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epidemiologia social

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Epidemiologia Social
Saúde, Bioética e Sociedade
Módulo de Epidemiologia
A epidemiologia social se distingue pela insistência em investigar explicitamente os determinantes sociais do processo saúde-doença. O que distingue a epidemiologia social das outras abordagens epidemiológicas não é a consideração de aspectos sociais, pois, bem ou mal, todas reconhecem a importância desses aspectos, mas a explicação do processo saúde-doença. Trata-se portanto de uma distinção no plano teórico.
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Conteúdos a serem abordados
Definição
Histórico
Atualidade
Conceitos Importantes
Principais Teorias em Epidemiologia Social
Eco-Epidemiologia
Teoria do Capital Social
Perspectiva do Curso de Vida
Produção Social da Doença
Teoria Ecossocial
Desafios da Epidemiologia Social
Definição
Epidemiologia social é um ramo da epidemiologia que estuda os efeitos dos fatores socio-estruturais sobre estados de saúde. 
Honjo, 2004
Epidemiologia social é um ramo da epidemiologia que estuda os efeitos dos fatores socio-estruturais sobre estados de saúde.
A epidemiologia social se propõe a identificar as características sociais que afetam o padrão de doença e distribuição de saúde em uma sociedade e entender seus mecanismos.
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Características
A premissa principal da epidemiologia social é que cada sociedade forma sua própria distribuição da saúde e da doença.
 Ela pressupõe que a distribuição de vantagens e desvantagens em uma sociedade reflete a distribuição da saúde e doença. 
“Qual o efeito que os fatores sociais sobre a saúde individual e populacional?”.
Honjo, 2004
A premissa principal da epidemiologia social é que cada sociedade forma sua própria distribuição da saúde e da doença. Ela pressupõe que a distribuição de vantagens e desvantagens em uma sociedade reflete a distribuição da saúde e doença. Propõe-se a identificar as características sociais que afetam o padrão de doença e a distribuição de saúde em uma sociedade e entender seus mecanismos. A questão central e inicial de epidemiologia social a ser respondida é: “qual o efeito que os fatores sociais sobre a saúde individual e populacional?”
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Histórico
Gradiente socioeconômico em saúde:
Nível de pobreza e contexto social importam na determinação do estado de saúde
Estudos que explicavam padrões de adoecimento através dos vínculos entre a saúde e a sociedade:
Villermé → difença na mortalidade entre pobres e ricos (França);
Virchow → más condições sociais e epidemia de tifo na Silésia;
Chadwick → solos insalubres, ar e água foram as principais causas de doenças.
Barata, 2005; Honjo, 2004
A relação entre classe social e de saúde tem sido um campo de pesquisa importante desde o início da história da saúde pública. Muitos estudos têm identificado as disparidades de saúde entre as classes sociais e tem sido desenvolvidas diversas teorias. No entanto, apesar da longa história deste campo de pesquisa, o efeito da classe social sobre a saúde ainda não é totalmente compreendido. A distribuição de renda e saúde é um campo relativamente novo dentro de epidemiologia social.
Assim, apesar da epidemiologia social ter se desenvolvido recentemente, a idéia de que as condições sociais afetam a saúde já existia no início do século 19.
No início do século 19, várias investigações foram realizadas com base na idéia de que as condições sociais afetam a saúde. Na França, Villermé examinou diferenças na mortalidade entre os pobres e os ricos. Ele enfatizou que a melhoria da escolaridade e condições de trabalho reduziria as disparidades na mortalidade entre os pobres e os ricos. Na Alemanha, Virchow relatou a relação entre as más condições sociais e da epidemia de tifo em Alta Silésia. Ele especulou que o acesso desigual aos produtos da sociedade era a causa fundamental da distribuição desigual das doenças na sociedade. Ele destacou o papel central das condições sociais na saúde da população. Em meados do século 19, Chadwick relatarou que o solo insalubre, o ar e a água foram as principais causas de doenças e que medidas de saneamento deveriam ser tomadas para melhorar a saúde, especialmente dos pobres. Claramente, os estudos no início e meados do século 19 foram realizados com o pressuposto de que as condições sociais afetam a saúde física.
