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ELETRÔNICA DIGITAL 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Amilton Carlos Rattmann 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Seja bem-vindo(a)! Nossas aulas abrangerão conteúdo fundamental para 
cursos de engenharia do grupo II, compondo os conhecimentos necessários 
para a formação profissional. A eletrônica digital parte de um caso particular de 
polarização de transistor na eletrônica analógica e se expande até formar a base 
tecnocomputacional que hoje movimenta o mundo. A eletrônica digital está nas 
redes de dados e na internet, nas comunicações via satélite e nos sistemas 
celulares, nos computadores, nos videogames, nos sistemas industriais de 
controle de produção, nos eletrodomésticos e nos recentes dispositivos de 
internet das coisas (IoT). 
Os microprocessadores são os principais e, provavelmente, os mais 
conhecidos dispositivos pertencentes ao campo da eletrônica digital. Compostos 
por milhões de transistores operando em corte e saturação e contando com 
construção física otimizada para esse modo de operação, os processadores 
realizam milhões de instruções por segundo, controlam barramentos de 
comunicação digital, executam acesso à memória e transferência de blocos de 
dados, realizam operações simples e complexas, seguindo uma determinada 
sequência de comandos armazenados na sua memória de código. Esses 
comandos, compostos por operandos e instruções, são decodificados em um 
bloco específico do processador, a arithmetic logic unit – unidade lógica e 
aritmética (ALU), gerando todos os sinais para os demais blocos funcionais, 
necessários para realização das suas funções. 
Em nossas aulas, estudaremos os circuitos digitais que formam a base de 
construção dos blocos de vários sistemas digitais, como os processadores, 
desvendando o funcionamento de controladores, decodificadores, registradores 
que, juntos, formam circuitos mais complexos, que desempenham operações, 
consequentemente, mais complexas. Partiremos das funções digitais simples 
desempenhadas pelos transistores, seguindo pela construção e funcionamento 
das portas lógicas, pela construção e funcionamento das unidades de memória 
e, finalmente, chegando à síntese de circuitos digitais combinacionais e 
sequenciais. 
 
 
 
 
 
3 
TEMA 1 – INTRODUÇÃO E FUNDAMENTOS DE ELETRÔNICA DIGITAL 
1.1 Sistemas analógicos e digitais 
O termo analógico vem de análogo, algo que guarda semelhança, é 
comparável ou similar a outra coisa (Análogo, 2015). Aquele termo está 
relacionado aos sinais de entrada e saída de um sistema eletrônico. Uma das 
medidas de qualidade de um amplificador, por exemplo, é definida pela 
semelhança entre o sinal de saída, amplificado, e o sinal de entrada. De maneira 
mais geral, os sistemas que operam com sinais contínuos durante todo o seu 
processamento interno são sistemas analógicos. 
A eletrônica digital facilitou de forma incontestável a transmissão de 
informações e o controle de dispositivos, permitindo grande precisão e maior 
flexibilidade quando comparada aos sistemas analógicos, embora a natureza e 
suas grandezas ainda permaneçam analógicas. Uma parte do estudo de 
eletrônica digital passará pelas técnicas e circuitos de conversões entre sinais 
analógicos e sinais digitais. 
Os sinais digitais são formados por dois níveis discretos de qualquer 
grandeza. Embora os sinais digitais sejam, normalmente, definidos como valores 
de tensão elétrica, níveis discretos de intensidade de corrente elétrica ou de 
intensidade luminosa também são empregados frequentemente. Os níveis 
discretos do sinal digital são denominados níveis lógicos e ganham designações 
como nível lógico alto (high – HI, 1 ou verdadeiro) e nível lógico baixo (low – LO, 
0 ou falso). A Figura 1 apresenta o diagrama de conexão de um circuito integrado 
(CI) digital TTL 74LS00, contendo quatro portas lógicas chamadas não E ou nand 
gate (NE) e sua respectiva tabela-verdade1 contendo os níveis lógicos HI e LO 
de saída e entrada, que descrevem o comportamento lógico de cada porta do CI 
ou, mais precisamente, o comportamento lógico dos circuitos eletrônicos da 
porta. Embora seja intuitivo associar nível lógico alto ao valor de tensão positiva 
como 5 V (ou 3,3 V) e o nível lógico baixo com tensão 0 V, isso não é verdade 
para todos os sistemas e situações práticas encontradas em sistemas digitais. 
Alguns sistemas podem associar os níveis lógicos a outros valores ou faixa de 
valores, conforme a necessidade, como nos casos das interfaces digitais V.24 e 
 
1 Tabela-verdade é um recurso gráfico importante que correlaciona sinais de entradas e saídas 
e é utilizada para descrever, de forma simples e precisa, o comportamento lógico de circuitos 
digitais. 
 
 
4 
V.35, em que o nível HI pode assumir um valor de tensão elétrica entre -3 V a -
25 V e o nível LO, valores entre 3 V a 25 V. 
Figura 1 – Diagrama interno de um componente digital contendo quatro portas 
não E e tabela-verdade da função lógica não E executada por cada um dos 
quatro circuitos lógicos do CI 
 
Fonte: Elaborado com base em Datasheet DM74LS00. 
1.2 Bit, nibble, byte, word, MSB, LSB, LE e BE 
Uma unidade digital (binária) é conhecida como binary unit (bit). A quatro 
bits agregados representando uma quantidade maior de estados ou valores dá-
se o nome de nibble. Dois nibbles ou oito bits agregados são conhecidos como 
octeto ou byte. Dois bytes agregados formam uma palavra ou word, embora tais 
termos também sejam empregados quando ocorre agregação de bits na largura 
do barramento de dados de um microprocessador e que pode ser movimentada 
de uma única vez. Nesse caso, a word de um processador de 64 bits teria 8 
bytes. O bit com o menor peso em um agregado é indicado como o bit menos 
significativo (LSB, de least significant bit) e, consequentemente, o bit com maior 
peso é indicado como o bit mais significativo (MSB, de most significant bit), 
conforme apresentado na Figura 2. Embora, normalmente, o LSB esteja à direita, 
alguns sistemas podem transmiti-lo ou armazená-lo em ordem inversa, caso no 
qual existirá uma indicação explícita. Outra forma de representar a ordem dos 
bits, ilustrada ainda na Figura 2, é denominar o agregado como little-endian (LE), 
quando o MSB está à direita; e big-endian (BE), quando o MSB está à esquerda. 
 
 
5 
Figura 2 – Termos aplicados a sistemas digitais 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
1.3 Níveis de abstração 
A eletrônica digital está presente em todos os sistemas digitais, podendo 
ser observada em profundidades diferentes e classificada em níveis de 
encapsulamento ou abstração distintos, conforme as necessidades ou os 
objetivos da análise em curso, conforme a Figura 3. 
Figura 3 – Níveis de abstração da eletrônica digital 
 
Fonte: Elaborado com base em Pedroni, 2010. 
No nível de transistor, estão presentes as funções binárias elementares, 
com base nos estados de corte e saturação dos transistores que produzem as 
funções lógicas. Os interesses nesse nível se concentram na tecnologia, nas 
dimensões do transistor, no processo de fabricação, no consumo, no tempo de 
 
 
6 
propagação ou na lógica elementar. No nível de portas lógicas, com maior 
abstração, o interesse está na resposta correta do circuito lógico, adequado às 
necessidades do projeto, embora envolvendo a melhor associação entre portas, 
para maior eficiência. No nível de subsistema, a integração entre blocos 
funcionais obedece a normas específicas a tempos de resposta e comunicação 
adequada entre os blocos. Não se avalia a lógica interna, mas o serviço prestado 
pelo bloco, que deve obedecer, precisamente, à sua especificação, utilizada na 
definição funcional do sistema digital. No nível de sistema, há o maior nível de 
abstração. Não é mais possível avaliar o desempenho interno dos módulos, mas 
o desempenho funcional do dispositivo. A resiliência do sistema, o tempo entre 
falhas, os limites ambientais de operaçãode unidades 
decimais. O peso é a base, nesse sistema de numeração, e tem a dimensão 
igual à quantidade de símbolos do sistema. No caso do sistema decimal, a base 
é 10, o que dá nome ao próprio sistema. A cada estouro de unidade, em qualquer 
posição do agregado decimal, a unidade mais à direita é zerada e a unidade 
mais à esquerda é incrementada em uma unidade, representando uma 
quantidade igual à respectiva base. No sistema decimal, cada unidade decimal 
à esquerda representa um valor dez vezes maior que a unidade à direita, ou seja, 
o produto por uma base, à medida que estão posicionadas mais à esquerda, 
conforme apresentado na Figura 9, para um valor de 14.585.913. 
 
