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Apostila Damasio - Modalidade de obrigações

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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL – EAD 
 
MÓDULO OBRIGAÇÕES 
 
Data: 13.05.2015OFESSOR 
Professor: Marcelo Milagres 
 
1. Material pré-aula 
 
a. Tema 
 
Modalidades de Obrigações. 
 
b. Noções Gerais 
 
As obrigações se classificam à natureza de seu objeto (dar, fazer e 
não fazer), quanto ao modo de execução (simples, cumulativa, 
alternativa e facultativa) quanto ao tempo do adimplemento 
(instantânea, execução continuada e execução diferida), quanto ao 
fim (de meio, de resultado e de garantia), quanto aos elementos 
acidentais (condicional, modal e a termo), quanto aos sujeitos 
(divisível, indivisível e solidária) e quanto à liquidez (líquida e 
ilíquida). 
 
Em suma, a obrigação decorrente de uma relação jurídica, consiste 
em uma prestação positiva ou negativa, de dar, fazer ou não fazer. 
 
O objeto da obrigação difere do objeto da prestação. 
 
As prestações formam o conteúdo do negócio jurídico, 
compreendendo as determinações que se colocam para 
autoregulamentação dos respectivos interesses e seu conceito não se 
limita à conduta de prestar em si, mas também envolve o resultado 
da prestação, isto é, a efetivação do interesse do credor na prestação 
(ROSENVALD e FARIAS, 2013, p. 181). 
 
Exige-se da prestação uma possibilidade física e material, bem como 
a possibilidade jurídica e sua determinabilidade (determinada ou 
determinável). 
 
Os professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias enfrentam as 
classificações da obrigação da seguinte forma: quanto ao objeto, 
 
 
quanto aos elementos, quanto à exigibilidade e quanto ao conteúdo 
(2013, p. 185). 
 
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO OBJETO: 
 
Quanto ao objeto as obrigações podem ser de dar e restituir, fazer ou 
não fazer. 
 
Segundo A obrigação de dar não se confunde com o direito real que 
dela surgirá, visto que a relação obrigacional tem por escopo a 
entrega da prestação, sendo que o direito real poderá se formar pela 
tradição, por exemplo, de dar coisa certa, de bem imóvel 
(ROSENVALD e FARIAS, 2013, p. 187). 
 
Obrigação de Dar Coisa Certa 
 
A coisa certa é aquela que se identifica e se individualiza em suas 
características, apontando quantidade, gênero e individualização que 
a torna única. 
 
Em outras palavras, a coisa é certa quando puder ser identificada de 
plano, sem que a sua definição seja fruto de negociação em 
execução. 
 
Numa obrigação de dar coisa certa, ainda que o devedor ofereça bem 
de maior valor, o credor não estará obrigado a aceitá-la, dada 
especificação da coisa objeto da prestação. 
 
No certame da coisa certa, é possível que se abranja a obrigação de 
dar coisa certa futura, que, apesar de não existir ao tempo da 
celebração do negócio jurídico, já possui certeza e determinabilidade. 
 
Nas situações de perda ou deterioração da coisa certa (que se 
relacionam com tradição de bens para fins de posse ou propriedade), 
o legislador narra diversas soluções, e trata a matéria como teoria do 
risco. 
 
Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p.191) ensinam que a 
obrigação de dar coisa certa nasce de contratos bilaterais, que 
envolve direito para ambas as partes, e onde o risco correrá por 
conta do devedor e só será transferido ao credor com a tradição. 
 
 
 
A perda da coisa se traduz em perecimento do direito e decorre de 
seu desaparecimento natural, perecimento jurídico ou pela perda das 
qualidades essenciais e do valor econômico do bem. 
 
Nada impede que as partes convencionem sobre a responsabilidade 
pela teoria do risco ser do credor ou do devedor. 
 
A deterioração implica na redução das qualidades essenciais da coisa 
ou de seu valor econômico, sendo que ela ainda guarda sua 
identidade. 
 
