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1 Introdução Essas são algumas propriedades especiais apresentadas por alguns materiais que são assimétricos abaixo de uma certa temperatura. Todo material piroelétrico é piezoelétrico, mas nem todo piezoelétrico é também piroelétrico, assim como todo material ferroelétrico é piroelétrico e nem todo piroelétrico é também ferroelétrico. Piezoeletricidade e Piroeletricidade Piezoeletricidade é uma propriedade possuída por um sele- to grupo de materiais. Ela foi descoberta em 1880 por Pierre e Jacques Curie quando estudavam o efeito da pressão na geração de carga elétrica pelos cristais como quartzo, turma- lina e sal Rochelle. Certos cristais cerâmicos conservam um centro de simetria mas isto não ocorre quando cristais iônicos estão envolvi- dos. Os centros das cargas positivas e negativas não coinci- dem. Como resultado, cada célula unitária atua como um pe- queno dipolo elétrico com uma terminação positiva e uma negativa. Isto é exemplificado pelo BaTiO3. Este é cúbico (acima de 120 graus). A temperatura para a qual a estrutura do cristal muda de não-simétrica para uma estrutura simétri- ca, expresso em graus Celsius, leva o nome de Temperatura de Curie ou Ponto Curie. Abaixo dessa temperatura existe um pequeno, mas importante, deslocamento iônico. O íon central Ti4+ desloca-se 0,006 nm com relação ao íon Ba2+. Os íon O2- deslocam-se na direção oposta, como mostrado na Figura 1. O centro da carga positiva e o da carga negativa estão separados pelo dipolo de comprimento d. Figura 1 Um material como o BaTiO3 muda suas dimensões num campo elétrico porque as cargas negativas são arrastadas em direção ao eletrodo positivo enquanto que as positivas em direção ao eletrodo negativo, assim aumentando o compri- mento do dipolo, d. Isto também aumenta o momento de di- polo Qd e a polarização P, visto que esta é a soma total dos momentos de dipolo, por unidade de volume V. Nessa sequência de efeitos, ocorre a tranformação de energia mecânica em energia elétrica e vice-versa. O alinha- mento cooperativo dos momentos de dipolo de muitas célu- las unitárias gera uma polarização que reúne cargas positivas de um lado do cristal e cargas negativas no lado oposto. Agora considere duas alternativas, como mostrado na Figura 2. Figura 2 (1) Comprima (ou tracione) o cristal com uma tensão s. Há uma deformação e dependente do módulo de elasticidade. Esta deformação varia o comprimento do dipolo d e afeta diretamente a polarização (somatória dos momentos de di- polo por unidade de volume), apesar de Q e V permanecerem constantes. Com uma polarização bem menor (de compres- são), a densidade de carga aumenta excessivamente nas du- as extremidades do cristal. Se estas estiverem isoladas, des- envolve-se uma diferença de potencial. Se fecharmos o cir- cuito, os elétrons fluirão de uma extremidade para a outra. (2) Nenhuma pressão é aplicada mas sim uma diferença de po- tencial entre as extremidades do cristal. As cargas negativas no interior do BaTiO3 tomam um determinado sentido e as cargas positivas o sentido oposto, provocando assim uma variação não só no comprimento do dipolo d, mas também nas dimensões do cristal. Estas duas situações indicam como forças mecânicas e Materiais Piezoelétricos, Piroelétricos e Ferroe- létricos Daniel Henrique Pastro e Helvio Hirotoshi Miyagi 2 dimensões podem ser interligadas com cargas elétricas e/ou tensões. Dispositivos com tais características são chamados transdutores enquanto que os materiais dos quais são feitos são denominados piezelétricos, istoé, convertem pressão em eletricidade. Cristais do tipo BaTiO3 são usados para medido- res de pressão, cabeçotes fonográficos e para geradores sonoros de alta frequência. Cristais de quartzo (SiO2) são também materiais piezelétri- cos. São produzidos para aplicações especiais em circuitos que requeiram controle de frequência. Uma vez cortados, segundo uma geometria selecionada, sua frequência de vi- bração elástica resulta constante com uma garantia de uma parte em 108. Assim, na ressonância, o cristal pode controlar a frequência de um circuito eletrônico com idêntica precisão. Circuitos para relógios e controle de circuitos empregados em transmissões