos sejam feitos em itens separados, para auxiliar na correção da peça. Exemplo: Diante do apresentado, requer a Vossa Excelência: I – A declaração de nulidade absoluta do processo, pela não oportunidade de contrarrazões ao recurso acusatório (Súmula 707 do STF); II – No mérito, a absolvição sumária do réu, nos termos do artigo 397, inciso I do Código de Processo Penal, já que é patente a presença da excludente de ilicitude do estado de necessidade (Artigo 24 do CP). III – Pelo princípio da eventualidade, protesta de imediato pela produção de todas as provas admitidas no direito, para efeito de possível marcação de audiência de instrução, debates e julgamento. 11º passo: espaçamento → 1 linha. 12º passo: Parte autenticada. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 14 Termos em que, Pede deferimento. Local “...”, 24 de abril de 2014. ..................................................... Advogado..., OAB n ... 13º passo: Rol de testemunhas. Obs.: Se a OAB apresentar quem são as testemunhas de defesa no caso, vamos indicá-las na peça. Ex.: Rol de testemunhas: 1) “...”; 2) “...”; Advertência: Obrigatoriedade na apresentação da resposta - a apresentação da resposta é obrigatória e as consequências da não apresentação dependerão da modalidade citatória ocorrida. a) citação pessoal: será considerado revel nomeando um advogado dativo para apresentação da resposta com a devolução do prazo. A revelia importa na dispensa de intimação pessoal do réu para os atos subsequentes do processo, salvo a sentença. Vale lembrar que o advogado continuará sendo intimado já que a defesa técnica é obrigatória. b) citação por hora certa: neste caso pela ausência da resposta o réu será declarado revel nomeando-se advogado dativo para apresentar a peça com a devolução do prazo (idêntica à citação pessoal). c) citação por edital: neste caso deve o juiz diante da não apresentação da resposta suspender o processo e a prescrição, nos termos do artigo 366, CPP. Obs1: situação prisional – a mera suspensão do processo e da prescrição pela não apresentação da resposta não justifica a decretação automática da preventiva para tanto é necessário que estejam presentes os requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP. Obs2: antecipação probatória - para o STJ na Súmula 455, o mero decurso do tempo não justifica a antecipação probatória (PREJUDICA A DEFESA) durante a paralisação do processo na hipótese do art. 366 do CPP. Logo, a P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 15 antecipação probatóriasó vai se justificar nas hipóteses de eminente perecimento da prova. Obs3: tempo de suspensão da prescrição – de acordo com a súmula 415 do STJ, interpretando o artigo 366 do CPP, deve o juiz suspender o processo e a prescrição pelo tempo abstratamente previsto em lei para o crime praticado prescrever (art. 109, CP). Superado este prazo e mantida a ausência o processo permanecerá suspenso, mas a prescrição passa a correr normalmente. 5º passo: absolvição sumária I – Conceito: é a sentença que antecipa o mérito da causa reconhecendo a inocência do réu sem a necessidade da realização de audiência de instrução e julgamento, tendo aptidão para formar coisa julgada material. II – Hipóteses: art. 397, CPP (CERTEZA): - negativa de autoria; - inexistência de fato; * as duas acimas não estão previstas expressamente. - excludente de tipicidade; - excludente de ilicitude; - excludente de culpabilidade. * Salvo: inimputabilidade (art. 397, II, CPP). Conclusões: a) O art. 397 do CPP admite interpretação extensiva para englobar a negativa de autoria e inexistência do fato como fundamentos da absolvição sumária. b) as hipóteses de extinção da punibilidade (art. 107, CPP) foram elencadas no art. 397 do CPP como fundamento da absolvição sumária. Na resposta escrita à acusação vamos apresentá-las como PRELIMINAR DE MÉRITO e no pedido da peça vamos requerer a declaração da extinção da punibilidade. c) não podemos confundir as hipóteses do art. 397 do CPP, que justificam a absolvição sumária e estão pautadas numa análise de certeza com as hipóteses P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 16 de absolvição do art. 386 do código que são aplicáveis ao final da audiência de instrução no desfecho do processo. Artigo 397 (certeza) ≠ Artigo 386. III – Sistema recursal – o recurso cabível é APELAÇÃO que esta desprovida de efeito suspensivo, de forma que se o réu estava preso será imediatamente libertado (art. 593, I, CPP). Conclusões: a) Extinção da punibilidade: se o juiz declarar ou denegar a extinção da punibilidade caberá recurso em sentido estrito (art. 581, VIII e IX, CPP). b) Denegação da absolvição sumária: neste caso por meio de uma decisão interlocutória simples o juiz vai marcar audiência de instrução e julgamento, esta DECISÃO É IRRECORRÍVEL, mas a defesa pode impetrar a ação de Habeas Corpus com a finalidade de trancar o processo (art. 648, I, CPP – falta de justa causa). 6º passo: realização da audiência de instrução, debates e julgamento. Obs1: prazo – 60 dias, independente do fato de o réu estar preso ou solto, contados, em que pese a omissão da lei, do recebimento da inicial acusatória. Obs2: audiência una – atualmente, teremos a concentração dos atos nesta audiência (art. 400 do CPP), admitindo-se, contudo, o desmembramento em razão da complexidade do caso ou do volume de atos que precisam ser praticados. Obs3: estrutura da audiência I – instrução (produção probatória): a) Oitiva da vítima: Obs.: a ausência injustificada ocasiona, na ação pública, a condução coercitiva. Entretanto, na ação privada, a ausência injustificada da vítima ocasiona a perempção (Art. 60, III do CPP), levando a extinção da punibilidade. b) Oitiva das testemunhas: são ouvidas as testemunhas da acusação e, na sequência, as da defesa, em ambas com número máximo de 08 pessoas (Art. 401 do CPP). P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 17 Obs.: a inversão da ordem ocasiona nulidade do processo. c) Interpelação do perito e do assistente técnico: Obs.: para que o perito seja ouvido, ele será notificado com antecedência mínima de 10 dias da realização da audiência (Art. 159, §5º, I do CPP). d) Acareações. e) Reconhecimento de pessoas e/ou objetos. f) Interrogatório do réu. Advertência: base normativa – ARTIGO 400 do CP. II – Debates orais: Obs.: Distribuição a) Acusação: 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos. Advertência: assistente de acusação → ele é a vítima, ou quem venha a sucedê-la (Arts. 268 e ss do CPP), se habilitando no processo para auxiliar o Ministério Público e tendo direito a fala, por meio de seu advogado, pelo tempo de 10 minutos improrrogáveis. b) Defesa: 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos. Advertência: o tempo do assistente será acrescido ao tempo primário de fala do advogado de defesa, por um critério de isonomia (Art. 403 do CPP). III – Sentença: Obs.: se o Juiz não se sentir a vontade de sentenciar em audiência, os autos lhe serão conclusos e ele vai dispor de 10 dias, prorrogáveis por mais 10 dias. Advertência: base principiológica 1 – Princípio da oralidade (Palavra falada) Obs1: Princípios decorrentes: a) Princípio da concentração: por ele os atos instrutórios serão reunidos em audiência una que admite, contudo, desmembramento. b) Princípio da imediatidade: por ele as provas serão produzidas IMEDIATAMENTE perante a autoridade judicial. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 18 c) Princípio da identidade física do juiz: por ele o magistrado que preside a instrução deverá sentenciar a causa, ressalvadas as hipóteses de caso fortuito, força maior ou as escusas legais (art. 399, § 2º, CPP). Obs2: mitigação do princípio da oralidade a) conceito: eventualmente os debates orais podem ser substituídos por memoriais (alegações escritas), nas hipóteses legalmente disciplinadas. b) Hipóteses → complexidade da causa; → pluralidade de réus; → surgimento de prova nova em audiência; → STJ: o juiz pode autorizar a substituição inclusive fora das hipóteses disciplinadas em lei (art. 403, § 3º, CPP e art. 404, CPP). Advertência: identificação da peça - na OAB o examinador pode adotar as seguintes estratégias: 1º) considerando que a acusação apresentou memoriais apresente a peça cabível. 2º) considerando que a instrução esta encerrada, apresente a peça cabível. c) Procedimento da substituição dos debates por memoriais: → o juiz vai suspender a audiência após o interrogatório do réu; → o juiz vai notificar a acusação para apresentar memoriais no prazo de 05 dias; → o juiz vai notificar a defesa para apresentar memorais no prazo de 05 dias. → os autos são conclusos ao juiz para sentença no prazo de 10 dias prorrogáveis por mais 10 dias. Técnica redacional da peça I – Estudo do memorial P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 19 a) Conceito: é a peça cabível ao final da instrução processual e que antecede a prolação da sentença. b) Prazo: o prazo dos memoriais é de 05 dias contados da respectiva notificação ou intimação. c) Capacidade postulatória: a peça será subscrita por advogado sob pena de nulidade do processo afinal a defesa técnica é obrigatória. d) Conteúdo D1. Preliminares Podem ser apresentadas dentro dos Memoriais: 1) Preliminares processuais (artigo 564, CPP - nulidades); e 2) Preliminares de mérito – causas de extinção da punibilidade (artigo 107, CP). D2. Mérito Principal (ABSOLVIÇÃO) Como os Memoriais são apresentados após a fase de instrução, serão apresentadas teses amplas, que resultam em absolvição ao final do processo. Dentro do mérito principal, sustenta-se: 1) Teses pautadas na certeza da inocência; e 2) Teses pautadas na dúvida da culpa (debilidade probatória): artigo 386, CPP. Advertência: a tese da inimputabilidade, seja ela absoluta ou relativa, pode ser validamente apresentada em Memoriais, o que não pode ocorrer na resposta escrita à acusação. D3. Mérito Secundário (dosimetria da pena) Como, ao final doprocesso, corremos o risco da condenação do réu, em Memoriais poderemos pleitear : • Afastamento de qualificadoras; • Afastamento de causas de aumento de pena; • Afastamento de agravantes; • Inclusão de causas de diminuição de pena existente; ou P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 20 • Reconhecimento de atenuantes. Advertência: Em Memoriais, ordinariamente, não se faz requerimento de diligências, pois usualmente o momento adequado é a Resposta Escrita à Acusação. Técnica Redacional da Peça: 1º Item: Endereçamento: a peça é endereçada ao juiz de primeiro grau que preside o processo. Exemplo: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA “...” VARA CRIMINAL DA COMARCA DE “...” 2º Item: espaçamento: 5 linhas. 3º Item: Apontamento processual. Exemplo: Processo nº “...” 4º Item: espaçamento: 1 linha. 5º Item: Preâmbulo. Obs. Conteúdo: a) Qualificação: será resumida, pois o réu foi qualificado na inicial acusatória; b) Assistência por advogado: indicar a procuração; c) Nome jurídico da peça: MEMORIAIS; d) Artigos de lei para embasamento: art. 403, §3º, CPP, c/c art. 404, CPP. Exemplo de preâmbulo: “...”, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 403, §3º e 404 do CPP, apresentar MEMORIAIS, pelas razões de fato e de direito, a seguir apontadas. 6º Item: espaçamento: 1 linha. 7º Item: Narrativa fática. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 21 Exemplo de Narrativa fática: Narram os autos que José foi indicado pela prática do crime de lesão corporal grave, por ter atingido Joaquim com uma barra de ferro, ocasionando lesão corporal de natureza grave, com debilidade permanente de membro, leia-se, do seu braço esquerdo (artigo 129, §1, III, CP). Sabe-se, como demonstrou o inquérito policial, que Joaquim é pessoa violenta, sendo vizinho de José por longos anos. Numa quarta-feira, Joaquim, irritado pelo fato de José não ter recolhido o lixo em frente de sua residência, foi armado tirar satisfação com José. De imediato, sacou a arma de fogo e apontou para José, fazendo menção de atirar. José, habilidoso, pegou uma pequena barra de ferro que estava no chão da calçada e com um só golpe, conseguiu atingir Joaquim e imobilizá-lo, tomando-lhe a arma. Concluída a investigação, José foi denunciado pelo crime de lesão corporal grave. Citado, o juiz não concedeu prazo para a apresentação da resposta escrita, marcando, de imediato, audiência de instrução e julgamento. Na audiência, Joaquim ratificou todo o ocorrido. As testemunhas da acusação foram unânimes quanto a conduta de José, que repeliu a agressão de Joaquim, que por sua vez estava extremamente nervoso. Encerrada a instrução, o Ministério Público apresentou memoriais, sendo a defesa intimada para manifestação no dia 11 de novembro de 2016 (quarta- feira). 8º Item: espaçamento: 1 linha. 