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Os Refugiados e a Crise Humanitária Ismael Nascimento Vieira1 Tutora Daniela2 Resumo O presente artigo trata de um breve estudo sobre os refugiados e a crise humanitária, assunto noticiado diuturnamente, e, como está sendo tratado pelas autoridades, em uma visão globalizada, principalmente, pela Organização das Nações Unidas – ONU. Palavra-chave: Os refugiados. Crise humanitária. Visão globalizada. Abstract This article is a brief study of the refugee and humanitarian crisis, subject reported diuturnamente, and how the authorities in a global vision, particularly by the United Nations - are handling it UN. Keywords: Refugees. Humanitarian crisis. Global vision. INTRODUÇÃO: O êxodo humano permeia várias fases da história da humanidade, seja, ela individual ou coletiva, esse deslocamento humano na contemporaneidade vem sendo motivado por diferentes circunstâncias e fatores ligados de algum modo a uma sociedade complexa, mais marcada pelos desequilíbrios socioeconômicos, pela violência e intolerância do que pelo respeito à igualdade e à dignidade humana. Veremos a questão especifica dos refugiados, à medida que já são vulneráveis e encontrasse ainda mais vulneráveis, é a crua expressão das desordens e desequilíbrios mundiais. Contudo não se deslocar de seus países de origem, mas são compelidos ou constrangidos a tal realidade. São seres humanos -, homens, mulheres e crianças expulsas, sendo obrigadas a deixar sua pátria por fundado temor de perseguição, seja por motivo de religião, nacionalidade, raça, ou opinião de cunho político, até mesmo pela a falta de uma proteção nacional de seu próprio Estado. Segundo denunciava Scalabrini, no final do século XIX, “Liberdade de migrar, sim, mas não de fazer migrar”. Deveras essa liberdade de se deslocar ser uma faculdade e não uma imposição como vem sendo feita de forma violenta nas guerras civis que se desdobram todos os dias no cenário mundial. Carregando sonhos e histórias de vida, os migrantes e os refugiados buscam se afastar da pobreza, fugir das perseguições, do preconceito e da exclusão. A caminho não está meramente uma quantidade 1 Estudante do Curso de Direito, Faculdade Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, Assessor Jurídico da Administração Regional do Setor Complementar de Industria e Abastecimento – SCIA RA XXV E-mail: Vieira379@hotmail.com 2 Graduada em Letras (Português e Inglês) e Pedagogia; pós-graduada em língua Inglesa e na Educação dos Surdos e pós-graduada em Educação Especial e Educação a distância. de seres humanos, mas uma proposta humanitária que deve despertar as nações – governos e população – para uma revisão de valores e promoção de iniciativas concretas e solidárias em favor da vida e do respeito ao ser humano. 1 CONCEITO DE REFUGIADOS: Em se tratando do refúgio, tem-se um instituto do Direito Internacional muito mais recente e, atualmente, com abrangência maior e tipificada: isso significa que não se trata de um ato discricionário do Estado concessor, pois o reconhecimento do status de refugiado está vinculado a diplomas e hipóteses legais bem definidos. Historicamente segundo a convenção de 1951 refugiado é toda pessoa que Em consequência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país (...). Outrossim a Declaração de Cartagena de 1984 conceitua refugiado como: Pessoas que tenham fugido dos seus países porque sua vida, segurança ou liberdade tenham sido ameaçadas pela violência generalizada, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a violação maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a ordem pública. Trata-se de um problema iminente. A cada mês novas populações, comunidades ou etnias submetem-se a deslocamentos em que o que está em jogo é a sobrevivência. Literalmente no mesmo barco estão os que fogem de perseguições das mais diferentes ordens, os que têm um fundado temor – tal como prevê a legislação para concessão do estatuto de refúgio – assim como todos aqueles que fogem da fome, da miséria e os que tomam para si a esperança de seus pares de que alguém possa, enfim, conquistar alguma outra sorte. Portanto esses dois conceitos nos remete a entender que essas pessoas não escolheram viver desta forma, no entanto, as circunstâncias fazem com que encontram-se nessa situação, por serem perseguidos em seus países de origem por questões de diversas naturezas, sejam elas por motivo de crença, raça, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, são homens, mulheres e crianças que deixam os seus lares, e viram uns verdadeiras peregrinos atrás de melhores condições de vida. Se jogam nos mares a fora a procura de sobreviverem desta guerra que faz vítimas diuturnamente, aqueles que conseguem sobreviver, a essa peregrinação chegam as vezes em países que adotam políticas para refugiados, muito embora alguns países impõe barreiras para não receber esses refugiados. 