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epidemiologia
Disciplina de Saúde, Bioética e Sociedade
Prof. M. Helena Jacob
Conteúdos a serem abordados
Epidemiologia 
Definições
História
Raízes
Clínica Médica
Estatística
Medicina Social
Consolidação
Atualidade
Usos
Usuários
Definições
Epidemiologia 
Ciência básica da Saúde Coletiva;
Abordagem dos fenômenos da saúde-doença por meio da quantificação, usando o cálculo matemático e as técnicas de amostragem.
Raízes históricas:
Clínica
Estatística
Medicina Social
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
A epidemiologia pode ser considerada a ciência básica da saúde coletiva. Tem sido definida como a abordagem dos fenômenos da saúde-doença por meio da quantificação, usando bastante o cálculo matemático e as técnicas de amostragem, embora não se restrigindo à quantificação. Ela se constitui na principal ciência da informação em saúde.
As raízes históricas da ciência epidemiológica podem ser identificadas em uma trilogia de elementos conceituais representadas pela Clínica, pela Estatística e pela Medicina Social.
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Significado e Surgimento
Epi- (em cima de, sobre), –demós (povo), –logos (palavra, discurso, estudo). 
Livro sobre a peste (Espanha, segunda metade do século XVI). 
Retomado por Juan de Villalba, na obra Epidemiologia Española (1802). 
London Epidemiological Society (Inglaterra, 1850).
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
A palavra Epidemiologia é formada pelo prefixo epi- (em cima de, sobre), o radical –demós (povo) e o sufixo –logos (palavra, discurso, estudo). Ou seja, significa “ciência do que ocorre (se abate) sobre o povo”. Seu primeiro emprego foi em um livro sobre a peste, escrito por Angelerio, na Espanha, na segunda metade do século XVI. Trezentos anos mais tarde, foi retomado por Juan de Villalba, na obra Epidemiologia Española, uma compilação de todas as epidemias conhecidas até aquela data (1802). Já a primeira instituição científica da disciplina foi criada em 1850, na Inglaterra, e se chamava London Epidemiological Society.
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Definições
Segundo Jéniceck (1995), um dos objetivos principais da Epidemiologia deve ser identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades. 
A International Epidemiological Association (1973), define Epidemiologia como 
	“o estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas. Enquanto a Clínica dedica-se ao estudo da doença nos indivíduos, analisando caso a caso, a Epidemiologia debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas (...) na maioria das vezes envolvendo populações numerosas”.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Tradicionalmente, a Epidemiologia tem sido definida como a ciência que estuda a distribuição das doenças e suas causas em populações humanas. Jéniceck propôs que um dos objetivos principais da Epidemiologia deve ser identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades. Exemplos disso são estudos feitos para encontrar associações causais entre leucemia e exposição a raios X na gestação, mortalidade infantil e classes sociais, trombose venosa relacionada ao uso de ACO, comportamento sexual e transmissão do HIV e cegueira em crianças subnutridas e sua relação com avitaminose A.
A International Epidemiological Association (IEA, 1973), define Epidemiologia como “o estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas. Enquanto a Clínica dedica-se ao estudo da doença nos indivíduos, analisando caso a caso, a Epidemiologia debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas (...) na maioria das vezes envolvendo populações numerosas”.
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Definições
Susser (1987) acrescenta que a Epidemiologia se baseia:
	“nas ciências sociais para a compreensão da estrutura e da dinâmica sociais (...), na matemática para noções estatísticas de probabilidade, inferência e estimação (...), e mas ciências biológicas para o conhecimento do substrato orgânico humano onde as manifestações observadas encontrarão expressão individual”.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Susser vai um pouco mais além e acrescenta que a Epidemiologia se baseia “nas ciências sociais para a compreensão da estrutura e da dinâmica sociais (...), na matemática para noções estatísticas de probabilidade, inferência e estimação (...), e nas ciências biológicas para o conhecimento do substrato orgânico humano onde as manifestações observadas encontrarão expressão individual”.
