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Resumo Direito Penal I - AV2

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Resumo Direito Penal AV2
I -Uma Breve Análise do Dolo e da Culpa
		Para o bom entendimento do debate que envolve o tema em referência, fizemos profunda pesquisa doutrinária e jurisprudencial, de sorte a tentar melhor aclarar a questão. Para a compreensão da diferença existente entre o dolo eventual e a culpa consciente, é necessário, antes de tudo, o conhecimento das duas grandes espécies de crime do Código Penal Brasileiro: o crime doloso e o crime culposo.
		No Código Penal, o crime doloso está definido no artigo 18, inciso I. 
Art. 18, inciso I: “Diz-se o crime: I – doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;”
		Cometido o crime de homicídio (matar alguém) com dolo, a pena varia de 6 (seis) a 20 (vinte) anos, podendo ser de 12 (doze) a 30 (trinta) anos, na hipótese de homicídio qualificado.
		O crime culposo está definido também no artigo 18, apenas que em seu inciso II.
Art. 18, inciso II: “Diz-se o crime: II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”.
		Na hipótese de homicídio culposo praticado na direção de veículo, diz o artigo 302, da Lei 9.503/97 (Código Nacional de Trânsito): 
		“Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”.
		No Dicionário Houaiss, o mais completo da língua portuguesa, Dolo e culpa estão definidos das seguintes formas: 
“Dolo em direito penal, é a deliberação de violar a lei, por ação ou omissão, com pleno conhecimento da criminalidade do que se está fazendo”;
“Culpa no direito penal, é o ato voluntário, proveniente de imperícia, imprudência ou negligência, de efeito lesivo ao direito de outrem”.
	
	Como se percebe, age com dolo aquele que quer o resultado criminoso ou assume o risco de produzi-lo, com o conhecimento da criminalidade do seu ato. Age com deliberação de violar a lei.
		Por sua vez, procede com culpa quem realiza um ato por imperícia, imprudência ou negligência, ofendendo direito de outrem.
		E o que vêm a ser imperícia, imprudência ou negligência? Como visto, são formas de realização do crime culposo. Ou seja: o agente pode praticar um crime culposo, seja por imprudência, por negligência ou por imperícia.
		Para tornar mais claro o entendimento, vamos especificar o conceito dessas modalidades de culpa (imprudência, negligência ou imperícia). 
		Segundo Cezar Roberto Bitencourt (Manual de Direito Penal, Parte Geral, Vol. 1, pág. 205):
“Imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa”.
“Negligência é a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do agente, que, podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz”.
“Imperícia é a falta de capacidade, despreparo ou insuficiência de conhecimento técnico para o exercício de arte, profissão ou ofício”.
		Outro grande jurista, Paulo José da Costa Jr (“Direito Penal: Curso Completo”, 8ª ed. Págs. 82 e seguintes) também define as três formas de crime culposo, apenas que com outras palavras: 
		Primeiro, ele define o que é culpa: “A culpa é a prática voluntária de uma conduta, sem a devida atenção ou cuidado, da qual deflui um resultado previsto na lei como crime, não desejado nem previsto, mas previsível”.
		Depois, define cada uma das suas modalidades:
“A imprudência é uma culpa positiva in agendo: o agente faz o que não deve (imprime velocidade ao veículo, incompatível com as condições de tráfego)”.
“A negligência é uma forma de culpa negativa, in ommitendo (o agente não troca as pastilhas gastas do freio)”.
“Imperícia é a culpa técnica, em que o agente mostra-se inabilitado para o exercício de determinada profissão, embora possa estar credenciado por diploma, que é mera presunção de competência”.
		Assim, aquele que realiza uma ultrapassagem arriscada, sem o devido cuidado, e sem pretender dar causa a um acidente, mas que, por erro de cálculo, o ocasiona, age com culpa (não com dolo). O agente foi imprudente ao empreender a manobra.
II - Dolo Eventual e Culpa Consciente: Conceito e Entendimento Doutrinário.
		Dentro das espécies de dolo e de culpa, há duas que têm maior interesse para nós. O dolo eventual e a culpa consciente.
		No dolo eventual o agente criminoso sabe que o resultado lesivo pode ocorrer e mesmo assim ele age, aceitando-o. Assume o risco de produzi-lo. Ele (o agente), mesmo visualizando a possibilidade da ocorrência do ato ilícito, não interrompe a sua ação, admitindo, anuindo, aceitando, concordando com o resultado.
		Já na culpa consciente, o agente, visualizando a possibilidade do resultado, acredita sinceramente que ele não vá ocorrer. Não quer a sua realização, e se esforça no sentido de tentar evitá-lo.
		Como já analisado anteriormente, no dolo o agente quer o resultado, aceita o resultado. O criminoso atira contra alguém querendo matar essa pessoa. Age dolosamente. Já no crime culposo, o agente não quer o resultado, mas pela forma imprudente, negligente ou imperita de agir, acaba causando o resultado, entretanto, frise-se, sem pretendê-lo. O policial, vendo uma vítima refém de um marginal, que está a ameaçá-la de morte, dispara contra ele, mas, por erro de pontaria (erro de cálculo), acerta a vítima, matando-a. O policial não queria o resultado, não queria matar a vítima. Logo, ele responderá por crime culposo, por homicídio culposo, se ficar comprovado que foi imprudente ao atirar naquelas condições impróprias.
		Outro exemplo: um pai acorda durante a madrugada com barulhos estranhos. Percebe que alguém força a porta de seu quarto. Pega o seu revólver. Ao ver a porta se abrindo, assusta-se com o vulto de alguém. Ele atira. Em seguida, percebe haver matado seu próprio filho. Pretendia o pai esse trágico resultado? Claro que não. O que fica evidenciado é que ele foi imprudente ao ter atirado. Houve um erro de avaliação das circunstâncias. Logo deverá responder por homicídio culposo, pois não queria o resultado.
		Para tornar mais claro o entendimento, vale transcrever a conceituação dada por alguns dos mais conhecidos juristas brasileiros:
a) - Julio Fabbrini Mirabete, in “Manual de Direito Penal”, vol. I, pág. 139 e seguintes:
Dolo: “Dolo é a vontade dirigida à realização do tipo penal. Assim, pode-se definir o dolo como a consciência e a vontade na realização da conduta típica, ou a vontade da ação orientada para a realização do tipo.”
Culpa: “Tem-se conceituado na doutrina o crime culposo como a conduta voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado”.
Dolo eventual: no dolo eventual “a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado; o que ele quer é algo diverso, mas prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo o risco de causá-lo”.
Culpa Consciente: “A culpa consciente ocorre quando o agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente, que não ocorrerá”. 
Diferença entre culpa consciente e dolo eventual: “A culpa consciente avizinha-se do dolo eventual, mas com ela não se confunde. Naquela (na culpa consciente), o agente, embora prevendo o resultado, não o aceita como possível. Nesse (no dolo eventual), o agente prevê o resultado, não se importando que venha ele a ocorrer.”
b) - Fernando Capez, membro do Ministério Público, in “Curso de Direito Penal”, Parte Geral, Vol. 1, pág. 187:
“A culpa consciente difere do dolo eventual, porque neste o agente prevê o resultado, mas não se importa que ele ocorra (‘se eu continuar dirigindo assim, posso vir a matar alguém, mas não importa; se acontecer, tudo bem, eu vou prosseguir’). Na culpa consciente, embora prevendo o que possa vir a acontecer, o agente repudia essa possibilidade (‘se eu continuar dirigindo assim, posso vir a matar alguém, mas estou certode que isso, embora possível não ocorrerá’). O traço distintivo entre ambos, portanto, é que no dolo eventual o agente diz: ‘não importa’, enquanto na culpa consciente supõe: ‘é possível, mas não vai acontecer de forma alguma’ ”.
***
c) - Cezar Roberto Bitencourt, in “Manual de direito Penal”, Parte Geral, vol. 1, pág. 205:
“Haverá dolo eventual quando o agente não quiser diretamente a realização do tipo, mas a aceitar como possível ou até provável, assumindo o risco da produção do resultado (art. 18, in fine, do CP). No dolo eventual o agente prevê o resultado como provável, ou, ao menos, como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o risco de produzi-lo. Como afirmava Hungria, assumir o risco é alguma coisa mais que ter consciência de correr o risco: é consentir previamente no resultado, caso este venha efetivamente a ocorrer”.