1 QUEM SÃO ESSES REFUGIADOS? Dentre os principais grupos de refugiados que chegam atualmente à Europa estão sírios, afegãos, iraquianos, paquistaneses, eritreus, somalianos e nigerianos. Fugindo de guerras, violência, pobreza e falta de perspectivas, não hesitam em optar por rotas de alto risco, a pé ou pelo Mediterrâneo, na expectativa de uma vida melhor, na Europa. Nos últimos meses, milhares de refugiados e pleiteantes de asilo chegaram às fronteiras europeias, fugindo de guerras, pobreza e violência, em sua maioria, oriundos de regiões do Oriente Médio e da África. Trata-se de uma tendência que se verificava pelo menos desde o ano passado. Em 2014, o número de pessoas que chegou à Europa em busca de asilo e refúgio aumentou significativamente em relação aos anos anteriores. Mais de 700 mil pessoas pediram asilo na Europa no ano passado, um aumento de 47% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). 2 A LUTA DOS REFUGIADOS SÍRIOS E SEUS PRINCIPAIS PERSEGUIDORES A Síria está em guerra civil desde 2011. Por causa da violência, milhares de pessoas têm deixado o país todos os dias. Como se não bastasse isso, o grupo terrorista Estado Islâmico (também conhecido como Isis) está invadindo cidades no país. Com medo de serem presas e mortas pelo Estado Islâmico, as pessoas têm fugido. Todos os dias vem sendo noticiado a retirada desses sírios de seus lares por sofrerem perseguições de cunho político, raça, crença e etc. Mas uma foto chamou a atenção do mundo, o caso do pequeno sírio que foi encontrado morto na praia da Turquia. Ele ia da Síria em direção à Europa com a família em um barco precário. A embarcação sofreu um acidente e dezenas de pessoas morreram afogadas, incluindo o garoto, chamado Aylan Kurdi, 3 anos. 2.1 Por que a Síria está em Guerra? Isso aconteceu por causa da chamada Primavera Árabe, que começou no final de 2010, quando o ditador da Tunísia foi derrubado e incentivou vários outros países a fazer o mesmo – como, por exemplo, o Egito. E na Síria não foi diferente, tendo em vista que uma parte do povo sírio quer a saída de Bashar Al-Assad, um ditador que comanda o país desde 2000, ou seja, há mais de 13 anos. Ele recebeu o cargo de seu pai, que ficou no poder por mais de 30 anos. Mas ele ainda continua nopoder, porque o conflito deixou de ser só político e chegou às vias de fato. O governo reagiu usando o exército. Aí, grupos da oposição também se armaram e começaram a combater o governo. No entanto aqueles cidadãos de bem que não se sujeitam a guerra civil instaurada em seu país, vê como única opção de sobreviverem a esse estado perseguidor, infelizmente, abandonam os seus lares, sonhos, famílias e se jogam mares a fora em uma peregrinação, aonde alguns acabam ficando para trás como no caso do menino sírio aqui mencionado. 3 OS NÚMEROS DESSE ÊXODO HUMANO Com o aumento do fluxo, a Alemanha, principal receptora de pedidos de refúgio na região, estimou que deve registrar pelo menos 800 mil pedidos de asilo até o fim de 2015. Caos, falta de acomodações e desespero são agora parte da rotina em locais como a cidade francesa de Calais, na fronteira com o Reino Unido; em Lampedusa, na Itália; nas ilhas gregas de Kos e Lesbos e, mais recentemente, em Budapeste, na Hungria; onde imigrantes acampam nas proximidades da principal estação de trem da cidade, a espera do embarque rumo ao norte, em direção à Alemanha, aos países nórdicos e ao Reino Unido. Vejamos as principais rotas, pontos de tensão e as áreas de livre circulação na imagem logo abaixo: Tendo em vista os dados demonstrados através dessas imagens, vemos a proporção que tomou os pedidos de socorro dos refugiados aos países europeus que pouco estão fazendo para ajudar os refugiados que solicitam tal ajuda, porém não estamos falando apenas de perdidos de socorro, mas também de uma questão humanitária, aonde o que está em jogo é um dos principais princípios em que se assenta a Declaração dos Direitos Humanos de 1948 –, ou seja, a dignidade da pessoa humana como o mínimo possível para o ser humano. 