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falsas confissoes

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Introdução
Nos últimos anos, foram descobertas, pelo mundo, dezenas de pessoas que acreditaram terem actuado ou sofrido crimes que não aconteceram – ou que não participaram. O mais famoso deles, o “assassinato de Teresa de Simone”, de 1979, teve seu desfecho correcto somente no ano retrasado, na Inglaterra. Após 27 anos preso por ter confessado, com detalhes, o estupro e o homicídio da jovem, o inglês Sean Hogston foi inocentado por meio de análises de DNA, que provaram que o sêmen encontrado na vítima não pertencia a ele. Dai surge a importância deste trabalho, como meio de analisar a relação entre existente entre a prova testemunhal e a e a possibilidade de formação de falsas memorias na construção dos factos.
As memórias falsas: estudos pioneiros
O interesse pela memória humana tem sido uma constante desde há muitos séculos. No entanto, só nos finais do séc. XIX é que surgem os primeiros grandes contributos que impulsionaram o estudo sistemático com carácter experimental dos processos subjacentes à memória (Ebbinghaus, 1885).
O início do séc. XX é marcado por um interesse crescente pela credibilidade dos testemunhos. A flutuação deste interesse, e consequentemente dos estudos desenvolvidos nesta área, desde sempre reflectiu as mudanças sociais e culturais de cada época.
Decorrentes deste novo foco de interesse vão aparecendo os primeiros estudos em torno da análise das falsas memórias. Em 1895, Cattell desenvolveu uma das primeiras experiências na área do testemunho. Whipple assumiu-se também como pioneiro nestes meandros, ao realizar um conjunto de revisões dos estudos desenvolvidos até essa altura acerca dos fenómenos de sugestionabilidade em crianças. Este autor defendia que as crianças mais novas eram extremamente sugestionáveis, podendo cometer erros graves nos seus testemunhos (Ceci & Bruck, 1993).
Na viragem de século, Binet (1900) contribuiu, de forma decisiva, para um melhor conhecimento do fenómeno da sugestionabilidade. Tendo desenvolvido variados estudos junto de crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 14 anos, este autor defendia a existência de dois tipos de factores na explicação da sugestionabilidade: factores internos (auto-sugestão) e factores	 externos (sugestão introduzida por outros). 
Estes estudos consistia na apresentação de seis linhas a um grupo de crianças, sendo que as linhas aumentavam progressivamente de comprimento, com excepção da sexta linha que era idêntica à quinta. As crianças tendiam a desenhar a sexta linha maior que o seu tamanho real, uma vez que eram influenciadas por um processo de sugestão perceptivo ou interno. Este autor defendia que o efeito deste tipo de sugestão não era no entanto duradouro, e que as crianças podiam posteriormente desempenhar de forma correcta a tarefa em questão.
Os resultados indicam um impacto significativo da informação sugestiva nas respostas dadas pelas crianças, com o grupo que foi submetido às questões muito sugestivas a cometer mais erros que todos os outros. Binet (1900) defendia que os erros nos relatos das crianças, neste tipo de estudos, podem traduzir, numa fase inicial, uma mera tendência para agradar ao experimentador, mas que, posteriormente, pode ocorrer uma efectiva alteração da memória.
As memórias falsas: estudos modernos
Loftus e Palmer (1974) desenvolveram um estudo composto por duas experiências, sendo o principal objectivo analisar o impacto da introdução de questões sugestivas na estimativa da velocidade de um automóvel. Na primeira experiência, os participantes viam alguns filmes e seguidamente realizavam uma descrição escrita do acidente. Era então introduzido um questionário que continha uma pergunta sugestiva de estimativa de velocidade cujos verbos diferiam quanto ao grau de violência (por exemplo “esmagar” e “tocar”).
Segundo a perícia britânica, Hogston tinha distúrbios psicológicos que resultavam na “síndrome de falsas memórias”: uma baixa capacidade de separar o real do imaginário. A princípio, todos os seres humanos seriam suscetíveis a produzir falsas lembranças. Porém, como foi possível notar no caso de Hogston, há um grupo mais vulnerável. Em geral, segundo estudos conduzidos por Elizabeth Loftus, psicóloga da Universidade da Califórnia e uma especialista na área, são “pessoas com mais lapsos de atenção, que possuem algum distúrbio mental e que pontuam baixo em testes padrões de inteligência”. 
