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CAPÍTULO III - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS NEE A relação entre sociedade e pessoa com deficiência sempre foi marcada pela discriminação, segregação e exclusão nas mais diferentes formas de manifestação, com maior ou menor intensidade. A escola, para atender os distintos grupos, deve identificar os diferentes constructos que interferem na aprendizagem e que podem ser de natureza cognitiva, emocional, afetiva, motora, entre outras. Para que se efetive a aprendizagem deve ocorrer um complexo atitudinal envolvendo todos esses constructos. Objetivo: Perceber que a capacidade das escolas para atender satisfatoriamente às necessidades educativas dos alunos especiais é claramente limitada. Esses alunos requerem, muitas vezes, uma atenção em diversos âmbitos (biopsicossocial, etc.) que vai além das possibilidades reais de atuação e de compensação da educação escolar e exige a implementação de políticas mais amplas, que incluam a educação, mas que não e limitem a ela. A aprendizagem exerce um papel de grande importância no desenvolvimento de todos os alunos, sejam eles portadores de necessidades educativas especiais ou não. Segundo o teórico Vigotsky, desde o início da vida de uma criança desenvolvimento e aprendizagem encontram-se relacionados, sendo que a aprendizagem bem organizada põe em movimento vários processos de desenvolvimento; ela impulsiona o desenvolvimento, portanto, a relação do sujeito com o objeto do conhecimento não se dá de forma mecânica. A partir da ação de diferentes mediadores o sujeito vai se apropriando o conhecimento, o que possibilita a sua constituição. Segundo FONSECA (1987), o termo NEE, vem para minimizar dicotomias ("normal-anormal", "deficiente - não-deficiente", "desviante - não-desviante") e para modificar a concepção da existência do "deficiente" e incluir a noção de que, se por um lado existe a deficiência na pessoa, por outro existem necessidades educativas (potencialidades) que precisam ser estimuladas e desenvolvidas para que a criança venha a ter uma melhor forma de estar no mundo. Crianças com NEE são aquelas que, de acordo com MAZZOTTA (1982 : 27), por limitações intrínsecas ou extrínsecas requerem algumas modificações ou adaptações no programa educacional, a fim de que possam atingir o seu potencial máximo. Tais limitações podem decorrer de problemas visuais, auditivos, mentais ou motores, como também de condições ambientais desfavoráveis. Vários fatores associados evidenciam a necessidade de modificações no sistema educacional para que este se ajuste ao desenvolvimento heterocrônico das crianças com NEE, de modo que sejam consideradas as características de aprendizado mais lento desses indivíduos e, em alguns casos, sua menor capacidade de pensamento abstrato. O professor tem papel fundamental, pois é um agente de mediação, um interlocutor de seus alunos, ensinando-lhes, não de forma mecânica, autoritária ou distante, mas através de um processo de interação dialógica. As crianças diferem não só de uma para outra (diferenças interindividuais) mas também são diferentes quanto às especialidades e incapacidades em si (diferenças intraindividuais). O grau de desvio e a constelação de diferenças varia de criança para criança. KIRK & GALLAGHER (1987: 33) Segundo HOLLE (1979), que o desenvolvimento das crianças com NEE apresenta variações no seu curso, pois não ocorre de forma regular, homogênea fazendo com que algumas áreas se desenvolvam mais e outras menos, apesar da literatura demonstre que, na maioria das vezes, seguem a mesma ordem do desenvolvimento normal. Neste sentido, RODRIGUES (1993), chama a atenção para a "heterocronia do desenvolvimento, no sentido de que dentro do mesmo perfil de comportamento encontramos diferentes níveis ou estágios de desenvolvimento". Algumas dessas necessidades podem ser temporárias ou permanentes, dependendo da situação ou das circunstâncias das quais se originam. Trazendo esta questão para o contexto educacional, KIRK & GALLAGHER (1987), diriam que uma criança que demonstra, por exemplo, apenas um problema na fala, mas que apresenta um padrão de desenvolvimento de certo modo normal, sem diferir acentuadamente das outras crianças quanto ao desempenho educacional ou ao desenvolvimento físico, poderia receber atendimento especial em meio período por um fonoaudiólogo e ser educada simultaneamente nas séries regulares, sem ser submetida ao estigma da classe especial. RODRIGUES (1993), concorda com a opinião de KIRK & GALLAGHER e diz que num perfil de desenvolvimento as áreas fortes deveriam ser utilizadas como estratégias educacionais, e as áreas fracas, como objetivos. Assim, o educador partiria de aspectos sobre os quais as crianças têm um certo domínio para atingir aspectos em que as crianças apresentam