radiofônicas são duas outras aplicações dos cristais de quartzo. Veja na Figura 3 o comportamento do material piezoelétrico na presença de um campo alternado, fenômeno usado por exemplo em fones de ouvido. Figura 3 Alguns materiais piezoelétricos são também piroelétricos, mas todos materiais piroelétricos são piezoelétricos. Este grupo de cristais (piroelétricos) possui uma caracte- rística não usual de serem permanentemente polarizados dentro de uma certa faixa de temperatura. Diferente da mais geral classe dos piezoelétricos, que produzem uma polariza- ção sob stress, os piroelétricos desenvolvem esta polariza- ção espontaneamente e formam dipolos permanentes em sua estrutura. Esta polarização também muda com a temperatura – daí o nome piroeletricidade. Cristais piroelétricos como a Turmalina e a Wurtizita são normalmente chamados de mate- riais polares, referindo ao único eixo polar existente dentro do reticulado. O comprimento do eixo polar (momento de dipolo) varia com a temperatura, mudando com a temperatura diminuindo ou aumentando. Esta polarização faz com que apareça uma tensão entre as extremidades como mostrado na Figura 4. Atualmente equipamentos piroelétricos utilizam este efeito em alarmes contra intrusos (sensor de presença) e mapeamento geográfico. Figura 4 Antes de terminarmos é importante a apresentação de du- as constantes piezoelétricas. As constantes piezoelétricas que relacionam a deformação mecânica produzida por um campo elétrico aplicado são chamadas constantes de defor- mação, ou os coeficientes "d". As unidades são expressas em metros por volt (m/V). É útil relembrar que constantes dij grandes, relacionadas com grandes deslocamentos mecânicos, são procurados geralmente em dispositivos sensores de movimento. Igual- mente, o coeficiente pode ser visto como a relação entre a carga recolhida nos eletrodos com a tensão mecânica aplica- da. - d33 aplica-se quando a força está na direcção 3 (ao longo do eixo de polarização) e é impressa na mesma superfície na qual a carga é recolhida. - d31 aplica-se quando a carga é recolhida na mesma super- fície que a anterior, mas a força é aplicada para ângulos retos ao eixo de polarização. - os índices d 15 indicam que a carga é recolhida em eletro- dos que estão para ângulos retos em relação à direção origi- nal de polarização e que a tensão mecânica aplicada é uma tensão de corte. As unidades para os coeficientes dij são normalmente expressos como Coulombs/metro quadrado por Newton/metro quadrado [(C/m2)/(N/m2)]. Quando a força que é aplicada é distribuída pela área que está totalmente coberta por eletrodos (mesmo que isso seja só uma parte do eletrodo total), as unidades de área anulam-se a partir da equação e os coeficientes devem ser exprimidos em termos de carga por unidade de força (Cou- lombs por Newton). Já as constantes piezoeléctricas relacionadas com o campo elétrico produzido por uma tensão mecânica, são de- nominadas constantes de potencial ou coeficientes "g". As unidades podem ser expressas em Volts/metro por Newton/metro quadrado [(V/m)/N/m2)]. 3 A tensão de saída é obtida multiplicando o campo elétrico pela espessura do material piezoelétrico entre os eletrodos. O índice "33" indica que o campo elétrico e a tensão mecânica estão os dois orientados ao longo do eixo de polarização. O índice "31" significa que a pressão é aplicada para ângulos retos em relação ao eixo de polarização, mas a tensão aparece nos mesmos eletrodos que no caso anterior. O índice "15" implica que a tensão é aplicada obliquamente e que o campo resultante é perpendicular ao eixo de polarização. Constantesgij elevadas favorecem uma grande tensão à saída e são pro- curados para sensores. Embora os coeficientes "g" sejam chamados de coeficientes de tensão, também é correto dizer que gij é a relação entre a deformação desenvolvida e a den- sidade de carga aplicada. As unidades são: metros por metro sobre Coulombs por metro quadrado [(m/m)/(C/m2)]. Ferroeletricidade Em todos os cristais piroelétricos os dipolos são influenci- ados por forças eletrostáticas quando um campo é aplicado às faces opostas do cristal. Alguns dos dipolos podem ser revertidos se um campo oposto ao seu sentido e de alta ten- são