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Histórico
Final do século 19 → teoria dos germes
Estudos epidemiológicos se concentraram na identificação de novos germes que causam doenças.
Consequentemente, a ideia de que as condições sociais afetam a saúde foi ofuscada. 
Início do século 20 → unicausalidade
↑ das doenças infecciosas → “teia da causalidade", 
Assim, o conceito original da epidemiologia dava lugar à prosperidade da epidemiologia moderna.
Honjo, 2004
No final do século 19, a teoria dos germes entrou em voga. Germes foram consideradas a principal causa de doenças. Os estudos epidemiológicos desenvolvidos durante este período se concentraram na identificação de novos germes que causam doenças. Consequentemente, a ideia de que as condições sociais afetam a saúde foi ofuscada. 
No início do século 20, floresceu a ideia de que a exposição a um único fator de risco individual, incluindo germes, levava à doença. No entanto, com o aumento das doenças infecciosas, a idéia de que a doença é causada pela exposição a vários fatores de risco individuais, a chamada “teia da causalidade", tomou importância dentre as teorias epidemiológicos. A epidemiologia moderna desenvolveu com base nesse modelo multi-fatorial. Assim, o conceito original da epidemiologia dava lugar à prosperidade da epidemiologia moderna.
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Atualidade
Década de 1980 → desenvolvimento da epidemiologia social, ressaltando a importância dos fatores socioestruturais na saúde, bem como na perspectiva da população. 
Novo foco na questão central da epidemiologia social:
Quais os efeitos de fatores sociais, como a estrutura social, cultura e ambiente, tanto na saúde individual quanto na populacional?
Honjo, 2004
Na década de 1980, no entanto, vários epidemiologistas desenvolveram a epidemiologia social, ressaltando a importância dos fatores socioestruturais na saúde, bem como na perspectiva da população. Em uma reação contra o forte individualismo da epidemiologia moderna, epidemiologistas sociais defenderam a necessidade de voltar ao tema da epidemiologua tradicional: como é que as condições sociais produzem padrões de saúde e doença? A questão central da epidemiologia social - quais os efeitos de fatores sociais, como a estrutura social, cultura e ambiente, tanto na saúde individual quanto na populacional? - existe desde o início da história epidemiológica. No entanto, o novo foco sobre o tema utilizando métodos epidemiológicos atuais é um fenômeno relativamente recente.
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Conceitos importantes
Paradigma Biopsicosocial
Paradigma biológico (epidemiologia moderna) → doenças são fenômenos biológicos. A população é apenas a soma de seus indivíduos e o padrão de adoecimento da população é um simplesmente reflexo de fatores de risco individuais.
Paradigma biopsicosocial (epidemiologia social) → biologia dos organismos é determinada em ambientes de vários níveis e que interagem entre si. Cada população tem a sua própria história e cultura, que determinamcomo e por que as pessoas estão expostas a fatores de risco individuais específicos.
Honjo, 2004
Para o entendimento da epidemiologia social, é importante que sejam esclarecidos alguns conceitos. Um deles é o de paradigma biopsicosocial. A epidemiologia social utiliza o paradigma biopsicossocial, enquanto a epidemiologia moderna usa o paradigma biológico. O paradigma biológico assume que todas as doenças são fenômenos biológicos e apenas biológicos. Nesse paradigma, a população é apenas a soma de seus indivíduos e o padrão de adoecimento da população é um simplesmente reflexo de fatores de risco individuais. Conseqüentemente, os fatores sociais não são considerados causas "reais" de doenças. Em contraste, o paradigma biopsicosocial da epidemiologia social pressupõe que a biologia dos organismos é determinada
em ambientes de vários níveis, que interagem entre si. Em outras palavras, as doenças são considerados produtos de interação mútua entre os fatores sociais, individuais e biológicos. O paradigma biopsicosocial pressupõe que a população não é apenas a soma de seus indivíduos; em vez disso, cada população tem a sua própria história e cultura, que determinam como e por que as pessoas estão expostas a fatores de risco individuais específicos.