Dolo: “É indispensável uma determinada relação de vontade entre o resultado e o agente e é exatamente esse elemento volitivo que distingue o dolo da culpa. Como lucidamente sustenta Alberto Silva Franco: ‘Tolerar o resultado, consentir em sua provocação, estar a ele conforme, assumir o risco de produzi-lo não passam de formas diversas de expressar um único momento, o de aprovar o resultado alcançado, enfim, o de querê-lo’’’.
 Culpa: “Culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente previsível”.
“Há culpa consciente, também chamada culpa com previsão, quando o agente, deixando de observar a diligência a que estava obrigado, prevê um resultado, previsível, mas confia convictamente que ele não ocorra. Quando o agente, embora prevendo o resultado, espera sinceramente que este não se verifique, estar-se-á diante de culpa consciente e não de dolo eventual”.
“O fundamental é que o dolo eventual apresente estes dois componentes: representação da possibilidade do resultado e anuência à sua ocorrência; assumindo o risco de produzi-lo”.
“Por fim, a distinção entre dolo eventual e culpa consciente resume-se à aceitação ou rejeição da possibilidade de produção do resultado. Persistindo a dúvida entre um e outra, dever-se-á concluir pela solução menos grave: pela culpa consciente”.
***
d) - Miguel Reale Júnior , in “Instituições de Direito Penal”, Parte Geral, vol. I, pág. 219 e seguintes:
Dolo Eventual: “O dolo é eventual quando o agente inclui o resultado possível, de forma indiferente, como resultado da ação que decide realizar, assentindo em sua realização, que confia possa se dar”.
“Diante de um resultado nocivo possível o agente arrisca e prefere agir, admitindo e não lhe repugnando assim a ocorrência do resultado”.
Culpa Consciente: “Sucede, todavia, que na culpa consciente tem o agente conhecimento de que o resultado pode ocorrer, no que não dá seu assentimento, próprio do dolo eventual”.
Diferença: “No dolo eventual une-se o assentimento à assunção do risco, a partir da posição do agente de que confia que pode ocorrer o resultado e assim mesmo age. Na culpa consciente assoma ao espírito do agente a possibilidade de causação do resultado, mas confia ele que este resultado não sucederá. Na culpa consciente o agente considera que tudo andará bem, tudo vai dar certo”.
***
e) - Nelson Hungria, in “Comentários ao Código Penal”, vol. I, Tomo II, Ed.Forense, 4ª edição, págs 114 e seguintes:
Dolo Eventual: “Na conceituação do dolus eventualis, VON LISZT e FRANK aderem iniludivelmente à teoria da vontade quando, em tal caso, declaram insuficiente a simples representação do resultado e exigem para este o consentimento do agente. Ora, consentir no resultado não é senão um modo de querê-lo (Pronuncia o ministro CAMPOS na sua Exposição de motivos: ‘É inegável que arriscar-se conscientemente a produzir um evento vale tanto quanto querê-lo: ainda que sem interesse nele, o agente o ratifica ex ante, presta anuência ao seu advento’)”.
Diferença entre Dolo Eventual e Culpa Consciente: “Há, entre elas, é certo, um traço comum: a previsão do resultado antijurídico; mas, enquanto no dolo eventual o agente presta anuência ao advento desse resultado, preferindo arriscar-se a produzi-lo, ao invés de renunciar à ação, na culpa consciente, ao contrário, o agente repele, embora inconsideradamente, a hipótese de superveniência do resultado, e empreende a ação na esperança ou persuasão de que este não ocorrerá”.
Exemplo dado por Hungria:
a) “Um motorista, dirigindo o seu carro com grande velocidade, já em atraso para atender ao compromisso de um encontro amoroso, divisa à sua frente um transeunte, que, à aproximação do veículo, fica atarantado e, vacilante, sendo atropelado e morto. Evidentemente, o motorista previu a possibilidade desse evento; mas, deixando de reduzir ou anular a marcha, teria aceito o risco de matar o transeunte, ou confiou em que este se desviasse a tempo de não ser alcançado? Na dúvida, a solução não pode ser outra senão a do reconhecimento de um homicídio simplesmente culposo (culpa consciente)”.
Antijuridicidade
Todo crime se caracteriza por ser um fato típico, antijurídico e culpável.
O artigo Elementos do Fato Típico apresenta, com ricos detalhes, o tema fato típico.
Neste artigo, o assunto abordado será sobre antijuridicidade, pois, ela é um dos pilares que define o conceito de crime.
A expressão Antijuridicidade é tratada pela lei penal como Ilicitude. Esta terminologia - Antijuridicidade - é utilizada de modo amplamente majoritário tanto na doutrina quanto na jurisprudência.
A Antijuridicidade é todo comportamento humano que descumpre, desrespeita, infringe uma lei penal e, consequentemente, fere o interesse social protegido pela norma jurídica. Ela é uma conduta injusta que afronta o senso comum. As pessoas quando tomam conhecimento desta conduta, reprovam-nas veemente.
Por exemplo, se uma pessoa revelar a alguém, sem justa causa, um segredo e cuja revelação possa produzir dano a outra pessoa é uma conduta antijurídica.
 Em suma, todas as condutas típicas - previstas em lei - como: matar alguém, estuprar, furtar, roubar, etc - são, a princípio, antijurídicas, PORÉM, havendo a presença de alguma excludente de antijuridicidade, esta conduta deixa de ser criminosa. As causas de exclusão de antijuridicidades são tratadas como justificativas, e nesta hipótese o agente pode ser absolvido do crime que cometeu.
O art. 23 prevê todas as excludentes de antijuridicidade. Elas também podem ser chamadas de Descriminantes, Eximentes, Causas de Exclusão de Crime, Tipos Permissivos. Todos esses nomes são considerados sinônimos. Vejamos:
Art. 23 - Não há crime quando o Agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
Importante observar que o sujeito deva conhecer a situação justificante, pois como relata Damásio de Jesus:
"Age em estado de necessidade justificante o que furta um medicamento raro e valioso com fins puramente lucrativos se, ao chegar a casa, o subministra a seu cônjuge que nesse intervalo havia contraído uma enfermidade delicada, só suscetível de ser reduzida por esse meio, à qual o delinqüente não poderia socorrer em outras circunstâncias, dada a exigüidade de seus recursos?"
e continua:
“Suponha-se que o sujeito pretenda matar seu inimigo e o encontre num matagal. Sem que ele perceba, atira várias vezes, matando-o. Fica provado, posteriormente, que a vítima tinha a seus pés uma mulher desfalecida, a quem estava prestes a estuprar. Nestes casos, pode-se dizer que a conduta se encontra justificada?”
No primeiro exemplo, a excludente de antijuridicidade é passível de aceitação, enquanto que na segunda, a falta de conhecimento, não justifica o ato praticado, portanto, crê-se que não seria aplicado a excludente, mesmo sabendo da crueldade que estava em iminênciade acontecer.
Além das excludentes elencadas no art. 23, existe uma excludente de antijuridicidade supra legal (que não está na lei) que se chama consentimento do ofendido ou vítima. Esta excludente significa que a vítima autoriza que seja praticado o crime contra ela. Obviamente que essa excludente só pode ser reconhecida quando o bem jurídico conhecido é um bem jurídico disponível (agir livremente no uso, gozo, aplicação ou alienação daquilo que se tem domínio, ou posse).
Por exemplo, o crime de violação de domicílio quando a vítima permita ou tolere que terceiro ingresse em sua casa, o estupro no caso de identificar que a mulher consentiu a relação sexual ou o sadomasoquismo no caso do homem ou mulher consentir lesão corporal leve (por exemplo, bater com o chicote, pingar vela no corpo, etc).
A vida humana é um bem jurídico indisponível, portanto, se a pessoa pedir para alguém matá-la, ou pedir para cortar um braço, em fim, mesmo ela autorizando e consentindo que o ato seja praticado, isso não elimina a antijuridicidade, justamente por se tratar de um bem jurídico indisponível.
Esta excludente supra legal é adotada pela doutrina, no entanto, observar-se que há alguns doutrinadores mais legalistas que não as aplicam.