3 Condição definida pela ultrapassagem da máxima capacidade de representação de uma 
unidade. 
 
 
12 
Figura 9 – Sistema posicional decimal 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
Algumas unidades decimais, de menor peso, ganharam nomes 
particulares, como unidade, dezena, centena, milhar, que facilitam a 
compreensão numérica da contagem. Nesta aula, entretanto, elas foram 
consideradas apenas como unidades decimais (ou algarismos) associadas(os) 
a pesos específicos, múltiplos da base. 
2.2 Código binário 
Os valores binários são utilizados em sistemas digitais por apresentarem 
uma correlação direta com as informações booleanas da lógica matemática. Na 
lógica, temos valores distintos de verdadeiro e falso (Rooney, 2012) presentes 
em toda a teoria, representando condições distantes entre si e, claramente, 
opostas. Na eletrônica digital, os valores de verdadeiro e falso da lógica 
matemática foram substituídos por níveis lógicos: 1 (high) e 0 (low), 
respectivamente, mais facilmente associados às condições de condução dos 
transistores polarizados em corte e saturação. Em corte não passa corrente 
elétrica pelo dispositivo e, em saturação, passa a máxima corrente elétrica 
projetada para o ramo de circuito. Nesse sentido, a corrente elétrica que passa 
pelo ramo do coletor do transistor bipolar ou pelo dreno dos transistores de efeito 
de campo tem uma intensidade 0 (0%) ou 1 (100%) da corrente elétrica, 
desconsiderando assim as correntes de fuga existentes nos sistemas reais. Pela 
lei de Ohm, a corrente elétrica zero, em uma resistência qualquer, produzirá uma 
tensão de 0 V, assim como uma corrente elétrica máxima produzirá uma tensão 
máxima sobre a mesma resistência. Os níveis de tensão são a forma de 
representação mais utilizada nas análises e projetos de sistemas digitais. 
Cada bit contém uma de duas possíveis informações binárias, 
denominadas níveis lógicos. Para representar quantidades maiores são 
necessários mais bits, que são organizados mantendo-se uma relação de peso 
posicional. Quanto mais à esquerda, maior o peso do bit e sua 
representatividade, assim como acontece, no sistema decimal, quando 
 
 
13 
distinguimos os números por unidade, dezena e centena, por exemplo. Todavia, 
na representação binária a base utilizada é 2, denotando os dois estados 
possíveis, enquanto na representação decimal a base é 10, indicando os dez 
estados possíveis. A composição posicional é desenvolvida e apresentada na 
Figura 10, para números de três algarismos (unidades). 
Figura 1 – Sistemas posicionais decimal e binário, respectivamente 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
O valor da base, elevado à quantidade de algarismos, determina a 
máxima quantidade de valores que podem ser representados por esse conjunto 
de algarismos nessa base, conforme apresentado na Figura 11. O sufixo b indica 
a quantidade de algarismos no código binário; o sufixo o, no octal; e o sufixo h, 
no hexadecimal. Não são utilizados sufixos em números decimais. 
Figura 11 – Quantidades máximas de valores por quantidade de dígitos e bases 
(códigos) 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
2.3 Código octal 
A representação octal é empregada quando as quantidades de 
informações de controle ou contagens são pequenas, não ultrapassando oito 
valores (entre 0 a 7), e se busca uma representação binária mínima, mais 
compacta. O código octal agrupa os bits de um valor binário em grupos de três 
 
 
14 
bits (tribits), conforme apresentado na Figura 12, item (a), que permite uma 
substituição direta pelo dígito octal, conforme apresentado na Figura 12, item (b). 
Figura 2 – Tribit octal (a) e conversão de número binário em octal (b) 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
 2.4 Código hexadecimal 
A representação hexadecimal é muito utilizada por apresentar uma forma 
compacta para números binários longos, como espaço de endereçamento de 
memória, dispositivos ou instruções em processadores de 32 e 64 bits, cuja 
representação binária pode se tornar trabalhosa e promover erros, facilmente. 
Os números binários são agrupados em quadribits e substituídos por algarismos. 
Figura 3 – Quadribits hexadecimais (a) e conversão de número de código binário 
em número de código hexadecimal (b) 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
 
 
15 
Os dígitos decimais entre 0 a 9 são utilizados como dígitos hexadecimais 
que representam as mesmas quantidades, completados com as letras A a F, 
para cobrir os 16 (24 = 16) símbolos necessários ao código hexadecimal, 
conforme apresentado na Figura 13, item (a). Exemplos de conversão são 
apresentados na Figura 13, item (b). 
2.5 Código BCD 
A representação binary-coded decimal – decimal codificada em binária 
(BCD) é uma codificação que utiliza uma representação direta incompleta dos 
valores binários de quatro bits dos valores decimais, ou seja, utiliza apenas os 
quadribits que representam os dez dígitos decimais, conforme a Figura 14, item 
(a). A representação da conversão é apresentada na Figura 14, item (b). 
Contadores e decodificadores BCD são empregados para contagem de eventos 
de forma decimal, apresentando os resultados da contagem, normalmente, em 
displays (mostradores) de sete segmentos, de acordo com a Figura 14, item (c). 
Figura 4 – Código BCD (a), conversão BCD (b) e aplicação BCD (c) 
 
2.6 Código Gray 
O código Gray é muito adequado a medidas de posicionamento, pois 
apresenta, entre valores subsequentes, sempre 1 bit de diferença. Quando 
observamos uma transição da quantidade 7 para a quantidade 8 no código 
binário, ocorrem quatro mudanças binárias: 0111 → 1000. Caso essa transição 
 
 
16 
esteja submetida a um circuito lógico combinacional, valores intermediários 
serão processados e não apenas a transição de 7 para 8. Como os sinais não 
chegam ao mesmo tempo, a sequência 0111 → 0101 → 1101 → 1001 → 1000 
torna-se possível, podendo afetar o funcionamento do circuito digital. Como o 
código Gray apresenta apenas uma variação binária entre valores subjacentes, 
não há corrida entre os sinais, não existindo transições intermediárias. 
O código Gray e as diferenças entre valores subsequentes são 
apresentados na Figura 15, item (a). As diferenças binárias entre códigos podem 
ser chamadas de distância de Hamming. Essa distância entre os valores binários 
0111 e 1000, por exemplo, é dH = 4. Essa medida é importante em sistemas de 
transmissão digital, pois o emprego de código com distâncias maiores 
proporciona uma comunicação com uma maior imunidade a erros. Na Figura 15, 
item (b), há um exemplo de aplicação do código Gray em um disco, utilizado em 
codificadores de posicionamento (encoders). 
Figura 15 – Código Gray: diferenças binárias entre valores subsequentes (a) e 
disco de código Gray (b) 
 
2.7 Conversão entre códigos numéricos 
Uma vez que os sistemas digitais operam com base binária, antes de 
serem mostrados para interação humana eles precisam ser convertidos em base 
decimal, como no caso de temperaturas ou distâncias, por exemplo. Os códigos 
binários (bases 2, 8 ou 16) apresentam uma conversão direta entre si. Um valor 
binário é agrupado em tribits, para formar um valor octal, ou em quadribits, para 
formar um valor hexadecimal. De forma semelhante, os dígitos hexadecimais ou 
 
 
17 
octaissão convertidos em binários e reagrupados, conforme demonstrado na 
Figura 16, item (a). 
Figura 16 – Conversão entre bases: conversão entre bases múltipla da binária 
(a), conversão de qualquer base para a base decimal (b) e conversão da base 
decimal para qualquer outra base (c) 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
A conversão de valores em bases numéricas diferentes da decimal para 
decimal é obtida pelo somatório do produto entre o coeficiente do valor de origem 
e as bases elevadas à posição do coeficiente, menos 1: 𝐵10 = ∑ 𝐶𝑝𝐵𝑂
(𝑝−1)𝑛
𝑝=1 , 
conforme desenvolvido e apresentado na Figura 16, item (b), utilizando-se os 
valores descritos no item (a) (Pedroni, 2010). Já a conversão de quantidades da 
base decimal em quantidades de qualquer outra base é obtida pela divisão 
sucessiva do valor decimal de origem pela base de destino, até se obter o resto. 
Toma-se o quociente da operação anterior e divide-se pela base de destino. 
Prossegue-se no processo de divisão até que o quociente seja menor que a 
base. Desse quociente e até o primeiro resto encontrado, nessa ordem, obtém-
se o valor decimal convertido em base de destino, conforme desenvolvido na 
Figura 16, item (c). 
2.8 Representação de números negativos 
Há três métodos de representação de números negativos, nos quais o bit 
mais significativo representa o sinal do valor: sinal-magnitude, complemento 
 
