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C-H-Spurgeon-Licoes-aos-Meus-Alunos-Vol-2

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Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 2
 
 
 
LIÇÕES AOS MEUS ALUNOS (Vol. 2) 
[Clique na palavra ÍNDICE ] 
 
HOMILÉTICA E TEOLOGIA PASTORAL 
 
C. H. SPURGEON 
 
PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS 
 
Título original: Lectures To My Students 
Tradução do original por: Odayr Olivetti 
Primeira Edição em Português 
1980 
 
Contracapa: 
 
Para muitos ministros do evangelho, mesmo ainda hoje, Charles 
Haddon Spurgeon foi um dos maiores pregadores de todos os tempos. 
Por que esta avaliação? Se quisermos compreender melhor seu grande 
sucesso, então nada melhor que ler esta segunda parte de Lições aos 
Meus Alunos – preleções dadas nas sextas-feiras à tarde àqueles que 
estudavam em sua Escola Bíblicas (The Pastors' College). 
O presente volume contém treze capítulos da obra Lectures To My 
Students, talvez a mais conhecida de todas as publicações do "príncipe 
dos pregadores". Que Deus abençoe estas "Lições" como o fez quando 
originalmente elas foram proferidas é a oração dos que as publicam na 
língua portuguesa. 
 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 3
 
 
ÍNDICE 
 
1. A Auto-vigilância do Ministro..............................................3 
2. O Chamado para o Ministério...........................................25 
3. Oração Particular do Pregador.........................................53 
4. Oração em Público...........................................................69 
5. O Conteúdo do Sermão....................................................93 
6. A Escolha do Texto.........................................................109 
7. A Arte de Espiritualizar...................................................132 
8. A Voz..............................................................................150 
9. Atenção...........................................................................175 
10. A Capacidade de Falar de Improviso.............................194 
11. As Crises de Desânimo do Ministro...............................214 
12. A Conversação Comum do Ministro...............................231 
13. Aos Obreiros Mal Equipados..........................................244 
 
 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 4
 
 
A AUTO-VIGILÂNCIA DO MINISTRO 
 
"Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina" 1 Tim. 4:16. 
 
