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A PRATICA DA "' CONFISSAO ou INSTRUCÇÃO COMPLETA De quanlo é necessario ao chris1ão saber para se coufessar bem OBRA UTILISSIMA A 'I'ODAS AS PESSOAS Approvada. pelo Exm. Snr. Bispo· de Ma.rlanna, o qnnl couccde nos seus dloccsn.nos qnnronta dias de indulgenclns CADA VEZ QUE LEREM POR ELLA I' OR Monsenhor SILVERIO GOMES PIMENTA RIO DE �RO B. L. GARNIER, LIVREIRO-EDITO R 71, Rua do Ouvidor, 71 PARIS. -�CiT�UIEH, 17 http://alexandriacatolica.blogspot.com/ Approvação do Exmo. Snr. Bispo de Marianna ])om Antonio jlfa1•ia Om•1•�a do 8á tJ Rl'1tevhlex, por llfe1•cfi de ])mL.� e da. 8nntn 8!! Apo.�tolir•n, R�po dr llfa1·ianna, do conscllw de 8. 111. o Jmpcratlo1', b'rão Ornz da r11'1lemrle N. 8 . • ]ri?M-DlwiRto, de., etf' . . l'fr. Corre já por vossas mãos, filhos muito amnuo�, o precioso livro intitulado Pratica dn Col�(ic<.v<io. O nome de seu auctor, sua 6ciencia thcolo;dca o pratica de muitos annos no Aerviço das almns bastariam para tornar recommendavel esta obra em todo o Bra zil. Entretanto o piedoso l'" �ih·er io Gomes Pimenta, peclio e obteve a valiosíssima approvação elo Exmo Siír D. Antonio Viçoso, a qual se acha estampada no frontispício da 1 o edição. A geral acceitação ele livro tão util e nccessario, o o conselho de muitos, que conhecem os fructos ele con versão, e ainda os de perfeição resultantes ela lcitur: d'IJste optimo manual ; obrigaram, ele alg-um modo, o auetor a dar-lhe uma segunda edição. Com a correcç:1o de estylo, que l he-é propria e com os augmentos, quo seu �élo lhe sugg<Jrio, Monsenhor Sih·erio Gomos !'i menta, apresenta no\'amentc ao publico a Pratir·rt drt C'onfi.vscio. Si lm mais de dez annos, nosso dignissimo antecessor approvou e recommendou (t Diocese <le Mari:mna este excellentc livro, com mais razão o fa zemos nós agora, porque as trevas espirituaes, que nos cercam tornam-se cada vez mais espessas, as idéas http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 6 A PRATICA DA C ONFISS.:\:0 do bem e do mal mais confusas , a necessidade da fre quencia dos Sacramentos da Penitencia e da Eucharis tia menos conhecida, e finalmente menos estudados os meios d� se prepararem os fieis para bem se confessarem e receberem o pão dos Anjos com as devidas disposi ções. Assim pois , filhos muito amados , appro1·amos e vos recommendmuos com todo o empenho a eegunda edição da Pratica da Conjis.•cío, escripta por Monsenhor �ilverio Gt•mes Pimenta, e chamamos voesa attenção para o Capitulo 17, em que vereis uma clara, breve e completa exposição da devoção ao Sarrrculo Coração de Je.•u.•. Para animar-Yos á leitura de tão precioso livro con cedemos qua1•rnta dia.� de ind1�lgenoia aos fieis d'esta Diocese cada vez que o lerem com recta intenção de aprenderem o executarem as regras que nelle se con tem. Marianna, 22 de Abril de 1888, Festa do Patrocinio de S. José. t AN'f(INIO, Bispo de 1\Iarianna. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PROLOGO H a muito, cuidamos em dar nova edição deste livrinho ; mas até hoj e não nos foi possíve l realizar o nosso de· sejo : nem ainda agora o fôra, se não achassemos um editor, que, deixando á nossll. conta só a correção dll. obra, tomasse tudo á sua, sem mais cuidado ou pensão nossa. Com semelhante allivio nos auimámos a metter mãos ao trabalho de corrigir os defeitos, melhorar a distribuição das materias e accrescentar o que tornasse mais proveitoso este livrinho. A bencção do grande D. Antonio Ferreira Viçoso e dos insignes Prelados que nesta edição inserimos, não foi esteril a primeira vez que vio a lu!! a Pratica da Confissão; ao rever. devem-lhe os fieis o pouquinho de bem para o qual haja ella concorrido. A bencção do successor de D. Vi�;oso niio será menos fecundt> ao livro que renasce agora com o mesmo destino. AsBim se cn chão cabalm�:nte os votos do nosso exímio Pastor e os do humilde sacerdote que estas linhas vai trnç1mdo I Assim concorra esta segunda edição para que nossos irmãos frequentem devidamente apparelbados um Sa cramento de absoluta necessidade para os pecadores, de incalculavel utilidade para os justos, e de tanto al cance para a repuhlica christã, que sem elle não ha verá vida reformada, e com elle bem recebido o mundo será um cé ocomeçado na terra. Um a alma sequer traga este livrinho á virtude e ao amor de meu Senhor http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 8 A PHA.TICA DA CONFISS.:\:0 Jesus ühristo, um peccado ao menos atalhe entre os homens, e por exuberantemente compensado me dou do trabalho e do tempo que para entender nelle furtei a outros cuidrulos. E quando falhem meus desejo�, acei te-me o bom Jesus este insignificante serviço corno tri buto do muito que devo {L sua infinita Mngestade; penhor do quanto O desejq ver conhecido e amado , e protesto de que a Elle e á sua Igreja con�agro minha vida; sua gloria unicamente quero e proponho buscar em quanto faço ou emprehendo. Ao juízo dessa mesma Igreja vivo e immortal no ma.gisterio infallivei do Pon tífice Romano, submetto sem reserva não só esta escri tura, senão toda a minha razão e juizo , protestando que admitto e abraço quanto elle en�ina, e repro,·o . !JUanto o mesmo condemna e reprova. Marianna, 26 de Abril de 1888, http://alexandriacatolica.blogspot.com/ APPROVAÇOES DA PRIMEIRA EDIÇAO Approvação do Snr. Bispo '!-e Marianna. Somos inlformados por Theologo da no;:aa confiança �.conceito, que a presente obra do Rev. Padre Siherio .(ilomes P.i.menta é digna .de a,pprova.ção e t:ecommeu .clação, e que sua leitu�o. ser{� de grande proveito (�s almas; pelo que, permittimos a sua impressão, e muito a rece>mmendaruos a todos os fieis J.Jossos Diocesano:;. Pormitta il.ileQs que .ella seja. lida' e torn.ada a ler por .todos; por isso que .das boas Confisaões depende a fe licidade não só da vida futura, mas a.inda mesmo da presente. Que fructos se .não colhem de uma boa Missão I Que mudança de coatmues ! Que reforma em todos, .ou quasi todQs l Como porén1 .esae santo exerci cio não póde ter lugar senão de muitos o. muitos anno:;, suppra essa falta este precioso liv.rjnho. l)ermitta Nosso Se.nhor que .elle seja lido .\llllot e muitas vezes. E para que de boa mente isto se faça, nós coneedenwd vinte dias Ide Indulgencla a cad:t l\ill dos nOSôOS Dio cesanos cada vez que por elle lerem. 1\ofarianna, aos 17 de Março de 1873. t .A.NTONW, Bispo de Mariaana. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 10 A PRATICA Approvação do Exmo. Snr. Bispo do Pará. Ao R mo. Padre Sil ver i o Gomes Pimenta, Professor no Seminario de Marianna. Ha muito, meu R.mo Padre e Amigo, não leio obra cscripta entre nós tão util e ·de tanto agrado, como a que V, R.m• acaba de publicar intitulada: A Jn•at-ica da Conji.•scío, ou in.�trucção cnmpleta de q1canto é ne eessarin ao Clt1'istão saber pm·a se cmdessar bem. E' um livrinho, no meu ver, de ouro, não sõ pelo claro, me thodico e seguro da doutrina - dote este ultimo que não se acha em muitos de nossos tractados - senão tambem pelo mimo e suavidade do estylo, tão perfu. mado d'aquella ingenua elegancia dos nossos velhos classicos, que eu não duvidaria chamar a V. R.m• de nosso B1•azilei1'0 Be1•nardes, se por ventura para taes haptisrnos litterarios me não falecesse completamente jurisrlição. Estou, porem, em meu direito como Bispo, recommendando, corno vou recommendar, ao meu clero esta sua preciosa obrinha, para que elle a explique c divulgue o mais possível, entre os fieis, que della colherão, por certo, muitíssimos fructos de salva ção. Inda hem que no meio das minhas tribulações faz Nosso Senhor superabundar consolos, como este que me deo com a leitura deste livrinho e da carta tão nf fectuosa que o acompanhou. Seja Elle bemdicto por ter inspirado a V. R.m• um e outro bem. Aceite, meu Padre, com a expressão do meu mais profundo reconhecimento, e da muita alta estima, af- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ DA CONFISSio 11 fecto e admir.ação com que sou, no espirito do nosso divino Mestre, De V. R.111• Am." e servo muito obrigado. ;\linha prisão na Ilha das Cobras, 17 de Setembro de 1874. i" ANTONIO, Bispo do Pará. Carta do Exmo. eRmo. Snr. Bispo do Rio , ap provando e recommendando esta obra. R."'0 amigo P.• M: Silverio Gomes PiUienta. J a li parte das 400 pagina� de seu precioso livro que tem por titulo : A Jil'atica da Conjissdo, o·u inst1'1wçlio <"0111pleta de quanto é ·1tece.�sa1·io ao cltristcro sabt'l' pa1·a .w confessai' bem. Ora, meu amigo, para eu approvar este livro de ou ro, não era mister havei-o antes aberto, porque tendo eu a ventura de conhecer a V. R.•u• desde 1855, c 1m vendo sido seu Mestre , e depois seu Collega no Pro fessorado do �eminario Episcopal de N. Senhora da Boa Morte da Leal Cidade de Marianna, e tendo por muitos annos vivido de portas a dentro com V. R."'" no mc8mo seminario, �ei muito bem, e conheço os talentos que Deos concedeo a V. R.m• e os grandes serviços que nas aulas, no pulpit.u , e no confissionario; e até na im prensa V. R.m• tem prestado a bem das intelligencias, e sohre tudo a bem !la salvação das almas. É por isso que ainda estava no prelo o livro de V. R."'" e eu já d'antemão louvava-o pelo muito que prestaria . E vi que assiru era, depois que me foi dado percorrer al gumas paginas desse aureo escripto. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 12 A PRA't!CA Approvo pois, e muito louvo a scienci:J. 1'heologica de V. R'"'', adareza e methodo de exposição da obra, a pru dencia do seu autor em uma ma teria que tanto a requer, a uncção insinuativa com que V. R.m• falia ao coração do leitor Catholico. Para bens pois a V. R."'" pelo muito proveito que vai fazer nas almas, ensinando-as, alen tando-as, exhortando-as {t Confissão Sacramental, isto é, ú segunda ta boa da sahação, como a denominão e caraeterisão os Santos Padres, {, qual aferra-se o pec cador arrependido, tt uhüa Llesuonsolada, o coração ra lado de remorsos, e quem quer que aspira o. lograr per dão, graça, Paraizo, e Dcos ...... Forçoso porem é confessar que o Sacramento da Penitencio., como Lem o declara seu nome, não pode deixar de ser mais ou menos laborioso ; mas que muito 6 que r,uste algum tanto ao peccador incurso na mal dição d� Deos, e merecedor de uma eternidade de duloro�i�simos tormcn tos no inferno ? Não obstante �er assim, devemos tambem reconhecer que nmita parte de8se trabalho provêm de não saber o Christiio confessar-se, resultando dali ve;·-se emedado em difticuldudes que não procmlem do Sacramento, mas muitas veses tem ns mlzes mt ignorancia, em uma. excessiva timidez ou vãos escrupulos, e na falta de ntna critica sã e esclàrecida. llr:u;a:-� a Deos, no lino de V. lt."'" muitos desses ne voeiros estüu dis8ipados, muitos estorvo� arredados, muitos mubarlll;os atalhadus, varias objeeçües resol viJas com sclencia e prudeneitt. Assim que neste livro precioso tudo instrue, esclarece, conforta, falia ao eoração, inspira contianr;a e amor, e leva docemente aos pés chagados do Bom Jesus Crucificado no Calvario para resg�tte do peccnclor e salYa�ilu da alma contrita, e humilhada, http://alexandriacatolica.blogspot.com/ DA CONl<'tSS.:i:O 13 Sob o ponto ue viRÜI litterario, louvores não me faltão para V. R.m• e seu livro; inutil porêm julgo in· sistir neste sentido, pOr<fuejá V. H,ruu teve a gloria de merecei-os da parte llo Exm. Sr. Bispo de Belem do l'ar{t, que de sua gloriosa prisão os enviou a V. H."'" Fique porêm exarado nestas linhas o que em carta de 13 de Julho do corrente anno me escreveu de S. Joiio d'El-Rei nosso amigo o s·r. Aureliano Pereira Corrêa Pimentel, e que n:io foi ainda publicado . O estylo , diz esse distindo litteràto e vernaueiro Catholico Romano, o estylo tem oabor vcrnaculo, bonitos lusitnnismos e nada de afrancezado, tanto assim que me parece estai' lendo uum pagina de Granada. A' vista do exposto, só resta- me dizer que eu muito desejo que esta l'mtica da Con:fts.,ão ande niW! mãos de todo!! os Fieis é doS meawoe Sacerdotes desta minha Diocese , que quizerem reéeber e até bem admi nistra,· o Sacramento da l'enitencia e frcquental-o com proveitos cAda vez maiores, e ao mPsmo tempo deleitar o espi1·ito e o corac;ão na leitma de um bom livro, sulstancios<J pel:t doutrina, devoto pelo assumpt6, im port<tlltissimo velo fim, insiiluativo peht unção cluisü1, e até ameni�simo em razão do esty lo. Pouco� são, paro. não dizer raros em linguagem Portn gueza, os livros <jUe desta materia tmtão tão magistral mente como o de V. H,u•• Como 8upplemento ou appen dice do Tmtaclo Theologico da Penitencia eu considero este li no de \'. H."'" e como tal o recommendo e in culco aos alumnos de meu SenlÍnario Maior de S. José e a todos os Confessores desta minha Diocese. Estas linhas deviiio ser concluídas e assignauas em Jacuacanga, onde o eJdmio, sabio e virtuoso Sr. Bispo de 1\'Inrianua viveo 15 annos até 183i, e onde sua me moda anela tão fresca, tão sautlosa. Mas nfio pôde dar- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 14 A PTIATICA se esta circumstancia que nos fallaria a nossos corações de amigos de um tii.O venerando Bispo Missionario e confessor. Mas Jacuacanga está perto e J{t está alve jando alem do mar em sua deserta praia e defronte desta Ilha Grande na qual me acho, e ([Uc muitas vezes foi objeclo das vistas de nosso grande amigo e pro tector, e confessor. Meu R.mo Padre Silverio, Deos aben çoe a V R.111• e inspire a V. R. ma outros trabalhos d'esta ordem a bem da salvação das almas. Salvação das almas! eis o que importa sobre tudo mais ; lwc C8t enim mnnis lw111o, como diz o Ecclesiastes ;·o restante é secundaria, e em sua comparação arena c.1t exigua, na phrase inspi rada do Livro da Sabedoria. Consistorio da Matriz de S. Anua da Ilha Grande, aos 24 d.e Dezembro de 1874, Vigília de Na tal. t PEDRO Maria de Lacerda, Bispo de S. Sebastião dotUo de .Janeiro. Approvação do Ex.mo e R.mo Snr. Bispo da Diamantina. ItJ.mo e R,mo Snr , p,c Sitverio Gomes Pimenta Diamantina, 6 de Março de 1875. Tive muito prazer com o recebimento de sua carta e de seu livrinho a - Pratica da Confissão - que estou lendo em algumas horas de menos affazer, e pelo que tenho lido acho-{) de muita utilidade, e que muitos fructos produzirá, e com a sua leitura mui tas almas http://alexandriacatolica.blogspot.com/ DA CONFISSÃO 15 s� sal vão, Deos Nosso Senhor abençoe a esta obra e a seu autor. Sou com estima e distincta consideração. De V, R.m• amigo e Servo muito obr.0 t JOÃO, Bispo da Diamantin Approvação do Ex mo Snr.Bispo do Rio Grande. IJl.mo e R.mo Snr. P.• Silverio Gomes Pimenta. Porto Alegre, 2 do Junho de 1875. Muito agradeço a V. S.• o precioso mimo do seu li no -Pratica da Confissão.-Já delle tinha tido noticia pelo Sr. Bispo do Rio de Janeiro na recommendação que fez de sua leitura como cheia de pi'edade e edificaÇão. Meus inoommodos de saude não me permittírão ainda !el-o todo. Mas, pelo que sei delle, não posso de minha parte deixar de louvar a V. S.• por essa bellissima pro· ducção do seu engenho, e zelo sacerdotal, a qual tantos fructos de bençãos deve trazer as almas dos fieis que tiverem a fortuna de possuil·a. Encommendo-me (ts suas santas orações e sacrificios e assigno-me com a mais perfeita estima e conside ração. De V. S.• muito a�tencioso e obrigmlissimo Servo. t SEBASTil\.O, , Bispo do Rio Grande. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 16 A PRATICA DA CONFISSÃO Approvação do Ex mo Snr. Bispo de Olind.a. Minha prisão, 11 de Agosto de 1875. Meu Rmo e Caro Padre Silverio. A santa paz do Senhor seja sempre comnosco. Devo a V, R."'" resposta da cartinh;�. que teve a bondade de escrever-me, quando me remetteu um exemplar de sua pl'eoiosa obrinha, mti.tulada iPRAirHJA DA CONF�SÃO. Eu não lhe queria responder, sem primeiro haver formado juizo sobre esse trabalho seu. Agora , porêm, que, ft11'tande ·d� qu&ndo em ve� alguns minatos ás serias occupaçües que me absorvem quasi todo o tempo, pude folhear esse seu livro de ouro e aquilatar-lhe o subido valor, venho felicitar a V. R,m• e ,manifestar-lhe a minha viva gratiuão, pelo bem immenso que, por certo, está elle destinado .a fa,zer no seio ele todas as das.ses da sociedade . .dobra de V. R"'" é omllllllamente instructiva.; .é um acll.bado resumo de rliudo quanto ensina .a sagrada Theologia á cerca da Confissão ; é o que oonhe9o de mais proficuo e adaptado ás necessidades .do .nosso povo. Oxalá derrame-se ella por todo o Brasil, ande de mão em mão, seja lida por todos, bem meditada e melhor executada I Nosso Senhor conoeda a V. Rm. muitas luzes e gr,t ça� almnd:wtes, pnr:t eOt)tinuar a fa�cr fructillcar o ta· lento que lhe foi confiado. So1licito 1m1 cantinho em suas quotidianas orações, c sou, com santo amor e par.ticular estima. DE V. Rm•. Irmão afl'ectuoso em N. S. J. C. t l<'REI GERAL, Bispo de Olinda. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PROLOGO DA PRIMEmA EDIÇÃO O mesmDtitulo deste livro pareoo esc:usar nos de diz.er DS motivos que nos levárão a escrevel-o, e a offerecel-o aos catholic9s que fallão a língua portugueza. Vimos, e vemos com grande magoa, como na maior pa'L·te dos casos é recebido o Sacramento da Peni tencia tão defeituosamente, que mais se pu derá tomar por laço de perdiçi,�, do que por piscina vivificadora das almas regener�das pelo sangue de Jesus Christo. Chegão-se a elle o-s fieis tão desapparelhados no tocante ao conhecimento de suas culpas, tàio desa percebidos da dôr, .tão de-scu.idados da emen da da vida, que se o Confessor por BÍ os não prepara em tudo e por tudo, lá se tornão com os mesmos peccados que trouxerão, e mais com a falsa Be.gurança de estarem per doados ; o que maior.es damnos lhes produz. De tudo isto é causa principal a grande ignorancia das materias religiosas em que http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 18 A PRATICA abunda nosso seculo, não só nas classes humildes, senão em muitos ql!le presumem de entendidos, e se desprezão de ser conta dos entre o povo . Alguns ha que reputão a Confissão uma ::;imples pratica de devoção, pouco mais ou menos como o tomar cinza no primeiro dia da Quaresma, e que por isso se póde SJ)m nenhuma culpa omittir. Muitos ignorão· lhe de todo a instituição divina, suas partes, e as disposições indispensaveis para a exe cutarem com proveito. Os que mais avante estão neste conhecimento, sabem que para bem se confessar requer-se exame, accu sação, dôr e satisfação: e nisto cifra-se todo seu conhecimento theorico e pratico do Sa cramento de maior uso e necessidade no curso da vida ; porque, quanto ao modo de se examinarem, accusarem e arrependerem pouco mais alcanção do que se forão crea do:; em terra de gentios . Com tão escassas luzes e tão grande igno rancia, que se póde esperar dos penitentes. senão o que a triste experiencia nos mette pelos olhos todos os dias? Uns o desprezão http://alexandriacatolica.blogspot.com/ DA CONFISSÃO l!l como inutil, outros o fogem como pesado, e muitíssimos sem nenhum fructo o repe tem. Para remediar tão lastimosos males, de terminei reunir em um pequeno volume quanto é mais necessario saber a qu�m se confessa, e offerecel-o aos catholicos brazi leiros e portuguezes. A experieneia de al guns annos do ministerio sacerdotal me tem convencido de que o ensinar e explicar do pulpito estas materías, é lanço que nun ca traz vazia a rede do pescador ; e as mais das vezes no numero e qualidade colhe gros so pescado. Por isso nutro boas esperanças que Nosso Senhor abençoará tambem estas mesmas verdades, ainda que em letra mor ta, para que produzão fructos de vida : e que será servido usar deste insignificante trabalho para diminuir os peccados, e aug mentar o numero de seus amantes, visto como se compraz empregar os meios mais humildes e somenos para os fins mais levan tados e estupendos. Se assim acontecer, satisfeitos ficão meus anciosos desejos, e coroados meus pobres esforços com o maior http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 20 A PRA'l'!CA DA COKFISS.:\0 galardão que pó de ambicionar o coração ca· tholico. E vós, ó almas christãs, em cujas mãos acertar de cahir este livrinho, se delle co lherdes algum fructo, empenhai, eu vos ve ço, vossas diligencias com o Autor de todo elle, afim de me conceder o _grandíssimo de o servir fielmente na terra do desterro, e o felicíssimo de o gozar na mansão da Patria. Seminario de Marianna, aos 25 de No vembro de 1872. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ A PRATICA ... DA CONFISSAO PHL\lEIHA PAHTE Contendo breve noticia sobre os sacramen tos da Igreja em geral ; e, em particular, sobre o Sacramento da Penitentla. UAP1'1'ULO I :\OT!CIA DOS SACHAMENTOS EM GEHAL Propondo-nos instruir os fieis no que é mais nccessa rio saber, para buscare m e receberem com proveito o Sacramento da Penitencia, co meçamos este t rabalho dando uma noticia breve dos Sacramen tos da Igreja em gerai, pam abrir caminho ú intolligencia do 11u e sobre aquelle em pat·Licular ternos de dizer. Sacrulllento é um signal ;;en;;ivel tlit yra.ça que pl'oduz na arma, in;;liluúlo ]JOI' Nosso Senhor Je;;us Christo. C o mo o homem pt·ecisa das co u sas materiaes p am levantar-se ao co nhecimento das i ntelligiveis e espirituaes, aprouve á Diviua Sabedoria deixar-lhe estes http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 22 A PRATICA DA CONFISSÃO signaes , que o conduzissem ao conhecimento da graça que lhe é por meio delles in fundida. Assim no Baptismo emquanto a agua material lava o corpo, a graça de Jesus Christo purifica a alma; e o homem por meio daquella, que vê , se capacita dos effeito� desta, que lhe cs capão aos sentidos . Mas não é o Sacramento um mero signal , cujo alcance só chegue a si gnificar a existencia da graça, como o benzer se no homem é signal de que tem a fé de Christo no coração ; porquanto o Sacramento não só significa, mas tarnbem opéra o mesmo que representa. Isto não se faz pela virtude das cousas materiaes, que emprega ; mas pela de Deos, que dellas se serve corno de instrumen tos para santificar as almas. Diz mais a defin i ção que é instituído por Nosso Senhor Jesus Chl'isto porque só elle , como Sacerdote eter no , como Autor e Dador da graça, podia ligai-a a estas , ou áquellas condições. Isto fez estabe lecendo, e deixando á sua Igreja os Sacramentos que no!-a communicão. São estes pois os requi sitos essenciaes, para que um rito sagrado seja Sacramento : que seja um signal sensível , que signifique e ao mesmo tempo cause a santifica ção interior de quem o recebe , e que tenha si do ins tituído pelo mesmo Jesus Christo . Po1· falta destas condições não são Sacmmentos os exorcismos , a agua benta, a benção dos sinos, e outras ceremonias da Igreja ; porque ou não t'orão instituídos por Jesus Christo, ou não ope- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEinA PARTE 23 rilo immediatamente a santificação , ainda que para ella d isponhão . Sete, nem mais nem menos, são os Sacra mentos da Igrej a, a saber : Baptismo, Confir mação, Communhão , Penitencia, Extrema unção, Ordem, e Matrimonio; que respondem com perfeita exacção a todas as necessidades da vida espiritu al do homem, conformando tambem estas em certo modo com as da vida temporal . Pela qual conformidade ficamos en tendendo como a mão que creou a natureza, é a mesma que infunde a grac;a. A perfeição da vida corporal se refere ao i ndividuo e á socie dade , para a qual foi criado. Quanto a elle, é preciso ser gerado ; depo is, que cresça até o conveniente tamanho ; em terceiro lugar, ali mentar-se para conservar a vida e a força. No caso de vir a perder a saude por alguma enfer midade mortal, ha mister curar a doença, e restabelecer o vigor que o mal abateu e arl'lli nou . Quanto á sociedade , é preciso que algum ho mem tenha poder ele govemar a multidão; e mais que essa sociedade se conserve enchen do novos homens os claros abertos pela mo rte ; a não ser assim em breve havia de extingu ir-se . Na ordem espiritual encontrãO -se estes mes mos gráos de necessidade. Porque primeiro , para viver espiritualmente, é necessario um espiritual nascimento ; e quem o dá é o Bap tismo. Depois , erescer e ct·iar forças ; isto se http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 24 A PRATICA DA CONFISSÃO faz pela Confirmação . Cump re con.servar essa vida e essas forças com um alimento, que lhes repare as perdas, as renove e an ime : deste officio se encarrega a Eucharistia. Estes Sacra mentos bastárão, se nunca succedesse perder o christão a saude da alma com peccado mor tal; c com elles teria a perfeição da vida. Mas acontecendo tantas vezes atruella incatculavel desgraça, acndio-lhe a misericordia de Jesus Christo com dous Sacramentos, que a curão e repoem no antigo estado um para matar o pcccado e tornar a alma da morte á vida, que por ella perdêra; este é o da Penitencia o ou tro tem por fim destruir os achaques que restão depois da enfermidade da culpa, taes como a fraqueza no caminho da virtude, a diillculdade em praticar o bem, a du reza do coração , a es curidão do espírito, c outros. Quem tudo isto acaba é a Extrema- Unção . Até aqui o que toca á vida do individuo ; mas para que a sociedade christã se conserve, precisa de magistrados , que a rej üo ; d(t-lh'os o Sacramento d a Ordem . De mais disso ha mi ster que se propague, afim de não fal tar algum dia ; e quem propaga filhos para a Igreja, assim como para o Estado civil , é o Sacramento do l\Iatrimonio. Para que exi13ta em acto u m Sacramento, ou para sua valida administração , é de absoluta necéssidade, que haja uma cousa sensível , vis to como é aquelle um signal , que falia aos sen tidos do corpo ; como no Baptismo a agua , na http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRniEIRA PARTE 25 Confirmação o oleo sagrado, na Eucharistia o pàÓ e o vinho , e assim nos outros . Essa causa sensível, essencial para a administração do Sa cramento , é pelos Theo logos chamada materia delle. Alem desta deve haver palavras, quo a determinem para aqu elle mister ; porque a mate ria, como é co usa de si indifferente, só por si nada póde significar. A estas palavras qtw assígnalào o uso daque!Ia materia, chamão os Thoologos fórma do Sacramento. Cumpre mais, que haja quem tenha de Jesus-Christo o poder de perfazer o Sacramento; o qual po der é uma participação do ser divino, que não co mmunicou a todos os homens, senão a alguns para i�;so escolhidos e separados . A ee te reves tido do poder de administrar o Sacramento no- meamos Ministro elo mesmo . · 'l'odos os Sacramentos produzem a gl"aça, mas não do mesmo modo, nem todos as mes mas graças. Uns são feitos para chamar o pec cador da morte do peccado á vida sobrenatural, da in imizade ao amor de Deos, do estado de condemnaçào eterna ao direito de uma eterna glo ria . Estes tem o nome de Sacramentos de mortos ; o são dous, o Baptismo, e a Peniten cia . Outros porém tomào o fiel já em graça de Deos, e lh 'a augmentão, corroborão, e aformo seão com novo esmalte. E como, qu em os recebe, já deve possuir a vida sobrenatural, que consiste na amizade do Senhor, são chamados Sacramentos de vivos. De vivos são os outro s http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 26 A PRATICA DA CON�'ISSÀO cinco, Confirmação, Communhão, Extrema-un ção, Ordem e Mati·imonio os quaes por isso não é licito receber a quem está em peccado mortal . Além da graça santificante , produz cada Sacramento uma, que lhe é particular, como, por exemplo , a Penitencia, sobre perdoar os peccados que existião, dá forço. a quem o recebe , tle evitai-os para o futuro : a Extrema unção além de augmentar a graça santificanto, que já suppõe no infermo, destroe os restos dos peccados remittidos, reforça para luctar com as tentações, mais graves no ultimo combate, ani ma contra o temor da morte, e especialmente é um poderoso auxilio para o en fermo obter a saude corporal, quando não lhe é nociva para a eterna. Os sacramentos são todos necessarios , por que Jesus-Christo, seu Autor, nenhuma cousa fez inutil, como o serião, dado que se pudesse passar sem algum dos mesmos. Mas nem todos são de obrigação para cada individuo ; nem os obrigatorios o são igualmente para todos ; nem urgem, e apertão com o mesmo rigor. Ninguem é por lei divina obrigado a receber o Sacra mento da Ordem , ou do Matrimonio; ainda que em certas conjuncturas o possa ser por alguma razão pat'ticular. Por isso estes dous Sacra mentos não são necessarios de modo absoluto ao individuo, senão á sociedade christã . Dos outros cinco uns são tão indispensaveis, que sem elles não ha salvar-se o homem, como o http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEIRA PARTE 27 Baptis mo o é a todos, e a Penitencia aos que depois do Baptismo perderào a graça por culpa mortal. De sorte que para nenhum homem ha entrar no céo, se não fór baptizado : e se depois dis to peccou gravemente, sem a Penitencia o nào alcança. Os outros Sacramentos obrigão, mas não com tamanho rigor, que sem elles nào se possa salvar. A Oommunhao é obrigatoria aos quo entrá ruo nos :mnos da discriçllo ; e antes desse tempo quem passa desta vida sem a receber , nao se condemna por isso. Quanto a Confirmação, pecca o fiel que a não recebe podendo, múrmente se a omittio por desprezo ; mas como se confesse dessa culpa, não fica por fa l ta deste Sacramento exclu ído do paraiso. A Extrema-Unção, só a podem receber os fieis gravemente enfermos depois do uso da razão ; e a estes sós obriga. Dos Sacramentos uns imprimem na alma um cunho indelevel, chamado caracter: o qual uma Yez produzido, dura por toda ete rnid ade e por esse motivo não se recebem duas vezes : Taes são estes tres Bapt ismo , Confirmação e Ordem. Os outros quatro por não deixarem este signal eterno em quem os recebe podem ser reiterados . Nàoexplanamos mais estas idéas, por ser nossa mira só facilitar a intelligencia do que temos de dizer sobre o Sacramento da Penitencia. Postos portanto estes preliminares , que nos parecêrao indispensaveis, entramos no que particular mente respeita a este Sacramento. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 28 A flli\TWA- DA CONFISSÃO CAPITULO II DA VIRTUDE E SACfiAMENTO DA PENITENCIA, E DE SUA NECESSIDADE § 1.- Da virturln da Penilencia. Varias significaçlies tem esta palavra Peni tencia. Nós, deixando as que não vêm ao pt·c sente proposito, tomamos as duas principaes , em que vamos entender neste. capitulo :da Pe nitencia como virtude, e como sacramento. No primeiro sentido a Penitencia é uma. virtude moral, que inclina nosso c01·açilo a detestar o peccaclo, emquanto é o fl'ensa de De os ; e a um pmposito firme de o evitar para o futuro, e r/e dar ao Senhor a devida satis(aç<iO- E' virtude moral , visto como regula o modo do arrepen dimento para que este não seja vicioso, nem por excesso, nem por defeito. Não porque possa o arrependimento de ter oíTenclido a Deos ser alguma vez demasiado ; pois quanto maior fôr, mais agradavellhe é, e mais me ri to rio: o excesso aqui consiste em levat' o pezar c tris teza além dos limites pela desesperação. Quando o pcccauor pondo só os olhos na m al ícia de sua culpa , não os põe ao mesmo tempo na mi2eri COl'dia divina, c dir., como Caim, tão grande é o meu crime, que delle não tereijámais perdã o ; http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRI?4EffiA PAJIT('\ 29 este arrependimento não é Penitencia, senão nova culpa, e porventura mais grave do que a primeira. O defeito se dá nos que não se dóem do peccado, ou se dóem tao fracamente, que não chegao a romper de todo com elle. Tal arrependimento não é tao pouco verdadeira Penitencia, nem pôde lograr seus salutares ciTei tos. Esta virtude faz aborrecer & offenep. de Deos sobre todos os males, a rasta o homem do peccauo, une-o com Deos, de quem a culpa o trazia afastado, arma o peccador de um santo odio contra si mesmo, e o obriga a vingar em si os máos termos, com qu e se houve contra a Soberana Bondade, inclinando-o a prestar tudo quanto Deos exige clelle. t Por ella é que se salvavão os peccadores, antes que fosse por Jesus C h ris to elevada á di· gnidade de Sacramento; e por ella ainda hoje alcanção agraça, operdão e o céo, os que n!lo po dem receber o Sacramento, estando dispostos, e tendo desejo de o fazerem , logo que possão. A Penitencia sempre foi necessaria ti salvação do peccad•H'; e o mesmo Deos não o púde dispensar della. O mesmo Jesus Uhristo confirmou esta ver dade, dizendo em termos decisivos, que se não fizermos Penitencia morreremos eternamente. Xú;i Pmnitentiam habueritis omnes similiter peribitis (1). Antes da Lei do Evangelho e lia por si sú restituía o peccador á amiz&de de Deos ; (1) Luc. 13, 3. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 30 A PRATICA DA CONFISSAO hoje , é a materia principal do Sacramento da Penitencio., que sem ella fica nullo, e de ne nhum proveito . Accrescentou-lhe Jesus Christo a accusaç!l.o das culpas feita ao Sacerdote , seu Ministro , para ser a materia total deste Sacra- . mento ; sobre a qual cahe a absolvição dada pelo mesmo Sacerdote, que é a fórma que o perfaz, perdoando os peccados e infundindo a graça. Isto pelo que respeita a Penitencia, como virtude : o mais que resta d izer sobre el la , re servamos para quando tratarmos da Contrição, que será na segunda parte , fallando das deste Sacramento, no qual já entramos , § 2. - Do Sacramento da Penitencia . De varias maneiras costuma ser nomeado o Sacramento da Pen itc ncia, e nós vulgarmente o chamamos Confissão , pegando-lhe o nome de uma de suas partes, pelo qual desde muito tempo é conhecido em alguns lugares . Por isso no andamento deste tratado, nos servimos in differentemente ora de um, ora de outro nome. Penitencia é um Sacramento instituido por Jesus Christo , que pela absolvição do Sacer dote ao peccador contrito e confessado per doa os pecçados commel tidos depois do Bap tismo. Para que possa exi stir, ou perfazer-se este Sacramento, vê-se que é necessario que o peccador contrito se confesse dos peccados http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEIRA PARTE 3 1 commettidos depois que foi baptizado e ainda nilo accusados ; e que receba do Sacerdote a absolvição . Quando digo contrito, entendo um peccador que leve no coraçilo a virtude da Pe nitencia, materia principal deste Sacramento ; isto é, que aborreça os peccados todos, que esteja determinado a os não comm etter, e a dar a Deos a conveniente reparação do desacato feito ao mesmo Senho r . J<í por isso esta Con trição inclue trcs cousas : a dôr , o proposito e a vontade de satisfazer. Estas sempre forão de absoluta necessidade para qualquer culpado se reconci liar com Deos. Ajuntou-lhes Jesus Christo mais uma parte do lado do penitente , que é a accusação s i ncera de seus peccados ao Sacerdote; o qual ouvindo-os, e impondo a s a tisfação devida, como juiz, com sua sentença absolve e perdôa o culpado ; e desta arte temos completo o Sacramento da Penitencia. § 3 . - Necessidade deste Sacramento. Donde se infere que depois de promulgada a Religião Christã, este é o meio unico para obter perdão o fiel que tornou a manchar- se com alguma culpa grave . Esta necessidade se deduz evidentemente das palavras com que Jesus Christo instituio o Sacramento de que nos occupamos . Porquanto, depois de sua resur reição, antes de se ir para o Pai , dirigindo-se aos Apostolos, e nestes a todos os Sacerdotes, http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 32 A PRATICA DA CONFISSÃO s e u s s uccessores, disse : " Aquelles, a quem perdoardes o s pcccados, ser-lhes hão perdoa dos ; e aos que os retiverdes , ser - lhes-hão reti dos » ; que vale o mesmo que dizer : Quando nflo perdoardes vós, tambem não perdoarei c u . Sú D eos póde rcmittir a offensa feita a si ; só elle póde d estruir o peccado e admittir o pec cador de novo e m sua amizade, se qu izer, e do m odo q u e m u ito b e m lhe ap rouver, pois é S e nh or e liberl'imo e m escolher e pôr as condições com que concede o perdão. Ora, do que disse aos Apostolos, e na p essoa destes ao s Sacer dotes, que lhes succedêrão, se i n fere com evi dencia inqu estion avel, que só por elles quer exerci tar a auto rid ade sua p rop ria , que são elles que h:.to de dat• o p e rdão em s e u n ome, e quando o negarem , negado e stá ; porque é tam bem em seu nome que o recusão . Já vimos, que em todo o tempo foi de absoluta necessidade o arrependimento com as condições do proposito de não repetir as culpas commettidas, nem commetter o utras , e de p restar a devida satis fação, ou repara ção da iuju ria feita a Deos pelo peccado . Esta necessidade Jesus Christo não a tirou, mas a confir mou e d eixou em pleno vigo r . D eterminou mai s , que o pe rdão havia de ser dado o u negado pelos Apostolos, aos quaes constituio j uizes, para fazerem suas vezes . Mas como saberão elles o que devem p e rdoar e o que devem reter, se os delinquen tes lhes não declararem as suas culpas ? Por- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ Pn i M E lH A PARTE 33 ventu ra poderão dar ás cégas a absolvição, ou recusal - a ? Encher os officios de j u izes i m pondo penas, d eterm i nando reparações, lavrando sen tenças, sem p révio conhecimento da causa ? Isto fô ra á mais absurda cousa do m undo . E se é indispensavel que s ej ii o i nteirados d-a causa, não o podem ser senão p elo mesmo del inquente com a accusação que de si fizer. Destas consi derações resulta a necessidade absol uta, ep1 que se acha o peccado r ele recorrer ao Sa cramento da Pcnitoncia , para de novo se co n graçar com o Soberano Bom. Por esta razão chamárão os Santos Padres á Penitencia se gunda tab oa d e pois Jo mtu frngio da culpa. Para sahirmos do peccado a que nos arrastou a desobediencia de Adã&, e dos que a esse aj untámos com as nossas p roprias , deixou-nos Jesus Christo a taboa do llaptis mo. Preve n d o p o r é m que a m aior parte dos christãos havião de abandonai-a quasi tão depressa como a ti vessem alcançado , atirando-se de novo ao mar do peccado , proveu-nos súa infinita m i sericor rl ia desta segunda tabo a no Sacramento da Pe nitencia, em rr ue podemos ainda escapar d a morte, e chega r ao porto da salvação eterna. Assim o definia o S . Con c ilio Tridentino na Sessão H, c. 2 . Mas se o peccador a e n geita, resta que pereça em 'seu p eccado, e a si mesmo attribua sua desgraça. Veja b em qual deve ser o castigo que merece, e que o espera, por ter assim