alguma dificuldade. O desenvolvimento desigual pode gerar no educador duvidas de como melhor orientar a criança em direção ao melhor nível de desenvolvimento e experiência de acordo com o seu próprio ritmo, e a partir do seu nível atual de desenvolvimento. o desenvolvimento de uma criança pode parar subitamente em uma determinada etapa e algum tempo pode se passar antes que ela possa continuar os seus progressos (...). Seja como for, não devemos tentar apressar a criança, mas sim reforçar sua atual etapa de desenvolvimento tanto quanto possível, de tal forma que ela possa entrar na próxima etapa fácil e naturalmente quando isto se tornar possível. KIRK & GALLAGHER (1987: 16-7), nos sistemas de estádios o desenvolvimento da criança aparece, ao mesmo tempo, descontínuo e contínuo, feito por uma sucessão de níveis qualitativamente diferentes e unidos entre si por vínculos solidários. THAN-THONG (apud KIRK & GALLAGHER 1987: 22-3) O processo de desenvolvimento das crianças portadoras de NEE poderá ocorrer nas áreas educacional, sócio-emocional e psicomotora, embora conscientes de que cada criança apresentará seu próprio ritmo de desenvolvimento e, de certa forma, será única. Há generalizada de que as crianças com NEE não assimilam os conhecimentos curriculares e extracurriculares com a mesma velocidade que uma criança típica da mesma idade cronológica. Segundo KIRK & GALLAGHER (1987), falta-lhes a capacidade de dominar idéias abstratas, principalmente no caso de crianças que apresentam déficits mentais, sensoriais e perceptivos, na maioria dos casos. ANTIPOFF (1974), considera como áreas mais afetadas no desenvolvimento cognitivo das crianças com NEE: a linguagem, a percepção, a capacidade de atenção/concentração, a memória, a compreensão, a associação de idéias e a formação de conceitos, a noção de espaço e tempo, e a coordenação motora. As dificuldades se refletem na adaptação da criança à realidade, ao ambiente físico e ao meio social. comumente, a escola torna-se um ambiente aversivo e gerador de ansiedade, pois é nesse local que a criança se depara frente a frente com seus problemas e com as exigências de ter uma boa produção para poder passar de ano. As dificuldades acumuladas a cada etapa de aprendizagem, as cobranças dos pais e profissionais e os risos dos colegas contribuem para o desenvolvimento de comportamentos agressivos frente ao ambiente escolar, inibições, timidez e ansiedade (...).MORAIS (1986: 63) Todo trabalho desenvolvido com alunos necessita também uma intervenção junto aos pais, para de que seus conflitos e suas própriasansiedades não prejudiquem o relacionamento interpessoal da criança, pois a instabilidade no lar, em muitos casos, poderá contribuir para a instabilidade do aluno (HAJES In: STEIN & SESSUMS, 1976). Essas dificuldades relacionais que têm início muitas vezes na família se repetem no ambiente escolar e social são conflituosa, acabam por gerar insegurança na criança com relação às suas ações, insatisfações por não conseguir realizar suas tarefas dificultando seu processo de aprendizagem. A concepção vygotskiana de desenvolvimento humano nos dá subsídios para uma postura pedagógica que discuta estas questões, apontando que a segregação contribui para consolidar a deficiência. Postulando que a essência do homem é social, Vygotski enfatiza o papel fundamental do processo ensino/aprendizagem e das interações sociais para o desenvolvimento humano: "(...) o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que a cercam" (1991a, p.99). Portanto, o desenvolvimento humano se dá nas e pelas interações sociais. desde o nascimento, ela apresenta potencial para desenvolver-se, mas que este desenvolvimento não depende somente da maturação dos processos orgânicos, mas também do intercâmbio com os outros, o que é de maior importância na primeira infância. Este intercâmbio tem influência determinante na orientação do temperamento e da personalidade e é através destas relações com as outras pessoas que o "ser" se descobre e que a personalidade se constrói pouco a pouco. BRIZOLARA (prefaciando LE BOULCH, 1988) HARRIS (apud MORAIS, 1986: 52) quando destaca dentre dez diferentes classes de problemas emocionais que contribuem para as deficiências de aprendizagem são: - a agressividade da criança dirigida à figura paterna e ao professor enquanto autoridade; - os condicionamentos negativos para a leitura quando esta é apresentada de forma desagradável e pouco motivadora; - desatenção e inquietude frente à situação escolar geradora de tensão. A criança com NEE, enquanto inserida no processo educacional, pode sofrer conseqüências advindas do fracasso escolar em termos de auto-imagem. A criança que não consegue aprender a ler e a escrever, ou o faz com dificuldades, sofre fortes pressões sociais de pais, professores e companheiros que contribuem