Todo trabalhador sabe que deve manter as suas ferramentas em bom 
estado, pois, "se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então se 
devem pôr mais forças". Se a enxó do operário perder o corte, ele sabe 
que terá que despender mais energia, ou então o seu trabalho será mal 
feito. Miguel Ângelo, o eleito das betas artes, entendia tão bem a 
importância dos seus instrumentos de trabalho, que sempre fazia com as 
próprias mãos os seus pincéis, e com isto nos dá uma ilustração do Deus 
da graça que, com especial cuidado, modela pessoalmente todos os 
verdadeiros ministros da Palavra. 
É certo que o Senhor, como Quintín Matsys na história do bom 
artífice de coberturas de Antuérpia, pode trabalhar com a mais defeituosa 
espécie de instrumentalidade, como acontece quando ocasionalmente faz 
com que uma pregação bastante estulta seja útil para a conversão de 
pecadores. Ele pode agir até mesmo sem intermediários, como quando 
salva pessoas sem usar nenhum pregador, aplicando a Palavra 
diretamente por Seu Espírito Santo. Mas não podemos considerar os atos 
absolutamente soberanos de Deus como uma regra para a nossa ação. No 
caráter absoluto do Seu Ser, Deus pode agir como bem lhe apraz, mas 
nós temas que agir conforme as instruções mais claras que Ele nos dá em 
Suas dispensações. É um fato bastante evidente este, que geralmente o 
Senhor adapta os meios aos fins, o que nos dá a lição de que temos mais 
probabilidade de realizar o máximo quando estamos nas melhores 
condições espirituais. Ou, em outras palavras, geralmente fazemos 
melhor a obra do Senhor quando os nossos dons e graças estão em boa 
ordem, e o trabalho sai pior quando aqueles dons e graças estão 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 5
desordenados. Esta é uma verdade prática para nossa orientação. Quando 
o Senhor faz exceções, estas apenas confirmam a regra. 
Em corto sentido, somos as nossas próprias ferramentas, e, 
portanto, precisamos manter-nos em ordem. Se quero pregar o 
evangelho, só posso usar a minha própria voz; daí, devo aprimorar as 
minhas virtudes vocais. Só posso pensar com o meu cérebro, e sentir 
com o meu coração; portanto, devo educar as mInhas faculdades 
intelectuais e emocionais. Só posso chorar e agonizar pelas almas com a 
minha própria natureza renovada; portanto, devo manter vigilantemente 
a ternura que havia em Cristo Jesus. Ser-me-á vão suprir minha 
biblioteca, ou organizar sociedades, ou fazer planos, se eu negligenciar o 
cultivo de mim mesmo; pois livros, agências e sistemas só remotamente 
são instrumentos da minha santa vocação. 
Meu espírito, alma e corpo são os meus mecanismos mais à mão 
para o serviço sagrado; as minhas faculdades espirituais e a minha vida 
interior são o meu machado de combate, as minhas armas de guerra. 
McCheyne, escrevendo a um colega de ministério que estava no exterior 
com vistas a aperfeiçoar os seus conhecimentos do idioma alemão, 
empregou linguagem idêntica à nossa. Escreveu ele: 
"Sei que você se aplicará arduamente ao alemão, mas não se esqueça 
de cultivar o homem interior – quero dizer, o coração. Quão diligentemente o 
oficial da cavalaria conserva limpo e afiado o seu sabre; qualquer mancha 
ele a remove com o maior esmero. Lembre-se de que você é a espada de 
Deus. É Seu instrumento – espero, vaso escolhido para Ele, para levar o 
Seu nome. Em grande medida, o sucesso será de acordo com a pureza e 
perfeição do instrumento. Deus abençoa não tanto a talentos, como à 
semelhança com Jesus. O ministro santo é temível arma na mão de Deus". 
Estar o arauto do evangelho espiritualmente fora de ordem em sua 
pessoa é, tanto para ele como para o seu trabalho, uma calamidade das 
mais graves. Contudo, irmãos, com que facilidade se produz esse mal, e 
com que vigilância devemos prevenir-nos contra ele! Um dia, viajando 
pelo expresso de Perth a Edimburgo, de repente o trem parou 
bruscamente porque um parafusinho de nada de um dos motores se 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 6
quebrara – sendo que toda a locomotiva compõe-se virtualmente de dois 
motores. Quando partimos de novo, fomos obrigados a arrastar-nos 
lentamente apenas com uma biela de pistão funcionando, em vez de 
duas. Somente se perdera um pequeno parafuso. Se ele tivesse ficado em 
ordem, o trem teria prosseguido velozmente em seu caminho de ferro, 
mas a ausência de uma diminuta peça de ferro desarrumou tudo. 
Conta-se que nas ferrovias dos Estados Unidos um trem parou por 
causa de insetos que penetraram nas caixas de graxa dos eixos do 
comboio. A analogia é perfeita. Uma pessoa em todos os demais 
aspectos habilitada para ser útil pode, por algum defeito diminuto, ser 
extremamente prejudicada, ou até tornar-se inútil por completo. Um 
resultado desses é em extremo ruinoso, uma vez que está associado ao 
evangelho que, no sentido supremo, é adequado a produzir os maiores 
resultados. É terrível quando um ungüento perde a sua eficácia devido ao 
trapalhão que o aplica. Todos vocês sabem dos efeitos nocivos 
produzidos muitas vezes na água quando passa por canos ruins; assim 
também o próprio evangelho, passando através de homens 
espiritualmente doentios, pode ser aviltado a ponto de se tornar nocivo 
aos ouvintes. É de temer que a doutrina calvinista se torne um ensino 
muito danoso quando exposta por homens de vida ímpia, e apregoada 
como se fosse um manto para a licenciosidade. O arminianismo, por 
outro lado, com a sua ampla extensão do oferecimento de misericórdia, 
poderá causar o mais sério dano às almas, se o tom descuidado do 
pregador levar os ouvinte a acreditarem que são capazes de arrepender-
se quando bem quiserem. Com isso, pois, a mensagem do evangelho não 
implica em nenhuma urgência. Além disso, quando o pregadoré pobre 
de graça, qualquer benefício permanente que poderia resultar do seu 
ministério em geral será fraco e completamente desproporcional ao que 
se poderia esperar. 
Muita semeadura seguir-se-á de escassa colheita. O interesse pelos 
talentos será inapreciavelmente pequeno. Em duas ou três batalhas em 
que fomos derrotados na recente guerra americana, diz-se que o 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 7
resultado deveu-se à má qualidade da pólvora entregue por certos 
pseudo-fornecedores contratados pelo exército, de modo que os 
canhoneios não produziram efeito. Pode acontecer o mesmo conosco. 
Podemos errar o alvo, perder a nossa finalidade, o nosso objetivo, e 
desperdiçar o tempo, por não possuirmos dentro de nós a verdadeira 
força vital ou por não a possuirmos na medida em que, compativelmente, 
levaria Deus a abençoar-nos. Cuidem para não serem pseudo-pregadores. 
Um dos nossos primeiros cuidados deve ser que nos mesmos 
sejamos homens salvos. 
Que um mestre do evangelho seja antes um participante dele é 
verdade simples, mas ao mesmo tempo é uma regra da mais ponderável 
importância. Não estamos entre os que aceitam a sucessão apostólica de 
jovens simplesmente porque a supõem. Se a experiência pedagógica 
deles for mais de vivacidade do que de espiritualidade, se as suas honras 
se ligam aos exercícios atléticos e não a trabalhos para Cristo, exigimos 
prova de natureza diversa das que eles estão capacitados para apresentar-
nos. Nenhuma soma paga a título de honorários a cultos doutores do 
saber, e nenhuma soma de conhecimentos clássicos recebidos em troca, 
nos parecem evidência da vocação do alto. A verdadeira piedade é 
necessária como o primeiro requisito indispensável. Seja qual for a 
"vocação" que um homem simule possuir, se não foi vocacionado para a 
santidade, certamente não foi vocacionado para o ministério. 
"Arruma-te primeiro, e depois enfeita o teu irmão", dizem os 
rabinos. "A mão", diz Gregório, "que tenciona limpar a outrem, deve 
estar limpa." Se o seu sal for insípido, como pode dar sabor a outros? A 
conversão é uma sine qua non em um ministro – uma condição 
indispensável. Vós, que aspirais aos nossos púlpitos, "necessário vos é 
nascer de novo". Tampouco deve ser presumida a posse desta primeira 
qualidade, pois existe grande possibilidade de estarmos enganados sobre 
se somos ou não convertidos. 
Creiam-me, não é brincadeira infantil "fazer cada vez mais firme a 
vossa vocação e eleição". O mundo está repleto de limitações, e está 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 8
apinhado de alcoviteiros do amor-próprio carnal, que cercam o ministro 
como abutres em volta de uma carcaça. Nossos corações são enganosos, 
de sorte que a verdade não está na superfície, mas tem que ser arrancada 
do poço mais profundo. Devemos sondar-nos a nós mesmos com ávido 
interesse e de modo completo, para não suceder que, tendo de alguma 
forma pregado a outros, não venhamos a ficar reprovados. 
Que corsa horrível, ser pregador do evangelho e, todavia, não estar 
convertido! Cada qual sussurre consigo mesmo no íntimo de sua alma: 
"Que coisa terrível seria para mim, se eu ignorasse o poder da verdade 
que me estou preparando para proclamar!" O ministério exercido por um 
inconverso envolve relações das mais antinaturais. Um pastor destituído 
da graça é semelhante a um cego eleito professor de ótica, que faz 
filosofia sobre a luz e a visão, comentando e distinguindo para outros os 
belos sombreados e as delicadas combinações das cores prismáticas, 
enquanto ele mesmo está absolutamente em trevas! É um mudo elevado 
à cátedra de música; um surdo a falar sobre sinfonias e harmonias! Uma 
toupeira pretendendo criar filhotes de águias; um molusco eleito 
presidente de anjos! 
A esse tipo de relação poder-se-iam aplicar as metáforas mais 
absurdas e grotescas, se o assunto não fosse tão solene. É uma tremenda 
posição para um homem ocupar, pois ao fazê-lo está se comprometendo 
com uma obra para a qual está inteiramente, completamente, totalmente 
desqualificado, mas de cujas responsabilidades sua falta de habilitação 
não o resguarda, porque ele as assumiu voluntariamente. Sejam quais 
forem os seus dons naturais, sejam quais forem os seus poderes mentais, 
estará completamente fora do páreo para a obra espiritual se não tiver 
vida espiritual. E será seu dever interromper o ofício ministerial 
enquanto não receber esta qualificação, que é a primeira e a mais básica 
de todas. 
O ministério exercido por inconversos pode ser igualmente terrível 
noutro sentido. Se o homem não for realmente comissionado, que infeliz 
é esta posição para ele! Que poderá achar na experiência das pessoas sob 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 9
o seu cuidado pastoral que o possa confortar? Como haverá de sentir-se 
quando escutar o clamor dos arrependidos, ou quando ouvir as suas 
dúvidas repassadas de ansiedade e os seus graves temores? Ficará 
espantado ao pensar que as suas palavras deveriam se adequadas àquela 
necessidade aguda! A palavra de um homem não convertido pode ser 
abençoada para a conversão de almas, desde que o Senhor, embora 
repudie ao homem, continue honrando a Sua verdade. Como há de ficar 
perplexo o homem, quando consultado sobre dificuldades de cristãos 
amadurecidos! No caminho da experiência, pelo qual são conduzidos os 
seus ouvintes regeneradas, ele mesmo só poderá sentir-se um completo 
fracasso. Como poderá captar as alegrias dos que estão em seus eleitos 
de morte, ou participar da comunhão fervorosa dos crentes à mesa do 
Senhor? 
Em muitos casos de jovens empregados numa profissão que não 
podem agüentar, correm eles a engajar-se na marinha, preferindo isso a 
seguir uma ocupação penosa. Mas, para onde fugirá aquele que treinou 
para dedicar-se a vida toda a esta santa vocação, e, contudo, é 
completamente alheio ao poder da vida piedosa? Como poderá 
diariamente exortar que os homens venham a Cristo, enquanto ele 
mesmo é estranho ao Seu amor que O levou à morte sacrificial? Ó 
senhores, seguramente isto só pode ser uma escravidão perpétua. Tal 
homem certamente odiará a simples visão de um púlpito, tanto quanto 
um escravo das galés odeia o remo. 
E quão imprestável há de ser um homem desses! Cabe-lhe guiar 
viajores ao longo de uma estrada que ele nunca percorreu, navegar por 
uma costa da qual não conhece nenhuma das balizas orientadoras! É 
chamado para instruir a outros, sendo ele mesmo um tolo. Que é que ele 
pode ser, senão uma nuvem sem chuva, uma árvore que só tem folhas? 
Como quando uma caravana no deserto, com todos sedentos e quase 
morrendo assados ao sol, chega à tão desejada fonte e – horror dos 
horrores! – encontra-a sem uma gota d'água, assim, quando almas 
sedentas de Deus chegam a um ministério carente da graça, ficam prestes 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 10
a perecer porque não acham ali a água da vida. É melhor abolir os 
púlpitos do que enchê-los de homens que não têm conhecimento 
experimental daquilo que ensinam. 
Ah! o pastor não regenerado vem a ser terrivelmente nocivo 
também, pois, de todas as causas produtoras de infidelidade, os ministros 
carentes de vida piedosa devem ser classificados entre as primeiras. Li 
outro dia que nenhum aspecto do mal já apresentou tão extraordinário 
poder de destruição como o ministro não convertido de uma paróquia 
que contava com um órgão caríssimo, um coro composto de cantores 
ímpios, e membros de uma igreja aristocrática. A opinião do escritor era 
que não poderia haver maior instrumento de condenação do que isso, 
fora do inferno. As pessoas vão para o seu local de culto, sentam-se 
comodamente e se acham cristãs, quando o tempo todo, tudo aquilo em 
que a sua religião consiste resume-se em ouvir um orador, sentir cócegas 
nos ouvidos, feitas pela música, e talvez ter os olhos divertidos por 
atitudes graciosas e maneiras elegantes, sendo o conjunto todo nada 
melhor do que o que ouvem e vêem na ópera – talvez não tão bom, 
quanto à beleza estética, e nem um átomo mais espiritual. Milharesse 
congratulam, e até bendizem a Deus por serem Seus devotos adoradores 
quando, ao mesmo tempo, vivem numa condição de não regenerados, 
sem Cristo, tendo a forma da piedade mas negando o poder dela. Quem 
