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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL – EAD MÓDULO OBRIGAÇÕES Data: 13.05.2015OFESSOR Professor: Marcelo Milagres 1. Material pré-aula a. Tema Modalidades de Obrigações. b. Noções Gerais As obrigações se classificam à natureza de seu objeto (dar, fazer e não fazer), quanto ao modo de execução (simples, cumulativa, alternativa e facultativa) quanto ao tempo do adimplemento (instantânea, execução continuada e execução diferida), quanto ao fim (de meio, de resultado e de garantia), quanto aos elementos acidentais (condicional, modal e a termo), quanto aos sujeitos (divisível, indivisível e solidária) e quanto à liquidez (líquida e ilíquida). Em suma, a obrigação decorrente de uma relação jurídica, consiste em uma prestação positiva ou negativa, de dar, fazer ou não fazer. O objeto da obrigação difere do objeto da prestação. As prestações formam o conteúdo do negócio jurídico, compreendendo as determinações que se colocam para autoregulamentação dos respectivos interesses e seu conceito não se limita à conduta de prestar em si, mas também envolve o resultado da prestação, isto é, a efetivação do interesse do credor na prestação (ROSENVALD e FARIAS, 2013, p. 181). Exige-se da prestação uma possibilidade física e material, bem como a possibilidade jurídica e sua determinabilidade (determinada ou determinável). Os professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias enfrentam as classificações da obrigação da seguinte forma: quanto ao objeto, quanto aos elementos, quanto à exigibilidade e quanto ao conteúdo (2013, p. 185). CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO OBJETO: Quanto ao objeto as obrigações podem ser de dar e restituir, fazer ou não fazer. Segundo A obrigação de dar não se confunde com o direito real que dela surgirá, visto que a relação obrigacional tem por escopo a entrega da prestação, sendo que o direito real poderá se formar pela tradição, por exemplo, de dar coisa certa, de bem imóvel (ROSENVALD e FARIAS, 2013, p. 187). Obrigação de Dar Coisa Certa A coisa certa é aquela que se identifica e se individualiza em suas características, apontando quantidade, gênero e individualização que a torna única. Em outras palavras, a coisa é certa quando puder ser identificada de plano, sem que a sua definição seja fruto de negociação em execução. Numa obrigação de dar coisa certa, ainda que o devedor ofereça bem de maior valor, o credor não estará obrigado a aceitá-la, dada especificação da coisa objeto da prestação. No certame da coisa certa, é possível que se abranja a obrigação de dar coisa certa futura, que, apesar de não existir ao tempo da celebração do negócio jurídico, já possui certeza e determinabilidade. Nas situações de perda ou deterioração da coisa certa (que se relacionam com tradição de bens para fins de posse ou propriedade), o legislador narra diversas soluções, e trata a matéria como teoria do risco. Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p.191) ensinam que a obrigação de dar coisa certa nasce de contratos bilaterais, que envolve direito para ambas as partes, e onde o risco correrá por conta do devedor e só será transferido ao credor com a tradição. A perda da coisa se traduz em perecimento do direito e decorre de seu desaparecimento natural, perecimento jurídico ou pela perda das qualidades essenciais e do valor econômico do bem. Nada impede que as partes convencionem sobre a responsabilidade pela teoria do risco ser do credor ou do devedor. A deterioração implica na redução das qualidades essenciais da coisa ou de seu valor econômico, sendo que ela ainda guarda sua identidade. Da mesma forma que a perda, a deterioração também é matéria da teoria do risco, e depende do momento e das causas que a ensejaram, para imputação de responsabilidade pela sua perda ou deterioração. O credor não está obrigado a receber a coisa certa deteriorada, podendo recusar a coisa e pretender receber o equivalente, ou receber a coisa deteriorada e uma pequena indenização relativa à deterioração da coisa. Nas obrigações de dar coisa certa, a mora do