Da mesma forma que a perda, a deterioração também é matéria da 
teoria do risco, e depende do momento e das causas que a 
ensejaram, para imputação de responsabilidade pela sua perda ou 
deterioração. 
 
O credor não está obrigado a receber a coisa certa deteriorada, 
podendo recusar a coisa e pretender receber o equivalente, ou 
receber a coisa deteriorada e uma pequena indenização relativa à 
deterioração da coisa. 
 
Nas obrigações de dar coisa certa, a mora do devedor possui papel 
considerável na teoria do risco. Isto porque se o atraso no 
cumprimento da prestação tenha ocorrido por culpa do devedor, 
ainda que sua perda ou destruição tenha ocorrido por caso 
fortuito/força maior, este deverá suportar, em favor do credor, as 
perdas e danos. 
 
Excludente desta responsabilidade se verifica na hipótese de se 
demonstrar que, ainda que a obrigação tivesse sido prestada 
tempestivamente, o evento lesivo não deixaria de ocorrer. 
 
De forma diversa, se a coisa for valorizada pelo decurso de tempo 
para a sua prestação, o devedor se reserva ao direito de exigir do 
credor as benfeitorias e acessões efetivadas, e poderá postular a 
extinção da obrigação caso o credor se recuse a pagar o novo valor. 
 
Se a obrigação for de restituir coisa (de propriedade do credor mas 
em posse do devedor) e esta se perder, sem culpa do credor, a 
obrigação se resolve pela perda do objeto. 
 
 
 
Se a coisa a restituir se deteriorar parcialmente, o credor deve aceitá-
la em seu estado atual, no caso da depreciação não ter ocorrido por 
culpa do devedor. 
 
Caso o credor se recuse a ser restituído da coisa no local, modo e 
tempo convencionados constituir-se-á em mora, e ficará 
responsabilizado por eventual perecimento da coisa. 
 
Obrigação de dar coisa incerta 
 
Trata da obrigação cuja peculiaridade é a indeterminação do objeto 
ao tempo de sua gênese, embora seja determinável ao menos pelo 
gênero e quantidade. 
De início, a prestação em si não é determinada, mas o são o gênero e 
a quantidade, e pode se tratar de bem fungível ou infungível. 
 
A coisa incerta não se confunde com a coisa futura, a depender da 
existência ou inexistência ao momento da negociação. 
 
As obrigações pecuniárias não se enquadram nas obrigações de dar 
coisa incerta, pois não dependem da qualidade da coisa a ser 
entregue, mas da quantidade, do valor que a moeda traduz. 
 
A escolha da coisa incerta incumbe ao credor, mas caso este silencie 
quanto à qualidade daqueles bens que serão objeto da prestação, o 
devedor poderá fazer tal escolha. Imprescindível, seja na escolha do 
credor ou do devedor, a observância do princípio da boa-fé. 
 
Em obrigações de dar coisa incerta, isto é,l obrigações de gênero, não 
se admite discussão acerca da perda da coisa no momento anterior à 
exteriorização da escolha da outra parte, mediante sua cientificação, 
sendo irrelevante a constatação de culpa do devedor, se a 
indeterminação do objeto é incompatível com o perecimento e o 
gênero nunca perece. 
 
 Nos ditames de ROSENVALD e FARIAS (2013, p. 208): 
 
À luz do princípio da proporcionalidade, muitas vezes será excessivo 
exigir do devedor a perpetuação da obrigação de dar coisa incerta 
pelo fato de a perda não ser a ele imputada em hipótese em que o 
gênero é limitado e há extrema dificuldade em cumprir. 
 
 
 
 
Obrigação de Fazer 
 
Diferentemente das obrigações de dar e restituir, as obrigações de 
fazer consistem na prestação de um fato, consistente na realização 
de uma atividade pessoal ou serviço pelo devedor ou por um terceiro, 
que não resulte, imediatamente, a transferência de direitos 
subjetivos. 
 