9º Item: teses jurídicas. Exemplo: I- Preliminares Preliminarmente é necessário o reconhecimento da nulidade processual, em razão da não concessão de prazo para a apresentação da resposta escrita à acusação (artigos 396 e 396-A, CPP). Como é sabido, a resposta escrita concretiza o exercício do princípio constitucional da ampla defesa, e a sonegação do prazo é fato gerador de prejuízo, comprometendo a atividade técnica, nos termos do artigo 564, III, “e”, in fine, do CPP, verbis: P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 22 Art. 564. “A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: III. “e”... „e os prazos à acusação e à defesa‟” II – Do mérito A responsabilidade criminal exige a ocorrência de um fato típico, ilícito e culpável. Para tanto, é necessário que a instrução processual, revele, em grau de certeza, todos os elementos que integrem o crime. No caso em tela, percebe-se que o imputado, em que pese ter praticado um fato aparentemente típico, atuou impelido por uma justificadora, qual seja, a legítima defesa. Nos termos do artigo 23 do CP, “entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. José, ao atingir com um golpe Joaquim, estava, como revelou cabalmente a instrução processual, repelindo uma injusta agressão armada, e para tanto, se valeu dos meios necessários e de forma moderada, afinal, com um só golpe conseguiu neutralizar o agressor, tomando-lhe a arma. Neste caso, é solar o reconhecimento da causa de exclusão da ilicitude, de forma que a conduta não merece reprimenda penal, exigindo-se como única alternativa a absolvição do réu, nos termos do artigo 386, VI, do CPP. 10º Item: espaçamento: 1 linha. 11º Item: Análise dos Pedidos. DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer a Vossa Excelência: I- Preliminarmente, a declaração de nulidade do processo, pelo prejuízo ocasionado em face da não concessão de prazo para apresentação da resposta escrita à acusação (artigo 564, III, “e”, do CPP); II- No mérito, requer a absolvição do réu, nos termos do artigo 386, VI, do CPP, por estar cabalmente demonstrada a excludente de ilicitude de legítima defesa (art. 25 do CP). P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 23 12º Item: espaçamento: 1 linha. 13º Item: Parte autenticativa. Exemplo: Termos em que, pede deferimento. Local “...”, 16 de novembro de 2016. ............................................. Advogado “...”, OAB nº “...” PRISÕES (Lei 12.403/11) 1. Considerações iniciais Hoje, no Brasil, existem 02 tipos de PRISÃO: 1.1. Prisão pena (APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO) Aquela que decorre de uma sentença condenatória transitada em julgado. 1.2. Prisão sem pena/prisão cautelar/prisão processual (PRISÃO PROVISÓRIA) Antecede o trânsito em julgado. Cabível na fase investigativa ou processual. → Flagrante → Preventiva → Temporária Obs.: Compatibilidade com o princípio da presunção de inocência: Para o STF, a presunção de inocência perdura até o trânsito em julgado da decisão e antes desse marco o cárcere só é possível se presentes os requisitos de uma prisão cautelar. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 24 Advertência: para o STF, nas súmulas 716 e 717, o preso cautelar pode usufruir dos benefícios da lei de execução penal desde que presentes os seguintes requisitos: - sentença condenatória proferida; - RECURSO APRESENTADO APENAS PELA DEFESA. 2. Prisão em flagrante 2.1. Conceito É uma ferramenta constitucionalmente assegurada que autoriza a captura daquele que é surpreendido praticando o delito, trazendo assim, as seguintes finalidades: - evitar a consumação do delito; - evitar a fuga; - levantar indícios que viabilizem a futura deflagração do processo. 2.2. Modalidades a) Flagrante próprio, real ou propriamente dito (302, I e II): a.1) Capturado praticando a infração: Ocorre quando o agente é capturado praticando a infração, vale dizer, cometendo o delito. Obs. Nesse caso, o agente é capturado realizando os atos executórios da infração (artigo 302, I, CPP). a.2) Capturado ao acabar de cometer a infração Obs. Neste caso, o agente já concluiu os atos executórios, mas não se livrou do ambiente do crime (art. 302, II, CPP). b) Flagrante impróprio, irreal ou quase flagrante: Nele o agente é perseguido logo após a prática da infração e havendo êxito, ele será capturado em situação que faça presumir que é ele o responsável. Obs. O conceitode perseguição nos é fornecido pelos artigos 250 e 290 do CPP. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 25 Obs.2. Tempo da perseguição: não há prazo, e a perseguição perdura enquanto houver necessidade. Obs.3. Requisito de validade: não é necessário contato visual sendo que é fundamental que a perseguição seja contínua. c) Flagrante presumido, ficto ou assimilado (fator “sorte”): O indivíduo é encontrado logo depois da prática do crime com objetos, armas ou papeis que façam presumir que é ele o responsável pela infração (art. 302, IV, CPP). d) Flagrante obrigatório ou compulsório: É aquele inerente a atuação das forças policiais (art. 301, CPP). e) Flagrante facultativo: É inerente a atividade de qualquer pessoa (art. 301, CPP). f) Flagrante forjado: Nele, a pessoa capturada não tinha desejo de delinquir nem possuía conhecimento do que estava acontecendo. Conclusão: percebe-se que a prisão efetivada é manifestamente ilegal, devendo ser RELAXADA (art. 310, I, CPP c/c art. 5º, LXV, CF). g) Flagrante esperado: idealização doutrinária sem previsão legislativa. Nele, a polícia promove “campana” (tocaia) aguardando a prática do primeiro ato executório para promover a captura. Advertência: vale lembrar que em nenhum momento, a polícia se intrometeu na conduta criminosa ou incentivou a prática do delito. h) Flagrante preparado/provocado/delito de ensaio/delito putativo (imaginado) por obra do agente provocador (ILEGAL): segundo o STF, na Súmula 145, não se pode ESTIMULAR ardilosamente a prática de delito na esperança de capturar as pessoas seduzidas, JÁ QUE OS FINS NÃO JUSTIFICAM OS MEIOS. Neste caso, a prisão é ilegal, devendo ser relaxada, e o fato praticado pela pessoa seduzida é atípico, pois caracteriza crime impossível, por absoluta ineficácia do meio. Obs.: Situação específica do tráfico de drogas – se o traficante já tinha a droga consigo ou em estoque para comercializar quando é abordado por P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 26 policial disfarçado de usuário, estaremos diante de uma prisão legal, pois a consumação do tráfico era pré-existente à provocação. i) Flagrante postergado/diferido/retardado/ação controlada: 1º - No crime organizado, se a polícia postergar o flagrante, é necessário que Juiz competente seja INFORMADO e, ouvindo o MP, ele PODERÁ definir os limites da diligência (Art. 8º da Lei 12.850/13). 2º - No tráfico de drogas, o flagrante postergado pressupõe PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO JUIZ, com oitiva do MP. Além disso, é necessário que seja informado o provável itinerário da droga e quem são os infratores envolvidos (Art. 53 da Lei 11.343/06). 