devedor possui papel considerável na teoria do risco. Isto porque se o atraso no cumprimento da prestação tenha ocorrido por culpa do devedor, ainda que sua perda ou destruição tenha ocorrido por caso fortuito/força maior, este deverá suportar, em favor do credor, as perdas e danos. Excludente desta responsabilidade se verifica na hipótese de se demonstrar que, ainda que a obrigação tivesse sido prestada tempestivamente, o evento lesivo não deixaria de ocorrer. De forma diversa, se a coisa for valorizada pelo decurso de tempo para a sua prestação, o devedor se reserva ao direito de exigir do credor as benfeitorias e acessões efetivadas, e poderá postular a extinção da obrigação caso o credor se recuse a pagar o novo valor. Se a obrigação for de restituir coisa (de propriedade do credor mas em posse do devedor) e esta se perder, sem culpa do credor, a obrigação se resolve pela perda do objeto. Se a coisa a restituir se deteriorar parcialmente, o credor deve aceitá- la em seu estado atual, no caso da depreciação não ter ocorrido por culpa do devedor. Caso o credor se recuse a ser restituído da coisa no local, modo e tempo convencionados constituir-se-á em mora, e ficará responsabilizado por eventual perecimento da coisa. Obrigação de dar coisa incerta Trata da obrigação cuja peculiaridade é a indeterminação do objeto ao tempo de sua gênese, embora seja determinável ao menos pelo gênero e quantidade. De início, a prestação em si não é determinada, mas o são o gênero e a quantidade, e pode se tratar de bem fungível ou infungível. A coisa incerta não se confunde com a coisa futura, a depender da existência ou inexistência ao momento da negociação. As obrigações pecuniárias não se enquadram nas obrigações de dar coisa incerta, pois não dependem da qualidade da coisa a ser entregue, mas da quantidade, do valor que a moeda traduz. A escolha da coisa incerta incumbe ao credor, mas caso este silencie quanto à qualidade daqueles bens que serão objeto da prestação, o devedor poderá fazer tal escolha. Imprescindível, seja na escolha do credor ou do devedor, a observância do princípio da boa-fé. Em obrigações de dar coisa incerta, isto é,l obrigações de gênero, não se admite discussão acerca da perda da coisa no momento anterior à exteriorização da escolha da outra parte, mediante sua cientificação, sendo irrelevante a constatação de culpa do devedor, se a indeterminação do objeto é incompatível com o perecimento e o gênero nunca perece. Nos ditames de ROSENVALD e FARIAS (2013, p. 208): À luz do princípio da proporcionalidade, muitas vezes será excessivo exigir do devedor a perpetuação da obrigação de dar coisa incerta pelo fato de a perda não ser a ele imputada em hipótese em que o gênero é limitado e há extrema dificuldade em cumprir. Obrigação de Fazer Diferentemente das obrigações de dar e restituir, as obrigações de fazer consistem na prestação de um fato, consistente na realização de uma atividade pessoal ou serviço pelo devedor ou por um terceiro, que não resulte, imediatamente, a transferência de direitos subjetivos. Esta diferenciação é apontada por Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias, debruçados sobre estudo de Hamid Bdine (2013, p. 227) e após exemplificar a entrega de um imóvel por “A” a “B”, “porque compreendem esta conduta humana como antecedente lógico de uma eventual obrigação de entrega. Nas obrigações de dar, esta entrega não é precedida de uma atividade humana consistente em fazer. A distinção, portanto, está posta no fazer, que não se identifica quando a obrigaçãofor apenas de dar. Também indicam que há situações que englobam simultâneas e consecutivas obrigações de dar e fazer, e exemplificam a incorporação imobiliária (2013, p. 227): “é comum a obrigação de fazer do construtor (promover a construção do prédio e outorgar escritura definitiva aos promitentes compradores) e de dar (transferência da posse da unidade após a conclusão do prédio). Nas obrigações de fazer, é exigido um comportamento positivo do devedor que atribua vantagem ao credor, consistente em serviço de natureza física, intelectual ou na prática de um ato