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FÍSICA: CINEMÁTICA E DINÂMICA Prezado (a) aluno (a). Para que um corpo rígido execute um movimento de rotação, faz-se necessário analisar algumas características, como a localização e o estado do eixo de rotação, os quais são essenciais para o estudo desse movimento. Outra característica que se deve analisar é a distribuição de massa do corpo que entrará em rotação, pois ela tem grande influência no movimento. A grandeza que mede essa influência é chamada de momento de inércia. Nesta aula, você vai estudar o momento de inércia e as suas principais características. Além disso, verá exemplos do cálculo dessa grandeza para diferentes formas geométricas e determinados perfis. Bons estudos! AULA 2 – MOMENTO DE INÉRCIA 2 O MOMENTO DE INÉRCIA Para demonstrar sua destreza no basquete, experimente girar uma bola na ponta do seu dedo indicador (Figura 1a), um movimento frequentemente observado em jogadores profissionais e amadores com relativa facilidade. Entretanto, a execução desse movimento provavelmente não será tão simples se você tentar fazê-lo com uma bola de futebol americano em vez de uma bola de basquete (Figura 1b). A discrepância fundamental entre essas duas bolas reside na maneira como sua massa está distribuída. Figura 1. Exemplos de diferentes distribuições de massa: (a) giro de bola de basquete em torno de eixo fixo; (b) jogador com bola de futebol americano. Fonte: br.freepik.com A disposição da massa de um objeto sólido é um dos elementos de maior relevância na promoção do movimento de rotação. Examinar a distribuição de massa de um objeto envolve avaliar a posição de cada partícula que o compõe em relação a um ponto de referência. Através dessa avaliação, torna-se viável determinar, por exemplo, o centro de massa do objeto. De maneira geral, a seleção da localização do eixo de rotação está intimamente ligada à disposição da massa, uma vez que posicionar o eixo no centro de massa do objeto torna o movimento de rotação mais eficiente. O impacto do arranjo de cada partícula do objeto na rotação, pode ser observado quantitativamente calculando a energia cinética rotacional. A energia cinética rotacional de um corpo rígido composto por 𝑛 partículas é determinada com a seguinte fórmula: 𝐾 = 1 2 ∑ m𝑖 𝑛 𝑖=1 𝑟𝑖 2 ⋅ 𝜔𝑖 2 Na equação acima, 𝑚𝑖 representa a massa da partícula 𝑖; ωi é a velocidade angular da partícula 𝑖; e 𝑟𝑖 indica a distância radial da partícula 𝑖 em relação ao eixo de rotação fixo. É importante lembrar que no Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade padrão de medida de energia é o joule (J). Através da análise dessa equação, é evidente que o lado direito apresenta o seguinte termo multiplicativo:𝑚𝑖𝑟𝑖 2. Este produto evidencia a influência da posição de cada partícula em relação ao eixo de rotação na energia cinética do movimento. Devido à significativa contribuição deste arranjo na energia associada ao movimento de rotação, tal produto é definido como momento de inércia, simbolizado pela letra 𝐼: 𝐼 = 𝑚𝑖𝑟𝑖 2 Dentro do SI, a unidade de medida para o momento de inércia é o quilograma vezes metro ao quadrado (kg.m²), em que a massa é expressa em quilogramas e o raio em metros. Para um objeto composto por 𝑛 partículas, a expressão do momento de inércia é a seguinte: 𝐼 = ∑ 𝑚𝑖𝑟𝑖 2𝑛 𝑖=1 O conceito de momento de inércia, também conhecido como inércia rotacional, encapsula a resistência de um objeto em mudar seu estado de movimento de rotação. Segundo Hewitt (2015), um corpo que está em movimento de rotação tem uma propensão a manter esse movimento, a menos que seja influenciado por uma força externa. Podemos estabelecer uma analogia entre o comportamento do momento de inércia no movimento de rotação e o comportamento da massa no movimento linear. A seguir, apresentam-se as equações para a energia cinética em ambos os tipos de movimento: 𝐾 = 1 2 𝑚𝑣2 ; 𝐾 = 1 2 𝐼𝜔𝑖 2. A massa de um ponto material manifesta