3. Procedimento 3.1. Flagrante nas várias espécies de infração: I – Regra geral: o flagrante é cabível para todo tipo de infração. II – Situações especiais: - Infrações de menor potencial ofensivo (o auto de flagrante é substituído pela mera elaboração do TCO e o agente não ficará encarcerado – art. 69 da lei 9.099/95). - Crimes permanentes (a prisão em flagrante é cabível a qualquer tempo enquanto perdurar a permanência – art. 303, CPP – admitindo-se inclusive a invasão domiciliar). No exemplo do sequestro, uma casa poderá ser invadida por qualquer momento se ela estiver sendo usada como cativeiro, pois o flagrante é uma exceção à regra da inviolabilidade da moradia. - Crimes de ação privada e de ação pública condicionada (a lavratura do auto pressupõe manifestação de vontade do legítimo interessado, sob pena de patente ilegalidade). 3.2. Estrutura do procedimento - MACRO 1º Passo: captura (PRESO) – caracteriza o imediato cerceamento da liberdade. Obs. Uso de algemas: os parâmetros para utilização estão na súmula vinculante 11 do STF, e o descumprimento dos preceitos da súmula ocasiona a P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 27 ILEGALIDADE PRISIONAL, sem prejuízo da responsabilidade penal, administrativa e civil do responsável pelo ato, o que não inibe a responsabilidade objetiva do Estado no que pertine à indenização. 2º Passo: Condução coercitiva até a presença da autoridade policial (art. 308, CPP). 3º Passo: lavratura do auto (art. 304, CPP). 4º Passo: recolhimento à prisão. 3.3. Postura final do delegado: Em 24 horas contadas da prisão (captura) o delegado tem as seguintes obrigações a cumprir: 3.3.1. Remeter o auto ao juiz I – O magistrado pode entender que a prisão é ilegal, e portanto, vai relaxar a prisão. RELAXAMENTO DA PRISÃO – é a libertação incondicional do agente que foi preso ilegalmente (art. 5º, LXV, CF c/c art. 310, I, CPP). Advertência: nada impede que o advogado apresente um requerimento de relaxamento ao juiz por meio de uma petição. II – O magistrado pode entender que a prisão é legal, homologando o auto. Sendo a prisão legal, o juiz, tecnicamente, irá homologar o auto de flagrante. Mas afinal, quais são as alternativas daqui por diante? Uma vez homologado, o que cabe ao magistrado fazer? Abrem-se, agora, duas alternativas ao Juiz. i. Se o juiz entender que a prisão é necessária, ele vai converter o flagrante em prisão preventiva. Ele só poderá permanecer preso se a prisão em flagrante for convertida em prisão preventiva e só pode fazer isso se presentes os requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 28 ii. Se o juiz entender que a prisão não é necessária, ele concederá liberdade provisória nos termos do artigo 5°, LXVI da CF c/c art. 310, III do CPP. LIBERDADE PROVISÓRIA - Esse instituto permite a libertação de quem foi preso em flagrante legalmente, desde que a manutenção no cárcere não seja necessária. A. Hipóteses de cabimento da liberdade provisória: → É cabível para o agente que atuou amparado por eventual excludente de ilicitude (art. 310, p. único, CPP). Obs.: Neste caso, o agente será compromissado a comparecer a todos os termos da persecução penal e, além disso, o magistrado poderá aplicar as medidas cautelares do artigo 319 do CPP. Observação da Tati: a doutrina e a jurisprudência entendem que essa hipótese se estende às demais excludentes de ilicitude não constantes no art. 23, bem como às excludentes de culpabilidade, com base no art. 397 (absolvição sumária) → É aplicável, quando o agente não se enquadrar nos requisitos da prisão preventiva (art. 321, CPP). Obs.: O magistrado poderá aplicar ao beneficiário as medidas cautelares do artigo 319 do CPP. Nos casos de crimes graves, a Constituição Federal constituiu a inafiançabilidade para alguns delitos extremamente graves no art. 5º, XLII, XLIII e XLIV. Todavia, a Constituição NÃO VEDOU LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA PARA TAIS DELITOS, de forma que poderemos requerer a liberdade provisória nessas circunstâncias. Conclusão: Percebe-se, então, que cabe liberdade provisória sem fiança nos crimes hediondos (art. 2º, II, Lei 8.072/90) e no tráfico de drogas, já que o STF reconheceu a inconstitucionalidade do art. 44 da lei de tóxicos no que pertine à vedação da liberdade provisória sem fiança. “Modus Operandi” – (Requerimento de liberdade provisória) Poderemos requerer a liberdade provisória por meio de petição endereçada ao juiz que homologou o auto de flagrante. 3.3.2. Defensoria Pública P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 29 Nas mesmas 24 horas, se o preso não tem advogado, uma cópia do auto será encaminhada à Defensoria Pública (art. 306, § 1º, CPP) 3.3.3. Nota de Culpa Cabe ao delegado entregar ao preso, nas mesmas 24 horas, a nota de culpa como breve declaração,contendo os motivos e os responsáveis pela prisão, além da indicação de eventuais testemunhas (art. 306, § 2º, CPP) 4. Técnica redacional da peça Obs.: Caso concreto José foi capturado em flagrante dentro da sua residência. Como relata o auto flagrancial, ele supostamente teria praticado um roubo (art. 157, CP), duas semanas antes da captura. Lavrado o auto, a autoridade policial não promoveu a remessa ao magistrado, e José encontrasse incomunicável há 72 horas. Em acréscimo, não lhe foi entregue a nota de culpa e o cárcere se mantém até o presente momento. Procurado pela família de José, apresente a peça privativa de advogado, com todas as teses adequadas ao caso. Item 1: Endereçamento O requerimento de relaxamento é endereçado ao magistrado que recebeu ou deveria ter recebido o auto de flagrante. Exemplo: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA “...” VARA CRIMINAL DA COMARCA DE “...” Item 2: Espaçamento → 5 linhas Item 3: Apontamento do auto de flagrante Exemplo: Autos de flagrante n° “...” Obs.: Esse apontamento não dispensa a qualificação exauriente do agente no preâmbulo da peça. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 30 Item 4: Espaçamento → 1 linha Item 5: Preâmbulo Conteúdo: a) Qualificação: deve ser exauriente; b) Assistência por advogado: apontamento da procuração; c) Nome jurídico da peça: REQUERIMENTO DE RELAXAMENTO; d) Artigos de lei para embasamento: art. 5º, LXV da CF c/c art. 310, I, CPP. Exemplo: José, nacionalidade “...”, estado civil “...”, profissão “...”, filiação “...”, portador do RG n° “...”, CPF n° “...”, residente e domiciliado na Rua “...”, ´por meio do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, LXV da CF c/c art. 310, I do CPP, apresentar REQUERIMENTO DE RELAXAMENTO PRISIONAL, em virtude das razões de fato e de direito a seguir apontadas. Item 6: Espaçamento → 1 linha Item 7: Narrativa fática Exemplo: Narram os autos de flagrante que José foi capturado da sua residência, supostamente sob alegação de ter praticado um crime de roubo (art. 157, CP), ocorrido duas semanas antes da efetivação da captura. Promovida a lavratura do auto pela autoridade, é sabido que a remessa ao