dirige um sistema que não visa a nada mais elevado que o formalismo, é 
muito mais servo do diabo do que ministro de Deus. 
Um pregador meramente formal já é nocivo enquanto preserva o 
seu equilíbrio externo, mas como não possui o equilíbrio da piedade que 
poderia preservá-lo, mais cedo ou mais tarde é quase certo que cometerá 
um erro em seu caráter moral, e em que posição fica ele neste caso! 
Como Deus é blasfemado! E como o evangelho sofre abusos! 
É terrível considerar que morte espera tal homem! E qual será a 
sua condição posterior! O profeta retrata o reí da Babilônia descendo ao 
inferno, e todos os reis e príncipes que ele tinha destruído, e cujas 
capitais tinha assolado, erguendo-se dos seus lugares no inferno e 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 11
saudando o tirano caído com o cortante sarcasmo: "Tu também adoeceste 
como nós, e foste semelhante a nós" (Is. 14:10). E vocês não podem 
imaginar um homem que foi ministro, mas que viveu sem Cristo no 
coração, indo para o inferno, e todos os espíritos em prisão que 
costumavam ouvi-lo, e todos os ímpios da sua igreja, levantando-se e lhe 
dizendo em tom amargo: "Tu também te fizeste como nós? Médico, não 
te curaste a ti mesmo? Tu, que te proclamavas ser brilhante luz, lançado 
nas trevas para sempre?" Ah! se alguém tem que se perder, que não seja 
desse jeito! Perder-se à sombra de um púlpito é terrível, mas quanto mais 
terrível é perecer havendo ocupado o púlpito! 
No tratado de John Bunyan intitulado "Suspiros do Inferno" (Sighs 
from Hell) há uma temível passagem que muitíssimas vezes ressoa em 
meus tímpanos: 
"Quantas almas foram destruídas por causa da ignorância de clérigos 
cegos? Pregação que não era melhor para as suas almas do que veneno de 
rato para o corpo. É de temer que muitos deles tenham que responder por 
cidades inteiras. Ah! amigo, digo-te, tu que te incumbiste de pregar ao povo, 
pode ser que não consigas sequer falar aquilo de que te incumbiste. Não te 
doerá ver toda a tua igreja ir atrás de você para o inferno? – e a clamar: "Isto 
devemos agradecer-te. Tiveste medo de falar-nos dos nossos pecados, para 
que acaso não continuássemos metendo comida suficiente na tua boca. Ó 
ente vil e maldito, que não te contentaste, guia cego como foste, em cair tu 
mesmo no fosso, mas também nos arrastaste contigo para o mesmo lugar!" 
Richard Baxter, em sua obra, Reformed Pastor, em meio a muitas 
outras coisas profundas, escreve como se segue: 
"Tenham cuidado consigo mesmos, para que não estejam vazios 
daquela graça salvadora de Deus que oferecem a outros, e não sejam 
estranhos àquela obra eficaz efetuada por aquele evangelho que pregam; e 
para não acontecer que, enquanto proclamam ao mundo a necessidade de 
um Salvador, os seus próprios corações O negligenciem', e lhes falte 
interesse por Ele e por Seus benefícios salvíficos. Tenham cuidado consigo 
mesmos, para que você não pereçam enquanto chamam a atenção de 
outros a que se cuidem para não perecerem, e para que vocês não morram 
de fome enquanto prepararam alimento para eles. Embora haja uma 
promessa aos que a muitos converteram à justiça, promessa de que 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 12
refulgirão como as estrelas (Dn. 12:3), é feita com a suposição de que eles 
mesmos foram guiados primeiro a ela. Promessas desse tipo são feitas 
coeteris paribus, et suppositis supponendis (com a união dos iguais e com 
as suposições que se devem fazer). Sua própria sinceridade na fé constituí a 
condição da sua glória considerada simplesmente, embora os seus grandes 
labores ministeriais sejam uma condição da promessa de maior glória a eles. 
"Muitos que advertiram a outros a fim de que não 'venham para este 
lugar de tormento', eles próprios se precipitaram para lá. Muito pregador que 
cem vezes conclamou os seus ouvintes a empregarem o máximo cuidado e 
diligência para escaparem ao inferno, lá está. Pode alguma pessoa razoável 
imaginar que Deus salvaria homens por oferecerem a salvação a outros, 
enquanto eles mesmos a recusaram, e por dizerem a outros as verdades 
que eles mesmos negligenciaram e das quais abusaram? Muito alfaiate que 
confecciona custosos trajes para outros, veste-se de andrajos; e muito 
cozinheiro mal lambe os dedos, apesar de ter preparado para outros os 
pratos mais caros. 
"Acreditem, irmãos, Deus nunca salvou ninguém por ser pregador, nem 
por ter sido pregador capaz; mas porque foi um homem justificado, 
santificado e, conseqüentemente, fiel no serviço do seu Mestre e Senhor. 
Portanto, tenham cuidado consigo mesmos primeiro, para que sejam aquilo 
que procuram persuadir outros a serem, creiam naquilo em que procuram 
diariamente persuadir outros a crerem, e tenham acolhido no seu próprio 
coração aquele Cristo e aquele Espírito Santo que oferecem a outros. 
Aquele que lhes ordenou que amem o próximo como a si mesmos, ordenou 
implicitamente que se amem a si próprios e não destruam nem a si mesmos 
nem aos outros". 
Meus irmãos, permitam que estas pesadas considerações produzam 
o devido efeito em vocês. Certamente não há necessidade de acrescentar 
nada mais. Deixem-me, porém, rogar-lhes que se examinem a si 
mesmos, e assim façam bom uso daquilo que lhes foi dirigido. 
Estabelecido o primeiro ponto da verdadeira religião, segue-se em 
importância para o ministro, em segundo lugar, que a sua piedade seja 
vigorosa. 
O ministro não deve se contentar em estar no mesmo nível dos 
soldados rasos das fileiras cristãs; tem que ser um crente amadurecido e 
adiantado, pois o ministério de Cristo tem sido com acerto denominado 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 13
"Sua escolha mais seleta, o eleito da Sua eleição, uma igreja extraída da 
Sua igreja". Se o ministro fosse chamado para uma posição comum e 
para um trabalho comum, talvez a graça comum pudesse satisfazê-lo, 
apesar de que mesmo então seria uma satisfação indolente. Sendo, 
porém, eleito para trabalhos extraordinários, e chamado para um lugar 
em que há perigos fora do comum, ele deve aspirar avidamente a posse 
daquela força superior que é única e adequada ao seu oficio. O pulso da 
sua religiosidade vital deve bater forte e com regularidade; os olhos da 
sua fé devem ser brilhantes; os pés da sua resolução devém ser firmes; as 
mãos da sua atividade devem ser ágeis; todo o seu ser interior deve estar 
no mais alto grau de sanidade. 
Dizem que os egípcios escolhiam os seus sacerdotes dentre os seus 
filósofos mais doutos, e depois os tinham em tão alta estima que dentre 
eles escolhiam os seus reis. Exigimos que os ministros de Deus sejam a 
nata de todos os que formam nos exércitos de Cristo. Homens tais que, 
se a nação quisesse reis, não poderia fazer melhor do que elevá-los ao 
trono. Os nossos homens de pequeno poder mental, muito tímidos, 
carnais e de personalidade mal equilibrada não prestam como candidatos 
ao púlpito. Há alguns trabalhos que jamais devemos confiar a inválidos 
ou deformados. Um homem pode não ser qualificado para trepar em 
altos edifícios. Seu cérebro pode ser fraco demais, e o trabalho em 
lugares altos pode colocá-lo em grande perigo. Faça-se tudo para mantê-
lo no chão e para achar-lhe uma ocupação em que um cérebro estável 
seja menos importante. 
Há irmãos que têm análogas deficiências espirituais. Não podem ser 
chamados para um serviço proeminente e elevado porque têm cabeça 
fraca. Se lhes fosse permitido obter um pouco de sucesso, ficariam 
intoxicados com a vaidade – vício comum entre os ministros, e, de todas 
as coisas, a que menos lhes convém, e a que com maior certeza lhes 
assegura a queda. Se como nação fôssemos chamados a defender as 
nossas casas e os nossos lares, não enviaríamos nossos meninos e 
meninas com espadas e armas de fogo a enfrentar o inimigo, tampouco a 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 14
igreja podeenviar todo noviço verboso ou zelote sem experiência a 
batalhar pela fé. O temor do Senhor há de ensinar sabedoria ao jovem, 
ou, do contrário, ser-lhe-á vedado o pastorado. A graça de Deus há de 
amadurecer o seu espírito, ou seria melhor que esperasse até ser-lhe dado 
poder do alto. 
O mais elevado caráter moral deve ser mantido com a máxima 
diligência. Muitos que são ótimos membros de igreja não são 
qualificados para exercer ofício na igreja. Tenho opiniões rígidas quanto 
a cristãos que caíram em pecado grosseiro. Regozijo-me de que possam 
ter se convertido de verdade, e que, com uma mistura de esperança e 
cautela, sejam recebidos à comunhão da igreja. Mas questiono, e 
questiono com seriedade, se um homem que pecou escandalosamente 
deve ser logo restaurado ao púlpito. 
Como observa John Angell James: 
"Quando um pregoeiro da justiça se detém no caminho dos pecadores, 
nunca deverá tornar a abrir os lábios na grande congregação, enquanto o 
seu arrependimento não for tão notório como o seu pecado". 
Que os que foram tosquiados pelos filhos de Amom esperem em 
Jericó até que as suas barbas cresçam. Muitas vezes isso tem sido usado 
como um insulto a jovens imberbes, a quem evidentemente não se 
aplica; é uma metáfora bem precisa referente a homens sem honra e sem 
caráter, seja qual for a sua idade. Lastimável! A barba da reputação uma 
vez raspada, dificilmente cresce de novo. A imoralidade praticada 
abertamente, na maioria dos casos, por mais profundo que seja o 
arrependimento, é um sinal fatal de que as graças ministeriais nunca 
estiveram no caráter desse homem. A mulher de César deve estar fora de 
qualquer suspeita, e é preciso que não corram fetos boatos sobre a 
inconsistência ministerial do passado, se não, será débil a esperança de 
uma valiosa prestação de serviço. Na igreja esses que caíram devem ser 
recebidos como penitentes, e no ministério poderão ser recebidos se 
Deus os colocar lá. Minha dúvida não é sobre isso, mas é se Deus 
realmente os colocou lá. E minha convicção é que devemos ser muito 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 15
lentos em ajudar a voltarem para o púlpito homens que, tendo sido 
provados uma vez, mostraram possuir pouquíssima graça para agüentar o 
teste crucial da vida ministerial. 
Para alguns serviços não escolhemos ninguém senão os fortes. E 
quando Deus nos chama para o labor ministerial, devemos esforçar-nos 
para obter graça para que sejamos fortalecidos com vistas a habilitar-nos 
para a nossa posição, e não sejamos simples novatos arrastados pelas 
tentações de Satanás, para prejuízo da igreja e para a nossa própria ruína. 
Temos que manter-nos equipados com toda a armadura de Deus, prontos 
para corajosas proezas não esperadas de outros. Para nós, a abnegação, a 
renúncia, a paciência, a perseverança, a resignação, têm que ser virtudes 
postas em prática todo dia, e quem é suficiente para estas coisas? Temos 
necessidade de viver bem perto de Deus, se queremos ser aprovados em 
nossa vocação. 
Recordem-se, como ministros, de que toda a sua vida, 
especialmente toda a sua vida pastoral, será afetada pelo vigor da sua 
piedade. Se o seu zelo se amortecer, vocês não orarão bem no púlpito, 
orarão pior no seio da família, e pior ainda a sós, no gabinete pastoral. 
Quando a sua alma se empobrece, os seus ouvintes, sem que saibam 
como e por que, acharão que as suas orações em público têm pouco 
sabor para eles. Sentirão a sua aridez possivelmente antes de vocês a 
perceberem. Em seguida, os seus discursos denunciarão o seu declínio. 
Poderão pronunciar palavras tão bem escolhidas e sentenças tão bem 
coordenadas como antes, mas haverá perceptível perda de poder 
espiritual. 
Poderão sacudir-se como noutros tempos, exatamente como 
aconteceu com Sansão, mas verão que a sua grande força ter-se-á 
retirado. Em sua comunhão diária com os da sua igreja, não se 
demorarão a notar a crescente decadência dos seus dons e graças. Olhos 
perspicazes verão antes de vocês os cabelos grisalhos aqui e ali. Basta 
que um homem seja atacado de uma enfermidade do coração para que 
todos os males o envolvam – o estômago, os pulmões, as entranhas, os 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 16
músculos e os nervos padecerão todos. Assim, basta que um homem 
fique com o coração enfraquecido nas coisas espirituais para que bem 
depressa a sua vida toda sinta a influência debilitante. 
Além disso, como resultado da sua decadência, cada um dos seus 
ouvintes sofrerá em maior ou menor grau. Os vigorosos dentre eles 
superarão a tendência depressiva, mas os mais fracos serão gravemente 
prejudicados. Acontece conosco e com os nossos ouvintes o que 
acontece com. os relógios de uso pessoal e com os relógios públicos. Se 
o nosso relógio não estiver certo, muito pouca gente, além de nós 
mesmos, sofrerá com o engano, mas se o do edifício dos Horse Guards, 
de Londres, ou o do Observatório de Greenwich, estiver errado, a metade 
de Londres ficará desorientada. Assim com o ministro. Ele é o relógio da 
comunidade. Muitos conferem a sua hora com ele e, se ele for incorreto, 
todos andarão erradamente, uns mais outros menos, e em grande medida 
ele terá que responder por todos os pecados que ocasiona. Não podemos 
agüentar sequer pensar nisso, meus irmãos. Não deve nos dar 
confortadora consideração nem por um momento, e, contudo, temos que 
dar-lhe atenção para proteger-nos contra esse mal. 
Devemos lembrar-nos também de que precisamos ter piedade 
deveras vigorosa porque o perigo que enfrentamos é muito maior do que 
o que os outros enfrentam. De modo geral, nenhuma posição é tão 
assaltada pelas tentações como o ministério da Palavra. A despeito da 
idéia popular de que a nossa vocação é um refúgio abrigado da tentação, 
a verdade é que os perigos que nos cercam são mais numerosos e mais 
insidiosos dos que cercam os cristãos em geral. A nossa posição pode ser 
um terreno vantajoso quanto à altura, mas essa altura é perigosa, e para 
muitos o ministério revelou-se uma rocha tarpeiana.* 
Se me perguntarem quais são essas tentações, talvez não dê tempo 
para particularizá-las, mas entre elas há as mais grosseiras e as mais 
refinadas. As mais grosseiras são tentações como a do desregramento à 
 