uma resistência à modificação de seu estado no movimento linear, de maneira semelhante ao momento de inércia de um corpo rígido e extenso, que opõe resistência à variação de seu estado no movimento de rotação. Portanto, quanto maior o momento de inércia, mais desafiador se torna alterar seu estado rotacional. Uma ilustração dessa resistência à mudança, é visível durante as performances de atletas praticantes de patinação artística (Figura 2). Nessa disciplina olímpica, diversos tipos de giros, também chamados de piruetas, são executados com frequência devido ao seu alto valor de pontuação. Ao realizar esses giros, o atleta ajusta sua postura, o que consequentemente modifica seu momento de inércia. Figura 2. Exemplo de movimento de rotação que atletas da patinação artística executam em uma apresentação com diferentes momentos de inércia Fonte: br.freepik.com/ Em determinados instantes, o atleta modifica o momento de inércia durante a rotação, buscando ajustar o movimento que está realizando. Durante uma pirueta esticada (em pé), o atleta inicia com os braços estendidos e, posteriormente, os retrai. Essa movimentação resulta na redução do momento de inércia, ou seja, na diminuição da distância radial, o que facilita a modificação do movimento e, por conseguinte, incrementa a velocidade angular. Em qualquer sistema envolvido em um movimento de rotação, o momento de inércia assume um papel crucial, uma vez que ele será determinante para decidir se o movimento acontecerá, além de influenciar a quantidade de força necessária para seu início ou cessação. O momento de inércia para um corpo extenso Conforme Nussenzveig (2013), um corpo que é amplo e rígido exibe uma distribuição de matéria contínua. Ao contemplar o considerável número de partículas presentes em um corpo, com a massa de cada partícula sendo infinitesimal (𝛥𝑚), é possível chegar ao caso limite de um sistema de partículas. Desse modo, ao lidar com um corpo extenso, o momento de inércia é estabelecido da seguinte maneira: 𝐼 = ∫ 𝑟2𝑑𝑚. Ao calcular o momento de inércia, é necessário examinar um elemento de massa 𝑑𝑚, localizado a uma distância radial 𝑟 do eixo de rotação. A variação de 𝑟 dependerá das características específicas do corpo sob análise. Portanto, para conduzir esse cálculo, é essencial estabelecer uma relação entre 𝑑𝑚 e 𝑟. A grandeza empregada para estabelecer essa relação será a densidade, podendo ser linear, superficial ou volumétrica, dependendo da geometria do objeto em questão. O cálculo do momento de inércia está intimamente ligado à maneira como a massa do objeto está distribuída em relação ao eixo de rotação. Para objetos homogêneos com geometrias simples, em que o eixo atravessa o centro de massa do objeto, o cálculo se torna comparativamente descomplicado. 2.1 Cálculo do momento de inércia O cálculo do momento de inércia de um corpo rígido é primordialmente influenciado pela distribuição da massa e pela posição do eixo de rotação. Vamos conhecer o processo de cálculo do momento de inércia aplicado a objetos homogêneos, ou seja, com densidade constante, nos quais o eixo de rotação é fixo e passa pelo centro de massa. As demonstrações serão conduzidas considerando formas geométricas elementares. O procedimento inicial consiste em isolar um elemento de massa 𝑑𝑚 e examinar o comportamento de 𝑟. A Figura 3 abaixo, ilustra um anel de pequena espessura executando rotação em torno de seu próprio centro de massa. Figura 3. Cálculo do momento de inércia para um anel fino de massa 𝑚 e raio 𝑅 girando em torno de um eixo fixo que passa pelo seu centro de massa Fonte: urx1.com/VFjEU O cálculo para esse anel é direto, já que a distância radial 𝑟 permanece constante. Na Figura 4 subsequente, é exibido um disco de fina espessura realizando rotação em torno de seu centrode massa. Figura 4. Cálculo do momento de inércia para um disco fino de massa 𝑚 e raio 𝑅 girando em torno de um eixo fixo que passa pelo seu centro de