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Definições
Almeida-Filho e Rouquayrol (2006) propõem uma definição de Epidemiologia como: 
	“Ciência que estuda o processo saúde-enfermidade na sociedade, analisando a distribuição populacional e fatores determinantes do riscode doenças, agravos e eventos associados à saúde, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de enfermidades, danos ou problemas de saúde e de proteção, promoção ou recuperação da saúde individual ou coletiva, produzindo informação e conhecimento para apoiar a tomada de decisão no planejamento, admnistração e avaliação de sistemas, programas, serviços e ações de saúde”.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Entretanto, devido à complexidade e abrangência do tema, não é possível uma definição única e precisa de Epidemiologia enquanto campo científico. Almeida-filho e Rouquayrol propõem conteituá-la como: “Ciência que estuda o processo saúde-enfermidade na sociedade, analisando a distribuição populacional e fatores determinantes do risco de doenças, agravos e eventos associados à saúde, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de enfermidades, danos ou problemas de saúde e de proteção, promoção ou recuperação da saúde individual ou coletiva, produzindo informação e conhecimento para apoiar a tomada de decisão no planejamento, admnistração e avaliação de sistemas, programas, serviços e ações de saúde”.
Ciência que estuda o processo saúde-enfermidade na sociedade, analisando a distribuição populacional – então, dizendo quais são as doenças mais prevalentes e incidentes em uma determinada região;
fatores determinantes do risco – como por exemplo, o fumo é um fator de risco para o CA de pulmão
propondo medidas específicas de prevenção (vacinação contra a poliomielite), controle (isolamento de casos suspeitos de ter ebola) ou erradicação (queima dos corpos de pessoas que morreram por ebola).
produzindo informação e conhecimento – ou seja, transformando dados coletados em pesquisas em informação (através da contextualização) e conhecimento (através da discussão com a literatura vigente)
para apoiar a tomada de decisão no planejamento (taxas de incidência e prevalência antes da implantação de um programa), admnistração (taxas de I e P após a implantação do programa) e avaliação (custo-efetivo?)
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Definições
Distribuição
Determinantes
Aplicação no controle
Pinto Jr., 2012
Dessas diferentes formas de caracterizar a Epidemiologia, a gente pode simplificar, dizendo que existem 3 componentes importantes na definição de Epidemiologia: a distribuição das doenças, os determinantes das doenças e a aplicação do conhecimento epidemiológico no controle.
Como distribuição, eu quero dizer que a Epidemiologia observa os eventos e determinantes e faz comparações válidas entre grupos. Ou seja, trata da observação do fenômeno saúde-doença em uma população.
A parte dos determinantes entra no sentido de que, a partir da observação da distribuição das doenças, são investigadas as causas dos problemas de saúde, em geral por estudos analíticos. 
Por fim, com o conhecimento da situação de saúde, gerado a partir do conhecimento da distribuição da doença e dos determinantes envolvidos no processo saúde-doença, o conhecimento gerado pode ser aplicado em prol da melhoria das condições de saúde da população.
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História da Epidemiologia
Hipócrates
A Epidemiologia nasceu com Hipócrates. 
Estrutura e conteúdo dos textos sobre as epidemias e sobre os ambientes, anteciparam o raciocínio epidemiológico.
Epidemia e endemia.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Autores clássicos da Epidemiologia (MacMahon, Pugh e Ipsen, 1960; Lilienfeld, 1970) afirmam que a Epidemiologia nasceu com Hipócrates. A estrutura e o conteúdo dos textos hipocráticos sobre as epidemias e sobre os ambientes, sem dúvida anteciparam o chamado raciocínio epidemiológico. Nesses textos ele destacava a importância do coletivo para o alcance da saúde. Para ele, a saúde humana era determinada por um equilíbrio de fatores, ligados ao ser humano e seus hábitos, como alimentação e exercícios e ligados ao ambiente. Foi Hipócrates também que cunhou termos usados até hoje, como epidemia (que caracteriza a ocorrência de uma determinada doença acima de um limiar esperado para uma determinada região) e endemia (doença que é característica daquela população).
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Império Romano
Primeiros médicos de Roma → escravos 
Trabalhavam para a corte, para o exército ou para famílias nobres.
Era Romana
Censos periódicos 
Registro compulsório de nascimentos e óbitos, precursor das “estatísticas vitais”.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Após a queda do império Grego e sua dominação pelos Romanos, a gente começa a ter um predomínio da medicina curativa e individual.
Os primeiros médicos de Roma eram, em geral, escravos, vindos de povos conquistados (especialmente da Grécia) e que trabalhavam para a corte, para o exército ou para famílias nobres.