4 – A EUROPA CONTRIBUIU PARA ESSA CRISE HUMANITÁRIA? Preste atenção nos verbos em destaque!! Sem sombra de dúvida, depois de invadir e destruir países; equipar terroristas que deram origem ao que chamamos de Estado Islâmico; fomentando o engordo da Primavera Árabe que seja feita justiça, a Europa colhe o que plantou. Embora não o admita – principalmente os países que participaram diretamente dessa sangrenta imbecilidade – a Europa de hoje, nunca antes sitiada por tantos estrangeiros, desde pelo menos os tempos da queda de Roma e das invasões bárbaras, não está colhendo mais do que plantou, ao secundar a política norte-americana de intervenção, no Oriente Médio e no Norte da África. Não tivesse ajudado a invadir, destruir, vilipendiar, países como o Iraque, a Líbia, e a Síria; não tivesse equipado, com armas e veículos, por meio de suas agências de espionagem, os terroristas que deram origem ao Estado Islâmico, para que estes combatessem Kadafi e Bashar Al Assad, não tivesse ajudado a criar o gigantesco engodo da Primavera Árabe, prometendo paz, liberdade e prosperidade, a quem depois só se deu fome, destruição e guerra, estupros, doenças e morte, nas areias do deserto, entre as pedras das montanhas, no profundo e escuro túmulo das águas do Mediterrâneo, a Europa não estaria, agora, às voltas com a maior crise humanitária deste século, só comparável, na história recente, aos grandes deslocamentos humanos que ocorreram no fim da Segunda Guerra Mundial. Lépidos e fagueiros, os Estados Unidos, os maiores responsáveis pela situação, sequer cogitam receber - e nisso deveriam estar sendo cobrados pelos europeus - parte das centenas de milhares de refugiados que criaram, com sua desastrada e estúpida doutrina de "guerra ao terror", de substituir, paradoxalmente, governos estáveis por terroristas, inaugurada pelo "pequeno" Bush, depois do controvertido atentado às Torres Gêmeas. Depois que os imigrantes forem distribuídos, e se incrustarem, em guetos, ou forem - ao menos parte deles - integrados, em longo e doloroso processo, que deverá durar décadas, aos países que os acolherem, a Europa nunca mais será a mesma. Por enquanto, continuarão chegando à suas fronteiras, desembarcando em suas praias, invadindo seus trens, escalando suas montanhas, todas as semanas, milhares de pessoas, que, cavando buracos, e enfrentando jatos de água, cassetetes e gás lacrimogêneo, não tendo mais bagagem que o seu sangue e o seu futuro, reunidos nos corpos de seus de seus filhos, irão cobrar seu quinhão de esperança e de destino, e a sua parte da primavera, de um continente privilegiado, que para chegar aonde chegou, fartou-se de explorar as mais variadas regiões do mundo. É cedo para dizer quais serão as consequências do Grande Êxodo. Pessoalmente, vemos toda miscigenação como bem-vinda, uma injeção de sangue novo em um continente conservador, demograficamente moribundo, e envelhecido. Mas é difícil acreditar que uma nova Europa homogênea, solidária, universal e próspera, emergirá no futuro de tudo isso, quando os novos imigrantes chegam em momento de grande ascensão da extrema-direita e do fascismo, e neonazistas cercam e incendeiam, latindo urros hitleristas, abrigos com mulheres e crianças. Se, no lugar de seguir os EUA, em sua política imperial em países agora devastados, como a Líbia e a Síria, ou sob disfarçadas ditaduras, como o Egito, a Europa tivesse aplicado o que gastou em armas no Norte da África e em lugares como o Afeganistão, investindo em fábricas nesses mesmos países ou em linhas de crédito que pudessem gerar empregos para os africanos antes que eles precisassem se lançar, desesperadamente, à travessia do Mediterrâneo, apostando na paz e não na guerra, o velho continente não estaria enfrentando os problemas que enfrenta agora, o mar que o banha ao sul não estaria coalhado de cadáveres, e não existiria o Estado Islâmico. Que isso sirva de lição a uma União Europeia que insiste, por meio da OTAN e nos foros multilaterais, em continuar sendo tropa auxiliar dos EUA na guerra e na diplomacia, para que os mesmos erros que se cometeram ao sul, não se repitam ao Leste, com o estímulo a um conflito com a Rússia pela Ucrânia, que pode provocar um novo êxodo maciço em uma segunda frente migratória, que irá multiplicar os problemas, o caos e os desafios que está enfrentando agora. As desventuras das autoridades europeias, e o caos humanitário que se instala em suas cidades, em lugares como a Estação Keleti Pu, em Budapeste, e a entrada do Eurotúnel, na França, mostram que a História não tolera equívocos, principalmente quando estes se baseiam no preconceito e na arrogância, cobrando rapidamente a fatura daqueles que os cometeram. 