 Nos tribunais, a ciência das falsas memórias começou a se popularizar em 2003, ano em que o professor islandês de psicologia forense do King’s College, na Inglaterra, Gisli Gudjonsson, descreveu que a maioria das falsas confissões envolvia pessoas com problemas psicológicos, como falta de controle e percepções e memórias distorcidas. Mais tarde, em estudo complementar feito em 2007, a psicóloga americana Allison Redlich, da Universidade de Albany, constatou que 22% dos criminosos com problemas mentais seriam capazes de produzir falsos testemunhos e, muitas vezes, com detalhes impressionantes, como se tivessem participado do ato. Outros presos, sem nenhuma doença mental, teriam um risco de 12%. Os números sugeriam dois grandes problemas da justiça atual: a falta de diagnóstico psicológico em acusados e interrogatórios facilmente manipuláveis.
Os factores externos: O papel do contexto, do entrevistador e das técnicas de interrogatório
O conjunto de investigações que se tem debruçado no estudo dos factores externos e contextuais, procura perceber porque é que determinadas situações e contextos geram maior grau de sugestionabilidade do que outros. Esta área de pesquisa reveste-se de uma importância crescente, dados os seus contributos nos domínios da Psicologia do testemunho.
Alguns investigadores pioneiros, como Binet (1900), Stern (1910), Varendonck (1911) e Lipmann (1911) defenderam, desde muito cedo, a importância de não se perspectivar a sugestionabilidade como um fenómeno meramente cognitivo, mas antes como uma característica que reflecte, em grande medida, factores sociais e motivacionais. De facto, é notória a necessidade crescente de uma compreensão mais ampla e aprofundada das implicações do contexto em que os interrogatórios são levados a cabo e também das técnicas de questionamento a que as testemunhas são submetidas. 
Torna-se então essencial perceber o impacto diferencial, o peso e a influência destes factores, quando em causa está a obtenção de testemunhos de crianças em contextos forenses, muitas vezes referentes a vítimas de abuso e que, não raramente, envolvem criminalmente terceiros.
Expomos de seguida alguns dos factores externos mais frequentemente estudados.
Note-se que esta exposição não pretende ser exaustiva, na medida em que seleccionámos apenas os aspectos que mais se aproximam do âmbito do presente estudo, e cujos contributos são importantes para uma melhor compreensão dos objectivos a que nos propusemos. 
O viés do entrevistador
Considera-se que estamos perante um efeito de viés do entrevistador quando este tem determinadas convicções prévias e, em função destas, molda a entrevista de forma a obter respostas que sejam consistentes com aquilo que acredita ser verdadeiro ou correcto. Por outras palavras, todo o processo de interrogatório é orientado por evidências e crenças, evitando-se os procedimentos que possam gerar informações inconsistentes (Bruck et al., 1997; Ceci & Bruck, 1993, 1999).
As investigações que se têm dedicado ao estudo do efeito do viés do entrevistador no relato de crianças têm colocado em evidência que este é responsável por uma diminuição significativa do grau de veracidade das respostas, que são distorcidas e vão tendencialmente ao encontro do viés introduzido (Ceci & Bruck, 1995; Goodman & Clarke-Stewart, 1991; Lepore & Sesco, 1994). De facto, o tipo de informações e conhecimentos prévios e também as expectativas e interpretações de cada entrevistador influenciam significativamente a formulação de questões econsequentemente o grau de sugestionabilidade (Goodman & Melinder, 2007; Nickerson, 1998; Petit, Fegan, & Howie, 1990, in Ceci & Bruck, 1993; Thompson, Clarke-Stewart, & Lepore, 1997). 
Saliente-se que o viés do entrevistador influencia, não só a forma e o conteúdo das questões, mas também toda a arquitectura da entrevista, introduzindo um conjunto de componentes e características no processo de interrogatório com um potencial sugestivo elevado.
O estatuto do entrevistador
A vulnerabilidade à sugestão evidenciada pelas crianças parece depender da sua percepção do grau de credibilidade e de autoridade do entrevistador. É sabido que os indivíduos , e principalmente as muito os novos, têm especial tendência para confiar em figuras adultas ou com estatutos de autoridade, mostrando-se geralmente colaborantes e tentando corresponder às suas expectativas (Ceci et al., 1987; Thompson et al., 1997; White et al., 1997).