jurídico caracterizado por emissão de declaração de vontade. Podem ser duradouras ou instantâneas, a depender se aperfeiçoam- se em único momento (instantânea) ou se a execução da obrigação se protrai no tempo de forma continuada ou periódico de trato sucessivo. É infungível a obrigação de fazer que só pode ser prestada pelo devedor e a sua não prestação importa em conversão em perdas e danos em favor do credor. A outro giro, é fungível a obrigação que pode ser prestada por qualquer pessoa, sem prejuízo ao credor. É possível que uma modalidade de obrigação de fazer denominada promessa de fato de terceiro, na qual o devedor garante ao devedor que um terceiro realizará a prestação. A impossibilidade da prestação, nestes casos, bifurca em impossibilidade inicial (caráter absoluto) que gera a nulidade do negócio jurídico, e a impossibilidade superveniente (onde já se verificou o inadimplemento da obrigação de fazer – afastadas as hipóteses de mora -, pois a prestação não é mais útil para o credor ou possível para o devedor). Se verifica a impossibilidade quando a prestação (fungível ou infungível) não puder ser realizada por razões fáticas ou de direito. O legislador (artigos 247 à 149, CC), dispôs que se o devedor se recusar de cumprir a obrigação infungível deverá indenizar o credor por perdas e danos. Também preocupou-se em expor que se a prestação tornar-se impossível, sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação, do contrário (se houver culpa), responderá por perdas e danos. Ainda, denota que se o fato não cumprido pelo devedor, puder ser executado por terceiro, o credor poderá determinar a execução às custas do devedor, sem prejuízo de eventual indenização cabível. Obrigação de não fazer Nesta modalidade de objeto de obrigação, o devedor deve abster-se de praticar determinada conduta, isto é, nesta obrigação negativa a omissão do devedor implica na obediência à prestação. Dividem-se em obrigações de não fazer temporárias ou duradouras, e podem emanar tanto de relações negociais, quanto de situações previstas em lei. Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias apontam que a obrigação de não fazer pode representar um dever secundário de outras obrigações, como por exemplo, em um contrato de locação, na qual o locatário obriga-se a não realizar diversas condutas. Nas obrigações instantâneas (as quais são irreversíveis pelo seu descumprimento por uma única oportunidade), o inadimplemento é absoluto, visto que torna-se impossível a restituição no estado originário da coisa. Por seu turno, nas obrigações permanentes (onde mesmo após o descumprimento é possível retornar ao status quo ante) é possível a reconstituição da coisa pela purgação da mora. Se o devedor, sem culpa, não puder abster de praticar o ato que obrigou-se a não praticar a obrigação se extingue. Mas se praticar a conduta que obrigou-se a se abster, deliberadamente, o credor poderá exigir que o desfaça, sob pena de o fazer sob suas custas, sem prejuízo de perdas e danos, inclusive, se houver urgência, poderá o credor desfazer, independente de autorização judicial, reservado o direito de ressarcimento eventualmente devido. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS ELEMENTOS: Quanto aos elementos, as obrigações se dividem em alternativas, facultativas, cumulativas, fracionárias, divisíveis, indivisíveis e solidárias. Obrigação Alternativa Também conhecida como disjuntiva, é aquela que contém duas ou mais prestações com objetos distintos, na qual o devedor se libera do cumprimento de uma delas, através de escolha própria ou do credor. Maria Helena Diniz (2011, p. 117) aponta que o cerne desta obrigação está na concentração da prestação. A escolha deve ser feita por qualquer das partes (credor ou devedor), ou por um terceiro, a depender da estipulação da vontade convencionada. Caso as partes não convencionem quem deve fazer a escolha, esta caberá ao devedor, que a fará mediante declaração unilateral de vontade, seguida de uma oferta real, tornando-se definitiva com o pagamento de uma prestação integral. Se a escolha competir ao credor, e a coisa for indeterminada