5 A UNIÃO EUROPEIA EM BUSCA DE SOLUÇÃO PARA OS REFUGIADOS SÍRIOS NA TURQUIA Tendo contribuído de forma direta, aos caos que se instalou no Oriente Médio, alguns países europeus querem de algum forma minimizar os impactos sofrido com essa crise humanitária, nunca vista no mundo deste o a última Guerra Mundial, aonde ouve um deslocamento em massa de povos a procura de asilo, refúgio para sobreviverem daquilo que era uma catástrofe nunca vista naquele tempo. Países devastados por inteiro, miséria, fome e seres humanos mutilados. No entanto o que se desenha também é mais uma catástrofe, pessoas sendo expulsas de suas casas, perseguidos por terem uma crença, raça e até mesmo opinião política divergente daqueles que se julgam donos da razão, verdadeiros ditadores sem escrúpulos que perseguem e matam quem descordam de suas políticas ditatórias. A crise humanitária tem tirado o sono de muita gente, os líderes da União Europeia, em reunião de cúpula em Bruxelas, na Bélgica, concordaram em apresentar um planopara a Turquia de mais de US$ 3,4 bilhões para que o país colabore na contenção do fluxo de refugiados que saem do Oriente Médio à Europa. Um dos benefícios é fornecer isenção de visto aos cidadãos turcos no continente europeu. As autoridades disseram que o objetivo é prevenir que mais de 2 milhões de refugiados da Síria na Turquia deixem o país para se dirigir à Europa. No entanto, será difícil convencer o presidente turco Recep Tayyip Erdogan a assinar o acordo. Erdogan acusou a UE de “não ser sincera” sobre a posição do país quanto aos refugiados: "Temos mais de 2,5 milhões de refugiados, ninguém se importa”, disse Erdogan. A Turquia é o país que mais abriga refugiados no mundo. Centenas de milhares de pessoas estão abrigadas nos campos do país, mas acabam buscando a Europa para obter melhores condições de vida. Somente neste ano, o continente europeu já recebeu mais de 500 mil pessoas vindas da África e do Oriente Médio, quase o dobro do registrado em 2014. 6 OS REFUGIADOS E A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL O Brasil se consolida como destino de imigrantes em busca de sobrevivência longe de casa. Apesar da fama de acolhedor, o país precisa fortalecer as políticas públicas de abrigo e emprego para que a projeção de um fluxo cada vez maior não se transforme em crise. "Eles não entenderam por que escolhi um país tão violento e tão longe", diz o sírio Abdulbaset Jarour, 25, sobre a reação dos parentes ao saberem que ele viria para o Brasil. Todos estavam cientes que não era esse o sonho de Jarour. Essas terras também não deviam estar nos planos de muitos europeus, orientais, africanos, haitianos e outros imigrantes. Mas todos aqueles que eram vítimas de algum horror ou tragédia, fossem refugiados ou não, viram aqui mais que a oportunidade de prosperidade longe de casa: vislumbraram a simples chance de sobrevivência. E essa salvação, mesmo em meio à destruição, pode vir com um mero carimbo diplomático. Foi esse aval burocrático, o "sim" para o pedido de asilo que havia sido recusado pelos "favoritos" Estados Unidos e Austrália, que tirou Jarour da guerra civil na Síria para colocá-lo no centro de São Paulo. Foi também nessa pegada de "Brasil? Ah, tá valendo!" que o ex-secretário de Educação da Síria, Mowfaq Hafez, 70, salvou sua família. Ele reconheceu no convite de uma palestra um amigo de infância, Ahmadali Saifi, que havia emigrado para o Brasil em 1965 e prosperado como empresário. A dupla não se via desde quando eram colegas de escola no Líbano, mas Hafez não hesitou em pedir ajuda. Recebeu de Saifi passagens para vir com a família a São Paulo o quanto antes. A viagem foi feita no dia em que uma bomba destruiu a casa de Hafez. "Eu e minha família saímos com a roupa do corpo", lembra o professor. Após uma tentativa de viver na Arábia Saudita, Hafez voltou ao Brasil no último dia 10. "Minha casa agora é o Brasil. Na Síria, tudo foi destruído", afirma. Iniciativas como a de Saifi, que também cede parte de seus imóveis para moradia de refugiados árabes, são comuns entre integrantes da comunidade sírio-libanesa de São Paulo. Na mesquita localizada em São Bernardo do Campo, uma vendinha foi montada para dar emprego a refugiados. Dois deles servem o shawarma, mais conhecido como churrasquinho grego, no corredor da mesquita. "O refugiado no Brasil se torna grupo de risco porque não há políticas públicas capazes de integrá-los na sociedade. Parece que o Brasil diz 'seja bem-vindo' apenas