juízo competente ainda não ocorreu. Como se não bastasse, o flagranteado encontra-se incomunicável, por período de aproximadamente 72 horas. Em outro giro, não lhe foi entregue a nota de culpa, sendo que a prisão persiste até o presente momento. Item 8: Espaçamento → 1 linha Item 9: Do Direito Exemplo: P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 31 A captura em flagrante, como instituto de preservação social, exige previsão legal quanto à admissibilidade. Desta forma, as hipóteses de cabimento de flagrante, revelando a imediatidade entre o delito e captura, estão disciplinadas no art. 302 do CPP. No caso em tela, percebe-se que o agente foi capturado duas semanas depois da suposta ocorrência do crime, dentro da própria residência. Em tal circunstância, é patente o reconhecimento de que a situação fática apresentada não encontra guarida legal como hipótese válida de flagrante. Nesse contexto, percebe-se a manifesta ilegalidade da captura, pois ocorrida à margem da lei, denotando a necessidade do imediato relaxamento do cárcere, nos termos do art. 5º, LXV da Constituição Federal, verbis: Constituição Federal Art. 5º [...] LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária. Por outro lado, o respeito ao procedimento flagrancial é uma das premissas necessárias à legalidade. No desdobramento da captura, percebe-se que o auto não foi remetido ao magistrado, ofendendo-se frontalmente o mandamento do art. 306, § 1º, do CPP, que exige a remessa em no máximo vinte e quatro horas da prisão. Além disso, o capturado encontra-se incomunicável, o que é injustificável, afinal, nos termos do art. 5º, LXII da Constituição, o direito de assistência deve ser preservado, e a prisão deve ser comunicada à família do preso ou a alguém de sua confiança, o que é ratificado pelo artigo 306, caput, do CPP, valendo a transcrição: Código de Processo Penal Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. Em arremate, autoridade também não entregou ao preso a nota de culpa, como declaração necessária para informar os motivos e os responsáveis pelo cárcere, além da indicação de eventuais testemunhas. Tal omissão ofende a P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 32 exigência do artigo 306, § 2º do CPP, ratificando, em acréscimo, a manifesta ilegalidade não só da captura como também do desdobramento procedimental. Item 10: Espaçamento → 1 Linha Item 11: Pedidos Exemplo: Diante do exposto, reque a Vossa Excelência o imediato relaxamento da prisão em flagrante, por sua manifesta ilegalidade, nos termos do art. 5º, LXV a CF c/c art. 310, I, CPP, expedindo-se, para tanto, o competente alvará de soltura. Item 12: Espaçamento → 1 linha Item 13: Parte autenticativa Termos em que pede deferimento Local “...”, dia “...”, mês “...”, ano “...” ................................................... Advogado “...”, OAB n° “...” 5. Prisão Preventiva 5.1. Conceito: É uma prisão cautelar durante toda a persecução penal (inquérito policial, processo e, havendo urgência, poderá ser decretada mesmo antes do início formal da investigação), decretada pelo Juiz, ex officio (APENAS NA FASE PROCESSUAL) ou por provocação do Ministério Público, do querelante (ações privadas), o delegado e o assistente de acusação, sem prazo, desde que presentes os requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP. Destrinchando: a) Prisão cautelar b) Cabível durante toda a persecução penal → Inquérito policial. → Processo. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 33 → Urgência: poderá ser decretada mesmo antes do início formal da investigação. c) Decretada pelo juiz: → Ex officio (na fase processual); → Por provocação: • Ministério Público • Querelante (ações privadas) • Delegado • Assistente de acusação: é a vítima do crime ou quem venha a sucedê-la, que se habilita no processo para auxiliar o Ministério Público (art. 268 a 273 do CPP) d) Sem prazo e) Requisitos (Arts. 312 e 313 do CPP) 5.2. Requisitos 5.2.1. Fumus commissi delicti (fumaça da prática do delito): Indícios de autoria + prova da materialidade = justa causa da prisão preventiva. 5.2.2. Periculum libertatis (perigo da liberdade): 07 Hipóteses de decretação da preventiva: a) Garantia da ordem pública: para o STJ, a ordem pública está em risco quando o agente, em liberdade provavelmente continuará delinquindo, e almejamos assim, com a prisão, preservar a paz social. b) Garantia da ordem econômica: almeja-se, aqui, evitar a reiteração de delitos contra a ordem econômica; c) Garantia da instrução criminal: almeja-se, aqui, preservar a livre produção probatória (Ex.: ameaçar testemunhas). d) Garantir a aplicação da lei penal: evitar a FUGA. A mera ausência injustificada do réu a um ato do processo, não autoriza a decretação da preventiva. Por outro lado, a riqueza absoluta ou a miserabilidade extrema não são fundamentos individuais do cárcere. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 34 e) Ausência de identificação civil (Art. 313, parágrafo único): Neste caso a preventiva perdura até aapresentação do documento ou o esclarecimento da dúvida quanto à identidade. f) Violência doméstica (Art. 313, II): O descumprimento das medidas protetivas de urgência que nada mais são do que medidas cautelares para blindar a vítima da violência doméstica, autoriza a decretação da preventiva. Advertência: Vale lembrar que, além da mulher, estão tutelados os idosos, as crianças, os adolescentes e os enfermos. g) Havendo descumprimento das medidas cautelares do art. 319 do CPP (Art. 312, parágrafo único), o magistrado poderá: i. Substituir a medida por outra mais adequada ao agente. ii. Cumular com outra ou outras, aumentando o ônus. iii. DECRETAR A PREVENTIVA. Obs.: Nos crimes contra o sistema financeiro, a prisão preventiva estaria autorizada pela magnitude da lesão. 5.3. Admissibilidade REGRA GERAL: A preventiva é cabível em crime doloso com pena superior a quatro anos. Percebe-se, de regra, que se o crime tem pena máxima de até quatro anos, não caberá preventiva. EXCEÇÕES: Eventualmente, a quantidade de pena é indiferente para a decretação da preventiva. → Hipóteses: a) Ausência de identificação civil. b) Descumprimento de medida protetiva no âmbito da violência doméstica. c) Reincidência em crime doloso. 5.4. Questões Complementares 5.4.1. Preventiva x Excludente de Ilicitude Havendo indícios da presença de uma excludente de ilicitude, é sinal de que a prisão preventiva não poderá ser decretada (art. 314, CPP). P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 35 5.4.2. Fundamentação do mandado De acordo com o art. 93, IX, da CF/88 c/c com art. 315, do CPP, o mandado prisional dever ser necessariamente motivado. Sendo que a mera repetição do texto da lei não atende a exigência constitucional. 