ele será citado para exercer seu direito de escolha em 5 dias, caso estipulação legal ou contratual em sentido contrário, sob pena de perder o direito a esta escolha e ser depositada a coisa escolhida pelo devedor. A escolha feita se levada a efeito por terceiro torna-se definitiva e irrevogável. Todavia, se tratar-se de prestações periódicas ou reiteradas, consoante entendimento de Maria Helena Diniz (2011, p. 117) “a escolha efetuada em determinado tempo não priva o titular do direito de escolha da possibilidade de optar por prestação diversa no período seguinte.” A impossibilidade da obrigação alternativa pode ocorrer nas seguintes hipóteses: · Impossibilidade originária ou superveniente em razão de perecimento ocasionado por caso fortuito ou força maior: caso apenas uma das prestações não for possível por culpa do devedor operação uma concentração automática, pois independente de vontade das partes, a obrigação subsistirá sobre a outra. Caso todas as obrigações tornarem-se impossíveis sem culpa do devedor, a obrigação se resolve pela falta de objeto, havendo exoneração do devedor apenas se verificada a ausência de mora.; · Inexequibilidade por culpa do devedor: se a escolha for do credor, este terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, sem prejuízo de perdas e danos. Se a escolha incumbir ao devedor, a obrigação a ser cumprida deve ser a remanescente. Se a escolha couber ao credor e nenhuma das obrigações puder ser cumpridas, o credor poderá exigir o valor de qualquer das prestações, e, ainda, perdas e danos. Se não puder ser cumprida nenhuma das obrigações o devedor deverá pagar o valor daquela que por último se impossibilitou, mais perdas e danos; · Perecimento por culpa do credor: no caso da escolha for do devedor e uma das prestações se tornar impossível, o devedor fica liberado da obrigação, ou, se preferir, cumprirá a outra prestação, exigindo do credor perdas e danos. Se ambas perecerem por culpa do credor e a escolha coubesse ao devedor, este último poderá exigir o equivalente a qualquer delas sem prejuízo de perdas e danos. Se a escolha competir ao credor e perecer uma das prestações liberar-se-á o devedor salvo se o credor preferir exigir a outra prestação ou ressarcir perdas e danos. Se ambas perecerem, e a escolha for do credor, exonerar-se-á o devedor; · Impossibilidade da primeira prestação, por caso fortuito ou força maior, e da segunda, por culpa do devedor, ou vice e versa: Perecendo a primeira sem culpa do devedor e a outra por sua culpa, subsistirá a dívida quanto à prestação remanescente, respondendo o devedor, em relação à restante que se impossibilitou por culpa sua, pelo equivalente, mais perdas e danos. Se perecer a primeira por culpa do devedor e a segunda sem sua culpa, o credor poderá optar entre a subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; · Perecimento, primeiro, de uma das prestações, por caso fortuito ou força maior, e depois da outra, por culpa do credor, ou vicee versa: situação contrária à acima declinada, mas, perdendo-se uma das prestações por motivo alheio à vontade das partes, a obrigação concentrar-se-á na restante, e se esta perecer por culpa do credor, exonera-se o devedor; · Inexequibilidade de uma das prestações por culpa do devedor e da outra por culpa do credor: se o credor tiver o direito de escolha da primeira e a segunda perecer por culpa do credor, exonera-se o devedor. Obrigação Facultativa Trata-se da obrigação de uma só prestação, cujo a lei ou o contrato permita ao devedor que substitua por outra, para facilitar-lhe o pagamento. Só há uma prestação vinculada, pois o devedor pagará apenas se preferir tal maneira para cumprir a relação obrigacional, desde que não incorrido em mora. Se a obrigação for impossível por força maior ou caso fortuito, ou ainda, for nula, opera-se a liberação do devedor. Todavia, se a prestação devida tiver impossibilidade calcada em causa decorrente de conduta do devedor o credor poderá exigir o equivalente mais perdas e danos. Obrigação Cumulativa A obrigação cumulativa é aquela qual contém múltiplas prestações, de dar, fazer ou não