por educação", reclama o xeque Jihad Hassan Hammadeh. Segundo ele, o sírio vem para o Brasil pela facilidade em conseguir visto. Há dois anos, o governo diminuiu a burocracia para quem foge da guerra. "O refugiado já chega com a dignidade afetada e, por isso, é altamente vulnerável", afirma o xeque. Você pode pensar que o religioso está exagerando. Mas há relatos na comunidade muçulmana de gangues árabes que atuam nos aeroportos para assaltar e aplicar golpes em estrangeiros que acabam de desembarcar sem falar a língua e sem saber para onde ir. Mas vamos além para ajudar a entender a necessidade de empatia por um ser humano nessa situação. Imagine sentir um medo voraz toda vez que ouvir fogos de artifício porque passou boa parte da vida fugindo de tiroteios. Imagine não conseguir comer carne porque se acostumou a ver dezenas de corpos esfaqueados rotineiramente jogados na rua de casa. Imagine ver sua irmã perder a perna em um bombardeio enquanto dirigia. Conseguiu imaginar? Então você acaba de se colocar na pele de um refugiado de guerra ou de um imigrante que vivia a realidade aterrorizante de um país como o Haiti, arrasado por governos corruptos e tragédias naturais. Esse cenário fez com que aquantidade de refugiados no Brasil dobrasse em dois anos - hoje são 8.400, segundo relatório da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). A entidade já havia alertado em 2013 sobre essa perspectiva com base em um crescimento vertiginoso de pessoas obrigadas a deixar seus países por causa de conflitos armados. Somente no primeiro semestre daquele ano foram contabilizadas 5,9 milhões de pessoas nessa situação - no ano anterior, 7,6 milhões haviam se tornado refugiados. Mesmo assim, custou para os líderes da União Europeia, principalmente Alemanha e Reino Unido, darem os primeiros sinais de trégua na política anti-imigratória. A mudança começou na primeira semana de setembro. O motivo foi a repercussão da foto do menino sírio Aylan Kurdi, 3, encontrado morto em uma praia na Turquia. A criança foi uma das vítimas de um naufrágio - a família dele tentava fugir do horror imposto pelo Estado Islâmico na Síria, cuja população tem sido justamente a que mais tem recorrido ao Brasil. Só neste ano, o governo concedeu asilo a pouco mais de 400 sírios. No total, 2.077 vivem aqui de forma legal. Tudo isso dá a entender que fazemos jus à nossa fama de povo hospitaleiro para ajudar quem precisa, certo? Bom, mais ou menos, como disse o xeque Hammadeh. A projeção econômica do país, ainda que abalada pela atual crise, junto da vitrine propiciada pela organização de grandes eventos esportivos coroaram um processo de expansão diplomática, principalmente com a África. Hoje, Angola e Congo estão apenas atrás da Síria nos pedidos de refúgio no país. Tudo isso, porém, só ganhou força à medida que os destinos mais visados, como Europa e EUA, se tornaram mais rígidos em relação à entrada de imigrantes. 6.1 Refúgio no Brasil O número de refugiados no país dobrou nos últimos dois anos - hoje são 8.400 reconhecidos pela Justiça. A alta é reflexo do aumento de imigrantes sírios que chegaram nesse período 6.2 Acolhimento à brasileira Um dos personagens deste TAB, o sírio Abdulbaset Jarour teve sua casa destruída por uma bomba e viu sua irmã perder uma perna em outro bombardeio. Mas não foram esses os motivos mais fortes que o levaram a fugir. O maior medo era ser recrutado pelo Estado Islâmico. Ele explica que os rebeldes obrigam jovens saudáveis como ele a guerrear. Por isso, quando decidiu sair de Aleppo e fugir para o Líbano, Jarour foi acompanhado de uma amiga da mãe para disfarçar sua real intenção. "Eles (terroristas) param os ônibus que seguem para a fronteira em busca de jovens que estejam tentando deixar o país", conta. A lógica do plano era simples. Mulheres não viajam sozinhas na Síria e em boa parte do mundo islâmico. Jarour, portanto, estaria na viagem de volta a Aleppo junto da senhora, argumento que não poderia ser usado para refutar qualquer suspeita ou cooptação caso estivesse viajando sozinho. Quando chegou ao Líbano, ele embarcou para São Paulo como refugiado. Há um ano e cinco meses por aqui, lamentaainda não ter encontrado um emprego e se mostra incomodado por viver de favor na casa de amigos brasileiros. Jarour atribui a pindaíba ao preconceito. Pensa que, na visão da maioria dos brasileiros, refugiado é sinônimo de perigo, alguém que está fugindo da lei em seu país. A situação do sírio pode ser um retrato do tratamento padrão dado pelo brasileiro a quem não