affro n tosamente repellido um Deos, que http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 34 A PRATICA DA CONFISSAO levou sua misericordia a ponto de offerecer segunda taboa sal vadora a quem volu ntaria� mente queb rára a primeira . Não cessemos os peccadores de l ouvar e agradecer este precioso mimo de Jesus Christo , que a elle custou todo o seu sangue, e a nós se nos dá de pura graça. . Aproveitemos esta via ele salvação, bem p e rs u a didos que outra não nos é concedida. § 4 Algu ns tomados pelo demonio, cuj o maior empenho é e mbargar-nos a graça, costumão sahir com esta evasiva, dizendo eu me con fesso com Deos, e lhe peço perdão, isto basta nao preciso d e chagar- me á Con fissão . Vãs i llusõcs ! pern i cioso engano ! Para s e res per doado não está o po nto em te confessares a Deos , que, melhor do que tu , pe netra no fundo de teu coração, e lhe descobre as mazellas. Está sim em procu rares o perdão pelos meio s , porque t 'o q u e r c l l e conceder . Se recusas em pregai-os , nunca o lograrás. Vimos como Jesus Christo o ligou á confissão, dando as chaves do céo a S. Pedro ; e por este aos Sacerdotes. Se a elles não recorres para que te abrão a porta, trabal has debalde ; porque nenhuma pessoa, nenhumas obras, nenhumas virtudes t'a podem abrir. Fôr.1 inutil confiar a S. Pedro as chaves do Paraíso , se lá pudesse alguem ter entrada que não fosse por elle recebido, e in trodu z i do . Demais disto , pretender tal cousa é http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEIRA PARTE 35 accusar de nescio o mesmo Jesus- C h risto , pois que valera o institu i r um Sacramento, para perdão dos peccados, se qualquer o pudesse consegu ir por ou tras vias ? Tão pouco deve mos suspeitar , q u e Nosso Senhor Jesus Christo nos difficultou o pe rdão, obrigando-nos á Con fissào, quando Oü tr'or a se m e l ia se alcan çava. Não ditncultou, fel- o · muito mais facil. Anti gamente o peccador , para ter remissão de suas cu lpas, havia mister uma contricçi'lo mui to mais perfe ita e levantada ; ao passo que neste Sacramento se contenta o Senhor com uma menos acriso lada do que aquella como adiante explicaremos. Q u e m assegu rava os penitentes de então, que a tinha.o, e que esta vão perdoados ? Hoje temos um Ministro, que em nome de Jesus-Christo, e com sua autori dade nos remitte as culpas, e nos assegu ra , que estamos reconciliados com Deos . Ajunte mos a estes beneficios as gmças s ingulares que nos confere o Sacramento , a força para vencermos o .'! trabalhos da virtude, a consola ção, que resulta da confiança d e estarmos restituídos na amizade divina, a d i m inuição das penas temporaes, que devíamos soffrer, depois de perdoada a culpa ; então saberemos apre ciar e agradecer o ter-nos o Senhor deixado esta fonte de vida, onde a cobramôs perdida , augmentamos cobrada, confirmamos incerta, e logramos infinitos bens, como havemos de mos trar no decurso desta escritura. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 36 A PR ATICA DA CONF!Si;AO CAPITULO I I I OBRIGAÇÃO DA CONFISSÃO § 1 Se o Sacramento da Penitencia, ou Confissão, é, cornos vimos, de tão absoluta necesijidade, segue-se que somos obrigados a recebêl-o ao m enos algumas vezas na vida ; porque o somos a empregar os meios n ecessarios para alcançarmos nosso ultimo fim, que é gozar a Deos no céo. Não se póde tão pouco s u s p eitar, que Jesus Christo , de ixando-nos este Sacra mento, como unico caminho para o chri stão culpado chegar ao paraiso , não o fizesse ao mesmo tempo obrígatorio para os que o hou vessem mister. De maneira que o peccádor engeÚando-o, duas vezes se constitue crimi noso de falta de caridade para comsigo, por privar-se dos bens eternos da gloria, para a qual foi creado ; e de desobediencia a um pre ceito positivo de Jesus Christo, nosso D ivino Mestre. Não determinou porém elle o tempo , em que haviam os ele satisfazer esta obriga<,;ão ; mas deixou ao juizo da Igreja, encarregada de dirigir-nos na terra, até introduzir-nos nas portas da eterna bemaventurança. A esta mãi nos ordenou que obedecessemos em tudo , co mo a elle mesmo, recebendo como a si mesmo http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRiMEIRA PARTE 37 t ributada a sujeição, que a ella prestassemos, e como a si feitos os desprezos, com que a t ratassemos. Ora a Igreja manda, que cada fiel, chegado ao uso da razão, se confesse ao menos uma vez cada anno ; e os que lhe fo � rem desobedientes n este particular determina rpw vivos sejã.o repellidos da entraclll._ em seus templos , e mortos fiquem p rivados de sepul� tura ecclesiastica (1 ) . Por isso todo fiel é obri gado :i Confissão u ma vez cada anno , sob pena de incorrer na maldiç1Lo do mesmo Dcos, que n:lo conhece por filho a quem não obedece :i Ig reja, como mài. Po1· não nunpri r este só p 1·e� cc ito constiLue-sc réo de peccado moi· ta l : o I J U antoR . annos o mittir a Confissão, tantas cul pas graves tem accumuladas na consci _ e n cia. § 2 Além ela Confissão annual somos obri gados a receber este Sacramento em perigo, e e m artigo de morte ; porque se por preceito divino devemos sujeitar ás ch�ves da Igrej a todos os peccados, em nenhuma occasião u rge mais esta lei, do que n'aquella, que com fun damento cremos ser a ultima, que se nos offe rece para seu desempenho. Neste . caso esta mos, ach ando nos em ·artigo, ou em perigo de morte. Por isso o enfermo de molestia grave está por lei divina obrigado a confessar�se . E http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 38 A PRATICA DA CONFISSÃO não deve reservar para a ultima hora, qu ando a fraqu eza da cabeça, a deb i l idade das forças, a vehemencia das dores, o e n fraq ueci mento das faculdades intellectuaes , pouca, e mu ito escassa esperança deixào d e o receber com p ro veito . Além do que , a i ncerteza de ser-lhe conced idg algum p razo p ara o aj uste das con tas eternas, _o deve estimu lar a aproveitar sem perder um instante o s momentos que Deos lhe empresta para negocio de tanta monta. Quan tos, desgraçadam ente, ill u didos com a espe ran ça de mais algu ns dias, vão differindo para diante o que c u m pria executar logo , e são c o lhidos pela morte, antes de nada haverem d i s p osto , nem apparelhado para receberem-na ! Nem se púll e assaz l a s ti mar a pouca fé e caridade daqucl l as p essoas , que para não affiigire m os doentes , nem fallão, nem consentem que se lhes falle em se confessarem ; e assim a troco do que não percão por alguns instantes um socego falso, e enganado r , os deixão ir precip itar-se talvez em uma .e tern idade de tormentos . E' esta uma das t raças mais damnosas, que e m p reg·a o demonio n "aquella conj u nctu ra , para assegu rar a posse das almas dos en !'ermos, e laçar as dos en fermei ros e pare n tes . Em razão do p erigo tambem silo obrigadas a confessar-se certas pessoas pelas circumstan cias particulares em que estão . A senhora, que vai passar pela primeira vez os trahalhos do parto, deve apparelhar-se com a confissão ; http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PR IMEIRA PARTE 39 visto como é tão arrisr:,ado aquelle lanço . O mesmo devem fazer aquellas, cuj os p artos sào todos labo riosos, e nos quaes sempre s e vêm a b raços com a morte. Ao mesmo Sacra mento da Penitencia são obrigados os que .vão soffrer o p e rações g ravemente arriscadas , ou pela debilidade elas forças, ou pelo melindroso ela operação ; os n avegantes , qu e ent t·ão e m viage n s p e rigos as , o s soldados que vão com mette r batalhas, e os mais q u e correm fortuna de p rovavelmente deixar a vida e m al g u m a em preza . Todos e s t e s , tendo peccado mo rtal n a consci enc ia, é fo rça por precei to d i v i n o , q u e p ri meiro se pur ifiquem c o m o Sacramento d a Con fissão . Além destes e o utros casos semelhantes, em que a lei divi n a u rge por si mesma, o utras ha, em que u rge por accidente . Como se algnem «e visse tão combatido por uma tentação, que n ão pudesse tri u mphar s e 1 1 ão se confessando , pela caridade que deve ter comsigo, e s taria obrigado a recorrer a este Sacramento . Assim tambem estaria quem, conscio J e peccauo mortal , houvesse de receber a Communháo, ou o Sace rdote, que tivesse de celebrar. Afúra destes casos, e m qu e o ch ristão deve confessar se sob pena de com mctte r novo peccado, não é n ccessario dizer, com quanta ancia o devem procurar todos os que se achão no tristíssimo es tado de peccado mortal . Razão é que o b us quem com a mesma so!Ireguid:lo, e quas i http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 40 A PRATICA DA CONFISSÃO direi com o d esatino , c o m que o doente nos paroxismos do m al requer o med i co , de qu em s(J espera all ivio na terra . Que só desta tor rente de gmças púdc o p e ccad or beber as aguas da salvação e só nesta pro digiosa pharmac ia enco ntrar remedio efficaz p ara seus mortaes acharrues. O qu e mais se acred i ta, sendo conhe c idos os admiraveis effeito s do Sacramento da Pcnit encia, em cuj a explicação vam os a e n ten d er . CAPITULO IV E F FE ITOS DO S A C I1 A\! E:\TO n ,\. PE:\ITE N C I A § 1 1° Perdoa os peccados p01· mais enorme8, e n u m e r o s o s que seji"io. Tinha Deos p romettido o u t r'ora p o r boca do Propheta Zacharias, que havia d e bro ta r uma fo nte patente n o seio da s u a Igrej a para lavatorio ll c t o d o s o s ho mens ( 1 ) . Esta promessa t ã o consoladora, e propria das e ntranhas pate rn acs de u m D eo � , a \'emos effeituarla no Sacramento da C o n fi s são. Nellc se perdoão d e u ma v e z t o d a so rte de peccado s com que o christão possa estar manchado . Mas qu e sejão tão numerosos com o http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PfliMEITIA PARTE 41 os pingos ele chuva em tempo de prolongado i nvern o , tão i n n u meravcis corno as gotas d e agua rruc e �ccrrüo a s concavid ades el o oceano , o boj o elas nuvens, e os e s p a c;os do céo, todos em u m mo m e n to fi cão destruidos pela efficaci a deste Sacrame nto . Sej ão t ã o feios e horrendos, e o nw sú os p o d e rão inventar o s refinados e n genhos dos tlem onios, nada impo rta, nesta fo nte de s alvação ficão tod o s arrogados para n u nca mais se levantarem . Parece LJ u iz ind icar este efTeito o Senhor , q u a n d o poz na boca de David estas palavras Con l r i b u la s t i capita dí ·aconwn in aq uis (1 ) . Senhor, dentro da agua haveis esmagado as rruc cab eças dos dragões, Dragões são nossas cul pas, Deos neste Sacramento quebra, esmaga.,· dostróc . O mesmo Senhor nos assegura, quo se J'ujem nossos peccad os como o escarlate, fica rão alvos como a neve {2) . 