 
18 
de um e complemento de dois, sendo esse último o mais amplamente utilizado. 
No sinal-magnitude, o bit de mais alta ordem (MSB) do número binário 
representa o sinal, como apresentado na Figura 17, item (a). Esse sistema, 
embora simples, apresenta duas representações para o zero e não permite 
operações aritméticas corretas entre números negativo e positivo, ou seja, a 
adição binária do valor -7 com +7, por exemplo, não resulta em 0. No 
complemento de um, como na Figura 17, item (b), o número negativo é o 
complemento do número positivo, ou seja, todos os bits são negados ou 
invertidos (1 → 0 e 0 → 1). O MSB ainda representa o sinal, possui duas 
representações para o zero e, assim como o código do sinal-magnitude, não 
permite a operação direta entre números positivos e negativos. Por fim, no 
complemento de dois, conforme a Figura 17, item (d), o valor negativo é 
complemento do valor positivo, mais uma unidade. Embora não muito intuitivo, 
esse método é consistente e efetiva operações aritméticas de adição e subtração 
com números negativos, como visto na Figura 17, item (c). O MSB ainda 
representa o sinal. 
Figura 17 – Representação de valores negativos: sinal magnitude (a), 
complemento de um (b), obtenção de valor negativo com base em valor positivo 
e operação com valor negativo (c) e complemento de dois (d) 
 
 
 
 
19 
2.9 Representação de pontos flutuantes 
Um número real pode ser representado em um sistema digital, em bits, 
sendo armazenado mais eficientemente em um modelo denominado ponto 
flutuante. A representação mais comumente utilizada de pontos flutuantes é o 
padrão IEEE 754. Esse padrão apresenta precisão simples de 32 bits, como na 
Figura 18, itemErro! Fonte de referência não encontrada. (a), e precisão dupla 
de 64 bits, conforme Figura 18, item (b), em três campos: sinal, expoente e 
mantissa (fração). A precisão é definida pela quantidade de bits usados na 
mantissa, em que a quantidade decimal produzida por 2-1 é o valor da unidade 
decimal dividido por 2, ou seja, representa a quantidade decimal 0,5; a 
quantidade decimal produzida por 2-2 é a unidade decimal dividida por quatro, ou 
seja, representa a quantidade decimal 0,25, e assim sucessivamente – quanto 
maior o expoente negativo, menor a parcela decimal representada. A mantissa 
do número real é formada pelo somatório de cada uma das parcelas decimais 
representadas pelos expoentes negativos. Na precisão simples, a menor parcela 
é obtida por 2-23 = 0,119209 10-6; ou, de outro modo, é o resultado da unidade 
decimal dividida por 8.388.608 (223). Por exemplo, o número 0,625 é obtido pelo 
somatório das parcelas 0,5 e 0,125, cujo valor binário é 0,101. A conversão em 
decimal com base no seu valor binário se dá de maneira habitual: 0,101 → 1.2-1 
+ 0.2-2 + 1.2-3 = 0,5 + 0 + 0,125 = 0,625. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
Figura 18 – Padrão IEEE 754: precisão simples (a) e dupla (b) e conversão do 
valor real 0,7 em binário e de binário em real, apresentando erro decorrente da 
precisão simples (c) 
 
A Figura 18, item (c), apresenta o desenvolvimento tabelado da conversão 
do valor real 0,7 em binário, mediante multiplicação sucessiva do número 
presente na primeira linha da coluna A (ISO/IEC 8859-1:1998 e ISO/IEC 8859-2 estabeleciam extensões 
 
4 A extensão da tabela ASCII utilizava códigos de 8 bits, adicionando símbolos entre 128 (80h) e 
255 (FFh). 
 
 
22 
padrões de caracteres acentuados para o código ASCII (ISO; IEC, 1998, 1999). 
Entretanto, caso uma extensão fosse utilizada em um programa de computador, 
a mesma extensão deveria estar carregada quando aquele fosse executado em 
outros computadores. Como nem sempre isso ocorria, por diversos motivos, as 
interfaces e os textos com caracteres acentuados sofriam alteração, passando a 
apresentar informações incorretas, desfigurando o texto ou a interface. Essa era 
uma limitação dessa codificação, motivando a adoção de um novo código. O 
código Unicode substituiu o código ASCII (Ansi, 1963; The Unicode Consortium, 
2006). 
Figura 19 – Tabela ASCII para 7 bits 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
TEMA 3 – CIRCUITOS LÓGICOS 
Neste tema, abordaremos os circuitos analógicos, que estabelecem as 
funções lógicas ou, simplesmente, os circuitos lógicos. Existem várias técnicas-
base de construção de circuitos lógicos, desenvolvidas com especificações 
distintas, para atender a necessidades diferentes. O desenvolvimento contínuo 
das técnicas de circuitos digitais produz técnicas derivadas das técnicas-base, 
 
 
23 
alterando partes específicas dos circuitos, otimizando parâmetros para alcançar 
resultados novos, como: maior densidade de transistores, menor dissipação de 
potência, maior velocidade de comutação e menor consumo de energia. 
Componentes que compartilham as mesmas técnicas são conhecidos como 
pertencentes a uma mesma família lógica. A Figura 20 apresenta várias famílias 
lógicas, clássicas (TTL e CMOS) e recentes (AHC, AUC), categorizadas pela 
tensão de alimentação. 
Figura 20 – Famílias lógicas 
 
Fonte: Texas Instruments, 2017, p. 3. 
Apresentaremos duas das principais famílias lógicas, para que isso nos 
permita avançar para os circuitos de portas lógicas e para a apresentação dos 
benefícios da simplificação dos circuitos lógicos. As demais famílias serão 
abordadas posteriormente. 
3.1 Famílias lógicas 
A primeira família lógica padrão foi a resistor-transistor logic (RTL), na qual 
os sinais lógicos entravam através de resistores e saíam por meio de um 
transistor bipolar, conforme apresentado na Figura 21, item (a). Ela foi lançada 
 
 
24 
pela Fairchild, em 1961, mas apresentava problemas relacionados às múltiplas 
entradas (fan-in), múltiplas saídas (fan-out) e margem de ruído e velocidade 
(East, 2019). Nessa família, as equações de malha formada entre as entradas, 
fontes de tensão digital e alimentação de base -V determinam o ponto de 
condução do transistor Q1. Esse transistor deve cortar ou saturar para produzir 
uma saída digital, conforme a combinação das suas tensões de entrada, também 
digitais. 
Figura 21 – Circuitos lógicos: porta nor RTL (a); porta and DL e porta nand DTL 
(b); porta nand TTL (c) 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
A família diode-transistor logic (DTL) foi lançada comercialmente pela 
Fairchild, em 1964, apresentando soluções para os problemas encontrados na 
RTL, exceto para a velocidade. Essa técnica não era necessariamente nova, 
pois já era conhecida e utilizada pela IBM na série de computadores mainframe 
360. Nela, os sinais lógicos entram pelo cátodo de um diodo e saem por um 
transistor bipolar, conforme apresentado na Figura 21, item (b). A técnica de 
construção de circuitos lógicos DTL empregava como base a técnica diode logic 
(DL), apenas com diodos e resistores, conforme visto no bloco cinza da mesma 
Figura 21, item (b). Nessa técnica, ainda, o resistor R2 poderia ser substituído 
por outro diodo com função de ajuste de nível, passando a apresentar dois 
diodos, na configuração back-to-back, interligados pelos ânodos: K-A ↔ A-K, na 
qual um dos cátodos era interligado à almofada de entrada do CI e o outro ânodo, 
na base do transistor Q1. 
 
