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Perspectivismo e Etnocentrismo Cristiane Queiroz Borges Docente Mestre em Alimentos, Nutrição e Saúde PERSPECTIVISMO Trata-se da concepção, comum a muitos povos do continente, segundo a qual o mundo é habitado por diferentes espécies de sujeitos ou pessoas, humanas e não-humanas, que o apreendem segundo pontos de vista distintos. O perspectivismo diferencia-se do objetivismo e do relativismo , apesar de semelhanças pontuais com um e outro. O perspectivismo defende que há uma única realidade; no entanto diferentes indivíduos percebem a realidade diferentemente. O antropólogo Philippe Descola relata o caso dos “Achuar” da Amazônia, por exemplo, que estabelecem uma diferença ontológica de grau, mas não de natureza entre plantas, homens e animais. Os habitantes dessa sociedade afirmam que plantas e animais possuem uma alma (wakan) semelhante à dos humanos, que conta com intencionalidade e reflexividade. Os ameríndios estabelecem ainda relações de reciprocidade e respeito com elementos como a água, animais de caça e plantas cultivadas. Com a perspectiva relativista, a antropologia iniciou um importante e contínuo movimento no questionamento do etnocentrismo. Um dos desdobramentos do relativismo na antropologia foi o multiculturalismo, que rompe com o ideal evolucionista, afirmando que todos os grupos humanos compartilham de uma mesma natureza biológica, não havendo um escalonamento possível que classifique intelectualmente ou culturalmente as sociedades. Trata-se da concepção, comum a muitos povos do continente, segundo a qual o mundo é habitado por diferentes espécies de sujeitos ou pessoas, humanas e não-humanas, que o apreendem segundo pontos de vista distintos Autores como Eduardo Viveiros de Castro, contudo, defendem que mesmo esse ponto de vista continua sendo etnocêntrico, na medida em que ainda impõe a dicotomia natureza/cultura para classificar os sujeitos sociais. Enquanto a sociedade ocidental considera que todos os povos possuem uma mesma natureza (ou biologia) e se diferenciam em suas culturas (ou essências), a maioria das sociedades indígenas da América possui uma concepção contrária: suas sociedades são compostas por seres que partilham uma espiritualidade (cultura/essência), mas que se diferenciam em seus corpos (natureza/biologia). “A cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo” (Ruth Benedict) Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas FLORESTA AMAZÔNICA ANTROPÓLOGO Amontoado de árvores e arbustos ÍNDIO TUPI Significado qualitativo e uma referência espacial Conjunto ordenado, constituído de formas vegetais bem definidas A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura. Indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças linguísticas. Como exemplo destas diferenças culturais em atos que podem ser considerados como naturais, Mauss cita as técnicas do nascimento e da obstetrícia: Buda nasceu estando sua mãe, Mayã, agarrada, reta, a um ramo de árvore boa parte das mulheres indianas ainda dão a luz deste modo; Para nós, a posição normal é a mãe deitada sobre as costas; Entre os Tupis e outros índios brasileiros a posição é de cócoras; Em algumas regiões rurais existiam cadeiras especiais – parto sentado; DIFERENÇAS CULTURAIS EXEMPLO ENERGIA FORÇA DE TRABALHO ALIMENTAÇÃO Esta é realizada de formas múltiplas e com alimentos diferentes Grande diversidade gastronômica da espécie humana Classificações depreciativas Americanos: Franceses – “comedores de rãs” Índios Kaapor: Timbira – “comedores de cobras” Em algumas sociedades o ato de comer pode ser público, em outras uma atividade privada. Alguns rituais de boas maneiras exigem um forte arroto, após a refeição - como sinal de agrado da mesma. Entre os latinos, o ato de comer é um verdadeiro rito social – a família toda deve sentar-se à mesa As pessoas não se chocam, apenas, porque as outras comem coisas diferentes, mas também pela maneira que agem à mesa. O homem tem despendido grande parte da sua história na Terra, separado em pequenos grupos, cada um com a sua própria linguagem, sua própria visão de mundo, seus costumes e expectativas. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural ETNOCENTRISMO ETNOCENTRISMO Fenômeno universal É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão. As autodenominações de diferentes grupos refletem este ponto de vista. (Parentes e não parentes) O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo A chegada de um estranho em determinadas comunidades pode ser considerada como a quebra da ordem social ou sobrenatural (os Xamã Surui defumam com seus grandes charutos os primeiros visitantes da aldeia) O costume de discriminar os que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade A relação de parentesco consanguíneo pode ser tomada como exemplo Comportamentos etnocêntricos resultam, também, em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogados como absurdas, deprimentes e imorais Do ponto de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a diferença, de ver o mundo com os olhos dos outros.
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