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ORIENTAÇÕES SOBRE A CONFECÇÃO DE PROJETOS DE PESQUISA

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ORIENTAÇÕES SOBRE A CONFECÇÃO
DE PROJETOS DE PESQUISA DE FINAL DE CURSO E DE ARTIGOS
Ofereço, abaixo, indicações de como conceber um projeto de pesquisa ou mesmo um 
projeto de artigo. Habitualmente, só se pensa em fazer um projeto quando se está realizando um 
trabalho final de curso. Entretanto, também um artigo pode ser precedido de um projeto. Este 
não é feito só de inspiração. Há processos para se estruturar as ideias, de modo que se 
organizem e se tornem produtivas.
O projeto é ao mesmo tempo uma estruturação e uma antecipação do que se vai 
pesquisar. Quando o projeto de pesquisa está bem elaborado, a escritura avança muito bem. 
Quando se dá o contrário, ela parece não andar, não se sabe para onde ir, as ideias se amontoam. 
A escritura fica emperrada.
O que dá vida ao projeto é a pergunta, a questão que ele traz. Trata-se, portanto, em um 
projeto, de estruturar essa pergunta, de tal modo que ela possa ser desenvolvida. Dito isso, 
gostaria de fazer uma observação.
Frequentemente, projetos de pesquisa exigidos para concursos, tais como seleções de 
mestrado ou doutorado – normalmente, neste caso, são chamados de anteprojetos, pois o projeto 
propriamente dito vai ser elaborado, em estreito diálogo com o orientador, quando o candidato 
ingressar no curso – obedecem a modelos instituídos pela instituição que os exige. 
Evidentemente que, se for assim, o modelo terá de ser respeitado. As indicações que faço são, 
portanto, mais no sentido de expor um processo de confecção do que de propor um modelo.
Feita essa ressalva, passo às citadas orientações.
A) DO PROJETO DE PESQUISA OU DE ARTIGO
A ordem de disposição de um projeto frequentemente é a seguinte:
1- Introdução
2- Justificativa
3- Objetivos
3.1- Objetivo geral
3.2- Objetivos específicos
4- Método
5- Cronograma
6- Bibliografia
Esta é, em geral, a ordem de disposição das partes que compõe um projeto. Podem 
existir variações na aparição desses elementos, mas eles estão sempre presentes, mesmo que 
não expressamente em um item independente. Todos eles, no entanto, têm de se fazer presentes, 
pois não há pesquisa sem objetivos, sem justificativa, sem um método, sem um cronograma, e 
que não esteja em diálogo com outras obras (bibliografia).
Se, no entanto, a ordem de disposição final do projeto é a indicada acima, não é esta a 
ordem em que ele é concebido e redigido. Abaixo, vai a ordem da concepção e da redação do 
projeto:
3.1- Objetivo geral - A primeira coisa a definir e redigir é o objetivo geral. Nele, você 
enunciará, de modo muito sucinto e direto, o que pretende pesquisar. O objetivo geral é o 
coração do projeto. Ele é a primeira coisa a se conceber. Nele, não pode haver imprecisão. É 
dele que nasce tudo. É, inclusive, tendo em vista o grau de realização desse objetivo geral que 
sua pesquisa será avaliada pela banca examinadora (ou pelos leitores em geral, no caso de um 
artigo). A pesquisa bem-sucedida é a que realiza plenamente o objetivo geral proposto.
Se o que você vai fazer é uma pesquisa, então é conveniente que o objetivo geral inicie 
pelo verbo “pesquisar”. Por exemplo: “Objetivo Geral: pesquisar a questão da literariedade na 
obra X”. Pode parecer que esse comentário sobre o verbo é desnecessário. Mas, creio que não. 
O verbo é o que instaura sentido do que se vai realizar no texto, o verbo é ação. Então, começar 
pelo verbo adequado, que é “pesquisar”, diz o que você vai efetivamente fazer. No entanto, no 
exemplo acima, o verbo também poderia ser “verificar” ou outro (“verificar a questão da 
literariedade na obra X”), na medida em que “verificar”, neste caso, quer dizer pesquisar, pois, é 
claro, trata-se de uma pesquisa.
3.2- Objetivos específicos - Estabelecido o objetivo geral, você passará aos objetivos 
específicos. Neste item, você enunciará, também de modo sucinto, os temas colaterais que serão 
tratados tendo em vista a consecução do objetivo geral. Os temas colaterais são aqueles que, 
como a palavra “colateral” diz, estão do lado do objetivo geral, mas com ele não se confundem. 