 
25 
A análise de funcionamento da técnica DTL precisa considerar o ponto de 
condução dos diodos de entrada, no qual ocorre a saturação ou o corte do 
transistor Q1. Observando ainda a Figura 21, item (b), um valor de terra em 
qualquer das entradas digitais A ou B limita a tensão no nó dos ânodos de D1 e 
D2 ao valor de aproximadamente 0,7 V (diodo de silício). A base do transistor 
Q1 experimentará a tensão de um divisor resistivo formado pelos resistores R2 
e R3, ancorados em 0,7 V e -V, respectivamente, cortando o transistor. À medida 
que a tensão de entrada cresce na entrada digital, do valor de terra até um 
determinado valor suficiente de tensão inicia-se a condução de Q1. Se as 
entradas forem ao nível de +V, os diodos D1 e D2 deixam de conduzir e a tensão 
na base de Q1 passa a ser definida pela malha formada por R1, R2 e R3, que 
deve saturar o transistor. Com base na descrição do funcionamento do circuito, 
podemos reavaliar considerando os níveis lógicos HI e LO, cuja saída apresenta 
um valor lógico baixo LO (terra), apenas no caso de as duas entradas estarem 
em HI (+V), e uma saída HI (+V) para o caso de qualquer uma das entradas, ou 
ambas, estar(em) em LO (terra). Ou seja, o circuito opera executando a função 
lógica nand, conforme a combinação de estados lógicos de entrada e saída 
consolidados no Quadro 1 (nand). 
3.2 Família TTL 
Na lógica transistor-transistor (transistor-transistor logic – TTL), os 
elementos de comutação são transistores bipolares de junção. Lançada em 
meados dos anos 1960, foi a família de CIs lógicos que dominou o mercado por 
cerca de 30 anos. A técnica TTL era mais rápida que a DTL, mantendo custos 
semelhantes. Conforme apresentada na Figura 21, item (c), os seus diodos de 
entrada e de ajuste de nível foram incorporados em um transistor multiemissor 
(Q1). Para cada nova entrada, um novo terminal de emissor é necessário. 
Quando os sinais de entrada estão em nível alto (HI), o transistor Q1 está 
cortado. Nessa condição, o fluxo de corrente passa pelo R1 e atravessa a junção 
base-coletor de Q1 diretamente polarizada, colocando o nó da base de Q2 em 
potencial elevado próximo a Vcc, saturando Q2. O transistor Q2 é um divisor de 
fase, que controla o funcionamento da configuração totem-pole5, de saída, 
formada pelos transistores Q3 e Q4 (Tocci, 2011). Quando o transistor Q2 satura, 
 
5 Configuração de transistores utilizados na saída de amplificadores que operam de forma 
complementar. 
 
 
26 
a tensão, na base de Q3, reduz e, na base de Q4, aumenta. Nessa configuração 
de saída, o transistor Q3 corta e o Q4 satura, o que produz uma saída de baixa 
tensão (LO). Ou seja, para as entradas em HI, produz-se uma saída LO. Quando 
qualquer entrada é submetida ao potencial de terra (GND), o transistor Q1 
satura, levando o nó da base de Q2 ao potencial de terra, colocando esse último, 
em corte. Nessa condição, a base de Q3 fica submetida a uma tensão próxima 
ao VCC e a base de Q4, a uma tensão próxima ao potencial de terra. Como o 
transistor Q3 satura e o Q4 corta, a saída do circuito (Q) vai para um potencial 
de VCC. Ou seja, para qualquer entrada em nível LO, ou ambas, a saída vai para 
o nível HI, conforme observado no Quadro 1Quadro . 
Quadro 1 – Tabela-verdade nand e nor 
NAND NOR 
A B Q A B Q 
LO LO HI LO LO HI 
LO HI HI LO HI LO 
HI LO HI HI LO LO 
HI HI LO HI HI LO 
 
A Texas Instruments lançou a série 5400 TTL em 1964, no mesmo ano 
em que a Fairchild lançou sua família DTL (East, 2019). Os CIs TTL da série 74 
tornaram-se um padrão para uso comercial. Os CIs digitais foram separados por 
classes de temperatura de operação. Na faixa comercial de temperaturas, que 
fica entre 0 °C a 70 °C; e na faixa industrial, que fica entre -40 °C a 85 °C, a série 
é designada como 74. Na faixa de temperatura militar, que fica entre -55 °C a 
125 °C, a série é designada como 54 (Pedroni, 2010). As funções lógicas and, 
nor, xor etc. de cada CI digitalpor meio de field 
programmable gate array (FPGA), que será estudada em aula posterior. 
Os circuitos elétricos equivalentes apresentados neste tema facilitam o 
processo de compreensão das funções lógicas estudadas e fornecem uma base 
de prova para a análise das suas propriedades. Algumas convenções, todavia, 
são necessárias para facilitar o seu processo de compreensão e minimizar 
equívocos ao longo deste estudo. Os dispositivos são associados às variáveis 
booleanas e estão normalmente ativos em nível lógico alto. Ou seja, uma chave 
estará ligada em nível lógico alto, uma lâmpada estará acesa em nível lógico 
alto; outros cenários, entretanto, dependerão da natureza do projeto, como no 
caso de uma porta, cujo estado aberto pode ser representado pelo estado lógico 
alto, para um sistema de segurança, ou pelo nível lógico baixo, para impedimento 
de que um veículo se locomova. Com o mesmo raciocínio, podemos incluir 
tanque para líquidos utilizando sensores para estados cheio e vazio. Estudos 
com estados lógicos variados serão abordados nas próximas aulas. Para o 
propósito deste tema, seguem-se as convenções iniciais para chaves e 
lâmpadas. 
4.1 Portas não (not) ou inversoras 
As portas not são constituídas de circuitos inversores. Para uma entrada 
em nível alto, existirá uma saída em nível baixo. Para uma entrada em nível 
baixo, existirá uma saída em nível alto. No circuito equivalente, uma chave em 
paralelo com a lâmpada apresenta o comportamento da função not, como 
apresentado na Figura 25, item (a). A simbologia da porta inversora e o circuito 
equivalente de um buffer acham-se na Figura 25, item (b). Observe que negar 
(inverter) duas vezes uma variável booleana a faz retornar ao seu estado inicial. 
As tabelas-verdade, tabelas utilizadas para descrever o funcionamento lógico de 
um sistema, da função lógica not e do buffer são apresentadas na Figura 25, 
item (d). O buffer, que pode ser composto por dois inversores, têm na saída o 
mesmo nível lógico presente na entrada da porta, sendo empregado, por 
exemplo, para aumentar a capacidade de corrente de um circuito lógico, para 
acionar um motor de passo ou para restaurar os níveis lógicos de um sinal, como 
visto na Figura 25, item (c). Os buffers ou inversores Schmitt Trigger, por 
exemplo, foram projetados para essa função. 
 
 
32 
Figura 25 – Função lógica not: (a) circuito elétrico equivalente; (b) simbologia; (c) 
função do buffer; e (d) tabela-verdade da função not 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
As propriedades da função not são apresentadas na Figura 26, item (a), 
e, resumidamente, se concentram na negação de constante e na dupla negação 
e são bastante intuitivas. A barra sobre a variável indica a negação (aplicação 
da função not). O mais importante, nesse momento, é entender o funcionamento 
do circuito CMOS, que será a base para a compreensão do funcionamento das 
demais portas. Os transistores PMOS criam um canal P entre as ilhas P, devido 
a um campo elétrico que induz a movimentação de portadores minoritários para 
a região do canal. Para que esse processo aconteça, esse potencial precisa 
atrair os portadores de carga positiva, sendo necessário, portanto, um potencial 
elétrico negativo com relação ao poço. Pela disposição dos transistores PMOS 
e NMOS, esse potencial é obtido pela conexão do terminal de porta do PMOS 
ao VSS (GND). Por outro lado, o transistor NMOS conduzirá, pela dualidade da 
configuração, quando, no seu terminal de porta, existir um campo elétrico com 
potencial positivo com relação ao substrato, necessário para atrair para a região 
do canal os portadores minoritários do tipo n. A conexão do terminal de porta ao 
VDD induz à condução do NMOS. 
Podemos associar o comportamento do MOS conduzindo a uma chave 
fechada e o do MOS cortando, a uma chave aberta, conforme sugestão 
apresentada na Figura 26, item (d). Esse equivalente elétrico permitirá 
compreender o funcionamento dos circuitos CMOS para a função not e para o 
buffer, como apresentado na Figura 26, itens (b) e (c) e em suas respectivas 
tabelas-verdade. 
 