Alguns estudos têm comprovado que as crianças cedem mais facilmente à sugestão quando esta é introduzida por adultos do que quando o é por outras crianças (Ackerman, 1983; Ceci et al., 1987). O elevado grau de confiança que os adultos suscitam nas crianças encontrasse bem reflectido no facto de as crianças colaborarem e darem respostas concretas, mesmo quando lhes são colocadas perguntas com conteúdos bizarros (Hughes & Grieve, 1980).
 Este efeito parece diminuir se, previamente, as crianças foram avisadas de que o entrevistador pode tentar enganá-las (Warren et al., 1991), o que coloca em relevo o impacto do tipo de instruções que são dadas, e das consequentes expectativas por elas geradas nas crianças (Roebers & Schneider, 2005b; Warren et al., 1999b). Seria também de esperar que, se o entrevistador deixasse clara a possibilidade de a criança responder “não sei” se observasse menor aceitação de sugestão, mas neste caso, os resultados não têm sido uniformes (Moston, 1987; Roebers & Schneider, 2005b).
A influência da percepção das crianças acerca dos conhecimentos prévios do entrevistador está bem patente num estudo desenvolvido por Hembrooke, Toglia e Ross (1991, in Bruck et al., 1997), que demonstra que as crianças evidenciam maior sugestionabilidade quando acreditam que a pessoa que as está a entrevistar está familiarizada com o conteúdo das perguntas. Num outro estudo, realizado com crianças em idade pré-escolar, Tobey e Goodman.
Um outro resultado interessante é o de que as crianças mostram maior vulnerabilidade à sugestão quando são entrevistadas por pessoas estranhas ou por figuras de autoridade, do que quando o são por familiares (Goodman, Sharma, Golden, & Thomas, 1991, in Ceci & Bruck,1993). No entanto, isto só parece acontecer se as crianças forem unicamente questionadas por familiares, passando a evidenciar relatos distorcidos mesmo junto de pessoas da família, se tiverem sido previamente entrevistadas por outras figuras (Clarke-Stewart, Thompson, & Lepore,1989, in Ceci & Bruck, 1993).
O tom emocional da entrevista e a postura do entrevistador
Durante uma entrevista, é inevitável que o entrevistador recorra a linguagem não-verbal e que as suas perguntas tenham patentes determinadas entoações e conotações emocionais. O tom emocional das perguntas é rapidamente percebido pelas crianças que tendem a moldar-se e agir de acordo com o que percepcionam ser esperado (Ceci & Bruck, 1995; Garven, Wood, & Malpass, 2000; Garven, Wood, Malpass, & Shaw, 1998). 
Por outro lado, o uso de reforços, tais como “vais-te sentir melhor se disseres”, “não tenhas medo de dizer” ou “és muito corajoso(a) se contares”, quando introduzidos com frequência e acompanhados de um tom insistente ou mesmo ameaçador, leva os indivíduos a confirmar e a fornecer informações falsas (Goodman, Wilson, Hazan, & Reed, 1989, in Bruck et al., 1997). 
O impacto da postura do entrevistador e da tonalidade emocional da entrevista no grau de aceitação da sugestão durante um questionário parecem, de facto, ser determinantes. Inúmeros estudos têm demonstrado que quando o entrevistador assume uma postura distante, pautada por comportamentos agressivos ou por atitudes confrontativas, gera uma pressão social mais forte e uma maior distância interpessoal com o entrevistado (Gudjonsson, 2003; Gudjonsson & Clark, 1986), inflacionando, consequentemente, os seus níveis de sugestionabilidade interrogativa (Bain & Baxter, 2000; Bain, Baxter, & Ballantyne, 2007; Bain, Baxter, & Fellowes, 2004; Baxter & Boon, 2000; Finnila et al., 2003).
A indução de estereótipos
A sugestão está muitas vezes presente nas perguntas que compõem os questionários. No entanto, as informações falsas podem ser introduzidas através de muitas outras técnicas e procedimentos sugestivos. Uma delas, é a indução de estereótipos, que consiste em criar uma determinada imagem de uma pessoa, que é repetidamente transmitida às crianças (por exemplo, dizer-lhes que alguém faz coisas más).