para a formação de uma auto-imagem negativa. Geralmente as dificuldades que a criança encontra no processo educacional não são entendidas como tal, mas como uma falta de interesse, desmotivação para estudar, preguiça e distração (...). A experimentação do insucesso, aliada à comparação feita pelos pais e professores com irmãos ou colegas que não apresentam dificuldades para aprender, terminam transformando as crianças com [NEE] em sujeitos inseguros, tímidos e sem motivação para qualquer atividade escolar, culminando, muitas vezes, com a recusa da criança em voltar à escola. SCHONELL (apud MORAIS 1986: 53) Percebe-se claramente que o ambiente familiar, escolar e social da criança com NEE deve ser cuidadosamente organizado para auxiliá-la e proporcioná-la uma atmosfera de tranqüilidade, equilíbrio evitando atitudes insensata para que a criança se modifique, para não expô-la a situações de fracasso e os comentários sobre suas dificuldades. o desenvolvimento da criança [com necessidades educativas especiais], faz-se por impulsos locais, de maneira não unitária, mas segmentar e diversificada. Portanto, é necessário levar em conta as relações mantidas entre os diversos elementos do desenvolvimento: uma aquisição rápida pode ser compensada por um atraso, progressos muito nítidos (do andar) podem ser acompanhados de uma lenta evolução (da higiene pessoal). Enfim, a evolução da criança não se realiza de um modo regular e progressivo, mas um pouco como evolução histórica de toda a humanidade, por "saltos qualitativos" que se seguem a períodos de lenta mutação e são sucedidos por rupturas, por ‘revoluções’. É por isso que nunca se deve querer ir depressa demais, visto que, como disse Freinet a respeito da pedagogia, querer ganhar tempo é, com freqüência, uma forma de chegar atrasado. COSTE (1981: 49) As crianças portadoras de NEE têm o processo de desenvolvimento de forma mais lenta e as diferenças interindividuais são mais acentuadas, portanto melhor evidenciadas. O ritmo de desenvolvimento de cada um e procura promover a estimulação da pessoa em sua totalidade, constituindo-se em uma metodologia aplicável tanto a criança portadora de NEE quanto a criança não portadora dessas Necessidades (BRIZOLARA prefaciando LE BOULCH, 1983). Na medida que uma criança cresce e amadurece fisicamente (em grande parte aos fatores genéticos), sua inteligência também se desenvolve, seu comportamento social e emocional está sendo modificado. Por sua vez, essas mudanças em comportamento emocional e social influenciam a inteligência. Sendo assim, os vários aspectos do processo de desenvolvimento interagem e exercem influência uns sobre os outros. Acreditava-se que os alunos com NEE deveriam ser educados apenas em escolas especiais, sem possibilidades de vivenciar uma educação integrada, pois considerava-se que na escola especial teriam condições de serem atendidos em todas as suas necessidades, inclusive organizados em turmas menores, onde os professores poderiam, atendendo ao ritmo de cada um deles, dar mais atenção às suas necessidades específicas. Indicações de Leituras Complementares ANTIPOFF, O.B. Educação do excepcional. Rio de Janeiro : Pestalozzi, 1974. COSTE, Jean-Claude. A psicomotricidade. 2. ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1981. 96 p. DESENVOLVIMENTO da personalidade em crianças deficientes mentais. Vitória : UFES, Centro Pedagógico, [198-]. Mimeogr. FONSECA, Vitor da. Educação Especial. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. 127 p. HOLLE, Britta. Desenvolvimento motor na criança normal e retardada: um guia prático para a estimulação sensoriomotora. São Paulo: Manole, 1979. 254 p. KIRK, Samuel A., GALLAGHER, James J. Educação da criança excepcional. São Paulo: Matins Fontes, 1987. 502 p. LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,1988. 220 p. MAZZOTTA, Marcos J. da S.. Fundamentos de educação especial. São Paulo: Pioneira, 1982. 137 p. MORAIS, A.M. P. Distúrbios da aprendizagem : uma abordagem psicopedagógica. São Paulo : Edicon, 1986. 127 p. RODRIGUES, David A.. Avaliação e planejamento da intervenção pedagógica em pessoas portadoras de necessidades educativas especiais. Vitória: UFES, Centro Pedagógico, Laboratório de Aprendizagem, 1993. Vídeo cassete (120min). Palestra proferida no II Fórum Capixaba de Estudos em Educação Especial, 29/07/93. STEIN, T. A., SESSUMS, H.D. Recreation and special populations. Boston: Holl Book Press, 1976. p. 65-101. VYGOTSKI, L.S. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo : Martins Fontes, 1991. _________. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: LURIA et al. Psicologia e Pedagogia I : bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. 2. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1991b. p. 31-50.
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