 
33 
Figura 26 – Função lógica not: (a) propriedades; (b) circuitos CMOS not; (c) 
circuito CMOS buffer 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
4.2 Portas e (and) e ne (nand) 
A função and estabelece uma condição de presença obrigatória de dois 
sinais ou de duas condições. Apenas se ambas ocorrerem, existirá uma saída 
de nível alto. O circuito equivalente traz duas chaves em série para o 
acionamento da lâmpada, conforme apresentado na Figura 27, item (a). A função 
nand é a função and negada. A sua simbologia e circuitos equivalente são 
apresentados na Figura 27, itens (a) e (b). 
A propriedades da função lógica and são também intuitivas, mas convém 
utilizar os circuitos elétricos equivalentes para auxiliar nessa análise. A 
propriedade A . A = A pode ser reproduzido com duas chaves combinadas com 
o mesmo acionamento. Chaves em série, que são sempre acionadas ao mesmo 
tempo, podem ser substituídas por uma única. No caso da propriedade A . 1 = 
A, uma chave está constantemente ligada (1). Logo o estado da lâmpada 
dependerá apenas da chave que está sendo comandada. As propriedades 
podem ser expandidas e combinadas, como nas expressões: 
• 𝐴 ∙ 𝐴 ∙ 𝐴 ∙ 1 ∙ 1 ∙ 0 ∙ �̅� = 0 
• 1 ∙ 0 = 0 
As tabelas-verdade e as expressões booleanas das funções and e nand 
são apresentadas na Figura 27, itens (c) e (d), em que o ponto representa a 
 
 
34 
função and e a barra sobre expressão indica a negação da função and como 
forma de representar a função nand. 
Figura 27 – Funções lógicas and e nand: simbologia e circuito elétrico 
equivalentes (a) and; (b) nand; tabela-verdade e expressão booleana: (c) and; 
(d) nand 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
Figura 28 – Propriedades da função and e circuitos CMOS and e CMOS nand 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
Na Figura 28, item (a), são apresentadas as propriedades da função and 
e, nos itens (b) e (c), os circuitos CMOS das funções and e nand. O arranjo dos 
transistores PMOS na porta nand, em paralelo, conduz o VDD à saída do circuito, 
para qualquer entrada A ou B em zero. Já para que a saída seja levada ao GND, 
será necessário que as duas entradas, A e B, sejam de níveis altos. Observe 
que o circuito and é maior que o nand, isso porque o circuito CMOS é 
 
 
35 
naturalmente nand, sendo necessária uma função inversora para produzir uma 
saída and. 
4.3 Portas OU (or) e NOU (nor) 
A função or estabelece uma possibilidade de acionamento comum entre 
duas entradas, no qual um ou outro ativo leva a saída em nível alto. As chaves 
em paralelo remetem a essa situação, na qual qualquer uma, ou ambas, ligada(s) 
energiza(m) a lâmpada. A Figura 29, item (a), apresenta o circuito elétrico 
equivalente e a simbologia utilizada. Na Figura 29, item (b), são apresentadas a 
simbologia e o circuito elétrico equivalente da porta nor, que é basicamente a 
função or negada. As tabelas-verdade e as expressões booleanas das funções 
or e nor são apresentadas na Figura 29, itens (c) e (d), respectivamente, em que 
o sinal de adição representa a função or e a barra sobre expressão indica a 
negação da função or, como forma de representar a função nor. 
Figura 29 – Funções lógicas or e nor: simbologia e circuito elétrico equivalente 
em (a) or; e em (b) nor; tabela-verdade e expressão booleana em (c) or; e em 
(d) nor 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
As propriedades da função or são apresentadas na Figura 30, item (a). 
Assim como visto para a função lógica and, deve ser visualizado o circuito 
elétrico equivalente da função or, para a melhor compreensão da natureza das 
suas propriedades. Ainda na Figura 30, itens (b) e (c), são apresentados os 
circuitos CMOS que executam as funções or e nor, respectivamente. Observe, 
 
 
36 
no circuito CMOS nor, que a aplicação de um potencial VDD em qualquer das 
entradas A ou B leva a saída do circuito ao nívelzero. Por outro lado, apenas 
com as duas entradas em zero é possível levar a saída a nível alto. Além disso, 
assim como na função and, o circuito é naturalmente nor, necessitando de uma 
função inversora para produzir a função or. 
Figura 30 – Propriedades da função or nos circuitos CMOS or e CMOS nor 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
4.4 Portas OU exclusivo (xor) e NOU exclusivo (xnor) 
A função xor é muito utilizada em uma série de circuitos digitais, de 
controle de sinais a circuitos de paridade. A saída de uma porta lógica xor será 
alta apenas se uma das duas entradas estiver também em nível alto. Nenhuma 
ou as duas entradas ativas levará a saída ao nível zero. A função xnor é a 
negação da função xor, conforme já observado nas funções lógicas vistas 
anteriormente. A simbologia das funções xor e xnor é apresentada na Figura 31, 
item (a). O circuito equivalente na Figura 31, item (b), diferentemente das 
funções lógicas anteriores, é representado por uma porta inversora com uma 
chave de passagem (bypass) controlada por uma das entradas, nesse caso, A. 
Dependendo do estado de A, B será levado à saída invertido ou não. Pode-se 
dizer que ocorre uma inversão controlada, que pode ser observada na sua 
tabela-verdade. 
A função xor apresenta uma expressão alternativa que utiliza as funções 
and e or, conforme apresentado na Figura 31, item (c), e é demonstrada pelo 
seu desenvolvimento em tabela-verdade também na Figura 31, mas no item (e). 
 
 
37 
As respectivas tabelas-verdade e expressões booleanas das funções lógicas xor 
e xnor são apresentadas na Figura 31, em (d) e (e). Note que a função xor é 
representada por um sinal de adição envolto por um círculo. Na tabela de 
demonstração da Figura 31, item (e), cada coluna representa uma parte da 
evolução da prova de equivalência. Nas duas primeiras colunas estão as 
variáveis de entrada A e B. Nas duas seguintes, as respectivas negações das 
variáveis de entrada, pois serão necessárias para as próximas colunas. Nas 
duas próximas colunas, acham-se as expressões em and: �̅� ∙ 𝐵 e 𝐴 ∙ �̅�. Na última 
coluna, se operam as duas colunas anteriores em or: �̅� ∙ 𝐵 + 𝐴 ∙ �̅�. 
Figura 31 – Funções lógicas xor e xnor: (a) simbologia; (b) circuito equivalente 
xor; (c) função lógica equivalente xor; (d) tabelas-verdade e expressões 
booleanas de xor e xnor, respectivamente; (e) prova de equivalência xor 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
As propriedades da função lógica xor, na Figura 32, item (a), são pouco 
intuitivas e precisam ser desenvolvidas utilizando-se a expressão alternativa 
demonstrada anteriormente. Os circuitos CMOS das funções xor e xnor são 
apresentadas também na Figura 32. Observe que os circuitos básicos são iguais, 
mas os sinais de entrada estão espalhados entre os transistores MOS, para 
executar as funções lógicas. No arranjo dos transistores PMOS, valores iguais 
para A e B cortam os transistores e há: 
a. Se A e B forem iguais a zero: 
• condução dos dois PMOS ligados à saída; 
• bloqueio dos dois PMOS ligados ao VDD; 
• condução dos transistores NMOS do ramo da direita. 
 