Uma dúvida pode surgir em relação a excludente de antijuridicidade supra legal, a saber: No Código Penal, em seu 1° artigo diz que “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”, ou seja, aplicando a excludente supra legal, não estaríamos ferindo o princípio da reserva legal ou princípio da anterioridade previsto no art. 5, XXXIX, da Constituição Federal e no art. 1° do Código Penal?
Damásio de Jesus ensina que “No tocante às normas penais incriminadoras vige o princípio de reserva legal: não há crime sem lei que o defina. Essa proibição, porém, não se estende às normas penais não incriminadoras (permissivas e supletivas). O art. 23, que menciona as causas de exclusão da ilicitude, não contém disposição penal incriminadora. Assim, a lacuna de previsão legislativa pode ser suprida pelos processos de auto-integração da lei penal.” (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1)
Outro ponto fundamental a se observar no art. 23 está previsto no parágrafo único, pois, havendo excesso, a excludente não é aplicada e, consequentemente, o agente responderá pelo crime cometido.
O excesso pode ser por dolo ou culpa. No artigo Elementos do Fato Típico existe uma explicação detalhada sobre dolo e culpa, portanto, caso tenham dúvidas sobre a diferenciação entre dolo ou culpa, consultem o artigo citado.
Nesse momento, cabe ressaltar que, o excesso não intencional, faz com que o autor, não tenha consciência da desnecessidade da continuidade da conduta, pois, na primeira fase ele age corretamente (licitamente) e na segunda, por causa do erro, passa a conduzir-se ilicitamente.
Vejamos com detalhes os incisos do art. 23:
I - Estado de Necessidade
Mais uma vez recorro às palavras de Damásio de Jesus de que faz a seguinte definição sobre o conceito de Estado de Necessidade: “Há uma colisão de bens juridicamente tutelados causada por forças diversas, como um fato humano, fato animal, acidente ou forças naturais. Em tais casos, para proteger interesse próprio ou alheio, o Direito permite a lesão de outro bem, desde que seu sacrifício seja imprescindível para a sobrevivência daquele.” (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1)
Ferndando Capez complementa: “No Estado de Necessidade existem dois ou mais bens jurídicos postos em perigo, de modo que a preservação de um depende da destruição dos demais. Como o agente não criou a situação de ameaça, pode escolher, dentro de um critério de razoabilidade ditado pelo senso comum qual deva ser salvo” Por exemplo, imaginem uma pessoa que estava em um navio que afundou. Esta pessoa pega uma bóia e começa a nadar para se salvar. As outras pessoas que estão no mar, sem bóia, provavelmente, morrerão. Pergunto: Houve homicídio no qual a pessoa que estava com a bóia tinha responsabilidade? Não, porque, a situação de perigo atual que não foi provocado por aquela pessoa exclui a responsabilidade dela perante as outras pessoas, pois, a bóia em questão, permitia que somente uma pessoa a utiliza-se e logicamente entre salvar a vida dela e das outras pessoas, por questões óbvias, ela salva a si mesma.
 Diferente seria o caso se o bote bóia fosse gigante e coubessem várias pessoas dentro dela. Nessa hipótese, esta pessoa poderia salvar outras vítimas e evitar a tragédia iminente. Optando em não as ajudar, a excludente de antijuridicidade não será aplicada.
Outra hipóOutra hipótese seria a pessoa, com um bote, ao invés de ajudar as outras pessoas que estão se afogando, opta em salvar seus pertences (malas, dinheiro, etc). O resultado é o mesmo do exemplo acima, não se aplica a excludente de antijuridicidade.
Na aplicação da excludente de antijuridicidade no Brasil, utiliza-se teoria Unitária que diz para aplicar a excludente, deve-se usar o critério da razoabilidade, que é ditado pelo senso comum. Quando o sacrifício não for razoavel o agente responderá pelo crime. tendo apenas o direito de redução de pena de ⅓ a ⅔.
O art. 24 refere-se ao Estado de Necessidade, vejamos:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
 Outros exemplos de estado de necessidade, extraídos do livro (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1):
a) danos materiais produzidos em propriedade alheia para extinguir um incêndio e salvar pessoas que se encontram em perigo, subtração de um automóvel para transportar um doente em perigo de vida ao hospital (se não há outro meio de transporte ou comunicação);
c) violação de domicílio para acudir vítimas de crime ou desastre;
d) subtração de alimentos para salvar alguém de morte por inanição;
e) subtração de salva-vidas de um disputante em caso de naufrágio;
f) dois alpinistas percebem que a corda que os sustenta está prestes a romper-se. Para salvar-se, A atira B num precipício;
g) durante um incêndio, A causa ferimentos em B quando se lança na direção da porta de salvação;
h) lançamento de mercadorias ao mar para salvar um barco e pessoas;
i) lançamento de mercadorias para diminuir o peso do avião e salvar tripulantes e passageiros;
j) desvio de um canal para impedir inundação;
l) caso de antropofagia entre náufragos ou perdidos na selva;
m) médico que deixa morrer um paciente para salvar outro, não tendo meios de atender a ambos;
n) bombeiro que deixa de atender a um incêndio de pequenas proporções para atender a outro de maior gravidade;
o) aeronave em "pane" que aterrissa em propriedade alheia, causando danos;
p) aborto praticado por médico quando não há outro meio de salvar a vida da gestante;
q) intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justifica por iminente perigo de vida (em nossa legislação, este caso é de exclusão da tipicidade e não da ilicitude - CP, art. 146, § 3.o I);
r) dois náufragos nadam em direção a uma tábua de salvação. Para salvar-se, A mata B;
s) médico qus) médico que revela à família onde a doméstica trabalha ser ela portadora de doença contagiosa.
Os requisitos do Estado de necessidade são:
a) Situação de perigo
 I - perigo atual
 II - ameaça a direito próprio ou alheio
 III - situação não causada voluntariamente pelo sujeito
 IV - inexistência de dever legal de arrostar o perigo (art. 24, §1°)
b) Conduta lesiva
 V - inevitabilidade do comportamento lesivo
 VI - inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado
 VII - conhecimento da situação de fatojustificante 
I - perigo atual
É o presente, o que está acontecendo naquele exato momento em que o agente sacrifica o bem jurídico. Esta situação de perigo pode ser causada por conduta humana ou fato natural.
Se o perigo está prestes a acontecer - iminente -, entende-se que o agente não precisa aguardar que o perigo de iminência se transforme em perigo atual, no entanto, é preciso tomar cuidado, pois se o agente supõe a existência do perigo (quando na realidade ele não existe), ocorre o denominado "estado de necessidade putativo" e nesse caso a excludente não pode ser utilizado.
II - ameaça a direito próprio ou alheio
Qualquer bem protegido pelo ordenamento jurídico tem o direito de ser protegido. Não se exige nenhum tipo de relação jurídica (relação de parentesco, amizade, subordinação) específica entre o direito próprio e o alheio. O agente não precisa solicitar prévia autorização para proteger o bem, pois, há um consentimento implícito. É o caso, onde as pessoas ao se colocarem no lugar do agente, dizem: eu faria o mesmo.
Se o bSe o bem a ser salvo nãoSe o bem a ser salvo não esteja sob a tutela do ordenamento jurídico, não haverá "direito" a ser protegido.
Por exemplo, matar um animal silvestre é crime, no entanto, se a pessoa estiver perdida em uma floresta e matar um jacaré para comer, isso não se caracteriza crime.
III - situação não causada voluntariamente pelo sujeito
 
No art. 24, a expressão “não provocou por sua vontade” permite dizer que o perigo causado por dolo impede que o agente alegue encontrar-se em estado de necessidade. Assim, o perigo causado intencionalmente - dolosamente - tem força de excluir a alegação justificadora do agente de estado de necessidade.