* Rochedo de onde eram precipitados os criminosos em Roma. Nota do tradutor. 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 17
mesa, a da adulação dos que possuem superabundância de bens no seio 
de um povo hospitaleiro, as tentações da carne, incessantes com os 
jovens solteiros, que se vêem nas alturas no meio de uma multidão de 
jovens admiradoras. Chega disto, porém. Sua observação logo lhes 
revelará mil laços, a menos que os seus olhos sejam cegos de fato. Além 
desses, há outros laços secretos, dos quais temos menos facilidade de 
escapar. E o pior destes é a tentação do ministerialismo – tendência de 
ler as nossas Bíblias como ministros, de orar como ministros, de aplicar-
nos a fazer tudo o que constitui a nossa religião, não como sendo nós 
mesmos, pessoalmente, mas só relativamente interessados naquilo tudo. 
Perder o caráter pessoal do arrependimento e da fé é sofrer uma perda 
real. "Homem nenhum", diz John Owen, "prega bem o seu sermão a 
outros se o não pregar primeiro ao seu próprio coração." 
Irmãos, é eminentemente difícil ater-nos a isso. O nosso oficio, em 
vez de ajudar a nossa vida piedosa, como alguns afirmam, torna-se um 
dos seus mais sérios empecilhos, devido à maldade da nossa natureza; 
pelo menos, eu penso assim. Como a gente esperneia e luta contra o 
oficialismo! Todavia, com que facilidade ele nos bloqueia, como uma 
vestimenta comprida que se enrosca nos pés do corredor e o impede de 
correr. Acautelem-se, caros irmãos, contra isso e contra todas as outras 
seduções que assediam a sua carreira; e, se vocês têm agido assim até 
agora, continuem vigilantes até á última hora da vida. 
Assinalamos apenas um dos perigos, mas, na verdade, são uma 
legião. O grande inimigo das almas esmera-se em não deixar pedrasem 
revirar no afã de arruinar o pregador. 
"Cuidem-se", diz Baxter, "porque o tentador fará a sua primeira e mais 
mordaz investida contra vocês. Se vocês forem os líderes contra ele, ele não 
os poupará nem um pouco além da medida da restrição que Deus lhe impõe. 
Ele sustenta contra vocês o máximo da sua maldade porque estão 
empenhados em causar-lhe o maior dano. Assim como odeia a Cristo mais 
que a qualquer de nós, porque Ele é o "comandante-em-chefe" e o "capitão 
da nossa salvação", e faz muito mais que o mundo inteiro contra o reino das 
trevas, assim põe mais atenção nos líderes subordinados a Cristo que aos 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 18
soldados rasos, por semelhante motivo, guardadas as devidas proporções. 
Ele sabe muito bem a derrota que poderá impor aos restantes, se os líderes 
caírem à vista deles. Por longo tempo ele tem usado esta forma de pelejar, 
"nem com pequenos, nem com grandes", relativamente falando mas dirige-
se especialmente aos grandes, conforme está escrito: 'Ferirei o pastor, e as 
ovelhas do rebanho se dispersarão'. E por este meio tem conseguido tal 
sucesso, que continuará a usá-lo enquanto puder. 
"Tenham cuidado, pois, irmãos, porquanto o inimigo os fita com um 
olhar especial. Vocês sofrerão as suas insinuações mais sutis, solicitações 
incessantes e assaltos violentos. Por mais sábios e instruídos que sejam, 
cuidem-se, para que ele não lhes sobrepuje o engenho. O diabo é mais 
douto que vocês, e contendor mais esperto; pode transfigurar-se em "anjo 
de luz" para enganar. Ele dominará vocês e levar-vos-á por onde quiser 
antes que se dêem conta; bancará ilusionista com vocês, sem ser percebido, 
e vos logrará, fazendo-vos perder a fé ou a inocência, e vocês nem saberão 
que a perderam; pelo contrário, fará com que creiam que ela se multiplicou 
ou cresceu, quando na verdade foi perdida. Vocês não enxergarão nem a 
vara nem o anzol, e muito menos o pescador sutil, enquanto ele oferece a 
sua isca. E as suas iscas serão tão adequadas ao temperamento e à 
disposição de vocês, que terá certeza de colher vantagem no vosso íntimo, 
fazendo com que os vossos princípios e inclinações vos traiam; e sempre 
que vos arruinar, fará de vocês instrumentos da vossa própria ruína. Oh, que 
vitória ele fica rememorando, se consegue tornar um ministro ocioso e infiel; 
se pode fazer um ministro cair na tentação da cobiça ou de um escândalo! 
Ele se ufanará contra a igreja. e dirá: 'Estes são os teus santos pregadores; 
vês qual é a virtude deles, e para onde ela os levará'. 
"Ele se ufanará contra o próprio Senhor Jesus Cristo, e dirá: 'São estes 
os teus campeões! Posso fazer com que os Teus principais servos Te 
desonrem; posso tornar infiéis os mordomos da Tua casa'. Se ele insultou 
tanto a Deus baseado numa falsa suspeita, e Lhe disse que podia levar Jó a 
blasfemar dEle na Sua lace (Jó 1:2), que faria se deveras prevalecesse 
contra nós? E finalmente insultará o mais que puder, achando que poderá 
levar vocês a serem falsos para com a sua grande incumbência, a desonrar 
a sua santa profissão, e a prestar grande serviço àquele que foi seu inimigo. 
Oh! não gratifiquem tanto a Satanás! Não deixem que faça tanta troça. Não 
deixem que os use – como os filisteus usaram Sansão – primeiro privando-
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 19
os da sua força; depois, arrancando-lhes os olhos; e fazendo-os, assim, 
objeto do triunfo e da zombaria dele". 
Ainda uma palavra. Temos que cultivar o mais alto grau de 
religiosidade autêntica porque o nosso trabalho exige isto 
imperiosamente. O labor do ministério cristão é executado na exata 
proporção do vigor da nossa natureza renovada. Nosso trabalho só é bem 
feito quando nós estamos bem. Como o trabalhador é, assim será o seu 
trabalho. Enfrentar os inimigos da verdade, defender os baluartes da fé, 
governar bem a casa de Deus, consolar todos os que choram, edificar os 
santos, orientar os que andam perplexos, tolerar os insolentes, conquistar 
almas e nutri-las – todas estas obras e outras mil não são para um João 
Fraco da Mente, nem para um José É Já Que Paro, mas estão reservadas 
para o Cristiano Coração Grande, que o Senhor fez forte para Si mesmo. 
Procurem, pois, obter forças daquele que é o Forte, e sabedoria daquele 
que é o Sábio – sim, busquem tudo do Deus de todos. 
Em terceiro lugar, que o ministro cuide para que o seu caráter 
pessoal se harmonize em todos os aspectos com o seu ministério. 
Já ouvimos todos a historia do homem que pregava tão bem e vivia 
tão mal que, quando estava no púlpito, toda gente dizia que ele não devia 
sair mais de lá, e quando estava fora dele, todos declaravam que ele não 
devia voltar a ocupá-lo. Que o Senhor nos livre da imitação de tal Janes. 
Que nunca sejamos sacerdotes de Deus junto ao altar e filhos de Belial 
fora das portas do tabernáculo. Ao contrário, como diz Nazianzeno sobre 
Basílio, "trovejemos em nossa doutrina e relampagueemos em nossa 
conversação". Não confiamos nas pessoas de duas caras e ninguém dará 
crédito àqueles cujos testemunhos verbais e práticos são contraditórios. 
Segundo o provérbio, as ações falam mais alto do que as palavras, assim 
uma vida má efetivamente abata a voz do mais eloqüente ministério. 
Afinal de cantas, a nossa mais veraz obra de edificação deve ser 
realizada com as nossas mãos; o nosso caráter tem que ser mais 
persuasivo do que o nosso falar. 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 20
Aqui vos advirto não somente sobre pecados de comissão, mas 
também sobre pecados de omissão. Muitos pregadores esquecem-se de 
servir a Deus quando estão fora do púlpito, sendo incoerentes em seu 
modo de viver. Diletos irmãos, detestem pensar em ser ministros tipo 
relógio, não vivendo pela graça presente no seu íntimo, mas agindo pela 
corda dada por influências passageiras; homens que somente são 
ministros quando têm que ser, quando são pressionados pelas horas de 
ministração, mas deixam de ser ministros quando descem a escada do 
púlpito. Os verdadeiros ministros são ministros sempre. Muitos 
pregadores são como aqueles brinquedos de areia que compramos para 
as nossas crianças; viramos a caixa de boca para baixo, e o pequeno 
acrobata volve-se e revolve-se até esvair-se a areia toda, e então ele 
pende imóvel. Assim há alguns que perseveram nas ministrações da 
verdade enquanto há alguma necessidade oficial do seu trabalho, mas, 
depois disso, sem pagamento, não há oração: se não há salário, não há 
sermão. 
É horrível ser ministro incoerente. De nosso Senhor se diz que foi 
semelhante a Moisés por esta razão, por que foi "profeta poderoso em 
obras e palavras". O homem de Deus deve imitar nisto o seu Mestre e 
Senhor. Deve ser poderoso tanto na palavra da sua doutrina como nos 
seus atos exemplares, e mais poderoso, se possível, no segundo caso. É 
notável que a única história da igreja que temos é esta: "Atos dos 
Apóstolos". O Espírito Santo não preservou todos os seus sermões. Eram 
muito bons, melhores do que jamais pregaremos, mas, apesar disso, o 
Espírito Santo Se interessou mais pelos "atos" dos apóstolos. Não temos 
livros de atas com o registro das resoluções dos apostoles. Quando temos 
nossas reuniões eclesiásticas, registramos as nossas atas e resoluções, 
mas o Espírito Santo faz constar mais os "atos". Os nossos atos devem 
ser tais que mereçam registro, pois registrados serão. Devemos viver 
como estando sob o mais direto olhar de Deus, e como na luz do grande 
dia da revelação de todas as coisas. 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 21
No ministro, a santidade é ao mesmo tempo a sua principal 
necessidade e o seu mais excelente ornamento. A simples excelência 
moral não basta; é preciso haver virtude mais elevada. Tem que haver 
um caráter consistente, mas este precisa ser ungido com o óleo santo da 
consagração, ou, do contrário, estará faltando aquilo que nos impregna 
do melhor aroma para Deus e para os seres humanos. O velho John 
Stoughton, em seu tratado intitulado The Preacher's Dignity and Duty (A 
Dignidadee o Dever do Pregador), insiste na santidade do ministro com 
declarações contundentes. "Se Uzá deve morrer por tocar na arca de 
Deus, e isso para segurá-la por estar prestes a cair; se devem morrer os 
homens de Bete-Semes porque olharam para dentro dela; se os próprios 