é turista rico e anglo-saxão. O nosso tão falado jeito caloroso não funciona tão bem na prática. Apesar de termos uma legislação considerada acolhedora - ao chegar aqui, o refugiado já dispõe de um protocolo emitido pela Polícia Federal que o permite circular, diferentemente de países europeus, onde esse processo é mais demorado -, o asilado sofre bastante com a falta de apoio para arrumar abrigo e emprego. Para quem chega em situação de vulnerabilidade, a tal cordialidade e, principalmente, a pujança brasileira são como o hexacampeonato para a seleção: apenas uma promessa longe de ser cumprida. No fim, sobra para a comunidade síria e as associações muçulmanas darem abrigo, aulas de português e emprego aos imigrantes árabes. "O Brasil poderia fazer muito mais pelos refugiados", afirma o coordenador de Políticas para Migrantes da Prefeitura de São Paulo, Paulo Illes. 6.3 Países de origem Síria, Angola e Congo são os principais países de origem dos refugiados que vivem no Brasil. O motivo para o deferimento dos pedidos de quem vêm dessas nações é o mesmo: violação dos direitos humanos. Para quem chega ao Brasil pelo aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o sofrimento começa em uma sala conhecida como Conector, alocada na área de desembarque. É lá onde os refugiados ficam enquanto aguardam a permissão para entrar no país. Muitos chegam sem qualquer documento, apenas com a roupa do corpo. "Fiquei no Conector por duas semanas, isso porque já havia falado com uma entidade que me ajudou a entrar em contato com as autoridades certas, mas tem gente que fica bem mais do que isso", afirma o bengali Partha Sarker, 37, há um ano e quatro meses no Brasil, Perseguido em seu país por ser de uma família hindu e criticar preceitos do Islã, Sarker foi sequestrado e alvo constante de ameaças. "Eu não conseguia viver, perdi meu emprego, quase perdi a minha vida não uma, mas algumas vezes. Eu, meu pai e minha irmã fomos ameaçados, então o melhor que eu fiz foi deixar meu país. Se eu ficasse, eu não estaria vivo hoje." Após passar por tudo isso, o maior desafio de Sarker atualmente é conseguir os documentos necessários para se tornar empreendedor e regularizar sua escola de inglês, em São Paulo. Outro exemplo de como a estratégia brasileiras nessa área ainda é muito frágil, e constituída conforme a necessidade, foi a maneira como a intensificação da imigração de haitianos acabou sendo tratada pelas autoridades no ano passado - ao menos 2.000 pessoas daquele país chegam ao Acre todos os meses. Refugiados e haitianos são vistos e tratados de forma diferente pela legislação. Enquanto os primeiros têm que obedecer a uma série de exigências para serem "legais" - como ser vítima de perseguição política, religiosa ou social, além de vir de um lugar com conflito armado -, os haitianos são beneficiados por uma resolução normativa promulgada em 2012 pelo CNIg (Conselho Nacional da Imigração) do Ministério do Trabalho e Emprego, que concede visto em caráter humanitário a imigrantes daquele país após o terremoto de 2010. Estima-se que 27.523 vivam no Brasil, segundo dados do Sincre (Sistema Nacional de Cadastramento de Registro de Estrangeiros) da Polícia Federal. Sem contar os 36 mil que aguardam a emissão de documentos para regularizar a papelada. Há quatro anos, não passavam de 700 os haitianos com visto de trabalho no Brasil. Em 2014, a falta de planejamento para receber e abrigar os haitianos e africanos vindos por meio de rota terrestre gerou indisposição entre governos acreano e paulista. Para desafogar o precário abrigo montado na cidade fronteiriça de Brasileia (AC), com capacidade para receber 400 pessoas - apesar de uma demanda de 3.000 por mês -, o governo estadual e o Ministério da Justiça estabeleceram um convênio para fretar ônibus e levar os imigrantes para as capitais de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, principais destinos dos imigrantes. Demorou meses e muito embate político para tornar esse fluxo mais organizado a fim de evitar a superlotação de abrigos mantidos por entidades ligadas à Igreja Católica nas capitais paulista e gaúcha. Agora, os voluntários são avisados por mensagem de celular quando os ônibus estão chegando. Em São Paulo, na própria rodoviária da Barra Funda, é feita uma triagem entre os imigrantes que desejam ir para outras cidades, os que já têm onde ficar na cidade e os que precisam de abrigo. Até dois ônibus chegam a São Paulo toda semana. 