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Conceitos importantes
Perspectiva populacional → risco do indivíduo de adoecer não pode ser isolado do risco de adoecer da populaçãoa qual ele/ela pertence. 
Análise multinível permite examinar a importância relativa dos fatores individuais e sociais ou a interação entre fatores individuais e sociais, analisando varios níveis simultaneamente.
Teoria → usada para construir hipóteses e interpretar resultados. 
Variáveis ​ são selecionadas para comporem modelos estatísticos baseados em uma estrutura conceitual, que indica relações hierárquicas entre os fatores.
Honjo, 2004
A perspectiva populacional é um outro conceito importante. O risco do indivíduo de adoecer não pode ser isolado do risco de adoecer da populaçãoa qual ele/ela pertence. 
Um terceiro conceito importante no campo da epidemiologia social é o uso de novas abordagens estatísticas, como a análise multinível, para determinar os efeitos de fatores socioestruturais sobre a saúde. A análise multinível permite que vários níveis de análise sejam levados em conta simultaneamente e de forma mais eficaz do que na análise multivariada convencional. Esse tipo de análise nos permitem examinar a importância relativa dos fatores individuais e sociais ou a interação entre fatores individuais e sociais, analisando varios níveis simultaneamente.
Por último, a utilização da teoria é outro conceito importante em epidemiologia social. A epidemiologia social requer o uso da teoria para construir hipóteses e interpretar resultados. Os epidemiologistas sociais selecionam variáveis ​​em modelos estatísticos baseados em uma estrutura conceitual, que indica relações hierárquicas entre os fatores. Este quadro conceitual é construído sobre a teoria. 
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Principais Teorias em Epidemiologia Social
Eco-Epidemiologia (Susser)
Eco-epidemiologia. → “caixas chinesas”
O enfoque epidemiológico adequado é aquele que analisa os determinantes e desfechos em diferentes níveis de organização, levando em conta a hierarquia de complexidade e as múltiplas interações entre e através dos diferentes níveis. 
O nível mais externo deve ser o meio-ambiente físico que contém sociedades e populações, indivíduos 	isolados, sistemas fisiológicos, tecidos, células e 	moléculas.
Barata, 2005
A ascensão da mortalidade por doenças crônicas na segunda metade do século XX fortaleceu o paradigma do risco na pesquisa epidemiológica. Este modelo de causalidade, freqüentemente chamado de paradigma da caixa preta, baseia-se na identificação de inúmeros fatores de risco nem sempre conectados adequadamente por meio de uma teoria da doença, considerando-se suficiente a menção ao conceito de multicausalidade. Este modelo, embora forneça informações úteis para a saúde pública, reforça o encobrimento das relações entre saúde e sociedade.
Para superar as limitações do modelo da caixa preta, Mervyn Susser propõe um novo paradigma designado de eco-epidemiologia. Para conotar a inclusão de sistemas interativos em níveis hierárquicos distintos o autor lança mão da metáfora das “caixas chinesas”. Neste modelo, cada sistema pode ser descrito em seus próprios termos e define os limites de um nível específico de organização. O enfoque epidemiológico adequado é aquele que analisa os determinantes e desfechos em diferentes níveis de organização, levando em conta a hierarquia de complexidade e as múltiplas interações entre e através dos diferentes níveis. O nível mais externo deve ser o meio-ambiente físico que contém sociedades e populações (o terreno da epidemiologia), indivíduos isolados, sistemas fisiológicos, tecidos, células e moléculas.
A abordagem eco-epidemiológica difere da abordagem multicausal ao transpor o nível individual de compreensão do processo saúde-doença em direção ao nível populacional. A abordagem multicausal procura responder a questões do tipo: O que coloca a pessoa em risco de adquirir a infecção? Que características individuais estão associadas com o desenvolvimento e a progressão da aids? Ambas podem ser respondidas pela “epidemiologia dos fatores de risco”. A abordagem eco-epidemiológica, por outro lado, formularia questões como: O que coloca a população em risco de epidemia? Que características populacionais aumentam a vulnerabilidade a epidemias? Para responder a perguntas como essas os determinantes sociais terão que ser considerados. 