Damásio de Jesus completa: >“o perigo doloso não e“o perigo doloso não exclui o crime, de forma que não pode alegar estado de necessidade quem sacrifica a vida alheia para salvar a própria num incêndio que dolosamente provocou. Mas, se o provocou culposamente, é lícito invocar a descriminante.” (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1)
No entanto, Assis Toledo, em seu livro Princípios básicos, su, sustenta a tese de que o perigo doloso e o provocado por culpa podem alegar estado de necessidade, uma vez que a conduta culposa também é voluntária em sua origem. Assim, quem provoca conscientemente um perigo (engenheiro que, na exploração de minas, faz explodir dinamites, devidamente autorizado para tanto) age 'por sua vontade' e, em princípio, atua licitamente, mas pode causar, por não ter aplicado a diligência ou o cuidado devidos, resultados danosos (ferimentos ou mortes) e culposos. Nessa hipótese, caracteriza-se uma conduta culposa quanto ao resultado, portanto crime culposo, a despeito de o perigo ter sido provocado por ato voluntário do agente (a detonação do explosivo)"
IV - inexistência de dever legal de arrostar o perigo (art. 24, §1°)
A definição, extraída do site DJI. Vejamos:
“Sempre que a lei impuser ao agente o dever de enfrentar o perigo, deve ele tentar salvar o bem ameaçado sem destruir qualquer outro, mesmo que para isso tenha de correr os riscos inerentes à sua função. Poderá, no entanto, recusar-se a uma situação perigosa quando impossível o salvamento ou o risco for inútil. Exemplo: de nada adianta o bombeiro atirar-se nas correntezas de uma enchente para tentar salvar uma pessoa quando é evidente que, ao fazê-Io, morrerá sem atingir seu intento. O CP limitou-se a falar em dever legal, que é apenas uma das espécies de dever jurídico. Se, portanto, existir mera obrigação contratual ou voluntária, o agente não é obrigado a se arriscar, podendo simplesmente sacrificar um outro bem para afastar o perigo.” (http://www.dji.com.br/penal/estado_de_necessidade.htm)
V - inevitabilidade do comportamento lesivo
Somente pode haver um comportamento lesivo para salvaguardar um bem jurídico, quando este for inevitável. Se o conflito de interesses puder ser resolvido de outra maneira, o comportamento lesivo não é justificado.
Por exemplo, um sequestro, onde a vítima, para fugir, pega um pedaço de pau e dá uma paulada no seqüestrador que dormiu durante a vigília.
VI - inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado
A definição, extraída do site DJI. Vejamos:“a lei não falou, em momento algum, em bem de valor maior, igualou menor, mas apenas em razoabilidade do sacrifício. Ninguém é obrigado a andar com uma tabela de valores no bolso, bastando que aja de acordo com o senso comum daquilo que é certo, correto, razoável. Exemplo: para uma pessoa de mediano senso, a vida humana vale mais do que um veículo, um imóvel ou a vida de um animal irracional.” 
(http://www.dji.com.br/penal/estado_(http://www.dji.com.br/penal/estado_de_necessidade.htm)
VII - conhecimento da situação de fato justificante
O agente sacrifica o bem jurídico alheio para salvaguardar a situação de perigo própria ou de terceiro.
Por exemplo, o cachorro do vizinho é muito irritante, ele late a noite inteira. O agente mata o cachorro com bolinho de carne cheio de veneno. No dia seguinte, o vizinho vê o cachorro morto e o leva para descobrir qual o motivo da morte e descobre que o cachorro morreu em decorrência de veneno e que ele estava com uma doença grave, a raiva.
Se o agente soubesse que o cachorro estava com raiva e o tivesse matado por essa razão, ele estaria amparado pelo Estado de Necessidade, pois, a raiva é lesiva aos seres humanos. No entanto, como o agente não sabia dessa informação e queria matar o cachorro devido o incomodo causado pelo animal, o Estado de Necessidade não poderia ser aplicado.
II - Legitima Defesa
Legitima Defesa é um instituto que faz parte do cotidiano das pessoas, pois, o Estado não tem como garantir proteção às pessoas em todos os lugares e momentos, por isso, não havendo outro meio, é permitido que a pessoa defenda seu bem jurídico.
O art. 25 do CP, trata o assunto:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Os requisitos da legítima defesa, a saber:
I) agressão injusta;
II) atual ou iminente;
III) a direito próprio ou de terceiro com uso moderado de tais meios para cessar a agressão;
IV) conhecimento da situação justificante.
 
I - agressão injusta
Damásio de Jesus define agressão como “a conduta humana que ataca ou coloca em perigo um bem jurídico. O ataque de animais não enseja a legítima defesa, mas sim o estado de necessidade, pois a expressão ‘agressão’ indica conduta humana.” (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1)
Embora, muitas vezes, entende-se que agressão seja um ataque à integridade física ou moral de alguém, isso não é uma regra, pois, um furto mediante destreza (facilidade e ligeireza de movimentos, especialmente com as mãos) não se caracteriza por uso de agressão física ou moral, mas é considerado agressão injusta.
Ataque de animal, onde a pessoa tenta se defender é considerado Estado de Necessidade, ao invés de Legítima Defesa, portanto, lembre-se que a Legitima Defesa pode ser utilizada apenas através de conduta humana.
Diferente seria o caso de um adestrador de um cão que ordena o ataque. Nessa hipótese, o cão é utilizado como instrumento, pois o mandante foi uma pessoa humana, logo, aplica-se a legítima defesa.
Agressão injusta, por sua vez, consiste em uma agressão não autorizada pela lei. Injustiça significa contrariedade ao Direito. A título ilustrativo, a violência utilizada por um policial ao evitar um crime constituiu uma agressão justa, pois ele está cumprindo seu dever legal. Logo, o agente não pode alegar contra a autoridade policial, no presente caso, a legítima defesa.
II) atual ou iminente;
É aquela agressão que está acontecendo ou prestes a acontecer. Por exemplo, Em uma discussão acalorada A dá um soco e B, logo, B defende-se revidando o soco tomado, portanto, B praticou a legítima defesa.
A agressão não pode ser do passado, ou seja, no exemplo acima, B ao recebero soco, vai para a casa dele, pega um pedaço de pau e volta ao local para dar uma paulada em A. Isso não é legitima defesa, pois o fato deixou de ser atual ou iminente e passa a ser uma vingança.
No crime permanente (sequestro), a Legitima Defesa pode ser utilizada a qualquer momento.
III) a direito próprio ou de terceiro com uso moderado de tais meios para cessar a agressão;
Todo bem jurídico tutelado pode ser defendido, desde que se usem meios moderados para tal feito, ou seja, o sujeito deve usar daquilo que seja suficiente para fazer cessar a agressão.
Por exemplo, se A dá um soco em B. B tem para se defender tem um pedaço de pau e uma arma de fogo. Se B optar pela arma de fogo, o meio é desnecessário porque ele tinha outro meio que era o pedaço de pau para se defender, portanto, a legitima defesa não pode ser aplicada.
Importante observar que existe um conflito entre a doutrina, conforme, explicado, no site DJI:
“Existe uma desavença na doutrina em torno da definição de "meios necessários". Dissenso esse justificável, até porque o legislador fez uso de um conceito legal bastante impreciso.
Uma primeira corrente defende que meios necessários são aqueles proporcionalmente adequados a repelir a agressão. Sustenta que o agente deve pautar sua conduta com base nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sopesando a gravidade da agressão e da reação, escolhendo sempre o meio menos gravoso para reprimir o ataque sofrido. (Nelson Hungria, Rogério Greco).
Todavia, esse entendimento, nesses termos, parece não ser o mais adequado. Parece pouco plausível exigir de um cidadão, que se encontra sofrendo uma agressão injusta, atual ou iminente, em um bem jurídico importante (senão não seria tutelado pela norma penal), que pare, pense, coloque a situação em uma balança, e decida a sua defesa com base em parâmetros de proporcionalidade. A legítima defesa é uma reação natural, é um instinto, e por isso a exigência de proporcionalidade é incompatível com o instituto (Cerezo Mir).”
IV) conhecimento da situação justificante
Havendo uma agressão injusta, atual ou iminente sob o bem jurídico protegido, a legítima defesa será descartada se o agente desconhecer essa situação.
Imaginem que o agente veja seu inimigo do outro lado da rua. Ele saca a arma e profere vários tiros contra o inimigo, que morre no local. Após o fato consumado, descobre-se que seu inimigo era um sujeito que tinha gravado um vídeo no dia anterior e este vídeo constava que ele iria entrar em uma escola de ensino fundamental e matar todos alunos presentes.
O sujeito que matou o inimigo não sabia de nada, ele o matou porque era seu inimigo, portanto, nesse caso, embora o agente tenha agido em uma situação que poderia se caracterizar em uma legitima defesa iminente, não ocorre, e se descaracteriza a legítima defesa.