 
38 
b. Se A e B forem iguais a VDD: 
• condução dos dois PMOS ligados ao VDD; 
• bloqueio dos dois PMOS ligados à saída; 
• condução dos transistores NMOS do ramo da esquerda. 
c. Se A = 1 e B = 0: 
• condução dos PMOS esquerdo, ligado ao VDD, e direito, ligado à saída; 
• bloqueio dos PMOS direito, ligado ao VDD, e esquerdo, ligado à saída; 
• bloqueio dos dois ramos NMOS. 
d. Se A = 0 e B = 1: 
• condução dos PMOS direito, ligado ao VDD, e esquerdo, ligado à saída; 
• bloqueio dos PMOS esquerdo, ligado ao VDD, e direito, ligado à saída; 
• bloqueio dos dois ramos NMOS. 
Figura 5 – Propriedades da função xor: circuito CMOS xor e circuito CMOS xnor 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
4.5 Buffer de três estados (tri-state) 
Os buffers tri-state não alteram o estado de sinais e são utilizados por 
esse motivo no controle de sinais, em estado de alta impedância. Normalmente, 
no seu arranjo de saída CMOS, temos sempre um MOS cortado e outro 
conduzindo, com a presença de VDD ou VSS na saída. No estado de alta 
impedância, há dois MOS cortados e nem VDD nem VSS presentes na saída. Uma 
vez que o buffer se conecta com linhas comuns, nas quais existem outros 
 
 
39 
circuitos de saída conectados, chamados de barramentos, esse estado permite 
que outros utilizem a linha sem incorrer em risco de sobrecarga e curtos-
circuitos. Sistemas microprocessados utilizam intensivamente barramentos, 
minimamente nos sinais de controle, dados e endereços. 
Consistem em características do buffer de três estados: 
• quando habilitado, o estado de saída segue a entrada, como um buffer 
comum; 
• quando não habilitado, a saída vai a um estado de alta impedância; 
• a sua tabela-verdade indica Z como estado de alta impedância; 
• é utilizado para dar acesso a barramentos. 
Na Figura 33, item (a), é apresentada a simbologia do buffer, que conta, 
além da entrada e da saída, com um sinal de habilitação (enable – ENA), que 
libera a saída ou o coloca em alta impedância, o que é observado na tabela-
verdade da Figura 33, item (b). 
Figura 33 – Buffers de três estados: (a) simbologia; (b) tabela-verdade do buffer 
tri-state; (c) aplicação típica do buffer tri-state; (d) sistema digital com múltiplos 
barramentos e CIs; (e) circuito CMOS equivalente do buffer tri-state 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
Um sinal de barramento possui vários bits, que são transportados de 
forma paralela. O arranjo da Figura 33, item (c), apresenta um buffer de um 
barramento simples de 4 bits. Atualmente, os barramentos de dados contam com 
pelo menos 32 bits. Na Figura 33, item (d), é apresentado um sistema didático 
 
 
40 
com a representação de múltiplos barramentos que se espalham pela placa de 
circuito. Por fim, ainda na Figura 33, item (e), está ilustrado o circuito CMOS do 
buffer tri-state. Observe que foram acrescentados mais dois MOS ao circuito 
estudado na Figura 26, item (c). Esses transistores bloqueiam ou conduzem 
simultaneamente, conforme o estado do sinal ENA. 
TEMA 5 – EXPRESSÕES BOOLEANAS 
Neste tema, serão apresentados os teoremas e propriedades para 
manipulação de expressões booleanas. Esse conhecimento conduz à redução 
de expressões booleanas, eliminando redundâncias desnecessárias. Na prática, 
essa simplificação leva à redução dos circuitos digitais pela redução da 
quantidade de portas lógicas ou de entradas digitais, que leva, 
consequentemente, à redução de transistores. Circuitos com menos transistores, 
executando as mesmas funções lógicas, são mais rápidos, ocupam menos área 
de silício e consomem menos energia. Veremos que as variáveis booleanas 
guardam valores lógicos que podem estar associados aos estados de entidades 
físicas, como um interruptor, uma lâmpada; ou ao sinal de reset de um 
processador. 
5.1 Propriedades das expressões booleanas 
A Figura 34 apresenta propriedades das funções lógicas or e and. Os seus 
0 e 1 representam constantes para nível lógico baixo e nível lógico alto, 
respectivamente. As letras maiúsculas representam variáveis booleanas que 
podem assumir, em cada momento, um dos dois níveis lógicos: 0 ou 1. As 
variáveis booleanas são sinais, ou sinais digitais, presentes em circuitos e 
sistemas digitais. O símbolo de adição representa a função lógica or e o ponto 
representa a função lógica and. Portanto, nesse contexto, a expressão: Q = A + 
B . C significa: Q recebe A or B and C, cujo procedimento de cálculo é o resultado 
da operação de B and C, que tem precedência, com a variável booleana A pela 
função or, cujo resultado deve ser armazenado na variável booleana Q. 
Para auxiliar na análise das propriedades das expressões booleanas, 
relembre os circuitos equivalentes das funções lógicas. A expressão A + 0 = A, 
por exemplo, remete ao circuito equivalente no qual dois interruptores estão em 
paralelo, com um delespermanentemente desligado. A lâmpada será 
 
 
41 
energizada unicamente pela ação do interruptor representado por A. Na 
expressão A + 1 = 1, o interruptor A está em paralelo com outro interruptor 
permanentemente ligado, mantendo a lâmpada permanentemente ligada. Já a 
expressão A . 0 = 0 remete a um circuito no qual dois interruptores estão em 
série, mas um deles permanentemente aberto. A lâmpada permanecerá 
apagada. Expandindo esse raciocínio, percebe-se que, caso existam chaves em 
série com uma permanente aberta, o resultado será zero: L = A.B.C.A.B.0 = 0 ou 
L = A.A.A.A.0 = 0 (L representa o estado lógico da lâmpada). Todas as chaves 
podem ser eliminadas do circuito (ou simplificadas na expressão booleana), pois 
não exercem efeito sobre o acionamento da lâmpada. Dessa forma: L = 0. A 
expressão A.A.A...A representaria chaves em série com acionamento comum 
sendo, naturalmente, tão efetivas como uma única chave: L = A.A.A.A = A. 
Figura 34 – Propriedades da álgebra booleana para as funções or e and 
 
Fonte: Elaborado com base em Pedroni, 2010. 
5.2 Teoremas, princípios e leis aplicados às expressões booleanas 
Os principais teoremas aplicáveis às expressões booleanas no processo 
de simplificação estão presentes nas Figuras 35-36. Os principais princípios e 
leis estão presentes na Figura 36. Os teoremas podem ser demonstrados pela 
manipulação algébrica, com base nas propriedades das funções booleanas. O 
princípio da dualidade é uma generalização das leis de Morgan. A dualidade é 
 
 
42 
observada em vários momentos, ao longo dos estudos dos circuitos digitais e 
nas soluções alternativas apresentadas em soluções técnicas. 
Figura 35 – Teoremas aplicados à álgebra booleana 
 
Fonte: Elaborado com base em Pedroni, 2010. 
O desenvolvimento de expressões booleanas pode utilizar qualquer 
combinação de propriedades, leis ou teoremas, desde que a álgebra seja 
corretamente executada. 
Figura 36 – Leis e princípios aplicados à álgebra booleana 
 
Fonte: Elaborado com base em Pedroni, 2010. 
O uso de uma apóstrofe, uma forma gráfica mais simples para 
manipulação em editores eletrônicos de textos, é utilizada para indicar a função 
not, de inversão ou negação: A′ ≡ A̅. Outro reforço conceitual é dado pela 
negação da negação de variável: (A′)′ = A ou A̿ = A, que faz com que ela retorne 
 
 
43 
ao seu valor inicial. O princípio da dualidade (PD) pode ser observado pelo 
desenvolvimento algébrico como segue: 
• 𝑓(𝑎, 𝑏, 𝑐,+,∙) = 𝑓′(𝑎′, 𝑏′ , 𝑐′,∙, +): PD; 
• 𝑓(𝑎, 𝑏, 𝑐,+,∙) → (𝑎. 𝑏. 𝑐′) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐: função de prova; 
• (𝑎. 𝑏. 𝑐′) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐 = ((𝑎′ + 𝑏′ + 𝑐). (𝑎′. 𝑏′) + 𝑐′)′: aplicação de PD. 
Figura 37 – Simplificação de portas de três entradas para duas entradas em 
funções nor e nand 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
A demonstração do PD feita anteriormente pode ser obtida aplicando-se 
na função de prova a lei de de Morgan duas vezes, no lado esquerdo da 
identidade, como segue: 
• (𝑎. 𝑏. 𝑐̅) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐 = (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅ 
• (𝑎. 𝑏. 𝑐̅) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿ = (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅ 
• (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ = (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅ 
Uma aplicação prática do PD e da lei de Morgan é apresentada na Figura 
37, na qual se substitui uma porta lógica de três entradas por portas de duas 
entradas. Essa substituição pode ser necessária para o aproveitamento de 
 
 
44 
portas disponíveis de um CI (duas portas), evitando-se acrescentar outro 
componente ao projeto (três portas). 
Quando as funções não são negadas, para a mesma utilização descrita 
no parágrafo anterior basta aplicar as propriedades associativas, conforme 
demostrado na Figura 38. 
Figura 38 – Utilização prática das propriedades associativas 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, abordamos os principais conceitos que distinguem a 
eletrônica digital de outras disciplinas, como níveis lógicos, sistema binário e 
aspectos importantes dos sinais digitais. Foram abordadas as principais formas 
de representação binária, a conversão entre bases e a forma de representação 
de algarismos, números inteiros e números reais pelo modelo de ponto flutuante, 
além da representação de caracteres pela tabela ACSII (Ansi, 1963). Foram 
apresentadas técnicas de circuitos eletrônicos por trás das famílias lógicas de 
circuitos e dos componentes digitais, níveis lógicos e termos técnicos 
empregados nos projetos de circuitos digitais. Os circuitos lógicos que realizam 
as funções digitais, as propriedades e teoremas necessários para representar e 
simplificar expressões booleanas também foram desenvolvidas nesta aula, como 
base para a síntese de circuitos digitais a serem abordados nas próximas aulas. 
 