Esta diferenciação é apontada por Nelson Rosenvald e Cristiano de 
Farias, debruçados sobre estudo de Hamid Bdine (2013, p. 227) e 
após exemplificar a entrega de um imóvel por “A” a “B”, “porque 
compreendem esta conduta humana como antecedente lógico de uma 
eventual obrigação de entrega. Nas obrigações de dar, esta entrega 
não é precedida de uma atividade humana consistente em fazer. A 
distinção, portanto, está posta no fazer, que não se identifica quando 
a obrigaçãofor apenas de dar. 
 
Também indicam que há situações que englobam simultâneas e 
consecutivas obrigações de dar e fazer, e exemplificam a 
incorporação imobiliária (2013, p. 227): “é comum a obrigação de 
fazer do construtor (promover a construção do prédio e outorgar 
escritura definitiva aos promitentes compradores) e de dar 
(transferência da posse da unidade após a conclusão do prédio). 
 
Nas obrigações de fazer, é exigido um comportamento positivo do 
devedor que atribua vantagem ao credor, consistente em serviço de 
natureza física, intelectual ou na prática de um ato jurídico 
caracterizado por emissão de declaração de vontade. 
 
Podem ser duradouras ou instantâneas, a depender se aperfeiçoam-
se em único momento (instantânea) ou se a execução da obrigação 
se protrai no tempo de forma continuada ou periódico de trato 
sucessivo. 
 
É infungível a obrigação de fazer que só pode ser prestada pelo 
devedor e a sua não prestação importa em conversão em perdas e 
danos em favor do credor. 
 
A outro giro, é fungível a obrigação que pode ser prestada por 
qualquer pessoa, sem prejuízo ao credor. 
 
 
 
É possível que uma modalidade de obrigação de fazer denominada 
promessa de fato de terceiro, na qual o devedor garante ao devedor 
que um terceiro realizará a prestação. 
 
A impossibilidade da prestação, nestes casos, bifurca em 
impossibilidade inicial (caráter absoluto) que gera a nulidade do 
negócio jurídico, e a impossibilidade superveniente (onde já se 
verificou o inadimplemento da obrigação de fazer – afastadas as 
hipóteses de mora -, pois a prestação não é mais útil para o credor 
ou possível para o devedor). 
 
Se verifica a impossibilidade quando a prestação (fungível ou 
infungível) não puder ser realizada por razões fáticas ou de direito. 
 
O legislador (artigos 247 à 149, CC), dispôs que se o devedor se 
recusar de cumprir a obrigação infungível deverá indenizar o credor 
por perdas e danos. 
 
Também preocupou-se em expor que se a prestação tornar-se 
impossível, sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação, do 
contrário (se houver culpa), responderá por perdas e danos. 
Ainda, denota que se o fato não cumprido pelo devedor, puder ser 
executado por terceiro, o credor poderá determinar a execução às 
custas do devedor, sem prejuízo de eventual indenização cabível. 
 
Obrigação de não fazer 
 
Nesta modalidade de objeto de obrigação, o devedor deve abster-se 
de praticar determinada conduta, isto é, nesta obrigação negativa a 
omissão do devedor implica na obediência à prestação. 
 
Dividem-se em obrigações de não fazer temporárias ou duradouras, e 
podem emanar tanto de relações negociais, quanto de situações 
previstas em lei. 
 
Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias apontam que a obrigação de 
não fazer pode representar um dever secundário de outras 
obrigações, como por exemplo, em um contrato de locação, na qual o 
locatário obriga-se a não realizar diversas condutas. 
 
Nas obrigações instantâneas (as quais são irreversíveis pelo seu 
descumprimento por uma única oportunidade), o inadimplemento é 
 
 
absoluto, visto que torna-se impossível a restituição no estado 
originário da coisa. 
 
Por seu turno, nas obrigações permanentes (onde mesmo após o 
descumprimento é possível retornar ao status quo ante) é possível a 
reconstituição da coisa pela purgação da mora. 
 