Entretanto, a maior contribuição da era Romana para a formação da Epidemiologia foram os censos periódicos e a introdução, pelo Imperador Marco Aurélio, de um registro compulsório de nascimentos e óbitos, antecipando o que mais tarde viria a ser conhecido como “estatísticas vitais”.
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Idade Média
Práticas de saúde de caráter mágico-religioso
Não havia lugar para ações coletivas no campo da saúde, exceto em momentos críticos de pragas e epidemias.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Na Idade Média, com a queda do Império Romano, estabelece-se uma hegemonia da Igreja Católica. A maior parte das instituições hospitalares que foram sendo contruídas eram controladas pela Igreja Católica, apesar de que, em cidades maiores, já se observava o poder público como responsável pela manutenção de alguns hospitais (ORDEM DOS CAVALEIROS HOSPITALEIROS). Nessa época, as práticas de saúde tinham um caráter mágico-religioso (rezas, orações, práticas religiosas, missas...). A doença era vista como um pecado e o corpo sofria por influências do mal, o que justificava as práticas religiosas. Para os pobres, essas práticas eram exercida por religiosos como caridade, ou por leigos, barbeiros, boticários e cirurgiões, como profissão. Por outro lado, cada família da aristocracia tinha seu médico privado. Assim, não existiam ações coletivas no campo da saúde, exceto em momentos críticos de pragas e epidemias.
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Inglaterra
John Graunt (1662) – tratado sobre as tabelas mortuárias de Londres (análise por sexo e região)
Pereira, 2008 
A partir do fim da Idade Média, na Inglaterra começam a ser usadas técnicas matemáticas e estatísticas para descrever a distribuição de agravos na população.
Nesse sentido, o precursor foi John Graunt, que, em 1662, publicou um tratado sobre as tabelas mortuárias de Londres, no qual ele analisou a mortalidade por sexo e por região. Ele é considerado, por seu pioneirismo no uso de coeficientes (óbitos em relação à população), o pai da demografia ou das estatísticas vitais.
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Raízes da Epidemiologia – Clínica, estatística e Medicina Social
Anglo-saxões → Thomas Sydenham (1624-1689).
Escola historiográfica francesa → questão veterinária.
3 etapas:
Luta contra os físicos, leigos e religiosos, sem distinção clara entre dimensões individuais e coletivas;
Já consolidade, a Clínica reforçava ainda mais o estudo unitário.
Emergência da Fisiologia moderna.
Com a teoria microbiana, a “medicina científica” tornou-se importante na instituicionalização das práticas médicas.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006; Pinto Jr., 2012
Clínica Médica
A partir do surgimento do método científico, com Thomas Bacon (Novo Organum, 1620) e René Descartes (Discurso do Método, 1637), esse método se torna o núcleo onde se agregam outros conhecimentos que vão formar a epidemiologia. 
Um desses conhecimentos é a Clínica Médica. Ela contribuiu para a formação da Epidemiologia como um valioso instrumento de definição das doenças.
Existem algumas divergências sobre o surgimento da Clínica. Para os anglo-saxões, o fundador da Clínica Médica foi Thomas Sydenham, um médico e político inglês, também precursor da epidemiologia e que tinha inspiração hipocrática. Porém, para os franceses, o início da prática médica se conecta a uma questão veterinária (ou seja, a prática clínica surgiu a partir da investigação de uma epidemia que dizimava os rebanhos bovinos franceses e tinha grandes impactos na economia; pela primeira vez, eram contados enfermos – que, no caso, eram animais – com fins de eliminação das doenças).
Na construção da Clínica como uma ciência, nós podemos destacar 3 etapas:
1- Inicialmente, quando foi travada uma luta contra os físicos, leigos e religiosos, que eram aqueles responsáveis pela prática médica na Idade Média, para que a Clínica passasse às mãos de profissionais da saúde;
2- Após estar consolidada como corporação, o segundo estágio foi marcado pelo reforço do estudo unitário, que é o que a gente chama de caso, a partir da investigação sistemática de enfermos recolhidos aos hospitais.
3- A terceira etapa, surgida após a emergência da Fisiologia moderna, passou do estudo dos casos para o nível subindividual, com o estudos dos sistemas. Assim, com o surgimento da Clínica, os hospitais passaram a ser o local privilegiado de observação da doença. Os médicos antes tratavam os pacientes em suas casas, de maneira bastante individual. Com o surgimento da Clínica, foi facilitado o trabalho de descrever como determinado agravo se distribui na população, uma vez que os casos estavam concetrados em hospitais.