III - Estrito cumprimento do dever legal
É o instituto que prevê que não há crime quando o agente pratica o fato no estrito cumprimento do dever legal. Há a exigência que o sujeito tenha conhecimento de que o ato praticado é um dever imposto pela lei. Caso contrário, o fato é ilícito, pois, há ausência do requisito subjetivo da excludente.
O “dever legal” pode constar de decreto, regulamento ou qualquer ato administrativo infra legal, desde que originários de lei.
O estrito cumprimento do dever legal normalmente é uma tese utilizada quando se trata de agentes públicos, no entanto, ela também alcança o particular que exerce função pública (jurado, perito, mesário da Justiça Eleitoral, etc.).
O crime culposo não admite estrito cumprimento de dever legal. De acordo com o texto extraído do site DJI:
“A lei não obriga à imprudência, negligência ou imperícia. Entretanto, poder-se-á falar em estado de necessidade na hipótese de motorista de uma ambulância, ou de um carro de bombeiros, que dirige velozmente e causa lesão a bem jurídico alheio para apagar um incêndio ou conduzir um paciente em risco de vida para o hospital.”
(http://www.dji.com.br/penal/estrito_cumprimento_dever_legal.htm)
Exemplos de estrito cumprimento do dever legal extraído do livro (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1) de Damásio de Jesus:
“a) fuzilamento do condenado pelo executor: a conduta do carrasco é típica, uma vez que se enquadra na descrição do crime de homicídio (art.121, caput); a antijuridicidade é excluída pelo cumprimento do dever legal;
b) morte do inimigo no campo de batalha;
c) prisão em flagrante realizada pelo policial.”
IV - Exercício regular do direito
Este instituto prevê que o sujeito possa exercer de forma regular o direito desde que sua conduta se enquadre no exercício de um direito, pois, caso contrário, haverá abuso de direito e ele responderá pela conduta abusiva.
Exemplos extraído do livro (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1), escrito por Damásio de Jesus:
“a) prisão em flagrante realizada por um particular;
b) liberdade de censura prevista no art. 142 do CP;
c) direito de retenção permitido pelo CC;
d) direito de correção do pai em relação ao filho.”
As intervenções médicas e cirúrgicas são amparadas pelo exercício regular de direito. No entanto, parte da doutrina entende que nesses casos a exclusão da ilicitude ocorre por força do estado de necessidade.
Esportes que contenham violência, como por exemplo: UFC, Boxe, etc também estão amparados por essa excludente, como bem salienta Damásio de Jesus:
“É evidente que o Estado não autoriza ferir ou matar, mas praticar o esporte de acordo com as regras determinadas, no qual normalmente pode ocorrer dano. A conduta do jogador é perfeitamente lícita, pelo que os resultados danosos que acidentalmente ocorrem também ficam acobertados pela licitude.” (Direito penal – Parte Geral – Vol. 1)
Culpabilidade
TEORIAS DA CULPABILIDADE
a) Teoria psicológica
Para essa tradicional teoria, a culpabilidade reside na relação psíquica do autor com seu fato. Apresenta o estudo do dolo e da culpa como suas espécies. Há relação psíquica entre o autor e o resultado. O dolo é caracterizado pela intenção de o agente produzir o resultado: a culpa, pela inexistência dessa intenção. Um, é conceito normativo e o outro, conceito psíquico. Pelo fato de reunir como espécies o dolo e a culpa, fenômenos completamente diferentes, essa teoria encontrou total fracasso.
b) Teoria psicológico-normativa
Existem condutas dolosas não culpáveis. O sujeito que mata em estado necessário age dolosamente. Porém, sua conduta não é culpável, já que diante da inexigibilidade de outro comportamento, não se torna reprovável. Portanto, não somente em casos dolosos, mas em fatos culposos, o elemento caracterizado da culpabilidade é a reprovabilidade. A culpabilidade não é só um liame psicológico entre o autor e o fato, mas sim, um juízo de valoração a respeito de um fato doloso (psicológico) ou culposo (normativo). Portanto, o dolo e a culpa não podem ser considerados espécies da culpabilidade, mas sim, elementos: a imputabilidade; o dolo e a culpa; e a exigibilidade de conduta diversa. Essa doutrina apresenta um avanço, mas fracassa por apresentar defeitos na doutrina psicológica. O dolo persiste como elemento da culpabilidade. Se a culpabilidade é um fenômeno normativo, seus elementos devem ser normativos. O dolo não é normativo, é psicológico.
c) Teoria normativa pura
È também chamada extrema, estrita, e relaciona-se com a teoria finalista da ação. Caracteriza-se por retirar o dolo da culpabilidade e colocar no tipo penal. Exclui do dolo a consciência da ilicitude e a coloca na culpabilidade. Nessa teoria,a culpabilidade não se reveste da característica psicológica. É um puro juízo de valor, é puramente normativa, não tendo nenhum elemento psicológico. Seus elementos são: imputabilidade; potencial consciência da ilicitude; e, exigibilidade de conduta diversa.
IMPUTABILIDADE
Imputar é atribuir a alguém a responsabilidade de alguma coisa. Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade paralhe ser juridicamente imputada a prática de um fato punível.
Não se confunde com a responsabilidade penal que corresponde às conseqüências jurídicas oriundas da prática de uma infração.
Responsabilidade é a obrigação que alguém tem de arcar com as conseqüências do crime.
A imputabilidade fundamenta-se na capacidade de entender e de querer praticar o fato. Imputável é o sujeito mentalmente são e desenvolvido, que possui capacidade de saber que sua conduta contraria os mandamentos da ordem jurídica.
A imputabilidade é regra. A inimputabilidade é exceção. Todo individuo é imputável, a não ser quando ocorre uma causa de exclusão. São causas:
a) doença mental;
b) desenvolvimento mental incompleto
c) desenvolvimento mental retardado
d) embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.
É insuficiente que o agente seja portador dessas causas. É necessário que em decorrência dessas deficiências, não tenha capacidade de entender e de querer.
A presença da causa (qualquer uma das citadas acima) e do efeito (incapacidade de entender e de querer) é que faz surgir a exceção: a inimputabilidade.
POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ANTIJURIDICIDADE
Há quatro teorias a respeito da colocação sistemática da consciência da ilicitude na estrutura do delito, variando de acordo com a doutrina adotada em relação ao conceito da ação e da culpabilidade:
1) Teoria extrema do dolo:
Fundamentado na teoria psicológica do culpabilidade, exige atual e real consciência da antijuridicidade, não sendo suficiente a possibilidade de conhecimento do injusto. Portanto, a inexistência da real consciência da ilicitude é excludente do dolo, podendo o sujeito responder por crime culposo, se evitável o erro ou ignorância da norma e prevista a modalidade culposa.
2) Teoria limitada do dolo:
Limita a teoria apresentada anteriormente exigindo no dolo apenas a potencialidade do conhecimento do injusto, não real e atual consciência da ilicitude para se evitar absolvições infundadas e condenações fundadas na culpa de direito ou cegueira jurídica, cujo aspecto é muito vago para fundamentar decisões na prática, enfraquecendo essa teoria.
3) Teoria extrema da culpabilidade
Entende que a consciência da antijuridicidade não faz parte do dolo, mas sim da culpabilidade. Fundamenta-se na teoria finalista da ação e na doutrina da culpabilidade normativa pura, portanto é puro juízo de valor; seus elementos têm natureza meramente normativa; a consciência da ilicitude é normativa, não possuindo dados psicológicos, o que dá possibilidade de conhecimento do ilícito. Dessa forma, o sujeito que realizou a conduta com vontade e conhecimento dos elementos objetivos do tipo penal agiu dolosamente, sendo indiferente que não se tenha conduzido com conhecimento do ilícito. A falta de conhecimento da antijuridicidade não tem influência sobre a existência do dolo, sendo analisada na culpabilidade, o que leva à conclusão de que o sujeito não teve possibilidade de conhecer o caráter ilícito do fato e portanto, recebe a absolvição: não por ausência do dolo, mas por inexistir culpabilidade. Aqui reside as conseqüências do erro de direito: ele nunca exclui o dolo, podendo excluir a culpabilidade.
4) Teoria limitada da culpabilidade, exposta no conceito de culpabilidade desse resumo.
EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
É o terceiro elemento da culpabilidade. Além da imputabilidade e da potencial consciência da ilicitude, exige-se que nas circunstâncias do fato, o sujeito tivesse possibilidade de realizar outra conduta, de acordo com o ordenamento jurídico. Assim, a conduta é reprovável, constituindo o delito, objeto do juízo da culpabilidade.
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE
Quando falta algum dos elementos expostos anteriormente, não subsiste a culpabilidade. O Código Penal prevê, expressamente as causas que excluem a culpabilidade, também conhecida como dirimentes.Embora o crime subsista, não sendo culpado o sujeito, deve ser absolvido.
São essas, as causas:
a) Erro de proibição
b) Coação moral irresistível
c) Obediência hierárquica
d) Inimputabilidade por doença menta ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado
e) Inimputabilidade por menoridade penal
f) Inimputabilidade por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior
Cada uma dessas causas exclui certo elemento da culpabilidade e, em conseqüência, ela fica excluída:
a) Erro de proibição exclui a potencial consciência da antijuridicidade;
b) A coação moral irresistível e a obediência hierárquica excluem a exigibilidade de conduta diversa;
c) A doença mental, o desenvolvimento mental incompleto ou retardado, a menoridade e a embriaguez fortuita excluem a imputabilidade.
É importante distinguir causas de exclusão da antijuridicidade (justificativas) com causas de exclusão da culpabilidade (dirimentes), já que em face de uma causa de exclusão da ilicitude não se discute se o agente praticou o fato culpavelmente ou não. As primeiras causas se referem ao fato, as outras, ao autor.
ERRO DE PROIBIÇÃO
Erro que incide sobre a ilicitude do fato. O sujeito, diante do erro, supõe lícito o fato por ele cometido. Ele supõe inexistir a regra de proibição.
O erro pode ser: escusável ou inevitável, o que ocorre quando nele incidiria qualquer homem prudente e de discernimento e erro inescusável ou evitável quando o sujeito nele incide por leviandade, imprudência, descuido. Considera-se erro evitável, se o sujeito atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir esse conhecimento.
COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL
Coação é o emprego de força física ou de grave ameaça contra alguém. Há a coação física, emprego de força bruta tendente a que a vítima – coato, faça alguma coisa ou não. E há a coação moral, onde reside o emprego de grave ameaça contra alguém, no sentido de que realize um ato ou não.
Quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico sob coação moral irresistível não há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra conduta, isto é, não é reprovável o comportamento. A culpabilidade desloca-se da figura do coato para ao do coator.
A coação moral deve ser irresistível; tratando-se da coação resistível não há exclusão da culpabilidade. O coator é que responde pelo fato típico e antijurídico praticado pelo coato, com a agravação de pena. Responde por crime de constrangimento ilegal por haver caogido o executor do delito. Em regra, o fato apresenta três figuras: coator, coato e vítima, que sofre a conduta do constrangido. Excepcionalmente pode apresentar apenas duas: coator e coato. Ex.: aquele constrange este a praticar ato obsceno em lugar exposto ao público. Não há no caso três pessoas determinadas, parecendo a coletividade como sujeito passivo.
OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA
É a manifestação de vontade do titular de uma função pública a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta. A ordem pode ser: legal, quando nenhum crime comete, já que se encontra no estrito cumprimento de dever legal. A ordem também pode ser ilegal: manifestamente ilegal, quando respondem pelo crime o superior e o subordinado; e não manifestamente ilegal, embora a conduta do subordinado constitua fato típico e antijurídico, não é culpável por incidir em um relevante erro de proibição. O subordinado não responde pelo crime, por haver ausência de culpabilidade. A obediência hierárquica constitui causa de exclusão da culpabilidade.
São requisitos da obediência hierárquica:
a) Que haja relação de direito público entre superior e subordinado (a obediência doméstica e eclesiástica não ingressa nessa teoria);
b) Que a ordem não seja manifestamente ilegal;
c) Que a ordem preencha os requisitos formais;
d) Que a ordem seja dada dentro da competência funcional do superior;
e) Que o fato seja cumprido dentro de “estrita obediência” à ordem do superior. Se o subordinado vai além do determinado pelo superior, responde pelo excesso. Neste caso, o inferior respondepelo crime, não havendo exclusão da culpabilidade.
Apresentando os requisitos, o subordinado não responde pelo crime por ausência de culpabilidade. O fato criminoso é imputável ao superior.
DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO OU RETARDADO
O sistema biológico, sistema psicológico e o sistema biopsicológico constituem os sistemas sobre as causas da inimputabilidade. De acordo com o biológico, leva-se em conta a causa e não o efeito.
MENORIDADE PENAL
São inimputáveis os menores de 18 anos
Adoção de um critério puramente biológico
(idade do autor do fato)
Presunção absoluta de Inimputabilidade 
Considera o menor como tendo desenvolvimento mental incompleto em decorrêcia de uma política criminal.
EMOÇÃO E PAIXÃO 
Vimos que a inimputabilidade é causa de exclusão da culpabilidade. O Código Penal, em seus Arts. 26, caput, 27e 28,1º,determina os casos em que inimputabilidade exclui a culpabilidade:
“I – a emoção ou a paixão”.
Emoção é um estado de ânimo ou de consciência caracterizado por uma viva excitação do sentimento profundo e monopolizante (amor, ódio, vingança, fanatismo, despeito, avareza, ambição, ciúme).
A circunstância de o sujeito praticar o fato sob o impulso de emoção ou da paixão não exclui a culpabilidade. De acordo com código, esses estados não excluem a culpabilidade. É possível, porém, que tenham cunho patológico. Então, não se aplica o art.28, I, mas sim o art.27, caput (causa de exclusão da culpabilidade).
Embora excluam a culpabilidade, a emoção e a paixão têm força de diminuir a pena.O art.65,III,c,prevê uma circunstância legal genérica ,denominada atenuante,quando o crime é praticado “sob a influência de violenta emoção”(incluindo a paixão), “provocada por ato injusto da vitima”.No homicídio privilegiado,o juiz pode reduzir a pena de sexto a um terço quando o agente comete o crime“sob o domínio de violenta emoção”(incluindo a paixão), “logo em seguida a injusta provocação da vitima”(art.121,1.).Diferem as duas circunstâncias(genérica e específica),pois a primeira se contenta com a influência da emoção ou paixão, enquanto a segunda exige que o fato seja praticado sob o domínio desses estados.Na lesão corporal, o legislador prevê diminuição da pena quando o fato é cometido pelo agente sob o domínio de violenta emoção,logo em seguida a injusta provocação da vitima(art.129,4.).
A não-influência da emoção e da paixão sobre a imputabilidade nada tem que ver com a teoria da actio libera in causa, tratando-se de medida de política criminal, tal como acontece no erro de proibição. Como ensinava Aníbal Bruno, com muito menos razão ainda do que em relação á ebriez voluntária ou culposa, aplicar-se-ai á emoção ou paixão o princípio da actio libera in causa. Ninguém procura voluntária ou culposamente entrar em estado emocional.
Não é possível equipara esse estado ao de inimputabilidade provocada dolosa ou imprudentemente pelo sujeito, para a pratica de um crime.
VISÃO DE ROGÉRIO GRECO
CULPABILIDADE PENAL
Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente.
Nas lições de Welzel, “culpabilidade é a ´reprovabilidade`da configuração da vontade. Toda culpabilidade é, segundo isso, ´culpabilidade de vontade´. Somente aquilo a respeito do qual o homem pode algo voluntariamente lhe pode ser reprovado como culpabilidade”
Em suma, culpabilidade, significava o vínculo psicológico que ligava o agente ao fato ilícito por ele cometido, razão pela qual essa teoria passou a ser reconhecida como uma teoria psicológica da culpabilidade. Posteriormente, recebeu a denominação de sistema clássico
CONCEITOS E TEORIAS 
São duas as teorias, surgidas por intermédio de correntes distintas, que procuram justificar esse juízo de censura:
O livre- arbítrio (Escola Clássica): argumenta que o homem é moralmente livre para fazer suas escolhas. O fundamento da responsabilidade penal está na responsabilidade moral do indivíduo, sendo que esta, ou seja, a responsabilidade moral, tem por base o livre-arbítrio.
O determinismo (Escola Positivista): Essa teoria apresenta, contrária a anterior, que o homem não é dotado desse poder soberano de liberdade de escolha, mas sim que fatores internos ou externos podem influenciá-lo na prática da infração penal.