Se o devedor, sem culpa, não puder abster de praticar o ato que 
obrigou-se a não praticar a obrigação se extingue. 
 
Mas se praticar a conduta que obrigou-se a se abster, 
deliberadamente, o credor poderá exigir que o desfaça, sob pena de o 
fazer sob suas custas, sem prejuízo de perdas e danos, inclusive, se 
houver urgência, poderá o credor desfazer, independente de 
autorização judicial, reservado o direito de ressarcimento 
eventualmente devido. 
 
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS ELEMENTOS: 
 
Quanto aos elementos, as obrigações se dividem em alternativas, 
facultativas, cumulativas, fracionárias, divisíveis, indivisíveis e 
solidárias. 
 
Obrigação Alternativa 
 
Também conhecida como disjuntiva, é aquela que contém duas ou 
mais prestações com objetos distintos, na qual o devedor se libera do 
cumprimento de uma delas, através de escolha própria ou do credor. 
 
Maria Helena Diniz (2011, p. 117) aponta que o cerne desta 
obrigação está na concentração da prestação. 
 
A escolha deve ser feita por qualquer das partes (credor ou devedor), 
ou por um terceiro, a depender da estipulação da vontade 
convencionada. 
 
Caso as partes não convencionem quem deve fazer a escolha, esta 
caberá ao devedor, que a fará mediante declaração unilateral de 
vontade, seguida de uma oferta real, tornando-se definitiva com o 
pagamento de uma prestação integral. 
 
Se a escolha competir ao credor, e a coisa for indeterminada ele será 
citado para exercer seu direito de escolha em 5 dias, caso estipulação 
 
 
legal ou contratual em sentido contrário, sob pena de perder o direito 
a esta escolha e ser depositada a coisa escolhida pelo devedor. 
 
A escolha feita se levada a efeito por terceiro torna-se definitiva e 
irrevogável. Todavia, se tratar-se de prestações periódicas ou 
reiteradas, consoante entendimento de Maria Helena Diniz (2011, p. 
117) “a escolha efetuada em determinado tempo não priva o titular 
do direito de escolha da possibilidade de optar por prestação diversa 
no período seguinte.” 
 
A impossibilidade da obrigação alternativa pode ocorrer nas seguintes 
hipóteses: 
· Impossibilidade originária ou superveniente em razão de perecimento 
ocasionado por caso fortuito ou força maior: caso apenas uma das 
prestações não for possível por culpa do devedor operação uma 
concentração automática, pois independente de vontade das partes, a 
obrigação subsistirá sobre a outra. Caso todas as obrigações 
tornarem-se impossíveis sem culpa do devedor, a obrigação se 
resolve pela falta de objeto, havendo exoneração do devedor apenas 
se verificada a ausência de mora.; 
· Inexequibilidade por culpa do devedor: se a escolha for do credor, 
este terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, 
sem prejuízo de perdas e danos. Se a escolha incumbir ao devedor, a 
obrigação a ser cumprida deve ser a remanescente. Se a escolha 
couber ao credor e nenhuma das obrigações puder ser cumpridas, o 
credor poderá exigir o valor de qualquer das prestações, e, ainda, 
perdas e danos. Se não puder ser cumprida nenhuma das obrigações 
o devedor deverá pagar o valor daquela que por último se 
impossibilitou, mais perdas e danos; 
· Perecimento por culpa do credor: no caso da escolha for do devedor e 
uma das prestações se tornar impossível, o devedor fica liberado da 
obrigação, ou, se preferir, cumprirá a outra prestação, exigindo do 
credor perdas e danos. Se ambas perecerem por culpa do credor e a 
escolha coubesse ao devedor, este último poderá exigir o equivalente 
a qualquer delas sem prejuízo de perdas e danos. Se a escolha 
competir ao credor e perecer uma das prestações liberar-se-á o 
devedor salvo se o credor preferir exigir a outra prestação ou 
ressarcir perdas e danos. Se ambas perecerem, e a escolha for do 
credor, exonerar-se-á o devedor; 
· Impossibilidade da primeira prestação, por caso fortuito ou força 
maior, e da segunda, por culpa do devedor, ou vice e versa: 
Perecendo a primeira sem culpa do devedor e a outra por sua culpa, 
subsistirá a dívida quanto à prestação remanescente, respondendo o 
 