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Estatística
Estatística → medida do Estado (povo+exército).
Daniel Bernoulli (1700-1782) 
Teoria das probabilidades e fórmulas para estimar os anos de vida ganhos (vacinação contra a varíola) e para realizar análises de custo-benefício de intervenções clínicas.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Outro conhecimento atrelado ao método científico e que se caracteriza como uma raiz da Epidemiologia é a Estatística
O Estado moderno trouxe consigo a ideia de que a riqueza principal de uma nação é seu povo, tornando necessário contá-lo, bem como contar seu exército. O termo Estatística significa justamente a medida do Estado (que é composto pelo povo e pelo exército).
Na área da saúde, a valorização da matemática se deve muito a Daniel Bernoulli, um dos criadores da teoria das probabilidades, que derivou fórmulas para estimar os anos de vida ganhos com a vacinação contra a varíola e para realizar análises de custo-benefício de intervenções clínicas.
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Estatística
Astrônomos:
Sir Edmund Halley → tábuas de vida (usadas em estatísticas vitais).
Pierre-Simon Laplace → teoria das probabilidades e aperfeiçoamento de métodos de análise de grandes números.
Lambert Adolph Quetelet → principal defensor do caráter aplicado da Estatística.
Pierre-Charles Alexandre Louis → precursor da avaliação dos tratamentos clínicos usando estatística. 
Discípulos como William Farr (registro anual de mortalidade e morbidade para a Inglaterra e o País de Gales, 1839), William Budd, William Guy e Lemuel Shattuck.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Contar súditos parecia ter uma relação bem próxima com contar estrelas. Assim foram vários os astrônomos que desenvolveram técnicas estatísticas. Sir Edmund Halley, o mesmo do cometa, desenvolveu técnicas de análise de dados que resultaram nas tábuas de vida (usadas em estatísticas vitais). Pierre-Simon Laplace, além de consolidar a teoria das probabilidades, aperfeiçoou métodos de análise de grandes números, aplicando-os a questões de mortalidade e outros fenômenos em saúde. Lambert Adolph Quetelet,
criador do índice de superfície corporal, foi o principal defensor do caráter aplicado da Estatística, demonstrando sua capacidade de descrição de fenômenos biológicos e sociais, incluindo morbidade e mortalidade.
Pierre-Charles Alexandre Louis, médico francês, foi um dos fundadores da estatística, sendo um precursor da avaliação dos tratamentos clínicos usando estatística. A pesquisa da origem das doenças com o auxílio da matemática influenciou o desenvolvimento dos primeiros estudos de morbidade, por discípulos de Louis, como os ingleses William Farr (criou, em 1839, o registro anual de mortalidade e morbidade para a Inglaterra e o País de Gales), William Budd e William Guy e o americano Lemuel Shattuck.
Com o método numérico, de Louis, e a estatística médica, de Farr, alcançava-se uma razoável integração entre a Clínica moderna e a Estatística, porém faltava algo que conferisse um caráter coletivo a essa nova ciência da saúde.
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Medicina social
Poder nas mãos da burguesia (fim do século XVIII) → diferentes intervenções estatais sobre a saúde das populações.
Desgaste das condições de vida e de saúde da classe trabalhadora - relatórios de René Villermé e Edwin Chadwick e Friedrich Engels.
Formação de um proletariado urbano → luta orientada por diferentes doutrinas sociais (socialismos utópicos). 
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Esse caráter coletivo veio por meio da Medicina Social.
No final do século XVIII, sucederam-se diferentes tipos de intervenção estatal sobre a questão da saúde das populações, com a promoção de uma medicina voltada para os pobres na Inglaterra, com o saneamento das cidades na França e com medidas compulsórias de controle e vigilância de enfermidades na Alemanha.
O desgaste das condições de vida e de saúde da classe trabalhadora foram demonstrados em relatórios pelos discípulos de Louis, René Villermé, na França, e Edwin Chadwick, na Inglaterra. Nessa mesma linha, posteriormente, Friedrich Engels escreveu, em 1844, o célebre livro “As Condições da Classe Trabalhadora na Inglaterra”.
A formação de um proletariado, submetido a intensos níveis de exploração, resultou em diferentes doutrinas sociais chamadas de socialismos utópicos. Entre 1830 e 1850, um desses socialismos se destacou por interpretar a política como medicina da sociedade e a medicina como prática política. Desde então, o termo “Medicina Social” tem sido usado para designar modos de tomar coletivamente a questão da saúde.