Os objetivos específicos estão a reboque do objetivo geral. Eles são aspectos a serem 
desenvolvidos para a plena realização do objetivo geral.
Observação: Peço que notem algo muito importante: tanto no objetivo geral quanto nos 
específicos, não se trata de discorrer em forma textual, discursiva, em longos períodos, mas de 
enunciar, em frases curtas, tais objetivos. Afinal, eles são, como o nome diz, objetivos, não 
explicações. As explicações ficam na justificativa. Na justificativa, sim, os objetivos serão 
expostos discursivamente e, é óbvio, justificados. A justificativa só pode ser escrita, 
evidentemente, se os objetivos estiverem previamente traçados.
4- Método - Se a sua pesquisa tem como meta a realização de um objetivo geral, você mostrará 
aqui, no Método, o caminho que descreverá para realizá-lo. Método é "entre-caminho", o 
caminho que descreverá entre as questões postas em obra pela obra. O método é o diálogo com 
as questões da obra ou com uma dada questão que desafia o pensamento, se for uma pesquisa 
que foca um tema mais teórico. Leiam, por favor, o texto que envio sobre a questão do método, 
o qual integra um livro que estou coorganizando e que sairá em breve: Convite ao pensar.
2- Justificativa - Agora, você passará a justificar o projeto, aqui, sim, redigindo um texto. Na 
justificativa, você relacionará o projeto com os contextos filosóficos, históricos, sociais, 
culturais etc. em que a pesquisa se insere. Por exemplo, se vivemos em uma época de domínio 
da tradição metafísica, seu projeto se justifica por oferecer, em diálogo com uma grande obra de 
arte, uma crítica e uma superação dessa tradição. Se vivemos em uma época de subjetivismo, 
sua pesquisa se justifica por retomar a questão do que é o homem, não para defini-lo, mas para 
mostrar que pode e deve ser pensado para além daquelas amarras. Se vivemos em uma época 
que trata o real como um objeto, sua pesquisa mostrará que o real é uma questão, e que, como 
tal, não pode ser reduzido às determinações do sujeito. Se vivemos em uma época que enxerga 
na linguagem somente um instrumento de comunicação, sua pesquisa mostrará que ela pode ser 
pensada ontologicamente, em seu ser, como a ação do real se colocando em questão, se 
desvelando para o homem. 
Se qualquer pesquisa, evidentemente, se insere na época em que é desenvolvida (mesmo 
que a obra a ser interpretada tenha sido escrita há 3.000 anos), o diálogo com os contextos 
culturais de nosso tempo é essencial para uma justificativa. Afinal, a importância da pesquisa, 
sua relevância, está justamente nisso: mostrar que uma determinada obra ou um tema de 
pesquisa podem nos fazer enxergar as coisas de uma maneira inaugural. Para tanto, ela há de 
demonstrar as vicissitudes e desafios que se apresentam ao homem de nosso tempo, ao mesmo 
tempo oferecendo uma superação do atual quadro de coisas. Se a pesquisa não fizer isso, ela 
simplesmente não se justifica. Ninguém vai perder tempo fazendo ou lendo o que não se 
justifica.
5- Cronograma - Estabeleça um cronograma das atividades de pesquisa e de redação, sem 
jamais perder de vista a exequibilidade do projeto, tendo em vista os prazos de que dispõe. Um 
mestrado dura dois anos, um doutorado cinco. É claro que se o tempo de um é menor do que do 
outro, isso tem de ser levado em conta. Por outro lado, ninguém fica escrevendo um artigo anos 
a fio. Isso não tem sentido. O importante é produzir e, uma vez o texto produzido, já partir para 
outro. As questões que não forem desenvolvidas em um trabalho, serão no subsequente. A vida 
não pode ficar paralisada. O cronograma é, portanto,absolutamente necessário, pois ele 
determinará o grau de aprofundamento que a pesquisa poderá ter.
6- Bibliografia - Indicar a bibliografia pertinente tanto sobre a obra estudada (fortuna crítica) 
quanto a que trata de temas que se acham presentes na obra. Esses temas já terão sido indicados 
no objetivo geral e nos específicos.
1- Introdução - Esta é a última coisa a se fazer. Se a introdução, por definição, deve conter 
palavras introdutórias a respeito de tudo o que virá depois (objetivos, justificativa, método, 
bibliografia), então ela só pode ser escrita por último. É preciso que você conheça tudo o que 
virá depois da introdução para poder redigi-la, por isso ela é a última a ser feita.