 
devedor, em relação à restante que se impossibilitou por culpa sua, 
pelo equivalente, mais perdas e danos. Se perecer a primeira por 
culpa do devedor e a segunda sem sua culpa, o credor poderá optar 
entre a subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; 
· Perecimento, primeiro, de uma das prestações, por caso fortuito ou 
força maior, e depois da outra, por culpa do credor, ou vicee versa: 
situação contrária à acima declinada, mas, perdendo-se uma das 
prestações por motivo alheio à vontade das partes, a obrigação 
concentrar-se-á na restante, e se esta perecer por culpa do credor, 
exonera-se o devedor; 
· Inexequibilidade de uma das prestações por culpa do devedor e da 
outra por culpa do credor: se o credor tiver o direito de escolha da 
primeira e a segunda perecer por culpa do credor, exonera-se o 
devedor. 
 
Obrigação Facultativa 
 
Trata-se da obrigação de uma só prestação, cujo a lei ou o contrato 
permita ao devedor que substitua por outra, para facilitar-lhe o 
pagamento. 
 
Só há uma prestação vinculada, pois o devedor pagará apenas se 
preferir tal maneira para cumprir a relação obrigacional, desde que 
não incorrido em mora. 
 
Se a obrigação for impossível por força maior ou caso fortuito, ou 
ainda, for nula, opera-se a liberação do devedor. 
 
Todavia, se a prestação devida tiver impossibilidade calcada em 
causa decorrente de conduta do devedor o credor poderá exigir o 
equivalente mais perdas e danos. 
 
Obrigação Cumulativa 
 
A obrigação cumulativa é aquela qual contém múltiplas prestações, 
de dar, fazer ou não fazer, decorrentes da mesma causa ou do 
mesmo título e que devem realizar-se totalmente, visto que o 
inadimplemento de uma se relaciona com o descumprimento total. 
 
Nestes casos o credor não será obrigado a receber, tampouco o 
devedor a pagar, em partes (parcelas) se este não foi o 
convencionado, mas o pagamento poderá ser simultâneo ou 
sucessivo. 
 
 
 
Obrigações divisíveis e indivisíveis 
 
Obrigação divisível é aquela na qual a prestação é suscetível de 
cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância ou valor. 
 
A divisibilidade que se aduz é a econômica e não material ou técnica. 
 
Caso haja pluralidade de devedores e credores em obrigação 
divisível, esta será dividida igualmente e distintamente entre credores 
e devedores. 
 
De outra sorte, obrigação indivisível é aquelas cuja prestação só pode 
ser cumprida por inteiro, visto que, por sua natureza, ordem 
econômica ou razão determinante de ato negocial, a sua cisão em 
diversas prestações não aproveita utilidade ao credor. 
 
Assim, se houver pluralidade de devedores, cada um deles será 
obrigado pela integralidade da dívida. Todavia, se a pluralidade for de 
credores, cada um deles poderá exigir a integralidade da prestação, 
mas o devedor apenas se desobrigará se pagar a todos 
conjuntamente, ou a um só, mediante caução de ratificação de outros 
credores. 
 