Entende-se que livre-arbítrio e determinismo são conceitos que, ao invés de se repelirem, se completam.
Assim, a culpabilidade, ou seja, o juízo de censura que recai sobre a conduta típica e ilícita, é individual, pois o homem é um ser que possui sua própria identidade, razão pela qual não existe um ser igual ao outro. Temos nossas peculiaridades, que nos distinguem dos demais. Portanto, em tema de culpabilidade, todos os fatos, internos e externos, devem ser considerados a fim de se apurar se o agente, nas condições em que se encontrava, podia agir de outro modo.
CULPABILIDADE COMO REQUISITO OU ELEMENTO DO CRIME 
Mais do que elementos, dolo e culpa eram espécies de culpabilidade.
Os elementos subjetivos eram responsáveis pelo estabelecimento da relação psicológica entre o autor e o fato “o vínculo psicológico entre o autor e o fato é o fundamento para o reconhecimento da relação causal da vontade com o fato ilícito”.
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CULPABILIDADE E SEUS ELEMENTOS 
Nos moldes da concepção trazida pelo finalismo de Welzel, a culpabilidade é composta pelos seguintes elementos normativos:
a) imputabilidade;
b) potencial consciência sobre a ilicitude do fato;
c) exigibilidade de conduta diversa.
IMPUTABILIDADE (capacidade de culpabilidade)
Seria a possibilidade de se responsabilizar alguém pela prática de determinado fato previsto pela lei penal. Para tanto, teria o agente de possuir condições para entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Assim, deveria estar no pleno gozo de suas faculdades mentais para que pudesse atuar conforme o direito.
Para que o agente possa ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito por ele cometido é preciso que seja imputável. A imputabilidade é a possibilidade de se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra; a imputabilidade, a exceção.
Dolo seria a vontade e a consciência de realizar o fato proibido pela lei e a culpa, uma vontade defeituosa. O dolo passou a ser entendido como um dolus malus, exigindo-se para sua caracterização, além da vontade de realizar o fato típico, o conhecimento sobre a ilicitude do fato.
POTENCIAL CONSCIÊNCIA SOBRE A ILICITUDE DO FATO
O desconhecimento da lei é inescusável. 
A diferença fundamental entre consciência real e consciência potencial reside no fato de que, naquela, o agente deve, efetivamente, saber que a conduta que pratica é ilícita; na consciência potencial, basta a possibilidade que o agente tinha, no caso concreto, de alcançar esse conhecimento.
Espécies de erro sobre a ilicitude do fato, ou erro de proibição:
• Direto;
Diz-se direto quando ao agente vem a recair sobre o conteúdo proibitivo de uma norma penal.
• Indireto;
Também constitui erro de proibição a suposição errônea de uma causa de justificação, se o autor erra sobre a existência ou os limites d proposição permissiva ( erro de permissão).
• Mandamental.
É aquele que incide sobre o mandamento contido nos crimes omissivos, sejam eles próprios ou impróprios.
EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 
O conceito de exigibilidade de conduta diversa é muito amplo e abrange até mesmo as duas situações: imputabilidade e potencial consciência sobre a ilicitude do fato, que têm como finalidade precípua afastar a culpabilidade do agente. Se o agente era inimputável, pois que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, não se lhe podia exigir uma conduta conforme o direito; da mesma forma aquele que atua não possuindo a necessária consciência sobre a ilicitude do fato.
Portanto, a exigibilidade de conduta diversa éa possibilidade que tinha o agente de, no momento da ação ou da omissão, agir de acordo com o direito, considerando-se a sua particular condição de pessoa humana. Essa possibilidade de agir conforme o direito variará de pessoa para pessoa, não se podendo conceber um “padrão” de culpabilidade. As pessoas são diferentes uma das outras.
DOENÇA MENTAL 
Uma das hipóteses, que segundo critério político-legislativo, conduziriam à inimputabilidade do agente, é a inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, conforme art.26 do CP.
Pela redação do caput, do referido art.26, verifica-se que o CP adotou a conjugação de dois critérios que levam a concluir pela inimputabilidade do agente:
a) existência de uma doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado;
b) a absoluta incapacidade de, ao tempo da ação ou da omissão, entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Isso significa que o CP, pelo seu art.26, caput, adotou o critério biopsicológico para aferição da inimputabilidade do agente.
CAUSAS LEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE POR INEXIGIBILIDADE DE OUTRA CONDUTA 
O Código Penal prevê algumas causas legais que excluem a culpabilidade. Dentre elas: coação irresistível, obediência hierárquica e a possibilidade de aborto quando a gravidez é resultante de estupro.
OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA
Hierarquia é a relação de Direito Público. Para que a máquina administrativa possa funcionar com eficiência, é preciso que exista uma escala hierárquica entre aqueles que detêm o poder de mando e seus subordinados.
Frederico Marques, aduz que: Para se possa falar em obediência hierárquica é preciso que “ exista dependência funcional do executor da ordem dentro do serviço público, em relação, em relação a quem lhe ordenou a prática do ato delituoso”. Isso quer dizer que não há relação hierárquica entre particulares, como no caso do gerente de uma agência bancária e seus subordinados, bem como tal relação inexiste nas hipóteses de temor reverencial entre pais e filhos ou mesmo entre líderes religiosos e seus fiéis.
Aquele, portanto, que cumpre ordens não manifestamente ilegais não pode ser por elas responsabilizado, uma vez que não lhe era exigível, no caso concreto, ter outra conduta senão aquela determinada pelo seu superior hierárquico.
COAÇÃO IRRESISTÍVEL
Prevista no art.22 do Código Penal. 
Vale ressaltar que a coação mencionada no art.22 é aquela de natureza moral (vis compulsiva), e não física (vis absoluta). Isso porque a coação física afasta a própria conduta do agente, por ausência de dolo ou culpa. 
A estrita obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico afasta a culpabilidade do agente em virtude de não lhe ser exigível, nessas condições, um comportamento conforme o direito. Para que possa ser beneficiado com essa causa legal de exclusão da culpabilidade, é preciso, nos termos do art.22, a presença de vários requisitos:
a) que a ordem seja proferida por superior hierárquico;
b) que essa ordem não seja manifestamente ilegal;
c) que o cumpridor da ordem se atenha aos limites da ordem.
EMOÇÃO E PAIXÃO
O Art.28, Inciso I, do CP afirma que a emoção ou a paixão não excluem a imputabilidade penal. O Código Embora não afastem a imputabilidade penal, em várias de suas passagens, o Código Penal valorou tais sentimentos, seja para diminuir ou mesmo para aumentar a pena aplicada, a exemplo do art.65, III, c, que prevê como circunstância atenuante o fato de ter o agente cometido o crime sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima.
O código penal, com essa redação, permitir a punição dos chamados crimes passionais, ou seja, aqueles que são motivados por uma intensa paixão ou emoção.
EMBRIAGUEZ E SUAS FORMAS
O art.28, Inciso II, do CP, não exclui a imputabilidade penal a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. Embora o art.26,§ 1º, Inciso II e o caput do art.26 do Código Penal isentam de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
São duas, as formas de embriaguez:
a) Voluntária
Prevista no inciso II do art.28, do CP, completa, permite a punição do agente, em face da adoção da teoria da actio libera in causa “os casos em que alguém, no estado de não-imputabilidade, é causado, por ação ou omissão, de algum resultado punível, tendo se colocado naquele estado propositadamente, com a intenção de produzir o evento lesivo, ou sem essa intenção, mas tendo previsto a possibilidade do resultado, ou, ainda, quando a podia ou devia prever”.
A embriaguez voluntária se biparte em:
• Voluntária em sentido estrito
É quando o agente, volitivamente, faz a ingestão de bebidas alcoólicas com a finalidade de se embriagar
• Culposa
Também dita voluntária, é aquela em que o agente não faz a ingestão de bebidas alcoólicas querendo embriagar-se, mas, deixando de observar o seu dever de cuidado, ingere quantidade suficiente que o coloca em estado de embriaguez. Nessa hipótese, o agente, por descuidado, por falta de costume ou mesmo sensibilidade do organismo, embriaga-se sem que fosse a sua intenção colocar-se nesse estado.