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Teoria do Capital Social
O conceito de capital social deriva da sociologia funcionalista que concebe a organização social como um sistema composto por partes articuladas e em cooperação para a obtenção de um objetivo.
Um aspecto central na teoria do capital social é que ela se baseia nas relações sociais que se estabelecem no interior de grupos e entre grupos na sociedade. 
O capital social apresenta tanto um componente estrutural, relativo à extensão e intensidade das relações associativas na sociedade, quanto um componente cognitivo, relacionado à percepção dos indivíduos acerca do nível de confiança interpessoal, compartilhamento e reciprocidade nas relações sociais.
Barata, 2005
O conceito de capital social deriva da sociologia funcionalista que concebe a organização social como um sistema composto por partes articuladas e em cooperação para a obtenção de um objetivo. Estas partes correspondem aos estratos sociais que, em sociedades sadias, têm na solidariedade sua forma predominante de relação, e nas sociedades doentes têm suas relações marcadas pela anomia, isto é, por um funcionamento no qual predominam os conflitos e onde emergem as desigualdades. A coesão social decorrente da confiança cívica entre os cidadãos, da participação ativa na vida associativa e de outras manifestações de organização da sociedade civil, constitui o capital social existente na comunidade e potencializa o bem-estar dos indivíduos. O conceito é eminentemente ecológico, ou seja, não é um atributo individual, mas sim uma característica do “lugar”.
Um aspecto central na teoria do capital social é que ela se baseia nas relações sociais que se estabelecem no interior de grupos e entre grupos na sociedade. O capital social apresenta tanto um componente estrutural, relativo à extensão e intensidade das relações associativas na sociedade, quanto um componente cognitivo, relacionado à percepção dos indivíduos acerca do nível de confiança interpessoal, compartilhamento e reciprocidade nas relações sociais.
Perguntas possíveis de serem feitas, nesse contexto são: Como os fatores sociais influenciam o comportamento colocando as pessoas em risco? Os fatores psicosociais, tais como o suporte social, estão associados à progressão da doença? Como os fatores sociais e comportamentais se relacionam na determinação da doença?
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Teoria do Capital Social
As críticas dirigidas contra esse enfoque ressaltam ainda que as interpretações sobre o processo saúde-doença deveriam começar pelas causas estruturais e materiais, ao invés de valorizar tanto as percepções da desigualdade. 
Barata, 2005
As críticas dirigidas contra esse enfoque ressaltam ainda que as interpretações sobre o processo saúde-doença deveriam começar pelas causas estruturais e materiais, ao invés de valorizar tanto as percepções da desigualdade. Esses autores consideram que um modelo baseado na incorporação física e psicosocial as influências do ambiente material seria mais frutífero para a compreensão das desigualdades e mais útil como embasamento para políticas públicas do que um modelo focalizado no funcionamento psicológico individual e nas relações interpessoais.
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Perspectiva do Curso de Vida
Baseia-se na suposição de que o estado
de saúde de uma dada coorte não reflete apenas as circunstâncias de vida atual, mas incorpora também as circunstâncias anteriores. 
Os efeitos do curso de vida sobre a saúde podem ser:
Latentes → ambiente material e imaterial no qual decorreu a infância; 
Modeladores → experiências precoces que acabam por dirigir as trajetórias de vida individual com conseqüências para a saúde;
Cumulativos, → resultantes da intensidade e duração de exposições nocivas ao longo da vida.
Barata, 2005
A abordagem do curso de vida baseia-se na suposição de que o estado de saúde de uma dada coorte não reflete apenas as circunstâncias de vida atual, mas incorpora também as circunstâncias anteriores, ou seja, que a trajetória pessoal moldada pelo contexto social e pelas condições materiais de vida acaba por determinar o estado de saúde. 
Os efeitos do curso de vida sobre a saúde podem ser desdobrados em efeitos latentes, correspondentes ao ambiente material e imaterial no qual decorreu a infância; efeitos modeladores, caracterizados pelas experiências precoces que acabam por dirigir as trajetórias de vida individual com conseqüências para a saúde; e efeitos cumulativos, resultantes da intensidade e duração de exposições nocivas ao longo da vida.