massa. Fonte: urx1.com/VFjEU. Para calcular o momento de inércia do disco, é necessário estabelecer uma relação entre 𝑑𝑚 e a densidade superficial, uma vez que sua espessura é considerada infinitesimal. A Figura 5 abaixo ilustra um cilindro sólido com raio 𝑅 e altura ℎ executando rotação em torno de seu centro de massa. Figura 5. Um cilindro de massa 𝑚, altura ℎ e raio 𝑅 girando em torno de um eixo fixo que passa pelo seu centro de massa Fonte: l1nq.com/PSViM. O cálculo do momento de inércia para o cilindro exemplificado, será equivalente ao do disco apresentado na Figura 4. Note os elementos de massa 𝑑𝑚 evidenciados na Figura 5, a distância radial 𝑟 de cada partícula no cilindro sempre variará de 0 a 𝑅, independente da altura ℎ. Consequentemente, o momento de inércia de um cilindro sólido pode ser expresso como: 𝐼 = 1 2 𝑚 𝑅2 Finalmente, procederemos ao cálculo para uma esfera sólida com raio 𝑅. Nesse contexto, podemos visualizar a esfera como uma composição de discos, cada um com um raio 𝑟 que varia em relação à sua distância ao centro da esfera (𝑥). A Figura 6 abaixo, ilustra uma esfera sólida de raio 𝑅 e massa 𝑚 executando rotação em torno de seu centro de massa. É evidente que esse disco apresenta uma espessura infinitesimal 𝑑𝑥. Nesse cálculo, vamos considerar o disco com raio 𝑟 como o elemento de massa. Como é evidente na Figura 6, o raio r é condicionado por 𝑥 e 𝑅, que formam um triângulo retângulo. Portanto: 𝑟 = √𝑅2 − 𝑥2 O volume do disco 𝑑𝑉 será expresso como: 𝑑𝑉 = 𝜋𝑟2𝑑𝑥 = 𝜋(𝑅2 − 𝑥2)𝑑𝑥 A densidade do disco equivale à densidade da esfera sólida, de forma que: 𝑑𝑚 = 𝜌 𝑑𝑉 = 𝜌𝜋(𝑅2 − 𝑥2)𝑑𝑥 Figura 6. Uma esfera de massa 𝑚 e raio 𝑅 girando em torno de um eixo fixo que passa pelo seu centro de massa Fonte: shre.ink/aUzE Assim, o momento de inércia de um disco é expresso como 𝐼 = 1 2 𝑚𝑟2. Uma vez que o disco se torna o nosso elemento de massa 𝑑𝑚, podemos então escrever 𝑑𝐼 = 1 2 𝑟2𝑑𝑚. Ao substituir 𝑟 e 𝑑𝑚, obtemos: 𝑑𝐼 = 1 2 (𝑅2 − 𝑥2)𝜌𝜋(𝑅2 − 𝑥2)𝑑𝑥 e integrando: 𝐼 = 1 2 ∫(𝑅2 − 𝑥2)𝜌𝜋(𝑅2 − 𝑥2)𝑑𝑥 = 1 2 𝜌𝜋 ∫ (𝑅2 − 𝑥2)2𝑑𝑥 = 𝑅 0 1 2 𝜌𝜋 ( 8𝑅5 15 ) A integração fornece o valor do momento de inércia do disco considerando a variação de 𝑥 de 0 a 𝑅. Isso implica que somente metade da esfera foi considerada na avaliação. Portanto, para a esfera completa, o resultado é duplicado: 𝐼 = (2) 1 2 𝜌𝜋 ( 8𝑅5 15 ) Para a densidade da esfera, é obtido o seguinte valor: 𝜌 = 𝑚 𝑉 = 3𝑚 4𝜋𝑅3 Assim sendo, o momento de inércia de uma esfera sólida é expresso como: 𝐼 = 2 5 𝑚𝑅2 Essa análise pode ser aplicada a diferentes configurações geométricas de distribuição homogênea de massa, envolvendo a avaliação do elemento de massa 𝑑𝑚 e a variação da distância radial entre esse elemento e o eixo de rotação. O Quadro 1 abaixo ilustra alguns exemplos de momentos de inércia para objetos com geometrias simples. Quadro 1. Momento de inércia para corpos de geometria simples Fonte: Adaptado de Hewitt (2015). As análises apresentadas sempre consideram o eixo de rotação posicionado no centro de massa do objeto, uma vez que, em corpos com formas regulares, essa disposição simplifica consideravelmente o estudo do movimento de rotação. A seguir, examinaremos como calcular o momento de inércia de um corpo em que o eixo de rotação é paralelo a um eixo que atravessa o seu centro de massa. Teorema dos eixos paralelos A determinação do momento de inércia está condicionada à posição do eixo de rotação. Foram fornecidos alguns exemplos em que o eixo está constantemente no centro de massa do objeto, entretanto, o eixo de rotação nem sempre coincidirá com o centro de massa do corpo. De maneira geral, as portas fornecem um excelente exemplo de eixos de rotação que se encontram fora do centro de massa. Um caso ilustrativo é a porta de um micro-ondas, onde o eixo de rotação está situado na borda lateral da porta, em vez de no centro de massa. Conforme Halliday, Resnick e Walker (2016) explicam, ao estarmos cientes do momento de inércia de um corpo