5.4.3. Tempo da prisão preventiva Não há previsão legal de prazo de durabilidade. Estende-se no tempo enquanto houver necessidade, a qual é medida pela presença das respectivas hipóteses de decretação. Se as hipóteses desaparecerem, a preventiva será revogada (art. 316, do CPP). ADVERTÊNCIA 1: Como advogado, o REQUERIMENTO DE REVOGAÇÃO DA PREVENTIVA é apresentado ao juiz responsável pela decretação, pleiteando-se a revogação da medida, em virtude do desaparecimento do motivo justificante. ADVERTÊNCIA 2: Nada impede que a prisão preventiva seja redecretada pelo surgimento de novas provas, denotando a respectiva necessidade. Conclusão: Percebe-se que a preventiva segue a cláusula “rebus sic stantibus”, ou seja, COMO AS COISAS ESTÃO. ADVERTÊNCIA 3: PREVENTIVA TEMPORALMENTE EXCESSIVA. Se o indivíduo está preso preventivamente, de forma imoderada, é sinal que a razoável duração do processo e a razoável duração da prisão cautelar não foi atendida, de forma que o cárcere é manifestamente ilegal e a prisão deve ser RELAXADA (art. 5º, LXXVIII, CF/88). 5.4.4. Prisão domiciliar →. CONCEITO: O juiz está autorizado, por um critério humanitário, a substituir a prisão preventiva pela prisão domiciliar, desde que exista estrita necessidade, devidamente motivada, nas hipóteses legalmente estabelecidas (artigos 317 e 318, do CPP). 6. Prisão temporária (Lei nº 7.960/89) P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 36 6.1. Conceito É a prisão cautelar, cabível tão somente na fase da investigação policial, decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou por representação da autoridade policial, com prazo, desde que presentes os requisitos do artigo 1º, da Lei n. 7.960/89. Destrinchando: a) Prisão cautelar b) Cabível apenas na fase do inquérito policial. Observação: Subsistindo na fase processual, caracteriza uma prisão manifestamente ilegal, devendo ser relaxada. c) Decretada pelo Juiz - Requerimento do MP. - Por representação da autoridade policial. Observação: Prisão temporária decretada de ofício caracteriza uma prisão manifestamente ilegal, devendo ser relaxada. d) Com prazo. e) Desde que presentes os requisitos do art. 1º da Lei 7.960/89. 6.2. Requisitos (artigo 1º, da Lei n. 7.960/89): “fumus commissi delicti (inciso III)” + “periculum libertatis (inciso I e II)” I – Imprescindível ao inquérito policial = “periculum libertatis” II – Não possui residência fixa ou identificação civil = “periculum libertatis” III – Havendo indícios de autoria ou de participação em um dos crimes graves previstos em lei (art. 1º, inciso III, da Lei n. 7.960/89) = “fumus commissi delicti”. Advertência: Uma parte da doutrina entende que o artigo 1º, da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) apresenta um rol complementar de delitos que admitiriam prisão temporária. Na peça, o interessante é dizer que o rol está adstrito ao inciso III do art. 1º da lei 7.960/89. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 37 Observação: Conjugação de incisos – SEMPRE SERÁ NECESSÁRIO O INCISO III, E ESTE DEVERÁ SER SOMADO COM O INCISO I OU INCISO II. 6.3. Procedimento Começa com uma provocação. Com um requerimento do Ministério Público ou com a representação da autoridade policial, feita ao juiz. Sendo que este tem o prazo de 24h para deliberar. Observação Consequência 1: Prazo a) Crimes comuns = 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias, uma única vez. b) Crimes hediondos e assemelhados (Tráfico, Terrorismo, Tortura) = 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias, uma única vez. Advertência: A prisão temporária se auto revoga pelo decurso do tempo e a libertação do agente INDEPENDE DA EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA, sob pena de manifesta ilegalidade. Consequência 2: A decretação da prisão temporária e a prorrogação do prazo pressupõe deliberação do juiz com prévia oitiva do Ministério Público. Consequência 3: Postura do juiz – O magistrado poderá, para fiscalizar o bom andamento da prisão, determinar as seguintes medidas: - Apresentação do preso - Submeter o preso a exame de corpo de delito - Requisitar informações à autoridade policial Consequência 4: Mandado Prisional – Na prisão temporária, o mandado será expedido em duas vias, sendo que uma é entregue ao preso para comunicá-lo dos motivos e dos responsáveis pela prisão, servindo como “nota de culpa”. Advertência: Essa formalidade é também aplicável na prisão preventiva. Consequência 5: Separação do preso – Atualmente, o artigo 3º, da Lei n. 7.960/89, tem redação similar ao artigo 300, do CPP. De forma que, o preso cautelar, qualquer que seja ele, ficará separado do preso definitivo, SOB PENA DE MANIFESTA ILEGALIDADE, exigindo-se o relaxamento da prisão. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 38 7. Prisão por apresentação Quem se apresenta voluntariamente à autoridade e confessa um crime, não será preso em flagrante, pois tal situação não se enquadra nas hipóteses legais de flagrância (art. 302 do CPP). Todavia, havendo estrita necessidade, o delegado poderá representar pela decretação da prisão preventiva ou da prisão temporária, se os requisitos de admissibilidade estiverem presentes. 8. Comparativo prisional a) Prisão em flagrante → Ilegal: relaxada. → Legal, porém desnecessária: liberdade provisória. b) Prisão preventiva → Ilegal: relaxada. → Legal, porém desnecessária: revogada (316 do CPP). c) Prisão temporária → Ilegal: relaxada. → Se auto revoga com o decurso do prazo. Advertência: o requerimento deve ser apresentado ao Juiz, por meio de uma petição que pode requerer (1) relaxamento, (2) revogação ou (3) liberdade provisória. QUEIXA CRIME 1. Ação Penal de Iniciativa Privada Princípios: P r o c e s so P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 39 a) Conveniência/oportunidade: o ofendido, mesmo possuindo em suas mãos a prova de materialidade, pode optar por não ofertar a queixa crime, ou seja, não está obrigado. Esta é chamada de renúncia de queixa podendo ser expressa ou tácita. Prazo: 6 meses para oferecer a queixa. b) Disponibilidade: o ofendido pode dispor (desistir) da queixa-crime, sendo que tal disposição não depende de anuência do MP. Pode ser externado pelo instituto do perdão que deve ser aceito pelo ofensor. A aceitação desse perdão pode ser expressa ou tácita. O perdão tácito se dá pela prática incompatível (Ex.: ofensor e ofendido casam) de querer continuar processar o autor do crime. A aceitação tácita ocorre pelo silêncio do ofensor. É possível que a disponibilidade seja exercida pela perempção. Por exemplo, caso a vitima não dê andamento no processo, após ser intimada, no prazo de 30 dias, ocorrerá