animais são ameaçados somente por aproximar-se do monte santo – 
então, que espécie de pessoas devem ser os que são aceitos para falar 
com Deus familiarmente, para "estar de pé diante dele", como o fazem os 
anjos, e "contemplar continuamente a sua face"? "Para levar a arca em 
seus ombros"; "para levar o seu nome perante os gentios"; numa palavra 
para ser Seus embaixadores? "A santidade convém à Tua casa, Senhor". 
E não seria ridículo imaginar que os vasos devem ser santos, as vestes 
devem ser santas, tudo deve ser santo, mas somente aquele sobre cujas 
vestimentas precisa estar escrito "santidade ao Senhor" pode deixar de 
ser santo? Não seria ridículo que as campainhas dos cavalos devem ter 
em si uma inscrição de santidade (Zac. 14:20); e as campainhas dos 
santos, isto é, as campainhas de Arão, fiquem sem santificar-se? 
Não, eles devem ser "lâmpadas que ardem e brilham", ou então a 
sua influência projetará alguma qualidade maligna; têm que "ser 
ruminantes e ter o casco dividido", ou serão imundos; precisam "manejar 
bem a palavra" e andar retamente na vida, juntando assim a vida ao 
saber. Se faltar santidade, os embaixadores desonrarão o país do qual 
procedem e o príncipe que os enviou. E este Amasa morto, esta doutrina 
não vitalizada pela vida genuína, jazendo no caminho, detém o povo de 
Deus, impedindo-o de prosseguir com entusiasmo em sua luta 
espiritual." 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 22
A vida do pregador deve ser um ímã para atrair homens a Cristo, e é 
triste de fato quando os retém longe dEle. A santidade dos ministros é 
um sonoro chamamento aos pecadores para que se arrependam, e, 
quando aliada à santa alegria, torna-se maravilhosamente atraente. 
Jeremy Taylor, em sua linguagem peculiar e rica, diz: "As pombas de 
Herodes nunca poderiam ter convidado tantos estranhos para os seus 
pombais, se estes não tivessem sido lambuzados com o bálsamo de 
Gileade. Mas, dizia Didymus, "faça os seus pombos cheirarem 
agradavelmente, e eles atrairão bandos completos"; e se a sua vida for 
excelente, se as suas virtudes forem como um ungüento precioso, logo 
você fará os que estão a seu cargo correrem "in odorem unguentorum", 
atrás das suas precisas fragrâncias". Mas você precisa ser excelente, não 
"tanquam unus de populo", mas "tanquam hamo Dei"; você deve ser um 
homem de Deus, não segundo a maneira comum dos homens, mas 
"segundo o coração de Deus". E os homens se empenharão para ser 
semelhantes a você, se você for semelhante a Deus. Mas quando você 
fica parado à porta da virtude, apenas para manter fora o pecado, não 
introduzirá ninguém no aprisco de Cristo, exceto aqueles impelidos pelo 
temor. "Ad majorem Dei gloriam", "Fazer o que mais glorifique a Deus", 
esta é a linha pela qual você deve andar. Portanto, não ir além daquilo 
que todos os homens fazem por obrigação, é servilismo, não atingindo a 
afeição de filhos. Muito menos poderão ser país espirituais os que não 
chegam a igualar-se aos filhos de Deus. Pois um farol obscuro, 
conquanto haja fraca luz por um lado, mal iluminará a um, e muito 
menos conduzirá uma multidão, nem atrairá muitos seguidores com o 
brilho da sua chama". 
Outro teólogo episcopal igualmente admirável disse com acerto e 
com energia: 
"A estrela que guiou os magos a Cristo, e a coluna de fogo que 
conduziu os filhos de Israel a Canaã, não brilharam apenas, mas foram 
adiante deles (Mt. 2:9; Êx. 13:21). A voz de Jacó fará pouca coisa boa, se as 
mãos forem de Esaú. Na lei, ninguém que tivesse alguma mancha poderia 
oferecer as oblações ao Senhor (Lv. 21:17-20); por meio dessas coisas, o 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 23
Senhor nos ensina quais dons e graças devem existir em Seus ministros. O 
sacerdote devia ter em suas vestes campainhas e romãs, umas figurando 
doutrina sã, outras simbolizando vida frutífera (Êx. 28:33-34). O Senhor será 
santificado naqueles que andam junto dEle (Is. 52:111; pois os pecados dos 
sacerdotes levam o povo a aborrecer as ofertas ao Senhor (1 Sm. 2:17). 
Suas vidas ímpias lançam vergonha sobre a sua doutrina. Passionem Christi 
annunciant profitendo, male agendo exhonorant, como diz Agostinho – com 
a sua doutrina edificam, e com as suas vidas destroem. Concluo este ponto 
com a salutar passagem de Hierom ad Nepolianum. Não permitas, diz ele, 
que as tuas obras envergonhem a tua doutrina, para que os que te ouvem 
na igreja não te respondam tacitamente: Por que não praticas o que ensinas 
a outros? É bom demais o mestre que persuade outros a jejuarem, estando 
ele de barriga cheia. Um ladrão pode denunciar a cobiça. Sacerdotis Christi 
os, mens, manusque concordent. A língua, o coração e a mão do sacerdote 
de Cristo devem concordar entre si". 
Muito apropriada também é a linguagem de Thomas Playfere em 
sua obra: "Fale bem, Aja bem". "Havia um ridículo ator na cidade de 
Esmirna que, quando pronunciava: Ó coelum! Ó céu! apontava com o 
dedo para o chão; o que vendo Polemo, o principal vulto da localidade, 
não pôde ficar ali por mais tempo e saiu muito irritado, dizendo: "Este 
tolo cometeu solecismo com a mão, e falou falso latim com o dedo". 
Assim são os que ensinam bem e agem mal. Esses, apesar de terem o céu 
na ponta da língua, têm a terra na ponta do dedo. Os tais não só falam 
falso latim com a língua, mas falam falsa teologia com as mãos. Esses 
vivem em desacordo com o que pregam. Mas Aquele que tem o Seu 
trono no céu rir-se-á deles com desdém, e os varará expulsando-os do 
palco, se não corrigirem o seu procedimento. Mesmo nas pequenas 
coisas o ministro deve cuidar que sua vida esteja em harmonia com o seu 
ministério. 
Deve ter especialmente o cuidado de nunca faltar com a palavra. 
Isto deve ser levado ao escrúpulo extremo. Não conseguiremos exagerar 
nisto. A verdade não somente deve estar em nós; deve também irradiar-
se de nós. Em Londres, um célebre doutor em teologia que agora está no 
céu, não tenho dúvida – homem excelente e muito piedoso comunicou 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 24
num domingo que tencionava visitar todos os membros da sua igreja, e 
disse que, a fim de poder informá-los e visitá-los e suas famílias uma vez 
por ano, deveria seguir a ordem na lista de "bancos cativos". 
Uma pessoa que conheço bem, nesse tempo um homem pobre, 
apreciou muito a idéia de que o ministro ia à sua casa para vê-lo, e, uma 
ou duas semanas antes da ocasião que ele imaginava que seria a sua vez, 
sua mulher esmerou-se muito em limpar a lareira e em manter a casa 
bem arrumada, e o homem corria logo para casa ao sair do serviço todas 
as tardes, esperando encontrar lá o doutor. Isto continuou acontecendo 
durante considerável tempo. Ou o teólogo esqueceu a promessa, ou foi-
se cansando de levá-la a efeito, ou por alguma outra razão nunca foi à 
casa daquele homem pobre. O resultado foi este: o homem perdeu a 
confiança em todos os pregadores, e dizia: "Eles cuidam dos ricos, mas 
não cuidam de nós, os pobres". 
Por muitos anos aquele homem não se firmou em nenhum local de 
culto, até que um dia caiu no Exeter Hall e durante anos foi meu ouvinte, 
até que a Providência o removeu. Não foi tarefa pequena fazê-lo crer que 
todo ministro podia ser sincero e amar imparcialmente ricos e pobres. 
Tratemos de evitar esse mal, dando cuidadosa atenção à nossa palavra 
pessoal. Devemos lembrar-nos de que somos muito observados. 
Dificilmente os homens têm o descaramento de transgredir a leí à plena 
vista dos seus semelhantes; todavia, nós vivemos e nos movemos nessa 
publicidade. Milhares de olhos de águias nos vigiam. Procedamos de 
modo que nunca precisemos ter preocupação sobre se todo o céu, terra e 
inferno alongam a lista de espectadores. A nossa posição pública é 
grande ganho, caso sejamos habilitados a mostraros frutos do Espírito 
Santo em nossas vidas. Tenham cuidado, irmãos, para não suceder que 
joguem fora a vantagem. 
Meus caros irmãos, quando lhes dizemos que cuidem bem da sua 
vida, queremos dizer que sejam cuidadosos até com as minudências do 
seu caráter. Evitem as pequenas dívidas, a impontualidade, fazer 
mexericos, dar apelidos, contendas minúsculas, e todos aqueles pequenos 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 25
males que enchem de moscas o ungüento. As auto-indulgências que têm 
rebaixado a reputação de muitos, não podemos tolerar. As familiaridades 
que têm lançado suspeita sobre outros, temos que evitar castamente. Da 
grosseria que tem tornado alguns odiosos, e das futilidades que tornaram 
muitos desprezíveis, temos que nos descartar. Não podemos permitir-nos 
correr grandes riscos por causa de pequenas coisas. Tenhamos o cuidado 
de conduzir-nos de acordo com a regra: "Não dando nós escândalo em 
coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado". 
Com isto não se quer dizer que devemos manter-nos presos a 
quaisquer caprichos da sociedade em que nos movemos. Em regra, odeio 
as modas da sociedade e detesto os convencionalismos, e se eu achasse 
que a melhor atitude seria pisar numa regra de etiqueta, sentir-me-ia 
gratificado ao fazê-lo. Não; somos homens, não escravos; e não devemos 
renunciar à nossa liberdade varonil para sermos lacaios dos que fingem 
gentileza ou alardeiam polidez. Entretanto, irmãos, de tudo que se 
aproxima da grosseria que cheira a pecado temos que fugir como 
fugiríamos de uma víbora. Para nós as regras de Chesterfield são 
ridículas; não, porém, o exemplo de Cristo. Ele nunca foi grosseiro, 
baixo, descortês ou indelicado. 
Mesmo em vossas recreações, lembrem-se de que são ministros. 
Quando estão fora da mira, ainda continuam sendo oficiais do exército 
de Cristo, e, como tais, não se rebaixem. Mas, se devemos observar com 
cautela as coisas mínimas, quanto cuidado devemos ter nas grandes 
questões da moralidade, da honestidade e da integridade! Nestas é 
preciso que o ministro não falhe. Sua vida particular deve estar sempre 
em harmonia com o seu ministério, ou, do contrário, o seu dia se porá 
com ele, e quanto mais cedo se afastar, melhor, pois a sua permanência 
nesse ofício servirá somente para desonrar a causa de Deus e ocasionar a 
ruína de si mesmo, 
 