B) DO SUMÁRIO DO TRABALHO FINAL DE CURSO OU DAS SUBDIVISÕES DO 
ARTIGO
Uma vez feito o projeto, você partirá para uma segunda etapa, que é a da concepção dos 
capítulos do sumário, no caso de um trabalho final de curso, ou do estabelecimento das 
subdivisões do artigo, no caso de ele ser dividido em partes.
Nos capítulos ou subdivisões, você desenvolverá o objetivo geral e os específicos. Para 
que esses objetivos possam se alcançar, evidentemente você passará por etapas. Essas etapas 
são as partes que compõem o trabalho.
Proponho que, após estabelecido o título do trabalho e os títulos dos capítulos e 
subdivisões, você escreva, embaixo deles, um resumo do que tenciona escrever em cada parte. 
Dou um exemplo com um trabalho dividido em três capítulos:
TÍTULO DO TRABALHO
CAPÍTULO I – (título do Capítulo I)
Aqui, você escreverá um resumo do Capítulo I
CAPÍTULO II – (título do capítulo II)
Aqui, você escreverá um resumo do Capítulo II
CAPÍTULO III – (título do capítulo III)
Aqui, você escreverá um resumo do Capítulo II
Os capítulos e subdivisões, bem como seus títulos, podem, durante a redação, ser 
transformados, alterados, desmembrados, uns podem se aglutinar aos outros etc. Mas eles são 
importantes para dar início à escritura. Servem como um roteiro de viagem. Ninguém vai de 
Portugal ao Brasil, por mar, sem traçar previamente uma rota. Mas, durante a viagem, esse 
roteiro, segundo as necessidades e descobertas, pode ser alterado. Você só começará a escrever 
o texto propriamente dito – isto é, a fazer a viagem da criação textual – após estabelecidas as 
partes em que se articula o trabalho, as quais servirão de roteiro da escritura.
C) DA REDAÇÃO DO TRABALHO FINAL OU DO ARTIGO
Gostaria, agora, de chamar a atenção para aspectos relativos à redação, não 
evidentemente do ponto de vista gramatical, mas, digamos, relativos à criação do texto.
No meu entender, o melhor estilo é o mais direto, com períodos curtos, cuja sucessão se 
dá com uma boa coesão. A escritura que tem o ritmo da oralidade, mas que não se deixa 
contaminar pelo desleixo, é, para mim, a mais indicada. Esta, no entanto, é a minha opinião. 
Cada um tem seu estilo, o qual tem de ser respeitado. Um escritor francês do século XVIII, 
chamado Georges-Louis Leclerc, Conde de Buffon, disse algo famoso: Le style c'est l'homme 
même (o estilo é o próprio homem). Mas o estilo não é algo meramente formal, muito menos 
simples retórica. O estilo é o modo como damos corpo às questões em nossas existências, como 
as fazemos assomar à linguagem. Não estou, portanto, falando da corrente crítico-teórica da 
estilística, mas da manifestação de uma existência no texto, a maneira como este a incorpora, dá 
corpo às questões.
De todo modo, não há a necessidade de “escrever difícil”. O importante é a articulação 
das ideias, a costura entre elas, sempre atento à coesão e à coerência textuais. Naturalmente, se 
faz imperioso, após escrever o texto, revisá-lo meticulosamente, para aparar as arestas que 
puderem ter ficado (e é sempre bom pedir para alguém gabaritado revisar, pois o autor, em 
razão da familiaridade com o texto, a partir de um certo momento já não consegue perceber 
claramente o que está escrito).
O dicionário é ferramenta absolutamente necessária, porque evidentemente dúvidas 
sobre o significado e emprego adequado das palavras surgirão. O melhor dicionário da língua 
portuguesa que conheço, atualmente, é o Houaiss, que tem inclusive uma versão eletrônica, o 
que facilita muito o uso. Ele traz a etimologia. Levá-la em consideração é fundamental quando 
se escreve, pois, para retirar o bolor conceitual que foi se acumulando nas palavras-questões, é 
necessário pesquisar o que elas queriam dizer em sua origem. Uma dimensão essencial da 
pesquisa é a da limpeza das palavras, para restituir-lhes o brilho que, por si sós, já têm. 
Lembremo-nos do que, reiteradamente, diz Heidegger no ensaio “A linguagem”, do livro A 
caminho da linguagem: “a linguagem fala”.