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Perspectiva do Curso de Vida
Há duas vertentes de explicação no modelo do curso de vida: 
Vertente materialista → atribui às condições materiais associadas à estrutura de classes a determinação da distribuição das doenças;
Vertente psicossocial →, que leva em conta também a ação de aspectos psicossociais sobre os sistemas adaptativos, produzindo doenças como resultado de múltiplos estressores e falta de habituação.
Barata, 2005
Há duas vertentes de explicação no modelo do curso de vida: uma vertente materialista, que atribui às condições materiais associadas à estrutura de classes a determinação da distribuição das doenças; e uma vertente psicossocial, que leva em conta, além dos aspectos materiais, a ação de aspectos psicossociais tais como sucesso, fracasso ou frustração, sobre os sistemas adaptativos, produzindo doenças como resultado de múltiplos estressores e falta de habituação.
Alguns autores preferem adotar um modelo complexo combinando aspectos materiais e não materiais, bem como características individuais e de contexto, na explicação da distribuição social das doenças. Para esses autores, na maioria das populações, as desvantagens materiais estão associadas a exposições psicossociais adversas. 
Seja qual for a corrente, os determinantes contextuais exerceriam maior determinação do que as características individuais.
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Produção Social da Doença
A determinação social é o processo pelo qual os determinantes põem limites ou exercem pressão sobre outras dimensões da realidade, sem serem necessariamente determinísticos.
O conceito nuclear nessa abordagem é o conceito de reprodução social. 
Barata, 2005
A determinação social é o processo pelo qual os determinantes (fatores essenciais) põem limites ou exercem pressão sobre outras dimensões da realidade, sem serem necessariamente determinísticos.
O conceito nuclear nessa abordagem é o conceito de reprodução social. 
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Produção Social da Doença
Cada ciclo reprodutivo introduz modificações em suas condições originais, colocando, lenta mas inexoravelmente, as condições para sua transformação em um movimento dialético e histórico. 
Dimensão bio-comunal → reprodução cotidiana das condições necessárias para a sobrevivência e a reprodução dos organismos vivos sociais.
Dimensão comunal-cultural → produção, manutenção e transformação das redes simbólicas de elaboração e transmissão de experiências e aprendizagem.
Dimensão societal → produção da vida material, da esfera econômica e das relações sociais entre as classes, que definem os processos de produção, distribuição e consumo da riqueza.
iDimensão ecológico-política → condições ambientais e as relações de interdependência que se estabelecem entre as dimensões mencionadas anteriormente.
Barata, 2005
Cada ciclo reprodutivo introduz necessariamente modificações em suas condições originais, colocando, lenta mas inexoravelmente, as condições para sua transformação em um movimento dialético e histórico. O processo de reprodução social, isto é, o movimento de conformação, consolidação e transformação das organizações sociais, é composto por várias dimensões ou momentos que apenas para efeito didático podem ser separados. Essas dimensões compreendem um conjunto de processos bio-comunais, comunais-culturais, societais e políticos.
A dimensão da reprodução bio-comunal é aquela referida à reprodução cotidiana das condições necessárias para a sobrevivência e a reprodução dos organismos vivos sociais, isto é, a reprodução corporal e das interrelações comunitárias que permitem a vida e a sobrevivência desses corpos.
A dimensão comunal-cultural compreende a reprodução da autoconsciência e da conduta humana, ou seja, a produção, manutenção e transformação das redes simbólicas de elaboração e transmissão de experiências e aprendizagem, conhecida como processo de socialização primária e secundária.
A reprodução societal refere-se à produção da vida material, da esfera econômica e das relações sociais entre as classes, que definem os processos de produção, distribuição e consumo da riqueza.
Finalmente, a reprodução ecológico-política inclui as condições ambientais e as relações de interdependência que se estabelecem entre as dimensões mencionadas anteriormente.