 
 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 26
O CHAMADO PARA O MINISTÉRIO 
 
Todo cristão capaz de disseminar o evangelho tem direito de fazê-
lo. Ainda mais, não só tem direito, mas é seu dever fazê-lo enquanto 
viver (Ap. 22:17). A propagação do evangelho foi entregue, não a uns 
poucos, mas a todos os discípulos do Senhor Jesus Cristo. Segundo a 
medida da graça a ele confiada pelo Espírito Santo, cada discípulo tem a 
obrigação de ministrar em seu tempo e geração, à igreja e entre os 
incrédulos. Na verdade, esta questão vai além dos varões, incluindo 
todos os elementos do outro sexo. Sejam os crentes homens ou mulheres, 
quando capacitados pela graça divina, estão todos obrigados a esforçar-
se ao máximo para divulgar o conhecimento do Senhor Jesus Cristo. 
Todavia, o nosso serviço não assume necessariamente a forma 
particular da pregação. Seguramente, em alguns casos é preciso que não, 
como por exemplo no caso das mulheres, cujo ensino público é 
expressamente proibido: 1 Tm. 2:12; 1 Co. 14:34. Mas, se temos 
capacidade para pregar, é mister exercitá-la. Contudo, nesta preleção não 
me refiro a prédicas ocasionais, nem a quaisquer outras formas de 
ministério comuns a todos os santos, mas ao trabalho e ofício do 
episcopado, em que se incluem o ensino e o governo da igreja, exigindo 
a dedicação da vida inteira do homem à obra espiritual, e que ele se 
separe de todas as carreiras seculares (2 Tm. 2:4). Trabalho e oficio que 
autorizam o obreiro a contar totalmente com a igreja de Deus para o 
suprimento das suas necessidades temporais, visto que ele dá todo o seu 
tempo, energia e esforços para o bem daqueles que estão sob a sua 
direção (1 Co. 9:11; 1 Tm. 5:18). 
A um homem assim Pedro se dirige com estas palavras: 
"Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele" 
(1 Ped. 5:2). Ora, nem todos de uma igreja podem superintender ou 
governar; alguns têm que ser dirigidos ou governados. E cremos que o 
Espírito Santo designa na igreja de Deus alguns para agirem como 
superintendentes, e outros para se submeterem à vigilância de outros, 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 27
para o seu próprio bem. Nem todos são chamados para trabalhar na 
palavra e na doutrina, ou para serem presbíteros, ou para exercerem o 
cargo de bispo. Tampouco devem todos aspirar a essas obras, uma vez 
que em parte nenhuma os dons necessários são prometidos a todos. Mas 
aqueles que, como o apóstolo, crêem que receberam "este ministério" (2 
Co. 4:1), devem dedicar-se a essas importantes ocupações. Homem 
nenhum deve intrometer-se no rebanho como pastor; deve ter os olhos 
postos no Sumo Pastor, e esperar Seu sinal e Sua ordem. Antes que um 
homem assuma a posição de embaixador de Deus, deve esperar pelo 
chamamento do alto. Se não o fizer, mas se se lançar às pressas ao cargo 
sagrado, o Senhor dirá dele e de outros semelhantes: "Eu não os enviei, 
nem lhes dei ordem; e não trouxeram proveito nenhum a este povo diz o 
Senhor" (Jr. 23:32). 
Consultando o Velho Testamento, vocês verão os mensageiros de 
Deus, da velha dispensação, reivindicando comissionamento da parte de 
Jeová. Isaías conta-nos que um dos serafins tocou os seus lábios com 
uma brasa viva tirada do altar, e que a voz do Senhor lhe disse: "A quem 
enviarei, e quem há de ir por nós?" (Isa. 6:8). Então disse o profeta: 
"Eis-me aqui, envia-me a mim". Não se apressou antes de ter sido 
visitado dessa maneira tão especial pelo Senhor, e de ser por Ele 
qualificado para a sua missão. "Como pregarão, se não forem 
enviados?", são palavras que ainda não tinham sido enunciadas, mas o 
seu solene significado era bem compreendido. 
Jeremias narra em detalhe a sua vocação no primeiro capítulo do 
seu livro: 
"Assim veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Antes que te 
formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; 
às nações te dei por profeta. Então disse eu: Ah Senhor Jeová! Eis que não 
sei falar; porque sou uma criança. Mas o Senhor me disse: Não digas: eu 
sou uma criança; porque aonde quer que eu te enviar, irás; e tudo quanto te 
mandar dirás. Não temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar, 
diz o Senhor. E estendeu o Senhor a sua mão, e tocou-me na boca; e disse-
me o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca. Olha, ponho-te 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 28
neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para 
derribares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e 
para plantares" (Jr. 1:4-10). 
Diferindo em sua forma externa, mas com o mesmo propósito, foi a 
comissão de Ezequiel. É como se segue, em suas palavras: 
"E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo. Então 
entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o 
que me falava. E disse-me: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, 
às nações rebeldes que se rebelaram contra mim, até este mesmo dia" (Ez. 
2:1.3). "Depois me disse: Filho do homem, come o que achares; come este 
rolo, e vai, fala à casa de Israel. Então abri a minha boca, e me deu a comer 
o rolo. E disse-me: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre, e enche as 
tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Então o comi, e era na minha boca 
doce como o mel. E disse-me: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel, 
e dize-lhes as minhas palavras" (Ez. 3:1-4). 
A vocação de Daniel para profetizar, conquanto não registrada, é 
fartamente atestada pelas visões a ele outorgadas, e pelo grandíssimo 
favor que desfrutava da parte do Senhor, quer nas suas meditações 
solitárias, quer nos atos públicos. 
Não há necessidade de passar em revista todosos outros profetas, 
pois todos se arrogavam falar com a autoridade do "assim diz o Senhor". 
Na presente dispensação, o sacerdócio é comum a todos os santos. Mas, 
profetizar, ou fazer aquilo que se lhe assemelha, a saber, ser movido pelo 
Espírito Santo para entregar-se totalmente à proclamação do evangelho, 
é, na verdade, dom e vocação de apenas um número relativamente 
pequeno. E certamente estes precisam estar tão seguros da veracidade da 
sua posição como os profetas estavam da sua. E mais, como podem 
justificar o seu ministério, senão por um chamamento semelhante? 
Tampouco ninguém imagine que essas vocações são simples ilusão, 
e que em nossa época ninguém é separado para a peculiar obra de ensino 
e direção da igreja, pois os próprios nomes dados no Novo Testamento 
aos ministros implicam em uma prévia vocação para a sua obra. Diz o 
apóstolo: "De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se 
Deus por nós rogasse". Não é fato, porém, que a própria alma do oficio 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 29
de embaixador repousa na nomeação feita pelo governo representado? 
Um embaixador não enviado seria objeto de riso. Homens que ousam 
declarar-se embaixadores de Cristo precisam compreender mais 
profundamente que o Senhor lhes "entregou" a palavra da reconciliação 
(2 Co. 5:18-19). Se se disser que isto se restringiu aos apóstolos, 
respondo que a epístola foi escrita, não só em nome de Paulo, mas 
também de Timóteo, e daí incluí outros ministérios além do apostolado. 
Na primeira epístola aos Coríntios lemos: "Que os homens nos (nos aqui 
significando Paulo e Sóstenes, 1 Co. 1:1) considerem como ministros de 
Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus" (1 Co. 4:1). Certamente o 
despenseiro deve considerar o seu oficio como da parte do Senhor. Não 
pode ser despenseiro simplesmente porque o decide ser, ou porque 
outros o consideram tal. Se a nós mesmos nos elegêssemos despenseiros 
do Marquês de Westminster e começássemos a tratar da propriedade 
daquele nobre, imediatamente o erro ser-nos-ia lançado em rosto da 
maneira mais convincente. É evidente que precisa haver autorização 
antes de alguém poder tornar-se legítimo bispo, "despenseiro da casa de 
Deus" (Tt. 1:7). 
O título apocalíptico de anjo (Ap. 2:1) significa mensageiro; e 
como os homens hão de ser arautos de Cristo, senão por Sua eleição e 
ordenação? Se a referência da palavra anjo ao ministro for contestada, 
gostaríamos, que fosse demonstrado que ela se relaciona com qualquer 
outra pessoa. A quem da igreja o Espírito escreveria como representante 
dela, senão a alguém que ocupava posição análogo à do oficial 
presidente? Tito recebeu a incumbência de dar prova cabal do seu 
ministério; havia certamente algo que provar. Há quem seja "vaso para 
honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a 
boa obra" (2 Tm. 2:21). Não se deve recusar ao Senhor a escolha dos 
vasos que usa; Ele sempre dirá de certos homens o que disse de Saulo de 
Tarso: "Este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome 
diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel" (At. 9:15). 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 30
Quando o nosso Senhor subiu às alturas deu dons aos homens, e é 
digno de nota que estes dons foram homens separados para obras 
diversas. "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e 
outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores" (Ef. 4:11); 
disso fica evidente que certos indivíduos são, como resultado da 
ascensão do Senhor, dados às igrejas como pastores; dados por Deus, e, 
conseqüentemente, não se elevam a si mesmos a essa posição. Irmãos, 
espero em que um dia possam falar do "rebanho sobre que o Espírito 
Santo" os constituiu bispos (At. 20:28), e oro no sentido de que cada um 
de vocês possa dizer com o apóstolo dos gentios, que o seu ministério 
não é da parte dos homens, nem por homem algum, mas o recebeu do 
Senhor (Gl. l :1). Oxalá se cumpra em vocês aquela antiga promessa: "E 
vos darei pastores segundo o meu coração" (Jr. 3:15). "E levantarei sobre 
elas pastores que as apascentem" (Jr. 23:4) Que o Senhor mesmo cumpra 
em suas pessoas a Sua declaração: "Ó Jerusalém! sobre os teus muros 
pus guardas, que todo o dia e toda a noite de contínuo se não calarão". 
Oxalá vocês possam apartar o precioso do vil e assim ser como a boca de 
Deus (Jr. 15:19). Oxalá o Senhor manifeste por intermédio de vocês o 
aroma do conhecimento de Jesus em todo lugar, e os faça "o bom cheiro 
de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem" (2 Co. 2:15). Tendo 
um inapreciável tesouro em vasos de barro, que a excelência do poder 
divino pouse sobre vocês, e assim, glorifiquem a Deus e também se 
livrem do sangue de todos os homens. Como o Senhor Jesus subiu ao 
monte e chamou os que quis, e depois os mandou a pregar (Mc. 3:13), 
assim também que Ele vos escolha – a vocês chamando-vos para cima, 
para a comunhão com Ele, e vos envie como Seus servos escolhidos para 
bênção da igreja e do mundo. 
Como pode o jovem saber se é vocacionado ou não? É uma 
indagação ponderável, e desejo tratá-la mui solenemente. Oh, a divina 
orientação para fazê-lo! O fato de que centenas perderam o rumo e 
tropeçaram num púlpito, está patenteado tristemente nos ministérios 
infrutíferos e nas igrejas decadentes que nos cercam. Errar na vocação é 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 31
terrível calamidade para o homem, e, para a igreja sobre a qual ele se 
impõe, seu erro envolve aflição das mais dolorosas. Seria um curioso e 
penoso tema para reflexão – a freqüência com que homens dotados de 
razão enganam-se quanto à finalidade da sua existência e miram coisas 
que nunca deveriam ter buscado, O escritor que redigiu os seguintes 
versos por certo estava com os olhos postos em muitos púlpitos 
ocupados indevidamente: 
Mostrai ó sábios, se podeis, 
entre animais de toda espécie 
e condição, tamanho e classe, 
desde elefantes a mosquitos, 
um ser que tanto erre nos planos, 
e tantas vezes, como o homem. 
Cada animal quer o bem próprio 
– busca prazer, ração, repouso, 
que a natureza indica e mostra, 
sem nunca errar na escolha feita. 
Só o homem falha, embora tenha razão acima dos demais. 
 