 
45 
REFERÊNCIAS 
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Paulo: Melhoramentos, 2015. Disponível em: 
. Acesso em: 18 jun. 2021. 
ANSI – American National Standards Institute. American Standard Code for 
Information Interchange. Washington, 16 jun. 1963. 
DATASHEET CD4069UB – Texas Instruments. Disponível em: 
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DATASHEET DM74LS00 – Fairchild Semiconductor. Disponível em: 
. Acesso em: 5 jul. 2021. 
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Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2021. 
ISO – International Organization for Standardization; IEC – International 
Electrotechnical Commission. ISO/IEC 8859-1:1998: information technology – 8-
bit single-byte coded graphic character sets – part 1: Latin alphabet no 1. 
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PEDRONI, V. A. Eletrônica digital moderna e VHDL. Rio de Janeiro: Elsevier, 
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ROONEY, A. A história da matemática: desde a criação das pirâmides até a 
exploração do infinito. São Paulo: M.Books do Brasil, 2012. 
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46 
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. Acesso em: 18 jun. 2020. 
THE UNICODE CONSORTIUM. The Unicode Standard. v. 5.0. 5. ed. [S.l.]: 
Addison-Wesley Professional, 2006. 
TOCCI, R. J. Sistemas digitais: princípios e aplicações. 11. ed. São Paulo: 
Pearson Prentice Hall, 2011.zero. Por outro lado, apenas 
com as duas entradas em zero é possível levar a saída a nível alto. Além disso, 
assim como na função and, o circuito é naturalmente nor, necessitando de uma 
função inversora para produzir a função or. 
Figura 30 – Propriedades da função or nos circuitos CMOS or e CMOS nor 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
4.4 Portas OU exclusivo (xor) e NOU exclusivo (xnor) 
A função xor é muito utilizada em uma série de circuitos digitais, de 
controle de sinais a circuitos de paridade. A saída de uma porta lógica xor será 
alta apenas se uma das duas entradas estiver também em nível alto. Nenhuma 
ou as duas entradas ativas levará a saída ao nível zero. A função xnor é a 
negação da função xor, conforme já observado nas funções lógicas vistas 
anteriormente. A simbologia das funções xor e xnor é apresentada na Figura 31, 
item (a). O circuito equivalente na Figura 31, item (b), diferentemente das 
funções lógicas anteriores, é representado por uma porta inversora com uma 
chave de passagem (bypass) controlada por uma das entradas, nesse caso, A. 
Dependendo do estado de A, B será levado à saída invertido ou não. Pode-se 
dizer que ocorre uma inversão controlada, que pode ser observada na sua 
tabela-verdade. 
A função xor apresenta uma expressão alternativa que utiliza as funções 
and e or, conforme apresentado na Figura 31, item (c), e é demonstrada pelo 
seu desenvolvimento em tabela-verdade também na Figura 31, mas no item (e). 
 
 
37 
As respectivas tabelas-verdade e expressões booleanas das funções lógicas xor 
e xnor são apresentadas na Figura 31, em (d) e (e). Note que a função xor é 
representada por um sinal de adição envolto por um círculo. Na tabela de 
demonstração da Figura 31, item (e), cada coluna representa uma parte da 
evolução da prova de equivalência. Nas duas primeiras colunas estão as 
variáveis de entrada A e B. Nas duas seguintes, as respectivas negações das 
variáveis de entrada, pois serão necessárias para as próximas colunas. Nas 
duas próximas colunas, acham-se as expressões em and: �̅� ∙ 𝐵 e 𝐴 ∙ �̅�. Na última 
coluna, se operam as duas colunas anteriores em or: �̅� ∙ 𝐵 + 𝐴 ∙ �̅�. 
Figura 31 – Funções lógicas xor e xnor: (a) simbologia; (b) circuito equivalente 
xor; (c) função lógica equivalente xor; (d) tabelas-verdade e expressões 
booleanas de xor e xnor, respectivamente; (e) prova de equivalência xor 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
As propriedades da função lógica xor, na Figura 32, item (a), são pouco 
intuitivas e precisam ser desenvolvidas utilizando-se a expressão alternativa 
demonstrada anteriormente. Os circuitos CMOS das funções xor e xnor são 
apresentadas também na Figura 32. Observe que os circuitos básicos são iguais, 
mas os sinais de entrada estão espalhados entre os transistores MOS, para 
executar as funções lógicas. No arranjo dos transistores PMOS, valores iguais 
para A e B cortam os transistores e há: 
a. Se A e B forem iguais a zero: 
• condução dos dois PMOS ligados à saída; 
• bloqueio dos dois PMOS ligados ao VDD; 
• condução dos transistores NMOS do ramo da direita. 
 
 
38 
b. Se A e B forem iguais a VDD: 
• condução dos dois PMOS ligados ao VDD; 
• bloqueio dos dois PMOS ligados à saída; 
• condução dos transistores NMOS do ramo da esquerda. 
c. Se A = 1 e B = 0: 
• condução dos PMOS esquerdo, ligado ao VDD, e direito, ligado à saída; 
• bloqueio dos PMOS direito, ligado ao VDD, e esquerdo, ligado à saída; 
• bloqueio dos dois ramos NMOS. 
d. Se A = 0 e B = 1: 
• condução dos PMOS direito, ligado ao VDD, e esquerdo, ligado à saída; 
• bloqueio dos PMOS esquerdo, ligado ao VDD, e direito, ligado à saída; 
• bloqueio dos dois ramos NMOS. 
Figura 5 – Propriedades da função xor: circuito CMOS xor e circuito CMOS xnor 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
4.5 Buffer de três estados (tri-state) 
Os buffers tri-state não alteram o estado de sinais e são utilizados por 
esse motivo no controle de sinais, em estado de alta impedância. Normalmente, 
no seu arranjo de saída CMOS, temos sempre um MOS cortado e outro 
conduzindo, com a presença de VDD ou VSS na saída. No estado de alta 
impedância, há dois MOS cortados e nem VDD nem VSS presentes na saída. Uma 
vez que o buffer se conecta com linhas comuns, nas quais existem outros 
 
 
39 
circuitos de saída conectados, chamados de barramentos, esse estado permite 
que outros utilizem a linha sem incorrer em risco de sobrecarga e curtos-
circuitos. Sistemas microprocessados utilizam intensivamente barramentos, 
minimamente nos sinais de controle, dados e endereços. 
Consistem em características do buffer de três estados: 
• quando habilitado, o estado de saída segue a entrada, como um buffer 
comum; 
• quando não habilitado, a saída vai a um estado de alta impedância; 
• a sua tabela-verdade indica Z como estado de alta impedância; 
• é utilizado para dar acesso a barramentos. 
Na Figura 33, item (a), é apresentada a simbologia do buffer, que conta, 
além da entrada e da saída, com um sinal de habilitação (enable – ENA), que 
libera a saída ou o coloca em alta impedância, o que é observado na tabela-
verdade da Figura 33, item (b). 
Figura 33 – Buffers de três estados: (a) simbologia; (b) tabela-verdade do buffer 
tri-state; (c) aplicação típica do buffer tri-state; (d) sistema digital com múltiplos 
barramentos e CIs; (e) circuito CMOS equivalente do buffer tri-state 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
Um sinal de barramento possui vários bits, que são transportados de 
forma paralela. O arranjo da Figura 33, item (c), apresenta um buffer de um 
barramento simples de 4 bits. Atualmente, os barramentos de dados contam com 
pelo menos 32 bits. Na Figura 33, item (d), é apresentado um sistema didático 
 