A obrigação indivisível produz os seguintes efeitos (DINIZ, 2011, 
p.121): 
 
· Se houver pluralidade de devedores: a) cada um deles será 
obrigado pela dívida toda, nenhum deles solvê-la pro rate (CC, art. 
259); b) o devedor que pagar a dívida sub-rogar-se-á no direito do 
credor em relação aos outros coobrigados (CC, art. 259, parágrafo 
único), podendo cobrar, portanto, dos demais devedores as quotas-
partes correspondentes e eventuais garantias reais ou fidejussórias 
concernentes à obrigação principal, uma vez que passará a ser o 
novo credor dos codevedores; c) o credor não pode recusar o 
pagamento por inteiro, feito por um dos devedores, mesmo que seja 
reconhecida em favor de um deles. Sua suspensão ou interrupção 
aproveita e prejudica a todos (CC, arts. 201 e 204, § 2); e) a 
nulidade, quanto a um dos devedores, estende-se a todos (RT, 
175:247); f) a insolvência de um dos codevedores não prejudica o 
credor, pois este está autorizado a demandar de qualquer deles a 
prestação integral, recebendo o débito todo do que escolher; 
 
 
· Se houver pluralidade de credores: a) cada credor poderá 
exigir, judicial ou extrajudicialmente, o débito por inteiro (CC, art. 
260, caput); b) o devedor desobrigar-se-á pagando a todos 
conjuntamente, mas nada obsta que se desonere pagando a dívida 
integralmente a um dos credores, desde que autorizado pelos demais 
credores (CC, art. 260, I e II) em documento escrito, com as devidas 
firmas reconhecidas; c) cada cocredor terá direito de exigir em 
dinheiro, do que receber a prestação por inteiro, a parte que lhe 
caiba no total; a remissão da dívida por parte de um dos credores 
não atingirá o direito dos demais, pois o débito não se extinguirá em 
relação aos outros, apenas o vínculo obrigacional sofrerá uma 
diminuição em sua extensão, uma vez que se desconta em dinheiro a 
quota do credor remitente; e) a transação, a novação, a 
compensação e a confusão, em relação a um dos credores, pelo 
parágrafo único do art. 262 do Código Civil não operam a extinção do 
débito para com os outros cocredores, que só poderão exigir, 
descontada a quota daquele; f) a anulabilidade quando a um dos 
cocredores estende-se a todos. 
 
Assim, se a obrigação é invisível por sua natureza, se o motivo da 
sua indivisibilidade não mais sobrevêm a obrigação. 
 
Segundo Maria Helena Diniz (2011, p. 121), os devedores de uma 
prestação indivisível convertida no seu equivalente pecuniário 
passarão a dever, cada um deles, a sua quota-parte, pois a obrigação 
se torna divisível, ao se resolver em perdas e danos. 
 
Caso a culpa pelo inadimplemento seja de um só devedor apenas ele 
responderá por perdas e danos, exonerando-se os demais, que 
apenas pagarão o equivalente em dinheiro da prestação devida. 
 
Entretanto, se a culpa recair sobre todos os devedores, todos 
responderão por partes iguais. 
 
Obrigação solidária 
 
Obrigação solidária é aquela na qual, havendo pluralidade de 
credores e devedores, a totalidade da prestação obriga ou favorece a 
cada um deles como se fossem únicos devedores ou únicos credores. 
 
Maria Helena Diniz (2011, p. 122), aponta que desta obrigação 
extrai-se quatro características: pluralidade de sujeitos ativos ou 
 
 
passivos, multiplicidade de vínculos, unicidade de prestação e 
corresponsabilidade dos interessados. 
 
Por seu turno, são dois os princípios norteadores destas obrigações: 
da variabilidade do modo de ser da obrigação na solidariedade e o da 
não presunção da solidariedade. 
 
A solidariedade se distingue em ativa e passiva, sendo que a ativa 
compreende a relação jurídica entre diversos credores, onde cada um 
deles tem o direito de exigir do devedor a realização da prestação 
integralmente, e o devedor se exonera da prestação se adimplir a 
qualquer um dos credores. 
 
A solidariedade ativa produz efeitos nas relações externas e nas 
relações internas. 
 
De outra guisa, a solidariedade passiva é a relação obrigacional na 
qual existe uma pluralidade de devedores, sendo que cada um deles 
se responsabiliza pelo total da prestação. Nesta modalidade o credor 
pode exigir a prestação de qualquer dos devedores, total ou 
parcialmente. 
 