a perempção (Art. 60 do CPP). c) Intranscendência / Pessoalidade: A queixa crime só pode ser oferecida contra aquele (s) que contribuíram para a prática do crime, na condição de autor ou partícipe. No Brasil adota-se a responsabilidade penal subjetiva. d) Indivisibilidade: Obrigatoriamente, a queixa crime deve ser oferecida contra todos aqueles que de alguma forma concorreram para a prática do crime. Ou se oferece a queixa crime contra todos ou não se oferece contra ninguém, pois não pode ser motivo de extorsão ou coação, e o MP deve zelar pela sua indivisibilidade, nos termos do artigo 48 do CPP. 2. Espécies de Ação Penal 2.1. Ação Penal Privada Exclusiva (regra) Quase todos os crimes de ação penal privada são de ação penal exclusiva e existe APENAS UM CRIME que é personalíssimo → Ação privada: “Somente se procede mediante queixa” (Exemplo – Crimes contra a honra/Crime de Dano) Substituição na titularidade da Ação – se a vítima vier a falecer na titularidade da ação irão assumir o cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão (CCADI), que pode se dar antes ou após o oferecimento da queixa. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 40 → Prazo para o oferecimento da queixa crime: Seis meses contados do conhecimento da autoria delitiva. Sendo este prazo decadencial e sua inobservância gera a extinção da punibilidade. Conta-se este prazo dever ser feito nos termos do art. 10 do CP, ou seja, inclui o dia do início e exclui-se o dia do fim. Exemplo: 10/01 – 06 meses – 09/07 (prazo de natureza material do direito penal) 2.2. Ação Privada Personalíssima → Só se aplica em um único caso – crime do art. 236 do CP. → Não pode haver substituição da parte, sendo que apenas o cônjuge enganado pode oferecer a queixa crime. Se a vítima morrer, a ação será arquivada. → Prazo: 6 meses não é do conhecimento da autoria delitiva, e sim contado do trânsito em julgado da sentença anulatória do casamento. 2.2. Ação Penal Subsidiária da Pública/ Queixa Crime subsidiária → Fundamentos legais: Art. 5°, LIX, CF; art. 29, CPP; art. 100, §3°, CP M.P – Prazo da denúncia – Inerte – não ofereceu a denúncia/ não requereu novas diligências e não requereu arquivamento. Prazo: 06 meses → se inicia a partir do fim do prazo para oferecimento da denúncia sem a manifestação do MP. 3. Queixa crime 3.1. Considerações Iniciais A queixa crime é uma peça inicial acusatória, com a intenção de iniciar a ação penal, ou seja, ainda não há processo. → Tipos de Crime contra a honra – art. 138/ 139/ 140 – Art. 145, CP. → Tipo de dano – art. 163 – art. 167 do CP. → Crime ação penal pública – MP inerte – queixa crime subsidiária. 3.2. Estrutura Queixa – Crime - Endereçamento - Preâmbulo P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 41 - Fatos - Direito - Pedidos Observação: A OAB pode requerer uma procuração específica (Art. 44 do CPP). → Endereçamento a) Juiz de direito/ Federal (art. 109, C.F) b) Jecrim/ Vara Criminal/ Vara do Júri c) Comarca (justiça comum estadual)/ Subsecção Judiciária (Justiça Comum Federal) → Preâmbulo a) Qualificação da vítima b) por intermédio de seu advogado e procurador (procuração específica em anexo). c) oferecer queixa–crime d) Art. 41, CPP c/c artigo relacionado à ação. e) contra qualificação do querelado → Dos fatos → Do direito a) Quantos crimes foram praticados? b) Narrar um crime de cada vez. c) Deve citar o artigo. d) Se o crime foi doloso, consumado/tentado, qualificado, se possui causa de aumento, agravantes, concurso de crimes, etc. → Pedidos a) recebimento da queixa–crime; b) citação dos querelados para que sejam processados e condenados pelos crimes praticados; P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 42 c) manifestação do MP; d) fixação valor mínimo de indenização – art. 387, IV, CPP. e) intimação e oitiva de testemunhas. → PROCURAÇÃO ESPECÍFICA - Espaçamento: 5 linhas Qualificação vítima – nomeia e constitui seu procurador o Dr. (Qualificação Advogado) outorgando-lhe poderes específicos para o oferecer queixa – crime contra (qualificação) - pelo seguinte fato: Breve relato fatos. Local e Data Nome da vítima 4. Técnica redacional da peça Caso concreto: Cacá, no dia 25 de setembro e 2013, sabendo que o fato era falso, mediante o uso de twitter, em ambiente público, disse a Tício (que leu a mensagem) que Mévio havia praticado crime de furto contra a Lotérica Estrela, em data de 20 de setembro do mesmo ano. Mévio teve conhecimento de tal imputação no mesmo dia. No dia seguinte, Cacá encontrou Mévio e com a intenção de ofender-lhe disse: “Você é um sujeito desonesto e trapaceiro”. Tal fato foi presenciado poro Mário. Por sua vez, Mévio se sentiu ofendido com as condutas praticadas por Cacá. Com base somente nas informações fornecidas no caso acima, elabore peça processual e exclusiva de advogado, tendo em vista que Mévio, em data de 23/03/2014 procurou o seu Escritório e pediu que ingressasse com a medida judicial cabível. Peça: P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 43 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA “...” VARA CRIMINAL DA COMARCA DE “...” MÉVIO, nacionalidade “...”, estado civil “...”, profissão “...”, filiação “...”, portador do RG nº ... e do CPF nº ..., residente e domiciliado à Rua ..., nº ..., na cidade de ..., por intermédio de seu advogado que esta subscreve (procuração específica em anexo), vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência oferecer QUEIXA-CRIME, com fundamento no artigo 41 do Código de Processo Penal c/c o artigo 145 do Código Penal, contra CACÁ, nacionalidade “...”, estado civil “...”, profissão “...”, filiação “...”, portador do RG nº “...” e do CPF nº “...”, residente e domiciliado sito à Rua “...”, nº “...”, na cidade de “...”, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: I. DOS FATOS: No dia 25 de setembro de 2013, de forma dolosa, o querelado imputou falsamente fato definido como crime ao querelante, por meio de um ambiente público amplamente utilizado (twitter), dizendo à Tício que a vítima havia praticado crime de furto contra a Lotérica Estrela, no dia 20 de setembro do mesmo mês. Não satisfeito, no dia 26 de setembro de 2013, dolosamente, o querelante foi injuriado pelo querelado, que o chamou de “desonesto e trapaceiro”, fato que foi testemunhado por Mário. Diante disso, a vítima se sentiu ofendida com as condutas praticadas pelo querelado, razão pela qual apresenta a presente peça processual. II. DO DIREITO:P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 44 a) DA CALÚNIA – ART. 138, CP: Em razão do fato que no dia 25 de setembro de 2013, sabendo que o fato era falso e mediante o uso de twitter, o Querelado imputou ao ora Querelante a prática de crime