cujo eixo de rotação está no centro de massa, torna- se viável calcular o momento de inércia quando esse mesmo corpo gira em torno de um eixo que é paralelo ao eixo no centro de massa. Para realizar esse cálculo, é necessário apenas conhecer a distância entre esses dois eixos. Essa determinação é efetuada mediante o uso do teorema dos eixos paralelos, cuja formulação é a seguinte: 𝐼0 = 𝐼𝐶𝑀 + 𝑚ℎ2 , com I0 representando o momento de inércia em relação ao eixo paralelo, 𝐼𝐶𝑀 será o momento de inércia em relação ao eixo que atravessa o centro de massa, 𝑚 denota a massa do corpo e ℎ indica a distância entre os dois eixos. Esses componentes estão apresentados na Figura 7. Figura 7. Haste fina com um eixo que passa pelo centro de massa (𝐶𝑀) e outro eixo 0 que passa pela extremidade da haste. Fonte: shre.ink/aDZL. Para determinar o momento de inércia de uma haste com massa 𝑚 e comprimento 𝐿, quando o eixo de rotação está em uma de suas extremidades, é possível aplicar o teorema dos eixos paralelos. Isso ocorre porque já possuímos o momento de inércia com o eixo no centro de massa (conforme indicado no Quadro 1) e conhecemos a distância entre os dois eixos (𝐿/2). Portanto, em relação ao eixo 0 posicionado na extremidade da haste, temos: 𝐼0 = 𝐼𝐶𝑀 + 𝑚ℎ2 = 1 12 𝑚𝐿2 + 𝑚 ( 𝐿 2 ) 2 = 1 12 𝑚𝐿2 + 1 4 𝑚𝐿2 Assim, o momento de inércia de uma haste com comprimento 𝐿 e o eixo posicionado em uma das extremidades é: 𝐼0 = 1 3 𝑚𝐿2. Até o momento, os cálculos do momento de inércia foram aplicados a objetos homogêneos de geometrias regulares. Entretanto, em diversos sistemas, tais formatos não são comuns. Uma abordagem para analisar objetos com formas complexas consiste em subdividir o corpo em segmentos de formato regular. 2.2 O momento de inércia para diferentes perfis Na engenharia, o momento de inércia é de extrema importância em projetos de sistemas que devem manter o equilíbrio estático, ou seja, a soma total das forças é igual a zero. Setores como a construção civil e projetos que envolvem a suspensão de corpos rígidos, empregam esses cálculos. Nesses contextos, o momento de inércia mensura a resistência que um objeto oferece à alteração de seu estado, contribuindo para a estabilidade estática do sistema. Essa é uma das informações que um engenheiro necessita para determinar, por exemplo, o tipo de conexão entre perfis ou a carga que o sistema pode suportar sem sofrer alterações. Tais perfis possuem formatos predefinidos no mercado, conforme exemplificado na Figura 8. Figura 8. Diferentes tipos de perfis utilizados na construção civil Fonte: Galvaminas (2020). Para calcular o momento de inércia de objetos com geometrias irregulares, uma abordagem eficaz é a combinação de perfis. Por exemplo, é viável decompor um perfil em diferentes formatos geométricos, cujo momento de inércia é conhecido, como hastes e discos. Dessa maneira, é possível transformar sistemas de configurações complexas em formas simples. Como exemplo, um perfil em configuração de T pode ser subdividido em duas hastes (Figura 9a), e um perfil em configuração de I pode ser dividido em três hastes (Figura 9b). Figura 9. (a) Perfil em formato T dividido em duas hastes; (b) perfil em forma de I dividido em 3 hastes Fonte: shre.ink/aj78. Dividindo-se um objeto em componentes menores a fim de calcular o momento de inércia, é necessário calcular o momento de inércia de cada segmento em relação ao eixo de rotação somando-se os momentos individuais. Logo, ao subdividir o objeto em quatro partes, omomento de inércia total será: 𝐼 = 𝐼1 + 𝐼2 + 𝐼3 + 𝐼4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GALVAMINAS. Perfis estruturais. Belo Horizonte: Galvaminas, 2020. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: mecânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 1. HEWITT, P. G. Física conceitual. 12. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica: mecânica. 5. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2013. v. 1.