São efeitos produzidos pela solidariedade passiva nas relações 
obrigacionais (DINIZ, 2011, p. 124): 
· O credor poderá escolher qualquer dos devedores para 
cumprir a prestação, e estes, por sua vez, tem a liberdade de cumpri-
la ao vencimento da avença, desde que o façam integralmente; 
· O credor pode exigir de qualquer dos devedores a dívida, total 
ou parcialmente; 
· O pagamento parcial por um dos devedores e a remissão por 
ele alcançada não atinge os demais devedores, senão até a 
concorrência da quantia paga ou relevada; 
· A cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre 
um dos devedores e o credor, não poderá agravar a posição dos 
demais, sem que haja anuência destes; 
· A interrupção da prescrição, operada contra um dos devedores 
estende-se aos demais e aos seus herdeiros; 
· A morte de um dos devedores não rompe a solidariedade, a 
qual continua a onerar os outros coobrigados; 
· A confusão extinguirá a obrigação na proporção do valor do 
crédito adquirido; 
· A novação entre o credor e um dos devedores faz com que 
subsistam as preferências e garantias do crédito novado somentesobre os bens do que contrair na obrigação, ficando os demais 
devedores, exonerados por este fato; 
· O devedor solidário só poderá compensar com o credor o que 
este deve ao seu coobrigado, até ao equivalente da parte deste na 
dívida comum; 
· A transação não aproveita nem prejudica senão aos que nela 
intervieram, ainda que diga respeito a coisa indivisível, mas, se for 
concluída entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a 
dívida em relação aos codevedores; 
· A cessão de crédito somente terá validade se o credor-cedente 
notificar todos os devedores solidários; 
· O credor pode acionar todos os codevedores, ou qualquer um 
deles à sua escolha; 
· Todos os codevedores solidários respondem perante o credor 
pelos juros moratórios mesmo que a ação tenha sido proposta 
somente contra um deles; 
· O devedor demandado pode opor ao credor as exceções ou 
defesas que lhe forem pessoais e as comuns a todos; 
· A sentença proferida contra um dos codevedores solidários 
não poderá constituir coisa julgada reativamente aos outros que não 
foram parte na demanda; 
· O recurso interposto contra um dos codevedores aproveitará 
aos outros, quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns; 
· O credor poderá cobrar o débito, ates de seu vencimento, de 
um dos codevedores solidários que se encontrar em alguma das 
situações previstas no Código Civil; 
· A impossibilidade da prestação: a) sem culpa dos devedores 
solidários acarretará a extinção da relação obrigacional, liberando 
todos os codevedores; b) por culpa de um ou de alguns devedores, 
faz com que subsista a solidariedade para todos no que concerne ao 
encargo de pagar o equivalente, por perdas e danos. 
 
Com o adimplemento da prestação parte-se para as relações 
internas, entre os próprios coobrigados, nas quais cada devedor só 
será obrigado à sua quota-parte; consequentemente: (DINIZ, 2011, 
p. 126) 
· O codevedor que satisfez a dívida, por inteiro, terá o direito de 
exigir de cada um dos coobrigados a sua quota, dividindo-se 
igualmente por todos a do insolvente, se houver; 
· O codevedor a quem a dívida solidária interessar 
exclusivamente responderá sozinho por toda ela para com aquele que 
a solveu; 
 
 
· O codevedor culpado pelos juros de mora responderá aos 
outros pela obrigação acrescida; 
· O coobrigado que solver inteiramente o débito, supondo que a 
obrigação era solidária, terá direito a repetição da parte excedente à 
sua, visto que conjunta era a relação obrigacional. 
 
A solidariedade ativa se extingue no aso dos credores dela 
desistirem. No caso de morte de um dos credores solidários não se 
encerra o vínculo da solidariedade, mas o arrefece, pois ele persistirá 
quanto aos outros credores, muito embora o crédito seja repassado 
aos herdeiros. 
 