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Produção Social da Doença
Nessa teoria também se podem identificar duas vertentes principais para o estudo dos processos de reprodução social: 
Através das estruturas de classe;
A partir do conceito de espaço socialmente construído ou dos estudos de vizinhança.
Barata, 2005
Nessa teoria também se podem identificar duas vertentes principais: o estudo dos processos de reprodução social através das estruturas de classe, que apresentam várias dificuldades de operacionalização, e o estudo da reprodução social a partir do conceito de espaço socialmente construído ou dos estudos de vizinhança, que vêm sendo cada vez mais utilizados nos estudos de desigualdade social em saúde.
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Teoria Ecossocial
A teoria ecossocial, procura articular o raciocínio social e biológico adotando uma perspectiva histórica e ecológica. 
Os corpos ou organismos fornecem evidências de como incorporam o mundo no qual vivem, produzindo padrões de saúde, doença, incapacidade e morte. 
Os modos de incorporação do social pelo organismo biológico expressam a inter-relação cumulativa entre exposição, vulnerabilidade e resistência presentes em 	 distintos níveis e em múltiplos domínios da 
 realidade.
Barata, 2005
A teoria ecossocial, proposta por Nancy Krieger, procura articular o raciocínio social e biológico adotando uma perspectiva histórica e ecológica. 
Os corpos ou organismos fornecem evidências de como incorporam o mundo no qual vivem, produzindo padrões de saúde, doença, incapacidade e morte. 
Os modos de incorporação do social pelo organismo biológico expressam a inter-relação cumulativa entre exposição, vulnerabilidade e resistência presentes em distintos níveis e em múltiplos domínios da realidade.
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Teoria Ecossocial
Incorporara vários aspectos presentes em várias teorias, fundindo-as em uma única explicação :
Da eco-epidemiologia retém a idéia força da organização da realidade em diferentes dimensões e dos processos de determinação e mediação entre elas. 
Da perspectiva do curso de vida, aproveita a concepção de história ou trajetória de vida determinada pelas condições societais. 
Da teoria da produção social, incorpora o conceito de reprodução social e a dimensão política. 
Além dessas fusões e resignificações, a autora busca articular nos próprios organismos vivos a dimensão biológica e a dimensão social. 
Barata, 2005
Esta perspectiva procura incorporar vários aspectos presentes em várias teorias, fundindo-as em uma única explicação que articule os aspectos biológicos
e sociais, a história de vida, os efeitos contextuais do ambiente, a reprodução social e a dimensão política. Da eco-epidemiologia proposta por Susser, a autora retém a idéia força da organização da realidade em diferentes dimensões e dos processos de determinação e mediação entre elas. Da perspectiva do curso de vida, a autora aproveita a concepção de história ou trajetória de vida determinada pelas condições societais. Da teoria da produção social, ela incorpora o conceito de reprodução social e a dimensão política. Além dessas fusões e resignificações, a autora busca articular nos próprios organismos vivos a dimensão biológica e a dimensão social.
Esta abordagem tem sido utilizada principalmente em estudos epidemiológicos das questões de gênero e etnia. Os impactos das desigualdades de gênero nas sociedades modernas, bem como os problemas decorrentes do racismo e da discriminação de grupos étnicos minoritários, têm sido estudados a partir dessa abordagem.
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Desafios da Epidemiologia Social
Abandono da visão causalista
Causas x Determinantes
Fragmentação da realidade 
Impossibilidade de isolar um aspecto e manter os demais constantes.
Barata, 2005
Há um conjunto de questões teóricas, metodológicas e de técnicas de análise que cercam o empreendimento científico da epidemiologia social. Dentre as questões teóricas duas apresentam maior relevância. A primeira refere-se ao abandono ou não da visão causalista. Grande parte dos esforços despendidos pelas chamadas vertentes de explicação psicossocial decorrem da persistência do conceito de causa em algumas das abordagens mencionadas.
Qual é a diferença entre o conceito de causa e o conceito de determinação social?