Descei a exemplos e provai: 
O boi jamais tenta voar, 
não deixa os pastos na campina 
nem com os peixes sonda as águas. 
Dos animais, só o homem age oposto à sua natureza. 
 
Quando penso no prejuízo, que por pouco não é infinito, que pode 
resultar do erro quanto à nossa vocação para o pastorado cristão, 
domina-me o temor de que algum de nós tenha sido negligente no exame 
de suas credenciais. Preferiria que vivêssemos em dúvida e nos 
examinássemos muitíssimas vezes, do que tornarmos empecilhos no 
ministério. Não faltam numerosos métodos pelos quais o homem pode 
testar sua vocação para o ministério, se ardorosamente o quiser fazer. É-
lhe imperativo que não entre no ministério enquanto não fizer profunda 
sondagem e prova de si próprio quanto a este ponto. Estando seguro da 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 32
sua salvação pessoal, deve investigar quanto à questão subseqüente da 
sua vocação para o ofício; a primeira é-lhe vital como cristão, e a 
segunda lhe é igualmente vital como pastor. Ser pastor sem vocação é 
como ser membro professo e batizado sem conversão. Nos dois casos há 
um nome, e nada mais. 
1. O primeiro sinal da vocação celeste é um desejo intenso e 
absorvente de realizar a obra. Para se constatar um verdadeiro 
chamamento para o ministério é preciso que haja uma irresistível, 
insopitável, ardente e violenta sede de contar aos outros o que Deus fez 
por nossas almas. Que tal se eu apelidar isso de uma espécie de ternura, 
como a que os pássaros têm pela criação dos seus filhotes quando chega 
a estação própria; quando a ave mãe está disposta a morrer, antes de 
abandonar o ninho. 
Alguém que conheceu Alleine intimamente disse que ele tinha 
infinita e insaciável avidez pela conversão de almas". Quando pôde ter 
participação societária na universidade em queestava, preferiu uma 
capelania, porque "o inspirava uma impaciência por ocupar-se 
diretamente na obra ministerial". "Não entre no ministério se puder 
passar sem ele", foi o conselho profundamente sábio de um teólogo a 
alguém que procurou a sua opinião. Se alguém neste recinto puder ficar 
satisfeito sendo redator de jornal, merceeiro, fazendeiro, médico, 
advogado, senador ou reí, em nome do céu e da terra, siga o seu 
caminho. Não é homem em quem habita o Espírito de Deus em Sua 
plenitude, pois o homem assim revestido da plenitude de Deus ficaria 
inteiramente enfadado com qualquer carreira que não aquela pela qual o 
âmago da sua alma palpita. 
Por outro lado, se você puder dizer que nem por toda a riqueza da 
Índia poderia ou ousaria esposar qualquer outra carreira, a qual o 
apartasse da pregação do evangelho de Jesus Cristo, fique certo então 
que se noutras coisas o exame for igualmente satisfatório, você tem os 
sinais do apostolado. Devemos estar convictos que a desonra virá sobre 
nós se não pregarmos o evangelho. A Palavra de Deus deve ser como 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 33
fogo em nossos ossos, do contrário, se nos aventurarmos no ministério, 
seremos infelizes nisso, seremos incapazes de suportar as diversas 
formas de abnegação que lhe são próprias, e prestaremos pouco serviço 
aqueles aos quais ministramos. Falo de formas de abnegação, e digo 
bem, pois o trabalho do verdadeiro pastor está repleto delas, e, se não 
amar a sua vocação, logo sucumbirá ou desistirá da luta, ou prosseguirá 
descontente, sob o peso de uma monotonia tão fastidiosa como a de um 
cavalo cego girando um moinho. 
"Na força do amor há consolação 
que torna suportável uma coisa 
que a qualquer outro rompe o coração." 
Cingidos desse amor, vocês serão intrépidos; despidos desse cinto 
mais que mágico da vocação irresistível, consumir-se-ão na desventura. 
Este desejo deve resultar de reflexão. Não deve ser um impulso 
repentino desajudado por uma ponderação ansiosa. Deve ser o resultado 
do nosso coração em seus melhores momentos, o objeto de nossas 
reverentes aspirações, o assunto de nossas mais ferventes orações. Deve 
continuar conosco quando tentadoras ofertas de riqueza e comodidade 
entrarem em conflito com ele, e deve permanecer como uma resolução 
serena e bem pensada depois de tudo ter sido avaliado em suas 
proporções certas, e o preço muito bem calculado. 
Quando morava com meu avô no campo, na meninice, vi um grupo 
de caçadores, com seus casacos vermelhos, cavalgando pelos campos 
atrás de uma raposa. Foi uma delícia para mim! Meu pequeno coração 
excitou-se; senti-me disposto a seguir os cães de caça, saltando barreiras 
e cruzando valas. Sempre tive gosto natural por essa espécie de 
atividade, e, na minha infância, quando me perguntavam o que eu queria 
ser, costumava dizer que ia ser caçador. Bela profissão, na verdade! 
Muitos jovens têm a mesma idéia de serem clérigos, como eu de ser 
caçador – simples noção infantil, de que gostariam do casaco e do toque 
das cornetas; da honra, do respeito e da tranqüilidade; e talvez sejam 
bastante tolos para pensar – gostariam das riquezas do ministério (só 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 34
podem ser ignorantes, se buscam riqueza com relação ao ministério 
evangélico). O fascínio exercido pelo ofício de pregador é muito grande 
para as mentes fracas, razão por que energicamente advirto a todos os 
jovens a não confundirem fantasia com inspiração, e preferência infantil 
com vocação do Espírito Santo. 
Notem bem, o desejo de que falei deve ser totalmente 
desinteressado. Se um homem perceber, depois do mais severo exame de 
si próprio, qualquer outro motivo que a glória de Deus e o bem das almas 
em sua busca do episcopado, melhor será que se afaste dele de uma vez, 
pois o Senhor aborrece a entrada de compradores e vendedores em Seu 
templo. A introdução de qualquer coisa que cheire a mercenário, mesmo 
no menor grau, será como um inseto no ungüento, estragando-o de todo. 
Esse desejo deve ser tal que permaneça conosco, uma paixão que 
agüente o teste da provação, um anelo "do qual nos seja completamente 
impossível fugir, ainda que o tentemos; desejo, na verdade, que se torna 
cada vez mais intenso conforme os anos passem, até tornar-se um anseio, 
uma anelante aspiração, uma consumidora fome de proclamar a Palavra. 
Esse desejo intenso é uma coisa tão nobre e tão bela que, toda vez que o 
percebo inflamar-se no peito de algum jovem, sempre me contenho, não 
me apressando a desanimá-lo, mesmo que tenha dúvidas quanto à sua 
capacidade. Talvez seja necessário, por razões que lhes serão dadas mais 
adiante, sufocar as chamas, mas isto deve ser feito com relutância e com 
sabedoria. Tenho tão profundo respeito por este "fogo nos ossos" que, se 
eu mesmo não o sentisse, teria que abandonar de uma vez o ministério. 
Se vocês não sentem o calor sagrado, rogo-lhes que voltem para casa e 
sirvam a Deus em suas respectivas esferas. Mas se com certeza, as brasas 
de zimbro chamejam por dento, não as apaguem, a menos que, de fato, 
outras considerações de grande importância lhes provem que o desejo 
que têm não é fogo de origem celestial. 
 