Vários estudos têm mostrado que a indução de estereótipos tem uma influência visível nos relatos subsequentes das crianças (Leichtman & Ceci, 1995; Lepore & Sesco, 1994; Thompson et al., 1997). Vejamos um exemplo. Em 1994, Lepore e Sesco realizaram um estudo junto de crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 6 anos, em que o evento original consistia em estas brincarem com um homem numa sala, pedindo-lhes este a determinada altura para o ajudarem a tirar a sua camisola. Numa sessão posterior, o entrevistador fazia alusão ao evento original e pedia às crianças para contarem o que tinha acontecido.
 
Adoptava uma postura neutra com metade das crianças, enquanto que com as restantes reinterpretava as suas respostas introduzindo uma imagem negativa acerca do homem com quem tinham brincado e fazia ainda três perguntas sugestivas. No final, todas as crianças responderam a um conjunto de perguntas do tipo “sim/não”, verificando-se que as crianças que fizeram parte da condição de indução de estereótipo negativo deram mais respostas erradas, no sentido de aceitação das informações incriminatórias sugeridas. Este pior desempenho continuou a verificar-se quando as crianças foram novamente entrevistadas uma semana depois.
Parece assim que a indução de uma determinada imagem relativa a alguém gera nas crianças uma maior tendência para distorcer os seus julgamentos em relação a ela. Repare-se que este tipo de influência é frequente nos contextos reais de avaliação, em que os entrevistadores, nos casos de suspeita de agressões físicas ou sexuais, de crime ou de roubo tendem a transmitir às crianças uma opinião negativa, ou pelo menos de desconfiança, acerca do eventual suspeito.
Os conceitos de sugestão e de sugestionabilidade
Apesar de serem dois conceitos distintos, durante muito tempo os fenómenos da sugestão e a sugestionabilidade não apareceram correctamente diferenciados na literatura. Uma das primeiras definições de sugestão foi proposta por McDougall, em 1908, sendo a sugestão descrita como um “processo de comunicação resultante da aceitação, com convicção, da proposição comunicada, na ausência de argumentos lógicos e adequados para essa aceitação” (McDougall, 1908, pp. 335),. Esta definição pioneira foi alvo de algumas críticas, sendo-lhe apontadas duas principais limitações: a primeira passa pelo facto de que esta definição assume que a sugestão é sempre aceite (o que nem sempre acontece), e a segunda assenta na ausência de distinção entre a sugestão e a resposta de sugestionabilidade. De facto, a sugestão deve ser vista como um estímulo que tem o potencial para desencadear uma determinada resposta ou reacção. Com esta definição em mente, torna-se mais simples delimitar o conceito de sugestionabilidade, que passa a ser visto como a tendência de cada indivíduo para responder, de determinada forma, à sugestão (Gudjonsson, 2003).
 Por outras palavras, a sugestão diz somente respeito às características de um dado estímulo e tem apenas o potencial para desencadear uma reacção. Por outro lado, a sugestionabilidadetem já patentes as características da pessoa que vai ser exposta à sugestão. Sidis (1898, in Gudjonsson, 2003) e Gheorghiu (1989, in Gudjonsson, 2003) defendem ainda que os procedimentos sugestivos podem ser de dois tipos: directos ou indirectos. Nos procedimentos directos geralmente diz-se explicitamente ao participante o que é esperado, tendo este consciência de que está a ser alvo de sugestão ou influência, enquanto que nos procedimentos indirectos o experimentador não diz aos participantes qual o verdadeiro objectivo do teste, não tendo estes conhecimento de que estão a ser influenciados. Façamos agora uma pequena revisão histórica das principais teorias explicativas dos processos de sugestionabilidade.
As Falsas Memórias
Os estudos acerca das distorções da memória, realizados por Loftus, iniciaram nos anos setenta. Esses apresentaram resultados impressionantes e até mesmo assustadores, pois concluíram que a lembrança pode ser altamente manipulada a partir de informações errôneas sobre acontecimentos nunca vividos e também pode haver modificação dos fatos vivenciados.
 Loftus realizou centenas de experiências, com mais de vinte mil pessoas, a fim de constatar como a exposição a informações não verdadeiras distorce a memória. Averiguou, através de trabalho de campo, ser a desinformação capaz de modificar as lembranças de maneira previsível e até mesmo espetacular, nas situações mais cotidianas: “a informação errônea pode se imiscuir em nossas lembranças quando falamos com outras pessoas, quando somos interrogados de maneira evocativa, ou quando uma reportagem nos mostra um evento que nós próprios vivemos”.