2o Pe1'düa s e m te1·mo. Já fôra insigne miset•i cord i a, s e a Pe n i tenc ia nos p e rdoasse u ma vez na v iela nem o réo uma vez p e rdoado , e de p ois convicto do mesmo crime , se anima a im plo rar s egu nda venia_ Não acontece porém o mesmo com a Co nfissão. Perdoado u ma vez, duas, tres , mil, mHhões de vezes, s e m p re que acud ir a esta fonte , a encontrará patente, e (1) Ps. 73, 13. ' (2) Si fuerint peccata vestra ut coccin um, quasi uix dt;albabuntur Is. 1 , _18. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 42 A PRATICA DA CON F I SSÃO correndo para o lavar e curar. Os reis da terra quando fizerão u ma voz miserico rdia a um cul pado , j ulgão ter praticado um lanço de clemen cia inexcod ive l . Mas vós , ó meu Deos, depois do tantas vezes terdes feito graca ao peccador, estais ainda prompto para o receber, abraçar, e perdoar no tribunal da Penitencia. Si a u m grande c á d o mundo qualquer am igo fizer al guma inj uria, perdoará talvez, com tanto que lhe não segun d e a offonsa ; se lh 'a repetir, d iffici lmente se reconcil iará com ol le , e mais d ifficilmente o admitti rá em sua amizade . Mas se accrescentar tercei ra affronta, quebrados ficão para sempre os laços de amor entre el les . Deos poré m , depois de tantas vezes lhe p romet tcrmos, e faltarmos á palavra, ainda nos recebe com o mesmo aiTecto e carinho quo antes , se para elle nos tornarmos com s inceridade : tra ta-nos como �;:e nunca tivessemos s ido seus in i migos, como se nunca lhe t ivessemos vi rado as costas , como se vivessemos sempre na mais perfeita correspondencia de amor. Isso é o que nos promette, d i zendo p o r seu Propheta Micheas que p recipitará nossos pcc caclos no fundo do mar (1 ) e affi rm ando por I saías , q u e o s arrojaní ]Jara trás elas costas (2) . ( 1 ) Proj iciet in profu ndum maris ornuia peccata nos I ra. Mich. 7, 19 . (2) Projacisti post tergum tuum omnie peccn.ta mea. Is. 38, 17. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRI ME IRA PARTE 43 3" Perdoa para semp1·e. Deos, sem quebrar u m ponto de sua infinita bondade, podia vir comnosco neste aj uste : que nos perdoaria as otl'ensas passadas , comtanto que de novo o não ofl'endessemos ; e que e m renovando nos ós peccados, teríamos de pagar p o r j unto os antigos e novos. Si deste geito se houvera comnosco Sua divina Magestade , já fôra graça e favor i ncommen smavel. Mas nào é ass im que elle p ratica . Os peccados perdoados na Confissão, perdoados estão para toda eternidade . Si tiver mos a desgraça de cahir em ou tros , desses daremos conta, desses receberemos o castigo conforme a gravidad e : mas os uma vez mo rti ficados e destru ido s pela Peni t e n cia, não mais revivem, nem delles temos que temer o castigo . Se remos mais criminosos, porq u e ao novo peccado aj untamos ingratidào mais feia, com desp rezar a quem co m tamanha bondade no<> t inha perdoado, e admitt ido Pm s u a amizad e . 1\I a :-; o q u e o Senhor perdoou , perdoou, o que riscou não torna a escrever, n e m chama á pre sença de seu juizo o que Ian(;ou para trás das costas. 4° Restitue-nos a g1 ·v.ça. Si souberamos o qu& esta só palavra encerra, e os thesouros infini tos, que nella estão contidos, como saberia mos amar e p rocu ra r ·o Sacramento, que no-los mette dentro na alma ! Estar em graça, é ter a alma mais fo rmosa que tedo o céo acceso com o sol , ou espl endendo com a lua e com as es- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 44 A PRATICA DA CON FISSÃO trollas ; é ser amigo de Deos, e se r delle amado , como a pupil la de seu s olho s ; é ser herdeiro de Jesu s Christo, com dit·eito d e reinar com elle por seculos eternos ; é ser um templo vivo elo Espíri to Santo . Com a graça de Deos um po brezinho é mais r i c o e mais n o b r e q u e todos o s rei s da te rra ; e sem ella o s mais levantados monarchas são tão miseraveis, como os mesmos demoni os . Tudo i sto d iz esta simples palavra uraça : e tudo isto nós dá o Sacramento da Pe n itencia, dando-nos essa graça , da qua l estava mo,; pl'ivad o s . E com ella nos res titue tambem o direito de merecermo s o augmento da gloria no céo por no ssas boas obras. E' de saber, que em qu anto vive o homem em peccado mortal , m o r-tas estão todas as suas oiJras, n em lhe me recem recom pensa alguma pa ra a outra vida. �i d or esmollas, si j ej u ar, si visitar enfermos , ou praticar outras acções boas e lou vaveis, pó de alcançar por meio dellas, que Deos lhe aug m ente · o s auxílios para arrancar-se do estad o llc peccado : mas a quanto fizer , vivendo nelle , não corre sponde u m ceitil de premio n o ou tro mund o . Apenas porém cobra a graça c amizade d o Deos aos pés do Con fessor , ei-lo rohabili tado nos fóros d e cidadão do céo. Começa logo a crescer o eclificio de sua gloria no paraíso · com os mais insigniflcantcs ados , q u e p raticar, como sejão de si b ons , ou ainda indifTerentes , se forem dirigidos a um fim honesto . Desta arte o fiel justificado pelo Sacramento póde em um http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEIR� PARTE 45 dia accumular incalculaveis thesopros para a glor ia com as mes mas acções ordinarias da vida, como são o comer, conversar , passear, d escansar ; emquanto o peccaclor , ainda com obras m a i s clifficultosas, nada al cança, nada enthesoura. 5° Restitue-nos os mére.cimen tos perdidos . Mettamos bem dentro n'alma esta verdade, que o peccaclo mortal é u ma peçonha destruidora de todos os merecimentos que a alma tinha grangeado , e accu m u lado, em quanto estava em graça . Supponde um justo em gráo eleva díssimo de santidade, conservada por muitos unnos, e que todos os dias fizesse colheita oo piosissima de merecimentos com orações, mortificações, obras de caridade e outros m ui tos actos de v irtude ; ainda com os mais ordi narios da vida, como acima deixamo s expli cado. Que entendimento será bastante a calcular a somma de espirituaes riquezas , que tal pes soa en thesoura em um anuo , e no espaço de dez, vinte ou trinta '? Se es ta alma, assi m enri quecida, tem a desdita de manchar-se com uma culpa grav e , no mesmo ponto perdeu todo esse immenso cabedal : .e se nesse estaào a tomasse a morte , lá iria penar por seculos sem fim, nada lhe aproveitando o bem que praticou para trás . Emquanto viver em peccado, tudo , _o que http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 46 A PRATICA DA CO:-!FISSÀO aj untou no tempo da graça, é como se nu nca houvera existido. Estarão poré m et�tas rique zas sepultadas para sempre e sem remed io '! Não haverá geito de resuscitar o que a culpa da mnou e perdeu ? Sim, ha. Tal é a vi rtude e efflcacia da Penitenci a, que de novo vivifica todo;; esses merecimentos, que a graça creou , e o p eccado destru io . Eil-a em um momento essa alma revestida de todas as galas , ador nada de todas as virtudes, coroada de todos os louros , mais fel iz , do que o naufragan te que visse acu d ir-l he do fu ndo d o mar a fazenda en gulida pelo naufragio ; e ainda m ai s do que o mesmo Job, quando cobrou os bens, qu e a ma licia do demon io lhe tinha arrancado. Isto é o que Deos nos p rom ctte, d izendo p o r boca do Propheta Ezequiel rr u e no dia em que se con verter o peccador não lhe será nocivo o seu peccado (1) . Não cessemos de lou var e agrade cer estes retoques da cleme ncia divina. Se ella t:>ó nos pe rdoára as penas do inferno , que me recíamos como rebeldes con tra sua Divin a Ma· gestade , ainda q u e nada mais concedesse, j á fôra incalculavel (avor . Deos porém n ã o s ó perdôa o fogo etern o, m a s tambem nos admitte no intimo de s u a amizade ; não só nos admitte na amizade, mas nos incorpora por assim dizer a si, nos restitue a graça que mui volu ntaria- (1) Iniquitas impii non nocebit ei in quacumque die convers1.1s fuerit ab impietade sua. Ezeq . 33, 12. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEIRA PARTE 47 mente tínhamos desprezado , nos restabelece nos direitgs de cidadãos de seu reino, herdeiros de seus bens : e por um lanço de misericordia, aonde só alcança a bondade de um Deos, de novo nos embolsa o que aci nte deitáramos fó ra com o peccado mortal . E po r cima de tudo isto na Confissão cornmunica· ao penitente nova força e vale ntia, para evitar o peccado e prati car virtudes sobrenatu raes, como faz o bom medico, que sobre cu rar o enfermo com os re medios o torna mais vigoroso e robusto para reagir contra as causas destruido ras da saude. Dcos, como elle mRsmo nos ensina ( 1 ) , destrúe nossas c u lpas da mesma feiçrro que d e s fa" as nuvens no firmamento ; pon1ue rrssim como desfeita a nuvem , não fica nodoa, nem mancha no céo , tornnndo-se elle mais claro c mais lu zente ; assim a alma depoi s dé destruido o pec cado , cobra as m esmas galas, c ai nda mais bel· las e mais louçãs do que tinha untes do e nxo valhar-se no lodaçal da culpa. 