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Medicina social
Rudolf Virchow (Alemanha) → investigou epidemia de tifo na Silésia, com causas fundamentalmente sociais e políticas, e liderou o movimento médico-social naquele país. 
Sanitaristas britânicos → integrar preocupações filantrópicas e sociais aos conhecimentos e práticas técnicas, propondo transformações políticas e sociais. 
London Epidemiological Society (1850), fundada por jovens simpatizantes das ideias médico-sociais, junto com oficiais da saúde pública e membros da Real Sociedade Médica.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Na Alemanha, o médico sanitarista Rudolf Virchow, após investigar uma epidemia de tifo na Silésia e identificar que suas causas eram fundamentalmente sociais e políticas, liderou o movimento médico-social naquele país. O movimento da medicina social foi reprimido violentamente nas comunas de Paris e de Berlim e Virchow foi condenado ao exílio.
Por outro lado, os sanitaristas britânicos, que não tiveram oportunidade de participar de revoltas urbanas, buscaram integrar suas preocupações filantrópicas e sociais aos conhecimentos e práticas técnicas, propondo transformações políticas e sociais. Assim, em 1850, organizou-se na Inglaterra a London Epidemiological Society.
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Medicina social
John Snow → Cólera em Londres, em 1850, antecipando a teoria microbiana, mesmo antes de Pasteur.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Além disso, nessa questão sobre a Medicina Social, vale destacar o trabalho de John Snow, que ocupava um cargo semelhante ao de Ministro da Saúde da Inglaterra. Snow é conhecido por muitos como o pai da Epidemiologia, por pautar a nascente metodologia epidemiológica. Com sua investigação sobre o Cólera em Londres, em 1850, antecipou a teoria microbiana, mesmo antes de Pasteur (CONTAR HISTÒRIA SNOW – 1ª investigação – mapa; 2ª investigação – Southwark and Vauxhall Company - suja x Lambeth - limpa).
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John Snow
RR = 8,5
Consolidação da Epidemiologia
Consolidação
Avanço da fisiologia, da patologia e da bacteriologia + enfermidades mais prevalentes → abordagem curativa individual, em detrimento do enfoque coletivo.
Relatório Flexner (1910) → enfoque reducionista para o ensino médico.
1ª escola de saúde pública (Universidade Johns Hopkins, 1918) . 
Modelo “escola de saúde pública” difundido pelo mundo.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Com o avanço da fisiologia, da patologia e da bacteriologia no século XIX, aliado às enfermidades mais prevalentes na época (que eram principalmente infecto-contagiosa), houve um favorecimento da abordagem curativa individual, em detrimento do enfoque coletivo “higiênico” no tratamento da questão da saúde e de seus determinantes.
Apesar do desenvolvimento da medicina social, a “medicina científica” se consolidava sua hegemonia como substrato conceitual da saúde, o que culminou com o relatório Flexner, publicado em 1910, que preconizava um enfoque reducionista para o ensino médico, valorizando o nível subindividual e individual no campo da saúde. Inspirada nos princípios do Relatório Flexner, foi inaugurada, em 1918, na Universidade Johns Hopkins, a primeira escola de saúde pública.
O modelo “escola de saúde pública” foi então difundido por todo o mundo, com apoio integral da recém-nascida Fundação Rockefeller.
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Consolidação
London School of Hygiene and Tropical Medicine → Major Greenwood, primeiro professor de Epidemiologia e Estatística Vital. 
Introdução do raciocínio estatístico na pesquisa epidemiológica e rejeição do caráter descritivo da “epidemiologia experimental”.
Crise econômica mundial de 1929 → crise na medicina científica → redescoberta do caráter social e cultural das doenças e da medicina.
Retorno do social por meio da Epidemiologia, despolitizada e positivista.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
A London School of Hygiene and Tropical Medicine surgiu (1899) da fusão da Escola de Medicina Tropical com o Departamento de Higiene do University College. Major Greenwood foi o primeiro professor de Epidemiologia e Estatística Vital da nova escola.