fazer, decorrentes da mesma causa ou do mesmo título e que devem realizar-se totalmente, visto que o inadimplemento de uma se relaciona com o descumprimento total. Nestes casos o credor não será obrigado a receber, tampouco o devedor a pagar, em partes (parcelas) se este não foi o convencionado, mas o pagamento poderá ser simultâneo ou sucessivo. Obrigações divisíveis e indivisíveis Obrigação divisível é aquela na qual a prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância ou valor. A divisibilidade que se aduz é a econômica e não material ou técnica. Caso haja pluralidade de devedores e credores em obrigação divisível, esta será dividida igualmente e distintamente entre credores e devedores. De outra sorte, obrigação indivisível é aquelas cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, visto que, por sua natureza, ordem econômica ou razão determinante de ato negocial, a sua cisão em diversas prestações não aproveita utilidade ao credor. Assim, se houver pluralidade de devedores, cada um deles será obrigado pela integralidade da dívida. Todavia, se a pluralidade for de credores, cada um deles poderá exigir a integralidade da prestação, mas o devedor apenas se desobrigará se pagar a todos conjuntamente, ou a um só, mediante caução de ratificação de outros credores. A obrigação indivisível produz os seguintes efeitos (DINIZ, 2011, p.121): · Se houver pluralidade de devedores: a) cada um deles será obrigado pela dívida toda, nenhum deles solvê-la pro rate (CC, art. 259); b) o devedor que pagar a dívida sub-rogar-se-á no direito do credor em relação aos outros coobrigados (CC, art. 259, parágrafo único), podendo cobrar, portanto, dos demais devedores as quotas- partes correspondentes e eventuais garantias reais ou fidejussórias concernentes à obrigação principal, uma vez que passará a ser o novo credor dos codevedores; c) o credor não pode recusar o pagamento por inteiro, feito por um dos devedores, mesmo que seja reconhecida em favor de um deles. Sua suspensão ou interrupção aproveita e prejudica a todos (CC, arts. 201 e 204, § 2); e) a nulidade, quanto a um dos devedores, estende-se a todos (RT, 175:247); f) a insolvência de um dos codevedores não prejudica o credor, pois este está autorizado a demandar de qualquer deles a prestação integral, recebendo o débito todo do que escolher; · Se houver pluralidade de credores: a) cada credor poderá exigir, judicial ou extrajudicialmente, o débito por inteiro (CC, art. 260, caput); b) o devedor desobrigar-se-á pagando a todos conjuntamente, mas nada obsta que se desonere pagando a dívida integralmente a um dos credores, desde que autorizado pelos demais credores (CC, art. 260, I e II) em documento escrito, com as devidas firmas reconhecidas; c) cada cocredor terá direito de exigir em dinheiro, do que receber a prestação por inteiro, a parte que lhe caiba no total; a remissão da dívida por parte de um dos credores não atingirá o direito dos demais, pois o débito não se extinguirá em relação aos outros, apenas o vínculo obrigacional sofrerá uma diminuição em sua extensão, uma vez que se desconta em dinheiro a quota do credor remitente; e) a transação, a novação, a compensação e a confusão, em relação a um dos credores, pelo parágrafo único do art. 262 do Código Civil não operam a extinção do débito para com os outros cocredores, que só poderão exigir, descontada a quota daquele; f) a anulabilidade quando a um dos cocredores estende-se a todos. Assim, se a obrigação é invisível por sua natureza, se o motivo da sua indivisibilidade não mais sobrevêm a obrigação. Segundo Maria Helena Diniz (2011, p. 121), os devedores de uma prestação indivisível convertida no seu equivalente pecuniário passarão a dever, cada um deles, a sua quota-parte, pois a obrigação se torna divisível, ao se resolver em perdas e danos. Caso a culpa pelo inadimplemento seja de um só devedor apenas ele responderá por perdas e danos, exonerando-se os demais, que apenas pagarão o equivalente em dinheiro da prestação devida. Entretanto, se a culpa recair sobre todos os devedores, todos responderão por partes iguais. Obrigação solidária