Por fim, a solidariedade passiva encerra com o óbito dos coobrigados 
em relação aos seus herdeiros. 
 
QUANTO AO CONTEÚDO 
 
Quanto ao conteúdo as obrigações dividem-se em: 
 
· Obrigação de meio: consiste na obrigação 3m que o devedor 
se obriga tão somente de prudência e diligência normais na prestação 
de determinado serviço para atingir um fim, sem, contudo, vincular-
se a tal resultado; 
· Obrigação de resultado: é aquela cujo credor tem o direito 
de exigir do devedor a produção de um resultado, sem o qual terá o 
inadimplemento da relação obrigacional; 
· Obrigação de garantia: é aquela na qual tem por conteúdo a 
eliminação de um risco, que pesa sobre o credor. 
 
c. Legislação 
 
Os artigos 233 a 246 do Código Civil (CC) dispõem sobre as 
obrigações de dar, sendo que do artigo 233 ao 242 o legislador 
elencou as regras para as obrigações de dar coisa certa e nos artigos 
243 à 246, as obrigações de dar coisa incerta. 
 
Os artigos 234 a 241, CC, traduz as disposições sobre a teoria do 
risco. 
 
Os artigos 247 a 249, por sua vez, delimitam as normas sobre as 
obrigações de fazer. 
 
 
 
Os artigos 250 e 251, CC, dispõem sobre as conseqüências pelo 
inadimplemento das obrigações de não fazer. 
 
Os artigos 252 a 256, CC aduzem sobre as obrigações alternativas. 
 
Os artigos 257 a 263 dispõem sobre as obrigações divisíveis e 
indivisíveis. 
 
Por fim, os artigos 264 a 285 trazem os regramentos acerca as 
obrigações solidárias. 
 
O artigo 461 do Código de Processo Civil (CPC) é que fundamenta a 
tutela processual das obrigações. 
 
d. Julgados/Informativos 
 
O Supremo Tribunal Federal (STF) através da edição da Súmula 500 
pacificou o entendimento de que não é possível ação cominatória 
para cumprimento de obrigação de dar. 
 
e. Leitura sugerida 
 
- LOTUFO, Renan (coord.); NANNI, Giovanni Ettore (coord.). 
Obrigações. São Paulo: Atlas, 2011 (Capítulo 5 – Modalidade das 
Obrigações: obrigação de dar; Capítulo 6 – Obrigações de fazer e de 
não fazer; Capítulo 7 – Obrigações alternativas e facultativas; 
Capítulo 8 – Obrigações divisíveis e indivisíveis; Capítulo 9 – 
Obrigações solidárias; e Capítulo 10 – Outras modalidades de 
obrigações); 
 
- MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Negociabilidade e boa-fé. Revista 
de Direito Privado | vol. 61/2015 | p. 107 - 124 | Jan - Mar / 2015 
DTR\2015\2321. Disponível na área de apoio ao aluno. 
 
- ROSENVALD. Nelson; CHAVES, Cristiano. Curso de Direito Civil – 2º 
Vol – Obrigações. 7ª ed. rev., ampl. e atual., Salvador/BA: 
JusPODIVM, 2013 (Capítulo II – Modalidades de Obrigações I: 
Classificação quanto ao objeto; Capítulo III – Modalidades de 
Obrigações II: Classificação quanto aos objetos; Capítulo IV – 
Modalidades de Obrigações III: Classificação quanto à exigibilidade e 
conteúdo); 
 
 
 
 
 
f. Leitura complementar 
 
- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, v. 2. 10ª. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2013; 
 
- NEVES, José Roberto de Castro. Direito das Obrigações. 2.ed. Rio de 
Janeiro: GZ, 2009; 
 
- PODESTÁ, Fábio Henrique. Direito das Obrigações: teoria geral e 
responsabilidade civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2010; 
 
- ROCHA, Silvio Luiz Ferreira da. Direito Civil 2: Obrigações. São 
Paulo: Malheiros, 2010.

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