Nessas duas modalidades de embriaguez voluntária, o agente será responsabilizado pelos seus atos, mesmo que, ao tempo da ação ou da omissão, seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. O agente poderá ser responsabilizado criminalmente pelo resultado.
b) Involuntária
Proveniente de caso fortuito ou força maior. Como por exemplo:
Em visita a um alambique, escorrega e cai dentro de um barril repleto de cachaça, se, ao fazer a ingestão da bebida, vier a embriagar, sua embriaguez será proveniente de caso fortuito. Outro exemplo é uma vítima de assalto ser amarrada e forçada a ingerir bebida alcoólica e vem a embriagar. Essa será considerada proveniente de força maior.
Para que possa ser afastada a culpabilidade do agente, isentando-o de pena, é preciso, conforme determina o § 1º do inciso II do art.28 do CP, que a involuntária e completa embriaguez do agente seja conjugada com a sua total incapacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A embriaguez involuntária incompleta veio prevista no § 2º do inciso II, do art.28 do CP, que diz que a pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com o entendimento.
MENOR IDADE 
A inimputabilidade por imaturidade natural ocorre em virtude de uma presunção legal, onde, por questões de política criminal, entendeu o legislador brasileiro que os menores de 18 anos não gozam de plena capacidade de entendimento que lhes permita imputar a prática de um fato típico e ilícito. Adotou-se, portanto, o critério puramente biológico.
O argumento de que ao inimputável por imaturidade natural que pratica um ato infracional será aplicada uma medida socioeducativa, nos termos previstos no ECA( Lei nº 8.069/90), não têm condão de convencer a sociedade, que cada dia pugna pela redução da maioridade penal para os 16 anos.
CONCURSO DE PESSOAS
Concurso de pessoas: engloba coautoria e participação. Artigo 29, CP:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa penaserá aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Teorias sobre Concurso de Pessoas:
•Pluralista: cada agente responde por um crime diferente. Incompatível com a ideia de concurso de pessoas.
•Dualista: Um crime é considerado aquele realizado pelos autores; outro é aquele realizado pelos partícipes.
•Monista ou Unitária: Adotada em predominância na legislação brasileira, baseada na teoria da Equivalência das Condições. Busca punir igualmente todos os agentes que tenham agido em concurso (art. 29 do CP). Embora também nossa legislação tenha elementos da Teoria Dualista (art. 29 CP, §§), na medida em que diferencia a forma de atuação dos autores e partícipes (participação de menor importância; vontade de participação em crime menos grave).
Critérios e pressupostos:
•Concurso exige não só a contribuição causal, objetiva, mas também a contribuição subjetiva.
•A conduta deve ser típica, antijurídica e culpável em relação a cada um dos agentes.
•É indispensável a vontade consciente de participar. Ao partícipe basta a adesão voluntária, pode não ter interesse específico em relação ao resultado final, mas tem a intenção de contribuir com o autor principal.
•Tem que ter eficácia causal e elemento subjetivo. 
Requisitos:
•Pluralidade de Partícipes e de condutas – cada um e todos contribuem para o (s) fato(s) criminoso(s).
•Deve haver relevância causal de cada conduta – eficácia causal.
•Vínculo subjetivo entre os participantes – adesão voluntária objetiva e subjetiva.
 Obs: o simples conhecimento constitui-se em conivência, que não é punível.
•Identidade de Infração Penal – tem que se constituir em algo juridicamente unitário, mesmo que as condutas sejam absolutamente distintas.
Autoria:
Segundo a legislação brasileira, a autoria inclui as seguintes condutas:
• do instrumento;
•da autoria mediata;
•da cooperação com o empreendimento criminoso em atos de execução (coautoria);
•Induz ou participa (participante).
Teorias sobre a autoria:
•Conceito restritivo de autor – autor é aquele que realiza a conduta típica descrita na lei, isto é, o que pratica o verbo do tipo.
 Esta teoria exige a adoção de uma teoria objetiva de participação. Quais sejam:
 - Teoria objetivo-formal – autor é diferente de participante, sendo este o que pratica qualquer outra ação que contribua com o crime, mas fora da descrição prevista no tipo.
 - Teoria Objetivo-material – autor é aquele que teve maior periculosidade, partícipe menos periculosidade.
•Conceito Extensivo de Autor – não distingue completamente autor e participante, embora não ignore que o tratamento punitivo dos dois é diferente. Assim, autor é quem realiza uma contribuição causal para o fato, seja qual for seu conteúdo, mas com vontade de autor. Partícipe é quem possui unicamente “vontade de partícipe”.
•Teoria do Domínio do Fato – autor é quem tem o poder de decidir sobre a realização do fato. Não só que executa a ação típica, mas quem executa utilizando-se de outro para fazê-lo.
 Esta teoria é adequada no caso dos crimes dolosos, em que há domínio dos fatos por parte dos autores. Nos crimes culposos, os seguidores desta teoria, identificada com a Teoria Finalista da Ação, não diferenciam autor e partícipe.
Hipóteses de concurso de pessoas:
Autoria Mediata (não exatamente concurso) – Quem realiza o tipo penal, utilizando-se de outra pessoa como instrumento. Hipóteses: coação irresistível (art. 22CP), obediência hierarquica (art. 22 CP), indução ao erro, e uso de inimputáveis para a prática de crimes, na utilização de pessoa amparada por causa de justificação.
 Quando o instrumento realiza o crime de modo consciente e doloso, será coautor.
 É admitida a autoria mediata em crimes próprios. Não é admitida em crimes de mão própria.
 Coautoria – realização conjunta. Desnecessário o acordo prévio. Necessário o atuar consciente, em divisão de trabalho, com liame psicológico. O domínio do fato pertence a vários intervenientes.
Participação em Sentido estrito – Código Penal não define, mas exemplifica, no art. 31 do CP. Seria aquele que não realiza a atividade executiva prevista no tipo, mas concorre para o crime, desempenhando atividade distinta do autor principal. Indispensável o nexo causal com o resultado.
 Se for de menor importância, a responsabilização será reduzida, conforme art. 29, § 1º do CP, de 1/6 a 1/3.
Espécies:
• instigação (persuasão, aconselhamento, dissuasão etc), espécie de participação moral.
• cumplicidade – comportamento de auxílio. Ex: empréstimo de arma.
 Também pode ocorrer em forma de omissão. Ex: Guarda deixa de fechar a porta da repartição para contribuir com um furto.
Concurso em Crimes Culposos
•Doutrina alemã não admite coautoria nos crimes culposos.
•Doutrina espanhola admite não apenas a coautoria, mas a participação em sentido estrito.
•A doutrina brasileira é controvertida em relação ao tema, mas, em regra, é admitida a coautoria em crimes culposos, mas não admite a participação.
•Não é possível coautoria dolosa, de um e culposa, de outro. Ou seja cada um dos autores com uma espécie de motivação. Se o crime é um só, não se admite enquadramento culposo para um e doloso para o outro.
Concurso em Crimes Omissivos (também controvertido). Hipóteses:
•Coautoria em crime comissivo, por omissão é admitida sem problemas, especialmente tratando-se de omissão dolosa, sendo os dois garantes.
•Crimes omissivos próprios: duas pessoas deixam de prestar socorro. Duas visões: coautoria, ou autoria colateral;
•Participação em crime omissivo (paciente que instiga o médico a não comunicar doença contagiosa);
•Participação, por omissão, em crime comissivo (guarda que deixa o cofre aberto);
• Crimes omissivos impróprios, ou comissivos por omissão: é possível que um terceiro, que não seja garante, instigue o garante a omitir-se (participação). Se os dois forem garantes agirão em coautoria.
Autoria Colateral – quando duas ou mais pessoas, ignorando uma a contribuição da outra, praticam condutas convergentes buscando a realização da mesma ação penal.
•Se for possível identificar quem consumou o crime, este responderá pelo crime doloso e o outro por tentativa.
•Se não for possível determinar quem foi o autor (autoria incerta). Sabe-se quem executou, mas não quem produziu o resultado, os dois responderão por tentativa.
Multidão delinquente
 Não é necessário que se descreva minuciosamente a participação de cada um dos agentes.
• Aqueles que praticaram o crime por influencia de multidão em tumulto, poderão ter penas atenuadas. (art. 65,e do CP).
•Aquele que provocar, organizar, ou liderar a multidão terão pena agravada (art. 62,I do CP).

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