6.4 Rota terrestre A maioria dos haitianos e africanos entra no Brasil ao cruzar a fronteira com o Peru. A cidade de Brasileia, no Acre, é o destino final de milhares que se arriscam em uma longa e perigosa viagem Uma vez no destino final, a luta é para arrumar trabalho. A crise econômica e o agravamento do desemprego no país afetaram em cheio o principal setor que empregava mão de obra imigrante, a construção civil. Por isso, muitos que já haviam conseguido ter a carteira assinada estão de volta às seleções organizadas semanalmente no galpão da Missão Paz, entidade religiosa que acolhe os imigrantes e intermedeia as contratações. Um deles éMatheus Tobi, 35, que perdeu há seis meses o emprego em uma construtora onde ganhava R$ 1.145 por mês. Além dele, os outros quatro haitianos que integravam o quadro de funcionários também foram demitidos em um corte de despesas. "Foi muito complicado conseguir esse emprego e o próximo será mais ainda", afirma Tobi. Entre agosto do ano passado e o mesmo mês deste ano, houve queda de 62% nos postos de trabalho preenchidos com a ajuda da Missão Paz, localizada no bairro central do Glicério, em São Paulo. O local se transformou em uma espécie de referência haitiana na capital. No entorno da igreja, a grande maioria das casas é ocupada por imigrantes, como o casal Ifhonia Vlacin, 32, e Jogens Altior, 26. Assustados com as ameaças no mercado de trabalho, eles planejam abrir uma loja de roupas e apliques para cabelo. O plano, porém, depende da emissão do RNE (Registro Nacional de Estrangeiro), documento que formaliza a presença no país e garante direitos como ter uma empresa, por exemplo; eles estão na fila há três anos. "Temos dois filhos para mandar dinheiro no Haiti. Não podemos ficar sem trabalho", diz Ifhonia, que trabalha como camareira em um hotel. O marido é auxiliar de produção no supermercado Casa Santa Luzia. O estabelecimento badalado, localizado em um bairro nobre de São Paulo, chegou a contratar seis haitianos em 2012 como forma de sanar a dificuldade de recrutar brasileiros para postos que pagam apenas um salário mínimo. Hoje, sobrou apenas Altior. "A principal dificuldade é eles aceitarem uma posição muito abaixo do que estavam acostumados a trabalhar em seu país. Aos poucos vão se desmotivando. Alguns sentiam muita falta da família e isso interferia no rendimento", afirma a diretora da Casa Santa Luzia, Ana Maria Se em São Paulo os haitianos e africanos têm trabalhado no setor de serviços, principalmente em empresas de hotelaria e comércio, no Sul eles preenchem vagas na indústria de alimentos. Os muçulmanos são aproveitados por frigoríficos que exportam para países árabes e têm que seguir os preceitos da religião no momento de sacrificar o animal e cortar sua carne. A cooperativa Aurora, sediada em Chapecó (SC), é uma das que mais absorvea mão de obra haitiana - emprega atualmente mais de 500 imigrantes. A precariedade na recepção aos imigrantes é atribuída pelo governo à lei que trata do refúgio. Datado da década de 1980, ainda sob a influência do regime militar, o Estatuto do Estrangeiro privilegia a segurança nacional em detrimento do caráter humanitário que o tema emana e visa proteger o país da entrada de criminosos. O preconceito derivado dessa mentalidade, de que refugiados são fugitivos da lei, ainda se faz presente e é sentido por muitos que tentam a vida por aqui. As discussões nesse sentido, porém, avançaram nos últimos anos no Congresso e um novo projeto tramita na Câmara. Entre as mudanças mais significativas, está a que transfere o poder da Polícia Federal sobre a autorização para entrar no país para um órgão civil ainda a ser criado. "Refugiado não busca somente uma oportunidade melhor de vida, ele busca uma oportunidade de se manter vivo", diz o secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcelos. O Brasil já fez alguns ensaios nesse sentido, como a assinatura da Declaração de Cartagena, em 1984, o primeiro dispositivo que formalizou o fluxo de refugiados em toda a América Latina no contexto da guerra civil que atingiu países da América Central, como Guatemala, El Salvador e Nicarágua. "A principal carência do Brasil é saber integrar esses refugiados. O sistema de saúde, por exemplo, tem que ter uma política para atender essas pessoas que não falam português", diz Gilberto Rodrigues, professor de Relações Internacionais na UFABC (Universidade Federal do ABC). A Alemanha, por exemplo, usa desde 2005 na questão dos refugiados o sistema de divisão de responsabilidades baseado no tamanho da população e na renda de cada um dos seus 16 estados federativos - é a chamada Fórmula de Königstein. Dentro dessa proposta, as regiões de Renânia do Norte, na fronteira com a Holanda, e da Baviera recebem o maior contingente dos 800 mil refugiados que devem chegar ao país até o fim do ano. 6.5 Principais destinos Leis internacionais obrigam vizinhos de países em conflito a receber refugiados. Por isso, Turquia e Líbano aparecem como rotas de fuga preferenciais por fazerem fronteira com a Síria. 