A crise econômica de 1929 se refletiu também em uma crise da medicina na década seguinte, pois o avanço tecnológico e a fragmentação do cuidado médico elevaram os custos e elitizaram a assistência à saúde. Nesse cenário, redescobriu-se o caráter social e cultural das doenças e da medicina. Esse retorno do social se fez pelo recurso à Epidemiologia, supostamente despojada da politização assumida pelo movimento da medicina social, e que se integrava ao padrão positivista das ciências naturais.
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Consolidação
The Principles of Epidemiology (Stallybrass, 1931) → primeiro aporte sistemático ao conhecimento epidemiológico (doenças infecciosas).
Epidemiologia buscava retomar o enfoque coletivo → impasse conceitual e metodológico (modelo flexneriano) → conceito de risco, com caráter técnico-instrumental.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
O primeiro aporte sistemático ao conhecimento epidemiológico, o livro The Principles of Epidemiology se referia exclusivamente às doenças infecciosas. A Epidemiologia buscava, nessa época, retomar a tradição de privilegiar o coletivo e ampliar seu objetivo para além das doenças transmissíveis. 
Para alcançar esse objetivo, foi proposta uma solução técnica. Assim, com a publicação, em 1933, no American Journal of Public Health, de um trabalho intitulado “Risco de pessoas em contato familiar com tuberculose pulmonar”, surgiu o conceito de risco, que tinha um caráter técnico-instrumental.
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Consolidação
Fase de consolidação → construção teórica
e fundamentação metodológica
Gerações de epidemiólogos que se seguiram não demonstraram maiores preocupações conceituais.
Pós-guerra → grandes inquéritos epidemiológicos.
Hegemonia do conhecimento epidemiológico em relação às outras disciplinas da saúde preventiva
International Epidemiological Association (1954) 
American Journal of Hygiene → American Journal of Epidemiology (1964).
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Durante a fase de consolidação da disciplina, vários autores realizaram um grande esforço no sentido da construção teórica e fundamentação metodológica da nascente Epidemiologia. Entretanto, as gerações de epidemiologistas que se seguiram não demonstraram maiores preocupações conceituais, com o que se refletia na pobreza teórico-metodológica da maior parte dos textos fundamentais da disciplina que apareceram no pós-guerra.
Nessa época do pós-guerra, com a expansão do capitalismo, foram realizados grandes inquéritos epidemiológicos, principalmente a respeito de enfermidades não-infecciosas.
Com o esgotamento das ciências sociais aplicadas à saúde, consolidava-se a hegemonia do conhecimento epidemiológico em relação às outras disciplinas da saúde preventiva, processo que teve seu apogeu com a fundação da International Epidemiological Association e com a transformação do tradicional American Journal of Hygiene em American Journal of Epidemiology (1964).
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Consolidação
Década de 50 → novos desenhos de investigação
Estudos de coorte → experimento de Framingham. 
Ensaios clínicos controlados → Sir Austin Bradford Hill.
Novos modelos explicativos foram propostos para das conta dos impasses gerados pela teoria monocausalista da enfermidade, reforçando uma forte tendência ecológica na Epidemiologia.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Na década de 50, programas de investigação e departamentos de Epidemiologia começaram a desenvolver novos desenhos de investigação, como os estudos de coorte, inaugurados a partir do famoso experimento de Framingham (estudo sobre fatores de risco para doença cardiovascular, criado em 1948, e que hoje continua investigando especificidades do coração, cérebro, ossos e sono). Essa foi também a época dos primeiros ensaios clínicos controlados, cujo pioneiro foi Sir Austin Bradford Hill, sucessor da cátedra de Major Greenwood, na LSHTM, que, junto com Richard Doll, foi o primeiro a demonstrar a ligação entre cigarro e CA de pulmão.
No plano teórico, novos modelos explicativos foram propostos para das conta dos impasses gerados pela teoria monocausalista da enfermidade, reforçando uma forte tendência ecológica na Epidemiologia.
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Consolidação
Regras básicas da análise epidemiológica
Uso de indicadores → incidência e prevalência 
Delimitação do conceito de risco
Jerome Cornfield → desenvolvimento de estimadores do risco relativo e técnicas de regressão logística na análise epidemiológica.
Técnicas de identificação de casos e descrição dos principais tipos de viéses.
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
A partir daí estabeleceram-se regras básicas da análise epidemiológica, com o uso de indicadores típicos dessa área (incidência e prevalência) e pela delimitação do conceito de risco. Nesse período é importante destacar a contribuição de Jerome Cornfield (1912-1979), com o desenvolvimento de estimadores do risco relativo e com a introdução de técnicas de regressão logística na análise epidemiológica.
