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23 3º par craneano - nervo oculomotor O 3º par craneano é responsável pela inervação dos músculos recto superior, recto inferior, oblíquo inferior, recto medial, músculo elevador da pálpebra e ainda o esfíncter pupilar. O seu núcleo tem origem no mesencéfalo, a partir do qual se origina um fascículo que atravessa ventralmente todo o mesencéfalo. O nervo propriamente dito constitui-se à saída do mesencéfalo, adjacente à porção medial do pedúnculo cerebral, atravessando depois o espaço subaracnoideu, local onde contacta com a artéria comunicante posterior, terminando este trajecto quando entra no seio cavernoso, “caminhando” então pela parede lateral deste seio. O nervo oculomotor entra depois na órbita e divide-se numa porção superior que inervará os músculos recto superior e elevador da pálpebra e uma porção inferior que inervará os restantes músculos, incluindo o esfíncter pupilar. Todas as estruturas inervadas pelo 3º par craneano estão localizadas ipsilateralmente ao núcleo deste par, à excepção do músculo recto superior, que recebe informação do núcleo contralateral. O 3º par craneano é então responsável pelos movimentos de supraversão, infraversão e aducção oculares, além de promover a miose pupilar e a elevação da pálpebra superior, pelo que o seu comprometimento, na maior parte das ocasiões causado por isquémia microvascular principalmente do fascículo mesencefálico ou por compressão aneurismática originada na artéria comunicante posterior ao nível do espaço subaracnoideu, promove défice parcial ou total dos movimentos oculares referidos, juntamente com ptose palpebral parcial ou total e midríase pupilar, este último achado principalmente na causa aneurismática. Na história clínica da avaliação deste nervo, é importante averiguar sobre o carácter da diplopia, normalmente vertical ou oblíqua, sobre a co-existência de dor ocular, um dado mais frequentemente encontrado nas parésias de etiologia compressiva aneurismática, assim como são importantes os possíveis sintomas associados, por exemplo cefaleia de forte intensidade, o que trajecto anatómico do 3º par craneano e localização de potenciais lesões: A. nuclear, B. fascicular, C. subaracnoideia, D. cavernosa, E. orbitária 24 favorecerá de novo a etiologia compressiva. Ainda importantes serão os antecedentes e a idade do doente, constituindo os factores de risco vascular uma causa comum para a parésia de etiologia isquémica microvascular. Na avaliação clínica, iremos encontrar um olho “para baixo e para fora”, possivelmente “encoberto” por uma pálpebra ptótica. Especial atenção será dada ao envolvimento pupilar, ou seja, a midríase arreactiva é um achado frequente na etiologia compressiva deste nervo, na medida em que as fibras pupilares seguem na periferia do mesmo, enquanto que na etiologia isquémica raramente encontraremos uma pupila midriática arreactiva, visto que as fibras pupilares têm uma irrigação arterial abundante com inúmeras colaterais, o que provavelmente previne a isquémia. Portanto, perante uma parésia do 3º par, principalmente se incompleta, isto é, demonstrando comprometimento apenas parcial dos movimentos de supra, infra e aducção ocular, e ainda que não haja numa primeira instância midríase pupilar, há sempre que suspeitar de uma possível compressão aneurismática em evolução. A situação clínica que de certo modo será mais compatível com uma isquémia microvascular, será aquela em que os movimentos oculares referidos estão totalmente comprometidos (portanto, já não há que esperar qualquer evolução) e a pupila se encontra normalmente reactiva, num doente idoso com antecedentes de hipertensão arterial e/ou diabetes, que apresentou um quadro de diplopia súbita vertical e indolor. Um outro fenómeno que pode estar subjacente a uma parésia do 3º par, e que de novo, faz pensar numa etiologia compressiva, é a regeneração aberrante, consistindo esta em movimentos associados anormais aquando do movimento do globo ocular…por exemplo, quando o olho aduz, a pálpebra superior retrai e a pupila torna-se miótica. Este fenómeno traduz, como o próprio nome indica, uma regeneração anómala das fibras do 3º par após um insulto usualmente compressivo (por exemplo, meningioma de crescimento lento no seio cavernoso), passando a haver uma conexão errónea entre as diversas fibras do 3º par. Interessa ainda nomear dentro das alterações clínicas, possíveis sinais associados à parésia deste par craneano, que poderão decerto ajudar na localização da lesão, salientando primeiro o significado da parésia isolada: Parésia isolada do 3º par, sem envolvimento pupilar Possivelmente isquémia microvascular do fascículo mesencefálico, em doente idoso com factores de risco vascular Parésia do 3º par, com envolvimento pupilar, com história de cefaleia de forte intensidade, rigidez meníngea e alteração do estado de consciência Possivelmente ruptura aneurismática e consequente hemorragia subaracnoideia Parésia do 3º par, sem envolvimento pupilar, e associadamente hemiparésia contralateral e/ou hemiataxia contralateral e/ou tremor contralateral Possivelmente isquémia vascular do fascículo mesencefálico e estruturas mesencefálicas adjacentes, em doente idoso com factores de risco vascular 25 Parésia do 3º par, sem envolvimento pupilar, e associadamente parésia do 4º par craneano e/ou 6º par craneano e/ou 5º par craneano e/ou Síndrome de Horner e/ou proptose ocular, dor ocular e olho vermelho e/ou sopro ocular Possivelmente patologia do seio cavernoso (por exemplo, fístula carotideo- cavernosa) ou órbita Parésia do 3º par, com envolvimento pupilar, em doente comatoso, e associadamente hemiparésia contralateral Possivelmente herniação infratentorial do úncus temporal por hipertensão intracraneana, comprimindo ipsilateralmente o mesenséfalo Parésia do 3º par bilateral, e associadamente outros sinais do tronco encefálico Possivelmente isquémia vascular dos núcleos mesencefálicos e estruturas mesencefálicas adjacentes, em doente idoso com factores de risco vascular Como considerações finais, poderemos dizer que a parésia do 3º par craneano tem duas etiologias clássicas: a isquémia microvascular e a compressão por aneurisma. Na primeira situação, a pupila está normalmente reactiva e de tamanho normal, enquanto que na segunda situação a pupila está usualmente midriática e pouco reactiva. Se a causa isquémica poderá não o único movimento que o olho direito consegue fazer é a abducção; de resto, a infraversão, supraversão e aducção estão comprometidas; porque a pupila está preservada, poderá ser uma causa isquémica o único movimento que o olho direito consegue fazer é a abducção; de resto, a infraversão, supraversão e aducção estão comprometidas; porque a pupila está midriática e arreactiva, poderá ser uma causa compressiva aneurismática 26 promover outra alteração ao exame neurológico, a compressão aneurismática frequentemente se associa a cefaleia de forte intensidade e rigidez meníngea. O facto de a aducção, infra e supraversão oculares poderem ainda não estar totalmente comprometidas em presença de uma pupila aparentemente normal e reactiva não é característico de um ou de outro diagnóstico…apenas mantém a hipótese de um aneurisma que ainda não se evidenciou por completo, pelo que a reavaliação após uma semana se torna mandatória, de modo a que se possa avaliar a evolução da parésia. Na etiologia isquémica, o tratamento passa pelo controlo dos factores de risco vascular, enquanto que a compressão aneurismática obriga a cirurgia urgente. joão lemos
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