for aplicado. Este fenômeno de um dipolo ser revertido em um campo contrário se dá o nome de Ferroeletricidade. A Ferroeletricidade foi descoberta em 1920. O primeiro ma- terial conhecido foi o sal de Rochelle, só que este perdia su- as propriedades ferroelétricas com uma leve modificação em sua composição, tornando-o pouco atrativo para aplicações industriais. Em 1945 foi encontrado comportamento ferroelé- trico no titanato de bário (BaTiO3), que faz parte de um gru- po de estrutura de cristais conhecido como perovskite. Mais tarde foram descobertos outros perovskites com proprieda- des ferroelétricas, abrindo o caminho para aplicações indus- triais. Perovskites ainda são os materiais ferroelétricos mais importantes. Temperatura e/ou pressão determinam a fase estrutural dos cristais. Em altas temperaturas normalmente os materiais apresentam grande simetria. Nos materiais que nestas altas temperaturas apresentam uma estrutura centro-simétrica, a ferroeletricidade é um dos possíveis efeitos causados pela assimetria do material quando a temperatura cai abaixo de um certo nível, a Temperatura de Curie TC. Figura 5 – Instabilidade em cristais com centro-simetria Como já foi citado anteriormente, os perovskites formam o mais importante grupo de materiais ferroelétricos. A sua per- feita estrutura segue a fórmula ABO3, onde A é um átomo mono ou divalente e B um tetra ou pentavalente. Como mo s- trado na figura abaixo, os átomos A estão nos vértices do cubo, os B no centro e os átomos de oxigênio estão no cen- tro das faces. Figura 6 - Estrutura de um cristal de perovskite simétrico Se o material apresenta uma perfeita estrutura cúbica, o efeito ferroelétrico não pode ser observado. Um exemplo disso é o titanato de estrôncio (SrTiO3). Porém, como sua estrutura é um ABO3, um campo aplicado acarretará em um deslocamento de íons, aparecendo, então, um momento elé- trico. Como já dito, a ferroeletricidade é causada pela assimetria na estrutura do cristal. Se, por exemplo, o átomo Sr no SrTiO3 for substituído por um Ba, que é um átomo com um maior diâmetro, a estrutura cúbica será tetragonalmente dis- torcida a temperatura ambiente e a altura do cristal aumentará em relação a sua base. Esta distorção é esquematizada na figura 1 e a polarização resultante na figura 7. 4 Figura 7- Polarização de um cristal tetragonalmente distor- cido Agora há dois níveis energéticos para o íon central, cada um resultando em um momento de dipolo diferente. O cristal terá uma polarização permanente, chamada de polarização espontânea PS. Dependendo da temperatura, há outras duas formas dis- torcidas para o cristal do BaTiO3, cada uma com uma geome- tria diferente. Para temperaturas além de -80ºC o cristal torna- se romboédrico e entre -80ºC e -5ºC, monoclínico. Figura 8 - Cristal distorcido romboedricamente Figura 9 - Cristal distorcido monoclinicamente Inicialmente todas as polarizações espontâneas das celas individuais estarão aleatoriamente distribuídas pelo material, tendo então uma resultante igual a zero. Se um campo for aplicado, os íons serão empurrados para a região energeti- camente melhor. Se uma tensão é suficiente para que todos os dipolos fiquem organizados na mesma direção, a máxima contribuição de momento de dipolo é alcançado. Isto é co- nhecido como polarização de saturação PSAT. Se o campo for reduzido a zero novamente, muitos dipolos continuarão nes- te último estado e causará uma polarização do material, co- nhecido como polarização remanente PREM. Se o campo elé- trico é mudado para a direção oposta, a polarização resultan- te cai a zero e o campo necessário para se chegar a isto é chamado de campo coercivo EC. Este comportamento leva a uma curva de histerese, como a mostrada abaixo. Figura 10 - Curva de histerese Referências Bibliográficas Livros: 1) Van Vlack, “Princípios de Ciência e Tecnologia dos Mate- riais”. Ed. Campos 2) Buchnan, Relva C., "Ceramic Materials for Electronics". Ed. Marcel Dekker Sites: 1) http://www.fisica.uminho.pt/Pg_pessoais 2) http://www.iue.tuwien.ac.at/publications/PhD%20Theses/dra gosits/node12.html 3) www.morganelectroceramics.com/pdfs/tp217.pdf 4) http://www.ikm.uni- karlsruhe.de/forschung/pzt_webseiten/eng/basics/ferro_main _eng.html