Também nesse período houve um intenso desenvolvimento das técnicas de identificação de casos, adequadas à aplicação em grandes amostras, e a descrição dos principais tipos de viéses na investigação epidemiológica.
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Atualidade
Atualidade
Anos 60 
Introdução da computação → matematização da área. 
Análises multivariadas → solução para o problema do confundimento.
Década de 80 
Epidemiologia clínica → uso pragmático da metodologia epidemiológica, fora dos contextos coletivos mais ampliados.
Abordagens mais críticas da epidemiologia, reafirmando a raiz econômica e política dos determinantes em saúde.
Anos 90 
Renovado interesse por estudos agregados.
Ampliação do objeto de conhecimento da Epidemiologia (Farmacoepidemiologia, a Epidemiologia Genética e a Epidemiologia de Serviços de Saúde).
Almeida-Filho e Rouquayrol, 2006
Nos anos 60 houve uma verdadeira revolução na Epidemiologia, com a introdução da computação eletrônica e, com ela, uma forte matematização da área. A ampliação real dos bancos de dados trouxe eficiência, precisão e especificidade para as técnicas analíticas. As análises multivariadas, por sua vez, trouxeram uma perspectiva de solução ao problema das variáveis de confundimento.
A Epidemiologia da década de 80 caracterizou-se por duas tendências. Primeiro, uma proposta com ênfase na identificação de caso e na avaliação da eficácia terapêutica, conformando a “medicina baseada em evidências” e em segundo lugar, emergiram na Europa e na América Latina abordagens mais críticas da epidemiologia, como reação à essa “biologização” da saúde pública, reafirmando a raiz econômica e política dos determinantes em saúde. Então, é o que a gente entende por uma epidemiologia mais clínica e uma mais social. A gente vai estudar um pouco de cada uma delas nas próximas aulas.
Nos anos 90, houve uma retomada do interesse por estudos agregados (também chamados de estudos ecológicos, que a gente vai ver mais adiante). Além disso, houve a ampliação do objeto de conhecimento da Epidemiologia, com a criação de novos territórios de pesquisa e de prática, como a Farmacoepidemiologia, a Epidemiologia Genética e a Epidemiologia de Serviços de Saúde.
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Usos
A epidemiologia cada vez mais ocupa lugar privilegiado de fonte de desenvolvimento metodológico para todas as ciências da saúde. Ela compreende 10 principais usos: 
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Usos
Diagnóstico da situação de saúde
Investigação etiológica
Determinação de riscos
Aprimoramento na descrição do quadro clínico
Determinação de prognósticos
Identificação de síndromes e classificação de doenças
Verificação do valor de procedimentos diagnósticos
Planejamento e organização dos serviços
Avaliação das tecnologias, programas ou serviços
Análise crítica de trabalhos científicos
Pereira, 2008
1- Diagnóstico da situação de saúde – uma importante função da epidemiologia é gerar dados quantitativos, corretos, sobre a saúde do conjunto da população ou de seus segmentos, seja em atividades de rotina, seja em investigações especiais. Por exemplo, determinar a prevalência de diabetes em uma determinada população. Conhecer a distribuição dos casos nos diferentes grupos da população permite reconhecer em que grupos o agravo é mais frequente, o que pode ser tomado como indicativo das necessidades de saúde.
2 – Investigação etiológica – estudos das causas das variações que ocorrem na distribuição de um evento. A ideia de relacionar uma causa a um efeito é encontrada em todas as áreas do conhecimento e a saúde não é diferente. Entretanto, essa é uma simplificação da realidade, pois essa relação “uma causa – um efeito” é uma simplificação, que representa o isolamento de uma parte do todo. Exemplo disso é pensarmos que a poliomielite pode ser controlada por imunização das crianças ou que a incidência de CA de pulmão pode ser reduzida significativamente pela diminuição do hábito de fumar. Hoje em dia, no entanto, aceitamos que os danos à saúde podem ter múltiplas causas e que uma única causa pode ter muitos efeitos. Ex: doenças coronarianas (associadas à obesidade, ao nível de colesterol sérico, ao sedentarismo, ao tabagismo, ao stresse e ao tipo de comportamento). Isso é especialmente verdadeiro no caso de doenças crônico-degenerativas. Portanto, é mais adequado o uso de determinante ao invés de causa, para englobar os diversos componentes identificados no complexo causal das doenças.