O conceito de causa, na versão uni ou multicausal, necessita da identificação de eventos independentes relacionados através de uma ligação unidirecional, necessária, específica e capaz de gerar o desfecho de interesse. Tais características são raramente observadas nos processos biológicos e sociais. A busca por mecanismos de causalidade, assemelhados aos fisiopatológicos e tendo como causa um fator social está fadada ao fracasso, uma vez que os aspectos da vida social não podem ser dissociados sob pena de perderem sua significação, e de não fazerem sentido quando isolados do contexto da sua produção.
O conceito de determinação é mais adequado para a compreensão de processos sociais complexos, pois não necessita do isolamento completo das variáveis nem da noção de independência entre elas. Tampouco está baseado na idéia de um vínculo necessário, genético e específico. Na perspectiva das diferentes variedades de determinação existentes no mundo material, os limites nem sempre são claros, não há vínculos unidirecionais, e a maioria das relações são contingentes, ou seja, não são nem necessárias nem suficientes em si mesmas.
Outro desdobramento teórico relacionado com a forma de fragmentação da realidade tem a ver com o conceito de totalidade. A maioria dos enfoques da complexidade presssupõe a idéia de uma realidade organizada hierarquicamente em diferentes dimensões. Entretanto, algumas abordagens substituem esse conceito pela noção de um todo compostos por partes isoláveis e decomponíveis, possibilitando assim a identificação da ação específica de cada variável sobre o desfecho estudado. Kaufaman e Cooper chamam a atenção para impropriedade desse tipo de enfoque. Os autores indagam sobre o sentido de se usar qualquer variável social, como por exemplo a renda, como variável independente. Segundo eles, no mundo real não é possível isolar um aspecto e manter os demais constantes, conforme fazem os epidemiologistas com seus modelos multivariados. As variáveis socioeconômicas variam e interagem segundo modelos estruturados que refletem a organização social. Pessoas com determinada renda não são alocadas aleatoriamente em determinadas posições sociais, mas chegam a elas através de trajetórias dinâmicas de vida moldadas pelo contexto no qual vivem.
Ainda no plano teórico há desafios relacionados com o trânsito necessário entre diferentes disciplinas para aprofundar a compreensão de processos complexos e com a superação da visão essencialista ou reificada das relações entre determinantes sociais e saúde, presentes em muitas das abordagens materialistas.
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Desafios da epidemiologia Social
Mensuração adequada dos aspectos sociais. 
Técnicas de análise insuficientes para a abordagem correta de problemas complexos e das interações entre as várias dimensões a serem consideradas. 
Apesar das dificuldades, o compromisso histórico da epidemiologia com a melhoria da saúde das populações e com a redução das desigualdades sociais obriga todos os epidemiologistas a prosseguirem no desenvolvimento de novas teorias, novas estratégias de investigação e novas ferramentas de análise.
Barata, 2005
Um desafio metodológico importante diz respeito à mensuração adequada dos aspectos sociais. Em que medida é possível seguir usando as mesmas ferramentas utilizadas pela “epidemiologia dos fatores de risco” sem infringir os pressupostos teóricos das abordagens da epidemiologia social?
As técnicas de análise disponíveis também parecem insuficientes para a abordagem correta desses problemas complexos e das interações entre as várias dimensões a serem consideradas. 
Apesar de todas as dificuldades apontadas, o compromisso histórico da epidemiologia com a melhoria da saúde das populações e com a redução das desigualdades sociais obriga todos os epidemiologistas, que se reconhecem como atores na arena da saúde coletiva, a prosseguirem no desenvolvimento de novas teorias, novas estratégias de investigação e novas ferramentas de análise que possam, cada vez mais, fornecer elementos corretos para orientar as intervenções sociais no campo de saúde e a formulação de políticas públicas baseadas no reconhecimento dos direitos de cidadania, na garantia das liberdades democráticas e na busca da felicidade humana.
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Bibliografia
BARATA, R.B. Epidemiologia social. Rev. bras. epidemiol.,   v. 8, n. 1, Mar.  2005. 
HONJO, K. Social Epidemiology: Definition, History, and Research Examples. Environmental Health and Preventive Medicine, v. 9, 193-199, Set. 2004. 
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