A criação de um texto é como a arte do tecelão. É uma articulação de fios que vão 
formando uma trama. Não à toa, a palavra texto (textus) vem do verbo latino texere (tecer, 
construir). Os fios são como tecemos e entretecemos as questões. A questão ou questões do 
objetivo geral se entretecem com as questões presentes no objetivo específico, já que uma 
questão sempre convoca e se desdobra em outras, em uma circularidade. Mas, como vimos, o 
que você tem de realizar, em primeiro lugar, é o objetivo geral. Os objetivos específicos serão 
desenvolvidos somente na medida em que o objetivo geral assim o exigir. Assim, o texto como 
um todo ganha em unidade, pois gravita em torno do objetivo geral.
Os espaços que há em todo tecido (os silêncios do seu texto, o que significa que você 
não vai definir as questões, mais desenvolvê-las e percorrê-las) são as questões que movem a 
criação textual. Um tecido tem, é claro, espaços entre os fios, senão não seria um tecido, mas, 
por exemplo, um plástico. Esses espaços vazios do texto são as questões que, por jamais se 
esgotarem em conceitos, convidam ao pensamento e provocam a travessia da pesquisa. 
Guimarães Rosa, no prefácio “Aletria e hermenêutica”, do livro Tutaméia, se referiu a esse 
vazio grávido de potencialidades, ao pronunciar que uma rede “é uma porção de buracos, 
amarrados com barbante”.
Você não há de definir as questões nem de pretender solucioná-las, já que não são 
problemas – estes, sim, passíveis de solução. Questões nos solicitam travessias. Neste percurso, 
as questões que estão presentes na pesquisa, as quais costumam ser vistas de um modo 
conceitual, são repostas – e aqui a tautologia é apenas aparente – à condição de questões. Dito 
de outro modo: a interpretação deve expor a limitação dos conceitos vigentes em nossa quadra 
histórico-cultural, sempre tendo em vista a ação jamais limitada das questões. Se essa ação não 
fosse ilimitada, não poderíamos continuar interpretando obras escritas há tanto tempo: suas 
questões continuam e continuarão a ser postas em obra quando alguém se dispõe a com elas 
dialogar. Cada diferente leitura da obra tem como identidade as questões da obra. Por isso, as 
diferentes interpretações não são subjetivas, mas doação das questões.
E uma última consideração a respeito da redação.
Escrever um texto é fazer um exercício de alteridade. Fernando Pessoa dizia que se 
“outrava” quando escrevia. Ele afirmou isso para explicar o surgimento dos heterônimos. Mas, 
em verdade, todo autor deve se “outrar” quando escreve. Aquele que produz um texto no âmbito 
de uma pesquisa também deve se “outrar”. O que afirmo é que se deve escrever levando em 
conta não somente a condição de autor, mas a situação do leitor, a quem o texto se dirige. É 
comum as pessoas escreverem pensando: “eu estou entendendo o que está está escrito, então 
está bom”. Entretanto, quando o autor se coloca no lugar do leitor, então ele há de se perguntar: 
“O leitor entenderá o que está escrito? Será que está bom?”. Ou seja:recomendo que se escreva 
colocando-se no lugar do leitor, nele “outrando-se”. Pense que o leitor não é obrigado a 
conhecer o tipo de abordagem que você fará. Portanto, seu texto deve ter um bom 
desenvolvimento, para que ele, aos poucos, vá adentrando nas questões que você está 
desenvolvendo. Cada tema há de ser exposto com início, meio e fim, para que se faça o 
desdobramento para os outros temas que virão. No conjunto, todo o trabalho deverá ter uma 
unidade, com introdução, desenvolvimento e conclusão.
*******
Por fim, quero dizer que as questões de uma obra não devem ser tratadas como objetos 
de análise. Elas não são algo que possamos ver “de fora”, como sujeitos contrapostos a objetos. 
Há que se permitir “adentrar” na obra, deixar-nos por suas questões afetar. Não é o caso de falar 
sobre a obra, mas de dialogar com a obra. Se a obra é um operar de questões – ou, para dizer 
com Heidegger na Origem da obra de arte, o pôr-em-obra da verdade (verdade como alétheia, 
desvelamento de questões) –, então a pesquisa exige que o intérprete seja verdadeiro, antes de 
tudo, consigo mesmo. Não se trata da verdade que se contrapõe ao falso como inadequação do 
juízo ao objeto. A verdade que o intérprete tem de ter é a que nasce do reconhecimento de que 
as questões que se desvelam na obra são questões que ele mesmo é. E, se ele não se reconhece 
como uma questão, aí, sim, estará incorrendo em um falseamento das coisas. Quando se dá um 
verdadeiro diálogo, a existência se transforma em obra. A atitude do pesquisador tem de ser a da 
entrega real, efetiva, incondicional às questões quando da confecção do texto, senão elas não 
podem operar em nossas vidas, meta de toda pesquisa. Afinal, em um texto que fazemos nós 
também nos escrevemos. Não basta dizer: é preciso ser o que se diz. 