3 – Determinação de riscos – as investigações etiológicas apontam para os riscos aos quais uma pessoa pode estar sujeita. São essas investigações que fornecem os dados básicos para a quantificação da associação
entre a exposição a um determinado fator e o surgimento subsequente da doença. Exemplo disso é a determinação dos níveis aceitáveis de poluição atmosférica nos centros urbanos.
4 – Aprimoramento na descrição do quadro clínico – inicialmente, as doenças são descritas através da observação de um ou de poucos casos. Após essas observações pioneiras, são realizados estudos epidemiológicos, que verificam características e a evolução da doença em uma coletividade, permitindo descrever detalhes e complementar o quadro clínico.
5 – Determinação de prognósticos – a epidemiologia fornece elementos que permitem pressupor que um paciente, portador de uma dada característica, tem maior ou menor probabilidade de desenvolver uma determinada doença ou então tem menor tempo de sobrevida. Letalidade por doença meningocócia em Londrina (88% para casos que chegavam em choque no hospital e 8% para os demais casos).
6 – Identificação de síndromes e classificação de doenças – o reconhecimento de padrões (características, sinais e sintomas) pode fazer com que se distinga uma condição de outra, até então consideradas em uma só categoria clínico-patológica. Ex: gonorréia, sífilis e cancro mole, que, no passado, eram classificadas como uma mesma entidade.
7 – Verificação do valor de procedimentos diagnósticos – a utilidade dos resultados de uma investigação epidemiológica está subordinada à precisão dos diagnósticos feitos em nível individual: a soma destes leva ao diagnóstico coletivo. Inconsistências na aferição de cada evento acaretam imprecisão nas estatísticas decorrentes.
8 – Planejamento e organização dos serviços – algumas informações, como aquelas referentes à magnitude e à distribuição dos agravos à saúde, dos fatores de risco e das características das populações podem ser de grande valia no planejamento e organização dos serviços de saúde. Os resultados de estudos epidemiológicos, que fornecem informações sobre relações causais entre características da população, fatores de risco e aravos à saúde também são importantes no planejamento de ações de saúde. Da mesma forma, são importantes informações sobre recursos financeiros, humanos e materiais.
9 – Avaliação de novas tecnologias, programas ou serviços – com o intuito de proceder a análises comparativas com objetividade, para identificar os produtos e os procedimentos que oferecem os melhores resultados e que tem impacto significativo na população. 
10 – Análise crítica de trabalhos científicos – para melhor aproveitamento da literatura especializada, o leitor precisa de uma base metodológica firme e de una estrutura de conhecimentos sobre as quais as novas aquisições intelectuais encontram ligação.
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Usuários
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Usuários
Profissionais da saúde;
Sanitaristas
Planejadores
Epidemiologistas-pesquisadores (ou professores)
Clínicos
Outros profissionais;
Pesquisadores.
Pereira, 2008
E quem são os principais usuários da Epidemiologia?
Visto a epidemiologia constituir uma disciplina de síntese para o estudo da saúde e da doença, em nível de população, ela se tornou matéria básica, incorporada ao currículo dos estudantes da área da saúde. Por ir além de fatos biológicos, ela confere uma perspectiva mais ampla do indivíduo e do ambiente que o cerca.
Os principais usuários de dados epidemiológicos podem ser colocados em 3 grandes categorias:
1 – Os profissionais de saúde que necessitam de informação epidemiológica sobre a comunidade para agir de acordo com esse conhecimento, dos quais destacam-se os sanitaristas, os planejadores, os epidemiologistas-pesquisadores e os clínicos;
2 – Os diferentes profissionais que, embora não tenham responsabilidade ou envolvimento direto com uma dada comunidade, procuram estar a par do teor das informações epidemiológicas e de suas interpretações, para aplicá-lo em seu próprio trabalho;
3 – Os pesquisadores, para os quais os dados servem como base para a produção de conhecimento, com vistas a sua aplicação mais geral (ex: observação de pacientes chagásicos – aspectos evolutivos da doença de Chagas).
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Bibliografia
ALMEIDA-FILHO, N.; ROUQUAYROL, Z. Introdução à Epidemiologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2006.
PEREIRA, M.G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2008.
PINTO JÚNIOR, V.L.. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EnMytitR-_4. Acessado em 16/08/2014

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