Obrigação solidária é aquela na qual, havendo pluralidade de credores e devedores, a totalidade da prestação obriga ou favorece a cada um deles como se fossem únicos devedores ou únicos credores. Maria Helena Diniz (2011, p. 122), aponta que desta obrigação extrai-se quatro características: pluralidade de sujeitos ativos ou passivos, multiplicidade de vínculos, unicidade de prestação e corresponsabilidade dos interessados. Por seu turno, são dois os princípios norteadores destas obrigações: da variabilidade do modo de ser da obrigação na solidariedade e o da não presunção da solidariedade. A solidariedade se distingue em ativa e passiva, sendo que a ativa compreende a relação jurídica entre diversos credores, onde cada um deles tem o direito de exigir do devedor a realização da prestação integralmente, e o devedor se exonera da prestação se adimplir a qualquer um dos credores. A solidariedade ativa produz efeitos nas relações externas e nas relações internas. De outra guisa, a solidariedade passiva é a relação obrigacional na qual existe uma pluralidade de devedores, sendo que cada um deles se responsabiliza pelo total da prestação. Nesta modalidade o credor pode exigir a prestação de qualquer dos devedores, total ou parcialmente. São efeitos produzidos pela solidariedade passiva nas relações obrigacionais (DINIZ, 2011, p. 124): · O credor poderá escolher qualquer dos devedores para cumprir a prestação, e estes, por sua vez, tem a liberdade de cumpri- la ao vencimento da avença, desde que o façam integralmente; · O credor pode exigir de qualquer dos devedores a dívida, total ou parcialmente; · O pagamento parcial por um dos devedores e a remissão por ele alcançada não atinge os demais devedores, senão até a concorrência da quantia paga ou relevada; · A cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores e o credor, não poderá agravar a posição dos demais, sem que haja anuência destes; · A interrupção da prescrição, operada contra um dos devedores estende-se aos demais e aos seus herdeiros; · A morte de um dos devedores não rompe a solidariedade, a qual continua a onerar os outros coobrigados; · A confusão extinguirá a obrigação na proporção do valor do crédito adquirido; · A novação entre o credor e um dos devedores faz com que subsistam as preferências e garantias do crédito novado somentesobre os bens do que contrair na obrigação, ficando os demais devedores, exonerados por este fato; · O devedor solidário só poderá compensar com o credor o que este deve ao seu coobrigado, até ao equivalente da parte deste na dívida comum; · A transação não aproveita nem prejudica senão aos que nela intervieram, ainda que diga respeito a coisa indivisível, mas, se for concluída entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos codevedores; · A cessão de crédito somente terá validade se o credor-cedente notificar todos os devedores solidários; · O credor pode acionar todos os codevedores, ou qualquer um deles à sua escolha; · Todos os codevedores solidários respondem perante o credor pelos juros moratórios mesmo que a ação tenha sido proposta somente contra um deles; · O devedor demandado pode opor ao credor as exceções ou defesas que lhe forem pessoais e as comuns a todos; · A sentença proferida contra um dos codevedores solidários não poderá constituir coisa julgada reativamente aos outros que não foram parte na demanda; · O recurso interposto contra um dos codevedores aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns; · O credor poderá cobrar o débito, ates de seu vencimento, de um dos codevedores solidários que se encontrar em alguma das situações previstas no Código Civil; · A impossibilidade da prestação: a) sem culpa dos devedores solidários acarretará a extinção da relação obrigacional, liberando todos os codevedores; b) por culpa de um ou de alguns devedores, faz com que subsista a solidariedade para todos no que concerne ao encargo de pagar o equivalente, por perdas e danos. Com o adimplemento da prestação parte-se para as relações internas, entre os próprios coobrigados, nas quais cada devedor só será obrigado à sua quota-parte; consequentemente: (DINIZ, 2011, p. 126) · O codevedor que satisfez a dívida, por inteiro, terá o direito de exigir de cada um dos coobrigados a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se houver; · O codevedor a quem a dívida solidária interessar exclusivamente responderá sozinho por toda ela para com aquele que a solveu; · O codevedor culpado pelos juros de mora responderá aos outros pela obrigação acrescida; · O coobrigado que solver inteiramente o débito, supondo que a obrigação era solidária, terá direito a repetição da parte excedente à sua, visto que conjunta era a relação obrigacional. A solidariedade ativa se extingue no aso dos credores dela desistirem. No caso de morte de um dos credores solidários não se encerra o vínculo da solidariedade, mas o arrefece, pois ele persistirá quanto aos outros credores, muito embora o crédito seja repassado aos herdeiros. Por fim, a solidariedade passiva encerra com o óbito dos coobrigados em relação aos seus herdeiros. QUANTO AO CONTEÚDO Quanto ao conteúdo as obrigações dividem-se em: · Obrigação de meio: consiste na obrigação 3m que o devedor se obriga tão somente de prudência e diligência normais na prestação de determinado serviço para atingir um fim, sem, contudo, vincular- se a tal resultado; · Obrigação de resultado: é aquela cujo credor tem o direito de exigir do devedor a produção de um resultado, sem o qual terá o inadimplemento da relação obrigacional; · Obrigação de garantia: é aquela na qual tem por conteúdo a eliminação de um risco, que pesa sobre o credor. c. Legislação Os artigos 233 a 246 do Código Civil (CC) dispõem sobre as obrigações de dar, sendo que do artigo 233 ao 242 o legislador elencou as regras para as obrigações de dar coisa certa e nos artigos 243 à 246, as obrigações de dar coisa incerta. Os artigos 234 a 241, CC, traduz as disposições sobre a teoria do risco. Os artigos 247 a 249, por sua vez, delimitam as normas sobre as obrigações de fazer. Os artigos 250 e 251, CC, dispõem sobre as conseqüências pelo inadimplemento das obrigações de não fazer. Os artigos 252 a 256, CC aduzem sobre as obrigações alternativas. Os artigos 257 a 263 dispõem sobre as obrigações divisíveis e indivisíveis. Por fim, os artigos 264 a 285 trazem os regramentos acerca as obrigações solidárias. O artigo 461 do Código de Processo Civil (CPC) é que fundamenta a tutela processual das obrigações. d. Julgados/Informativos O Supremo Tribunal Federal (STF) através da edição da Súmula 500 pacificou o entendimento de que não é possível ação cominatória para cumprimento de obrigação de dar. e. Leitura sugerida - LOTUFO, Renan (coord.); NANNI, Giovanni Ettore (coord.). Obrigações. São Paulo: Atlas, 2011 (Capítulo 5 – Modalidade das Obrigações: obrigação de dar; Capítulo 6 – Obrigações de fazer e de não fazer; Capítulo 7 – Obrigações alternativas e facultativas; Capítulo 8 – Obrigações divisíveis e indivisíveis; Capítulo 9 – Obrigações solidárias; e Capítulo 10 – Outras modalidades de obrigações); - MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Negociabilidade e boa-fé. Revista de Direito Privado | vol. 61/2015 | p. 107 - 124 | Jan - Mar / 2015 DTR\2015\2321. Disponível na área de apoio ao aluno. - ROSENVALD. Nelson; CHAVES, Cristiano. Curso de Direito Civil – 2º Vol – Obrigações. 7ª ed. rev., ampl. e atual., Salvador/BA: JusPODIVM, 2013 (Capítulo II – Modalidades de Obrigações I: Classificação quanto ao objeto; Capítulo III – Modalidades de Obrigações II: Classificação quanto aos objetos; Capítulo IV – Modalidades de Obrigações III: Classificação quanto à exigibilidade e conteúdo); f. Leitura complementar - GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, v. 2. 10ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2013; - NEVES, José Roberto de Castro. Direito das Obrigações. 2.ed. Rio de Janeiro: GZ, 2009; - PODESTÁ, Fábio Henrique. Direito das Obrigações: teoria geral e responsabilidade civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2010; - ROCHA, Silvio Luiz Ferreira da. Direito Civil 2: Obrigações. São Paulo: Malheiros, 2010.
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