 
40 
com a representação de múltiplos barramentos que se espalham pela placa de 
circuito. Por fim, ainda na Figura 33, item (e), está ilustrado o circuito CMOS do 
buffer tri-state. Observe que foram acrescentados mais dois MOS ao circuito 
estudado na Figura 26, item (c). Esses transistores bloqueiam ou conduzem 
simultaneamente, conforme o estado do sinal ENA. 
TEMA 5 – EXPRESSÕES BOOLEANAS 
Neste tema, serão apresentados os teoremas e propriedades para 
manipulação de expressões booleanas. Esse conhecimento conduz à redução 
de expressões booleanas, eliminando redundâncias desnecessárias. Na prática, 
essa simplificação leva à redução dos circuitos digitais pela redução da 
quantidade de portas lógicas ou de entradas digitais, que leva, 
consequentemente, à redução de transistores. Circuitos com menos transistores, 
executando as mesmas funções lógicas, são mais rápidos, ocupam menos área 
de silício e consomem menos energia. Veremos que as variáveis booleanas 
guardam valores lógicos que podem estar associados aos estados de entidades 
físicas, como um interruptor, uma lâmpada; ou ao sinal de reset de um 
processador. 
5.1 Propriedades das expressões booleanas 
A Figura 34 apresenta propriedades das funções lógicas or e and. Os seus 
0 e 1 representam constantes para nível lógico baixo e nível lógico alto, 
respectivamente. As letras maiúsculas representam variáveis booleanas que 
podem assumir, em cada momento, um dos dois níveis lógicos: 0 ou 1. As 
variáveis booleanas são sinais, ou sinais digitais, presentes em circuitos e 
sistemas digitais. O símbolo de adição representa a função lógica or e o ponto 
representa a função lógica and. Portanto, nesse contexto, a expressão: Q = A + 
B . C significa: Q recebe A or B and C, cujo procedimento de cálculo é o resultado 
da operação de B and C, que tem precedência, com a variável booleana A pela 
função or, cujo resultado deve ser armazenado na variável booleana Q. 
Para auxiliar na análise das propriedades das expressões booleanas, 
relembre os circuitos equivalentes das funções lógicas. A expressão A + 0 = A, 
por exemplo, remete ao circuito equivalente no qual dois interruptores estão em 
paralelo, com um delespermanentemente desligado. A lâmpada será 
 
 
41 
energizada unicamente pela ação do interruptor representado por A. Na 
expressão A + 1 = 1, o interruptor A está em paralelo com outro interruptor 
permanentemente ligado, mantendo a lâmpada permanentemente ligada. Já a 
expressão A . 0 = 0 remete a um circuito no qual dois interruptores estão em 
série, mas um deles permanentemente aberto. A lâmpada permanecerá 
apagada. Expandindo esse raciocínio, percebe-se que, caso existam chaves em 
série com uma permanente aberta, o resultado será zero: L = A.B.C.A.B.0 = 0 ou 
L = A.A.A.A.0 = 0 (L representa o estado lógico da lâmpada). Todas as chaves 
podem ser eliminadas do circuito (ou simplificadas na expressão booleana), pois 
não exercem efeito sobre o acionamento da lâmpada. Dessa forma: L = 0. A 
expressão A.A.A...A representaria chaves em série com acionamento comum 
sendo, naturalmente, tão efetivas como uma única chave: L = A.A.A.A = A. 
Figura 34 – Propriedades da álgebra booleana para as funções or e and 
 
Fonte: Elaborado com base em Pedroni, 2010. 
5.2 Teoremas, princípios e leis aplicados às expressões booleanas 
Os principais teoremas aplicáveis às expressões booleanas no processo 
de simplificação estão presentes nas Figuras 35-36. Os principais princípios e 
leis estão presentes na Figura 36. Os teoremas podem ser demonstrados pela 
manipulação algébrica, com base nas propriedades das funções booleanas. O 
princípio da dualidade é uma generalização das leis de Morgan. A dualidade é 
 
 
42 
observada em vários momentos, ao longo dos estudos dos circuitos digitais e 
nas soluções alternativas apresentadas em soluções técnicas. 
Figura 35 – Teoremas aplicados à álgebra booleana 
 
Fonte: Elaborado com base em Pedroni, 2010. 
O desenvolvimento de expressões booleanas pode utilizar qualquer 
combinação de propriedades, leis ou teoremas, desde que a álgebra seja 
corretamente executada. 
Figura 36 – Leis e princípios aplicados à álgebra booleana 
 
Fonte: Elaborado com base em Pedroni, 2010. 
O uso de uma apóstrofe, uma forma gráfica mais simples para 
manipulação em editores eletrônicos de textos, é utilizada para indicar a função 
not, de inversão ou negação: A′ ≡ A̅. Outro reforço conceitual é dado pela 
negação da negação de variável: (A′)′ = A ou A̿ = A, que faz com que ela retorne 
 
 
43 
ao seu valor inicial. O princípio da dualidade (PD) pode ser observado pelo 
desenvolvimento algébrico como segue: 
• 𝑓(𝑎, 𝑏, 𝑐,+,∙) = 𝑓′(𝑎′, 𝑏′ , 𝑐′,∙, +): PD; 
• 𝑓(𝑎, 𝑏, 𝑐,+,∙) → (𝑎. 𝑏. 𝑐′) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐: função de prova; 
• (𝑎. 𝑏. 𝑐′) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐 = ((𝑎′ + 𝑏′ + 𝑐). (𝑎′. 𝑏′) + 𝑐′)′: aplicação de PD. 
Figura 37 – Simplificação de portas de três entradas para duas entradas em 
funções nor e nand 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
A demonstração do PD feita anteriormente pode ser obtida aplicando-se 
na função de prova a lei de de Morgan duas vezes, no lado esquerdo da 
identidade, como segue: 
• (𝑎. 𝑏. 𝑐̅) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐 = (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅ 
• (𝑎. 𝑏. 𝑐̅) + (𝑎 + 𝑏). 𝑐̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿̿ ̿ = (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅ 
• (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ = (�̅� + �̅� + 𝑐). (�̅�. �̅�) + 𝑐̅̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅ 
Uma aplicação prática do PD e da lei de Morgan é apresentada na Figura 
37, na qual se substitui uma porta lógica de três entradas por portas de duas 
entradas. Essa substituição pode ser necessária para o aproveitamento de 
 
 
44 
portas disponíveis de um CI (duas portas), evitando-se acrescentar outro 
componente ao projeto (três portas). 
Quando as funções não são negadas, para a mesma utilização descrita 
no parágrafo anterior basta aplicar as propriedades associativas, conforme 
demostrado na Figura 38. 
Figura 38 – Utilização prática das propriedades associativas 
 
Fonte: Rattmann, 2021. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, abordamos os principais conceitos que distinguem a 
eletrônica digital de outras disciplinas, como níveis lógicos, sistema binário e 
aspectos importantes dos sinais digitais. Foram abordadas as principais formas 
de representação binária, a conversão entre bases e a forma de representação 
de algarismos, números inteiros e números reais pelo modelo de ponto flutuante, 
além da representação de caracteres pela tabela ACSII (Ansi, 1963). Foram 
apresentadas técnicas de circuitos eletrônicos por trás das famílias lógicas de 
circuitos e dos componentes digitais, níveis lógicos e termos técnicos 
empregados nos projetos de circuitos digitais. Os circuitos lógicos que realizam 
as funções digitais, as propriedades e teoremas necessários para representar e 
simplificar expressões booleanas também foram desenvolvidas nesta aula, como 
base para a síntese de circuitos digitais a serem abordados nas próximas aulas. 
 
 
45 
REFERÊNCIAS 
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graphic character sets – part 2: Latin alphabet no 2. Genebra, 21 jan. 1999. 
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exploração do infinito. São Paulo: M.Books do Brasil, 2012. 
%3c
 
 
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<https://www.ti.com/lit/pdf/sdyu001>. Acesso em: 18 jun. 2020. 
THE UNICODE CONSORTIUM. The Unicode Standard. v. 5.0. 5. ed. [S.l.]: 
Addison-Wesley Professional, 2006. 
TOCCI, R. J. Sistemas digitais: princípios e aplicações. 11. ed. São Paulo: 
Pearson Prentice Hall, 2011.

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