6° Aj u ntai a estes preciosíssimos efl'eitos aquelle remanso de paz, aquel la consolação que nenhuma língua h u m a n a basta a exp l icar, de rramada pela Confissão no c o ração do pecca d o r p e nitente . Digão- no as almas, que o experi men tárão ; quo qu em n u nca s aboreou esta doçura, por mais q�e se encareça , nunca (I ) Delevi ut n u bem iuiquitntes tuns, ct quasi nebulam peccata tua. Is. 44, 22. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 48 A PRATICA DA CONFISS.:\:0 alcançará fo rmar d e !la conceito. Paz e tranquil l i dade é cou sa que o pec cador nao conhece, nem é possível conhecer . E m quanto este se fica em seu peccado ha i n im i zade entranhavel entre elle e Deos. E se falta o s ocego ao- homem q u e tem por ini m i go algum poderoso da terra, força é que falte a qu e m incorreu, e está sempre inco rrendo n o odio d o uni co po deroso e grande na terra c no céo . Po� isso o coração do p ec cador é u m mar re volv ido d e continuas tem pestades , co mo no s di z o Senho r pqr Izaias (1) . De stru ido porém o p e ccado, que planta e nutre esta inim izade , en chentes de suavidade inun dao o coraçM como rompe impetu osa a agua reprezada, qu and o se rasga o m u ro que a d e t i nha presa . .Ahi é e s s e respi rar l ivre, como s e nos arrancas sem u r n m o nte de cima do peito, ahi esses arro ubos t !c agradecim ento para a quell c Senhor, que nos queb rou as cadêas, que nós mesmos h avíamos fabri cado ; ahi essas lagrimas de co n solação máis doces do que to da& as delicias do mundo. CA PIT ULO V BENE FICIOS DA C ON F I SSÃO Depois de termos vü;to o s admirave is cffeitos d a Confissão, vem aproposito apo utat· aqui (1 ) Impii autem qua;i mare fervel.\S . Non est pax i mpiis. Is. 57. 20 e 21 . http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PlliME IRA PARTE 49 alguns dos innumeraveb benefieios, com que clla adoça este no sso peregrinar no desterro, e m que vivemos. Para fazermos conceito dos Lens que traz coms igo o Sacramento da Peni tencia , houveramos mister conhecer quantos p eccados tem atalhado , a quantos arrancou do abysmo da miseria para uma vida rica de vit·tudes, quantas lagrimas tem poupado, e as que te m seccado , quand o corrião abundantes ; e outras in finitas cousas, que não alcançamos. Lance mos porém d e relance os olhos sobre as vantagens , que traz este Sacramento ao indi v iduo e á sociedade. Em primeiro lugar, a vantagem , que mais avulta aos olhos de qualquer, é set· u m preser vativo de todos os peccados. O ho mem, que a n tes d e com metter u m cri m e se lembra, que s e verá obrigado a declarai-o cheio de confusão aos pés do Sacerdo te , mui difficilmente se aba laucará a p e rpetra-l o . Só para n3.o passar pela vergonha de accusar-se, repeli i rá presto os mes mos p ensamentos, logo que se lhe apresentarem ao espírito . Se eu lhes dou corda, se pratico esta acçào i l l icita, terei necessariamente de acc u:sar m e , e m ais me lta de cu star essa confissão, do q u e nun ca sentirei prazer no que o demon io me suggere. Esta só lct!!braljça corta mai s pecca dos, que todos os codigos do mundo com seu f"ormiclavel apparato de penas e de execuções. Alem desta ha outra fonte, donde procede a efficacia da Confissão para impedir as culpas ; http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 50 A PRATICA DA CONFISSÃO c vem a "er a propriedade, e congruencia com que s e accommoda ás necessidades de cada um. Não póde um en fermo d e ord in ario cu rar- se a si mesmo : d a mesma sorte achaques ha no co raçilo humano, que ficao iusanaveis, se um medico competente os não descobre , e lhes applica o reme d i o . Este medico só póde o pec cador e ncontrar n o seu confe ssor porque certas enfermidades , e talvez as m ais dam nosas, a n inguem descob re , senilo a elle . O qual com sua longa expe rienc ia, com os estu dos , que tem feito elo coração humano, e mais ainda com as graças, que Deos lhe con fere, a cada um vai prescrevendo os meios convenien tes á sua cu ra ; com cujo emprego o pen itente em pouco tempo acaba de extirpar vício s , talvez e n raizados ha muitos annos. Que espanto sas transformações nos nào met te pelos o lhos a experiencia quotidiana, realiza das pelo Sac rame nto da Penitencia '? Ora é um jo vem, avelhentado pelos desvarios , que se to rna sob rio , casto, e virtuoso, com a pratica deste Sacramento ora é um m arido esquecido do que deve á mulher , cuj os dias farta de amar guras , e aos filhinho s , c uj o educação despreza, cuja vi rtude corrompe com seus perversos exe m plo s ; o qual castigado pelas advertencias do confesso r , se refrêa do caminho errado, entra em si , e em pouco tempo tem nelle a esposa um arrimo , os filhos um exemplar para a virtude, e a so ciedade um cidadão honrado, http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEIRA PARTE 51 e irrcprehensivel. Considere-se ma is , que vicios ha, que, alem de rebaixar o homem a me�os do que o bruto , lhe desbaratao a saude, abatem o vigor , debilitão as forças physicas , cavão a sepultura , e a ella em breve arrastão o misera vel e que todos estes males se atalhão com a Confissão , sem a qual nunca , ou quasi nunca se lhes arrancarão as causas , nem se cortarão estes funestiss i mos effeitos . Não será summa mente util para o ind ividuo u m Sacramento, que lhe traz tamanhos prove i tos 't Ajuntai , que n o Sacramento d a Pen itencia o homem encontra u m desafogo , exigido pela mesma natu reza . Com e!Teito , quem teve a des graça de commetter u m erro grave contra a moral , sente impe riosa necessidade de o ir descarregar aos ouvidos de um amigo fiel . Em quanto não se desabafa, a consciencia o punge com acerrimos estimulas, a ponto de tornar-lhe ele insupportavel peso a mesma vida. Homens ha, que , por não poderem soffrer mais abafados no peito os cri m es , que cornmettêrão occulta mente, os vão elles mesmos descobrir ás auto ridades, e entregar- se nas mãos da justiça. Outros ha, que, desatinados com os remorsos, terminão seus dias com o maior dos crimes, o suicid io . Esta necessidade da natureza humana acha na Confissão a · mais segura e eflicaz satis fação . Aqui nos proporciona a Divina Providen cia um amigo com todos os requisitos , para receber o depoimento de nossas miserias. Com· http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 52 A PRATICA DA CONFISSÃO paixão de nossos males, amor, tanto mais terno c vivo, quanto maio res são as desordens, que lhe confiamos, desejo ancioso de valer-nos ; e tudo i sto sellado com o segredo mais inviola vel , que ha debaixo do céo, são partes que em nenhum outro amigo encontraríamos , mas que com outras muitas vantagens nos offerece o Sacerdote no confessionario. p �Iais . A Confissão rehabilita o cu lpado . O homem réo no tribunal da consciencia é u m s e r abjecto a seus proprios olhos , e mbora ande coberto de especiosa capa á vista do s outros homens. Elle conhece que faltou ao mais santo dos deveres, que é obedecer ao Creador ; conhe ce, que é um rebelde infiel ao rei do céo , de toclos os c rimes o m ais aviltante e ignominioso : e se desce ao fundo da cons ciencia, estas idéas o conturbão de tal modo , que de assombrado não a pócle encarar, e busca distrair-se com passatempos, p o r não ver seus opprobrios. Este sent imento da pro-· pria miseria, é verdade, que se vai apagando com o tempo, ca l lej ando-se a co nsciencia á força de repetirem-se as culpas ; mas quão alto brada as primeiras vezes, que o homem se culpou de peccado mortal ! ::-ie lhe fal tai' meio de levantar- se em seu proprio conceito , teremos um desgraçado para sempre. Já ago ra, http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRI:MEinA PARTE 53 dirá clle, estou perdido ; nada mais tenho que e::;pcrat' ; continuarei na carreira começada, que satisfaz meus sentidos , visto como ne nhuma outra satisfação me resta. Dahi vet·e mos um m isera v e! , calcando todas as leis , para seguir a lei de seus appetites , atropellando todos os direitos , i nundando de lag rimas uma e. muitas famílias , e sen do um pesadello insup portavel para a sociedade . A historia dos grande s crimes, e dos grandes criminosos, alti est:i demons trando como procedem aquel lcs ordinariamente do desesperarem estes de poder cobrar · a nobreza da innocencia per dida. Para que o culpado não se vá precipitando do abysmo em abysmo, tem prestes o effica eiss imo remedio da reconciliação pela Peni tcncia . Aqui elle encontra um homem inves tido do poder de Deos , de quem é ministro e representante , que lhe diz em nome do mesmo Deos que, por profunda que seja sua miseria, póde remil-a, e subir a um estado equivalente :i inuocencia ; que su a infidelidade fica lavada, e reatados os laços de amizaao en tre ello e o C reador ; que seu nome é de novo escrito no livro do céo, onde lhe está preparada uma cadeí ra para ete rno . Para tirar-lhe descon fianças . mostra-lha u m Deos morto e m u m a cruz , e gottejando sangue de todo corpo , com o fim de o resgatar e purificar. Esta lingua gem em nome de Deos e da religiao é oleo de http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 54 A PRATICA DA CONFISSKO saude para suas chagas, porque lhe insti lla n 'alma esperança e consolação . O réo entra em si , conhece o nobilíssimo dest ino, a que é chamado: penetra-se do