6.6 A pátria miscigenada A vocação miscigenada da cultura nacional muitas vezes mascara a dura adaptação desses imigrantes. A maioria convive apenas entre si em pontos de encontro frequentados muito mais por conterrâneos do que por brasileiros, como o restaurante do malinês Adama Konate, no Brás, em São Paulo. Imigrantes vindos de diversos países africanos disputam as tomadas do lugar para carregar seus celulares e poder manter contato com familiares que ficaram na terra natal. Pratos de comida típica são vendidos a R$ 8 e Konate, que tem formação de contador, ainda auxilia os conterrâneos a abrir contas bancárias. Ele perdeu a noção de quantas contas bancárias foram abertas com o restaurante e a sua casa alugada como comprovantes de endereço. "Acho que já assinei umas 200 autorizações nesse sentido. Temos que tentar ajudar", afirma. Apesar de gostar muito do Brasil e ter escolhido o país para viver, ele repensa a decisão quando lembra que a xenofobia ainda é o maior obstáculo a ser transposto. "Somos tratados diferentes por sermos negros e pobres", afirma. Maior exemplo disso ocorreu em 8 de agosto, quando seis haitianos foram atingidos por armas de chumbinho em frente à Missão Paz. O caso é investigado pela polícia, mas ainda não há indícios claros de racismo. Há suspeita que o ataque tenha sido uma retaliação de ladrões que atuam na região e foram interpelados por um grupo de imigrantes na tentativa de roubar a bolsa de uma mulher que passava na rua. A vinda de imigrantes é uma realidade que tende a aumentar com o passar dos anos, apesar das reações negativas. É o teste para a tão falada cordialidade brasileira que, por enquanto, se mostra melhor nos livros do que na vida real. Resta saber se o Brasil quer colocar essa sua famosa vocação em prática. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos no presente artigo sobre a questão dos refugiados, consequentemente, a instalação de uma crise humanitária, são seres humanos sendo massacrados pelos seus próprios governos que perseguem civis por motivo torpe, gerando uma guerra civil, onde todos em nome de uma crença ou opinião política oprime crianças, jovens, adultos e até mesmo os idosos, desrespeitando os direitos humanos que como corolário a dignidade da pessoa humana. Neste diapasão, são milhares de seres humanos que fogem de sua terra natal para sobreviverem em outros países pedindo refúgio porque são reféns de um sistema que massacra, escraviza, e até mesmo mata em nome de governos ditatoriais. Por fim, gostaria de propor aos governos internacionais que repesassem sobre o pilar dos Direitos Humanos, a dignidade da pessoa humana, não pode ser jogada no lixo em nome de uma fantasia que é a “guerra ao terrorismo” financiada pelas maiores potencias econômicas do mundo, resultado disso é o que estamos vendo nos países do Oriente Médio, consequentemente, esse êxodo humano. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS REFUGIADOS (ACNUR). A situação dos refugiados no mundo: cinqüenta anos de acção humanitária. Tradução Isabel Galvão. Portugal: Almada, 2000. ANDRADE, José Fischel de. Direito internacional dos refugiados: evolução histórica – 1921- 1952. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. JUBILUT, Liliana Lyra. O Direito internacional dos refugiados e sua aplicação no orçamento jurídico brasileiro. São Paulo : Método, 2007. 240p.: Apêndice Acessado em: http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=3121&tipo=acervo Acessado em: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/09/seis-perguntas-para-entender- crise-humanitaria-de-refugiados-na-europa.html Acessado em: http://epoca.globo.com/tempo/filtro/noticia/2015/10/uniao-europeia-tenta- novo-acordo-com-turquia-para-conter-migracao-de-refugiados.html Acessado em: http://meexplica.com/2015/09/entenda-a-crise-de-refugiados-sirios/ Acessado em: http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2015/09/por-que-a-europa-esta- diante-da-maior-crise-humanitaria-do-seculo-1448.html Acessado em: http://tab.uol.com.br/refugiados/
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