A afetação erudita é atitude deslocada para a pesquisa – e, naturalmente, para a vida. 
Pois viver é pesquisar, pesquisar é viver, estamos sempre pesquisando, não só na academia, 
muitas coisas, por sermos humanos. Muita erudição – quando esta não passa de verniz cultural 
– é o contrário da compreensão. Ela pode, inclusive, ser a fachada atrás do qual o intérprete 
esconde sua falta de compromisso verdadeiro com o questionar e, sobretudo, com o questionar-
se. Neste caso, não passa de uma pseudo erudição, que se contrapõe à sabedoria. A pesquisa 
torna-se um jogo de vaidade através do qual o pesquisador tenta confirmar para os outros, como 
em um jogo distorcido de espelhos, as ideias e a imagem que tem de si mesmo (o alferes, do 
conto O espelho, de Machado de Assis). O fundamental não é a erudição, mas a compreensão, a 
procura da sabedoria, o sabor da vida. Este é o compromisso que deve animar a pesquisa.
Por outro lado, em toda pesquisa sobre um determinado tema ou obra, dialogaremos com 
outras obras. Por isso mesmo, que não se fique preso à necessidade de citar autores para parecer 
erudito, fazendo do mundo do pensamento um espaço de pavoneamento. O que conta é o que 
realmente é, o aparecer, o manifestar das questões, não o que parece e não é.
Neste mesmo sentido, digo que há de se evitar a aplicação de teorias filosóficas ou 
crítico-literárias prévias ao acontecer das obras, pois o que acabaríamos ouvindo não seria a 
obra, e, sim, estas teorias. Nada impede que dialoguemos com obras de outros autores nas 
pesquisas que fazemos. Esse diálogo é, sim, importante. Mas se trata de dialogar com o modo 
como suas obras elaboraram as questões, não apenas de repeti-los, usando-os para enxergar o 
que compete a nós enxergar. Cada ser humano é original. Caso se permita tomar pelas questões, 
seu olhar sempre será original, pois elas são fonte que não cessa de jorrar. Não precisamos do 
olhar dos outros para percorrer as questões que nós próprios somos. O diálogo com os outros 
certamente é fundamental. Mas diálogo não significa se deixar influenciar pelo outro. Como 
disse Guimarães Rosa, “um outro pode ser a gente; mas a gente não pode ser um outro, nem 
convém...”. Dialogar com as outras pessoas é movimentar-se com elas dentro das mesmas 
questões, para que cada um chegue a ser o seu próprio, de maneira inaugural.
A pesquisa existe para fazer desabrochar a criatividade que em nós já tem vigência desde 
sempre. Todo e qualquer ser humano, pelo simples fato de ser humano, já é dotado de um 
potencial inesgotável de criatividade. O homem é surpreendente, está sempre mudando, 
solicitado pelas coisas que não cessam de se transformar a cada instante. Ele pode criar muitas 
coisas (ou se embotar, caso prefira repetir). Mas o que ele não pode criar é a criatividade, pois 
esta já lhe foi doada para que seja humano – o ser, por excelência, criativo. Portanto, façamos 
de nosso percurso na academia um modo de agradecer o dom que recebemos, retribuindo-o no 
convite ao diálogo com os companheiros de viagem que se acham embarcados nessa época 
conosco, e mesmo os que virão, pois o que publicarmos, a nós sobrevive. O sol das questões 
nasce para todos. 
Não fiquemos preocupados se estamos escrevendo algo que tenha valor ou não, dúvida 
que comumente decorre da projeção (imaginária) do olhar dos outros sobre nós. O que importa 
é o próprio. Se o que escrevemos for autêntico, verdadeiro, fruto de uma real entrega às 
questões, sempre terá valor. Podem acreditar nisso. E comecemos acreditando em nós mesmos, 
pois cada existência é um poema original.
Espero estar, de algum modo, contribuindo com as pesquisas que estamos realizando e, 
principalmente, com a ideia de que pesquisar é conhecer-se. O “conhece-te a ti mesmo”, de 
Sócrates, é, afinal, a meta da vida. Que possamos dizer como Heráclito de Éfeso no fragmento 
101: “Procurei-me a mim mesmo”.
Qualquer dúvida ou orientação suplementar, é só me procurar.
Boa sorte, e mãos à obra, companheiros!
Belém, 26 de junho de 2014.
Antônio Máximo Ferraz
Professor da Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Programa de Pós-Graduação em Letras

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