sentimento de sua d ignidade , arremette ao caminho da vi rtude ; e subito se atalha uma estatística de innume raveis crimes, e mil causas de lastima para o publico e para o particular. Desta arte reha· bi litão-se aos olhos da sociedade, e mais aos seus p ropr ios , o jovem , que succumbio á tenta ção ; a mulher, que se deixou i l ludir ; a esposa, que teve a desgraça de ser infiel , e tantos ou tros culpados, que sem a Confissão continuarião os passos errados , que uma vez derão, por fal· tar-lhes um meio certo de rehaverem os foros perd idos . E não será de summo in teresse para o homem um Sacramento, que o levanta da ab j ecção, em que j az ia a seus proprios olhos ; que o enche de conceitos grandes de sua nobreza , de seu destino , e do válor das suas acções futuras ; que lhe obstru o o caminho da desesperação , e f1·anquea estrada larga para o vastíssimo campo de todas as virtudes ? § 3 Aj untai que a mesma confissão é um exercício vivo de innume 1·aveis virtudes . Aos pés do Sacerdo te conduzem o penitente a fé e a esperança : porque n inguem se confessa, se nao crê na virtude do Sacramento , e nas ver- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIMEIRA PARTE 55 daLies que a Igrejá ensina ; se não e spera obter por elle a remissão de seus peccados . Alli ou se leva ou se vai receber a caridade, isto é, o amor de Deos por ser quem é, e o do proximo por amor de Deos. Mas a virtude que na con fissão campêa sobre tod as , é a da humildade , de que mais o homem necessita. O principio de nossa desgraça veio da soberba, por querermos subir acima da condição de crea tura, e hombrear com o Creador . Pois as doen ças se cu rão com remedios contrarias ; é for<.; a que sarem com a humildade o�; achaques que a soberba prod ur. io . E ' tambem de toda rar.iio frue , o ffe n d e n d o n6s a Deos com as oberba por n ão querermos levar o jugo pate rnal de sua le i , lhe satisfaçamos com a humilhaçfw de accusar no:o a n6s , que é a cousa a que mais aborrece o orgulho h umano. Ahi ha de o culpado declarar miserias ,ás vezes bem indecorosas , aos ouvidos de um seu semelhante ; e longe de se desculpar, ha de reconhecer-se réo , ha de receber avisos, pres cripçcies, penitencias , h a de prostrar-se de joe lhos e curvar o col lo, que andou l evantado contra os homens e contra Deos . Ahi se aprende a respeitar o di reito alheio, a defender a honra do proximo, a ref1·ear _as paixões , a perdoai· olfensas, a exti nguir vin ganças, a p raticar quantas virtudes Deos exige de nós, e a evitar quantos vícios nos prohibe. Um christão talvez em uma só confissão pra- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 56 A PRATICA DA CONFISSÃO tica e ap rende mais virtudes do que em muitos mezes ou an nos não acertou de p ra t ica r nem aprende r . A' luz da fé mui subida van tagem é esta, de fazer a Confissão exe c u t a r em tão pouco tgJn p o tan tos actos agradaveis a Nosso· Senhor e tão . p rovei tosos a q uem o s p r<Jduz . Por essa razão os Santos a procuravão c o m u rn a fre <ruencüt que espanta rwso>a inJifl'e rença e ti bieza. Aquel le egregio lume da Igrej a no Con cilio de Trento , Bartholo meu elos l\Iartyres , confessa\'a-se todos os dias, e S . Leonardo de Po rto Mau ricio duas v e z e s 1 1 0 r tl i a ( 1 ) . EXEMPLO Por nos n ão to rnarmos ell l demas ia p rol ixos, umitt ire n w s outras vantagens da Confissão, mas aj u ntaremos aqu i um exemplo que resume , c põe diante dos olhos muitos dos seus assigna · lados proveitos. Certo homem d o s Paizes Baixos !'oi a rrastado de viole n l a paixfw a uma cu lpa feia ; c logo possu io-sc do ta manha confusão e vergonha, q u e determ inou - s e em não a con fes sar, ainda que lhe c u �:; tasse a condemnaçào eterna. Nã::> lhe davão porém folga os remo r :,os, ticis exec u to r e s da j u stiça, e precursores ( 1 ) Ao leitor iutelligeute aconselhanws le ia uma obri nLa de :Mons. Gerbet intitulada - O Dogma Uegene rador - especialmente o Dialogv entre Platão e Fe nelon no c. lü do Dogma da l'enitencin. http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PIU M E I R A P A R T E da Misericordia Divina, n o peccador que ainda respira. Algu m tempo depois acertou de ouvir em um sermão que o s peccados esqu ecidos na C o n fi ssão ficav:'to p e rdoacl o s . Deu-se parabens da descobortn , c u i d a n d o com ella poder furtar se á declaração daquel lo peccado , e come�ou a dar traças para ve r se o riscava da momoria. n i s t racções, viagens , estudos mathematicos , r[u e tan to abso rvem o espírito , tudo foi empre gado por este in fel iz , com o intento de esque cer-se do que trazia atravessado na conscien cia. Balc;dos esforços ! Quanto ma iores fazia , ma is se lhe avivava a le mbrança i m p ortu n a . Desenganado j :i d e p o der esquecer-se daquella culpa, m u d o u d o rumo, e procurou apagai-a com boas obras , som recoFer á Con fissão. Multiplicou esmolas, ami udou j ejuns , vestia cilicios, rasgou-se de asperas d iséip l in as o a consciencia a bradar lhe cada vez mai s alto. Vendo-se se t l lJ1re affiicto , c não podendo soffrer mais tempo o vivo pun git· dos t•emorsos , t•esolvel'l m atar-se . Deos porém não queria sah ir vencido desta penden cia. Por isso, rruando o i n feli z se dir�ia para a casa, onde p rete n d i a dar execução a seu in fernal conselho , enviou-lho a Providencia u m Sacerdote s e u conhecido, q u e a convite do mesmo se l h e foi ass"entar ào lado em seu carro. Entre varias causas cahio a conversa sobre a confissão ; e as reflexões do virtuoso Sacerdote ajustavao-se de tal geito ao estado do pobre http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 58 A P R A'riCA DA CONFISSÃO homem , que lhe parecião talhadas de encom menda. Como não pudesse conter sua admiração e espanto , perguntou-lhe a que proposito vinha aquelle discurso ; e porque assim fallàva co m quem em nenhuma cousa pensava menos que em confessar-se. Se pudcsscis acud i r-me, c dar-me remedio no t[ UC m e atormen ta, m as sem confissão, com mui to gosto eu o aceitára. O Sacerdote, suspeitando o estado desta alma, resolveu proceder com toda prudencia : e lhe foi suggerindo varios motivos de confiança, e consolação até que o mesquinho lhe declarou como estava determinado em acabar com a vida , por não poder mais so iTrcr os remorsos da consciencia, e (jU C a inda agora abraçaria qualquer tormento pa 1·a tranqu i l l i sal-a, com tanto que se não t ratasse de confissão . A' vista desta info rmação prometteu-lhe o padre dar · remedio efficaz ás suas queixas. Mas como cumpria socegar-lhe a imaginaçllo sobremaneira i rrit1l.da, aconselhou-lhe primeiro certos meios conducentes a esse mister . Deu-lhe f6epois alguns pontos d e m editação , proprios a excitai-o á con fiança na infinita misericordia d e Deos . Quando o vio preparado metteu-lhe nas mãos um livrinho que continha o exame de consciencia, dizendo que daquelles peccados notasse os que elle tinha commettido , não para se confessar, senão para fazer UJll acto de contricção de cada um delles. A espe- http://alexandriacatolica.blogspot.com/ PRIME I R A PARTE -59 rança de livrar-se das angustias ha tanto cur tidas, tornava- o docil a todos os conselhos do padre , que clest'arte disfarçadamente o ia conduzindo ao caminho ela salvação. Feito o exame, convidou-o a passear em u m bosque vizinho, e ahi depois ele p e rguntar-lhe se se tinha já examinado, accrescentou , que para ajudai-o a conhecer melhor o estado de sua consciencia, ia apontar-lhe alguns dos pecca dos contidos naquelle resumo ; e logo lhe f9i enfiando um catalogo dos mais enormes crim e s a t é acertar no que tanto dilacerava a cons cien cia d aquelle pecca dor. Eis ahi , exclam a este de imp roviso, como quando se toca na feri da ao enfermo, eis ahi o maldito peccado, que -tanto me tem atormentado. · Dissimulou o Sacerdote, e tornou-lhe : este livro contém m u i to mais graves, e de todos este s e de milhoes de ou tro s vos posso absol ver. ,Já que descubris tes o que mais vos cus tava, d izei os que ainda vos restao. Dito e feito : o peccadot· atira-se de j oelhos, abre-lhe francamente o coraçilo e excitado vi vamente á dót· , levanta-se absolvido . Disto cobrou tamanha alegria e consolação que dahi em diante de continuo costumava repetir Padre, de que angu.stias me livrou a Confissão ! O' Confissao, de que paz e alegria inundas tu as almas que a ti acodem ! http://alexandriacatolica.blogspot.com/ 60 A PRATICA DA CONFISSÃO CAPITULO VI BENEFICIOS DA CO:<IFISSÀO PARA A SOCIEDADE § 1 Consiçleradas as vantagens que traz a C o n fissão aos particulares , razão é que lancemo�; breve oihar para as q u e del la vem á sociedade, ainda que pudera i sto parecer escusado ; po is , se promove o bem do individuo , é consequem: i a rigorosa ser mui ut i l ao da c o m m u n idade toda, visto como este se fô rma. c se com põe el o bem dos d iversos memb ros. Com tudo ha respeitos, que mais de perto se referem á communidade, e que por isso demandão considerações parti culares. A confissão mantém a obserYancia e obediencia á autoridade . Ainda só p ela humi lhação, que acompanha o acto de accusar-se um homem a outro , abate-se o orgu lho, e se pre p ara o caminho á obediencia e respeito aos que nos governão . Não ha quem duvide que u m a das cousas mais damnosas á sociedade é não que rerem os homens conservar-se nos l i mites que lhes traçou o dedo da Providencia Divina. D 'ahi procede que todos aspirão a subir, e reputão desdouro conservar-se em baixo ; e muitos atropellando as leis da just iça , da caridade
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