Apesar de nosso trabalho voltar-se à indução, importante esclarecer que as falsas memórias não giram apenas em torno de um processo inconsciente ou involuntário de “inflação da imaginação” sobre um determinado evento. 
Há tanto a possibilidade de as pessoas expostas à desinformação alterarem a memória de forma dirigida, quanto espontaneamente, ou seja, sem que haja sugestionabilidade externa. Os estudos de Stein e Pergher alertam para esse fator, fomentando a possibilidade da formação de uma falsa memória espontaneamente ou através de auto-sugestão. Explicam que “as falsas memórias são geradas espontaneamente, como resultado do processo normal de compreensão, ou seja, fruto de processos de distorções mnemônicas endógenas”.
Ainda conforme Loftus, “as falsas lembranças são elaboradas pela combinação de lembranças verdadeiras e de sugestões vindas de outras pessoas. Durante o processo, os participantes ficam suscetíveis a esquecer a fonte da informação. É um exemplo clássico de confusão de fonte, em que conteúdo e fonte estão dissociados”.
Inclusive, nos testes, alguns participantes assinaram confissões de supostos danos em um computador, os quais nunca haviam praticado. Segundo Loftus, “Saul Kassin, da Universidade Williams, estudou as reações de indivíduos falsamente acusados de terem danificado um computador apertando uma tecla errada. Os participantes, inocentes no início, negavam a afirmação, mas depois de terem sido confrontados com um cúmplice do experimentador que afirmava tê-los visto fazer isso, vários deles assinaram confissões e terminaram por descrever, de maneira detalhada, o ato que não haviam cometido”.
Soluções para resolver o problema das falsas confissões
Primeiro, os governos devem proibir o uso de interrogatórios coercitivos ou altamente enganosos, que incluem técnicas como entrevistas muito extensas e com privação de sono, ameaças e mentiras sobre a evidência. Tudo isso faz com que o suspeito se sinta enganado e confuso. 
Em segundo lugar, os governos precisam oferecer proteção especial para as populações vulneráveis - como crianças e pessoas que são mentalmente retardadas, pessoas que não conhecem seus direitos ou não entendem completamente as consequências das declarações que estão sendo solicitados a fazer. 
Em terceiro lugar, e isso eu acredito ser o mais importante, é que deveria ser obrigatório que a polícia grave vídeos dos suspeitos em todas as entrevistas e todos interrogatórios para que os juízes e jurados, mais tarde, em tribunal, possam não só ver o que a confissão parece, mas como foi obtida. 
Será justiça está preparada para tratar de casos envolvendo falsas memórias?
 
Acho que a ciência psicológica está mais no lugar de informar a polícia, os tribunais e os autores de lei como obter confissões de criminosos sem colocar uma pessoa inocente em risco. É importante para as pessoas saberem que quando uma pessoa inocente é induzida a confissão, ele não é a única vítima de injustiça. As outras vítimas são aqueles que foram assaltadas, seqüestradas ou até mortas pelo criminoso que ainda está solto.
Conclusão
O depoimento da testemunha resgata, na memória, a lembrança dos fatos ocorridos no passado, objetivando dar conhecimento ao julgador sobre aquilo já percebido, cumprindo uma função retrospectiva e recognitiva no processo penal. A fragilidade da prova testemunhal revela-se na dependência da recordação dos fatos, da memória da pessoa que os narra. O processo mnemônico não é fidedigno à realidade e a lembrança pode estar contaminada pelas falsas memórias. Além de uma boa aquisição e retenção da memória, é importante perceber, evitar e eliminar as falhas no momento da recuperação da lembrança das testemunhas, fontes de prova relevantes no processo penal.
Bibliografia
JOÃO.Alamy Filho.O maior erro Jurídico no Direito Brasileiro, Edição- São Paulo;
ALESSANDRO. Baratta. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal;
IZQUIERDO, Iván. Memória. Porto Alegre: Artemed, Reimpressão 2006;
STEIN, Lílian Milnilsky e PERGHER, Giovanni Kuckartz. “Criando falsas memórias em adultos por meio de palavras associadas”, in Psicologia: Reflexão e Crítica, 2001;
Sobre as técnicas de interrogatório e a entrevista cognitiva consultar QUECUTY, María Luisa Alonso. “Psicología y Testimonio”. In: Fundamentos de la psicologia jurídica, 1998, p. 177.

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