2. Em segundo lugar, em combinação com o desejo ardente de ser 
pastor, é preciso que haja aptidão para ensinar e certa medida das 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 35
outras qualidades necessárias ao oficio de instrutor público. Para provar 
sua vocação o homem precisa testá-la com êxito. Não pretendo que na 
primeira vez que um homem se levantar para falar, pregue tão bem como 
Robert Hall em seus últimos tempos. Se a sua pregação não for pior do 
que o grande homem fez no início da sua careira, não deve ser 
condenado. 
Vocês sabem que Robert Hall fracassou completamente três vezes, 
e clamava: "Se isto não me humilhar, nada mais me humilhará". Alguns 
dos mais nobres oradores não foram dos mais fluentes nos seus primeiros 
tempos. Mesmo Cícero no início padecia de voz fraca e dificuldade de 
elocução. Contudo, ninguém deve considerar-se chamado para pregar 
enquanto não provar que pode falar em público. Claro que Deus não 
criou o hipopótamo para voar, e se o leviatã tivesse forte desejo de subir 
aos ares com a calandra, evidentemente seria uma inspiração insensata, 
visto que não é dotado de asas. Se um homem for vocacionado para 
pregar, será dotado de capacidade em algum grau para falar, capacidade 
que ele cultivará e desenvolverá. Se o dom de elocução não existir no 
início em alguma medida, não é provável que venha a desenvolver-se. 
Ouvi falar de um cavalheiro que tinha o mais intenso desejo de 
pregar, e tanto insistiu com o seu pastor que, depois de múltiplas recusas, 
conseguiu licença para pregar um sermão de prova. Essa oportunidade 
foi o fim da sua importunação, pois, depois de anunciar o texto, viu-se 
privado de todas as idéias menos uma, que ele transmitiu sentidamente, e 
em seguida desceu da tribuna: "Meus irmãos", disse ele, "se algum de 
vocês pensa que é fácil pregar, aconselho-o a vir até aqui para perder 
toda a vaidade." 
A prova a que submetem as suas capacidades revelará a sua 
deficiência, se vocês não tiverem a aptidão necessária. Não conheço 
nada melhor. Devemos dar-nos a nós próprios uma boa prova nesta 
questão, ou não poderemos saber com certeza se Deus nos chamou ou 
não; e durante a prova, devemos perguntar-nos a nós mesmos muitas 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 36
vezes se, de modo geral, podemos alimentar a esperança de edificar 
outros com os nossos discursos. 
Contudo, devemos fazer mais do que submeter isso à nossa 
consciência e ao nosso julgamento, pois somos juízes ineptos. Certa 
classe de irmãos tem grande facilidade para descobrir que tem sido 
maravilhosa e divinamente auxiliada em suas declamações. Eu invejaria 
a gloriosa liberdade e a confiança própria desses irmãos, se houvesse 
algum fundamento para isso. Pois, lastimavelmente, com muita 
freqüência tenho que deplorar e lamentar minha falta de sucesso e meus 
fiascos como orador.Não devemos confiar muito em nossa própria 
opinião, mas se pode aprender muito de pessoas judiciosas e de índole 
espiritual. De modo nenhum é isto uma leí que deva obrigar a todas as 
pessoas, mas ainda assim é um bom e antigo costume em muitas das 
nossas igrejas rurais, o jovem que aspira ao ministério pregar perante a 
igreja. Dificilmente é um ensaio agradável ao jovem aspirante, e, em 
muitos casos, mal chega a ser um exercício edificante para o povo; 
todavia, pode dar provas de que é um recurso disciplinar dos mais 
salutares, e poupa a exposição pública da ignorância excessiva. O livro 
de atas da igreja de Arnsby contém o seguinte registro: 
Breve relato do chamamento de Robert Hall Junior para a obra do 
ministério, pela Igreja de Arnsby, 13 de agosto de 1780. 
"O referido Robert Hall nasceu em Arnsby em 2 de maio de 1764; 
desde pequeno foi, não somente sério e dado à oração em secreto antes 
mesmo de poder falar com clareza, mas também foi sempre totalmente 
inclinado à obra do ministério. Começou a compor hinos antes de completar 
sete anos de idade e neles revelou sinais de piedade, de pensamento 
profundo e de gênio. Entre oito e nove anos fez vários hinos, que foram 
admirados por muitos, um dos quais foi publicado na Revista do Evangelho 
(Gospel Magazine) aproximadamente na mesma época. Escreveu expondo 
os seus pensamentos sobre vários assuntos religiosos e sobre porções 
seletas da Escritura. Tinha também intensa propensão para os estudos, e 
fez tanto progresso, que o mestre-escola provinciano de quem ele era aluno 
não pode instruí-lo mais. Então foi enviado à escola-internato de 
Northampton, ficando aos cuidados do Rev. John Ryland, onde passou 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 37
cerca de um ano e meio, e alcançou grande progresso em latim e grego. Em 
outubro de 1778, foi para a Academia de Bristol, sob os cuidados do Rev. 
Evans; e, em 13 de agosto de 1780, foi comissionado ao ministério por esta 
igreja, estando ele com dezesseis anos e três meses de idade. A maneira 
pela qual a igreja chegou a ficar satisfeita com a capacidade dele para a 
grande obra foi por ter ele pregado, quando lhe tocou a vez, nas reuniões de 
conferências, sobre várias porções da Escritura; nas quais, e na oração, 
havia participado por quase quatro anos antes; e, quando em casa, tendo 
pregado a pedido dos irmãos muitas vezes nas manhãs do dia do senhor, 
para grande satisfação deles. Portanto, eles pediram calorosamente e 
unânimes que ele fosse solenemente separado para o serviço da 
comunidade. Com efeito, no dia acima referido, ele foi examinado por seu 
pai perante a igreja quanto à sua inclinação, seus motivos e seus fins em 
vista, com referência ao ministério, sendo-lhe mostrado igualmente o desejo 
de que ele fizesse uma declaração dos seus sentimentos religiosos. Tendo-
se feito tudo, para inteira satisfação da igreja, consagraram-no, pois, 
levantando as mãos direitas e com oração solene. Depois o seu pai fez-lhe 
um discurso baseado em 2 Tm. 2:1: "Tu, pois meu filho, fortifica-te na graça 
que há em Cristo Jesus". Sendo-lhe assim confiada a obra ministerial, 
pregou de tarde sobre 2 Ts. 1:7.8. "Que o Senhor o abençoe e lhe conceda 
grande sucesso!!" 
 
Considerável importância deve ser dada ao julgamento feito por 
homens e mulheres que vivem perto de Deus, e, na maioria dos casos, o 
seu veredicto não será errôneo. Contudo, este recurso não é final nem 
infalível, e deve ser avaliado somente em proporção à inteligência e à 
piedade das pessoas consultadas. Lembro-me bem do empenho com que 
uma certa piedosa matrona cristã me dissuadiu de pregar. Esforcei-me 
para avaliar a importância da opinião dela com simplicidade e paciência 
– opinião essa sobrepujada, porém, pelo julgamento emitido por pessoas 
de maior experiência. Os jovens em dúvida devem fazer-se acompanhar 
dos seus mais sábios amigos quando vão à igreja rural ou ao salão de 
cultos da vila e tentam transmitir a Palavra. 
Já notei – e o meu amigo Rogers observou a mesma coisa – que 
vocês, cavalheiros, estudantes, como corpo estudantil, no julgamento que 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 38
fazem uns dos outros raramente erram, se é que erram alguma vez. 
Raramente houve um caso, tomada a instituição de modo global, em que 
a opinião geral da escola toda sobre um irmão foi errada. Os homens não 
são tão incapazes de formar opinião uns dos outros, como às vezes se 
pensa. Reunindo-se como o fazem em classe, nas reuniões de oração, nas 
conversas e nas várias atividades religiosas, vocês se avaliam uns aos 
outros; e o prudente não se apressará a desprezar o veredicto da casa. 
Este ponto não estará completo se eu não acrescentar que a simples 
capacidade para edificar e a aptidão para ensinar não bastam. São 
necessários outros talentos para completar a personalidade do pastor. 
Critério sadio e sólida experiência devem instruí-lo; maneiras gentis e 
qualidades amáveis devem governá-lo; firmeza e coragem devem ser 
manifestas; e não devem faltar ternura e simpatia. Os dons 
administrativos para governar bem são condições tão necessárias como 
os dons instrutivos para ensinar bem. Vocês devem ser aptos para dirigir, 
devem estar preparados para agüentar, e devem ser capazes de 
perseverar. Quanto à graça, vocês devem estar cabeça e ombros acima do 
restante do povo, capazes de ser seu pai e seu conselheiro. Leiam 
cuidadosamente as qualificações do bispo, registradas em 1 Tm. 3:2-7 e 
Tt. 1:6-9. Se esses dons e graças não estiverem em vocês, e com 
abundância, é possível que tenham bom êxito como evangelistas, mas 
como pastores não terão nenhum valor. 
 
3. Ainda para provar a vocação de alguém, depois de exercitar um 
pouco os seus dons, como já lhes falei, é preciso que o aspirante veja 
realizar-se certo número de conversões sob os seus esforços, ou poderá 
concluir que cometeu um engano e, daí, poderá retornar pelo melhor 
caminho que puder encontrar. Não se espera que no primeiro, e mesmo 
no vigésimo esforço em público, sejamos premiados com o sucesso; e 
pode ocorrer que um homem tenha uma vida inteira de provação, se se 
sentir chamado para tanto, mas a mim me parece que quando alguém for 
separado para o ministério, seu comissionamento estará sem selos 
Lições aos Meus Alunos – Vol. 2 39
enquanto almas não forem ganhas por sua instrumentalidade para o 
conhecimento de Jesus. Como obreiro, deve continuar trabalhando, quer 
tenha sucesso ou não, mas como ministro, não pode ter certeza da sua 
vocação enquanto não houver resultados patentes. 
Como o meu coração pulou de alegria quando ouvi as novas da 
primeira conversão que se deu por meu intermédio! Nunca pude ficar 
satisfeito com o templo cheio, e com as bondosas expressões dos 
amigos; ansiava por ouvir de corações quebrantados, de lágrimas 
correndo dos olhos dos penitentes. Muito me regozijei, como alguém que 
acha grande presa, devido a uma pobre mulher de operário ter 
confessado que sentira a culpa do seu pecado e encontrara o Salvador 
com a minha dissertação de domingo à tarde. 
Tenho agora na retina a cabana em que ela morava; creiam-me, 
sempre me parece pitoresca. Lembro-me bem da sua recepção na igreja, 
da sua morte e da sua partida para o lar celestial. Ela foi o primeiro selo 
do meu ministério, e, posso garantir-lhes, selo na verdade muito 
precioso. Mãe nenhuma jamais ficou mais cheia de felicidade com o 
nascimento do seu primogênito. Na ocasião eu poderia ter entoado o 
cântico de Maria, pois minha alma engrandeceu o Senhor por ter Se 
lembrado de mim em minha baixeza, e ter-me dado a grande honra de 
fazer um trabalho pelo qual todas as gerações me chamariam bem-
aventurado, pois assim avaliei a conversão de uma alma. 
É preciso que haja certo número de conversões em seus trabalhos 
ocasionais antes de poderem acreditar que a pregação deve constituir a 
carreira da sua existência toda. Recordem as palavras do Senhor 
mediante o profeta Jeremias; são muito pertinentes ao ponto de que 
estamos tratando, e deveriam alarmar

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