de furto. Tal imputação, chegou ao conhecimento de terceiro, qual seja, Tício, bem como foi conhecida pelo Querelante. Diante de tal conduta, inequívoco que o Querelado praticou o delito de calúnia, figura prevista no artigo 138 do Código Penal, em razão da falsa imputação de delito. Código Penal Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Ademais, evidente que o Querelado agiu com dolo, ou seja, quis e conseguiu afronta a honra objetiva do ora Querelante. Tal fato se consumou quando chegou ao conhecimento da testemunha Tício. Quanto mais não seja, o crime foi praticado via twitter, portanto, em ambiente que facilita a divulgação da calúnia. Com efeito, aplicável ao caso, a causa de aumento de pena prevista no artigo 141, III, do Código Penal. Código Penal Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, e qualquer dos crimes é cometido: [...] III – na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria; b) DA INJÚRIA – ART. 140, CP: P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 45 Não satisfeito com a prática do delito de calúnia, no dia 26 de setembro de 2013, com ânimo de afrontar a honra do Querelante, o Querelado, mais uma vez, delinquiu, dizendo pessoalmente àquele a seguinte frase “você é um sujeito desonesto e trapaceiro”. Praticando tal conduta, o Querelado consumou o delito de injúria, previsto no artigo 140 do Código Penal. Código Penal Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Com a frase supracitada, evidente que o Querelado agiu com dolo de ofender a honra alheia e sem dúvida alcançou seu intento, pois o Querelante sentiu-se extremamente ofendido em sua honra subjetiva. DO CONCURSO DE CRIMES: No caso em tela, o Querelado mediante pluralidade de condutas praticou uma pluralidade de crimes. Vale lembrar que os crimes em pauta não são da mesma espécie. Assim, a pluralidade de conduta e de crimes, configura a incidência do concurso material, previsto no artigo 69 do Código Penal, que estabelece que as penas de todos os crimes praticados devem ser aritmeticamente somadas, senão vejamos: Código Penal Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja ocorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 46 III. DOS PEDIDOS Por tudo quanto foi exposto e inequivocamente demonstrado, requer: a) o recebimento da presente Queixa-Crime; b) a citação do Querelado para responder a presente inicial e ao final ser condenado pelas penas previstas nos artigos 138 c/c 141, III e 140, todos combinados com o artigo 69 do Código Penal; c) a manifestação Ministério Público; d) a fixação de valor mínimo de indenização pelos danos morais causados ao ora Querelante, nos moldes do artigo 387, IV do Código de Processo Penal; e) a intimação das testemunhas fáticas, cujo rol segue abaixo para prestarem depoimento durante a instrução criminal. Rol de testemunhas: 1. Tício (qualificação); 2. Mário (qualificação). Termos em que, Pede deferimento. Local “...”, dia “...”, mês “...”, ano ”...”. Advogado ... OAB nº ... P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 47 PROCURAÇÃO ESPECÍFICA MEVIO, nacionalidade “...”, estado civil “...”, profissão “...”, filiação “...”, portador do RG nº “...” e do CPF nº “...”, residente e domiciliado sito à Rua “...”, nº “...”, na cidade de “...”, nomeia e constiuiu seu procurador o Dr. “...”, nacionalidade “...”, estado civil “...”, advogado, inscritos na OAB/”...” nº “...”, com escritório profissional na Rua “...”, nº “...”, na cidade de “...”, a quem confere poderes específicos para oferecer Queixa- Crime contra CACÁ, nacionalidade “...”, estado civil “...”, profissão “...”, filiação “...”, portador do RG nº “...” e do CPF nº “...”, residente e domiciliado sito à Rua “...”, nº “...”, na cidade de “...”, pelos seguintes fatos: No dia 25 de setembro de 2013, sabendo que o fato era falso, mediante o uso de twitter, Cacá disse a terceiro que o outorgante havia praticado crime de furto. No dia seguinte, Cacá encontrou o ora outorgante lhe disse “você é um sujeito desonesto e trapaceiro”. Local “...”, dia “...”, mês “...”, ano ”...”. MÉVIO “...” RG nº “...” CPF nº “...” PROCEDIMENTO DO JÚRI 1. Introdução A Lei 11.689/08 tratou do Júri e da reforma no CPP. P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 48 O Júri tem disciplina na CF, art.5º, XXXVIII da CF (cláusula pétrea). O Júri funciona como direito e também como garantia fundamental. Dentro dessa dúplice análise o Júri é um direito fundamental de participação popular na administração da Justiça (integrar como Jurados). Como garantia fundamental é a possibilidade (garantia) de ser julgado por seus pares, caso eventualmente se pratique um crime doloso contra a vida. Em síntese → Direito: ser jurado; Garantia: de ser julgado por jurados. Há 4 princípios específicos que tratam do tema: → Princípio da plenitude de defesa. Por este princípio além da defesa técnica pelo advogado, também vale pela defesa de argumentos metajurídicos (SENTIMENTAIS, FILOSÓFICOS, ECONÔMICOS). → Princípio do Sigilo das Votações. O Jurado pode sofrer intimidações pelas partes ou de seus familiares caso seja identificado o seu voto. O sigilo ocorre por intermédio da sala secreta onde pessoas que possam intimidar o Jurado não terão acesso, sob pena de nulidade absoluta. Além disso, o voto ocorre de maneira impessoal para que o Jurado não seja identificado. Advertência: Atualmente, para preservar o sigilo, A UNANIMIDADE ESTÁ VEDADA e com quatro votos em determinado sentido, o quesito estará suficientemente julgado. → Princípio da Soberania dos Veredictos. O MÉRITO da deliberação dos Jurados não poderá, em regra, ser alterados pelos demais órgãos do Judiciário, contudo, pode sofrer mitigações. *Exceções: A primeira mitigação ocorre quando os Jurados julgarem manifestamente contrária às provas, daí a defesa interpõe apelação no qual o TJ cassa o julgamento e manda o réu para novo Júri, mas isso será feito apenas uma vez (art.593, III, „‟d‟‟, CPP). A segunda mitigação decorre de revisão criminal. À luz do art.621 do CPP, aquele que foi injustamente condenado por decisão transitada em julgado emanada do Júri, poderá ser diretamente absolvido na ação de revisão criminal. → Princípio da Competência Mínima para o Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida (tentados ou consumados). P r o c e s s o P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 49 Os artigos 121 a 128 do CP elencam as infrações dolosas contra a vida. Obs1: O Júri não julga apenas os crimes dolosos contra a vida, mas desde que sejam infrações comuns conexas, ainda que de menor potencial ofensivo. Obs2: O simples fato de o crime consumar em morte, não quer dizer que
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